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Ética, Cidadania
e Sustentabilidade
Créditos
Centro Universitário Senac São Paulo – Educação Superior a Distância
Diretor Regional 
Luiz Francisco de Assis Salgado
Superintendente Universitário 
e de Desenvolvimento 
Luiz Carlos Dourado
Reitor 
Sidney Zaganin Latorre
Diretor de Graduação 
Eduardo Mazzaferro Ehlers
Diretor de Pós-Graduação e Extensão 
Daniel Garcia Correa
Gerentes de Desenvolvimento 
Claudio Luiz de Souza Silva 
Luciana Bon Duarte 
Roland Anton Zottele 
Sandra Regina Mattos Abreu de Freitas
Coordenadora de Desenvolvimento 
Tecnologias Aplicadas à Educação 
Regina Helena Ribeiro
Coordenador de Operação 
Educação a Distância 
Alcir Vilela Junior
Professores Autores 
Flávia Cristina Martins Mendes 
José Antônio Fracalossi Meister 
Revisor Técnico 
Marcelo Gasque Furtado 
Valdelis Fernandes de Andrade 
Karin Pfannemüller Gomes
Técnico de Desenvolvimento 
Carolina Tiemi Sato Komatsu
Coordenadoras Pedagógicas 
Ariádiny Carolina Brasileiro Silva 
Izabella Saadi Cerutti Leal Reis 
Nivia Pereira Maseri de Moraes 
Otacília da Paz Pereira
Equipe de Design Educacional 
Alexsandra Cristiane Santos da Silva 
Ana Claudia Neif Sanches Yasuraoka 
Angélica Lúcia Kanô 
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Cristina Yurie Takahashi 
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Flaviana Neri 
Francisco Shoiti Tanaka 
Gizele Laranjeira de Oliveira Sepulvida 
Hágara Rosa da Cunha Araújo 
Janandrea Nelci do Espirito Santo 
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Juliana Quitério Lopez Salvaia 
Jussara Cristina Cubbo 
Kamila Harumi Sakurai Simões 
Katya Martinez Almeida 
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Mônica Maria Penalber de Menezes 
Mônica Rodrigues dos Santos 
Nathália Barros de Souza Santos 
Rivia Lima Garcia 
Sueli Brianezi Carvalho 
Thiago Martins Navarro 
Wallace Roberto Bernardo
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Ana Paula Pigossi Papalia 
Josivaldo Petronilo da Silva 
Katia Aparecida Nascimento Passos
Coordenador Multimídia e Audiovisual 
Ricardo Regis Untem
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Adriana Mitsue Matsuda 
Caio Souza Santos 
Camila Lazaresko Madrid 
Carlos Eduardo Toshiaki Kokubo 
Christian Ratajczyk Puig 
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Hugo Naoto Takizawa Ferreira 
Inácio de Assis Bento Nehme 
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Marcela Burgarelli Corrente 
Marcio Rodrigo dos Reis 
Renan Ferreira Alves 
Renata Mendes Ribeiro 
Thalita de Cassia Mendasoli Gavetti 
Thamires Lopes de Castro 
Vandré Luiz dos Santos 
Victor Giriotas Marçon 
William Mordoch
Equipe de Design Multimídia 
Alexandre Lemes da Silva 
Cristiane Marinho de Souza 
Emília Correa Abreu 
Fernando Eduardo Castro da Silva 
Mayra Aoki Aniya 
Michel Iuiti Navarro Moreno 
Renan Carlos Nunes De Souza 
Rodrigo Benites Gonçalves da Silva 
Wagner Ferri
Ética, Cidadania e Sustentabilidade
Aula 01
Conceito de ética e seu legado para o Ocidente
Objetivos Específicos
• Conhecer o percurso histórico da ética.
Temas
Introdução
1 Palavras que se formam e se eternizam
2 A aplicabilidade da ética
3 Panorama histórico da ética 
4 Ética aplicada
Considerações finais
Referências 
José Antônio Fracalossi Meister 
Professor Autor
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Ética, Cidadania e Sustentabilidade
2
Introdução
Nesta aula, faremos uma viagem histórica por um dos conceitos mais ricos e desafiadores 
para a filosofia e para a história da humanidade: a ética. 
Se analisarmos os precursores da filosofia, identificaremos em seus escritos pontos 
relacionados à ética – nem sempre assim descritos, mas presentes. Por exemplo: os pré-
socráticos, ao se perguntarem pelos princípios das coisas, já buscavam responder “quem 
somos?” e “qual o princípio ordenador de todas as coisas?”. 
Pensar sobre ética é admitir que o ser humano não nasce pronto, acabado e determinado, 
ao contrário, ele nasce com possibilidades de “vir a ser”, conforme o que fizer de sua vida. 
Isso significa que as pessoas têm a possibilidade de agir de forma certa e errada. O humano 
é um ser em constante formação, assim, não existe uma resposta única sobre a ética, mas 
várias alternativas de ação. 
Na prática, as sociedades, das mais antigas às mais atuais, sempre privilegiam um 
determinado tipo de ação, o qual é considerado aceito ou não. E, dentro das sociedades, 
existem também específicas formas de ética ou práticas que se dirigem a grupos determinados. 
Por exemplo, a ética profissional, empresarial, bioética etc. 
Nosso desafio é fazer essa viagem e descobrir a riqueza do pensamento e da experiência 
humana no decorrer da história. A proposta é entender a ética em seu contexto histórico 
desde os pré-socráticos até a contemporaneidade. Entenderemos também os conceitos de 
ética e de moral, aspectos históricos, a herança ética ocidental, as situações que envolvem 
a ética e os problemas relacionados a ela. Assim, você terá uma compreensão da ética, um 
pouco da sua história, seus conceitos e suas aplicações aos comportamentos humanos.
1 Palavras que se formam e se eternizam
Os termos ética e moral geralmente são admitidos como sinônimos, mas, para entender 
o porquê da confusão em equipará-las, é preciso visualizar as duas palavras em sua origem. 
Antes de detalharmos os conceitos fundamentais para esta disciplina, vamos a um 
exemplo, considerando que buscar o sentido de uma palavra pode nos ajudar muito em sua 
compreensão, mas pode não dizer tudo o que necessitamos saber sobre ela. O substantivo 
pedofilia, por exemplo, tem origem grega: ped(o) (criança) + filia (amigo). Assim, em seu sentido 
etimológico1, o pedófilo seria o “amigo da criança”. Mas, como sabemos, atualmente, o termo 
tem outra conotação: pedófilo é aquele que sente atração sexual por crianças ou pratica 
pedofilia (psicopatologia: distúrbio ou perversão que faz com que uma pessoa em idade adulta 
1 Etimologia é o estudo da origem, formação e evolução das palavras e da construção de seus significados a partir dos elementos que a 
compõem.
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Ética, Cidadania e Sustentabilidade
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se sinta atraída por crianças). Logo, a origem da palavra nos dá uma ideia de seu sentido e o 
contexto no qual surgiu, mas não é sempre suficiente para tudo o que necessitamos.
1.1 A palavra “ética” e seu conceito inicial
A palavra ética tem origem na palavra grega ethos e significa costume, a forma como 
o ser humano se molda conforme seu jeito de ser, fazendo assim seu abrigo protetor e o 
constituindo à medida que vive e estabelece suas relações.
Pessoas só conseguirão ser éticas se tiverem alguma informação, se forem capazes 
de articular essa informação com as diferentes circunstâncias sociais e pessoais, se 
souberem refletir e, acima de tudo, apropriarem-se conscientemente dos exemplos e 
ensinamento (LACERDA; PESSOA, 2018, p. 8).
A ética também evoluiu, pois é fruto das experiências humanas, ou seja, é resultante 
do que é vivido. Por isso, se é uma teoria, também é resultante das experiências vividas pela 
humanidade. 
Por exemplo, o dinheiro não regia as relações nas sociedades primitivas. Nelas, 
vivia-se a partir de uma concepção coletiva de bens. O que era de um, era de todos, e o 
que era de todos, era ao mesmo tempo de cada um, “meu” e “teu” eram sinônimos de 
“nosso”. Não há fragmentação entre posse e uso. 
Atualmente, pela forma como a sociedade está estruturada, não se consegue 
entender a posse dos bens do mesmo modo. Quem não tem dinheiro tem dificuldade 
de garantir ao menos os bens básicos e necessários para viver. Esse é um modo da 
sociedade atual se constituir. O que se deseja é construir uma ética dando a possibilidade 
de uma identidade a cada ume ao mesmo tempo constituir um princípio universal.
Mas a mudança da ética não nos dá o direito de pensá-la como relativista. Ela é relativa 
ao tempo e ao espaço onde se encontram as pessoas que dela fazem uso, ou seja, ela é 
relativa ao local onde se faz presente. Todo pensamento ético busca a universalidade, busca 
ser para todos, embora nunca o seja, pois quem constrói as relações e o modo de constituir 
seu ser social são as pessoas dentro de um determinado tempo e espaço. 
Ao nos voltarmos para o resgate histórico da palavra ética, sempre nos levamos ao que 
os gregos já nos chamavam a atenção: a ética é o que nos faz pensar sobre os hábitos e 
costumes, a fim de que se consiga uma boa convivência na casa onde se habita. Isto é, que 
se consiga construir um pensamento que permita que as pessoas tenham a possibilidade de 
viver bem, em harmonia.
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1.2 Valor: base da ética
A palavra moral tem correspondência com a palavra em latim mos ou moris, e significa 
costumes e tradições, ou seja, um modo de organizar o lugar onde estamos, fazendo-o de 
nosso jeito. Assim, a moral está intimamente vinculada aos costumes, às tradições e aos 
valores de cada povo, de cada lugar. 
Os valores e costumes são transmitidos de geração em geração. Por exemplo: a 
moral do índio é diferente da moral do bandeirante, e esta é diferente da moral do 
português e assim sucessivamente. O que deve ficar claro é que cada povo constitui seu 
modo de ser e viver.
Agora, o que entender por valores e sua relação com a ética?
De maneira simples, pode-se afirmar que valor é aquilo que vale para nós e tudo aquilo 
que não nos é indiferente. Os valores são estudados pela axiologia (do grego axiós, que 
justamente quer dizer valor) e para entender esse conceito, pense que quando algo nos 
chama a atenção – seja por ser bom ou por ser mau – é um valor. Entre os bons valores, 
há o amor, felicidade, solidariedade. Entre os maus ou falsos valores estão a violência e a 
desigualdade. 
O certo é que toda ética parte de valores que são socialmente aceitos, visto que como tal 
passam a ser importantes para determinada sociedade e, por isso, busca-se a sua implantação, 
por meio de ações morais. Os valores nos arrastam e nos atraem, por isso são muito 
importantes e nos tiram da indiferença. Se forem positivos, nos atraem para que façamos 
o que ensejam e, portanto, são éticos; se não negativos, nos atraem para que venhamos a 
repeli-los e, consequentemente, são antiéticos ou imorais.
Temos diante de nós sempre a possibilidade de agir de um ou outro modo. Segundo 
Boff (2003, p. 34, grifo do autor), “todos possuem o daimon, esse anjo protetor que nos 
acompanha sempre, um dado tão objetivo como a libido, a inteligência, o amor e o poder”. 
Vivemos então com a realidade protetora, e a realidade que nos fragmenta, o diabólico, que 
lança “[…] coisas para longe, de desagregada e sem direção; jogar para fora de qualquer jeito” 
(BOFF, 2003, p. 12). 
Relacionar-se com as coisas e com as pessoas desperta em nós o mundo dos valores. 
Estes passam a existir à medida que nos relacionamos. Logo, passamos a entender que a base 
da ética é o valor, pois, nas relações que as pessoas passam a estabelecer com os demais 
seres da natureza, os valores são revelados. Portanto:
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A não indiferença é a principal característica do valor. [...] Os valores existem na 
ordem da afetividade, uma vez que não ficamos indiferentes diante de alguma coisa 
ou pessoa, mas sempre somos afetados por elas de alguma forma [...] Valorar é uma 
experiência fundamentalmente humana que se encontra no centro de toda escolha 
de vida (ARANHA; MARTINS, 1998, p. 117).
Entende-se assim porque na base de qualquer reflexão ética estão os valores, pois são 
eles que nos chamam a atenção para os fatos, são eles que nos levam ao julgamento para 
aceitar uma coisa como sendo boa ou má. 
A reflexão sobre os valores é o primeiro passo para que o ser humano possa fazer ética, 
pois, conforme as relações que são estabelecidas e pela forma como elas nos tocam e nos 
tiram da indiferença, passamos a considerar determinada atitude, prática ou discurso como 
ético ou não. 
1.3 Relativismo
Outra questão que surge quando refletimos sobre ética é se existem valores que valem 
para todas as pessoas, em qualquer lugar e em qualquer tempo. Se acreditarmos que os 
valores são absolutos, então não teremos mais dúvidas sobre o que é certo e o que é errado, 
tudo já está resolvido de antemão. Entretanto, se o certo e o errado já estão postos, os 
seres humanos estarão reduzidos à condição de meros reprodutores de regras definidas 
anteriormente e por um ente superior. 
Mas, e se os valores não forem absolutos? Deparamo-nos com o desafio do relativismo. 
De acordo com o relativismo moral, o “certo” e o “errado” são relativos, pertencem 
apenas a quem está tomando a decisão, e temos apenas respostas individuais para qualquer 
questão ética. Cada um sabe o que faz e decide o que é certo ou errado.
A forma mais conhecida de relativismo é o relativismo ingênuo, a ideia de que cada um 
de nós é a própria medida de julgamento de nossas ações. Nossas decisões éticas seriam 
personalistas e não existiriam meios para nossos semelhantes julgarem se nossas escolhas 
são/foram eticamente melhores do que outras, das quais abrimos mão.
Se etimologicamente ética e moral são tomadas como sinônimos, vamos estabelecer e 
admitir para nosso estudo a diferença entre elas. A ética está relacionada aos estudos (portanto, 
é uma teoria) das condutas humanas e é uma parte de outra ciência, a filosofia. O estudo 
do comportamento humano vai além da observação dos costumes de uma comunidade ou 
povo, ele investiga as boas e más ações na política, nas empresas, no campo profissional, nos 
experimentos de engenharia genética etc. Essa parte da ética ou da filosofia é denominada 
prática, pois tem como intuito a aplicabilidade direta para uma realidade específica
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Conhecer a origem da palavra é importante, mas devemos lembrar que as palavras, 
assim como as pessoas, são dinâmicas. Por isso, mais do que sabermos de onde vem a 
palavra e qual é seu significado original, é necessário entendermos seu conceito e sua 
importância dentro de determinada realidade. Cabe destacar que a ética se funda sobre 
valores, liberdade e experiências vividas pela humanidade, assim sendo, é fundamental 
entendermos que a ética serve para determinados lugar e tempo. Quando há mudanças 
no modo de ser das pessoas, da mesma forma a ética e a moral daquele determinado 
espaço também se modificam.
Assim, pode-se afirmar que a ética indica uma parte prática da filosofia e tem como intuito 
orientar as decisões concretas das pessoas e da sociedade (a isso denominamos moral), uma 
vez que todas as nossas ações impactam o ambiente e os demais seres ao nosso redor.
Quadro 1 – Ética e moral
É a parte da filosofia que se 
ocupa dos fundamentos da 
vida moral.
Ética
Conjunto de regras que 
determina o comportamento 
dos indivíduos na sociedade.
Moral
Fonte: Adaptado de Aranha e Martins (1986).
O importante na questão conceitual sobre ética e moral é que a primeira é teoria, e a 
segunda é a prática dessa teoria. Assim, toda vez que praticamos atos que são classificados 
como morais ou não, o são com base em uma teoria – a ética. E quando uma ação é realizada 
de modo consciente e deliberadamente contrária à ética, tem-se o que denominamos 
“ato imoral”.
2 A aplicabilidade da ética
A educação é uma formade se aplicar e ensinar os princípios éticos. Os pais exercem 
um papel essencial na formação ética dos filhos, que, posteriormente, será assumida pela 
sociedade por meio das instituições escolares e religiosas, entre outros. Quando o indivíduo 
se insere e passa a ter contato com outros meios além dos familiares (empresas, meios de 
comunicação social, como rádio, televisão etc.), essa forma de educação é exercida por eles.
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O chefe ou patriarca nos grupos parentais ao lado dos pais determinava as normas de 
comportamento para o grupo todo. Historicamente, a humanidade passou por quatro etapas 
sucessivamente (família, tribo, cidade e nação) e, a mais recente, globalização.
Figura 1 – Etapas da humanidade
Família Tribo Cidade Nação Globalização
Fonte: Adaptado de Alonso (2002).
Primeiro, as famílias formam tribos, “[…] unidas por vínculos de parentesco e de 
serviços” (ALONSO, 2002, p. 95). A união de várias famílias dá surgimento às tribos e estas, 
com seu crescimento, reúnem-se na forma de cidades. É importante observar que, ao longo 
da história, algumas regras éticas do grupo familiar, da tribo, da organização da cidade e das 
religiões se sobrepuseram e perduraram porque foram reconhecidas tanto individual como 
coletivamente. “Na medida em que crescem os agrupamentos humanos, passando da tribo 
para as cidades, parece que a educação das pessoas e, consequentemente a ética (em seu 
aspectos públicos ou cívicos) sofrem ou se deterioram” (ALONSO, 2002, p. 97).
Diante disso, cabe-nos refletir sobre questões que fazem parte do universo da ética, tais 
como: O que devo fazer? Como devo me comportar? Qual a melhor conduta para a situação? 
Que decisão tomar?
3 Panorama histórico da ética 
A ética tem seu berço nas cidades-estado gregas. Mais precisamente no século V a.C. 
quando a pólis (cidade) grega constituiu seus primeiros estudos sobre ética. Valls (1987, p. 
24-25) chama a atenção para o fato de que:
A reflexão grega neste campo surgiu como uma pesquisa sobre a natureza do bem 
moral, na busca de um princípio absoluto da conduta. Ela procedeu do contexto 
religioso, onde podemos encontrar o cordão umbilical de muitas ideias éticas, tais 
como as duas formulações mais conhecidas: ‘nada em excesso’ e ‘conhece-te a ti 
mesmo’. O contexto em que tais ideias nasceram está ligado ao santuário de Delfo do 
deus Apolo.
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Os conceitos de ética não podem ser entendidos e vistos fora de seu contexto 
histórico. É dentro de uma realidade e de uma época que surgem determinadas 
necessidades humanas. Toda a reflexão ética, portanto, faz parte de um período 
histórico. Por isso, ela é dinâmica e muda conforme a realidade em questão.
Vamos passar por grandes períodos históricos, que também são divididos nos estudos 
da civilização humana: Idade Antiga, Idade Média (segundo maior período da história), Idade 
Moderna e Idade Contemporânea. Nosso foco será no mundo ocidental, no qual estamos 
inseridos, mas trataremos também do mundo oriental. 
No quadro que representa brevemente a cronologia da ética, é possível verificar a riqueza 
do pensamento ético no transcorrer do tempo.
Quadro 2 – Cronologia da ética
Pré-socráticos Antiguidade Idade Média Modernidade
Idade 
contemporânea
Séc. XII a. C. 
Os Dórios criam 
colônias.
Homero:
Escreve a Odisseia e a 
Ilíada.
Séc. VI a. C. 
Primeiras formulações 
filosóficas.
Pré-socráticos:
A origem das coisas 
(água, terra, fogo e ar).
Empédocles:
Amor e ódio.
Demócrito:
A ignorância é a 
causa do erro. 
A harmonia concede 
a calma, saúde e a 
felicidade.
Séc. V a. C.
Sócrates: 
O que importa é viver 
sem cometer 
injustiças, nem mesmo 
a retribuição a uma 
injustiça recebida. 
Ter consciência de sua 
ignorância.
Séc. V – IV a. C.
Platão: 
Reminiscência - o 
conhecimento nos 
coloca em contato 
com a alma que faz 
surgir o conhecimento.
Séc. IV a. C.
Aristóteles: 
O bem é a finalidade 
da ética, fruto do 
conhecimento, a sua 
ausência leva ao mal. 
Séc. IV – V
Santo Agostinho: 
A razão da filosofia é 
chegar à felicidade 
que se encontra em 
Deus.
São Tomás de 
Aquino: 
Busca unir a fé e a 
razão. As criaturas 
não existem por elas 
mesmas, por isso 
estão separadas de 
sua essência. Só 
Deus tem a essência 
e existência. 
Séc. XIII
Séc. XVI - XIX
Caracteriza -se pelo fim 
da ligação entre Igreja 
e Estado. Agora cabe 
ao homem descobrir a 
razão de ser das coisas.
Espinosa: A razão é 
capaz de estabelecer o 
bom e o mal, e de frear 
as paixões. 
Hume: moral 
utilitarista.
Locke: cada homem 
deve aprovar e 
recomendar as regras 
para a vida em 
sociedade.
Hobbes: o desejo da 
conservação torna os 
homens solitários por 
natureza, egocêntricos, 
agressivos, o que os leva 
a viver em sociedade e 
se comportar. 
Cooperando, podem ser 
felizes.
Kant (grande 
expoente): A razão é 
universal e não 
individual. Age de tal 
modo sua ação seja 
universal.
Caracteriza -se pela 
pluralidade da ética = 
éticas.
Revolução industrial e 
capitalismo marcam a 
reflexão. 
Fundamentação 
transcendental. O 
homem é a origem 
dos valores e das 
normas morais. 
Iniciado por Hegel.
Destacam-se Nietzsche 
e Shopenhauer.
Guerras desvalorização 
da vida, exploração, 
gera busca da verdade.
Expoentes atuais: Apel
, Jonas, Hosle, Gadamer
, 
Levinas, Dussel, 
Ricouer , entre outros.
3.1 Período grego 
O conceito e o estudo da ética ocidental se iniciam no período pré-socrático e, em 
seguida, têm continuidade com Sócrates, Platão e Aristóteles. As três obras fundamentais da 
ética ocidental são: Ética a Nicômaco, A grande moral e Ética a Eudemo, todas aristotélicas. 
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É preciso destacar que, no contexto de formação da filosofia, as preocupações dos 
primeiros filósofos (pré-socráticos) eram de ordem cosmológica, ou seja, esses pensadores se 
interessavam em responder às questões sobre como o mundo é constituído, sobre a origem 
do universo etc. 
Podemos afirmar que a ética ocidental nasce com Sócrates, que promove uma 
virada nas preocupações da filosofia, focando o interesse não mais em aspectos externos 
ao ser humano, como os filósofos anteriores (formação do universo, constituição das 
coisas etc.), mas justamente nas virtudes que importam para a formação do homem. 
Sócrates passa a investigar o interior do ser humano e as condições que podem torná-lo 
excelente do ponto de vista moral.
Nas cidades gregas, a nova ciência, a ética, era a matéria-prima das leis da pólis. É possível 
afirmar que, ao mesmo tempo em que os agrupamentos humanos aumentaram de tamanho, 
os problemas relacionados com as ações das pessoas também cresceram.
A primeira obra a tratar da ética foi Ética a Nicômaco, de Aristóteles. Nela, ele pretendia 
melhorar a vida pública nas cidades gregas. 
Nessa obra, os temas da felicidade, das virtudes e da amizade são examinados. A felicidade 
para Aristóteles é um estado na vida terrena, não é um conceito sobrenatural ou presente 
divino. No entanto, a felicidade aristotélica não pode ser confundida com a simples procura 
por prazer. Em verdade, Aristóteles afirma que ela mora na contemplação, na observação das 
atividades da mente, na reflexão.
[...] é ela procurada sempre por si mesma e nunca em vistas em outra coisa [...]. A 
felicidade é algo absoluto e autossuficiente, sendo também a finalidade da ação [...] o 
homem feliz vive bem e age bem; pois definimos praticamente a felicidade como uma 
espécie de boa vida e boa ação (ARISTÓTELES, 1987, p.15-17).
Para o filósofo grego, fazer o bem torna-se uma base pela qual podem se estabelecer as 
ações éticas, isto porque quem busca a felicidade busca algo absoluto e tem, portanto, uma 
base sólida para seu agir. Assim, como toda ética procura o bem, a busca da felicidade seria a 
função da busca ética, e o resultado do agir seria a felicidade em si. 
O conceito de felicidade em Aristóteles não é um momento isolado, mas resultante 
de uma busca constante e sólida. Não é algo passageiro, é um projeto de vida, uma busca 
constante e incansável e que quem consegue atingir o bem, atinge também a felicidade. Ser 
feliz é fazer o bem. 
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3.2 Período medieval
O período medieval apresenta um pensamento imbuído de visão religiosa cristã. Os 
grandes pensadores da filosofia e, consequentemente, da ética montam suas reflexões a 
partir do entendimento do papel de Deus como aquele que dá a vida, visto que cabe ao ser 
humano fazer a Sua vontade. Assim, a ideia do amor cristão passa a ser tema da ética e da 
reflexão durante esse período.
Dentre todos os pensadores desse período, cabe destacar dois que são fundamentais 
para nossa reflexão ética: Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. 
Santo Agostinho (354-430 d.C.) parte da ideia religiosa do pecado e sua origem 
na concepção do paraíso. Lá, houve a ruptura da harmonia da convivência de Deus 
e o homem, a qual se chamou de pecado. A partir desse momento, sabemos o que é o 
bem e o que é o mal. Logo, de acordo com esse ponto de vista, ser uma pessoa boa é ser 
alguém que vive conforme a vontade de Deus. A grande virtude humana está em buscar 
constantemente a Deus. 
O problema da felicidade constitui, para Agostinho, toda a motivação do pensar 
filosófico. Uma das últimas obras que redigiu, a Cidade de Deus, afirma que ‘o homem 
não tem razão para filosofar, exceto para atingir a felicidade [...] A filosofia é assim 
entendida [...] como uma indignação sobre a condição humana à procura da felicidade 
(PESSANHA, 1987, p. 12).
No ano de 1252, Tomás de Aquino começou a lecionar e a escrever para a Universidade 
de Notre Dame, criada em 1215 após a união das escolas vinculadas à Catedral de Paris. Em 
seus discursos e argumentos, Aquino “cristianizou” Aristóteles. Sua obra fundamental é a 
Suma Teológica, que harmoniza razão e fé, liberdade e autonomia nas questões éticas.
Uma ética racional, livre e autônoma deve ser considerada um ponto de coexistência, de 
convergência entre as culturas ocidental, judaica e árabe, pois, com as traduções dos estudos 
éticos de Aristóteles, aprendemos a pensar sobre a ética de maneira universal. 
O ponto de partida para construção do tomismo – e a consequente cristianização 
de Aristóteles – parece residir na hábil transformação que Santo Tomás operou na 
distinção aristotélica entre essência e existência. [...] O conteúdo da filosofia aristotélica 
é mantido em seu arcabouço racional. Mas é o bastante para torná-la capaz de servir 
de fundamentação racional para os dogmas da revelação cristã, defender a ortodoxia 
da igreja e dar combate às correntes consideradas heréticas (MATTOS, 1998, p. 9).
Dentro do pensamento de Tomás de Aquino não se pode deixar de considerar as cinco 
vias que levam a Deus, tidas como a prova de Sua existência: 
• Deus é a razão de o universo estar em movimento;
• Deus é a causa e efeito de todas as coisas;
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• Todos os seres são gerados ou estão se corrompendo, logo, não tem a razão de ser 
em si, além de Deus;
• As coisas têm graus hierárquicos de perfeição e a comparação é o absoluto, que é 
Deus;
• Deus é responsável pela ordem de todas as coisas.
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O pensamento tomista é importante, nesse diálogo que se faz entre fé e razão 
presente até hoje nos debates filosóficos e teológicos, assim como nas questões sobre 
as origens dos seres. O cuidado que se deve ter é não cair em fundamentalismo e 
nem mesmo em um ateísmo exacerbado. Nenhum deles nos leva ao fim de toda busca 
humana que é a verdade.
3.3 Período moderno
A queda da cidade de Constantinopla em 1453 é considerada o marco do início da Idade 
Moderna, para uma parcela de historiadores. Para outros, esse marco seria o descobrimento da 
América em 1492. No continente europeu, o Renascimento e o Protestantismo revolucionam 
o contexto da época. As primeiras nações2 europeias foram formadas na Idade Moderna. 
Muitas cidades e pequenos reinos integrados formaram as monarquias nacionais.
Durante a modernidade, sente-se a necessidade de encontrar um fundamento da ética 
despregado da religião e ancorado na própria racionalidade humana. É preciso destacar que 
é na obra de Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, que o imperativo categórico 
é formulado.
A Revolução Francesa (1789) traz uma mudança radical na ética praticada até então, 
porque traz o conceito de liberdade de pensamento. Liberdade que rompe a visão tradicional, 
que atinge o exercício do poder do Estado e representa um grande número de pessoas em 
torno da ideia de nação. Nesse período, Kant desponta como o pensador ético por excelência, 
porque busca os fundamentos últimos, necessários e universais de todas as coisas. Suas obras 
mais importantes são: Crítica da razão pura, Critica da razão prática e Fundamentação da 
metafísica dos costumes.
2 Nações são formadas por povos reunidos porque possuem história, língua e culturas comuns e que ocupam o mesmo território.
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Na Fundamentação da Metafísica dos Costumes [...] a vida moral aparece como forma 
através da qual se pode conhecer a liberdade, enquanto na Crítica da Razão Prática a 
liberdade é investigada como a razão de ser da vida moral. [...] a lei moral provém da 
ideia de liberdade e que, portanto, a razão pura é por si mesma prática, no sentido 
de que ideia racional de liberdade determina por si mesma a vida moral e com isso 
demonstra sua própria realidade (CHAUÍ, 1987, p. 15).
Observe o quanto é complexo o pensamento kantiano; apesar de sua complexidade, 
após Kant, não há a possibilidade de se fazer ética sem estudá-lo. Podemos aceitá-lo ou não, 
mas não podemos deixar de conhecê-lo. Até hoje muitos filósofos estudam seu pensamento, 
buscando encontrar novidades e justificativas para a ética.
É importante pensar a ética kantiana a partir do que ela denomina imperativos 
categóricos, que se referem à correspondência entre a liberdade e a lei prática. Essa lei, por 
ser fruto da liberdade, nos impõe deveres, por isso, sem pensamento ético, é denominada 
ética dos deveres
Pensemos bem concretamente: encontro uma amiga na rua e, depois de 
conversarmos, digo: “Irei te visitar”. Nada me obrigou a dizer que iria visitá-la, foi puro 
fruto de minha liberdade de ação, logo, criei um dever moral para mim, porque sou 
livre para fazê-lo. Disso surge o grande imperativo categórico de Kant que é: “age de tal 
maneira que o motivo que te levou ao agora possa ser convertido em lei universal”, isto 
é, se todos fizerem o que faço, nos sentiremos bem e confortáveis.
3.4 Período contemporâneo
Ética no mundo contemporâneo poderia ser mais bem colocada sob a óptica da pós-
modernidade, do relativismo de valores e do impacto da tecnologia e da globalização. Esse 
processo de grandes mudanças levou a humanidade a clamar cada vez mais por ética, como 
uma forma de recobrar uma linha de ação, que deixa de lado as grandes ganâncias impostas 
pelo capitalismo.
O mundo do século XX provoca um abalo na reflexão ética, especialmente com o 
surgimento do nacionalismototalitário. Temos a ascensão do nazismo, do imperialismo, do 
socialismo comunista e uma série de práticas que devastaram a Europa. 
Com o processo de globalização, a ética foi definida de um modo mais abrangente e 
associada ao estudo da maneira pela qual nossa tomada de decisão impacta na vida e em 
todas as atividades desenvolvidas. Os problemas não podem mais ser resolvidos localmente 
e pensados globalmente. E o que se depreende de todo esse cenário é que:
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O novo século inicia-se com avanços tecnológicos excepcionais. Em áreas como 
as comunicações, a informática, a robótica, a biotecnologia e outras, o ritmo das 
inovações é elevado. Isso tem multiplicado a capacidade de produção de bens e 
serviços, e tem aberto novas áreas para investimentos. Contudo, ao mesmo tempo 
em que a humanidade, dado o enorme poder de produção provocado pela revolução 
tecnológico em andamento, tem hoje a possiblidade crescente de derrotar todas as 
teses malthusianas, boa parte do gênero humano convive com o agravamento de seus 
problemas de sobrevivência no dia-a-dia. (KLIKSBERG, 2003, p. 27)
Para Morin (2005, p. 26), “a ética tornou-se, portanto, laica e individualizada; com o 
enfraquecimento da responsabilidade e da solidariedade, impõe-se uma distância entre a ética 
individual e a ética da cidade”. Há uma série de situações nas quais o mundo contemporâneo 
nos apresenta e que devemos descortinar uma jornada de pensamento a ser vivida. Muitos 
valores e princípios foram relativizados e agora passam a ser reconhecidos.
Por um lado, essa situação abre perspectivas importantes para comportamentos antes 
jamais imaginados, por outro, é preciso refundar um pensamento ético a partir desse modo 
de compreender a relação e a vida, por exemplo: a homossexualidade, o adultério, o aborto, 
a moral familiar etc., e que, segundo Morin (2005), leva ao enfraquecimento da tutela 
comunitária, ao universalismo ético e ao desenvolvimento do egocentrismo. É sobre essas 
bases que se deve refundar ou fundamentar a ética contemporânea.
4 Ética aplicada
A ética aplicada ou também denominada ética prática é um campo bem atual, pois é 
suscitada por uma série de questões que até então não se apresentavam na forma como 
atualmente nos desafiam. Tudo isso se deve ao que foi referido anteriormente, a novas 
perspectivas que se abrem em nossas relações.
Existem alguns temas atuais que devem ser pensados sob a óptica da ética, como os 
experimentos e pesquisas com seres humanos e animais, a riqueza e a pobreza, o meio 
ambiente, o aborto (de embrião e feto), homicídio, as guerras (existiria uma guerra justa?), 
as relações entre as empresas e seus funcionários, o meio ambiente, as drogas, a violência, a 
dor e o sofrimento. E assim temos uma lista quase que infinita para desafiar a reflexão ética 
na atualidade. 
De longe, não se pode tratar todos os temas e situações que o mundo nos apresenta 
hoje, por isso, existem campos específicos da ética para tratar também de temas específicos, 
por exemplo: ética profissional, ética empresarial, código de ética para a empresa, bioética, 
ética ambiental (ou eco ética) etc.
Tanto em nossa vida pessoal como no ambiente profissional, estamos diante de questões 
éticas. No mundo corporativo, grande parte das questões éticas são classificadas em quatro 
níveis. Segundo Stoner (2009), esses níveis são:
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1. Sociedade;
2. Stakeholders (empregados, fornecedores, consumidores, acionistas etc.);
3. Políticas internas de cada empresa;
4. Pessoal (ou individual).
A ética teria que constituir todas as decisões dentro de uma organização. Muitas empresas 
possuem o seu próprio código de ética para orientar e guiar formalmente os comportamentos 
de seus diretores, especialistas e parceiros de negócios. Órgãos públicos, sindicatos, 
associações de profissionais liberais têm códigos de ética específicos ou profissionais, nos 
quais demonstram boa vontade e reconhecem a necessidade e a importância da ética. 
As ações de uma empresa podem ser antiéticas, um órgão público pode ser palco de 
corrupção e desvio de recursos financeiros para beneficiar um grupo ou indivíduo. 
O código de ética de uma instituição, seja ela o governo, empresa, ou ONG (organização 
não governamental) teoricamente só pode ser vantajoso para os seus stakeholders. 
Enquanto muitos executivos apenas veem um modismo capaz de capitalizar benefícios 
ou dividendos, outros têm se desdobrado para criar um instrumento genuíno, com 
adesão voluntária de todos os stakeholders, incorporando de maneira natural e 
profissional os princípios éticos da instituição (ARRUDA, 2002, p. 1).
Os códigos de ética surgem nas empresas como uma forma de ajudar a constituir as 
relações entre os diferentes públicos que se relacionam e que gravitam em torno de qualquer 
organização. Hoje, mais do que isso, pensa-se também na relação com a natureza e com 
a responsabilidade social. As organizações devem ajudar a construir uma sociedade que 
possibilite qualidade de vida presente e futura.
É importante considerar que o comportamento ético é uma escolha pessoal 
e séria, contudo, precisamos sim da ajuda de outras pessoas e das instituições para 
aperfeiçoarmos os nossos conceitos e ações. Se não tivermos padrões sobre os 
nossos comportamentos e sua correção, qualquer questionamento ou revisão sobre 
temas universais (aborto, pena de morte, escravidão, exploração do trabalho, direitos 
humanos etc.) será inviabilizado.
Uma conduta ética exige a reflexão e a responsabilidade nos âmbitos individual e 
coletivo para a construção de uma sociedade com mais democracia e justiça social. Não 
somos apenas os destinatários das decisões políticas, somos nós que delimitamos por nossas 
decisões os valores e as metas da nossa sociedade, na medida em que atuamos e temos a 
possibilidade de participar das diversas instâncias sociais. Possuímos direitos e deveres. 
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A ética está aí para nos auxiliar na tomada de decisões. O estudo da ética auxilia em 
nosso desenvolvimento pessoal e toda a humanidade, tanto no presente como no futuro.
Devemos perceber a ética não como uma imposição, mas como uma necessidade humana 
para agir com correção, para construção de uma sociedade mais humana e justa. Se alguém 
quiser humanizar-se, tem de ser ético; se deseja ser ético, tem que ser humano. Parece um 
jogo de palavras, mas é uma verdade. Só pode dizer-se que é ético, sendo profundamente 
humano, e só pode dizer-se ético, quando for imensamente humano.
Considerações finais
Nesta aula, compreendemos a ética e seu histórico. Abordamos o legado ocidental e 
os aspectos gerais dessa parte importante da filosofia. Ao final desta aula, você teve uma 
compreensão histórica da ética no Ocidente e de como refletir sobre os conceitos e problemas 
éticos, incluindo aqueles relacionados à nossa vida nas empresas e no campo da política.
O importante é percebermos que o ser humano necessita de uma ética, para viver e 
viver bem em sociedade. Diferentemente de seres da natureza que se unem pelos fins que a 
própria natureza lhes oferece, o ser humano reúne-se em sociedade, como uma necessidade 
de constituir-se humanamente. Nascemos com essa necessidade e precisamos desenvolvê-la 
da melhor forma, e, para nos auxiliar nessa tarefa, a ética é um grande guia.
Vivemos em um mundo globalizado que nos apresenta sempre cada vez mais desafios 
aos quais precisamos estar preparados ou, ao menos, alertas para saber como enfrentá-los. 
Nesse sentido, a ética é a possibilidadee o auxílio que dispomos para poder agir e viver bem 
em sociedade.
Referências 
ALONSO, Felix Ruiz. Revisitando os fundamentos da ética. IN: COIMBRA, José de Ávila Aguiar. 
Fronteiras da ética. São Paulo: Senac, 2002.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. 2.ed. São 
Paulo: Moderna, 1998.
ARRUDA, Maria Cecília Coutinho. Código de ética. São Paulo: Negócio Editora, 2002.
BOFF, Leonardo. Ética e moral: a busca dos fundamentos. Petrópolis: Vozes, 2003.
CHAUÍ, Marilena de Souza. Kant – Vida e obra. IN: KANT, I. Crítica da razão pura. 3.ed. São 
Paulo: Nova Cultura, 1987.
KLIKSBERG, Bernardo. Por uma economia com face mais humana. Brasília: UNESCO, 2003.
LACERDA, Gabriela; PESSOA, M. Agir bem é bom: ética ontem, hoje e amanhã. São Paulo: 
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Editora Senac . São Paulo, 2018.
MORIN, Edgar. O método 6: ética. Porto Alegre: Sulina, 2005.
PESSANHA, José Américo Motta. In: AGOSTINHO, S. Confissões. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
STONER, James A. F. Administração. 5.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009.
VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
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Aula 02
Ética e direitos humanos 
Objetivos Específicos
• Compreender os direitos humanos.
Temas
Introdução
1 Os conceitos de ética e direitos humanos
2 A fundamentação ética
3 A questão histórica
4 A diferenciação social
Considerações finais
Referências 
José Antônio Fracalossi Meister 
Professor Autor
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2
Introdução
Nesta aula, buscaremos um entendimento da ética e seus elementos constituintes, 
analisando a sua relação com os direitos humanos e o que eles podem oferecer de fonte 
inspiradora para a ética. 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um tratado sobre os direitos fundamentais, 
que orienta pessoas e nações e, nesse sentido, inspira a ética, oferecendo um caminho melhor 
a seguir.
Quando nos questionamos sobre alguma atitude ou reconhecemos que não foi uma 
ação correta, de uma forma ou de outra, sentimo-nos insatisfeitos com nós mesmo. 
Ao contrário, cada vez que fomos capazes de deitar a cabeça o travesseiro e dizer, 
cada um a si mesmo, com absoluta convicção de estar sendo sincero, agi bem, fiz o 
certo, experimentamos alegria (Introdução – para começo de conversa: o que é ética? 
(LACERDA; PESSOA, 2018, p. 10).
Podemos compreender os direitos humanos de dois modos. Como um conjunto de 
princípios elaborados e estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), que visa à 
garantia de direitos considerados fundamentais e essenciais para um bom convívio social, e, 
segundo Mondaini (2009, p. 12), como um:
[…] conjunto articulado e interdependente dos direitos civis, políticos, sociais 
econômicos e culturais, fundados, para além da ideia de universalidade, no princípio 
da indivisibilidade e no horizonte da internacionalização, condição indispensável para 
a luta pela construção de uma cidadania global.
Um modo representa o conjunto fixado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos 
e que nos é acessível. Já o segundo, pelo fato de ter um caráter mais jurídico, está expresso 
em muitas leis e, em especial, no caso brasileiro, na Constituição da República Federativa 
do Brasil. As duas concepções não se contradizem, mas têm um caráter diferencial. A 
declaração da ONU é uma recomendação aos países membros para que preservem os direitos 
fundamentais, já a Constituição, pelo seu caráter jurídico é impositiva. 
A título de exemplificação, o artigo 5º da Constituição Federal afirma:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros, e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à 
liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedade, nos termos seguintes: [...]
XXII – é garantido o direito de propriedade;
XXIII – a propriedade atenderá sua função social; […] (BRASIL, 1988).
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo XVII, recomenda:
1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.
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2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade (ONU, 1948, p. 10).
Comparando as duas redações, podemos observar que tratam do mesmo assunto 
– propriedade privada –, de forma diferente, mas não divergente. Para a Declaração, a 
propriedade é um direito; já para a Constituição, ela é uma garantia. E assim se poderia fazer 
em relação a outros aspectos. O Brasil, como um país signatário da ONU, acolhe o que diz a 
Declaração e a transforma em lei, a fim de cumprir essa recomendação importante para o 
desenvolvimento do ser humano.
1 Os conceitos de ética e direitos humanos
A ética surge na história como uma forma de auxílio na resolução dos problemas diários. 
Isso nos mostra que a humanidade, desde os primeiros agrupamentos, precisou de elementos 
para agir com correção e justiça. 
Não devemos esquecer que o ser humano precisa dos outros para se desenvolver, ou 
seja, a convivência é fundamental. Por outro lado, apesar de fundamental, a convivência pode 
ser também problemática, pois nas relações estabelecidas surgem os conflitos. A sociedade 
ideal é, e sempre foi, o sonho da humanidade. Como exemplo, podemos pensar na história do 
paraíso descrita na bíblia. Lá, temos a realidade perfeita, em que tudo ocorre em harmonia 
e paz, até o momento em que a harmonia é desafiada pelo ser humano. Este, ao usar sua 
liberdade, destrói a harmonia. 
O desafio presente é encontrar formas para fazer com que os seres humanos 
venham a agir bem e possam conviver harmoniosamente, já que a convivência é uma 
necessidade humana.
A ética é protetiva e auxilia no convívio social. Ela não surgiu como um ato impositivo, 
mas como uma necessidade humana. Muitas vezes, encaramos a ética como imposição de 
um grupo sobre outro, porém, é preciso ir além desta concepção e pensá-la como uma 
necessidade humana para viver bem e se desenvolver plenamente.
Tanto os direitos humanos como a ética são constituídos historicamente a partir das 
situações vivenciadas pela humanidade. Delas, surgem as questões a serem pensadas 
e respondidas. Direitos humanos e ética buscam oferecer respostas às diversas situações 
vividas pelas pessoas em sua individualidade e pela humanidade, como um todo, por isso 
é importante que as relações humanas sejam aceitas e executadas por todos, sem exceção. 
O pensamento ético e os direitos humanos surgem para proteger o que nos é mais 
significativo, como a vida, os bens que se dispõem e os direitos fundamentais para que se 
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possa viver dignamente.
As normas éticas podem ou não constar de leis ou códigos. Mas o juízo ético é, 
essencialmente, um juízo moral. Uma ação pode ser legal e não ser ética. E, em certos 
casos, pode ser ilegal e considerada moralmente ética. Em resumo, a palavra ética 
se aplica à conduta humana. A ética aprova u desaprova os atos de um ser humano, 
qualificando-os como certos ou errados, do ponto de vista moral (LACERDA; PESSOA, 
2018, p. 10-11).
Os direitos humanos são ditos como fundamentais, pois não se pode abrir mão deles. 
O mesmo se dá com a ética. Algumas pessoas podem não agir eticamente, mas não se pode 
afirmar que a ética é desnecessária. Temos que manter presente que ética e direitos humanos 
existem para justificar o nosso convívio social.
Direitos devem ser realizados e, por isso, cabe a cada um fazer com que seus direitos se 
cumpram. Saúde, educaçãoe previdência, entre outros, são direitos fundamentais para que 
as pessoas possam viver bem. 
As pessoas, ao se organizarem em sociedade, entendem que juntas tendem a realizar 
o que está na vontade de cada um e, ao mesmo tempo, faz parte da vontade de todos. Em 
resumo, todos desejam viver bem, conforme aquilo que reconhecem ser fundamental para si 
e também para os outros.
2 A fundamentação ética
A pergunta sobre como justificar eticamente as ações expressas na Declaração Universal 
dos Direitos Humanos leva os teóricos a muitas discussões. Surgem questões, como: onde 
justificar a afirmação que somos todos iguais em dignidade e direitos? É preciso considerar que 
nascemos diferentes, somos diferentes e precisamos dessas diferenças para que possamos 
nos desenvolver como humanidade.
A discussão aprofunda-se quando nos referimos aos direitos humanos, que envolve duas 
situações: o direito à vida, ou seja, ao existir, e os direitos aos quais não se pode abrir mão 
(como liberdade, igualdade etc.). 
Uma pessoa tem uma dívida para com outra e não tem como pagá-la. Então, resolve 
trabalhar para o credor de graça até que a dívida seja paga. Você concordaria com isso? Se 
disser que sim, como essa pessoa se sustentaria? Qual é a diferença entre este trabalho e a 
escravidão? Como se estabeleceria o tempo que o devedor precisaria trabalhar para pagar essa 
conta? Quem determinaria esse tempo? Como nós podemos negociar uma dívida? Geralmente, 
aquele que detém o poder impõe sua vontade sobre o mais frágil; dessa forma, é mais difícil 
estabelecer uma relação de igualdade
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A justificação para os direitos humanos é necessária, pois vivemos em uma sociedade em 
que tudo deve ser justificado e fundamentado. Dentro dessa lógica, o que não for assimilado 
não se torna defensável. A tarefa de justificação é difícil, mas, ao mesmo tempo, necessária. 
O que mais se aproxima de uma justificativa para este caso é o fato de dizer que os direitos 
humanos são elementares, ou seja, são essenciais para todas as pessoas viverem bem.
Não basta para o ser humano apenas viver. É preciso que ele viva bem! Tal característica 
é uma qualidade humana, ao contrário de outros animais para os quais sua condição natural 
é estar bem. O ser humano, pelo fato de se formar, se tornar humano, precisa de diversos 
fatores que garantam seu modo de melhor viver.
Conforme Mondaini (2009), historicamente, o que se viu foi que os direitos foram 
aos pouco sendo reconhecidos: as liberdades individuais (direitos civis), a igualdade 
política (os direitos políticos) e a igualdade social (os direitos sociais). No Brasil, 
primeiro foram reconhecidos os direitos sociais, já os direitos civis e políticos não 
 eram garantidos.
A busca pela efetivação dos direitos humanos é eterna, assim como foi necessário 
estabelecer seus princípios. Deve-se sempre zelar para que jamais sejam desrespeitados e 
que os direitos não sejam reconhecidos como tal apenas para alguns. Por isso, vale afirmar os 
direitos humanos e sua defesa é uma necessidade. Mas as pessoas precisam estar convictas 
de que lutar por seus direitos é fundamental e, se alguns se apropriarem de direitos que são 
de todos e excluírem grupos ou alguns dessa obrigação, será ruim para todos.
2.1 Construção social 
É importante percebermos que os direitos, assim como a ética, são resultantes de uma 
construção social. As pessoas devem se esforçar para garantir uma ética capaz de concretizar 
os direitos.
Admitir que nos direitos humanos há uma inspiração ética é admitir que em seus 
fundamentos existe uma concepção de pessoa, de bem e de mal e que os direitos valem para 
todos, independentemente da orientação religiosa, política ou filosófica individual. 
Na Declaração Universal dos Direitos Humanos se afirma que todos os cidadãos devem 
ter direitos garantidos, dentre os quais destacam-se os direitos à: liberdade, propriedade, 
segurança e resistência à opressão. Cada pessoa tem como limite os mesmos direitos que 
os outros, um direito não deve se sobrepor ao outro. É preciso pensar “o que não desejo 
para mim, não desejo para os outros também”, ou seja, é assegurado aos demais membros 
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da sociedade o desfrutar de direitos que proclamo para mim. Portanto, a Declaração vê a lei 
como uma expressão da vontade geral. Com isso, busca-se promover a igualdade de direitos 
e a proibição do que é prejudicial para a sociedade.
2.2 Justificativas para a Declaração
Observando o preâmbulo da Declaração, compreendemos o motivo pelo qual esse 
tratado composto por 30 artigos deve ser seguido por todos: 
[...] O reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana 
e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça 
e da paz no mundo (ONU, 2009, p. 2).
Todas as constituições do mundo democrático são muito maiores do que esses 30 artigos, 
mas são imprescindíveis para a coexistência, especialmente em um mundo globalizado, 
quando os problemas já não são mais pensados localmente. 
No site da ONU, encontramos justificativas que fundamentam um agir conforme a 
Declaração Universal dos Direitos Humanos e estes nos demostram ou se justificam por 
serem éticos. 
• Os direitos humanos são fundados sobre o respeito pela dignidade e o valor de 
cada pessoa;
• Os direitos humanos são universais, o que quer dizer que são aplicados de forma 
igual e sem discriminação a todas as pessoas;
• Os direitos humanos são inalienáveis, e ninguém pode ser privado de seus direitos 
humanos; eles podem ser limitados em situações específicas. Por exemplo, o 
direito à liberdade pode ser restringido se uma pessoa é considerada culpada de 
um crime diante de um tribunal e com o devido processo legal;
• Os direitos humanos são indivisíveis, inter-relacionados e interdependentes, já 
que é insuficiente respeitar alguns direitos humanos e outros não. Na prática, a 
violação de um direito vai afetar o respeito por muitos outros;
• Todos os direitos humanos devem, portanto, ser vistos como de igual 
importância, sendo igualmente essencial respeitar a dignidade e o valor de cada 
pessoa (ONU, 2015).
Para mais informações sobre as características da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, acesse a Midiateca.
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Embora dessa forma tenhamos a justificativa, muitos conceitos precisam ser trabalhados 
para que se entenda bem o que significam. Um erro comum é acreditar que um termo tem o 
mesmo significado/valor para todas as pessoas, por exemplo: 
O que se entende por dignidade humana? 
Entende-se uma dignidade que inere ao homem, que lhe é concedida 
independentemente de outro qualificativo, seja biológico, social ou moral. [...] Ela se 
difere das diversas formas de dignidade contingente. Fala-se [...] de dignidade social 
em relação aos portadores de cargos políticos ou clericais, de dignidade expressiva, 
quando a aura de um homem sábio infunde reverência (KAUFMANN, 2013, p. 55, 
grifo nosso).
Mesmo assim, deve-se questionar: será que o que eu entendo é o mesmo que meu amigo, 
vizinho ou colega entende? Por isso, mesmo tendo uma fundamentação, uma justificativa 
para a Declaração e para os direitos humanos, deve-se ter claro que a compreensão humana 
é múltipla e envolve a história, as experiências e os entendimentos individuais e que, por 
isso, é preciso esclarecer e buscar sempre maiores consensos para que todos possam viver e 
entender a mesma coisa.
A dignidade humana [...] consiste num conceito normativo, que deve proteger todo 
homem de ser tratado poroutro homem como meio, isto é, como um simples objetivo 
para consecução de seus fins. Isso implica que todos sejam tratados como possuidores 
de certo grau de dignidade contingente, que é uma tentativa de proteger os homens 
de humilhações (KAUFMANN, 2013, p. 55).
O quão importante é sabermos o que se entende por dignidade? Embora não se possa 
dizer tudo o que o conceito abrange, é fundamental entendermos que é a dignidade é 
inerente ao ser humano, isto é, não pode lhe ser tirada por nada e nem por ninguém. Além 
disso, não deve ser confundida com outras formas de dignidade, como a social e a expressiva, 
conforme citação anterior. Além disso, deve-se entendê-la como um conceito normativo, ou 
seja, uma forma de determinar a conduta humana, assim como a ética e a lógica que levam as 
pessoas a agirem porque entendem ser o melhor meio para se atingir o bom convívio social.
3 A questão histórica
A história da humanidade nos mostra que tivemos que passar por um longo período 
para percebermos que o direito realmente é parte integrante do nosso ser, assim como o é 
nossa pele, nossos olhos e cada parte de nosso corpo. A ética e os direitos humanos também 
são nossos constituintes. Só podemos dizer que somos verdadeiramente humanos se somos 
reconhecidos e nos reconhecemos como tal.
Poderíamos buscar a justificativa para os direitos humanos na história, desde os primeiros 
códigos constituídos, mas vamos partir de nossa realidade mais recente, fundamentalmente, 
o período em que a questão dos direitos do homem foi mais pensada e buscada. Não que 
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em outras épocas isso também não tenha sido estudado e aparecesse em códigos jurídicos 
ou mesmo nas tradições religiosas, mas é a partir do período moderno (final do século XVIII) 
que encontramos os passos decisivos para que os direitos humanos, tal qual conhecemos 
hoje, tomassem forma. 
As primeiras afirmações sobre os direitos humanos surgem na Declaração da 
Independência dos Estados Unidos, de 4 de julho de 1776. Nela, podemos encontrar vários 
motivos para que a independência americana se efetive, pois estava pautada no interesse de 
vários grupos, desde escravocratas, religiosos, até mesmo libertários.
A Declaração da Independência afirma solenemente, ao denunciar os motivos da 
separação promovida pelo segundo congresso Continental da Filadélfia, que o rei da 
Grã-Bretanha estaria violando os direitos mais básicos da liberdade. [...] Os documentos 
fundadores na nova nação são amplos e generosos. A Declaração de Independência 
afirma que todos os homens foram criados iguais e dotados pelo Criador de direitos 
inalienáveis, como vida, liberdade, busca da felicidade (KARNAL, 2015, p. 139).
Filosoficamente, a Declaração acentuou dois temas: os direitos individuais e o direito 
de revolução. Duas condições fundamentais para justificar os atos que deveriam tomar, pois, 
se não afirmassem os direitos individuais, como poderiam dizer que fariam o desligamento 
do Reino Unido, deixando de ser uma colônia? E se também não declarassem o direito de 
revolução, também não poderiam desmembrar-se. Assim, a primeira declaração do mundo 
moderno afirma algo fundamental para a ética: as garantias individuais e a possibilidade de 
revoltar-se contra o que não se concorda. No caso dos Estados Unidos, já não se concordava 
em ser colônia.
Um segundo momento histórico importante é a Revolução Francesa. Ela nasce sobre 
o lema: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. O marco fundamental dessa revolução é a 
Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, em que estão expressos 
os anseios e a busca do seu grande ideal de liberdade e igualdade. 
As declarações americanas e francesas foram a fonte de inspiração para a libertação de 
muitas nações e inspiraram as pessoas a encontrar sua razão de ser e pensar como cidadãos de 
um mundo onde as amarras e as prisões devem ser pensadas não como uma forma de interesse 
de alguns, mas que, em primeiro lugar, as pessoas tenham a possibilidade de se expressarem, 
de se enxergaram como iguais e de construírem um mundo mais fraterno e melhor para 
se viver.
A partir da Revolução Francesa se intensificam grandes movimentos de mudanças no 
mundo, pois seus três princípios (liberdade, igualdade e fraternidade) são fundamentais 
para que o ser humano desenvolva-se plenamente. Lembremos que, durante o período ou 
século XVII, especialmente na Europa, existiam dinastias que impunham formas de trabalho 
e de controle rígidos, próximos da escravidão. O Estado intervinha nas relações comerciais 
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– de servidão e cobrança de altos impostos –, e um pequeno grupo, a elite, podia desfrutar. 
Mesmo assim, não foram os mais pobres que promoveram a revolução, mas sim um grupo 
burguês, isto é, um determinado grupo que também pensava em acumular para manter sua 
posição social.
O século XVII foi um período profícuo, no sentido de se estabelecer situações favoráveis 
para o pensamento sobre a condição humana. O contexto da reflexão sobre as liberdades 
buscadas leva à construção da libertação das terras americanas e à própria revolução francesa, 
e também ao período em que surge a primeira Revolução Industrial. Tem-se, portanto, um 
mundo “em ebulição”, que levara os governos, as pessoas e os pensadores desse período a 
sérios questionamentos sobre o ser humano e seus direitos. 
Assim, a partir dos momentos históricos que deram origem a essa reflexão, a humanidade 
não mais deixara de lado os questionamentos sobre sua importância. Esses momentos 
fundantes levaram a filosofia política, a ética e tudo o que se refere à condição humana 
e, nesse sentido, também a religião a se questionar sobre o humano e a humanidade. A 
culminância de tudo isso se dará mais de um século depois com a Declaração Universal dos 
Direitos Humanos de 1948.
Nesse período, as regalias, as benesses sociais eram direcionadas apenas para um grupo. 
Apenas os mais próximos do poder ou que tinham dinheiro podiam desfrutar do que se 
oferecia na época. Embora muitos possam dizer que hoje também é assim, podemos, por 
outro lado, afirmar que esses direitos são garantidos a todos. Para nós brasileiros, um marco 
importante na garantia desses direitos é a Constituição Brasileira de 1988, que ainda não fez 
frutificar tudo o que ali está expresso. Caberia à sociedade fazer valer esse direito, cobrando 
das autoridades o que lhes é devido, assim como também fazendo a sua parte de forma a 
minorar as diferenças.
4 A diferenciação social
A sociedade é uma forma essencial para que todos nós possamos existir e sobreviver. Hoje 
já não é possível desejar retroceder a um estágio natural. Temos necessidades emocionais, 
afetivas, psicológicas etc. Nada pode substituir a necessidade da convivência, assim como as 
demais, as quais podem ser consideradas da natureza humana. 
Para que as relações aconteçam, é necessário que a sociedade se organize, conheça 
os direitos de cada um e de todos, e inclua todos em uma perspectiva humanitária, ética e 
de direito. 
Seria possível pensar em uma sociedade “perfeita”? Esta seria formada apenas pelos 
mais capazes e melhores? Esse tipo de pensamento seria excludente e anti-humano; não 
cabe em nossa reflexão acerca da sociedade de direitos a qual tratamos até o momento. 
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Posições como essas já foram defendidas em Esparta, cidade guerreira em que, 
quem não fosse capaz de entrar em guerra deveria ser morto ao nascer. Porém, não 
precisamos ir muito longe. Vejamos o exemplo nazista. Por que judeus, doentes e 
outros grupos foram assassinados inicialmente na Alemanha e,posteriormente, foram 
perseguidos por toda a Europa? Porque se defendia uma ideia de supremacia de um 
grupo de uma determinada parte da sociedade sobre outros. Hoje, felizmente, a defesa 
de direitos e a possibilidade de inclusão das pessoas permitem o entendimento de que 
ações desse tipo são inadequadas.
Pode-se dizer que, ao nascermos, todos somos iguais, o que nos diferencia é o lugar 
onde nos inserimos após o nascimento. Por outro lado, as discriminações criadas socialmente 
fazem com que sejam vividos e expressados preconceitos de raça, cor, sexo etc. Procurar 
então uma forma de igualdade é buscar a garantia do direito de oportunidades sociais e para 
que ninguém seja tratado como superior ou inferior. São direitos fundamentais de qualquer 
pessoa: ter uma família, educação, alimentação, serviços de saúde, trabalho digno, acesso 
a bens e serviços, participar da vida pública e ter o respeito dos semelhantes, entre outros. 
É nesse sentido que se inserem os direitos humanos como uma forma complementar e 
fundamental, ou seja:
[...] os direitos humanos devem ser observados como conjunto articulado e 
interdependente dos direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais, fundados, 
para além da ideia de universalidade, no princípio da indivisibilidade e no horizonte 
da internacionalização, condição indispensável para a luta pela construção de uma 
cidadania global (MONDAINI, 2009, p. 12).
A participação na sociedade não é como muitos pensam, ou seja, apenas de se ter o 
direito de ir e vir, de votar e ser votado, é muito mais do que isso. Participar é entender que 
se possui direitos e lutar para que eles se efetivem socialmente. 
Um exemplo de boa forma de participação social é o orçamento participativo. Essa 
prática se tornou conhecida quando a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, passou 
a adotá-la e, hoje, já é uma realidade de muitas cidades e estados brasileiros. O orçamento 
participativo é uma forma efetiva de a população ter voz para que seus direitos sejam ouvidos, 
discutidos e principalmente respeitados.
Considerações finais
Nesta aula, compreendemos a formação histórica dos direitos humanos e da ética. 
Aprendemos que tal surgimento se deu a partir das relações que a humanidade estabeleceu no 
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decorrer da história, e que os direitos humanos foram sendo elaborados durante séculos, em 
especial, no período moderno a partir da Independência dos Estados Unidos e da Declaração 
Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789.
Passamos a entender que não basta termos direitos, é preciso mais do que isso, é 
necessário buscar a sua concretização, por meio da participação social sempre que possível. 
O ser humano tem muitos direitos, e o fato de muitos serem descumpridos levou à 
necessidade de se construir uma declaração. Muitas vezes, vivemos e não nos damos conta 
que temos direitos – à liberdade, propriedade, segurança, à vida etc. –, mas, quando eles 
são suprimidos, logo percebemos a sua importância e, por isso, devem ser garantidos. 
Busquemos viver bem em sociedade e talvez assim não seja preciso exigir tanto os direitos, 
muito embora, como afirmam Pinsky e Pinsky (2015, p. 9): 
A ideia de que o poder público deve garantir um mínimo de renda a todos os cidadãos 
e o acesso a bens coletivos como saúde, educação e previdência deixa ainda muita 
gente arrepiada, pois se confunde facilmente o simples assistencialismo com dever 
do Estado.
A ética e a Declaração dos Direitos Humanos nos propõem desafios. E cada pessoa, ao 
entender esses desafios, tem diante de si a possibilidade de assumir-se cada vez mais como 
cidadão e membro de uma grande sociedade. Entender-se como um ser que não pertence 
somente a um país, mas a uma grande nação que nos possibilita viver esse momento histórico, 
nos torna comprometidos com o “destino” de cada um e ao mesmo tempo de todos.
Referências 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, 
Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 23 nov. 2016.
KAUFMANN, Matthias. Em defesa dos direitos humanos: considerações históricas e de 
princípios. São Leopoldo: UNISINOS, 2013.
KARNAL, Leandro. Estados Unidos, liberdade e cidadania. In: PINSKY, Jaime, PINSKY, Carla 
Bassanezi (Orgs.). História da Cidadania. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2015, p.134-157.
LACERDA, Gabriela; PESSOA, M. Agir bem é bom: ética ontem, hoje e amanhã. São Paulo: 
Editora Senac: São Paulo, 2018.
MONDAINI, Marco. Direitos humanos no Brasil. São Paulo: Contexto, 2009.
ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.dudh.org.br/
wp-content/uploads/2014/12/dudh.pdf>. Acesso em: 23 nov. 2016.
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (Orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2015.
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Aula 03
Princípios dos direitos humanos
Objetivos Específicos
• Contextualizar as lutas pelos direitos humanos.
Temas
Introdução
1 Características dos direitos humanos
2 Dimensões dos direitos humanos
3 As lutas por reconhecimento como reivindicação de direitos
4 Direitos humanos no Brasil
Referências 
José Antônio Fracalossi Meister 
Professor Autor
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Introdução
Para estudarmos os direitos humanos, é fundamental conhecermos o texto completo 
deste documento, publicado pela ONU e disponível para leitura livre e gratuita na internet. 
Além de o texto não ser longo, ele é bastante acessível, com linguagem direta e de fácil 
compreensão. 
O rol dos direitos humanos aumentou muito desde a sua Declaração de 1948 e uma de 
suas características é a “abertura” para novos direitos, pois nunca param de surgir formas de 
aviltamento da dignidade humana. 
A escolha de estudar a Declaração Universal de 1948 não se dá pelo fato de nela estarem 
todos os direitos humanos estabelecidos até o momento, mas sim por este ser um documento 
que adquiriu consenso e legitimidade entre as nações do mundo no decorrer da segunda 
metade do século XX. 
A Declaração se inicia com uma série de justificativas para a sua criação. Esses aspectos 
iniciais são chamados considerandos, isto é, os motivos que levaram as autoridades no 
assunto a fazer a descrição dos 30 itens constantes no documento. 
Lembremos também que a Declaração foi proclamada em dezembro de 1948, três anos 
após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a qual trouxe problemas e repercussões 
imensas nas relações entre pessoas e países. 
Com a Declaração, muitos movimentos sociais surgiram, acompanhando os outros já 
existentes antes desses documentos, ganhando força e o elemento fundamental para que 
diferentes grupos sociais tivessem a possibilidade de organizar-se de forma oficial, visto que 
outros tantos deixaram de ter reconhecimento.
1 Características dos direitos humanos
A busca pelos direitos humanos impulsionará o que chamamos de cidadania, o resultado 
do que as pessoas passam a fazer a partir da constatação que são agentes sociais, isto 
é, formadores da sociedade e que devem agir buscando seu espaço e sua valorização. O 
resultado disso é o surgimento ou o desenvolvimento de muitos grupos sociais que passaram 
a agir em vista da defesa das pessoas e de suas realidades fundamentais.
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O surgimento de grupos sociais, tanto no Brasil como em muitos outros lugares 
do mundo, ajuda-nos a perceber que as relações humanas são imprescindíveis para 
a forma como cada país se organiza. O surgimento da sociedadecivil organizada vem 
concretizar o que realmente a Declaração Universal dos Direitos Humanos traz como 
fundamental para todos. Existem muitas dificuldades para se colocar em prática o que 
está expresso na Declaração e que é vontade de todos (ou ao menos deveria ser), pois 
a sociedade é um jogo de interesses e cada um defende seu modo de viver e ponto 
de vista.
Quando lutamos por direitos humanos, precisamos entender como se chegar a eles. 
Devemos ter claro que, ou eles existem para todos, ou algo está errado na sociedade. Para 
isso não há exceção. Não se pode admitir que em determinadas situações os direitos sejam 
admitidos e em outras possam ser deixados de lado. Isto está visto e posto no preâmbulo 
da própria Declaração Universal dos Direitos Humanos: “O reconhecimento da dignidade 
inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis 
constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo” (ONU, 1948, p. 2).
Diante disso, devemos compreender alguns conceitos fundamentais apresentados na 
Declaração.
Os direitos são inerentes, isto é, não podem ser separados de nossa condição humana, 
assim como nossa pele, nossa vida, nosso ser. Eles existem como uma forma de fazer o ser 
humano como tal: 
• Somos da família humana, que é composta por pessoas que se reconhecem como 
membros de um grupo com seus objetivos e interesses comuns ligados por laços 
afetivos e de cuidado mútuo. 
• Vivemos juntos, temos nossas divergências, mas estamos unidos por laços de 
reconhecimento e todos os membros dessa família têm importância. Isso se afirma 
quando essa declaração diz que os direitos são regidos pela igualdade, ou seja, não 
deve haver diferença em relação a raça, cor, credo, nacionalidade. 
• Os direitos humanos são inalienáveis, isto é, não podem ser retirados por ninguém. 
Eles fazem parte de nós e não há exceção à regra. Por isso, a luta contra as ditaduras 
é tão importante. Não se pode admitir a ditadura em quaisquer níveis (familiares, 
sociais, políticos, econômicos etc.). 
Disso, desprende-se o fato de que buscar igualdade não é algo tácito e garantido sem 
ressalvas. A garantia se dará na medida em que as pessoas não aceitarem mais condições de 
submissão e falta de direitos. 
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2 Dimensões dos direitos humanos
Como sabemos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 possui 30 artigos. 
Ela será fonte posterior para outras reflexões e documentos, como a Declaração e Programa 
de Ação de Viena, fruto de uma conferência mundial sobre os direitos humanos de 1993. 
Nesses artigos, são refletidos os problemas mais importantes e urgentes para a vida em 
sociedade. 
Figura 1 – Dimensões dos direitos humanos
Cultura e
ambiental
Civil e
política
Economia e
social
Os direitos civis e políticos correspondem ao lema liberdade da bandeira francesa, en-
quanto os direitos sociais correspondem ao lema igualdade, e os direitos de natureza difusa 
ao lema fraternidade.
2.1 Dimensão civil e política (direitos civis e políticos)
A dimensão civil e política abarca os direitos de liberdade (de ir e vir, expressão, religião 
etc.), vida, propriedade e participação nos negócios públicos. Reconhece-se, por exemplo, 
a liberdade de pensamento, consciência e religião, opinião, reunião e associação pacífica, 
igualdade entre as pessoas e perante a lei, e nisso consta o direito de recorrer judicialmente, 
assim como o direito à vida, à segurança, à nacionalidade, ao casamento e, enquanto este 
durar, direitos iguais para o casal, por isso, também deve ser um ato livre.
Excluem-se torturas e penas cruéis, toda forma de escravidão, prisão e exílio arbitrário, 
a culpa até que seja provado o contrário, não podendo aplicar uma pena maior do que a do 
momento do ato, intromissão na vida familiar, domicílio, correspondência, ataques à honra 
e à reputação.
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A observância de todos esses princípios é fundamental. É preciso reconhecer, porém, 
que muitas coisas ocorrem no mundo e no Brasil e ferem de algum modo esses direitos. 
Por exemplo: a violação de privacidade e do direito à vida, em guerras internas, como na 
República Árabe da Síria, República Islâmica do Afeganistão e na Palestina; há ainda povos 
que não têm seus países constituídos (os ciganos, os curdos no Iraque). 
O direito de opinião, quando não bem entendido, pode causar problemas. Ter direito de 
opinião envolve uma vontade – a de se dizer algo –, mas essa só pode ser expressa se não 
ferir a moral de uma pessoa ou instituição. Pode-se dizer o que se pensa, em público ou para 
alguém, quando isso for feito com o intuito de corrigir distorções ou de melhorar algo que 
não está bem. Mas, não é permitido atingir a pessoa ou levá-la a uma situação degradante 
quando se emite uma opinião. 
Esse direito é reafirmado quando se expressa que a vontade do povo é o fundamento da 
autoridade, desde que seja em eleições honestas. 
2.2 Dimensão econômica e social (direitos econômicos e sociais)
Faz parte da dimensão econômica e social o direito à educação, que deve ser gratuita no 
ensino básico e generalizada no ensino técnico e profissional. Educação é um direito social 
pela necessidade da manutenção de um sistema de educação pública para atendimento da 
etapa de educação básica. 
Outro aspecto que devemos refletir são os objetivos da educação, que deve levar o que 
menciona o item 2 do artigo 26 da Declaração:
A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade 
humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades 
fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre 
todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações 
Unidas em prol da manutenção da paz (ONU, 1948, p. 14).
Temos aqui até uma justificativa para o conteúdo que estudamos no momento: ética, 
cidadania e sustentabilidade. Não porque é uma imposição, mas por ser uma necessidade 
para que as pessoas possam realmente aprender a expandir sua personalidade. Esse é, no 
fundo, o objetivo da educação. 
Diante disso, cabe aos pais a responsabilidade de escolher o tipo de educação a ser dada 
aos filhos, que não pode ser resultante de uma imposição do Estado, de um grupo, ou de uma 
religião. A responsabilidade é dos pais. O art. 6º da Constituição Federal nos dá o repertório 
dos direitos sociais: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a 
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e 
à infância, a assistência aos desamparados [...]” (BRASIL, 1988).
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Têm-se ainda os direitos à propriedade de assumir negócios em seu país diretamente ou 
por representantes, direito ao trabalho e à proteção contra o desemprego, a fundar sindicatos 
e se filiar a eles, ao repouso e lazer, assim como a férias remuneradas. O direito de assumir 
os negócios de seu país defende a democracia como a forma por excelência de organização 
social.
Também devemos refletir sobre o direito ao trabalho, pois por meio dele a pessoa 
consegue seu sustento. Quando faltar trabalho, a declaração conclama por uma 
proteção. Por exemplo, no Brasil, o seguro desemprego é uma forma de cumprir um 
direito. Podemos levantar críticas contra um ou outro modo de fazer esse pagamento, 
mas ele tem sua fundamentação na própria Declaração Universal dos Direitos Humanos.
O direito ao repouso e lazer pregado na Declaração nos chama a atenção para um fato 
importante, especialmente quando se viu e sevê em muitos lugares do mundo as pessoas 
sem esse direito, o que não é novo; se considerarmos a história dos povos, observaremos que 
o repouso sempre foi uma medida protegida e considerada importante. 
Em alguns períodos da história, se dava esse repouso à própria terra que se cultivava, 
como no Antigo Egito e em Israel. A Declaração afirma, ainda, que deve haver “[...] a 
limitação razoável das horas de trabalho [...]” (ONU, 1948, p. 13), esta não pode ser fonte de 
esgotamento físico e mental. Não é sem razão que hoje, como em nenhuma outra época de 
nossa história, o estresse é uma constante na vida dos trabalhadores e precisa ter a devida 
atenção e o devido cuidado por quem o regula. Por isso, trabalhadores de algumas profissões 
– como caminhoneiros e professores do ensino básico – têm direito à aposentadoria antes 
do tempo previsto para trabalhadores regulares. Essa redução é de, geralmente, cinco anos.
O artigo 25 da Declaração é altamente complexo, pois chama a atenção para a 
garantia de um nível de vida, tanto para si como para a família. Dentro disso estão: saúde, 
bem-estar, alimentação, vestuário, alojamento, assistência médica, serviços sociais na 
doença, invalidez, viuvez, velhice e em casos de perdas de meios de subsistência. Esse 
artigo analisado nos dá a clara ideia do que se vê no Brasil. Apesar de este direito 
estar instituído a partir da Constituição de 1988, ainda falta a ser feito para que seja 
garantido e assegurado.
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2.3 Dimensão cultural e ambiental (direitos culturais e ambientais)
Assim como é o direito à participação livre na cultura da comunidade, a Declaração 
ainda propõe os efetivos direitos de liberdade. A questão ambiental ainda não tem a ênfase 
merecida, mas não se pode esquecer que surgiram outros documentos da própria ONU e 
tratados que nos chamam a atenção para essa realidade, por exemplo: a Rio-92, o Protocolo 
de Kyoto, entre outros.
Diante de um quadro de direitos propostos pela Declaração, destacamos o artigo 29 
como um dever para com a comunidade, onde as pessoas podem ser livres e ter pleno 
desenvolvimento. A lei, como sabemos, é impositiva e limitadora da ação, pois, se deixasse 
de ser uma forma reguladora, não haveria a possibilidade de garantir direitos e liberdades, 
porém, mesmo esses limitadores não são contrários ao que afirma a Declaração. 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos defende o ser humano e lhe propõe a vida 
em sociedade. Se quisermos liberdade e direitos, devemos também fazer com que estes sejam 
respeitados por todos. A luta e a constante vigilância da execução desses direitos é tarefa ao 
mesmo tempo individual (de cada um) e coletiva (de todos que vivem em sociedade). 
Ninguém tem mais ou menos obrigação, mas aqueles em situação de maior 
vulnerabilidade têm a seu favor a Declaração como forma de garantia de seu espaço 
vital. É importante chamar a atenção para esse fato, pois muito se tem visto de que 
cabe aos outros fazer com que os direitos sejam cumpridos. Aqui, o que precisamos 
entender e colocar em prática é que a exigência que se coloca é de uma vigilância na 
execução dessa declaração como compromisso de todos.
A Declaração de Viena nos traz aspectos não tratados na Declaração de 1948, por 
não serem temas recorrentes até o momento. Se em algum aspecto eles apareciam, não 
era da mesma forma como aparecem em nosso contexto. Entre os temas que para nós 
são importantes e não o eram, podemos citar: a violência contra a mulher, a violência e o 
extermínio de povos indígenas, a dominação colonial etc. Por isso, a Declaração de Viena, 
em seu artigo 5, vem elencar e chamar a atenção para fatos importantes a serem cuidados e 
observados:
Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis interdependentes e inter-
relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos de 
forma global, justa e equitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase. Embora 
particularidades nacionais e regionais devam ser levadas em consideração, assim como 
diversos contextos históricos, culturais e religiosos, é dever dos Estados promover e 
proteger todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, sejam quais forem 
seus sistemas políticos, econômicos e culturais. (ONU, 1993, p. 4).
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Embora possamos, para efeito didático, classificar os direitos humanos de acordo com 
o aspecto da dignidade humana que eles protegem, eles são interdependentes e inter-
relacionados. Dizer que há o direito de liberdade de expressão ou de participação política 
sem a garantia do direito à educação que deve preparar o futuro cidadão para expressar as 
suas ideias livremente, é algo inócuo, inútil. Para que haja participação política e liberdade de 
expressão, as pessoas devem capacitar-se para tal e como fazê-lo a não ser pelos direitos à 
educação e à liberdade de expressão, tendo em vista que ajuda na escolha dos representantes? 
Nesse sentido, os meios de comunicação têm um papel muito importante, quando visam à 
informação e ao esclarecimento das pessoas. Portanto, os direitos humanos precisam ser 
garantidos em todas as suas dimensões.
Outro aspecto a se destacar é o que se refere aos benefícios advindos do progresso, como 
um direito de todos (artigo 11 da Declaração de Viena) que, sem dúvida, traz novidades em 
relação à Declaração dos Direitos Humanos de 1948, até mesmo porque o progresso que a 
humanidade tem no final do século XX e início desse século XXI é algo até então inimaginável. 
Além da questão da pobreza extrema, que gera uma situação de grande desigualdade (artigo 
14 da Declaração de Viena) e terrorismo (artigo 17). 
Os Direitos Humanos das mulheres e das crianças do sexo feminino constituem 
uma parte inalienável, integral e indivisível dos Direitos Humanos universais. [...] A 
violência baseada no sexo da pessoa e todas as formas de assédio e exploração sexual, 
nomeadamente as que resultam de preconceitos culturais e do tráfico internacional, 
são incompatíveis com a dignidade e o valor da pessoa humana e devem ser eliminadas 
(ONU, 1993, p. 5).
E assim segue a Declaração de 1993 preocupada com a efetivação e a reafirmação do 
papel dos Estados na implantação dos direitos expressos na primeira Declaração (1948), 
inclusive solicitando: 
À assembleia Geral que, ao analisar o relatório da Conferência por ocasião da sua 
quadragésima oitava sessão, comece por considerar, com caráter prioritário, a questão 
da criação de um Alto Comissariado para os Direitos Humanos para a promoção e 
proteção de todos os Direitos Humanos (ONU, 1993, p. 12).
O documento também reafirma a questão dos trabalhadores imigrantes, e não podemos 
esquecer, nesse sentido, que o Brasil, como um país que recebe muitos imigrantes, tem ou 
deve ter um cuidado especial em relação a essas pessoas. 
Assim, o que se vê é que a partir da Declaração de 1948 surgem outros documentos, não 
só por parte da Organização das Nações Unidas, mas de países que afirmam a necessidade 
de se implantar uma política que atenda às pessoas em suas necessidades fundamentais e 
em direitos básicos. 
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3 As lutas por reconhecimento como reivindicação de 
direitos
A tarefa de efetivar os direitos humanos é difícil, não se dá de forma universal e, às vezes, 
até mesmo a implantação em locais menores é difícil de ser realizada. A busca para que os 
direitos humanos ocorram exige cada vez mais das pessoas o entendimento do que vem a ser 
um efetivo direito.
Por exemplo: Por que não se reconhece o Estado palestino no mesmo sentido que 
se reconheceu oEstado de Israel? Argumentos não nos faltam para justificar que esse 
Estado exista e o mesmo para que não exista. Mas, se é um direito das pessoas terem 
reconhecidas sua origem, sua nacionalidade, seu solo, por que tanta dificuldade?
Em pleno século 21, ainda ouvimos falar de escravidão no Brasil:
De acordo com o relatório da OIT de 2001, o trabalho forçado no mundo tem duas 
características em comum: o uso da coação e a negação da liberdade. No Brasil, o 
trabalho escravo resulta da soma do trabalho degradante com a privação de liberdade. 
Além de o trabalhador ficar atrelado a uma dívida, tem seus documentos retidos e, 
nas áreas rurais, normalmente fica em local geograficamente isolado. Nota-se que 
o conceito de trabalho escravo é universal e todo mundo sabe o que é escravidão 
(CAMARGO, 2016).
O período atual deveria ser um momento de realização, de encontro entre pessoas para 
que todos possam dispor dos bens produzidos e, com isso, alcançarem benefícios comuns 
e o respeito a lugares, pessoas, crenças etc. Tudo isso para que tenham um motivo para 
estarem juntas e viverem juntas por opção e não por obrigação (medo ou prisão). Assim 
posto, devemos reconhecer que, apesar de mais de seis décadas da Declaração dos Direitos 
Humanos, em muitos lugares do mundo, se não em todos, percebe-se o desrespeito a algum 
dos direitos humanos.
Segundo Daero (2013): 
Segundo o estudo Human Right Risk Atlas de 2014, da Maplecroft, o número 
de países que apresentam ‘risco extremo’ aos direitos humanos cresceu 70% 
nos últimos seis anos. Houve um salto de 20 países em 2008 para 34 agora. [...] 
China, Índia, Rússia e México aparecem com países ‘de extremo risco’. O Brasil aparece 
como ‘de alto risco’.
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O governo brasileiro também apresenta uma posição oficial sobre o tema:
O poder público, nas suas três esferas, tem por obrigação assegurar, prevenir, proteger, 
reparar e promover políticas públicas que busquem sempre a afirmação dos Direitos 
Humanos para toda Sociedade. O Estado, verdadeiramente democrático, pressupõe a 
prevalência de ações e iniciativas coercitivas a todas as modalidades de preconceito, 
discriminação, intolerância ou violência motivada por aspectos de origem, raça, sexo, 
cor, idade, crença religiosa, condição social ou orientação sexual (BRASIL, 2007, p. 4 
apud BRASIL, 2012, p. 7).
No site da Secretaria Especial de Direitos Humanos, cujo endereço está disponível na 
Midiateca, podemos verificar uma série de dados, com relatório de diversos anos e ações 
sobre o assunto. Esses dados são apresentados por temas: crianças e adolescentes, pessoa 
com deficiência, pessoa idosa, LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e 
Transgêneros), adoção e sequestro internacional, mortos e desaparecidos políticos, combate 
às violações, combate ao trabalho escravo e direitos para todos.
Há no Balanço Semestral do Disque Direitos Humanos, implantado pelo Governo Federal, 
dados recebidos pelo Disque 100, que devem nos preocupar:
No primeiro semestre de 2015 foram registradas 66.518 denúncias, 63,2% são 
relacionadas a violações de direitos humanos de crianças e adolescentes (42.114); 
24,2% de pessoas idosas (16.014); 7,3% de pessoas com deficiência (4.863); 0,8% de 
denúncias de violações cometidas contra a população LGBT (532); 0,5% de população 
em situação de rua (334); 2,6% de pessoas em restrição de liberdade (1.745); e 1,4% 
de denúncias de outras populações, tais como: quilombolas, indígenas, ciganos, 
violência contra comunicadores, conflitos agrários e fundiários, fundiários urbanos, 
intolerância religiosa, entre outros (916) (BRASIL, 2015, p. 11).
Nesse relatório, há o registro de toda vez que alguém faz alguma denúncia. Mas, e quanto 
ao que não é denunciado? As pessoas não realizam a denúncia por diferentes motivos, às 
vezes não sabem o que fazer ou não têm os meios de chegar até os canais adequados, há 
também aquelas que são desrespeitadas por seus próprios familiares (idosos, crianças e 
mulheres) e não têm condições de solicitar ajuda.
Por que mesmo depois de tanto tempo da Declaração Universal dos Direitos Humanos 
isso ainda ocorre? Não há como apontar somente uma causa específica, podemos apontar 
algumas, como: a desigualdade originada pelas classes sociais, as ideologias políticas dos 
Estados, a economia capitalista, grandes conglomerados que hegemonizam o poder econômico, 
político e ideológico, o uso do Estado para garantia de privilégios em vez da garantia de todos, entre 
outros.
Devemos ter claro que determinados problemas humanos não podem ser resolvidos 
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com a ciência, com pesquisas. Problemas científicos são próprios de nosso ser enquanto 
homens e mulheres, e podem e devem ser resolvidos pela ciência. Mas ninguém consegue 
resolver um problema de nossa humanidade como se resolve um problema de matemática. 
As situações humanas são fundamentais para nossa vida, para a democracia, a sociedade e a 
defesa de nossa humanidade.
Nesse sentido, é fundamental termos uma formação filosófica, ética, antropológica, 
isto é, de conhecimentos acerca da humanidade, pois essas ciências buscam resolver ou nos 
aproximar de verdades complexas e de difícil solução. Para Singer (2015, p. 191): 
Sabe-se que as sociedades capitalistas contemporâneas se dividem em duas classes 
sociais: a primeira é a classe proprietária ou capitalista, composta por pessoas com 
posses econômicas suficientes para assegurar a satisfação de suas necessidades e 
das de seus dependentes, sem que tenham necessidade de exercer alguma atividade 
remunerada. A outra classe social é a trabalhadora, composta pelos demais, que por 
não terem tais posses subsistem com os ganhos do exercício de atividade remunerada. 
A ótica de Singer, que não nos cabe julgar se é certa ou errada, é uma maneira de ver os 
fatos, por meio de uma visão social em que também se uniformizam os grupos sociais: para 
o autor, as pessoas ou são capitalistas ou são trabalhadores. Qual o problema que se pode 
constatar aqui? Parece que as classes capitalistas não são trabalhadoras e que o conceito de 
trabalhador é o de assalariado. 
Trabalho deve ser entendido por nós como toda a ação que modifica alguma situação 
e que gera determinado resultado. Nesse sentido, vamos considerar trabalho como tudo 
o que se faz dentro da sociedade. Por isso, poderíamos pensar em duas classes dentro da 
sociedade, se assim desejarmos pensar, mas não como Singer faz. A classe capitalista pode 
ser encarada como a investidora, que, pelo seu investimento, busca obter ganhos, os quais, 
em sua maioria, têm intuito de obter estabilidade econômica. Em geral, os assalariados não 
conseguem, na maioria das situações, obter essa estabilidade e possibilidade de sustentação 
afirmada por Singer (2015).
O que deseja a Declaração Universal dos Direitos Humanos é proteger as classes mais 
desfavorecidas para que tenham, assim como as demais, a possibilidade de se desenvolver 
com plenitude e ter uma vida com dignidade, que não envolva somente uma questão 
econômica, mas também liberdade, educação, moradia, proteção no desemprego, saúde etc.
4 Direitos humanos no Brasil
Em seu livro, “Direitos humanos no Brasil”, Marco Mondaini (2009) apresenta um 
transcorrer histórico entre o Brasil Colônia e o atual para entender o caminho que percorremos 
até chegar no país onde vivemos hoje. Cada capítulo do livro traz um momento forte de nossa 
história, que o autor divide por etapas. 
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• A primeira, que vai de 1930 a 1964, proclamaos direitos humanos na República Nova: 
enfocando especialmente os direitos sociais entre a ditadura e a democracia. Veja 
que a primeira etapa tem início em um período em que ainda não existia a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, criada somente em 1948.
• A segunda parte envolve o período da ditadura no Brasil e a luta pelos direitos civis e 
políticos entre os anos de 1964 a 1985, quando reiniciamos um período democrático 
na história do Brasil. 
• E, por fim, o período mais contemporâneo, dos anos de 1985 a 2002, denominado 
Nova República, com a universalização dos direitos e a conquista da democracia. 
Trata-se de um período em que novos direitos são garantidos à população brasileira, 
por meio da nova Constituição de 1988, um marco na história da democratização 
brasileira.
Para quem deseja passar pela história da democratização no Brasil, este livro tem uma 
fonte riquíssima de dados, traz textos, discursos e canções que marcaram essa época de nossa 
vida social e política.
MONDAINI, Marco. Direitos humanos no Brasil. São Paulo: Contexto, 2009.
Por fim, vale citar a Constituição Federal brasileira em seu artigo 3º:
Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e 
regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e 
quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1988).
O que está contido nesse artigo é o que vem se reafirmando na Declaração Universal dos 
Direitos Humanos. O Brasil, como membro da ONU e signatário da Declaração, deve fazer 
constar em sua legislação os mesmos princípios do documento de 1948. Os estudos jurídicos 
e a Declaração Universal dos Direitos Humanos caminham lado a lado, uma vez que a última 
é fonte inspiradora para as boas relações sociais.
Assim posto, cabe darmo-nos conta que se deve buscar a unidade do Brasil, em que ser 
cidadão não é apenas termos uma constituição, uma declaração escrita, mas que os direitos 
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assegurados por ela sejam reconhecidos e cumpridos. 
Cabe a cada um e a todos buscar uma transformação da realidade, por meio da participação 
nos diferentes âmbitos sociais, seja na família, na escola, no trabalho, na política. Para isso, 
precisa-se sem dúvida de um amadurecimento da população, pois, como diz Mondaini (2009), 
ainda vivemos em uma democracia recente. Democracia não se aprende somente na teoria, 
mas especialmente por meio da vivência prática.
Referências 
BRASIL. Balanço Semestral do Disque Direitos Humanos. Secretaria Nacional de Direitos 
Humanos, 2015. Disponível em: <http://www.sdh.gov.br/assuntos/bibliotecavirtual/
balancodisque100>. Acesso em: 15 nov. 2015. 
______. Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial da União, Brasília, 
DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/
ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 16 jan. 2016.
______. Relatório sobre violência homofóbica no Brasil: ano de 2011. Brasília, DF: Secretaria 
de Direitos Humanos, 2012.
CAMARGO, Orson. Trabalho escravo na atualidade. Brasil Escola. Disponível em: <http://www.
brasilescola.com/sociologia/escravidao-nos-dias-de-hoje.htm>. Acesso em: 6 set. 2015.
DAERO, Guilherme. Os 10 piores países para os direitos humanos. Exame.com. 8 dez. 2013. 
Disponível em: <http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/os-10-piores-paises-para-os-
direitos-humanos>. Acesso em: 6 jul. 2015.
MONDAINI, Marco. Direitos Humanos no Brasil. São Paulo: Contexto, 2009.
ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.dudh.org.br/
wp-content/uploads/2014/12/dudh.pdf>. Acesso em: 16 jan. 2016.
______. Declaração e Programa de Ação de Viena – Conferência Mundial sobre Direitos 
Humanos. Disponível em: < http://www.cedin.com.br/wp-content/uploads/2014/05/
Declara%C3%A7%C3%A3o-e-Programa-de-A%C3%A7%C3%A3o-de-Viena-Confer%C3%AAncia-
Mundial-sobre-DH.pdf >. Acesso em: 15 nov. 2015.
SINGER, Paul. A cidadania para todos. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (Orgs.). História 
da cidadania. São Paulo: Contexto, 2015.
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Aula 04
Ética e moral na cultura brasileira
Objetivos Específicos
• Relacionar ética e moral nas questões étnico-raciais, sociais e culturais.
Temas
Introdução
1 Cultura e formas de compreender a realidade
2 Moral e ética na cultura brasileira
3 As tensões étnico-raciais no Brasil
4 Discriminação social e cultural: questões migratórias
Considerações finais
Referências
José Antônio Fracalossi Meister 
Professor Autor
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2
Introdução
Pensar a realidade de um país como o Brasil envolve muitos aspectos e, por isso, é sempre 
difícil analisá-lo culturalmente. Porém, existem características comuns que nos identificam 
como brasileiros e demonstram a nossa unidade enquanto nação1 e país.
O que nos identifica como brasileiros? O que nos torna uma nação? 
Existe uma realidade brasileira que denominamos de formal, que é estabelecida pela 
classe dominante, pelas leis, normas e por quem mantém uma determinada ordem na 
sociedade. No entanto, existe também uma realidade informal, que é vivida e que, muitas 
vezes, se contradiz, colidindo entre o que se diz e o que realmente se faz. 
Esse é o nosso grande objetivo nesta aula: compreender o que realmente ocorre no 
Brasil no âmbito formal e que nos faz ser um país diferente em nossa vivência. Por isso, 
abordaremos três grandes aspectos: a moral, a ética e a cultura brasileira. 
Além disso, compreenderemos as tensões étnico-raciais, que envolvem as matrizes 
culturais formadoras do Brasil (culturas africana e indígena) e as questões migratórias que, 
consequentemente, alimentam a discriminação sociocultural.
Segundo Roberto DaMatta (1993, p. 12): “O Brasil com B maiúsculo é algo muito 
mais complexo. É o país, cultura, local geográfico, fronteira e território reconhecidos 
internacionalmente, e também a casa, pedaço de chão calçado com o calor de nossos corpos, 
lar, memória e consciência de um lugar com o qual se tem uma ligação especial, única, 
totalmente sagrada”.
É esse Brasil que desejamos descortinar em nossos estudos. A dificuldade é conseguirmos 
realmente perceber tudo o que envolve essa realidade, pois, como sabemos, tudo o que 
envolve cultura, envolve múltiplas interpretações.
1 Cultura e formas de compreender a realidade
A história que normalmente estamos acostumados a conhecer parte de uma determinada 
ótica, geralmente a ótica dos vencedores, mesmo porque os perdedores ou morreram, foram 
silenciados ou, muitas vezes, não têm a devida atenção ou voz. O que ocorre no Brasil e em 
muitos países do mundo é que a forma predominante de se fazer entender a realidade passa 
a ser divulgada como única e verdadeira. 
1 Devemos ter cuidado para não confundirmos país com nação. País envolve território, culturas, forma de governo etc. Já a nação envolve 
a população, o povo que constitui esse país. Assim, nação será um grupo de pessoas que fala o mesmo idioma (ou ao menos o idioma 
reconhecido como sendo pátrio), que tem os mesmos costumes, embora podendo diferenciar-se em algumas particularidades de região para 
região, mas que se possa afirmar como sendo um povo. População constitui o conjunto de pessoas que vivem nesse país de modo permanente.
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Vamos para um exemplo bem prático. Todos nós estudamos geografia, sejano ensino 
médio, seja no ensino fundamental, e estamos acostumados a visualizar os mapas do mundo 
colocando Europa, Canadá, Estados Unidos, Rússia na parte de cima do mapa. A questão é: 
por que o mapa deve ser desse modo? Não se poderia fazer o inverso, com a América do Sul, 
a África e a Ásia na parte de cima? 
Poderia se dizer: “estão loucos”! Mas não, o que devemos nos dar conta é que a forma 
como sempre vimos o mapa foi a forma desenhada pela Europa dominante, colocando-se 
na parte superior. Ou seja, tudo depende da maneira de se enxergar e interpretar o mundo.
Figura 1 – Formas de entender a realidade
Colocamos desta forma para que possamos, já de início, perceber que a ordem existente 
em nossa sociedade não precisa continuar do modo que é. Ela pode ser mudada e invertida, 
pois quem escreve e faz a história é um determinado grupo, geralmente dominante. E se 
a história fosse escrita pelos perdedores ou pelos desfavorecidos? Talvez, teríamos uma 
maneira diferente de entender muito mais as realidades as quais estamos acostumados a 
presenciar e aceitar. De acordo com Boff (1992, p. 9): 
Estamos habituados a ouvir a versão da conquista da América Latina da perspectiva 
do poder dominante. Falam os vencedores. Eles têm seus Camões que cantam suas 
aventuras. Têm seus artistas que consignam em pinturas o seu protagonismo, seus 
escultores que eternizam seus gestos triunfais.
Esse modo de pensar gera uma série de dilemas, pois, a partir dele, constatamos que 
muito da realidade vivida por nós pode ser alterada. Os dilemas nos incitam a pensar na ética, 
pois ela surge no contexto social para auxiliar na resolução dos conflitos que o convívio, o 
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entendimento e os valores que são propostos como corretos em uma sociedade passam a 
ditar o modo de vida das pessoas. 
Quando nos defrontamos com a ética, temos certeza que é por causa de determinados 
dilemas. A partir deles, iniciamos uma busca entre situações que não sabemos ao certo o 
que são e o que devem ser, e o que desejamos buscar. Os dilemas surgem porque não temos 
certeza de nosso curso de ação e isso nos desestabiliza, nos levando a buscar soluções. Muitas 
incógnitas surgem porque nem sempre sabemos como resolver os problemas surgidos em 
nosso convívio diário.
Diante de um dilema moral, a definição corrente de moralidade como escolha entre 
o bem e o mal (maniqueísmo) conduz muitos a uma conclusão precipitada. “se 
estou fazendo a coisa certa, isso significa que quem se opõe a mim está fazendo a 
coisa errada...”. Ora, as duas coisas podem estar certas! Isso põe em xeque a visão 
convencional.
Optar entre o bem e o mal, segundo o odo maniqueísta da tolerância zero ou segundo 
o modo situacional da análise de riscos, exige grande lucidez. [...];
Temos diante de nós escolhas que não são fáceis, sobretudo porque não existem 
respostas padronizadas. A maior parte dos códigos de conduta moral, aliás, segue 
a cartilha de contrastar o certo e o errado, o aceitável e o inaceitável, as virtudes e 
os vícios. Ora, as escolhas entre o bem e o bem são igualmente prementes e exigem 
maturidade e discernimento. (SOUR, 2014, p.120).
Do resultado da construção de uma sociedade, surge o que chamamos de cultura, que é 
tudo o que envolve a ação das pessoas dentro de um determinado lugar e tempo. A música, 
o jeito de se vestir, o que se come, o que se fala, como se fala. Tudo o que as pessoas fazem 
dentro de uma realidade. Por isso, cultura é sempre um conceito muito concreto, pois é a 
vida materializada.
E, como brasileiros, temos uma cultura que não é uniforme ou igual para todos, 
mas, como uma nação e um país, temos traços culturais característicos, oriundos das 
pessoas que constituem nosso país, nosso modo de ser e que nos dá o direito de dizer que 
somos brasileiros.
2 Moral e ética na cultura brasileira
A partir do entendimento de cultura e sobre as possibilidades de se entender e escrever 
as realidades por nós vivenciadas, não se pode deixar relacionar tais conceitos à moral. 
Cultura e moral são formas vividas pelas pessoas para dentro de uma determinada realidade 
e lugar. Por que então termos dois conceitos? A diferença está na função ou no modo como 
cada termo é usado e se insere na realidade, isto é, a funcionalidade de cada um dentro do 
que uma sociedade precisa para se estruturar como tal. 
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Vamos entender moral como ações que realizamos e são avaliadas a partir do modo 
como o Brasil se constrói. DaMatta (1993) nos chama a atenção para muitos aspectos da 
realidade socialmente construída em nosso contexto. Por exemplo, a relação entre a lei que 
pretende ser universal e não pode pactuar com privilégios, mas que, ao mesmo tempo, no 
Brasil, se transporta para o “não pode”, isto é, ela é “[…] formal, capaz de tirar todos os 
prazeres e desmanchar todos os projetos e iniciativas. […] E vai além, devido a esse contexto 
é que surge o ‘jeitinho’” (DAMATTA, 1993, p. 98), como o modo pelo qual tentamos nos 
arranjar dentro dessa forma de constituir-se socialmente. 
Assim, o jeitinho vem a ser uma forma de resolver os problemas de modo pacífico diante 
da realidade que se apresenta como “não pode”, e a realidade da pessoa que quer agir. 
E, nesse momento, aparece a malandragem, prática de muitos para resolver problemas ou 
situações que se apresentam: “[...] antes de ser um acidente ou mero aspecto da vida social 
brasileira, coisa sem consequência, a malandragem é um modo possível de ser. Algo muito 
sério, contendo suas regras, espaços e paradoxos” (DAMATTA, 1993, p. 105).
O que nos cabe perguntar é: esse modo de agir deve ser a regra ou deveríamos 
adotar outros modos? Dentro dos arranjos pelos quais a sociedade passa o jeitinho 
foi uma forma de agir (não se sabe se a melhor), e um modo de ajeitar-se dentro 
do contexto.
Figura 2 – Brasil de multiculturas 
Muito já se ouviu falar que o Brasil é o país do futebol e do carnaval. Isso não deixa 
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de ser verdade, mas, ao mesmo tempo, não se pode reduzir o país e sua cultura a apenas 
esses dois aspectos. Porém, somos também um povo trabalhador que construiu uma 
nação multicultural.
Na realidade atual, os padrões sociais são estabelecidos pelas forças da mídia, da 
religião, de quem detém o poder, seja na escola, seja na família. Eles podem ser propostos 
pacificamente e assimilados pelas pessoas, ou por meio de coação e violência, com a 
imposição de um grupo sobre outro(s). Por exemplo: patrões sobre empregados, chefes do 
tráfico de drogas sobre a população de uma região e assim por diante. No entanto, também 
podem ser apresentados de forma mais discreta e passar a ser visto como correto. É diante 
disso que devemos estar sempre atentos, para não servirmos de “massa de manobra” para 
os mais diferentes interesses a partir de imposições – as quais podem passar como normais, 
quando, na verdade, são manipulações. 
Mesmo em tempos iguais, mas em contextos variados, podemos perceber que a cultura 
e a própria ética podem ser diferentes. Ser cidadão no Brasil é diferente de ser cidadão 
na Turquia, no Egito, no Afeganistão. Da mesma forma, a cultura desses lugares também 
é muito diferente. Comparando esses países com os Estados Unidos, França, Itália ou 
Inglaterra, temos contextos culturais e éticos diferentes, embora em alguns aspectos possam 
se assemelhar, considerando que a globalização também provoca uniformidades, como na 
música (artistas famosos internacionalmente, como Madonna, Rihanna, The Rolling Stones 
etc.), nas vestimentas(uso de jeans e marcas conhecidas mundialmente como Adidas, Nike 
etc.), nos hábitos alimentares (redes de fastfood, como o McDonald’s estão presentes em 
diferentes lugares do globo). 
A cultura difere de lugar para lugar, embora alguns conceitos sejam universais e 
tenham validade para todos os povos e as pessoas, as diferenças consistem na forma 
como os princípios culturais são vividos e executados.
O desafio da vivência moral e cultural é realmente o seu exercício, isto é, que as pessoas 
consigam praticar e exigir que as autoridades responsáveis, em todos os seus âmbitos, o 
façam também, seja nas empresas, nas famílias, nas ruas, nos municípios, no seu estado e 
no país. A partir dessa compreensão, percebemos que ainda há muito a se fazer no Brasil, 
embora já tenhamos evoluído bastante.
2.1 Culturas indígena e africana no Brasil
O objetivo desta aula é chamar a atenção para a vivência cultural e moral na sociedade 
brasileira, em especial, no que tange grupos culturais específicos, como os indígenas e 
os afrodescendentes. São percebidos alguns avanços no trato com culturas diferentes na 
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realidade brasileira, mas ainda há muito a se fazer, pois os conflitos de interesses que envolvem 
reconhecimento e respeito às diferenças ainda são um grande desafio a ser trilhado pelas 
pessoas em nosso contexto cultural. 
No tocante aos povos indígenas, ainda temos sérios problemas quanto às disputas por 
terras, pois seu modo de vida é contrastante com o modo de vida capitalista, que usa a posse 
e exploração da terra ao máximo.
O desrespeito com os indígenas se agravou no decorrer do tempo. Primeiro, foram 
considerados como não humanos, pois viviam conforme a natureza. O que trouxe a discussão 
sobre poderem ser considerados donos ou não das terras que habitavam, pois, segundo 
Kaufmann (2013, p. 23):
[...] se caso, o fossem, ninguém teria o direito de subtraí-la. Uma discussão bastante 
citada a esse propósito e a que versa sobre o conceito de dominium em Domingo 
Soto (1494-1560). Sob a influência de Jean Gerson, ele define a propriedade da 
seguinte forma:
A propriedade (dominium), por isto, é uma faculdade (facultas) própria a qualquer 
um, expressando o direito (ius) que uma pessoa tem de poder utilizar-se (usurpare) de 
uma coisa qualquer para sua própria comodidade e para qualquer finalidade por meio 
da lei (quocumqueusu lege permesso).
Embora o contexto que se expressa seja de domínio, torna-se importante perceber que 
há uma distinção entre os fatos, pois a propriedade é uma “faculdade de dispor da coisa”. Se 
no caso os índios dispõem da terra, nos parece lógico e certo que seriam eles os donos dessas 
terras, mas, para a concepção europeia dominadora da época da colonização brasileira, essa 
não era a compreensão, especialmente no período da expansão comercial e econômica do 
mundo a partir do século XIV.
Quanto aos africanos, a situação é diferente, pois chegam a nossas terras na condição de 
escravos para exploração da sua mão de obra. Isso causou um impacto muito grande em seu 
modo de viver e de como eram vistos na época em que aqui chegaram, o que tem reflexo até 
hoje no modo como a sociedade encara seus descendentes. 
Assim, foram classificados como sem direitos e, hoje, quando se busca o restabelecimento 
de direitos para esse grupo étnico, o preconceito surge de forma até raivosa. Não é sem razão 
que no Brasil surgiu a necessidade de se aprovar o Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 
12.288 de 20/07/2010), para que se conseguisse estancar o modo preconceituoso como são 
vistos. E assim expressa a lei em seu primeiro artigo: “Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade 
Racial, destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a 
defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às 
demais formas de intolerância étnica” (BRASIL, 2010).
Embora a lei tenha surgido para chamar a atenção de uma realidade vivida, devemos 
compreender que a aplicação de uma lei nesses teores ocorre porque se percebe socialmente 
a existência de desrespeito em relação ao trato e às relações entre as pessoas de etnias 
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diferentes, em especial indígena e negra. É importante compreender que chamar alguém ou 
reconhecer alguém como negro não é discriminação, mas adjetivar as pessoas que assim o 
são declaradas de forma discriminatória passa a ser crime.
3 As tensões étnico-raciais no Brasil
A reflexão sobre ética e cultura é fundamental para uma sociedade que busca encontrar 
sua identidade, pois são dois aspectos da vivência em sociedade que caracterizam os modos 
de ser de uma nação ou de um povo. Os dois conceitos são históricos, ou seja, eles dependem 
do lugar e do tempo em que forem utilizados. Por exemplo, pertencer a uma cultura na Roma 
Antiga é diferente de ser cidadão no Brasil de hoje, o mesmo vale em relação à ética.
A realidade do mundo hoje é outra, por um lado temos problemas globais – 
como a situação dos refugiados africanos, sírios etc. –, e, por outro, temos problemas 
localizados, como a pobreza, a qual, no Brasil, é também ligada a questão racial (a maioria 
da população pobre ou carente é negra). Exige-se cada vez mais que as realidades locais 
sejam respeitadas, mas também que os problemas universais ou globais sejam tratados 
com o devido cuidado por todos.
Segundo Boff (2006), é necessário aprender a conviver novamente. Antigamente, os 
povos viviam recolhidos em sua comunidade e, nos dias de hoje, todos vivem uma relação 
de interdependência. Viver pacificamente depende do acolhimento e respeito às diferenças. 
DaMatta (1993, p. 39) nos fala sobre as diversas realidades que encontramos no Brasil. 
Segundo ele, vivemos uma ilusão a respeito das relações raciais: “A palavra ‘mulato’, que vem 
de mulo, o animal ambíguo e híbrido por excelência; aquele que é incapaz de reproduzir-se 
enquanto tal, pois é o resultado de um cruzamento entre tipos genéticos altamente deferentes”.
Percebamos que até mesmo na palavra usada já se tem um grau de preconceito e que 
isso continua a ser reproduzido em muitas das classificações. Hoje, a palavra pardo tem 
substituído o termo mulato, mas essa expressão, ainda não entendida e refletida, passa a ser 
usada por muitos como sendo sinal de aceitação incondicional. 
De acordo com Gomes (2015, p. 420), “com a chegada dos portugueses e demais 
europeus às costas do Brasil, os povos autóctones americanos somavam uns cinco milhões 
de indivíduos, divididos em uns seiscentos povos com culturas e falantes de línguas próprias”. 
A citação de Gomes nos chama a atenção para fatos importantes da realidade brasileira. 
Aqui, os índios estavam localizados antes de qualquer um, com sua cultura e modo de vida 
próprios. A chegada de outros povos fez com que praticamente fossem dizimados. 
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O primeiro e grande conflito que se prolonga até hoje é a luta pela terra. Povos são 
deslocados (exemplo do Xingu, onde grupos de índios deslocados para um determinado lugar 
para terem ali a possibilidade de viverem conforme seu modo cultural de ser2), e ameaçados, 
como os ianomâmis em Roraima. 
Cerca de 35 mil ianomâmis vivem hoje na floresta Amazônica, entre o Brasil e a Venezuela. 
No Brasil, são 19.338 (dados do DSEI Yanomami – Sesai, 2011) que habitam os estados 
de Roraima e Amazonas. Em 1992, o governo brasileiro demarcou uma área para esses 
indígenas, a Reserva Ianomâmi, com 96.650 km2 (BRITANNICA ESCOLA, 2016).
Exemplos não nos faltam quando nos referirmosa conflitos entre os povos indígenas e os 
ocupantes próximos de suas terras. Felizmente, aos poucos, o Governo Federal vai delimitando 
essas terras, mas isso também não tem sido suficiente para que a sua exploração não ocorra. Em 
muitos lugares onde esses povos habitam se descobrem riquezas minerais, árvores centenárias e 
isso tudo tem despertado a ganância de exploradores que subvertem muitas vezes as lideranças 
desses povos para explorar suas áreas de modo desordenado e irregular.
Se não bastasse a realidade dos indígenas dentro da cultura brasileira, temos outros 
tantos problemas que nos são próprios. Vamos pensar, agora, na realidade dos grupos 
afrodescendentes, herdeiros, em sua maioria, dos que foram forçados a vir para o Brasil 
como escravos e que aqui chegando tiveram que assimilar outra cultura. A imposição dos 
dominadores escravocratas os descaracterizou e até hoje seus descendentes ainda sofrem 
preconceito por conta da cor de sua pele. 
A chegada dos escravos na América provocou profundas mudanças e transformações 
nos continentes africano, americano e europeu. De acordo com Gomes (2015, p. 447), “As 
colonizações nas Américas produziram encontros desiguais, fundamentalmente experiências 
históricas, envolvendo trocas culturais, dominação, conflitos, protestos e confrontos que 
uniram, inventando, Europas, Américas e Áfricas”. 
Figura 3 – A crueldade da escravidão
2 O parque Indígena do Xingu (PIX), criado em 1961 pelo Governo Federal, está localizado no Estado do Mato Grosso e é composto por 
2.642.003 hectares de terra. É composto por vários povos indígenas, cada um com sua cultura e língua própria. Para que não houvesse tanta 
discrepância entre os grupos, estes foram reunidos por cultura semelhante em três grandes regiões da área.
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A realidade dos africanos que aqui chegaram é diferente da realidade dos indígenas que 
viviam nas terras brasileiras. Os indígenas conheciam o terreno, tinham a possibilidade de “fugir” 
e um tipo de cultura que não os levava a trabalhar no modelo europeu para conseguir seu 
sustento. Já os africanos nada conheciam, tinham línguas e costumes diferentes e, assim como 
os indígenas, tinham que, em primeiro lugar, aceitar a cultura europeia e a religião católica.
A imposição cultural sobre os africanos fez com que eles tivessem de buscar modos 
diferentes ou disfarçados de viverem sua cultura. Um exemplo claro é a religião: os santos 
cultuados pelos europeus receberam nomes africanos, conforme suas características. 
No Brasil, receberam o nome de religiões afro-brasileiras, pois a forma como são 
cultuadas aqui não é encontrada na África. Destacam-se dentre elas: a Umbanda e o 
Candomblé, as quais têm estruturas específicas e particulares.
Como a liberdade faz parte da natureza humana, os escravos também buscavam 
constantemente organizar-se para fugir ou para comprar sua liberdade. A escravidão também 
não se deu de modo uniforme: cada região e cada senhor tinham seus próprios modos de agir 
em relação aos seus escravos. A escravidão existia no campo (lavoura) e também nas cidades. 
Da organização em busca da liberdade, surgiram os quilombos ou mocambos.
Dentre as várias e complexas experiências históricas de protesto e agenciamento 
político nas sociedades escravistas destacam-se a formação das comunidades de 
fugitivos. [...] No Brasil, desde o período colonial, tais comunidades de fugitivos 
escravos receberam as denominações de quilombos ou mocambos. [...] A palavra 
quilombo/mocambo para a maioria das línguas bantu da África Central e Centro-
Ocidental quer dizer ‘acampamento’ (GOMES, 2015, p. 449).
A formação desses quilombos era a possibilidade de os africanos viverem de modo 
diferente da vontade dos senhores escravocratas. As próprias leis criadas no Brasil para 
“beneficiar” os escravos nada mais fizeram do que jogá-los ainda mais em uma realidade de 
exploração. São alguns exemplos: 
• Lei nº 3.270 de 28 de setembro de 1885 – Lei dos Sexagenários: visava criar uma 
matrícula aos escravos, que não seria dada às pessoas com mais de 60 anos.
Veja o que afirma em seu artigo terceiro nos seguintes parágrafos:
§10. São libertos os escravos de 60 anos de idade, completos antes e depois da data 
em que entrar em execução esta lei, ficando, porém, obrigados a título de indenização 
pela sua alforria, a prestar serviços a seus ex-senhores pelo espaço de três anos.
§11. Os que forem maiores de 60 e menores de 65 anos, logo que completarem esta 
idade, não serão sujeitos aos aludidos serviços, qualquer que seja o tempo que os 
tenham prestado com relação ao prazo acima declarado (BRASIL, 1885).
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Pensemos: uma pessoa que tenha vivido as condições mais absurdas de exploração, se 
chegar aos 60 anos, terá poucas condições trabalho. Para o seu senhor, essa pessoa se torna 
um peso, pois gera custos – ocupa espaço e se alimenta, por exemplo –, mas não gera lucro. 
Logo, libertar esses escravos significava largá-los à própria sorte para que buscassem uma 
forma alternativa de viver sem gerar custos ao seu senhor. 
• Lei nº 2.040 de 28/09/1871 – Lei do Ventre Livre: uma criança ao nascer e até chegar 
à idade de trabalhar era um custo para seu senhor. Ao libertá-la, esse custo não mais 
existiria. Logo, caberia à “comunidade” dos afrodescendentes providenciar o seu 
cuidado. Ao atingir sua idade para o trabalho era quase certo que ela ocuparia o lugar 
de trabalho de seus pais, servindo de mão de obra barata para o mesmo senhor. 
• Lei Áurea de 13 de maio de 1888 – nesse período, já era pacífico que o trabalho 
assalariado trazia mais vantagem para o mercado do que manter pessoas escravas. 
“Libertar” não era um ato de “bondade”, mas um ato econômico.
A experiência de luta e organização dos trabalhadores no Brasil não está marcada 
tão somente pela formalização jurídica pela Abolição. Com o fim da escravidão 
– como um sistema social amparado por leis – o processo de lutas, e também as 
desigualdades, considerando os trabalhadores, suas etnias e relações de gênero, não 
desapareceram. A caracterização e reprodução das desigualdades ganham outras 
dimensões. O escravo vira negro. Como? Não mais havendo a distinção jurídica ente 
os trabalhadores, a marca étnica – e histórica da população negra é reinventada como 
fato social (GOMES, 2015, p. 462).
A partir do que diz Flávio Gomes (2015), temos então um novo modo de encarar as 
pessoas dentro da sociedade brasileira. Agora, elas passam a ser classificadas por sua “cor”. 
Isso provoca diversos fenômenos sociais, como o branqueamento, que é um exemplo claro, 
expresso especialmente com o alisamento do cabelo para adequação ao que a sociedade 
considera padrão aceito. O bonito não é o cabelo preto encaracolado, mas o liso e loiro. 
Felizmente, hoje, isso está mudando e as pessoas começam a se ver como realmente são e 
não mais como a sociedade deseja que sejam.
Uma questão muito atual é o sistema de cotas nas universidades (Lei nº 12.711 de 
29/08/2012) e em concursos públicos (Lei nº 12.990 de 09/06/2014), além de outras 
leis criadas para aumentar as oportunidades para os índios, pobres e afrodescendentes. 
Esse tema sempre causa divisão de opiniões entre as pessoas.
É importante combater qualquer tipo de discriminação: tanto aquela que se dá 
em razão da cor da pele quanto a gerada pela condição socioeconômica. Temos uma 
dívida social com esses grupos e, portanto, é necessário refletir sobre a busca pela sua 
inserção social.
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4 Discriminação social e cultural: questões migratóriasPara tratarmos desse tema, torna-se importante perceber algumas caminhadas que 
a sociedade brasileira empregou até se defrontar com os problemas da imigração, como 
a discriminação social. A discriminação social não é nova e há muito temos recorrido à 
legislação como uma forma de garantir direitos básicos, em especial de negros e índios. 
Precisamos, porém, ainda andar muito para defendermos os direitos e a liberdade dos 
migrantes. É importante constatar que a discriminação em relação ao migrante entra no 
bojo da discriminação quanto a povos que há muito estão presentes em nossa cultura e a 
influenciaram e influenciam de maneira profunda.
Os migrantes constituem as populações que se locomovem dentro de um território 
próprio por tempo indeterminado. Já os imigrantes vêm de fora do território local. Em geral, 
os dois termos são aceitos, mas, às vezes, denomina-se migrante todo aquele que sai de um 
lugar e vai para outro com a intenção de melhorar sua condição de vida (econômica, social, 
familiar etc.)
A forma como cada país se organiza leva muitas pessoas a buscarem outro lugar 
para viver. Essa é a realidade brasileira em relação aos refugiados, aos migrantes e a 
todos os que procuram nosso país como uma forma de aqui se estabelecer. Muitos vêm 
com o sonho de retornarem, outros vêm para ficar, o certo é que, a partir do momento 
que chegam, todos passam a constituir esse país chamado Brasil.
Desde que os colonizadores europeus chegaram ao continente americano, muito se fez 
em nome de quem deseja dominar, buscando seus interesses, especialmente, os econômicos. 
A invasão significou o maior genocídio da história humana. A destruição foi de ordem 
de 90% da população. Dos 22 milhões de Astecas em 1519, quando Hernán Cortés 
penetrou no México, só restou um milhão em 1600. E os sobreviventes são povos 
crucificados, submetidos a maus-tratos, em condições piores que a dos judeus no 
Egito e na Babilônia e dos cristãos sob os imperadores romanos, como dizem, muitas 
vezes, bispos defensores dos índios (BOFF, 1992, p. 10).
O próprio Ministério da Educação, no questionário do estudante do ENADE 2014, coloca 
entre as alternativas citadas a seguir (utilizando a classificação estabelecida pelo Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE) e justifica a necessidade de os estudantes 
responderem da seguinte forma:
Este questionário constitui um instrumento importante para compor o perfil 
socioeconômico e acadêmico dos participantes do ENADE e uma oportunidade para 
você avaliar diversos aspectos do seu curso e formação.
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Como você se considera? 
A ( ) Branco(a). 
B ( ) Negro(a). 
C ( ) Pardo(a)/mulato(a). 
D ( ) Amarelo(a) (de origem oriental). 
E ( ) Indígena ou de origem indígena (BRASIL, 2014).
O uso de muitas palavras para designar as pessoas leva a amenizar as diferenças entre 
elas. Assim, torna-se difícil estabelecer o que seria exclusão. Por meio do uso de palavras 
amenas, muitas vezes, o que não deveria ser socialmente aceito passa a ser, mesmo quando 
as palavras carregam em si uma forma de exclusão social grave. Parece que esses usos são 
feitos para que não se diga, por exemplo, que uma pessoa é negra, pois o termo é tido como 
pejorativo, quando, na verdade, não deveria ser. 
Pensando desse modo, podemos ainda classificar como o faz DaMatta (1993), que mostra 
que essa conceituação é também reproduzida mesmo pelos órgãos oficiais. Claro que se 
poderia justificar que a expressão é colocada ao lado de parda para que as pessoas entendam 
melhor e que haja uma fidelidade no modo como as pessoas se veem. Mas, aos poucos, esse 
tipo de classificação deveria ser evitado e até mesmo suprimido. 
Recordemos, então, que ética nos remete à convivência. É pelo fato de vivermos e 
convivermos que necessitamos da ética: 
O certo ético é um certo moral, é o ato correto, é o agir bem. Usando a terminologia 
popular, uma ação ética é uma ação do bem, um comportamento legal, não no sentido 
de ação de acordo com o texto da lei, mas com o significado que tem a palavra “legal” 
na fala do brasileiro (LACERDA; PESSOA, 2018, p. 12).
Pensar então em uma vivência ética é pensar que se busca uma vocação eminentemente 
humana, fruto de seu convívio e diversidade. Fazemos parte do mundo, descobrimos com 
isso, a duras penas, às vezes, o certo e o errado e, para que não tenhamos que recuar e 
refazer tudo, a descoberta do que não é bom torna-se uma fonte inspiradora e um convite 
para que tenhamos atitudes com correção, pois determinados erros podem ser fatais. 
Imagine se, ao nascermos, recebêssemos em vez de uma certidão de nascimento, uma 
certidão de cidadania, e que essa certidão fosse a garantia de que nada pudesse ser desviado, 
mudado, alterado sem que todas as pessoas concordassem de que assim pudesse ser e o que 
vale para um valeria para os outros também? Será que, se isso fosse verdade, muitas coisas 
estariam ocorrendo no mundo de hoje? Todos devem recordar daquele ditado: “não faça aos 
outros o que não gostaria que fizessem para você”.
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E, para finalizar, Novaes e Lobo (2008, p. 5) apontam:
Foram necessários dezessete séculos – a contar do nascimento de Cristo – para 
que nossos antepassados deixassem de ser vistos como uma peça de reposição na 
engrenagem dos reinos e impérios e, conquistando sua liberdade – a liberdade é um 
pressuposto do direito individual –, iniciassem uma nova luta para impor limites aos 
poderes ilimitados do Estado.
Considerações finais
Perceber o modo como as relações sociais foram se constituindo no Brasil nos ajuda a 
entender os modos como as pessoas passam a se relacionar e a se entender atualmente. Nesta 
aula, tentamos buscar a compreensão para abrir mão de entendimentos preconceituosos e 
partir para ações concretas. Não se pode mais admitir na sociedade brasileira, estabelecida 
de modo multicultural, modos de ação em que alguns se sobreponham aos outros.
Somos uma nação constituída por vários povos. Não há uma única região em nosso país 
onde se possa dizer que há somente um fenótipo racial ou cultural. Vemos em especial os 
afrodescendentes e os indígenas, mas se poderia muito bem ver outros povos que para cá 
vieram e constituíram a nação brasileira, como os alemães, italianos, japoneses, árabes, judeus 
e assim por diante. Pode-se praticamente dizer que temos em nosso país os mais diferentes 
grupos de pessoas que para cá vieram e se estabeleceram. Todos os que aqui chegaram foram 
sempre bem recebidos; por que, então, há exclusão e preconceito contra indígenas e negros, 
especialmente? Sem dúvida, a pátria tem uma dívida social com esses dois grupos.
São urgentes e necessárias a consciência e a ação. Muito se tem feito no Brasil nos últimos 
anos no sentido de se resgatar os menos favorecidos socialmente, porém, com certeza, muito 
se tem ainda para fazer. O desafio está não só nas mãos das autoridades, mas também nas 
mãos de cada um de nós, em nosso modo de nos relacionarmos e de nos entendermos com 
cada pessoa e com cada povo aqui estabelecido.
O certo é que todos nós formamos um só país que deve ser entendido de modo 
multicultural e, por isso, temos como nação uma característica diferente da maioria dos 
países que foram se formando no mundo, tanto no presente como no passado.
Referências
BOFF, Leonardo. América Latina: da conquista à nova evangelização. São Paulo: Ática, 1992.
______. Virtudes para um mundo possível. v. II. Petrópolis: Vozes 2006.
BRASIL. Lei n. 3270 de 28 de setembro de 1885. Regula a extincção gradual do elemento servil. 
Disponível em: <http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=66550>.Acesso em: 17 out. 2015.
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15
______. Questionário do Estudante. INEP, 2014. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/
enade/questionario-do-estudante>. Acesso em: 17 out. 2015.
BRITANNICA ESCOLA. Ianomâmi. Britannica Escola. Disponível em: 
<http://escola.britannica.com.br/article/483290/ianomami>. Acesso em: 
16 out. 2015.
DAMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1993.
GOMES, Flávio dos Santos. Sonhando com a terra, construindo a cidadania. IN: PINSKY, Jaime. 
História da Cidadania. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2015.
GOMES, Mércio Pereira. O caminho brasileiro para a cidadania indígena. IN: PINSKY, Jaime. 
História da Cidadania. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2015.
KAUFMANN, Matthias. Em defesa dos direitos humanos: considerações históricas e de 
princípios. São Leopoldo: Unisinos, 2013.
LACERDA, Gabriela; PESSOA, M. Agir bem é bom: ética ontem, hoje e amanhã. São Paulo: 
Editora Senac: São Paulo, 2018.
NOVAES, Carlos Eduardo; LOBO, César. Cidadania para principiantes – história dos direitos do 
homem. São Paulo: Ática, 2008.
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Aula 05
Problemas éticos e morais na atualidade
Objetivos Específicos
• Relacionar ética e moral nas condições socioculturais da atualidade.
Temas
Introdução
1 Desafios éticos atuais
2 Sociodiversidade e universalidade
Considerações finais
Referências
José Antônio Fracalossi Meister 
Professor Autor
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2
Introdução
Existem muitos aspectos em nossa sociedade sobre os quais devemos refletir, talvez 
até mais do que em qualquer outra época da humanidade. São temas que correm o mundo 
rapidamente, circulam pelas redes sociais e estão acessíveis a todos, como o terrorismo, a 
questão dos refugiados, a miséria, a fome, as epidemias de doenças facilmente curáveis, filas 
à espera de um atendimento médico, corrupção, violência contra mulheres, comércio de 
armas etc. 
Essa infinidade de exemplos representa dificuldades e desafios a serem enfrentados 
e, por outro lado, nos leva a uma reflexão profunda sobre a eticidade de atos citados e 
apresentados diariamente pelos meios de comunicação. 
Esta aula tem o objetivo de trazer uma série de reflexões sobre nossa realidade para que 
possamos analisar tais temas sob um enfoque ético. 
1 Desafios éticos atuais
Existem inúmeros desafios éticos na atualidade. Podemos citar, por exemplo, o apego à 
novidade e o desprezo à autoridade da tradição, o declínio do papel da religião como fonte 
universal de valores de conduta, o declínio da esfera pública, os contatos com outras culturas 
intensificados pela globalização, as questões relativas às diferenças, como intolerância, 
relativismo cultural e moral, entre outras. 
Não se pode deixar de lado, também, os avanços da tecnologia e seus impactos nas 
condições de trabalho, nas relações humanas, na medicina etc. De todas essas situações, temos, 
como fator de alta gravidade, a degradação do meio ambiente, fruto do desenvolvimento 
econômico, e assim por diante.
Marcondes (2009, p. 10-11) apresenta uma reflexão sobre a origem de um dos maiores 
desafios éticos atuais, a relatividade de valores:
Talvez o sentimento de crise que vivemos hoje tenha sua origem mais remota, em 
grande parte, na perda de referência a determinados valores e normas que começa a 
ocorrer após o início do período moderno (séc. XVII), com o surgimento de sociedades 
complexas, caracterizadas pela diversidade e pluralidade de crenças, valores, hábitos e 
práticas. Nesse período, o cristianismo, que havia sido desde a Antiguidade a principal 
referência do ponto de vista ético, passa por uma cisão profunda com o advento da 
Reforma (início do séc. XVI) e das várias correntes do protestantismo que resultam 
desse processo. Encontramos a partir daí a defesa da necessidade de uma ética 
filosófica desvinculada da ética religiosa, que supõe a fé e a adesão a uma religião 
determinada. A descoberta da América (1492) contribui também para isso, revelando 
outros povos e sociedades com hábitos, práticas e valores radicalmente diferentes dos 
adotados pelos europeus daquela época. Temos aí provavelmente a primeira grande 
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experiência social de relatividade de valores e normas de conduta, deixando claro 
que o que é válido, ou considerado ético para alguns não o é para outros. Embora os 
filósofos gregos já houvessem discutido a questão da relatividade dos valores éticos, 
é talvez a partir desse momento que a questão se torna mais crucial e mais ampla, 
vindo a ser objeto central da reflexão filosófica.
As mudanças refletidas em nosso contexto não são gestadas dentro de um 
só período. O mundo não se altera rapidamente de um momento para outro, mas 
as mudanças e os desafios organizam-se até que sejam efetivados. Na citação de 
Marcondes (2009) encontramos justamente isso: desde o mundo moderno, com todas 
as suas alterações, temos consequências reverberadas até hoje. Da mesma forma, fatos 
e situações de hoje terão reflexos no futuro.
Pensar uma sociedade é buscar entender um dos fenômenos mais ricos em nosso mundo 
contemporâneo. Populações formam países, pátrias, e estas produzem situações profícuas 
em muitos aspectos. Precisamos fazer despontar o que há de melhor em nós, na aceitação de 
todos, nas riquezas e belezas minerais, entre outros. O Brasil se destaca em muitas coisas (tem 
tecnologias inovadoras e apresenta espetáculos únicos, como o carnaval) e não devemos nos 
desvalorizar e pensar que somos piores que outras pátrias (“o que se vê é corrupto”, somos 
um país excludente, a violência está generalizada etc.).
Muitos dos nossos valores não são divulgados ou sequer percebidos por nós. Os 
povos representam dicotomias e, como não poderia ser diferente, pessoas também são 
dicotômicas, ou seja, têm dificuldades, defeitos e cometem erros, mas ao mesmo tempo 
podem ter sentimentos positivos, ser solidárias, amigas, companheiras etc. Por um lado, há 
aquelas que agem corretamente e, por outro, as que não o fazem, há pessoas responsáveis e 
outras irresponsáveis e assim sucessivamente.
Nossa realidade é rica de elementos conhecidos e por conhecer – é preciso, então, estar 
atento e disponível para descortiná-la.
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4
 
Por sermos um mundo com as mais diversas e inimagináveis realidades, nossos 
desafios éticos e morais atuais não foram pensados em outras épocas. Vive-se um 
momento diferenciado em nosso contexto social, assim como ocorreu em outros 
momentos da história da humanidade. Por exemplo: os desafios do Império Romano 
de expandir-se territorialmente para uma população altamente urbanizada e o fim 
dos impérios antigos; a sociedade medieval e seus dilemas filosóficos, econômicos e 
sociais; o surgimento da moeda, a qual tomou o lugar do escambo; o reordenamento 
das cidades no mundo moderno; os desafios da ciência e da urbanização intensa. 
Todos esses momentos levaram a humanidade a defrontar-se com situações jamais 
imagináveis.
Diante disso, cabe perguntar como encontrar um espaço para o bom convívio social. 
Onde pode-se estruturar o respeito, a responsabilidade e a alteridade de uns em relação 
aos outros?
O que está em causa, fundamentalmente, é a metamorfose da população em povo, 
entendendo-se a população como uma pluralidade de raças e mesclas, e povo como 
uma coletividade de cidadãos. Uns querem circunscrever os membros da população à 
condição de trabalhadores:sem luxúria nem preguiça. Outros querem a transformação 
do negro, mulato, índio, caboclo, imigrante em cidadãos. E há aqueles que procuram 
mostrar as desigualdades sociais, econômicas políticas e culturais que constituem 
e reproduzem as desigualdades raciais. No conjunto, todos estão lidando com as 
condições de constituição e organização da sociedade civil (IANNI apud DIMENSTEIN, 
2008, p. 63).
Se analisarmos historicamente, podemos perceber que os direitos atuais não divergem 
daqueles já expressos nas antigas cidades e que tinham, no direito romano, sua justificativa, 
assim como as obrigações, o respeito e o entendimento sobre as diferenças. O que se tem 
hoje é a complexidade das sociedades, cada vez maiores, mais segregadoras e excludentes 
diante de conhecimentos que nos fazem pensar que a humanidade não pode agir e ser 
desse modo.
As fontes dos direitos do homem: são três, pois, as coisas que temos: ‘a liberdade, a 
cidade, a família’. A liberdade era tida como a fonte radical dos direitos do homem; 
a posse de uma família e a posse da cidade (cidadania) requeriam, para cumprir a 
finalidade de outorgar direitos ao homem, a existência prévia da liberdade (ZERON, 
2015, p. 97).
Da forma como o texto está estruturado, percebe-se que os valores foram e são 
fundamentais para todas as pessoas: a liberdade, a família, pertencer a uma cidade ou ser 
cidadão. Cabe chamar a atenção para um fato significativo, que é a referência à família e 
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à cidade. Termos um nome, um lar, uma cidade onde habitar é fundamental para nossa 
identidade e para nosso desenvolvimento humano. Por outro lado, isso também nos traz 
questionamentos: com quantas pessoas nos deparamos na rua, moradores de rua, sem lar, 
sem família e até sem nome? São apenas mais um no rol dos tantos sem “rosto” ou nome, 
relegados a um ostracismo desumano.
Segundo Dimenstein (2008, p. 177):
As questões éticas e morais muitas vezes estão relacionadas com aquelas que o direito 
também prescreve. São as regras de comportamento, os códigos e as leis, com suas 
penas e punições. 
Há também questões bem simples. No convívio social, não é difícil ter noção de como 
agir [...]. Ter consideração pelos mais velhos, solidariedade com o próximo, gentileza 
no trato social, respeito pelo meio ambiente ou urbanidade, no trânsito e nas relações 
de consumo. 
Embora o texto coloque que muitas questões podem ser consideradas simples, a realidade 
humana é complexa, o que leva as pessoas a agirem de formas diferentes. As relações 
humanas geram situações muito difíceis de serem resolvidas e nem sempre a realidade que 
é expressa por uma pessoa é encontrada e vivida por outras. O desafio do convívio social é 
justamente chegar ao consenso de que conviver de forma pacífica é o melhor para todos.
Quando pensamos em questões éticas, é sempre importante pensar o que se entende 
por esse termo: entenderemos ética como a reflexão sobre a realidade, o que se vive em 
determinado contexto e época, como o conhecimento do que é justo e injusto, certo e 
errado, e que visa determinar padrões de conduta, os quais denominamos de moral. A ética 
é uma reflexão sobre as ações humanas, e as ações humanas pautadas pela reflexão ética são 
chamadas de moral.
A história do Brasil é rica em exemplos de homens públicos que agem em benefício 
de seus interesses particulares, desrespeitando as condutas éticas que deles se 
espera. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, entretanto, as manifestações da 
população contra esse tipo de comportamento têm contribuído para afastar da vida 
pública muitas pessoas julgadas culpadas desses desvios (DIMENSTEIN, 2008, p. 157).
Muitos movimentos têm tomado conta das ruas Brasil afora. Por exemplo, movimentos 
sindicais, estudantis, ecológicos, em defesa da Amazônia, pela reforma agrária, contra a 
corrupção etc.
Para vivermos em sociedade, é necessário desenvolver um aspecto fundamental e que 
sempre foi priorizado pelos filósofos, em especial, aqueles que pensaram a ética, que são 
as virtudes. De acordo com Japiassú (2008, p. 182), “em um sentido ético, a virtude é uma 
qualidade positiva do indivíduo que faz com que aja de forma a fazer o bem para si e para 
os outros. [...] designa uma disposição moral para o bem. [...] As virtudes designam formas 
particulares dessa disposição para o bem: a coragem. A justiça e a lealdade”. 
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A partir desse conceito, pode-se perceber que temos a possibilidade de desenvolver 
muitas virtudes em nosso convívio social. Elas são importantes e, até mesmo, imprescindíveis 
para a existência de uma sociedade que busca o convívio efetivo de todos. Cabe-nos destacar, 
por ora, algumas dessas virtudes ou valores, que são o respeito, a responsabilidade, a 
alteridade e a multiculturalidade.
1.1 Respeito e alteridade
Respeito significa ser responsável por si, o que, consequentemente, é ser livre. O 
respeito deve fazer-se diante da consciência moral, da honestidade, para consigo e para com 
os demais. Sem o respeito à consciência moral não há dignidade e, portanto, não há um 
autêntico amor a nós. Mas não basta respeito se este não vier junto da responsabilidade. 
A humanidade, em muitos momentos da história, tratou pessoas e determinadas 
civilizações de modo diferenciado, o que as colocava em situações de superioridade/
inferioridade em relação às demais. Quem se encontra nesta última é considerado “menos 
digno” e quem se encontra em uma situação de superioridade – com trabalho, com direito 
a conquistas coletivas, por exemplo –, aparenta ser melhor e essa situação é colocada como 
verdade absoluta. Mas o que se vê é que essa sobreposição de uns sobre os outros fez-se, 
muitas vezes, com imposição de força e poder, e que, em condições de igualdade, as pessoas 
podem, de certo modo, desenvolver o mesmo comportamento.
O entendimento sobre o que vem a ser respeito e alteridade exige que se busque uma 
conceituação e vamos iniciar pela origem da palavra em latim: “respectus: olhar para trás, 
vista (retrospectiva); consideração, refúgio, asilo. Respectus é o particípio passado do verbo 
respicere, isto é, olhar novamente. E a palavra respecto: olhar (muitas vezes) para trás; olhar 
fito, fitar, mirar. Aguardar, esperar” (KOEHLER, 1938, p. 385).
Podemos também buscar o termo em um dicionário atual, no qual encontramos: 
“cumprir, acatar, observar. Considerar, reconhecer, admitir, aceitar. Respeito: consideração, 
deferência, reverência” (BECHARA, 2011, p. 115). 
E em um dicionário de filosofia, encontramos um conceito mais amplo:
O respeito é sentimento da ordem fundadora que se impõe a todos e pela qual todos 
devem zelar: ele não é apenas temor, mas também contenção, pudor, vergonha 
modéstia, recusa de abusar de sua força ou de seu direito, escrúpulo, consideração, 
indulgência, piedade. O respeito dirige-se ao mesmo tempo à força a força a temer 
e à fraqueza a proteger, das quais reconhece o caráter sagrado. [...] Na sociedade 
moderna igualitária, o indivíduo tende a fazer respeitar seus direitos e explorar ao 
máximo seu direito, em vez de respeitar o direito de outrem, ou simplesmente, de 
respeitar outrem. No limite, o irrespeito é erigido como valor ao mesmo tempo em 
que é ironizada, em nome da igualdade, qualquer pretensão a uma diferença de 
condição ou de valor. [...] a sociedade moderna do indivíduo tende a valorizar [...] 
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um presente sempre renovado, sem espessura histórica, sem passado e sem futuro, 
efêmero, no qual tudo se equivalee nada tem valor, e onde a derrisão substitui o 
respeito (CANTO-SPERBER, 2003, p. 502).
Em qualquer um dos sentidos, não se pode pensar em respeito sem a presença do outro 
(alteridade). A alteridade é a visão, a perspectiva do outro, e é justamente por causa da 
presença do outro que encontramos os motivos pelos quais podemos solicitar, pedir, lutar 
para que o respeito se instaure.
É importante compreender que o respeito tem um significado especial provocado pelo 
conhecimento de um valor moral em uma pessoa em relação aos outros (em um sentido 
amplo, atualmente, esse outro pode ser entendido como qualquer ser vivo), e que atinge a 
todos. Ninguém está isento do respeito que deve ter por si e pelos demais. Esse respeito em 
relação ao outro dá-se pelo fato de sermos humanos. Essa relação é uma via de duas mãos, 
eu respeito e devo, do mesmo modo, ser respeitado; é uma relação mútua.
Para desenvolvermos uma relação de respeito, precisamos ser criativos, acolher, 
corrigir, desenvolver uns aos outros, por isso a criatividade é importante. Se realizarmos 
apenas uma descrição dos outros e os olharmos como seres distantes – incapazes de 
desenvolver afetividade e proximidade –, torna-se impossível estabelecer uma relação 
capaz de nos completar plenamente como seres humanos.
Se as pessoas permanecerem alheias umas às outras, elas não conseguirão desenvolver 
laços e relações. Ao mesmo tempo, se permanecerem unidas demais, perdem a sua identidade, 
porque anulam-se mutuamente ou tornam-se objetos da vontade das outras. É nesse sentido 
que entendemos a importância da criatividade, para que saibamos nos encontrar com os 
outros e, ao mesmo tempo, respeitá-los.
Respeitar não é ser conivente com o que o outro tem de errado, concordar com o que 
normalmente é admitido como bom com o que tenha valor apenas para alguns. O respeito é 
um ato mais profundo e exige correção. Esta deve ser capaz de levar o outro a dar-se conta 
de seu erro e direcioná-lo a um novo rumo, que possibilite desenvolver suas capacidades o 
mais plenamente possível.
É preciso compreender que cada pessoa é única e irrepetível, com suas peculiaridades, 
seus erros e defeitos, assim como valores positivos. Portanto, o respeito deve acolher o que 
não se pode alterar. Na dimensão da humanidade, isso não ocorre, pois tudo o que a constitui 
pode-se alterar e se adaptar à vontade das pessoas.
O respeito à dignidade das pessoas está fundado em uma crença sobre a nossa 
capacidade e sobre o nosso potencial de ação. Muitas vezes, a falta de respeito está em uma 
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relação direta com a descrença em relação às capacidades do outro – o qual, quando não 
corresponde às expectativas sobre ele colocadas, passa a ser desprezado e desconsiderado. 
Quanto mais diminuímos o outro, mais e mais perdemos a nossa responsabilidade sobre 
nós mesmos. Se não sou responsável pelo outro, também não preciso respeitá-lo, o que é 
uma ilusão baseada em crenças, e não em uma realidade fatídica. Quando uma crença é 
divulgada como verdade e todos passam a crer nela, essa verdade universaliza-se e poucos 
conseguem desmitificá-la. Para Boff (2006, p. 54): “o respeito supõe reconhecer o outro em 
sua alteridade e perceber seu valor intrínseco. [...] reconhecer o outro como outro: tal atitude 
representa um desafio imenso para cada pessoa e para a sociedade”.
A busca pelo respeito não deve se dar isolada de uma visão maior de mundo. As pessoas 
devem dar-se conta de que o respeito é um valor a ser aprendido e que se ensina. Ele surge 
da própria percepção de que todos os seres estão interligados, a criança, o jovem e o adulto 
de hoje são continuação de um idoso que também já foi e contém, em si, tudo o que as 
pessoas nas fases anteriores apenas estão desenhando em sua vida. 
Demócrito foi um dos primeiros filósofos a pensar sobre o respeito sob uma concepção 
de mutualidade, isto é, devemos nos respeitar do mesmo modo como respeitamos os outros 
e vice-versa, nem mais nem menos.
Um dos fundamentos importantes para admitirmos o respeito é que, a partir desse 
conceito, conseguimos ordenar nossa vida em sociedade, mantendo vínculos essenciais para 
nós. O respeito torna-se, assim, fundamento de um bem maior para todos. Não podemos 
ser ingênuos e pensar que o respeito sempre foi praticado. Devemos ser claros e perceber 
que a falta de respeito sempre existiu e existirá, pois somos sempre capazes de transgredir; a 
transgressão nos leva a ter atitudes desrespeitosas em relação aos outros.
Outro aspecto que não podemos deixar de salientar é que o respeito se refere 
às pessoas, não às coisas. Não respeitamos coisas, mas respeitamos pessoas, seres 
capazes de manter uma relação de plenitude, de nos constituir, de nos ajudar a nos 
desenvolver naquilo do que somos capazes.
Perceber o modo de ser e agir respeitosamente nos toca de modo sensível, sentimento 
com o qual não nos deparamos quando nos defrontamos com as coisas. Coisas não são 
capazes de reciprocidade, de afeto, de relação de amor, de desenvolvimento ou de vínculos. 
Coisas são objetos com os quais estabelecemos uma relação de posse, domínio e uso, o que, 
em tese, não pode ser estabelecido com as pessoas.
Assim, podemos dizer que agir com respeito é reconhecer nas pessoas ou em si mesmo 
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uma dignidade que se tem o dever de cuidar, para que ninguém venha a maculá-la, feri-la, 
destrui-la. Esse sentimento vem da consciência que devemos despertar em cada um de nós, 
seja por nossas ações, palavras, lutas ou organizações. 
Muito podemos alcançar se entendermos que somente atingiremos o que desejamos se 
fizermos, em primeiro lugar, o que desejamos que os outros façam e, em segundo lugar, se 
buscarmos formas de levar os outros a entenderem que, como diz o dito popular, “respeito 
é bom e todos nós gostamos”. Tal atitude não pode ser imposta por nenhum código, não se 
compra em balcão de supermercado, mas pode ser desenvolvida pelas pessoas, desde que se 
preparem e se comprometam a agir desta forma. 
1.2 Responsabilidade e multiculturalidade
É mais do que urgente que pensemos no papel dos cidadãos na construção de uma 
sociedade inclusiva e que defenda, em primeiro lugar, uma perspectiva de vida para todos 
e não apenas para alguns. Isso é responsabilidade de todos, não só dos políticos, dos 
empresários e das instituições. Cidadania sem participação não existe e a isso também se 
denomina sociedade multicultural.
É importante perceber que temos um papel a desenvolver dentro da sociedade e que este 
papel pode enriquecer ou empobrecer o mundo. Tudo depende do modo como enfrentamos 
os problemas e vemos a sociedade, e é dessa compreensão que surge a necessidade de 
participação. A partir disso, podemos tornar o mundo melhor ou deixar que os outros o 
façam. Cada um realiza um papel social a partir de seu entendimento de mundo e de sua 
concepção de justiça.
A capacidade de cada um deve ter um fundamento metafísico (ontológico). Ou seja, não 
se tira “o fundamento” de algo que o ser humano faz, ao contrário, ele está em algo que é 
maior que o próprio ser humano. Ou seja, é a capacidade de liberdade, de poder escolher de 
modo consciente e deliberadamente, ou seja, a responsabilidade.
Conforme Gomes e Moretti (2007, p. 3): “O termo responsabilidade social, embora esteja 
em voga no novo vocabulário das empresas, não está plenamente definido e não encontrou 
ainda um grau de estabilidade semântica [...]”. Do mesmo modo, a multiculturalidade é tão 
ampla e rica em possibilidades que não se consegue visualizar em sua totalidade.
A responsabilidadeestá no poder que temos de causar um dano ou um benefício a todo 
aquele que estiver dentro das possibilidades de ação. A palavra responsabilidade significa 
que eu tenho que responder por minhas ações, assim como respeitar ou não aquilo que é 
valioso. O contrário da responsabilidade é a irresponsabilidade porque não se responde pelo 
que é valioso. Por isso, exercer um poder sem a observância do dever constitui uma ruptura 
a uma fidelidade diante do que é importante.
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Segundo Mora (2001), uma pessoa é responsável quando está obrigada a responder 
por seus próprios atos. A grande maioria dos filósofos está de acordo que o fundamento da 
responsabilidade é a liberdade da vontade. Com efeito, em um mundo cujos fenômenos 
estivessem todos inteiramente determinados, a responsabilidade se desvaneceria. 
Temos visto um crescente desenvolvimento pautado pelo egoísmo e egocentrismo. 
Mas o que se deve buscar dentro de um princípio de responsabilidade é uma posição ética 
baseada na solidariedade, que é uma das primeiras fontes da ética, e na compreensão de 
uns para com os outros.
Só pessoas que pensam a partir de um coletivo podem colocar, em sua reflexão e em sua 
ação, o outro como esse ser que busca uma justiça para poder viver em sociedade. Só tem 
essa compreensão quem entende ser sua responsabilidade a forma de viver em sociedade 
como uma forma de inserção de todos e para todos. Se algum dia houver uma sociedade 
politicamente engajada e empreendedora, poderemos dizer que se vive uma realidade ideal.
Falar de responsabilidade é também falar de cidadania e do papel ativo que devemos 
ter como agentes sociais autônomos e solidários e garantidores dos direitos humanos 
e dos princípios democráticos desde nossos comportamentos e desde a exigência 
ética diante dos demais. Em definitivo, uma ética da responsabilidade deve ser uma 
ética da ação comprometida como a mudança social (MERINO, 2004, p. 6).
O que devemos entender então por responsabilidade? O tema é complexo e, nesta aula, 
vamos apontar alguns indicativos para que possamos iniciar uma reflexão sobre nosso papel 
de responsáveis pelo social.
Posso ser responsável pelo o que me é confiado e pelo o que emocionalmente estou 
empenhado. Se a responsabilidade tiver, como um de seus motivos, o amor, então, está além 
de um dever, pois está inspirada pela devoção da pessoa que estremece a coisa digna de ser 
amada.
Existem dois tipos de responsabilidade: a natural e a contratual. A responsabilidade 
natural tem, como exemplo maior, a relação familiar; os pais, por exemplo, têm obrigação de 
buscar o desenvolvimento da capacidade e da vida dos filhos. A responsabilidade contratual, 
como diz a palavra, por outro lado, é aquela firmada entre as pessoas, em uma sociedade, 
em um acordo etc. 
Entre as duas, a responsabilidade natural é a mais forte e, ao mesmo tempo, menos 
definida, mas é fundamento original de qualquer outra forma de responsabilidade. Ela 
estabelece como princípio de toda responsabilidade a totalidade, a continuidade e o futuro. 
• Totalidade: porque não se vê nem se trabalha apenas com uma parte, se é responsável 
pelo todo (embora nem sempre consigamos fazer ações que envolvam a totalidade). 
• Continuidade: pois nosso existir deve garantir o direito à existência do outro. 
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• Futuro: somos responsáveis pelo futuro; desta forma, não temos direito de exterminar 
no presente a vida e as possibilidades dos que nos sucederão.
O viver é um exercício de responsabilidade e, ao mesmo tempo, condição impreterível 
para que ela seja exercida. A garantia de toda responsabilidade é a própria vida. 
Nossa primeira responsabilidade é para com o que foi feito pela natureza, ou seja, é 
nossa obrigação cuidar do meio ambiente e preservá-lo, para que não haja desequilíbrio no 
futuro. A segunda, mas não menos importante responsabilidade, é com os mais debilitados, 
mas isso exige que se faça uma transformação da realidade social geradora dessas exclusões, 
por isso, é preciso que se pense em ações políticas que visem essa mudança. 
É preciso tomar atitudes econômicas, o que pode ser, em um primeiro momento, 
retirar as pessoas de uma situação desumana, mas, especialmente, desenvolver atitudes de 
capacitação, para que as pessoas possam atuar socialmente e gerar o próprio sustento. Para 
chegar a esse ponto de consciência ou de ação, é preciso reconhecer o outro ou a realidade 
como recíproca.
Responsabilidade social não deve ser confundida com altruísmo, filantropia ou realizar 
alguma atividade com vista a algum ganho futuro. Devemos nos interessar pelos outros de 
modo não interesseiro. Essa compreensão quebra a lógica de políticos que agem para ganhar 
votos e daqueles que gostariam de beneficiar-se socialmente e até fazer uma propaganda 
“barata” (de baixo custo) para seus produtos. 
Quem pensa desse modo não age em vista de um benefício social. Ser responsável 
socialmente é entender que quem está em primeiro lugar é a sociedade e que se a sociedade 
como um todo é beneficiada, todos em sua individualidade também o são. Por isso, a 
responsabilidade social é a ação que tomamos com o intuito de evitar danos e produzir o 
maior número possível de benefícios sociais.
Adaptando o conteúdo expresso no Livro Verde da União Europeia, podemos conceituar 
a responsabilidade social da empresa como: conceito pelo qual as pessoas decidem 
contribuir voluntariamente para melhorar a sociedade e preservar o ambiente mais limpo. 
Ser socialmente responsável não se restringe ao cumprimento de todas as obrigações 
legais – implica ir mais além por meio de um “maior” investimento em capital humano, no 
ambiente e nas relações com outras partes interessadas e comunidades locais (COMISSÃO 
DAS COMUNIDADES EUROPEIAS, 2001).
Compreender a vida e a organização social, conforme expresso nessa publicação, leva à 
conscientização sobre o impacto da ação que se realiza em sociedade e, em especial, expressa 
o compromisso de contribuir para o desenvolvimento econômico, para melhorar a qualidade 
de vida das pessoas, das famílias e da comunidade local.
A ação desenvolvida deve começar a partir dos menos favorecidos socialmente, até 
chegar àqueles que, não tendo a mesma consciência, possam despertá-la por meio de 
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um processo de desenvolvimento de políticas públicas, de empresas que incentivem seus 
trabalhadores e familiares a realizar ações, de partidos políticos, igrejas, ou seja, de toda a 
sociedade civilmente organizada. 
A responsabilidade social ocorre quando as pessoas tomam consciência de seu papel 
social, isto é, quando percebem que, com sua participação, podem contribuir para que as 
melhorias almejadas por cada um e por todos venham a concretizar-se. Quando se supera a 
visão egocêntrica, os outros são colocados como um parâmetro para a realização de ações 
de melhorias efetivas. 
Estabelecer quais valores são bons para a sociedade não pode ser feito isoladamente. É 
preciso buscar nas organizações, no público participante e contar com a ajuda dos envolvidos 
na situação-problema para que se possa efetivar uma ação socialmente ética com o devido 
equilíbrio. 
Desta maneira, a definição da responsabilidade como qualidade humana deve dar-se 
de forma contextualizada e em função de três atributos: o papel social que estamos 
desempenhando, a situação relacional na qual este se dá e as peculiaridades pessoais 
dos atributos que interagem na mesma (MERINO, 2004, p. 5).
Quando a ação envolveseres humanos, é preciso estabelecer um diálogo, uma negociação 
entre os envolvidos, para que o que se realize seja o melhor. Isso é um entendimento amplo 
de responsabilidade, que só é efetiva porque é desenvolvida socialmente. Quem realmente 
entender esse conceito compreenderá que não se pode ficar de braços cruzados diante da 
realidade presente. Eis a nossa responsabilidade.
2 Sociodiversidade e universalidade
Sabemos que as sociedades são resultantes de formações múltiplas, compostas por 
vários povos que se deslocam de um lugar para outro, com os mais diferentes propósitos. 
Os indígenas que aqui estavam quando da ocupação europeia, os africanos escravizados 
que se espalharam pelo mundo todo, os advindos do processo migratório atual (para fugir 
de guerras, conflitos e pobreza), os europeus, os árabes, os japoneses, chineses e, assim, 
sucessivamente, foram espalhando-se pelo mundo. 
No século XIX, havia a esperança de encontrar uma terra prometida. No século XX, há o 
princípio de globalização, quando as barreiras entre os países são cada vez mais efêmeras. 
E, no princípio do presente século, por motivos religiosos, econômicos, políticos etc., há o 
deslocamento de pessoas pelo mundo. 
Somos cada vez mais um planeta globalizado, isto é, um planeta no qual as fronteiras 
são cada vez menos rígidas. Dessa situação, formam-se novos contextos culturais e percebe-
se, cada dia mais, que valores se universalizam, porém, admitidos geralmente pela classe 
dominante, que se estrutura para fazer com que seus valores sejam aceitos: consumo, difusão 
cultural, língua universal etc. são alguns exemplos. 
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Com a vinda de diversos povos para o Brasil, são trazidos traços culturais, históricos 
e o anseio de atingir objetivos para a melhoria de sua situação social e econômica. Assim, 
alguns partem com o intuito de enriquecer e voltar para sua terra de origem, outros vão 
atrás do sonho da terra prometida, na qual possam encontrar abundância e possibilidade de 
crescimento. De acordo com Demanat (2015, p. 377), “o bom senso sugere que ‘quanto mais 
diferentes, mais difícil será a coexistência’ [...] Mais importante do que a distância cultural 
parece a existência de ‘tons de cinza’. [...] Existe no Brasil uma escala infinita de graus de cor 
de pele que mitigam (mas também mascaram) a questão racial”.
A forma como cada um chegou ao país fez com que se formassem concepções errôneas 
e preconceituosas, algumas reproduzidas até hoje. Por exemplo, a crença de que os pobres 
permanecem nessa condição porque não querem trabalhar e estudar; e a ideia de que 
todos têm as mesmas oportunidades e são iguais perante a lei. Isso não se reflete, porém, 
na realidade.
Há uma necessidade de praticar-se a inclusão social urgente em nosso país, que pode 
ser favorecida pela educação, uma forma de desenvolver as capacidades e potencialidades 
das pessoas. Uma vez tendo as mesmas oportunidades, existiriam as mesmas chances 
para todos. 
Na prática, não é isso que encontramos, pois nem todos têm as mesmas oportunidades 
e as discriminações são grandes. Uma coisa é certa e não podemos deixar de refletir: há um 
ditado popular no Brasil que todos já devem ter ouvido falar alguma vez em nossa realidade: 
“não adianta só dar o peixe, é preciso também ensinar a pescar”. 
O sociólogo Betinho (Herbert de Souza), após lançar a ação da cidadania contra a 
miséria e pela vida, em 1992, costumava dizer “quem tem fome, tem pressa”. Ou 
seja, “dê o peixe agora para evitar que a pessoa morra de fome”. Mas também 
ensine a pescar para que deixe de depender de quem lhe dá o peixe (DIMENSTEIN, 
2008, p. 297).
Segundo Luca (2015, p. 487-488):
O direito de voto foi universalizado, por meio da extensão facultativa aos maiores de 
16 anos e aos analfabetos, que tiveram sua cidadania política reconhecida. Ampliou-
se a noção de democracia, entendida como ativa e participativa, tal como estipula o 
artigo 14. O ministério público, por sua vez deixou de ser parte do poder executivo 
para tornar-se uma instituição independente.
Se observarmos o que foi dito anteriormente, já se poderia dizer o quanto é benéfica, 
por exemplo, a inclusão de cidadãos à margem da sociedade e que, por ora, são inseridos 
no contexto social. Mas Luca (2015, p. 488) vai além, citando alguns exemplos para reforçar 
essa ideia:
Os direitos foram amplamente assegurados pelo artigo 52 e seus mais de setenta 
incisos, que inovaram ao criar o habeas data, que assegura aos cidadãos o 
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conhecimento de informações constantes em entidades de caráter governamental 
ou público; ao assegurar a prática do racismo como crime inafiançável, condenar 
expressamente a tortura. Ao estabelecer o mandato de injunção cabível quando a 
falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades, 
e ao determinar a defesa do consumidor, cujo código passou a vigorar em 
março de 1991.
Estamos tão acostumados com essa realidade em nosso cotidiano que tudo o que foi dito 
parece óbvio. Somos membros de uma sociedade que já passou por estágios e os mencionados 
também não são novos, embora se possa dizer que ainda não foram efetivamente realizados 
em sua totalidade. 
O intervalo de tempo entre a promulgação da Constituição de 1988 e os dias de hoje 
nos leva a entender que a realidade brasileira, por sua própria complexidade, ainda precisa 
enfrentar grandes desafios. Ainda é preciso um maior engajamento de todos em projetos 
educacionais. A melhora na distribuição de renda, por exemplo, está entre os maiores desafios 
que temos. E toda sociedade sempre os terá, pois, uma vez atingindo um patamar, surgirão 
outros, e está aí a dinâmica da vida e do ser humano.
Durante um longo período os grupos étnica ou culturalmente diferenciados sofreram 
um processo de exclusão, sendo exterminados, marginalizados ou absorvidos pela 
sociedade nacional sem qualquer reconhecimento às suas formas peculiares de viver 
e de agir. Após a abertura dos espaços de reivindicação proporcionados pela afirmação 
da democracia, a expressão de identidades diferenciadas num mesmo cenário 
nacional passou a se tornar possível, ocasionando uma significativa transformação 
ocorrida no relacionamento entre o Estado e grupos sociais minoritários, baseada 
fundamentalmente no reconhecimento constitucional acerca do caráter pluricultural 
da composição de sua população (FERREIRA; FERREIRA, 2012, p. 151).
A diversidade social surge pela própria constituição da sociedade. Cada indivíduo é 
diferente, tem suas características próprias e ao reunirem-se em sociedade, as diferenças 
entre as pessoas surgem como algo natural. A diversidade também pode ser criada pela 
forma como a sociedade se estrutura e organiza. Assim, criam-se as diversidades naturais e 
que são altamente positivas, pois, ao sermos diferentes, conseguimos fazer uma sociedade 
melhor. Quando, porém, observamos a diversidade excludente, identificamos problemas 
sociais sérios e que demandam a intervenção dos poderes constituídos para que essas 
diversidades não sejam motivos de conflitos maiores, porque, em si, já são conflituosas. 
Cabe às autoridades intervir para que essas diversidades sejam equacionadas da melhor 
forma possível.
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Leonardo Boff, em seu livro A águia e a galinha (2010), chama a atenção para a dicotomia 
e a diversidade do ser humano. Vivemos e, do modo como nos educamos, nos constituímos 
socialmente de forma que podemos agir de uma ou de outra maneira, mas nunca conseguimos 
destruiresses dois seres que habitam em nós: a galinha, que representa a acolhida, é a ave que 
sempre está junto ao ser humano. Já a águia tem a possibilidade de lançar voos cada vez mais 
altos, mas sem perder a dimensão, o objetivo e o que busca. Essa diferença entre os seres nos 
leva a viver de um modo ou de outro.
Quando a diversidade é produzida socialmente, ela gera desigualdade, colocando as 
pessoas em diferentes realidades, por exemplo: níveis de escolaridade; falta de atendimento 
de saúde; falta de moradia; exploração pelo trabalho; uso dos bens da terra (enquanto em 
algumas regiões há desperdício de água, falta água potável em outras); falta de luz elétrica 
por carência de redes e assim por diante. 
Exemplos não nos faltam para mostrar que a sociedade produz os incluídos e os 
excluídos, e se essa exclusão é produzida pela sociedade para benefício de alguns em 
detrimento de outros, cria-se uma diversidade não aceitável e eticamente injustificável. 
Vamos nos aprofundar em um exemplo de diversidade para termos ainda mais clareza sobre 
o tema: a questão de gênero.
2.1 A questão de gênero
Muito tem sido escrito e pensado sobre a questão de gênero e o enfoque que mais se 
destaca é em relação à mulher. Isso não é sem razão: em nossa sociedade, ainda impera 
uma cultura machista e de poderio do homem. Destaca-se aqui o que se deve entender 
pelo conceito de gênero: “Quando falamos de ‘gênero’, estamos nos referindo aos processos 
sociais e históricos nos quais os indivíduos se constroem e se reconhecem enquanto ‘homens’ 
ou ‘mulheres’” (MORAES; CAMARGO; NARDI, 2015, p. 148).
O papel social desempenhado pelas mulheres foi sempre visto como inferior e essa 
realidade aparece no contexto social há muito tempo: o homem tem o poder e coordena 
e domina a sociedade, tudo é feito por ele e para ele. Nas cidades-estado, encontramos 
situações parecidas com as que se presencia atualmente:
[...] embora a posição das mulheres variasse em cada cidade, em cada âmbito cultural, 
é fato que elas permaneceram à margem da vida pública, sem direito à participação 
política, restringidas em seus direitos individuais, tuteladas e dominadas por homens 
que consideravam o lar, o espaço doméstico, como o único apropriado ao gênero 
feminino. As mulheres eram, certamente, membros da comunidade – mas membros, 
por assim dizer, menores (GUARINELLO, 2015, p. 37).
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Esses conhecimentos históricos são importantes para fazermos uma análise da situação 
atual e verificarmos que a exploração de pessoas sobre pessoas não é fato recente. Nos 
serve ainda para constatar a importância do resgate e da inclusão de todos para dentro 
da sociedade. 
O ideal da domesticidade estipulou para as mulheres um modo de vida restrito à 
administração doméstica; na medida do possível, as filhas de ‘boa família’ deveriam 
ficar em casa. Entretanto, as práticas sociais nem sempre seguiam à risca os discursos. 
[...] Ao mesmo tempo em que as tradições relativas aos sexos se renovavam, mesmo 
mulheres das classes privilegiadas [...] encontraram formas de atuação no espaço 
público, nas cidades, e viram suas vidas transformadas (PINSKY; PEDRO, 2015, p. 273).
Não basta que leis e direitos sejam reconhecidos, é preciso ações efetivas para 
que esses direitos sejam garantidos. Não adianta a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos reconhecer que todos nascemos iguais em direitos se estes não forem 
concretamente praticados. Esse é um dos tantos desafios éticos para nós atualmente.
A liberdade e as possibilidades de expressão presentes podem ser manipuladas e 
aprisionadas por um tempo, mas não para sempre. Mais cedo ou mais tarde, elas aflorarão. 
O ser humano é um ser de liberdade. Esse é um exemplo visto aqui com as mulheres, mas 
pode-se ver isso na situação dos escravos que buscaram constantemente sua libertação, dos 
presidiários, que buscam a liberdade por meio da fuga, e assim sucessivamente. Ser livre é 
uma condição indispensável do humano.
Considerações finais
Diante de todas as situações que vimos no decorrer desta aula, poderia parecer que 
vivemos em um contexto não tão bom, mas não é isso. Se por um lado temos problemas 
sociais, como os apontados (pobreza, racismo, preconceitos, exploração da mulher etc.), por 
outro, há muito a sociedade vem se dando conta de que sua responsabilidade social é mais 
do que apenas exigir que alguém faça por nós. A grande pergunta que se coloca é o que nós 
podemos fazer por nós? Não se pode mais esperar que alguém o faça. A organização social e 
das pessoas em seus contextos traz grandes mudanças para o atual contexto social.
O importante é percebermos que há saídas, que há avanços, que muito a sociedade 
andou para que vivamos hoje o que se tem diante de nós. E isso já basta? Claro que não. 
Como já foi dito anteriormente, o ser humano é dinâmico e, uma vez tendo atingido um 
patamar, outros se apresentarão para que ele os enfrente. Que bom que é assim, porque, se 
não o fosse, estaríamos ainda vivendo um período pré-social.
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Digital, n. 6, Málaga: outubro 2004.
ZERON, Carlos. A cidadania em Florença e Salamanca. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi. 
História da cidadania. 6. ed. São Paulo: Contexto. 2015.
Ética, Cidadania e Sustentabilidade
Aula 06
Ética e violência na sociabilidade
Objetivos Específicos
• Analisar questões éticas na vida social. 
Temas
Introdução
1 Tipos de violência e formas de encarar a realidade
2 A ética nas relações em rede
3 Formas de violência com o outro: bullying 
4 A relação entre aspessoas e o ambiente
Considerações finais
Referências
José Antônio Fracalossi Meister 
Professor Autor
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Introdução
A violência é algo que acompanha a humanidade desde sempre. Se iniciássemos nossa 
aula a partir de estágios pré-humanos, poderíamos dizer que a ação contra os outros já se 
fazia presente. Mas devemos estabelecer uma clara diferença entre os atos realizados por 
animais racionais – o homem – e animais irracionais – todos os outros. A violência deve ter o 
princípio da intenção, ou seja, a vontade e a intenção de fazer algo para alguém. 
A concepção do que vem a ser violência ou não tem mudado historicamente. Antigamente, 
por exemplo, os pais batiam em seus filhos; hoje, leis impedem que se faça isso. Brincadeiras 
com a realidade e aparência das pessoas eram admitidas; atualmente, entendemos isso como 
bullying e, há ações que coíbem esses atos. 
Meios mais sofisticados de violência ocorrem atualmente, como o cyberbullying. 
A desigualdade social, gerada pela forma como a sociedade estrutura-se, poderia ser 
considerada uma forma de violência. Se, por um lado, temos várias compreensões sobre os 
fatos, por outro, existem muitos desafios a serem pensados e decisões a serem tomadas para 
tentar frear atos violentos. 
A xenofobia seria outra forma de violência praticada contra imigrantes, bem como 
a corrupção, que retira da sociedade parte que é de todos para o benefício de alguns. O 
propósito desta aula é justamente fazer uma reflexão sobre a violência e como trabalhar com 
essa realidade diante do entendimento ético e que aparecerá de modo indireto a partir das 
reflexões feitas. Pelo fato de vivermos em sociedade, não se podem admitir determinadas 
formas degradantes de ser e de agir.
1 Tipos de violência e formas de encarar a realidade
É certo que a humanidade sempre conviveu com a violência, que pode ser apresentada 
de duas formas: física e social. A violência física é mais explícita e pode ser representada, 
por exemplo, por agressão, morte, expulsão e desestruturação familiar. A violência social, 
por outro lado, tem relação com a forma como a sociedade se estrutura, que pode levar a 
guerras, fome, exclusão escolar e imposição do medo, por exemplo.
Negar a violência, como se ela não existisse, é algo muito grave. Ainda que as violências 
física e moral sejam explícitas, alguns imaginam um mundo no qual não há mal, violências 
e agressões de qualquer ordem, em que todos estão bem. Para algumas pessoas, basta que 
alguns fatores, especialmente os econômicos, sejam alterados, como Brym, Lie e Hamlin 
(2010, p. 28) alertam:
Os otimistas preveem que o pós-industrialismo abrirá mais oportunidade para as 
pessoas, tendo em vista que possibilitará encontrar trabalhos criativos, interessantes, 
desafiadores e compensadores. Além disso, a era pós-industrial trará mais ‘igualdade 
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de oportunidades’, isto é, melhores chances de todas as pessoas adquirirem educação, 
influenciar as políticas governamentais e ter bons empregos.
A perspectiva do “mundo encantado”, no qual a vida se torna uma dádiva pela própria 
construção social, tem sido sempre um desafio para a humanidade. Por outro lado, o que 
se vê é que a sociedade conseguiu isso para algumas pessoas, mas não para todas. Assim, 
passamos a ter vários elementos para que as pessoas desiludidas venham a agir violentamente. 
O mesmo ocorre com a falta de oportunidades sociais, como escolaridade, ascensão social 
etc. Assim, muitos seriam os motivos causadores da violência.
A Teoria da Guerra Justa, por exemplo, foi admitida como uma forma de coibir a violência 
ou até mesmo extingui-la. Essa teoria tem suas origens no pensamento de Cícero, Santo 
Agostinho, São Tomás de Aquino e Hugo Grotius. 
1.1 “Violência gera violência”
Muitas são as formas de violência e muitos são os motivos pelos quais as pessoas podem 
agir violentamente, mas nenhum deles se justifica. Há até quem defenda que a guerra possa 
ser justa e servir de solução para determinados problemas. Mas não se pode esquecer que 
violência é violência independentemente das justificativas e da intensidade em que é aplicada. 
O que se deve entender é que a violência não deve ser admitida e, se não combatida 
hoje, pode, amanhã, voltar-se contra nós. Devemos entender que aprovar violência é uma 
forma passiva de aceitação de que o que hoje se faz e pode, amanhã, resultar em algo maior. 
Há uma geração sistematizada de fatos que gerarão novas violências. A expressão “violência 
gera violência” tem caráter verdadeiro. 
Embora a ética seja universal porque o bem é uno, contudo, certo é que cada pessoa 
tem o seu próprio órgão ético. Isso faz que a consciência individual seja a jurisdição 
decisória de cada um. Cabe a cada um alcançar o bem e fazer o bem. O bem se alcança 
de maneira livre, e a liberdade existe precisamente para a ciência moral (ALONSO, 
2002, p. 93).
1.2 O conflito como forma de desenvolvimento social
Cada vez mais, se percebe como determinadas formas de violência têm alterado o 
caráter social e as relações que se estabelecem. Também devemos ter o devido cuidado 
para não classificar como violência toda e qualquer forma de desavença. As divergências e o 
conflito podem contribuir para o crescimento social. O conflito, sem resolução, pode gerar 
violência, mas não é, em si, uma violência; ao contrário, a divergência pode nos auxiliar em 
nosso desenvolvimento humano.
A sociologia para superar a questão do mal social criou três tipos de resposta, segundo 
Brym, Lie e Hamlin (2010): 
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• normas de solidariedade exigem conformidade; 
• as estruturas de autoridade tendem a tornar as pessoas obedientes; 
• burocracias são estruturas de autoridade altamente eficientes.
A solidariedade é um ato humano que nos aproxima uns dos outros e nos indica como 
o nosso comportamento deve ser. Já o modo como a autoridade é instituída faz com que se 
atue de forma obediente e não resistente às imposições que determinados grupos exercem 
sobre outros. Quanto mais burocratizada for a atuação de um grupo sobre o outro, menos 
se consegue reagir, pois como combater determinadas ações se as “armas” que se tem são 
rudimentares? Ficamos como que à mercê dos detentores de poder e das forças de opressão. 
É necessário ter conhecimento, coragem, destemor, e saber que, ao reagir contra todas 
as formas de bullying (conceito que conheceremos mais à frente), se está agindo em vista de 
uma sociedade melhor. O bullying ocorre justamente porque as pessoas temem enfrentá-lo 
e buscar melhoria de vida e de atuação social; quanto mais se reage, menos ele acontece. 
2 A ética nas relações em rede
As relações sociais, as conexões realizadas entre as pessoas a fim de se criar contatos, 
são cada vez mais estabelecidas em rede. A virtualização do mundo possibilitada pelos meios 
de comunicação, em especial, os trazidos pela internet, fez com que pudéssemos estar cada 
vez mais conectados em qualquer parte do mundo e em diferentes momentos. 
O objetivo de toda comunicação e da criação de redes é que as ideias sejam 
compartilhadas, que momentos sejam divididos com aqueles que fazem parte de sua rede. 
Em tese, a comunicação deveria ser direta e com o grupo participante, mas nem sempre se 
consegue fazer isso, pois uma vez colocada qualquer coisa em rede, ela pode ser partilhada 
por mais pessoas, que também participam de outras redes e assim sucessivamente. O que 
se perde com a partilha de determinadas situações é a privacidade, pois o que é divulgadodeixa de ser privado para se tornar público. Não é sem razão que o debate sobre um código 
de ética para as redes sociais tem estado em evidência.
2.1 O cyberbullying e o mau uso da internet
A busca por um código de ética nas redes tem levado à discussão acerca do cyberbullying 
ou crimes de internet, entendido como a apropriação de algo ou da intimidade de alguém, 
até mesmo de uma empresa, que é divulgado na rede. Uma vez em rede, perde-se o 
controle sobre o que é colocado em público, pois as pessoas fazem a divulgação de situações 
particulares tornando o acesso público. O cyberbullying possibilita também a pirataria de 
dados e a invasão de privacidade.
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O Brasil criou uma lei própria para proteger o cidadão contra o mau uso da internet. 
Denominada de “marco legal da internet”, a Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014, estabelece 
princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil. É uma lei de fácil 
entendimento e da qual todos nós deveríamos nos apropriar, mas vamos pensar um artigo 
em especial que acredito ser muito importante para a nossa reflexão no momento. Em seu 
artigo 2º, a lei assim se expressa:
Art. 2º A disciplina do uso da internet no Brasil tem como fundamento o respeito à 
liberdade de expressão, bem como:
I - o reconhecimento da escala mundial da rede;
II - os direitos humanos, o desenvolvimento da personalidade e o exercício da cidadania 
em meios digitais;
III - a pluralidade e a diversidade;
IV - a abertura e a colaboração;
V - a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e
VI - a finalidade social da rede. (BRASIL, 2014)
Essa lei foi um grande avanço ao delimitar e delinear as ações possíveis de serem 
realizadas, e reconhece a manutenção da liberdade de expressão. Algumas pessoas 
temiam que, uma vez estabelecida uma lei, não se poderia ter o acesso a determinados 
dados disponíveis na rede mundial. Mas não é isso que a lei estabelece, pelo contrário: 
a lei veio colocar determinados limites, mas não impede o acesso às informações 
disponíveis na rede e a busca de fontes múltiplas de conhecimento.
A colaboração é outro grande benefício destacado e possibilitado pela rede mundial 
de computadores. Hoje, pesquisas são feitas em rede, dados são trocados como forma de 
desenvolvimento e crescimento pessoal. Além disso, há a possibilidade de concorrência e de 
defesa do consumidor, pois, assim como existem os bons divulgadores de dados e informações 
e o comércio de produtos on-line, há também a divulgação de falsos dados e negócios. 
Por fim, a lei reconhece uma finalidade na rede e, por ser recente, muitas coisas vão 
ocorrer até que se possa ter a sua amplitude totalmente analisada e testada. Mas esse marco 
regulatório feito no Brasil tem seu caráter pioneiro no mundo e serviu de inspiração para 
outros países fazerem o mesmo.
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2.2 Ampliando o conceito de rede 
Todos nós estamos enredados em conjuntos sobrepostos de relações sociais, isto 
é, participamos de redes sociais. Embora qualquer indivíduo conheça um número 
relativamente pequeno de pessoas, seus familiares, amigos, colegas etc. conhecem 
um número muito grande delas, que se estende para além de sua rede pessoal. [...] 
Embora nossas redes pessoais sejam pequenas, elas rapidamente levam a redes muito 
mais amplas. É porque nossas redes sociais nos ligam ao mundo que muitas vezes nos 
surpreendemos com ele é pequeno (BRYM, LIE E HAMLIN, 2010, p. 161-162).
Quando nos referimos às redes, muitas vezes falamos de mundo virtual ou da internet, 
mas as redes nem sempre são possibilitadas por tal meio; elas podem referir-se à proximidade 
das pessoas, quando também se estabelecem relações. Assim, o contato que as pessoas têm 
com as demais as torna participantes de soluções, problemas, dificuldades e desafios próprios 
de seus contatos.
Rede é toda e qualquer forma de contato e interação entre as pessoas. Pode 
ser virtual, forma muito difundida pelos avanços da internet, e pode ser física, pelos 
contatos que se tem com aqueles que estão próximos de nós (conhecidos ou não). O 
que se deve ter em mente é que, em ambas as formas de rede, se deve ter o devido 
cuidado com o compartilhamento de dados e informações e, claro, com a convivência.
Em nossa história, constata-se a necessidade das relações, mas não é toda forma de 
relação que se deve admitir. Um relacionamento social e pessoalmente admitido deve ser 
ético. Podemos dizer que a ética auxilia no estabelecimento de relações que nos levam a 
um convívio maior e melhor, orienta para viver e conviver buscando sempre o bem, que se 
materializa na solidariedade, na justiça, no amor, nas amizades, enfim, em todas as formas 
construtivas de convívio social. 
Toda e qualquer forma de relação que nos conduz e provoca algum mal, seja para um 
indivíduo ou para um grupo, deixa de ser ética. Porém, devemos ter cuidado ao fazer essa 
afirmação, pois, em muitos casos, as pessoas pensam e agem egoisticamente e alegam que 
estão sendo desrespeitadas. A eticidade de uma ação mede-se pelo bem que ela pode trazer 
para a pessoa e para a sociedade. É desse equilíbrio que surgem as ações éticas.
[...] O que pode existir de mais valioso na vida, quer dos indivíduos, quer dos povos, 
senão alcançar a plena felicidade? Pois é disto exatamente que se trata quando 
falamos de ética. Podemos errar no caminho na nossa vida, e nos embrenharmos 
perdidamente, como Dante na selva da escuridão. Jamais nos enganaremos, porém 
quanto à escolha do nosso destino: nunca se ouviu falar de alguém que tivesse a 
infelicidade por propósito ou programa de vida (COMPARATO, 2006, p. 17).
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A partir dessa citação, temos um fato importante quando se trata das relações sociais 
e de nossas redes. Existimos para sermos felizes, para vivermos bem. Toda ética busca o 
bem, essa é a sua grande razão. Essas são formas que as pessoas descobriram e pelas quais 
entenderam que podem estabelecer sua parceria social. O desafio está na forma de ser e 
de agir socialmente. O que se quer parece claro e todos sabem, é viver bem e felizes, e a 
dificuldade que encontramos é em construir esse modo de ser e de se fazer a sociedade. 
Os problemas sociais existem e nos chamam a atenção para compreendermos que para 
chegar a esse bem social e a essa estabilidade ainda existe muito a ser buscado e realizado. 
Reflitamos sobre os atentados ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, e aos 
ataques em Paris, em novembro de 2015. Milhares de pessoas morreram sem saber por que, 
vítimas de uma forma de constituição social que vivemos e da qual participamos consciente ou 
inconscientemente. Isso não nos isenta de lutar por um mundo no qual haja espaço para todos. 
Não um espaço de violência, mas um espaço de convivência solidária.
3 Formas de violência com o outro: bullying 
Entre as formas de violência, uma das mais evidentes e que toma corpo na sociedade é 
o bullying, que vem sendo estudado principalmente no ambiente escolar (por isso também 
que o bullying tem uma literatura mais desenvolvida no aspecto estudantil) e que, depois, 
passou a ser visto em outros espaços, como nas empresas, na rua, em atividades sociais etc.
Antes de adentrarmos mais profundamente na discussão sobre essa forma de violência, 
vamos conceituar o bullying pelas palavras de Constantini (2004) e Fante e Prudente (2015): 
Bullying é o nome dado a um tipo de violência entre pares que possui características 
próprias, tais como intencionalidade, frequência e ausênciade motivação que 
justifique o comportamento agressivo. Essas são características que diferenciam 
o bullying de outros tipos de violência [...] Não são conflitos normais ou brigas que 
ocorrem (...) mas verdadeiros atos de intimidação preconcebidos, ameaças, que 
sistematicamente, com violência física e psicológica, são repetidamente impostos a 
indivíduos particularmente mais vulneráveis e incapazes de se defenderem, o que os 
leva no mais das vezes a uma condição de sujeição, sofrimento psicológico, isolamento 
e marginalização (CONSTANTINI, 2004, p. 69 apud CAMARGO, 2015, p. 51-52).
O termo bullying, de origem inglesa, é utilizado para determinar um fenômeno (uma 
forma de violência escolar) bastante peculiar, com características definidas e que está 
em expansão; não indica um conflito normal ou uma simples briga entre estudantes, 
mas sim um tipo de comportamento que dá origem a ataques físicos, psicológicos, 
sexuais), de forma intencional e repetitiva, contra alguém que, geralmente, não tem 
condições de se defender (FANTE; PRUDENTE, 2015, p. 9).
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Para trabalhar com o fenômeno do bullying, é necessário conhecê-lo e aprofundar 
estudos que já existem sobre ele. A partir dessa consciência desenvolvida, é possível buscar 
a implantação de políticas públicas preventivas antes de punir (FANTE; PRUDENTE, 2015). 
Porém, ao mesmo tempo, deve-se ter presente que, em muitos casos, a busca por prevenção 
pode também provocar efeitos mais difíceis de serem combatidos do que a ação de bullying 
propriamente dita (ROSA, 2015). 
Toda prevenção deve estar baseada em um grande conhecimento de causa, de 
profundo respeito e de que a defesa não pode expor as pessoas a uma situação que as 
possa levar a um problema maior do que o próprio problema. No dizer de Rosa (apud 
FANTE; PRUDENTE, 2015, p. 17-18), é o que se faz com as medidas socioeducativas, 
que no Brasil têm causado maiores danos a jovens e adolescentes, pois: “[...] 
desconsideram o sujeito e, especialmente, a existência de demanda para, em nome da 
salvação moral, do bem do adolescente, proceder-se o fomento de sua desubjetivação. 
De regra, impõem-se tratamento, educação, disciplina, independentemente do sujeito, 
então objetivação”.
Deve-se ter cuidado para que se eleve a condição do ser humano, pois se por um lado 
combatemos o bullying, por outro, podemos causar injustiças ou gerar uma nova forma de 
prejudicar as pessoas. Toda ação deve ter como prioridade e centro o ser humano, pois assim 
não se reforça a linguagem corrente de que muitos menores ou pessoas que cometem atos 
infracionais têm “os Direitos Humanos para defendê-los” e que a população em geral, por 
outro lado, não tenha esses direitos. Não é esse o propósito. O que se busca é uma forma de 
reparar o dano, quando possível, remediar seus efeitos e levar o responsável ao cumprimento 
da legislação, na qual exista o direito à defesa, a uma real melhoria das condições de vida das 
pessoas e seja um motivo de não continuidade de opressão e desmascaramento. 
4 A relação entre as pessoas e o ambiente
Os motivos pelos quais uma pessoa se torna violenta nos levam a dois pontos de atenção: 
a relação entre as pessoas e o ambiente. Claro que o ambiente não é determinista, mas é 
fonte de influência comportamental. Não podemos cair no princípio da determinação, pois, 
se assim fosse, em ambientes nos quais existe a correção, as pessoas seriam sempre boas 
em suas ações, e em ambientes nos quais houvesse desvios sociais, as pessoas seriam todas 
infratoras. O que devemos entender é que nada nos garante que uma pessoa boa hoje o seja 
amanhã e vice-versa. A única garantia que se tem são os fatos presentes, a confiança que 
se pode depositar em quem ou com que convivemos. “Quando algum episódio de violência 
chega aos jornais, é como se passasse através de uma lente de aumento, que o torna um sinal 
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alarmante de degradação da sociedade. Na onda emotiva de um fato noticiado em um jornal 
é feito um juízo sumário sobre a degradação moral de uma geração” (MURATORI, 2007, p. 5).
Essa é uma tendência humana, somos seres de juízo e de julgamento. O problema é 
quando nosso julgamento não permite espaço para errar e, com os erros, injustiças e formas 
de exclusão social podem ser cometidas. A sociedade deve buscar formas de, ao julgar, 
possibilitar a acolhida para seu meio, e que as pessoas acometidas de violência saibam 
entender que a violência não está fora de contexto, ela não surge do nada. Alguma coisa 
falhou na sociedade e fez com pessoas viessem a agir violentamente.
Várias atitudes básicas vedam-nos a capacidade de julgamento. O fanatismo religioso, 
o fundamentalismo e a doutrinação ameaçam-nos de diversos lados [...] (LIBANIO, 
2015, p. 33) 
Vivemos em sociedade em que as informações circulam com elétrica rapidez. Isso os 
dificulta a reflexão (Ibid, p. 93)
O Brasil do futuro será sadio à medida que souber viver na ética a cidadania que lhe 
compete. Sem ética, a vida social perde o rumo. Sem cidadania, fica-se entregue ao 
intimismo vulnerável. Conjugando ambas, conseguir-se-á encontrar os rumos da vida. 
(Ibid, p. 171)
As pessoas são falhas, têm suas dificuldades, são passíveis de sentimentos, e sua inserção 
social faz com que tenham uma tarefa de defesa. Mas isso não impede de acreditar que as 
pessoas, diante de situações de violência ou bullying, não possam agir. Isso é o que expressa 
Alonso (2002) ao fazer uma profissão de fé na capacidade do ser humano de fazer com que 
as ações saiam de uma possibilidade para uma ação. A ética deve sempre ser pautada na ação 
de cada um para que possa beneficiar a todos.
4.1 Princípios de relação e liberdade
Somos seres relacionais e precisamos disso para viver. No entanto, mesmo precisando 
das relações, elas não são menos problemáticas para nós. Ao nos relacionarmos, temos o 
encontro de duas ou mais liberdades e, do mesmo modo que essa liberdade busca sempre 
expandir-se e abrir-se cada vez a mais horizontes, ela pode, quando em relação com outros, 
vir a fluir e a causar dificuldades nas relações.
O bullying e o cyberbullying não são fatos normais e devem ser combatidos e 
desmotivados. Não se pode achar que seja um problema do outro o fato de ele estar 
sofrendo uma ação de bullying. Tal situação é social e não deveria ser compartilhada 
e admitida, pois o que uma pessoa passa hoje pode ser vivida por qualquer um de 
nós amanhã.
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O fenômeno do cyberbullying é recente, pois surge com a expansão da internet. Cada vez 
mais, a internet, o computador e os smartphones nos possibilitam o contato com o mundo. 
Isso é bom, pois podemos saber o que se passa em nosso contexto ou muito distante dele, 
quase que automaticamente ao acontecimento, mas, também, pode ser fonte de bullying e 
de flagelo para as pessoas, quando mal utilizado. 
A função de todos os meios de comunicação, como já foi dito, é realizar o contato 
entre as pessoas, e esse contato, em tese, deve ser positivo, ético. Mas a divulgação de 
intimidades, de fatos inverídicos, boatos, fotos não autorizadas, entre outros, caracterizam-
se como mau uso da ferramenta. Trata-se de um desvio de função. Só pode-se utilizar o que é 
permitido, autorizado. 
Também por isso, ao tomar como referência alguma imagem ou algum texto da internet, 
mesmo que se possa retirar de um site de busca aberto, a fonte deve ser sempre ser citada. 
Neste texto, por exemplo, todas as citações estão referenciadas; da mesma forma, quando 
você se utilizar deste ou outros materiais devefazer a referência completa ao autor do 
conteúdo. A simples cópia pode ser considerada pirataria, plágio etc.
4.2 A perda de privacidade
É muito comum, cada vez mais, as pessoas perderem a sua privacidade, pois tudo 
pode ser captado, difundido, divulgado. Os fatos podem ser distribuídos e nem ao menos 
consegue-se saber quem os divulgou, o que dificulta a reação da vítima. O pior é que se tem 
uma sensação de impotência diante de uma situação cada vez mais “comum”, até muitas 
vezes admitida como “normal ou corriqueira”. Ventura e Fante (2015, p. 25-26) afirmam: 
O cyberbullying, expressão criada pelo canadense Bill Belsey, ou bullying eletrônico, 
ou ainda crueldade social on-line, está elevando o perigo e os efeitos do bullying a 
um novo patamar, em que ninguém pode sentir-se em segurança. A internet e os 
celulares permitem a ubiquidade que pode verdadeiramente infernizar a vida das 
vítimas e expor a vexames 24 horas por dia.
O que ainda pode causar maior desconforto é o fato de as pessoas, ao acharem “normal”, 
nada fazerem para combater esse tipo de violência, abandonando a vítima. Como dito, se 
determinados fatos não nos causarem indignação, passamos a pensar que tudo está bem 
quando não está. O normal é criarmos relações plenas, edificantes de nosso ser, e não 
relações que dificultem nosso convívio social; não criar relações que venham prejudicar uma, 
várias pessoas ou instituições sociais. 
Pesquisa realizada no Brasil pela ONG Plan International identificou que no ambiente 
virtual ocorre mais bullying do que no ambiente físico escolar: 31% contra 17%. Dos 
5.168 estudantes participantes da pesquisa, 17% foram vítimas de cyberbullying, 
18% foram autores e 4% foram vítimas e autores ao mesmo tempo (VENTURA; 
FANTE, p. 28).
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Para resolver tais situações, as pessoas devem se conscientizar que o bullying e o 
cyberbullying podem ser considerados crimes, que não são atos aceitáveis e, por isso, não 
devem ser difundidos. Por um lado, não se pode simplesmente condenar, mas, por outro, 
não se pode aceitar como algo normal. Não basta fechar os olhos para uma realidade que 
nos assola diariamente. Segundo a Anchor Youth Centre e NTCE (2007, p. 7 apud VENTURA; 
FANTE, 2015, p. 45), “a melhor estratégia é formar a consciência (das pessoas) e ensinar-lhes 
a usar bem a respectiva liberdade: escolher o que é benéfico e evitar o inapropriado e o que 
pode fazer-lhes mal”. 
Porém, não se deve admitir a teoria do caos total. O que vimos nesta aula nos traz dados 
preocupantes dos quais não podemos fugir e aos quais devemos estar atentos. No entanto, 
devemos ter sempre presente a perspectiva da esperança e colher o que as mídias sociais 
nos trazem de bom, como: livros, fotos, situações de bons exemplos e convívios. De qualquer 
modo, também sabemos que pornografia, violência, assaltos, assassinatos etc. são, muitas 
vezes, combinados pelas redes sociais. 
Podemos pensar e compreender as questões decisivas que estão em jogo em 
nosso mundo, mas também podemos traduzir [...] no que Edgar Morin, depois de 
outros, chamou de necessidade de encontrar um princípio de esperança. Princípio 
de esperança ao qual devemos atribuir a mesma importância que ao princípio de 
responsabilidade que, graças a Hans Jonas, esteve no cerne das conscientizações 
ecológicas dos últimos anos. Quanto mais se acumula os desafios, mais os fatores de 
angústia são importantes, e mais essa questão esperança torna-se decisiva (MORIN; 
VIVERET, 2013, p. 31).
Antes de qualquer conclusão que se tenha sobre a violência e o bullying, é preciso 
refletir que, partindo de pressupostos éticos, uma vez que a ética é o conhecimento 
humano que nos leva a um convívio melhor, tanto uma situação de bullying como de 
violência nos descaracterizam como seres éticos. É preciso que a sociedade busque 
formas de convívio com tudo o que socialmente se conseguiu construir e que, antes 
de condenar um meio de divulgação e de difusão de ferramentas sociais que temos, 
devemos acolher seus benefícios.
Pensando a ética como uma forma de nos possibilitar o bem e o bom convívio social, 
de modo algum ações de violência, de cyberbullying ou mesmo de bullying são ou podem 
ser admitidas. De nenhum modo essas ações nos levam a viver melhor socialmente ou nos 
auxiliam para um bom convívio social, razão última de qualquer ética. E no dizer de Libanio 
(2015, p. 168-169):
A contingência humana se constrói de alegrias e sofrimentos, de dores e gozos, de vida 
e de morte. Todo um marketing mercadológico vem batendo na tecla do hedonismo 
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sem limites, da intensificação do prazer, da abolição total de qualquer sofrimento e 
renúncia. Quer chegar mesmo a superar a própria morte. Em contraposição, há o 
princípio da realidade. Não se trata de contemplá-lo unicamente no campo psicológico, 
na esteira de Freud, mas erigir um princípio ético. [...] A ética da realidade é também 
a ética do limite.
Parece-nos esse o grande desafio que precisamos aprender e entender: que também 
temos limites e que estes devem ser vividos e aceitos por todos, para que possamos exigir a 
sociedade que desejamos para viver e conviver bem.
Considerações finais
Não podemos concluir nossa aula pensando que não há esperanças. Felizmente, se 
por um lado as relações humanas criam determinadas circunstâncias, por outro, a própria 
sociedade cria formas de aproveitar o que há de bom: redes sociais, internet, relações 
humanas etc., para que as pessoas possam viver bem ou até melhor do que se vive. Devemos 
aprender que as tecnologias e o que delas resulta deve beneficiar a sociedade. 
Tudo o que se produz ou se produziu vem com a chancela social e para ela deve retornar. 
Cabe a cada um e à coletividade fazer com que o que a sociedade tem e é um direito seu seja 
partilhado para o enriquecimento de todos. A internet serve de fonte de conhecimento, de 
divisão de dados, enfim, de enriquecimento de todos e da própria humanidade. 
Nessa perspectiva é que temos o enriquecimento ético de nossas relações sociais. 
Entender que todos “ganham” com o que é disponibilizado social e culturalmente e que o 
uso desses dados é de fundamental importância para todos nós é o grande desafio do início 
desse século e, quem sabe, no decorrer de todos esses próximos 100 anos. Não sabemos o 
limite do que temos, sabemos que existem perspectivas. Utilizar com o devido discernimento 
é o papel das leis e da ética. Cabe à sociedade entender essa forma de agir e fazer com que 
essas realidades sejam realmente para todos.
Referências
ALONSO. Féliz Ruiz. Revisitando os fundamentos da ética. In: COIMBRA, José de Ávila Aguiar. 
Fronteiras da ética. São Paulo: Ed. SENAC. 2002.
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Aula 07
Duas teorias éticas
Objetivos Específicos
• Diferenciar os modos de tomar decisão em dilemas éticos na atualidade.
Temas
Introdução
1 Dilemas éticos e linhas de demarcação 
2 Ética da convicção: situações comuns do dia a dia (princípios, valores e ideais)
3 Ética da responsabilidade: dilemas e análise circunstanciais
Considerações finais
Referências
José Antônio Fracalossi Meister 
Professor Autor
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Introdução
A existência de um dilema é sinal de que estamos entre duas ou mais posições 
complementares, desafiantes, indignantes, mas nem sempre conflitantes. Os dilemas nos 
levam a tomar decisões e, diante delas, nem sempre se sabe o que fazer. 
A partir dessas concepções, temos várias perspectivas de reflexão, e é nesse sentido 
que a ética nos importa, pois nos auxilia na tomada de decisões. Sem ética, nossos dilemas 
ficam sem uma solução adequada e nossas questões do dia a dia passam despercebidas, não 
resolvidas e sem um consenso definido. 
Esta aula tem o objetivo de nos auxiliar na resolução de dilemas importantes e, por isso, 
serão apresentadas duas teorias éticas: a ética da convicção e a ética da responsabilidade. 
Entenderemos o que são essas concepções e como elas podem nos ajudar na solução dos 
desafios impostos pelos nossos dilemas.
Esses dois grandes princípios da ética (convicção e responsabilidade) foram postos na 
discussão ética por Max Weber (1864-1920). Posteriormente a Weber, Hans Jonas (1903-
1993) propõe o princípio da responsabilidade para dentro de perspectivas atuais, como na 
bioética, na vida, na tecnologia e nas ciências, visando a garantia das gerações futuras.
1 Dilemas éticos e linhas de demarcação 
Para chegar a um entendimento conceitual sobre dilema, precisamos realizar algumas 
perguntas fundamentais: 
• Qual é(são) o(s) problema(s)? Como se apresenta(m) à nossa individualidade?
• Uma vez surgido o dilema, como superá-lo? E que valores são importantes para 
realizar essa superação?
• Quais são os envolvidos nesses dilemas?
• Diante da(s) possibilidade(s), qual(is) a(s) melhor(es) a serem realizadas?
• Quais são as consequências de uma tomada de decisão ou de outra? 
Uma vez realizado o processo de delimitação e esclarecimento sobre os problemas, é 
possível ver quais alternativas foram criadas para sua superação. Assim, conforme Japiassú e 
Marcondes (2001, p. 75):
Dilema (gr. dilemma, de di: duas vezes, e lemma: princípio, premissa) 1. Forma de 
alternativa da qual, dos dois membros aceitos como premissas ou princípios, só 
podemos tirar uma consequência. 2. Situação embaraçosa em que nos encontramos, 
devendo escolher necessariamente entre dois partidos ou pontos de vista rejeitáveis 
caso não fôssemos obrigados a escolher.
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A humanidade sempre se deparou com dilemas e sempre os vivenciará. Por isso, a 
reflexão ética ajudará a posicionar os dilemas para que eles sejam determinados e para que a 
humanidade avance e busque respostas. Sem um dilema, não há avanço, a ciência não evolui 
e o ser humano deixa de realizar descobertas importantes. Por isso, podemos compreender o 
que Weber1 nos propõe como reflexão sobre o papel da ética e as duas teorias estudaremos 
nesta aula:
Para Weber, toda ação orientada pela ética pode se subordinar a duas máximas 
diversas e irredutivelmente opostas: ética da responsabilidade e ética da convicção. 
No entanto, uma ética não exclui necessariamente a outra, a ética da responsabilidade 
não é a ausência completa de convicção e a ética da convicção não é a completa 
ausência de responsabilidade. Ocorre que há uma relevante oposição, tendo 
em vista a irracionalidade ética do mundo, entre a atitude de quem se conforma, 
exclusivamente, pela ética da responsabilidade ou pela ética da convicção (WEBER, 
1998 apud COSTA, 2009, p. 23).
Questionar-se por si, pelo o que se é e como constituir a vida tem levado a humanidade 
desde sempre a dilemas, até o momento, irresolutos. Se um dia serão resolvidos, não podemos 
afirmar, mas isso em nada se traduz em deméritos para a humanidade. Esses dilemas estão aí 
a exigir respostas, sejam de que ordem forem. 
O que se pretende, nesta aula, é justamente oferecer uma forma de preencher os 
questionamentos do ser humano em duas vertentes. Pela ética da convicção, em que 
todos nós, em algum momento, nos pautamos; é por meio dela que em certas situações 
da vida encontramos a possibilidade de agir e a certeza sobre nossas ações; e pela ética 
da responsabilidade, que surge desde quando nos tornamos seres conscientes e livres que 
percebem que tudo o que existe atualmente depende de continuidade ou não, por decisão 
exclusiva do ser humano. 
Nossa responsabilidade é tanta que estamos com o “relógio da vida” em mãos. Cabe a 
nós preservar ou destruir o planeta; o ideal seria trabalhar para a sua preservação, para que 
as gerações futuras possam dispor dos mesmos benefícios que recebemos quando chegamos 
nesse planeta.
Pensar em dilemas é pensar sobre a vida e o modo como cada pessoa pode lidar 
com as realidades que enfrentará. Nesse sentido, o dilema exige um pensamento ético 
para que seja possível encontrar diversas formas de responder aos desafios da vida.
1 Um dos fundadores da fase moderna das ciências sociais, Max Weber (1864-1920) não é apenas considerado um dos mais eminentes 
analistas da sociedade moderna, mas também um dos mais genuínos pensadores de todos os tempos. A discussão dos temas continua até os 
nossos dias, com um crescente vigor. Porquanto as teses de Weber são de relevância universal, a sua metodologia é tão importante quanto as 
suas conclusões. A sua obra é de permanente interesse, não apenas para o historiador, o economista e o sociológico, mas para todos aqueles 
que se preocupam com os mais profundos dilemas da sociedade moderna (WEBER, 1996, contracapa).
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O dilema torna-se ainda maior, pois é resultante da racionalidade, que tem suas 
limitações e suas dificuldades. Nem sempre o que é proposto após uma reflexão ou resposta 
tem o poder de convencimento e a devida certeza ou argumentação irretocável. 
Para uma resposta convincente, que seja uma alternativa de solução para o dilema, 
é necessário que se estabeleçam parâmetros ou possibilidades para os fins que se deseja 
alcançar. Pensar, raciocinar e fazer ciência é a forma por excelência que a humanidade 
conseguiu para buscar a verdade e superar seus dilemas. Por outro lado, este viés é limitado, 
pois nem sempre a resposta tem validade eterna. 
Nem mesmo hoje a ciência tem essa pretensão. O que ela busca e afirma tem sua validade, 
mas sabe-se que tal validade se aplica para responder perguntas determinadas e do tempo 
presente. Conviveremos, portanto, eternamente com dilemas, incertezas e dificuldades para 
responder às nossas questões. 
A racionalidade é um dos pontos-chave na obra weberiana, pois o autor procurou 
descrever e compreender o processo de racionalização no direito, na economia,na 
religião e na política. A racionalização no direito atingiu seu ápice no mundo ocidental 
e buscou adequar o direito à necessidade de um mundo previsível, calculável e 
cognoscível, não a partir do pensamento mítico mágico, mas pelo pensamento 
científico (COSTA, 2009, p. 23).
Cabe a política um destaque especial no tocante aos dilemas, pois são um problema 
tanto no Brasil como no restante do mundo. A política gera incertezas, desiquilíbrios nos 
mais diferentes âmbitos sociais. Esses dilemas geram as diversas situações, pois candidatos, 
governos fazem promessas que muitas vezes não podem ser cumpridas, ou até mesmo são 
quase improváveis em seu cumprimento. Caberia a sociedade organização, por meio de seus 
mais diferentes grupos organizados: sindicatos, ONGs, igrejas, entre outros, pautarem uma 
forma de agir social em vista de beneficiar a todos e não somente alguns.
Por política entendemos toda e qualquer forma de organização que as pessoas 
fazem com o intuito de tentar resolver seus problemas e viver da melhor forma possível. 
Nesse sentido, todos nós somos políticos e fazemos política. Dessa forma, os dilemas 
que enfrentamos passam a ser políticos, pois são resultantes de situações levantadas 
em nosso convívio e em nossas atividades sociais.
Em ética, não há como ter uma posição única e uniforme – considerada correta e que 
possa ser usada por todas as pessoas em suas decisões. Deparamo-nos com diversos dilemas 
e vamos tomando decisões que nos conduzem a agir do modo mais correto para nós, naquele 
momento. Entendemos que existem muitas situações difíceis e que nem sempre temos 
a certeza absoluta sobre as decisões a tomar, mas acabamos aceitando e acatando essas 
realidades, como se elas fossem as únicas possíveis e “verdadeiras”. 
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Por isso, vamos refletir um pouco sobre diferentes possibilidades de viver e 
pensar eticamente.
2 Ética da convicção: situações comuns do dia a dia 
(princípios, valores e ideais)
A ética da convicção coloca a responsabilidade de escolha – tanto do que deve ser feito 
como da maneira como fazer – exclusivamente sobre os indivíduos, para que cada um em 
particular, escolha a partir do que crê, com base nos seus próprios valores e sem se preocupar 
com os resultados. Ou seja, não importa se isso é um bem ou um mal, o que importa é que 
a pessoa terá sempre como referencial os seus princípios, sem preocupar-se com os efeitos 
de suas ações. 
No entanto, como Srour (2013) analisa, podemos nos encontrar diante de uma situação 
em que não há somente duas escolhas, uma boa e uma má. Às vezes, nos deparamos com 
situações nas quais duas ou mais realidades podem ser boas ou más. Como o próprio autor 
exemplifica: “priorizar uma ascensão profissional ou a família? Comprometer-se com um 
colega injustiçado e correr o perigo de perder o emprego e o sustento da família? Pagar uma 
dívida ou emprestar para um amigo? Distribuir dividendos ou investir em pesquisa?” (SROUR, 
2013, p. 97).
Para alguns, as respostas para essas perguntas poderiam ser dadas com bastante 
tranquilidade, considerando um pensamento a partir de princípios individualistas. Mas 
pensemos além de situações puramente individuais e sigamos adiante, pensemos em 
princípios que devem servir a todos, isto é, universais. Para tanto, vale fazer a pergunta: e se 
fosse comigo a situação de pesquisa, emprego, família, filhos etc.? A resposta não pode ser 
dada de modo simplista.
Age de maneira racional referente a fins quem orienta sua ação pelos fins, meios e 
consequências secundárias, ponderando racionalmente tanto os meios em relação 
às consequências secundárias, assim como os diferentes fins possíveis entre si: 
[...] Age de maneira puramente racional referente a valores quem, sem considerar 
as consequências previsíveis, age a serviço de sua convicção sobre o que parecem 
ordenar-lhe o dever, a dignidade, a beleza, as diretivas religiosas, a piedade ou a 
importância de uma ‘causa’ de qualquer natureza (WEBER, 1991, p. 15-16).
A ética da convicção vai pautar-se por valores que levam o tomador das decisões a formas 
absolutas de posicionamento, isso porque suas consequências não são questionadas. Ou até 
melhor, as consequências são pouco relevantes para a tomada de decisão. 
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Figura 1 – A ação de cada um
Toda ação realizada por uma pessoa tem sempre um resultado. As consequências do 
que faço podem ter menor ou maior grau para a minha pessoa, mas sempre haverá alguma 
consequência. A ação terá maior dano se envolver outras pessoas, a natureza, a sociedade, 
a empresa e assim por diante. O importante é sabermos que não estamos isentos das 
consequências; no entanto, dentro dessa perspectiva ética, isso não é levado em consideração 
como critério para a tomada de decisão e de escolha do que será feito.
O partidário da ética da convicção só se sentirá ‘responsável’ pela necessidade de 
velar em favor da chama da doutrina pura, a fim de que ela não se extinga de velar, 
por exemplo, para que se mantenha a chama que anima o protesto contra a injustiça 
social. Seus atos [...] visam apenas àquele fim: estimular perpetuamente a chama da 
própria convicção (WEBER, 1998, p. 114 apud COSTA, 2009, p. 25).
Comparando as duas éticas, pode-se afirmar que:
 A base dessas duas modalidades de ética está nos tipos de ação social. A ação social 
racional orientada a fins é a base da ética da responsabilidade e a ação social racional 
orientada por valores está na base da ética da convicção. Convém advertir que esses 
tipos de ação social são tipos ideais, portanto, não são modelos ideais de conduta, 
mas conceitos puros (extraídos do mundo empírico) que procuram ordenar aspectos 
recorrentes da realidade, no entanto, não existem empiricamente na sua pureza 
conceitual. São ferramentas que possibilitam a pesquisa sociológica (WEBER, 1991, 
apud COSTA, 2009, p. 24).
Há duas maneiras de pensar a ética que tomam impulso no nosso contexto e que se 
tornaram fundamentais para a tomada de decisões. Assim, se a ética da convicção nos ajuda 
a viver e conviver com o que temos para enfrentar, a ética da responsabilidade nos chama 
a atenção para os nossos valores, que nos auxiliam na tomada de decisões, mas levando 
sempre em conta as consequências das ações tomadas. Por meio da ética da convicção, a 
pessoa age porque assim está determinado ou preestabelecido no valor da ação conforme 
uma doutrina religiosa, política etc.
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Quando estamos convictos, temos que nos perguntar em que base se justificam nossas 
convicções. Ser convicto não é estar com a verdade nem com a ética, significa uma possibilidade 
de agir eticamente. A responsabilidade por nossos próprios critérios nos leva a uma maior 
possibilidade de acerto e de chegar à eticidade, por sua própria necessidade de ter critérios e 
valores universais.
A ética da convicção leva o seu praticante à admissão de valores absolutos. Nesse 
sentido, as religiões são um dos parâmetros por excelência dessa forma de pensar e viver 
eticamente. Exceto que, nas religiões, há um fato que é visto pela ética da convicção que não 
se coaduna plenamente. Para a ética da convicção, os resultados são pouco relevantes. Para 
as religiões – por pregar-se o amor, a fraternidade, a vida eterna etc. –, os seres devem ser 
respeitados e não se pode depreciar a vida de maneira alguma, ou seja, não se pode tirar a 
vida ou elevá-la a uma condição de indignidade. A religião deve ajudar as pessoas a atingir 
uma forma de elevação deseu ser, uma condição superior; quando sair dessa condição, deixa 
de ser religião.
Outra questão que deve ser analisada quando se pauta pela ética da convicção é 
que algumas pessoas tomam as decisões e fazem suas escolhas, mas não assumem a 
responsabilidade, isto é, atribuem-na sempre a outrem, isentando-se das consequências. Se 
admitíssemos esse princípio de ética, teríamos muitas dificuldades em termos um efetivo 
convívio social. Mas ele existe, é vivido por muitas pessoas e serve para a tomada das decisões. 
O problema é quando chegamos às consequências e estas são classificadas negativamente. 
Nesse caso, temos uma difícil solução, pois não é possível se isentar. Como ser livre e 
cidadão se não tomar decisões e como ser responsável se não assumir a responsabilidade por 
essas ações? Ao mesmo tempo, existe a convicção de que, ao tomar uma decisão, acredita-se 
ser ela a correta. Se nos isentarmos das consequências, não poderia haver a responsabilização 
legal (proveniente dos julgamentos jurídicos).
A ética da convicção é uma ética do “tudo ou nada”, se funda exclusivamente a partir 
do aspecto valorativo dos objetivos, da “pureza das intenções”, pouco se importando 
com as condições objetivas para a realização da causa. É a-histórica por ser 
descontextualizada, não levando em consideração as particularidades conjunturais 
(ARGUELLO, 1997 apud COSTA, 2009, p. 25).
Nesse conceito, existe uma declaração muito forte e que nos chama atenção para 
quando utilizarmos o argumento da ética da convicção na tomada de decisões, ou até mesmo 
buscarmos fazer uma defesa do que lutamos para realizar. O “tudo ou nada” expresso por 
Arguello (1997 apud COSTA, 2009) nos leva para a reflexão ética de que agimos de determinada 
forma porque estamos convictos de que esta é a maneira correta.
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3 Ética da responsabilidade: dilemas e análise circunstanciais
Conforme a ética da responsabilidade, a preocupação consiste em ter atitudes coerentes, 
em que é possível visualizar as consequências das ações e cujos resultados favoráveis sejam 
passíveis a um maior número de interesses.
A ética da responsabilidade tem como intuito uma finalidade. Um dos pensadores 
que despertou a consciência para grandes fins foi Hans Jonas. Esse teórico faz sua reflexão 
considerando o que a civilização tem produzido e analisa especialmente as produções da 
ciência e da tecnologia. Essas produções não são vistas por ele de forma negativa, mas o 
teórico salienta que é necessário ter a devida responsabilidade sobre elas, pois nem sempre 
consegue-se aferir o alcance de tudo o que é produzido com a tecnologia e suas consequências. 
Hans Jonas escreveu um livro sobre a responsabilidade e pode-se apreciar de seu 
pensamento ideias muito importantes para o que temos a refletir tanto nesta aula como 
em nossa vida, em especial sobre conhecimento, progresso, ciência, técnica, a vida e seus 
fundamentos e especialmente a decisão ética.
Ser responsável significa agir com prudência, a fim de não alterar o que se construiu 
historicamente e retroceder ao estágio originário. Por isso, a responsabilidade exige o 
temor como uma forma de cautela. O agir funda-se em uma máxima que garanta o bom 
convívio como um todo e, especialmente, o futuro.
A ética da responsabilidade, nesse sentido, terá, como tarefa, a análise de situações reais, 
buscando formas de antecipar o que as ações tendem a provocar. “Quem atua injustamente 
se danifica a si mesmo e envelhece sua alma” (JONAS, 1995, p. 275). Como resultado, é 
possível, então, atingir um bem maior ou evitar um mal maior: “onde está o limite, isso é uma 
coisa que por este momento não se pode dizer, porém não se deve chegar a ele [...]. Porém, 
está muito claro – e este é um problema fundamental” (JONAS, 1995, p. 295-296).
A responsabilidade diante do que se constrói deve ser muito bem balanceada para que 
decisões não sejam tomadas sem fundamentação. O objetivo com a ética da responsabilidade 
é que os riscos sejam calculados ao máximo e que se atue com prudência e precaução, porque 
vive-se na incerteza e, diante dela, deve-se administrar as ações. A legitimidade dependerá 
sempre dos resultados positivos, da eficácia alcançada.
A ética da responsabilidade (Verantwortungsethik) é aquela que o homem de ação não 
pode deixar de adotar; ela ordena a se situar numa situação, a prever as consequências 
das suas possíveis decisões e a procurar introduzir na trama dos acontecimentos 
um ato que atingirá certos resultados ou determinará certas consequências que 
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desejamos. A ética da responsabilidade interpreta a ação em termos de meios fins 
[...] se preocupa com a eficácia, e se define pela escolha dos meios ajustados ao 
fim que se pretende. [...] O problema da escolha dos valores nos introduz a ética da 
convicção (Gesinnungsethik), que incita a agir de acordo com nossos sentimentos, 
sem referência, explícita ou implícita, às consequências (ARON, 2000, p. 470-472 apud 
COSTA, 2009, p. 24).
Diferentemente da ética da convicção, a ética da responsabilidade busca sempre o 
entendimento de que, para a elaboração do pensamento ético, é necessário compreender os 
meios utilizados para chegar a ele e quem são os responsáveis pelo que se faz e pelo o que 
está ocorrendo. Conforme Srour (2013, p. 99): 
A máxima da teoria ética da convicção indaga: as ações condizem com as obrigações? 
Procura verificar se existe ou não conformidade com deveres universalistas, com 
prescrições ou virtudes consensuais. [...] A teoria ética da responsabilidade, por sua 
vez resulta de outro molde. Indaga: quais as consequências premidas dos atos? Opera 
com base em um cálculo racional: avalia os riscos, os custos e os benefícios envolvidos 
para atingir fins universalistas, ou objetivos consensuais que também interessam a 
tosos os seres humanos. São legítimos então os resultados que são objetivamente 
positivos. (SROUR, 2013, p. 99)
A teoria ética deve estar fundamentada ontologicamente na existência de alguns bens 
objetivos e antropologicamente no sentimento humano. A lei moral converte em dever 
aquilo que a inteligência mostra que é algo por si mesmo digno de ser e que necessita de 
minha ação. É preciso ser tocado pelo sentimento e dele brota o dever. Eis de onde surge, 
para Jonas (1995), essa visão de responsabilidade ética.
A responsabilidade será maior ou menor, dependendo do poder e da influência que a 
ação humana pode causar. Ela depende também do saber, porque este determina a previsão 
de futuro. É sobre a responsabilidade que se funda não só em relação ao que aí está, mas 
especialmente em relação ao que virá. 
Uma ética da responsabilidade é, portanto, uma ética da reciprocidade, pois leva em 
conta, também, o interesse dos outros. A responsabilidade é o fundamento seguro sobre 
o qual se instaura a reflexão. Essa responsabilidade só pode ser exercida pelo homem, 
pois ele é quem age, e somente ele é capaz de tomar decisões e atuar sobre outros entes 
da natureza.
A ética da responsabilidade, especialmente em nosso contexto, nos chama para uma 
reflexão profunda sobre a possibilidade de destruição do mundo e da natureza, e isso é algo 
recente na história da humanidade. Assim, Jonas (1995) diz que estamos em uma situação 
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mais próxima do perverso fim. Se, por um lado, a capacidade de pensar do ser humano tem 
aumentado, também, como nunca visto até então, por outro lado, sua capacidade de agir 
conforme uma razão conservadora não acompanhou a velocidadedo pensar. É preciso um 
resgate do uso da natureza, mas com cuidado para que não se chegue a uma destruição total. 
Caso isso aconteça, a responsabilidade daria lugar à irracionalidade.
Figura 2 – Os dilemas da vida: decidir e decidir
SOLUÇÃO
A ética da responsabilidade tem uma grande e profunda possibilidade para desafiar 
o ser humano, pois exige que ele se desdobre em atenção para não cair em armadilha e 
pensar que os fins podem justificar os meios. Ou seja, que algo seja universal, mas, no fundo, 
é altamente individualista. Pensar, aprofundar, retomar todos os princípios assumidos é o 
desafio da responsabilidade.
Robert Henry Srour (2013) apresenta vários exemplos que nos levam a pensar em ética 
da convicção e da responsabilidade. Sendo assim, façamos um breve exercício de reflexão: 
Vejamos o caso da queimada de cana-de-açúcar:
Ao lado dos ecologistas que defendem o meio ambiente por uma questão de princípio 
e em nome das gerações futuras, uma vez que as queimadas emitem gases estufa, 
empobrecem o solo e matam animais silvestres [...], existem ecologistas de orientação 
utilitarista [...] para quem a fumaça das queimadas deixa no ar um mar de fuligem que 
afeta a saúde da população e agride a camada de ozônio. Não traz, pois o máximo 
de bem ao maior número, além de favorecer economicamente apenas uma minoria 
(plantadores e boias-frias) As duas teorias, aqui, confluem para a mesma posição 
(SROUR, 2013, p. 115).
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Antes de dar uma resposta, pense no que segue na primeira parte do problema: 
a. Ecologistas que defendem o meio ambiente por uma questão de princípio e 
em nome das gerações futuras, uma vez que as queimadas emitem gases estufa, 
empobrecem o solo e matam animais silvestres (SROUR, 2013, p. 115).
Para você, essa primeira parte da citação faz parte de qual tipo de ética? 
O trecho a seguir, extraído da citação, representa que tipo de ética?
a. Existem ecologistas de orientação utilitarista [...] para quem a fumaça das 
queimadas deixa no ar um mar de fuligem que afeta a saúde da população e agride 
a camada de ozônio. Não traz, pois o máximo de bem ao maior número, além de 
favorecer economicamente apenas uma minoria (plantadores e boias-frias) (SROUR, 
2013, p. 115).
As respostas estão no rodapé da página, mas, antes de consultá-las, tente exercitar-se 
com base no que foi visto em teoria até aqui em nossa aula2.
Considerações finais
Os dilemas existem e sempre existirão. Isso, por um lado, nos desafia a enfrentar uma 
situação de insegurança diante de uma série de atitudes que devemos e temos que tomar. 
Mas, tal insegurança torna-se motor propulsor de nossa vida e de nossa reflexão nas mais 
diferentes realidades que se apresentam em nosso dia a dia. Antes de ficarmos apavorados 
ou desanimados, devemos ter presente que a humanidade só saiu de estágio mais primitivo 
porque foi lançada a enfrentar desafios.
O mesmo pode-se dizer com as duas teorias éticas que trouxemos para nossa reflexão. A 
ética da convicção, tão importante para a solução de nossos problemas e, ao mesmo tempo, 
a humanidade não tem a sua tranquilidade porque não tem “a verdade absoluta”. Que bom 
seria se tivéssemos encontrado uma resposta que pudesse nos dizer “é isso” e fosse aceita 
por todos e tida como base da verdade. Mas, quanto mais estudamos, mais vemos o que 
foi eternizado pela frase atribuída a Sócrates: “só sei que nada sei”. Isso não significa que 
o estudioso fosse ignorante, ao contrário, sua frase se refere a não existência de verdades 
absolutas e que as pessoas não podem agarrar-se às suas verdades como se elas fossem 
comuns a todos.
Já para a ética da responsabilidade, encontramos outros aspectos que nos são caros 
na ética do século passado e, em especial, neste que estamos vivendo. A responsabilidade 
é um dos pilares da ética, pois não se pode pensar em alguém ético se não tiver condições 
para ser responsável. É a partir da responsabilidade de cada um que se pode construir um 
mundo melhor e, no dizer de Jonas (1995), um mundo que possa garantir a vida no presente e 
no futuro.
2 A primeira parte refere-se à ética da convicção e, a segunda, da responsabilidade.
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Essas duas éticas apresentadas são frutos ou resultados dos milhares de anos vividos pela 
humanidade. No decorrer desse tempo, muitos aprendizados foram adquiridos e assimilados; 
com isso, temos o discernimento para diferenciar as ações permitidas das ações ilícitas e o 
que é conveniente para as pessoas individualmente e para a coletividade. O querer é um 
ato livre e todas as pessoas têm seus desejos e vontades, os quais nem sempre podem ser 
realizados; devemos ter o devido equilíbrio para agir em conjunto.
Os dilemas possibilitados pela ética da convicção e da responsabilidade são muitos, mas 
é justamente por isso que existe a ética, para enfrentar os desafios e para que eles possam ser 
tomados, revistos e assumidos. A grande questão é que se vive em um clima de liberdade. Ela 
existe – não porque um ser superior nos deu para agirmos de um ou de outro modo –, para 
podermos desfrutar, errar, mas também acertar. Devemos partir sempre do pressuposto de 
que o ser humano busca e tenta promover atos benéficos e isso deve ser sempre considerado 
em primeiro lugar.
Ao chegarmos ao final desses dilemas éticos, temos que reconhecer que a busca por dias 
melhores também representa um dilema – e que bom que ele existe, pois podemos crescer, 
nos desenvolver, encontrar alternativas e um mundo melhor, o qual, com certeza, aparecerá, 
pois nós não desistimos da verdade e a verdade não nos isenta de a buscarmos. 
Temos o compromisso como seres racionais, como seres desafiados por nossa liberdade, 
pela ética, enfim, por nós mesmos, a partir em busca do tão esperado paraíso, que não sabemos 
se algum dia existiu. Se ele existe, sabemos que é somente de modo muito fragmentado 
(quando há harmonia, paz, vida digna etc.) e, em especial, o que mais se anseia é que ele 
venha existir. 
Os questionamentos levantados na reflexão feita no decorrer deste texto são intensos e 
desafiantes. Nada, porém, está perdido, como vimos ao estudar essas duas teorias éticas. O 
importante é não fecharmos os olhos para a realidade e para os desafios que ela nos propõe. 
Ainda, é necessário ter esperanças, perspectivas e saber que podemos melhorar, pois, assim 
como a humanidade levou tempo para chegar aonde chegou, precisamos também ter a 
devida paciência histórica, para que todos ou aqueles que têm a capacidade e o poder para 
tomar as decisões o façam, seja socialmente ou agindo em sua individualidade. 
Referências
COSTA, Maurício Mesurini da. Ética da responsabilidade e ética da convicção: proposta de 
uma racionalidade para o controle judicial de políticas públicas. Maringá. Revista Urutágua – 
acadêmica multidisciplinar – DCS/UEM, nº 19, set/dez-2009.
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 3. ed. Rio de Janeiro: 
Zahar, 2001.
JONAS, Hans. El principio de responsabilidad. Ensayo de una ética para lá civilización tecnológica. 
Barcelona: Herder, 1995.
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13
SROUR, Robert Henry. Ética empresarial. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 11.ed. São Paulo: Pioneira, 1996
Objetivos Específicos
Temas
• Analisar as morais organizacionais.
José Antônio Fracalossi Meister 
Ética, Cidadania e Sustentabilidade
Aula 08
Professor Autor
Ética nas organizações públicas e privadas
Introdução
1 Ética e cidadania no mundo dotrabalho
2 Ambivalência das morais empresariais
3 Ética no setor público e nas relações com entidades da sociedade civil
Considerações finais
Referências
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Introdução
Quando nos propomos a pensar uma ética em situações e realidades específicas, como 
no trabalho, nas organizações, nos setores públicos e privados, devemos nos questionar sobre 
o entendimento que circula entre as pessoas e o que especialistas no assunto debatem sobre 
esses conceitos. E, nesse sentido, pode-se levantar uma série de perguntas sobre os temas. 
Como iniciar um entendimento do conceito de ética nas organizações? Temos clareza do 
valor do bem público? Sabemos diferenciar o privado e o público e seus fins? Talvez a reposta 
mais fácil de ser elaborada seja a última, pois todos nós temos clareza do que nos pertence e 
do que pertence ao outro. 
No entanto, mais importante do que entender essas diversas realidades, precisamos 
compreender como intervir nelas para criar situações verdadeiramente éticas que levem à 
efetivação do nosso ser enquanto membros de diferentes realidades ou esferas de nossa vida 
pessoal e social. 
Vivemos também em um contexto global no qual as atitudes podem afetar não só a 
realidade local de uma empresa ou governo, mas da sociedade como um todo. Em casos de 
desastres ecológicos e políticos, por exemplo, as consequências podem ser para um país, um 
continente e até mesmo para o planeta. Vivemos em rede, estamos interligados e, por isso, 
o que afeta um pode afetar muitos, senão todos. A partir dessa perspectiva devemos pensar 
eticamente nesses variados contextos.
O mundo do trabalho passa por mudanças significativas. A alta tecnologia tem exigido 
das pessoas cada vez mais capacitação e preparo; quando isso não ocorre, gera-se um alto 
grau de desemprego. A sociedade e as relações trabalhistas precisam ser repensadas, já que 
a realidade atual não é a mesma de tempos atrás. O que se vê em termos de perspectivas são 
mudanças, indefinições e novas situações. Talvez as pessoas devam estar preparadas para 
outros contextos e para outras realidades além do emprego. O conceito de trabalho deve 
necessariamente ser outro e não mais o de simplesmente “ter um emprego”.
Temos vivido um tempo de descrédito, em especial quanto ao que denominamos 
público. Nosso conceito do termo infelizmente é falho: em geral, o público é considerado “de 
ninguém”. Ao entender o público desse modo, temos dificuldades em assumir o que é nosso. 
É preciso assimilar que todos os bens públicos são nossos e estão sob nossa responsabilidade, 
pois são coletivos. Assim, temos a possibilidade de deles desfrutar e a obrigação de cuidar 
para que todas as pessoas possam ter os mesmos benefícios de uso. Quando um bem coletivo 
é danificado ou destruído, o prejuízo é de todos. Essa consciência e responsabilidade devem, 
então, ser carregadas e difundidas por todos, visando sempre o bem comum. 
Vamos agora pensar o conceito de público, por duas vertentes: o público como o espaço 
no qual se convive e o público como a instituição, que é mantida pelos poderes constituídos. 
Assim, público pode ser entendido como:
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3
• lugar no qual as pessoas circulam, andam e convivem; e
• poder socialmente instituído, pelas formas de governança, de defesa da ordem e da 
segurança jurídica. 
Para o primeiro, os princípios éticos são mais difusos e vale, como regra, aquilo que 
vale para o convívio geral. Para o poder público, aos poucos vão instituindo-se códigos de 
ética e leis que estabelecem momentos em que as pessoas vão construir suas relações e 
suas obrigações.
1 Ética e cidadania no mundo do trabalho
Se perguntarmos para as pessoas se elas gostam de trabalhar, muitas poderiam dizer 
que não, outras diriam que sim, porque gostam do que fazem etc., mas, se perguntássemos 
se as pessoas prefeririam trabalhar ou não, a resposta poderia ser outra; talvez fosse que 
prefeririam não trabalhar. O trabalho frequentemente esteve ligado à história da humanidade 
como algo que não traz muitos prazeres e alegrias. 
No mundo greco-romano, por exemplo, o trabalho, em especial o trabalho braçal, era 
visto como não meritório e deveria ser realizado por escravos. O cidadão não deveria trabalhar. 
“A palavra trabalho tem origem no vocábulo latino tripalium, que era um instrumento de 
tortura, ou seja, três paus entrecruzados para serem colocados no pescoço de alguém e nele 
produzir desconforto” (CORTELLA, 2012, p. 17).
Infelizmente, até hoje ainda não estamos livres do trabalho escravo. Segundo a Organização 
Internacional do Trabalho – OIT (2015), 168 milhões de crianças continuam vítimas de trabalho 
escravo e 75 milhões de jovens, entre 15 e 24 anos, estão desempregados. Esses dados são 
sobre o trabalho infantil, que é algo chocante. Mas quantos adultos ainda são mantidos em 
trabalho escravo? Quantas pessoas pelo mundo trabalham em troca de moradia e alimentação, 
apenas? Quantas pessoas não têm espaço e liberdade para poder usufruir o que o trabalho em 
si deve proporcionar (lazer, realização, segurança etc.)?
O trabalho sempre existiu e sempre irá existir. Seja o mínimo (se pensarmos em uma 
sociedade totalmente tecnificada), seja o trabalho altamente braçal e que exige esforço físico 
e pode ser desgastante. Com o trabalho, as pessoas conseguem atender suas necessidades 
básicas (alimento, vestimenta, moradia etc.). 
Nesse sentido, é importante distinguirmos trabalho de profissão. Toda profissão está 
imbuída de trabalho, mas nem todo trabalho é uma profissão. A profissão exige que se tenha 
preparação, estudo, especialização e tem como intuito o ganho, geralmente econômico.
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São exemplos de profissões: professor, estivador, médico, advogado, enfermeiro, 
entregador etc. e aquele que faz disso sua forma de manter-se o faz em troca de um salário.
No Brasil, as profissões têm um reconhecimento legal e possuem um código de ética 
profissional. Isso é comum a todas as profissões reconhecidas como uma atividade pela qual 
o governo federal e a sociedade atribuem uma determinada responsabilidade legal. Essa 
situação é referendada pela Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 5º, XIII: “É livre o 
exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais 
que a lei estabelecer” (BRASIL, 1988). 
O reconhecimento legal da profissão existe, entre outros, para médicos, engenheiros, 
psicólogos e assistentes sociais. Para essas profissões há um código de ética instituído a 
partir de uma lei que as reconhece e que cria um Conselho Federal e Conselhos Estaduais, 
com sede na capital federal e em cada capital dos estados brasileiros. Cabe aos conselhos 
estaduais fiscalizar o exercício profissional. Esse poder fiscalizador fora outorgado pelo 
executivo federal para os casos de infração em primeira instância. Ocorrências de segunda 
instância para recursos em casos de não satisfação do punido ficam sob a responsabilidade 
dos conselhos federais.
2 Ambivalência das morais empresariais
Quando nos referimos a morais empresariais, devemos ter dois aspectos fundamentais 
em mente. O primeiro refere-se à ética que as organizações estabeleceram como regra para 
todas as pessoas que nelas atuam e, o segundo, à ética profissional. 
Atualmente, pela forma como a produção está estruturada, raramente conseguimos 
pensar em uma empresa que produza tudo o que necessita para lançar no mercado seu 
produto final. Ela estabelece parcerias com outras empresas que fabricam componentes 
(partes)do produto, faz controle de qualidade, exigindo determinado padrão e, finalmente, 
monta o produto que irá oferecer, colocando-o à disposição no mercado. Portanto, a palavra 
atual do mercado produtivo é parceria, realizada com outras empresas ou ONGs. Segundo 
Naves (2015, p. 554):
Muitas empresas têm realizado parcerias e estabelecido acordos com organizações 
não governamentais (as denominadas ONGs). 
Muitas empresas optaram por parcerias com ONGs em ações que visam minimizar os 
danos às comunidades e ao meio ambiente. De acordo com o teórico americano do 
terceiro setor Lester Salamon, entrou em jogo a própria reputação das empresas, que 
estão se envolvendo nessas parcerias não simplesmente por altruísmo. Ao contrário, 
elas estão começando a entender que esta é uma parte das estratégias globais de 
seus negócios.
É justamente para isso que existem as morais empresariais, para avaliar as práticas das 
empresas naquilo que realizam tanto em relação ao que oferecem ao mercado quanto ao 
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modo como tratam a natureza, a sociedade local e seus diferentes públicos. Quando nos 
referimos a empresas, há a necessidade de um padrão de conduta que independe da vontade 
de qualquer liderança, do que a empresa faz e do que oferece à sociedade, pois toda a ação 
desenvolvida tem repercussões sociais.
Não se pode esquecer que vivemos em um sistema capitalista e que este molda 
nossas relações e nosso modo de viver. Tudo o que se realiza atualmente, seja na 
constituição das cidades, na forma de ensinar ou estabelecer relações sociais, na 
constituição dos bairros, das atividades geradoras do capital etc., tudo gira em torno do 
capital e este tem poder, capacidade de barganha e interfere no modo como as pessoas 
e as empresas estabelecerão suas relações. “Com acréscimo da importância do capital, 
também foi necessária a criação de meios para proteger esse precioso bem. Bancos, 
seguradoras e instituições de investimento nasceram com esse intuito e passaram 
a gozar de um alto status na montagem da sociedade contemporânea” (GALVÃO, 
2014, p. 17).
Para entendermos como a moral de uma sociedade se constitui, é necessário entender 
a história dessa sociedade, as relações construídas por ela, além de entender que a moral 
de uma determinada realidade é constituída como resultado de sua tradição e cultura. Para 
Laisinger e Schmitt (2001, p. 9): “A atividade econômica de um povo constitui somente uma 
parte do todo, a parte que está voltada para a sobrevivência material. Por isso pessoas que 
atuam na economia são marcadas pela cultura e, por conseguinte, também pelos conceitos 
morais do seu contexto”.
Sociedade e moral abrangem mais do que o aspecto econômico, muito embora este 
tenha um caráter preponderante em nossas relações. Ao lado disso, surgem também as 
responsabilidades que cada segmento tem e, entre elas, a responsabilidade social das 
empresas tem sido um dos aspectos colocados no foco das reflexões éticas. Para tanto, 
convém conceituarmos moral e ética: 
Na linguagem coloquial, os conceitos de ‘moral’ e ‘ética’ são em larga escala 
empregados como sinônimos, apesar de não o serem. Por ‘moral’ entendemos 
determinadas normas que orientam o comportamento prático (sobretudo para com 
o próximo, mas também para com a natureza e para consigo mesmo). A ética, como 
ciência, ocupa-se com o tema de uma maneira descritiva e comparativa, mas também 
como uma avaliação crítica da moral (LEISINGER; SCHMITT, 2002, p. 18).
Portanto, quando nos referimos à moral empresarial, falamos de práticas que estão 
constantemente a desafiar as empresas em um mundo globalizado, no qual as organizações 
devem aprender a enfrentar a concorrência, ter funcionários cada vez mais capacitados em 
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condições e habilidade de inovação e saber respeitar o que busca a sociedade, a cultura 
organizacional e a razão de ser da vida em sociedade. 
Por isso, cada dia mais, carecemos de boas práticas e da implantação de ações morais 
eficazes em vista de um bem coletivo. Ainda que o papel de uma empresa seja a geração 
de riquezas, isso não deve ser feito a qualquer custo. O lucro deve ser atingido como uma 
forma de as empresas sobreviverem, mas não pode sobrepor-se ao uso correto dos recursos 
naturais, relações trabalhistas justas e estabelecimento de momentos positivos socialmente.
Uma empresa é composta por muitas pessoas: acionistas ou investidores, consumidores 
e trabalhadores, mas podemos considerar aqui também transportadores, lojistas etc. Há 
ainda aqueles que se relacionam com a empresa porque têm seus interesses em relação a 
ela, como fornecedores, sindicatos, prestadores de serviços, mídia, governos, concorrentes, 
comunidades etc. Todos têm interesses (obter lucro, adquirir produtos, fornecer matéria-
prima) quando se relacionam com a empresa e disso não se pode ter dúvida. 
Imaginemos uma comunidade próxima a uma empresa altamente poluidora: o 
quanto essa comunidade pode perder com a desvalorização de suas casas? Quantas 
doenças podem ser adquiridas pelos moradores? Quais são as consequências da 
poluição da água consumida pela comunidade? Por outro lado, quantos empregos e 
quantas melhorias para a comunidade local esta empresa pode trazer? Assim, pode-
se dizer que a empresa pode ser vista de modos distintos: uns a veem como uma 
forma de ganhos econômicos ou até como possibilidade de trazer melhorias sociais, 
desenvolvimento comunitário etc. Por outro lado, ela também pode trazer dificuldades 
para as pessoas que vivem em suas proximidades. Observamos, assim, que nada 
do que se faz é inofensivo, ou seja, tudo pode trazer ganhos e perdas, conforme o 
desenvolvimento das ações.
Existem várias compreensões morais que se apresentam dentro das empresas, mas nos 
cabe chamar a atenção para duas.
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Figura 1 – Morais empresariais
2.1 Moral da parcialidade
As empresas, como organizações sociais, estão sujeitas a muitas realidades originadas pelo 
capitalismo, pela globalização, pela concorrência, pelos consumidores, pelas compreensões 
de seus gestores etc. Para fazer frente a essas realidades é que surgem os posicionamentos 
e, a partir disso, as ações morais ou imorais das empresas.
Nas economias competitivas, os empresários ficam à mercê de um jogo de foras 
que só leva a estabelecer distinções entre os vários públicos de interesse. Aqueles 
que dispõem de maior cacife – seja a capacidade de retaliar, seja a de agregar valor 
ao negócio – são tratados com cautela e deferência. Os demais não recebem essa 
atenção. O favorecimento de certos stakeholders1 deriva da necessidade de assegurar 
uma base de apoio para obter a ‘licença social para operar’ (SROUR, 2013, p. 83).
Diante desse quadro, surgem os diversos modos de agir e, entre as possibilidades, a 
moral da parcialidade se coloca definindo a empresa como o “centro do mundo” e, com isso, 
um contexto de cinismos passa a ser aceito por quem dele faz parte (SROUR, 2013). 
Srour (2013) também destaca como características desse princípio moral:
• as “normas” estabelecidas e aceitas como modos de ação; 
• a “lealdade” de quem faz parte dessa organização;
• certa malícia com quem está fora da rede de interesses; 
• certa desonestidade; 
1 Stakeholder é entendido como a pessoa ou o grupo de pessoas que tem participação ou interesses em uma determinada empresa e que com 
ela mantém relações.
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• dois pesos e duas medidas– os que utilizam a lei quando lhes convêm e a rejeitam 
quando não lhes é conveniente;
• prática de ações desonestas, expressas por Srour com a expressão “rouba, mas faz”. 
Outro ponto importante destacado sobre esse modo de agir das empresas: “rotula 
depreciativamente os governantes, os partidos políticos, os tribunais, os sindicatos, a mídia, 
as organizações não governamentais – aqueles ‘inúteis que não sabem o que riscos’, ‘ não 
entendem de negócio’ ou nunca meteram a mão na massa” (SROUR, 2013, p. 84).
Por fim, esse mesmo autor chama a atenção para mais dois aspectos desse modo de ver: 
“homenageia a prevaricação” e alega que só é possível conseguir competir com os produtos 
estrangeiros e a economia informal sonegando impostos. 
Observando as características da moral da parcialidade, podemos compreender a 
existência de empresas criadas como fachada para sonegar impostos ou “esquentar notas 
frias”. Tudo isso serve para fazer com que todas as pessoas envolvidas estejam sempre em um 
conluio de “lealdade” entre si e de colocar os de fora em certo compasso de desconfiança, 
porque quem não faz correto, sempre irá pensar que outros também agem do mesmo modo. 
Quando há parcialidade, quem sai beneficiado é justamente quem participa das empresas, os 
que nela ou dela têm interesse. Assim, Srour (2013, p. 85) afirma que:
Consiste em burlar as formalidades legais, costurar conluios em licitações, arquitetar 
espionagens econômicas, especular com os preços, traficar influências, subordinar 
agentes públicos, eleger parlamentares de confiança com recursos do caixa 2, 
manipular a contabilidade, contratar terceiros que não respeitam direitos trabalhistas, 
adquirir insumos nocivos ao meio ambiente, conceder empréstimo mediante “venda 
casada”, participar de lobby para aliciar autoridades, superfaturar obras para financiar 
campanhas políticas, submeter-se à extorsão praticada por fiscais, lançar efluentes 
industriais in natura nos cursos d’água, sonegar impostos, participar de cartel, negociar 
informações confidenciais, espalhar boatos maldosos a respeito de concorrentes, 
manobrar o tempo todo com a justificativa de que é preciso baixar o ‘custo Brasil’[...]
Quem está um pouco atento ao que acontece no Brasil e no mundo já teve ter ouvido 
falar ou visto situações como essa em algum momento. Por isso, essa moral é entendida 
como a da parcialidade, isto é, serve a uma parte da sociedade, não a todos, e não deve servir 
como regra de conduta, pois a sociedade tornar-se-ia um caos se todos agissem desse modo. 
2.2 Transição para uma moral da parceria
Vivemos em um período de transição social em todo o mundo. É preciso aprender com 
situações que não devam ser eticamente justificadas, assim como melhorar algumas que 
ainda possam ser qualificadas. Mas há transições marcantes e que precisam ser mais bem 
pensadas e revistas, pois, conforme Srour (2008, p. 113): 
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Condutas deixaram de ser justificadas, ainda que sejam praticadas, como a falta ao 
trabalho sem motivo, o furto de pequenos objetos em hotéis, restaurante e aviões, o 
comparecimento em atraso a compromissos profissionais, o barulho que incomoda os 
vizinhos, a conduta mesquinha de quem guia nas ruas, a endêmica falta de troco com 
seus substitutos indesejáveis, o hábito de furar a fila ou a falta de modos que consiste 
em buzinar nos túneis das estradas, para curtir com a cara dos demais motoristas.
A mudança de práticas tem demonstrado que, entre as pessoas e empresas, é preciso 
um padrão ao estabelecer relações. Não basta viver e deixar as coisas acontecerem 
simplesmente, porque a sociedade nem sempre age conforme condutas previamente 
agendadas e estabelecidas. 
Após serem estabelecidas pelas empresas, as descobertas e estratégias têm sido cada 
vez mais absorvidas e implantadas dentro de perspectivas sociais. Ter estratégias é conhecer 
seus concorrentes, o que eles fazem, propõem e buscam; saber quais produtos são lançados 
ou serão, e assim por diante. Em tese, tudo isso deveria ser feito com clareza e transparência, 
porém, como sabemos, as pessoas podem ter diversas possibilidades de atuação. Em muitos 
desses casos, as empresas ferem normas e princípios éticos, sendo necessário que se faça um 
exercício de resgate da sua posição social. 
Mas pautemo-nos sob o aspecto de que não se pode sempre ver as pessoas e as 
empresas agindo erroneamente. As empresas estão em busca de parcerias que podem 
melhorar os produtos e serviços que oferecem, sem necessariamente fundamentar-se pelo 
imoral. Muitas empresas têm, hoje, seus códigos de conduta ou de ética ou, até mesmo, os 
chamados códigos de integridade moral, que visam levar as pessoas que nela atuam ou que 
com ela possam relacionar-se a trabalhar com integridade e correção.
A moral da parceria, como a própria palavra nos diz, é justamente perceber que uma 
empresa não consegue abranger sozinha toda a cadeia de que necessita para desenvolver seu 
produto e serviço; assim, acordos são estabelecidos. Os compromissos assumidos permitem 
o relacionamento com outras empresas e serviços, a fim de que todos ganhem. 
Para que se possa estabelecer uma boa relação de parceria nos negócios, a confiança 
é fator fundamental. Além de constituírem-se em relações confiáveis, as parcerias 
também devem ter a transparência como característica. Logo, fraudes, malogros 
e manipulações precisam estar fora desta relação. É importante que as estratégias 
adotadas, os programas, as técnicas desenvolvidas e experiências adquiridas nessas 
relações sejam preservados entre os parceiros.
A parceria traz muitas vantagens, pois possibilita um aprendizado mútuo. Cada um com 
sua especialidade e com seus conhecimentos, pode enriquecer a outra organização e aprender 
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com o que outro tem especialmente de bom e desenvolvimentista, trazendo os desafios para 
o estabelecimento dessas parcerias. Nisso, reside, também, a compreensão ética e moral das 
parcerias, pois é nesse processo de transparências, conhecimento mútuo e confiança que 
se edifica todo esse complexo de relações entre empresas, pessoas e comunidades. Quem 
sai ganhando com tudo isso, além das empresas envolvidas, é a própria sociedade. Cabe às 
comunidades e à sociedade favorecer o desenvolvimento da empresa e ajudar a cuidar para 
que ela não produza malefícios sociais.
A moral da parceria e da responsabilidade surge como um fator para estabelecer o 
ponto de equilíbrio entre o pretendido e o conseguido. É necessário que as empresas tenham 
sempre e cada vez mais presente que estão inseridas em uma sociedade e, assim como 
certas atitudes, determinadas práticas também deixam de ser aceitas pelas empresas e pelos 
consumidores. Que bom seria se, cada vez mais, pudéssemos ter esse tipo de consciência e 
cobrássemos das pessoas e das empresas uma postura cada vez maior de correção ética. Com 
isso, poder-se-ia, sim, ter um papel social cada vez maior.
Consumidores devem se atentar cada vez mais e ser seletivos em relação ao que compram 
e consomem. Nem sempre temos a visão de todos os negócios que ocorrem quando se 
adquire um produto, mas empresas com um compromisso social deveriam ser privilegiadas 
em detrimento daquelas que deixam de ter cuidados especiais com pessoas, meio ambiente 
e que tomam atitudes antiéticas. A internet atualmente é um bom campo de informações 
sobre os produtos e a forma de atuação das empresas.
3 Ética no setor público e nas relações com entidades da 
sociedade civil
Como dito anteriormente, o público pode ser tratado e entendido de dois modos: como 
espaço aberto e de convívio livre, e comopoder instituído.
Roberto DaMatta (1993, p. 23) nos chama a atenção para a realidade da casa e da rua, 
este último sendo o espaço no qual “teoricamente ocorre o trabalho, o movimento, a surpresa 
e a tentação”. Poderíamos dizer que é o espaço em que, de certa forma, ocorre a cidadania, 
no qual as pessoas podem demonstrar como sua aprendizagem de convívio é exercida, pois 
terão a possibilidade de exercer as boas maneiras na relação com os outros, no cuidado do 
patrimônio público, na divisão do espaço com as demais pessoas. 
E o funcionamento geral do aparelho de Estado pode ser traduzido em poucas 
palavras: O Estado cobra impostos e, em troca, oferece aos cidadãos uma série de 
serviços. Uma forma de entender o “interesse público” é considera-lo equivalente à 
própria esfera das instituições nas quais o Estado se organiza: o sistema Judiciário, o 
Legislativo e o Executivo, cada qual administrando, em suas respectivas atribuições, 
as prestações de serviços garantidos pelas leis históricas de cada país. De acordo 
com a nossa Constituição, devem ser oferecidos pelo Estado a todos os brasileiros 
saúde, educação, transporte, segurança, previdência, entre outros benefícios 
(NAVES, 2015, p. 548). 
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Muito temos que aprender para que esses direitos sejam alcançados em todos os 
lugares do mundo. Um passo importante é fazer com que as leis que já reconhecem esses 
direitos sejam efetivadas na prática. Ou seja, fazer com que o espaço e o serviço púbico sejam 
restituídos ao povo. Vendo o que nos é proposto nessa reflexão, consegue-se notar o quão 
longe estamos da realidade de construção de uma sociedade com tais pressupostos. 
Como exemplos disso, temos o caos que ocorre na saúde pública (as dificuldades 
em conseguir atendimento, a falta de especialistas e especialidades, entre outros) e 
a ausência de saneamento básico em algumas localidades – ainda nos dias de hoje, 
pessoas morrem por falta de água tratada. A educação que visa atender a todos, mas 
ainda precisa ser ampliada. Vendo a população efetivamente ocupada (empregada e 
atuando no mercado de trabalho), percebe-se que estamos longe de alcançar outros 
países, em especial países mais desenvolvidos. Não é sem razão que o processo 
migratório no mundo tem ocorrido em grande escala. Pessoas procuram outros lugares, 
cidades maiores e até outros países como uma forma de obter uma vida melhor.
Outros exemplos, específicos da sociedade brasileira, podem nos ajudar a compreender 
realidade de outros países. Conforme dados da EBC – Agência Brasil (2015): 
A escolaridade do brasileiro subiu 8 pontos percentuais na última década, mostra 
pesquisa divulgada hoje (30) pelo Instituto Data Popular. Em 2003, 28% da população 
ocupada tinham o ensino médio incompleto ou completo. Em 2013, o percentual 
subiu para 36%. Já o total de trabalhadores com formação universitária completa 
aumentou de 12% para 14% em dez anos, enquanto o de trabalhadores com ensino 
fundamental incompleto ou completo diminuiu de 50% para 43% (GANDRA, 2015).
A educação não é a salvação de todos os “nossos males”, mas abre portas para as pessoas 
qualificarem-se, adquirirem conhecimento e despertarem interesse pelo que é público. É 
preciso investir muito em educação em todos os níveis e, em especial, provocar a inserção 
das pessoas no contexto social. Quem não tem escolaridade recebe menos, tem ofertas de 
trabalho mais restritas, as quais não oferecem remuneração suficiente para garantir seu 
sustento e sua qualidade de vida.
Também é preciso investir em transporte, principalmente nos menos poluentes e mais 
baratos (fluviais, ferroviários), para um desenvolvimento social efetivo e de preservação do 
bem público. Alguns países priorizaram investimentos em algumas formas de transportes, 
o que gerou um grande desenvolvimento das comunidades. Já o Brasil, desde a década de 
1970, primou apenas pelo transporte rodoviário e esqueceu-se de oferecer outros meios que 
não afoguem tanto o trânsito nas cidades.
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Isso é reflexo de nossa busca por uma forma mais ética de viver e conviver no espaço 
público. Alguém poderia questionar, mas o que isso tem a ver com ética? Tudo, pois é preciso 
que nos voltemos a pensar no sentido de um bem, uma ética que atinja a todos globalmente, 
fundamentando em novos modelos de convivência.
Então, pode-se dizer que cabe, aos poderes públicos (embora não só a esses), além 
do que está estabelecido em lei, agir eticamente, pois assim foram constituídos: para 
que mantenham a sociedade. Mas os entes públicos, só atuarão se houver uma forma de 
pressão social. A sociedade necessita se organizar para dizer ao poder público quais são suas 
necessidades, seus anseios e no fundo demonstre a esse ente qual é no fundo a vontade 
e a finalidade de suas buscas a fim de que esses possam realizar as ações almejadas pela 
sociedade como um todo. Afora isso, estaremos sempre a mercê do que o grupo que está no 
poder fará em vista aos interesses a que defende.
A ética pública deve estar atenta a tudo o que envolve a sociedade e as pessoas nela 
inseridas e, como o papel do Estado, segundo Naves (2015), é arrecadar impostos para devolver 
em serviços, é esse, no fundo, o grande objetivo ético dos administradores públicos. Não “se 
esconder” atrás de um não fazer; pelo contrário, cabe aos poderes instituídos possibilitar 
as condições para o efetivo desenvolvimento social, para que as pessoas e as organizações 
sociais possam exercer seus papeis e incentivar a sociedade, para que esta chegue a um 
estágio de efetivo convívio social.
Para saber mais, tomemos, como exemplo, outra realidade brasileira para ilustrar o 
que expressamos sobre a ética pública. O Brasil, em 2009, efetivou o “Código de Conduta da 
Alta Administração Federal – normas complementares e legislação correlata” (disponível na 
midiateca). Se olharmos esse código de ética que foi aprovado há poucos anos e o compararmos 
com a realidade de corrução, desvios e inatividade dos fins de um governo, vemos que há 
um grande contraste entre o que está muito bem escrito nesse código de conduta e o que 
observamos acontecer atualmente. Isso nos chama a atenção para o fato de que não basta 
termos boas leis, código ético ou de condutas, é preciso muito mais, é preciso que as letras 
saiam do papel e transformem-se em palavras vivas, isto é, sejam transformadas em ação.
A ética em si não muda as pessoas, o que o faz é a consciência, a tomada de decisão tanto 
de cunho individual como coletivo ou social. As pessoas e as organizações devem ser a grande 
voz daqueles que não têm possibilidade de evocar seus direitos, isto é, ser a possiblidade 
de agregação em torno de ideias que sejam mobilizadores sociais. Para tal, as organizações 
sociais também devem ser ilibadas.
Citamos, anteriormente, o exemplo de código de conduta no âmbito federal, mas 
existem inúmeros códigos espalhados por outras instâncias governamentais, tanto estaduais 
como municipais, e em muitos países do mundo, assim como em empresas transnacionais 
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ou multinacionais. A ética é uma forma como a sociedade entendeu que deve atuar para 
proteger-se e utilizar-se do espaço público para a sua efetivação e o seu desenvolvimento. 
Para reafirmar que a ética, por si só, não muda as pessoas ou a sociedade, mas, sim, 
que as pessoas se convencem de que tal prática é correta e que, ao agir assim, todos saem 
ganhando, a carência de ética é geradora de desvios sociais, roubos, mortes, assassinatos, 
acidentes de trânsito,obras mal construídas etc.
Nesse momento de desnorteio, câmbio e agitação, porém, aquilo que aparece é a 
carência quase absoluta de ética. Ela brilha pela ausência, tanto na empresa privada, 
quanto na pública e no Estado. Os escândalos – corrupção, crime organizado, pobreza 
– continuamente vêm à tona em todo o mundo, e todos sabem que aquilo que a mídia 
investigativa mostra é apenas a ponta do iceberg. A voz da ética, neste momento é 
demasiado tênue, embora soe clara dentro de todas as pessoas. Sem ética nada se 
constrói (ALONSO, 2002, p. 112).
E parece que o desafio que se lança tanto para as empresas como para os governos seja 
esse mesmo. Sem a voz da ética, tudo se torna possível, tudo parece ser normal, e tanto faz 
agir bem ou mal, o que importa são os interesses defendidos. A ética existe não como algo de 
fora ou impositivo para as pessoas e organizações, mas como uma necessidade que brota do 
próprio ser humano, quando os valores de dignidade são defendidos e respeitados.
Quanto ao exercício de uma ética na administração pública, quanto aos fins dos atos 
dos governantes, pode-se admitir que esses atos devam ter um fim e se ele for em vista a 
uma melhor qualidade de vida, de realização dos direitos estabelecidos nas constituições e 
tratados de âmbito internacional, como por exemplo o dos direitos humanos (entre outros), 
se tornando assim uma obrigação a ser executada, porque quem detém o poder, seja em que 
esfera for, tem compromisso de fazer com que os princípios legais e éticos sejam cumpridos 
e executados por todos, inclusive por ele como governante.
Chama a atenção para um fato fundamental, de fazer uma política que gere a qualidade 
de vida para as pessoas. Um governante deve ter essa preocupação no mais amplo sentido 
possível, não só no que está expresso nos direitos humanos, mas em uma circunstância que 
leve as pessoas a terem políticas sociais eficazes e faça com que as pessoas estejam reunidas 
em sociedade e saibam a razão disso. Isto é, que a sociedade seja a realizadora dos fins 
buscados por todos e razão última do que gera o estar em sociedade, que são as garantias – 
de vida, de trabalho, de bens e serviços.
Cabe citar outro exemplo para ilustrar o quanto a busca por uma conduta ética é colocada 
como tema de fundamental importância. No Decreto nº 1.171/1994, que discorre sobre o 
Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, temos: 
Deixar o servidor público qualquer pessoa à espera de solução que compete ao setor 
em que exerça suas funções, permitindo a formação de longas filas, ou qualquer outra 
espécie de atraso na prestação do serviço, não caracteriza apenas atitude contra a 
ética ou ato de desumanidade, mas principalmente grave dano moral aos usuários 
dos serviços públicos (BRASIL, 1994).
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Considerações finais
Os desafios apresentados por uma reflexão ética em relação ao mundo do trabalho são 
amplos e complexos. Saber como se estabelecem as relações sociais tem levado as pessoas 
e as organizações aos mais diferentes tipos de reflexões e questionamentos, tanto de ordem 
econômica como de ordem social. Ainda precisamos, e muito, que nossas relações de 
trabalho sejam pautadas por leis, o que não é garantia de que realmente aconteça conforme 
é estabelecido. Por isso, a ética está constantemente nos alertando para que assim se façam 
as relações. Se tudo o que estivesse na lei fosse cumprido, muitas ações, tanto por parte 
das empresas como por parte das pessoas, não aconteceriam, e esse texto apresenta bons 
exemplos nesse sentido.
Quando nos referimos à questão pública e às relações com as entidades da sociedade 
civil, vemos que o desafio é ainda maior, pois temos construído uma difícil relação com o que 
é público e com o que é privado. É importante que olhemos o espaço da sociedade como um 
espaço no qual temos a possibilidade de nos desenvolver e construir relações edificantes e 
como um espaço nosso, assim como é o privado.
Éticas que sejam construtoras do espaço humano e das “boas” relações sociais são um 
verdadeiro desafio para qualquer um de nós e para a sociedade. Com todos os fatos que 
temos, a corrupção que se espalha pelo mundo todo tem efeitos tanto no setor público como 
no privado, e tudo isso nos mostra que o resgate de uma ética é urgente. É necessário que a 
sociedade se veja, retome-se e busque construir relações sociais fortes, capazes de enfrentar 
os mandos e desmandos, seja de quem for.
É preciso buscar padrões éticos cada vez mais fortes, não apenas por parte dos 
governantes, patrões, enfim, dos que detêm maior poder na sociedade. A mudança inicia-se 
em cada indivíduo, para que o comportamento se faça correto desde ações pequenas até as 
grandes. O comportamento ético inicia-se com a proposta, passa por seu aceite e culmina na 
ação ética.
Quanto à relação que as empresas estão construindo, temos visto que muito se tem 
avançado e realizado, mas não podemos nos conformar com isso. Acidentes, desastres 
ambientais, exploração de trabalhadores, falências forjadas etc. são situações que têm 
levado empresas boas e socialmente responsáveis a serem colocadas no mesmo patamar de 
empresas pouco responsáveis. 
A inversão de uma realidade social passa, cada vez mais, pela mudança de uma realidade 
na qual não se aceitem mais malogros sociais e beneficiamento de alguns em detrimentos de 
outros. Nesse sentido, a ética e as leis concorrem para que a sociedade se repense e atue de 
modo mais correto. 
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Referências
ALONSO, Félix Ruiz. Revisitando os fundamentos da ética. In: COIMBRA, José de Ávila. Fronteiras 
da Ética. São Paulo: SENAC. 2002.
BRASIL. Código de Conduta da Alta Administração Federal. Normas complementares e 
legislação correlata. 4. ed. Brasília: 2009. Disponível em: <http://etica.planalto.gov.br/arquivos/
legislacao/livro-do-codigo-de-conduta-2009-atualiz-em-06-de-maio.pdf>. Acesso em: 27 nov. 
2015. 
______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 27 nov. 2015. 
______. Decreto nº 1.171 de 22 de junho de 1994. Aprova o Código de Ética Profissional do 
Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 nov. 
2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d1171.htm>. Acesso em: 
27 nov. 2015.
CORTELLA, Mário Sérgio. Qual é a tua obra? – Inquietações sobre gestão, liderança e ética. 
Petrópolis: Vozes, 2012.
DAMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? 6. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.
GANDRA, Alana. Escolaridade do brasileiro sobe 8 pontos percentuais em 10 anos, mostra 
pesquisa. EBC – AGÊNCIA BRASIL. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/
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LEISINGER, Klaus M.; SCHMITT, Karin. Ética empresarial: responsabilidade global e gerenciamento 
moderno. Petrópolis: Vozes, 2001.
OIT. Informe mundial de 2015 sobre el trabajo infantil. 2015. Disponível em: <http://www.ilo.
org/ipec/Informationresources/WCMS_372648/lang--es/index.htm>. Acesso em: 27 nov. 2015.
NAVES, Rubens. Novas possibilidades para o exercício da cidadania. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, 
Carla Bassanezi (Org.). História da Cidadania. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2015.
SROUR, Robert Henry. Ética empresarial. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. 
Ética, Cidadania e Sustentabilidade
Aula 09
Ética e cidadania
Objetivos Específicos
• Contextualizar os conceitos de cidadania.
TemasIntrodução
1 Cidadania: conceitos e suas relações
2 Estado, sociedade civil, organizações do setor privado e sujeito como agentes 
políticos 
Considerações finais
Referência
José Antônio Fracalossi Meister 
Professor Autor
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Introdução
Viver em sociedade implica em participação e desempenho de papéis. Essa condição é 
chamada cidadania. O conceito de cidadania é múltiplo, com vários enfoques e possibilidades. 
Aqui, vamos conceituá-la como um exercício realizado em sociedade pelas pessoas que nela 
se encontram e atuam. Ser cidadão não é somente “ter” direitos e deveres, é mais do que 
isso. Até porque direitos não realizados são “palavras mortas” e não se edificam socialmente; 
e deveres, quando não cumpridos, dificultam a vida em sociedade. 
Portanto, ser cidadão em seu sentido pleno é muito mais do que estar em sociedade, 
é preciso ser um membro participante dela. É certo que não participar ativamente não 
exclui ninguém do direito à cidadania, porém, torna a sociedade mais pobre e com menos 
possibilidade de se constituir plenamente.
1 Cidadania: conceitos e suas relações
O conceito de cidadania não é unânime e, se o recuperarmos historicamente, 
poderemos destacar que há vários modos de entendê-lo. Mas é importante termos uma 
conceituação geral para, ao menos, partirmos para uma possibilidade de diálogo. Assim, para 
Cortina (2005, p. 31): “cidadania é primordialmente uma relação política entre um indivíduo 
e uma comunidade política, em virtude da qual o indivíduo é membro de pleno direito dessa 
comunidade e a ela deve lealdade permanente”.
Essa colocação nos ajuda a entender bem o que vem a ser cidadania, especialmente 
quando vivemos situações políticas conturbadas e, muitas vezes, confundimos as referências 
a essa palavra.
É importante, portanto, também compreender que a política tratada aqui se refere à 
relação que as pessoas estabelecem entre si quando numa coletividade, seja ela em pequenos 
ou grandes grupos (família, amigos, trabalho e convívio social em geral). Assim, como diz 
Guarinello (2015, p. 29), “pensar a cidadania no âmbito de nosso próprio Estado-nacional ou 
globalmente é um imperativo imposto pela realidade em que vivemos”. 
Ademais, analisemos, a seguir, as diversas concepções de cidadania na história. 
1.1 Cidadania na antiguidade greco-romana
O conceito de cidadania, nesse período, estava estritamente ligado aos ambientes 
urbanos. As cidades-estado eram “geograficamente localizadas e circunscritas. [...], sendo 
uma região específica do planeta: as margens do mar Mediterrâneo” (GUARINELLO, 2015, p. 
30). E é sobre essas concepções presentes no mundo greco-romano que surgirá o conceito 
de cidadania que, segundo Guarinello (2015, p. 29), se constituiu a partir da ideia de 
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“democracias, da participação popular nos destinos da coletividade, de soberania do povo, de 
liberdade do indivíduo”. Porém, é imprescindível destacar que essa concepção foi montada 
pelo mundo europeu moderno, sendo assim uma ilusão, algo idealizado quando se refere a 
uma concepção antiga, que foi assim criada para se fazer um paralelo com o mundo moderno.
Precisamos perceber, sobre esse contexto, que, para o surgimento dos Estados, é 
necessário que haja um desenvolvimento econômico. As cidades, ou Estados, não se 
aglutinam sem a presença de um fator econômico que os mantenha. Assim, esse modelo de 
organização se espalhou:
Pelo Mediterrâneo a partir de núcleos originais da Grécia Continental, da Ásia Menor 
(hoje Turquia) e da Fenícia (atual Líbano). Pelos séculos seguintes até bem adentrado o 
Império Romano, representaram um modelo vitorioso, em contínua expansão, de um 
modo de organização da coletividade humana, construído sob a égide da progressiva 
integração das costas do Mediterrâneo (GUARINELLO, 2015, p. 32).
A expansão do Império Romano unificaria essas formas de organização, pois a ideia 
de democracia se espalhou a partir da concepção de uma cidadania mais aberta, embora 
pautada sob a força das armas (o que gerava conflitos) e por quem detinha mais riqueza. 
Portanto, essa abertura era apenas para alguns e se constituía uma forma de discriminação – 
considerando a linguagem moderna. 
“A cidadania deixou de representar a comunidade dos habitantes de um território 
circunscrito, para englobar os senhores de um império, fossem ricos ou pobres, habitassem 
em Roma, na Itália, ou nos territórios conquistados” (GUARINELLO, 2015, p. 43). Cabe assim, 
concluir, a partir do que esse mesmo autor afirma sobre esse período da história da cidadania:
A história da cidadania antiga só pode ser compreendida como um longo processo 
histórico, cujo desenlace é o Império Romano. De pertencimento a uma pequena 
comunidade agrícola, a cidadania tornou-se, com o correr dos tempos, fonte de 
reivindicações e de conflitos, na medida em que diferentes concepções do que fossem 
as obrigações e os direitos dos cidadãos no seio da comunidade se entrechocaram. 
Participação no poder, igualdade jurídica, mas também igualdade econômica 
foram os termos em que se puseram, repetidamente, esses conflitos, até que um 
poder superior se estabeleceu sobre o conjunto das cidades-estado e suprimiu da 
cidadania comunitária, progressivamente, sua capacidade de ser fonte potencial de 
reivindicações (GUARINELLO, 2015, p. 45-46).
O conceito de cidadania está fortemente atrelado ao de política, pois visa a participação 
nos negócios públicos e, nesse sentido, o conceito é similar tanto na Grécia como em Roma 
(no período da República). Daí porque é comum encontrar a expressão cidadania “greco-
romana”. 
Entretanto, com o Império Romano e sua expansão territorial, a ideia de participação 
política direta e localizada é substituída por cidadania enquanto proteção jurídica. Conforme 
Cortina (2005, p. 42-43):
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A extensão de Roma e de seu império tornou inviável qualquer ideia de participação 
nos assuntos públicos. Em contrapartida, Roma certamente podia proporcionar 
proteção jurídica para aqueles membros do império que desejava reconhecer como 
seus cidadãos [...] a cidadania é, então um estatuto jurídico, mais que uma exigência 
de implicação política, uma base para reclamar direitos e não um vínculo que pede 
responsabilidades.
Assim, o conceito de cidadania passa por uma dupla raiz que está na origem do 
conceito de cidadania, isto é, cidadania enquanto participação política (mais da ordem 
dos deveres – origem grega) e enquanto proteção jurídica (mais da ordem dos direitos 
– de origem romana, mais especificamente na fase do Império).
Daí por que “convém lembrar às vezes a dupla raiz da qual se origina o conceito de 
cidadania para entender por que frequentemente deu lugar a confusões e, sobretudo, 
para tomar de cada uma dessas raízes o melhor, superando suas limitações” (CORTINA, 
2005, p. 43).
1.2 Cidadania no mundo moderno e contemporâneo
A discussão dos conceitos sobre a cidadania se faz presente há muito na história da 
humanidade. O que é ser realmente um cidadão em cada um desses contextos? E no contexto 
atual não seria um desafio para o pensamento filosófico e ético? “O principado inaugurou 
uma nova era, na qual a cidadania mudou, mais uma vez de caráter. Com o desaparecimento 
da participação política, o espaço público restringiu-se. Os novos polos do poder passaram 
a ser o imperador, símbolo da unidade do Império, e o exército, esteio de uma dominação” 
(GUARINELLO, 2015, p. 44).
Pinsky (2015) nos para traz uma segundagrande divisão intitulada os alicerces da 
cidadania e nos conduz a três grandes momentos nos quais essa cidadania se faz presente. 
Todos eles fazem parte do mundo moderno: Revolução Inglesa, Revolução Americana e 
Revolução Francesa. Existe um hiato entre o mundo antigo e o moderno, com exceção da 
situação de Florença e Salamanca e das comunidades cristãs. O cristianismo se espalhou 
pelo mundo conhecido no período antigo e medieval; a óptica cristã se unificou e se tornou o 
conceito desse mundo e por meio dela praticamente tudo era pensado e entendido.
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Pode-se afirmar que o conceito de cidadania nunca deixou de ser um tema 
importante em todas as épocas da história humana. O ser cidadão é um desafio e, 
portanto, também não é uma unanimidade entre os pensadores. O certo é que a 
cidadania se dá em sociedade e para o convívio social e, a partir daí, o que se tem são 
conjecturas sobre o conceito e sobre a realidade cidadã.
Para Giron (2000), não há uma coincidência entre o pensamento sobre cidadania dos 
pensadores do século XVIII com a situação pré-revolucionária da França. Mas o que isso 
nos chama a atenção é que quando passamos a pensar nesses conceitos especialmente no 
mundo moderno, percebemos que estamos em uma situação de efervescência social. Há 
uma necessidade de os pensadores da época em refletir sobre o tema, sobre o papel do 
Estado e das pessoas. O desafio era esse e, por isso, temos vários autores tratando do que é 
ser cidadão e do conceito de cidadania. 
Hobbes (1588-1679), dentro do contexto da época em que a filosofia se encontrava, 
discutindo o papel do sujeito a ser desenvolvido dentro da sociedade, escreveu o livro “De 
Cive: elementos filosóficos a respeito do cidadão” (publicado em 1642 em Paris, totalmente 
em Latim1). No De Cive, ele descreve os deveres dos homens, como indivíduos, como cidadãos 
e como cristãos: “nesses deveres estão contidos seja elementos do direito natural e direito 
das gentes e a origem e força da justiça, como também, dentro dos limites desta obra, a 
essência da religião Cristã” (HOBBES, 1993, p. 7).
O autor faz todo um estudo exploratório sobre a questão das cidades, seu surgimento, os 
direitos dos cidadãos e do que eles devem abrir mão em detrimento da vida nas cidades. Pois 
se as pessoas não abrirem mão de alguns direitos, segundo ele, a vida nas cidades se torna 
inviável, independente do número de pessoas que nela habitam. 
Segundo essa ótica, uma vez constituídas as cidades, todos passarão a ter direitos. Daí 
vem a importância de contextualizar o período em que este estudo foi gestado, século XVII, 
quando as cidades não tinham o tamanho e as estruturas conhecidos hoje. Talvez até tenhamos 
certa dificuldade em pensar as cidades da época se as compararmos com as cidades atuais. 
O poder conhecido nessas cidades era a monarquia, aristocracia e democracia. Hoje, em 
alguns lugares do mundo, temos as monarquias democráticas, onde, apesar de haver um 
rei, as pessoas também escolhem representantes e seus governantes em diversas esferas, 
como é o caso da Inglaterra, Holanda, Austrália etc. Voltando ao século XVII, para Hobbes 
1 Não é esse o único livro de Hobbes de grande repercussão e valia para nós. Há também o livro Leviatã, de 1651. Neste, o autor apresenta a 
ideia de que os homens são egoístas e isso vem desde o estado natural. A existência do Estado torna-se fundamental para garantia a riqueza, 
segurança e a glória. Daí a expressão a “guerra de todos contra todos”. Segundo ele, isso existe por causa do guia humano que é egoísta, 
segundo o qual cada um segue seus interesses.
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(1993), a destruição das cidades é um perigo, pois essa é a forma pela qual as pessoas têm a 
possibilidade de viverem e conviverem. Da forma como o mundo da época era constituído, 
e isso vale até hoje, não era possível pensar sociedade sem pensarmos as cidades e, dentro 
delas, o papel de cada um e de todos. 
Pensando um pouco sobre a realidade atual, temos a criação dos Estados modernos e 
cada um desses com suas constituições. Essas dão a visão que cada um tem para si, como 
instituição e para seus cidadãos. Vejamos como exemplo a Constituição Brasileira de 1988, 
que, em seu artigo 1º, expressa os princípios fundamentais que a regem:
A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados, 
Munícipios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem 
como fundamentos:
I – a soberania;
II – a cidadania;
III- a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes 
eleitos ou diretamente, nos termos da Constituição (Brasil, 1988).
Nossa Constituição e outras leis complementares nos ajudam entender a visão que o 
Brasil tinha e tem de si e do papel de seus cidadãos. Para Naves (2015, p. 545): “em nosso 
país, a promoção da cidadania depende do poder do Estado de programar políticas públicas, 
assegurando a todos os brasileiros o exercício de seus direitos”. Dentro dessa visão, a cidadania 
é uma forma de como se estabelece essa relação entre o indivíduo e o setor público.
Política e cidadania, como é evidenciado, estão interligadas. A ação social e política 
são atividades do cidadão, que deve conquistar os espaços de participação efetiva, que em 
absoluto se restringem à obediência passiva ou ao exercício do voto – onde ele existe, já 
que esse é um instrumento presente apenas em alguns países do mundo e em períodos de 
democracia. Nas ditaduras, as pessoas não têm o voto como possibilidade de manifestação. 
O voto é, portanto, apenas um dos instrumentos da cidadania na sociedade democrática 
(ARANHA; MARTINS, 1998, p. 152). 
Vale destacar que as sociedades e nações não são realidades ou entidades uniformes. 
No seio de cada sociedade, há uma série de jogos políticos, de múltiplos interesses, de 
enfrentamentos, enfraquecimentos de “superpoderes” de outros grupos. A cidadania é uma 
eterna busca de reafirmação de interesses dentro de uma realidade ampla e, para que possa 
realmente ocorrer, é necessário que existam organizações fortes em seu meio, a fim de fazer 
com que as pessoas possam sentir-se amparadas e protegidas para terem seus direitos e suas 
necessidades atendidos.
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O homem não nasce cidadão; o homem se torna cidadão. A formação de um cidadão 
não é tarefa fácil: a família, a escola e mesmo o Estado não se sentem responsáveis 
pela sua formação. Transferindo-se a responsabilidade de uma instância para outra, 
quem sai perdendo é o indivíduo e a sociedade (GIRON, 2000, p. 7).
É importante perceber que a cidadania é uma condição social adquirida. Ela não é nata, 
mas vamos obtendo-a por fatores externos e que nos levam a uma inserção social. Também é 
importante perceber que a cidadania não é uma situação que se passa a adquirir pelo fato de 
saber ou conhecer o que é ser cidadão. Conforme Giron (2000, p. 7-8): “para se tornar cidadão, 
o indivíduo tem que se comprometer com a mudança e com as transformações. Cidadão é 
aquele que entende seu papel no Estado e realiza sua parte na melhoria da sociedade”.
Os cidadãos são formados pelas diversas organizações de uma sociedade: a família, a 
escola, a religião e o Estado em suas relações sociais e nos diferentes ambientes em que se 
encontra. Todas as instituições sociais têm um papel importante na formação do cidadão e 
têm como objetivo levá-los a adquirir o desenvolvimento desse papel.
Vamosaprofundar a reflexão acerca do conceito de cidadania: uma criança, por exemplo, 
não contribui para mudança ou transformação social e nem mesmo tem um entendimento do 
que é cidadania. Ela, então, não seria uma cidadã? Se não for cidadã, também não tem direitos 
e, se não os tem, está excluída da sociedade? E o que se poderia dizer em relação a uma pessoa 
com deficiência mental? E um mendigo, que está à mercê da sociedade, vivendo de favores e 
sem um espaço próprio para morar? Todos esses estariam fora desse conceito de cidadania? 
Claro que esse conceito de cidadania é um conceito proativo, tem sua validade e não 
pode ser desconsiderado. Mas temos de pensar a cidadania em um sentido mais amplo 
possível. Isto é, cidadão é todo aquele que vive na cidade ou na sociedade independente de 
sua condição. Ao ser gerado, ao nascer, tem e deve ter seu espaço social. Claro que atuar, agir, 
buscar aprofundar as relações sociais é o ideal de cidadania e deve ser buscado por todos. 
Mas ao mesmo tempo, não se podem descartar aqueles que não vivem essa situação.
Na década de 1990, voltou a ser atual um termo tão antigo como o de ‘cidadania’ 
nessa área do saber que os anglo-saxões designam com o vocábulo de Morals, e que 
tem por objeto refletir tanto a moral como sobre os diretos e a política. Multiplicam-se 
então as ‘teorias da cidadania’, e nos discursos morais, no amplo sentido mencionado, 
são abundantes as referências a ela [...] (CORTINA, 2005, p. 17).
Mais do que nunca, a sociedade exige que seus participantes primem por uma ação 
cidadã e ética. A ética sempre teve um papel importante socialmente, mas numa sociedade 
globalizada, na qual valores e ações geram repercussão, a cidadania vai se efetivando 
rapidamente, na medida em que exige determinadas situações até então ainda não vistas. 
Não é mais possível às pessoas e instituições, como o Estado, e às organizações dos setores 
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públicos e privados estarem de fora de um papel cobrado de todos e o qual envolve todos. 
As pessoas passaram a se dar conta das necessidades sociais. As ciências como filosofia, 
sociologia, psicologia, serviço social, direito, entre outras, cresceram socialmente em muitas 
dimensões e passaram a ditar padrões de comportamento.
1.2.1 Cidadania de Marshall
Ao se analisar o conceito de cidadania na perspectiva do século XX, um conceito que não 
podemos nos furtar em analisar é o de cidadania de Marshall, muito importante na história 
da cidadania e poderosamente influente no decorrer do século XX, pois é uma abordagem 
vinculada ao Estado de Bem-Estar Social. Para esse autor, a cidadania tem sua importância 
devido à desigualdade social. Como economista, o autor segue um modo bastante direcionado 
para o problema e, em especial, no que isso influi na realidade da vida das pessoas. 
Uma efetiva cidadania se daria no momento em que as pessoas participam socialmente, 
envolvendo a realidade jurídica local. Nesse sentido, se consegue estabelecer a cidadania 
como um direito e como um patrimônio comum. É em comunidade que se adquirem direitos 
e deles se pode usufruir. As classes sociais seriam uma forma de organização dentro dessa 
sociedade, mas as diferentes classes estariam dentro de uma perspectiva de justiça social. 
Assim, Marshall, ao estabelecer o conceito de cidadania, divide-o em três partes: civil, 
política e social. Frise-se que Marshall utilizou, em seus estudos e reflexões, o desenvolvimento 
da cidadania na Inglaterra.
O elemento civil é composto dos direitos necessários à liberdade individual – 
liberdade de ir e vir, liberdade de imprensa, pensamento e fé, direito à propriedade 
e de concluir contratos válidos e o direito à justiça. Identifica os tribunais de justiça 
como as instituições mais intimamente associadas com os direitos civis.
Por elemento político se deve entender o direito de participar no exercício do poder 
político, como membro de um organismo investido da autoridade política ou como 
um eleitor dos membros de tal organismo. As instituições correspondentes são o 
parlamento e os conselhos do governo local.
Já o elemento social se refere a tudo o que vai desde o direito a um mínimo de bem-
estar econômico até a segurança ao direito de participar, por completo, na herança 
social e levar a vida de um ser civilizado de acordo com os padrões que prevalecem 
na sociedade. O sistema educacional e os serviços sociais são as instituições que mais 
representam esses direitos (OLIVEIRA, 2016).
1.3 Ser cidadão e viver dignamente
Sobre os partícipes da cidadania, Guarinello (2015, p. 46) pondera que: 
Todo cidadão é membro de uma comunidade, como que este se organiza, e como esse 
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pertencimento, que é fonte de obrigações, permite-lhe também reivindicar direitos, 
buscar alterar as relações no interior da comunidade, tentar redefinir seus princípios, 
sua identidade [...] residiria precisamente nesse caráter público, impessoal [...] Há, 
certamente, na história, comunidades sem cidadania, mas só há cidadania efetiva no 
seio de uma comunidade concreta, que pode ser definida de diferentes maneiras mas 
que é sempre um espaço privilegiado para a ação coletiva e para a construção de 
projetos para o futuro.
Apesar de se ter feito muito atualmente em termos de cidadania, um aspecto central 
desse conceito é o que vamos entender como vida digna. E, sobre isso, não vale dizer que 
cada um tem a sua concepção sobre o tema, que é um conceito pessoal. Para que exista um 
diálogo conforme já citamos, é importante que os conceitos formados sejam o mais uniformes 
possível. Nesse sentido, Cortina (2005, p. 36-37) nos traz uma representação de vida digna:
A legislação e administração de uma boa poli, deliberando junto com seus concidadãos 
sobre o que é para ela o justo e o injusto, porque todos eles são dotados de palavra 
e, em consequência, de sociabilidade. A sociabilidade é a capacidade de convivência, 
mas também de participar da construção de uma sociedade justa, na qual os cidadãos 
possam desenvolver suas qualidades e adquirir virtudes.
Como dito, conceituar cidadania ainda é complexo, mas, se por um lado, o conceito 
não é de fácil coadunação, por outro, não se pode esquecer que a ação das pessoas, 
independentemente da esfera em que estejam inseridas (da mais ampla à mais particular), 
deve acontecer. Isso quer dizer que não podemos nos alienar do mundo que vivemos e muito 
menos delegar tarefas desse âmbito para os outros. Agir é uma condição humana, assim 
como ser cidadão também nos humaniza.
2 Estado, sociedade civil, organizações do setor privado e 
sujeito como agentes políticos 
No Brasil, a sociedade tem seu amparo no Estado, na forma como o governo estrutura 
as relações, e na própria sociedade. Além disso, desde o processo de redemocratização, 
diversas instituições e organizações surgiram, inserindo um cunho valorativo na sociedade; 
elas também passaram a dar sustentação à vontade dos cidadãos. 
Cabe a cada Estado realizar internamente políticas públicas que visem o benefício 
de sua população e ao que é comum a todos. Organismos internacionais como a ONU 
tendem cada vez mais chamar a atenção para a responsabilidade de cada Estado e de 
todos pelos benefícios comuns.
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Mesmo quando a repressão tomou corpo através da política ditatorial implantada no 
Brasil, as pessoas tentaram se agrupar em determinados setores que lhes dessem sustentação 
e apoio. Assim, na visão de Naves (2015), é possível referenciar vários movimentos, como das 
igrejas (Comunidades Eclesiais de Base– CEBs), organismos que se fortaleceram e ganharam 
importância muito grande na sociedade brasileira, como a OAB (Ordem dos Advogados do 
Brasil), a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), a ABI (Associação Brasileira 
de Imprensa), entre outros.
O movimento atual, maciço e quase universal, no sentido de maior participação e 
influência dos cidadãos, é um fenômeno novo. Não está sendo promovido por uma 
estrutura universal. Não possui endereço fixo. Não busca convertidos nem militantes 
políticos. Seu alvo não é o poder do Estado. Em seu centro está a figura do cidadão 
(NAVES, 2015, p. 549).
A partir dos anos 1980, os governos conscientes de sua impossibilidade em atender todas 
as demandas sociais passaram a criar incentivos para que diversas organizações surgissem e 
que outras pudessem atuar. Assim, surgiu também o conceito de responsabilidade social e 
responsabilidade social empresarial. Como as empresas são as grandes geradoras da riqueza, 
elas teriam, então, a possibilidade de fazer aportes de recursos. 
Em um primeiro momento, isso era feito de modo filantrópico: se solicitava e, se a 
empresa desejasse, efetuava doações a pessoas ou organizações. Na medida em que o tempo 
foi passando, se percebeu que também era necessária uma profissionalização nesse sentido 
e, assim, muitas empresas chegaram a criar suas próprias organizações ou instituições para 
aplicar os recursos necessários para as demandas sociais. “As associações promovem a 
sociabilidade num contexto individualista. Em suas atividades, os fins coletivos e os bens 
coletivos são percebidos como interesse individual do que estão envolvidos. A vida pública 
insere-se nas iniciativas privadas. A cidadania é personalizada” (FERNANDES apud NAVES, 
2002, p. 552).
Se, por um lado, vemos positivamente todos esses movimentos da sociedade civil em 
vista da sua melhor organização e luta por melhorias sociais, por outro, isso tudo ocorre 
porque a sociedade em algum momento também falhou. As falhas se dão pela desestruturação 
das famílias, a falta de cuidados com o meio ambiente, as guerras, a falta de participação e 
consciência do que seria o papel de cada um e de todos. 
Muitos são os motivos pelos quais a sociedade deixou de cumprir seu papel. Se, por 
um lado, temos essa não ação, por outra, também temos uma boa perspectiva de que a 
mesma sociedade tenta recuperar um espaço que ficou em aberto por faltas de ações que ela 
mesma negligenciou. Segundo Naves (2015, p. 548-549): “a expansão da consciência cidadã 
deu origem a um sentimento mais vasto de ‘cidadania global’. O ‘cidadão do mundo’ não atua 
apenas nas questões localizadas, mas faz parte de redes internacionais ligadas a grandes 
temas como ecologia, justiça e democracia”.
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Além disso, surgiram organismos que buscaram estabelecer seus selos ou critérios 
de credibilidade, como o Instituto Ethos, o qual tem uma vasta lista de critérios para as 
organizações e para os investidores produzirem ou doarem recursos e para que esses 
sejam aplicados da melhor forma possível. O mesmo ocorre com o GIFE – Grupo de 
Institutos, Fundações e Empresas, que tem caráter privado e visa formar, estabelecer 
parcerias e desenvolver a linha da responsabilidade social. E, assim, poderíamos citar 
outros organismos sociais que vêm se desenvolvendo com o intuito de estabelecer 
parâmetros para medir a eficiência e eficácia das ações realizadas pelas empresas e 
pelas organizações da sociedade civil.
O papel da sociedade tem ou deve ter um fator de acompanhamento:
Além de avaliar o modelo econômico, todo o movimento social, público e privado 
deveria participar ativamente da elaboração e acompanhar a execução dos orçamentos 
públicos (...). Passar a debater e influir no modelo econômico e nos orçamentos 
públicos fará o movimento social passar do papel de quem tenta remediar a pobreza 
para quem promove mudanças nas estruturas que sustentam o modelo de exclusão 
social no Brasil (GRAJEW, 2002, p. 563).
Até o próprio título “Trabalho social: remediar ou transformar?”, proposto por Grajew 
(2002), em seu texto original, nos chama a atenção, pois ele expressa uma situação que deve 
ser o foco da ação social, a qual consiste em não é remediar o problema, mas transformar a 
situação. Trata-se daquilo sintetizado no seguinte ditado popular: “não dê o peixe, ensine a 
pescar”. Essa é a grande verdade de toda a ação social: ao invés de somente remediar, ela 
deve buscar uma efetiva mudança da realidade, levando as pessoas a serem partícipes da 
transformação, que busquem fazer por si e não esperar que os outros o façam. 
Claro que quando a situação é de profunda calamidade ou de impossibilidade de se fazer 
sozinho ou em pequenos grupos (como em enchentes, alta miserabilidade, abandono etc.), 
num primeiro momento deve-se fazer atos de remediação da situação, mas posteriormente, 
as pessoas devem ser capacitadas a agirem por si.
O poder público será pressionado a atender à demanda dos direitos sociais e 
econômicos. No estado estratégico, a maneira de fazer isso serão as parcerias. 
Quando falamos em ações sociais, não temos em mente paliativos contra a miséria, 
mas uma transformação genuína da sociedade brasileira. Nesse sentido que as ONGs 
cumpram um papel transformador, propondo formas de tornar as políticas públicas 
mais eficientes e capazes de abarcar os direitos de todos os brasileiros (NAVES, 2015, 
p. 563-564).
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Embora Naves (2015) trate em seu texto das questões das ONGs, sua visão pode ser 
ampliada. A própria sociedade deve se dar conta de que a sua participação é necessária e 
que ela tem um papel fundamental na mudança e na estruturação de um mundo diferente e 
melhor. 
As pessoas devem se dar conta de que votar não é suficiente para se construir uma 
democracia. Além do voto, é necessário haver uma efetiva participação social – que pode se 
dar por meio de organizações de classe (sindicatos, organizações de bairro, de condomínios 
etc.). Não se deve, então, esperar que as mudanças ocorram de cima para baixo, isto é, que 
venham dos políticos (embora esses tenham um papel importante e devem cumpri-lo), mas 
esses só farão se a sociedade os pressionar. 
Figura 1 – A participação e o desenvolvimento social
Cortina (2005) alerta para a necessidade de fazer com que as pessoas se sintam membros 
partícipes da sociedade e, somente na medida em que assim o fizerem, poderão criar uma 
identidade. Este tem sido um dos maiores problemas pelos quais as pessoas deixam de atuar, 
pois se vive uma realidade individualista que, segundo a autora, foi denominada por hedonista 
por Daniel Bell: “os indivíduos movidos unicamente pelo interesse de satisfazer todo tipo de 
desejos sensíveis no momento presente não sentem a menor afeição por sua comunidade 
e, em última instância, não estão dispostos a sacrificar seus interesses egoístas em nome da 
coisa pública” (CORTINA, 2005, p. 18).
Em sociedades cada vez maiores, tornar os interesses uma realidade comum ou colocar 
o que cada indivíduo deseja em um nível de interesse social e coletivo não parece tarefa 
fácil. Pelo contrário, é um desafio difícil de ser colocado em prática. Tal constatação nos 
deve chamar a atenção para que aqueles que conheçam a realidade consigam transformá-la 
positivamente. 
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2.1 Organizações do setor privado
As pessoas e as empresas têm tomado consciência de que devem ser atuantes e que 
não podem mais estar à mercê de um Estado que não tem condições de dar contade todas 
as demandas da população. O Estado em parte nenhuma do mundo conseguiu suprir as 
necessidades apresentadas pela sociedade e nesse sentido foram surgindo organizações que 
visam dar atenção especial aos cidadãos. 
Incialmente, esse movimento foi muito forte dentro das igrejas de diversas denominações 
e posteriormente passou a ser uma ação social – na qual as pessoas passaram a dar-se 
conta da importância de sua participação para suprir essas demandas. Embora no Brasil as 
organizações não governamentais (ONGs) tenham um caráter privado, elas funcionam e 
agem com o acompanhamento do Estado. Existem, no país, diversos tipos de organizações, 
fundações e institutos que desempenham esse papel. 
Vejamos alguns exemplos importantes de organizações no Brasil: as santas casas 
de misericórdia, os asilos, os orfanatos e as escolas fazem um papel sem dúvida muito 
importante e, se não existissem, teríamos com certeza muito mais pessoas abandonadas 
e à mercê da própria sorte, pois não há uma política pública para todos.
Organismos internacionais também fazem um papel importante, como, por 
exemplo, a Cruz Vermelha Internacional, os Médicos sem Fronteiras, o Greenpeace, 
entre tantos outros, que estão atentos às situações que ocorrem em todo o mundo e 
buscam socorrer as diversas realidades as quais surjam como necessidade.
A sociedade não está desatenta às demandas sociais e temos visto também um elevado 
crescimento de pessoas que atuam ou desejam atuar como voluntários. São inúmeras 
as pessoas que dedicam parte de seu tempo para atuar em situações fundamentais para 
sua realidade.
A educadora brasileira Maria da Glória Gohn, autora do livro Movimentos e lutas sociais 
na história do Brasil, classifica as ONGs em três grandes grupos: “caritativas” (atuam na 
assistência ao menos favorecidos, mulheres e idosos, por exemplo); “ambientalistas” 
(relacionadas às questões do meio ambiente e do patrimônio histórico); e “cidadãs” 
(voltadas para a reivindicação dos direitos da cidadania têm grande atuação junto 
às políticas públicas, fornecendo subsídios para a sua elaboração, fiscalizando-as ou 
fazendo denúncias, no caso de violações ou omissões) (NAVES, 2015, p. 553).
A partir dos anos 1980, esses movimentos passaram a ser mais organizados, por conta da 
própria exigência de definirem seu papel social e dos conhecimentos que se tem em relação 
aos cuidados para tal. Ou seja, não se pode apenas “fazer as coisas por fazer”, ao contrário, 
é preciso haver uma metodologia de caráter científico para atender as realidades que se 
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apresentam a essas organizações. 
Por exemplo, não basta ter um idoso ou uma criança “albergados”, é preciso que além 
da acolhida se tenha atenção. Por isso, cresceu a necessidade de profissionalização do 
atendimento, por meio do trabalho de profissionais habilitados em atendimento ao idoso 
(geriatria e gerontologia) ou à criança (educadores e assistentes sociais), por exemplo. O 
mesmo ocorre em relação ao meio ambiente: estudos foram desenvolvidos para que a 
atenção às diversas realidades sociais pudesse ser mais efetiva. Surgem cuidados, exigências 
e preparação de pessoas para atuarem nessas diversas áreas de atenção.
2.1.1 As empresas cidadãs
Conceitos como responsabilidade social, balanço social e empresa cidadã fazem com que 
as empresas mudem o foco de sua atuação. Um dos motores de uma empresa é o lucro, mas, 
mais do que isso, a empresa atualmente deve perceber-se como um conjunto de pessoas, 
que visam à produção de bens com o intuito de satisfazer as necessidades das pessoas que 
dela se aproximam com o intuito de buscar o que produz, seja em produtos ou serviços, e que 
esses devem ser da mais alta qualidade.
O âmbito da atividade empresarial se amplia notavelmente, já que inclui não apenas 
bens de consumo, mas também outras necessidades, como a de emprego em uma sociedade 
organizada em torno do trabalho (CORTINA, 2005, p. 83). Além disso, as empresas atualmente 
se importam com tudo o que as cerca: “uma ‘empresa cidadã’ é a que, em sua atuação, 
assume essas responsabilidades como algo próprio e não negligencia o entorno ou ecológico, 
limitando-se a buscar o máximo benefício material possível” (CORTINA, 2005, p. 93).
O resultado disso é que as empresas passam a ganhar legitimidade e reconhecimento 
da sociedade justamente pelo que fazem e pela forma como olham a realidade onde estão 
inseridas. A essa concepção se denomina cidadania econômica. Ela leva as organizações da 
sociedade a assumirem um papel que até a pouco tempo não era visto como uma tarefa das 
empresas. Essa nova compreensão tem despertado nas empresas uma consciência social 
que até então não se poderia imaginar. E tem levado muitas pessoas a entenderem um papel 
que é importante de ser desenvolvido e para tanto mobilizam colegas, direções e parceiros 
para aturem em conjunto.
Considerações finais
Nesta aula, compreendemos o quanto carecemos e o quanto precisamos de uma 
participação efetiva nas questões sociais. A sociedade só existe por causa de nossa participação 
– tanto de cada um em seu sentido bem particular, quanto em um sentido mais amplo, por 
meio da participação de todos. Cada um com seus interesses, com seus objetivos e com a 
finalidade a qual a sociedade é constituída. É por isso que as sociedades existem e se fazem 
historicamente. 
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É necessário que cada setor social (Estado, organizações da sociedade civil e indivíduo) 
cumpra seu papel. Pensar sociedade é pensar nesse conjunto, é pensar em formas de inserção 
social em que cada um, de seu modo e com a finalidade a qual essa mesma associação foi 
constituída, realize sua tarefa. Isso não é fácil, mas parece que não há alternativa para que a 
sociedade venha a se compor, existir e realizar a sua finalidade.
O importante, ao finalizar esta aula, é entendermos o que é ser cidadão, que a civilidade 
só se desenvolve e produz os resultados esperados se as realidades que a compõem 
atuarem em concordância, isto é, se pessoas e os organismos sociais agirem em conjunto. 
É da composição desses dois grupos que se produzirão os resultados esperados e que se 
cumprirão as finalidades e os motivos pelos quais se criam as organizações e as sociedades.
Referência
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de filosofia. 2. ed. São 
Paulo: Moderna, 1998.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 12 dez. 2016.
CORTINA, Adela. Cidadãos do mundo: por uma teoria da cidadania. São Paulo: Loyola, 2005.
GIRON, Loraine Slomp (Org.). Refletindo a cidadania. Caxias do Sul: EDUCS, 2000.
GRAJEW, Oded. Trabalho social, remediar ou transformar. Folha de São Paulo, 20 de junho 
de 2002. 
GUARINELLO, Norberto Luiz. Cidades-estado na Antiguidade Clássica. IN: PINSKY, Jaime; 
PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). História da cidadania. 6. ed., 2ª reimpressão – São Paulo: 
Contexto, 2015.
HOBBES, Thomas. De Cive: elementos filosóficos a respeito do cidadão. Petrópolis: Vozes, 
1993.
NAVES, Rubens. Novas possibilidades para o exercício da cidadania. IN: PINSKY, Jaime; PINSKY, 
Carla Bassanezi (orgs). História da cidadania. 6. ed., 2ª reimpressão – São Paulo: Contexto, 
2015.
OLIVEIRA, Paula Julieta Jorge de. A Cidadania é para todos. Direitos, deveres e solidariedade. 
OAB – 148ª Subseção de Santo Anastácio. Artigo. Disponível em: <http://www.oabsp.org.
br/subs/santoanastacio/institucional/artigos/a-cidadania-e-para-todos.direitos-deveres-e>. 
Acesso em: 9 mar. 2016.
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs). História da cidadania. 6. ed.,2ª reimpressão – 
São Paulo: Contexto, 2015.
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Aula 10
Democracia e Cidadania
Objetivos Específicos
• Compreender o processo de democratização do Brasil. 
Temas
Introdução
1 Democracia e seus desafios
2 A construção da democracia no Brasil
3 Democracia, cidadania e direitos humanos
Considerações finais
Referências
José Antônio Fracalossi Meister 
Professor Autor
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2
Introdução
A democracia é um sistema social e político em constante reformulação e reinvenção, 
pois, assim como as pessoas e suas necessidades, a sua evolução é uma constante e, uma vez 
atingindo um determinado estágio, parte-se em busca de outro. 
O sistema democrático tem sua origem na Grécia, de onde também vem sua nomenclatura: 
demos = povo e kratos = poder. Por isso, a sua máxima é definida como o governo do povo e 
para o povo. 
Como construir um governo por pessoas e para as pessoas dentro de sociedades cada 
vez mais complexas e com anseios diversos? Nesse caso, o símbolo máximo da democracia é 
o voto, o qual pode acontecer de diversas maneiras. 
Nesta aula, abordaremos o processo democrático brasileiro, em especial, a 
redemocratização no Brasil.
1 Democracia e seus desafios
Segundo Dimenstein, Strecker e Giansanti (2008, p. 225), a política, assim como é 
constituída nas formas de governo, é um conceito estudado e buscado pela filosofia.
Como expresso na introdução, a democracia é uma das formas na qual os cidadãos têm 
a maior possibilidade de exercer o poder social de forma direta. E o símbolo desse poder é o 
voto que representa, conforme Canêdo (2015, p. 518):
Um ato de cidadania, um direito e um poder, uma garantia livre de opinião política, 
símbolo da democracia. Ou, segundo as definições mais conceituais dos dicionários: 
‘modo de manifestar a vontade ou opinião num ato eleitoral ou numa assembleia; 
sufrágio’; ‘ato ou processo de exercer o direito a essa manifestação, e seu resultado.
A democracia é a forma de governo na qual a vontade da maioria impera. Nesse sentido, 
se difere de outras formas de governo, como a ditadura e a tirania, nas quais a vontade de um 
ou de apenas de um pequeno grupo se impõe sobre a vontade da maioria. 
O voto também possibilita alternância no poder. No sistema democrático, o governo 
instituído conforme desejo da maioria dura o tempo estabelecido na legislação e cada 
pessoa tem direito a um voto, o qual é contado somente uma vez – por isso, considera-se o 
governo de igualdade. Já que este poder não é eterno, é importante que as pessoas tenham 
consciência e se articulem para fazer/rever suas escolhas – quando erradas e quando a figura 
eleita não cumpre o prometido.
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3
Para saber um pouco mais sobre democracia, acesse a midiateca..
1.1 Democracia direta e indireta
Existem duas categorias de sistema democrático: o direto e o indireto. 
A democracia direta é mais fácil de existir em pequenos agrupamentos, com a 
possibilidade de que as decisões tomadas envolvam a todos.
A forma como a democracia se estrutura tem suas origens nas cidades-estado gregas. 
Segundo Romano (2002, p. 52), “Platão, no livro das Leis [...] dizia que um Estado só pode 
existir, e persistir no tempo, se no seu interior reinar a amizade entre os cidadãos”. 
Os termos utilizados por Platão ao se referir às relações mantidas para que um Estado 
exista, não podem ser tomados ao pé da letra ou como entendemos hoje, já que, por exemplo, 
a palavra amizade no vocábulo grego tem várias conotações. 
Romano (2002) nos traz a ideia de que o amor do filho à sua pátria é muito importante 
(estratégico) no pensamento grego, pois é a base de sustentação das pessoas dentro de uma 
sociedade, fazendo com que ela se mantenha. Se as pessoas não se perceberem como parte 
da sociedade, dificilmente pensarão no bem comum. Além disso, Platão ressalta a relação 
de igualdade entre o bem coletivo e o bem individual. A ausência dessa relação direta faz 
com que uma república desapareça, levando a uma situação de violência e morte (ROMANO, 
2002). 
Na Grécia, ela era direta, exercida por uma menor quantidade de pessoas e excludente 
(mulheres, escravos, estrangeiros e menores de idade não podiam votar), isto é, uma 
democracia altamente seletiva. “A cada dez dias, aproximadamente, havia reunião na ágora1, 
e o povo deliberava sobre as mais diversas questões” (DIMENSTEIN; STRECKER; GIANSANTI, 
2008, p. 225). 
A constituição dos Estados modernos provocou uma mudança profunda no exercício 
da democracia. Atualmente, há uma grande alteração no modo de se exercer a democracia, 
pois ela passou de direta para representativa, isto é, representantes são eleitos para em 
nosso nome estabelecer as perspectivas políticas que essas pessoas ou seus partidos 
defendem e com as quais seus eleitores concordaram. Nesse sistema, também há uma maior 
universalização do voto, mais pessoas podem votar.
1 Nome dado às praças públicas na Grécia Antiga. Nessas praças, ocorriam reuniões em que os gregos – em especial os atenienses – se reuniam 
para discutir assuntos ligados à vida da cidade, isto é, a justiça, obras públicas, leis, cultura etc. Também podiam ter finalidades religiosas com 
eventos e cerimônias, assim como decidir situações econômicas, como negociações, acordos econômicos e comércio de mercadorias. Pode-se 
dizer que a vida da cidade circula por aí.
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Vale a pena ver o filme As Sufragistas (2015), dirigido por Sarah Gavron, que conta a 
história da luta das mulheres para participarem das eleições na Inglaterra. O filme tem início no 
ano de 1912, com os primeiros movimentos, e se encerra em 1928, quando esse direito passa 
a efetivar-se na Inglaterra e mostra historicamente como o direito a voto das mulheres foi se 
implantando no mundo.
O processo democrático vai além da conotação política eleitoral e por isso devemos 
entendê-lo num contexto mais amplo. Democracia é a forma de participação do povo nas 
diversas instâncias sociais, não apenas nas eleições para escolha de representantes políticos. 
Participação política é geralmente usada para designar uma variada série de atividades: 
o ato de voto, a militância num partido político, a participação em manifestações, a 
contribuição para certa agremiação política, a discussão de acontecimentos políticos, 
a participação num comício ou em reunião de seção, o apoio a um determinado 
candidato no decorrer da campanha eleitoral, a pressão exercida sobre um dirigente 
político a difusão da informação políticas [...] (BOBBIO, 1997, p. 888).
Democracia é fundamentalmente participação, isto é, são as pessoas assumindo seu 
papel na sociedade e sendo protagonistas de sua história. Entretanto, essa participação não é 
perfeita, porque as pessoas também não são perfeitas. Sempre há o risco de nos acostumarmos 
com uma situação e, com isso, surgirem manipulações – como com a utilização dos meios de 
comunicação para transformar o que é de todos na vontade de alguns, o que seria tirania, o 
inverso da democracia. A democracia expressa pelo voto fez com que se perdesse um pouco 
o princípio democrático da aclamação, retificação e nomeação, mas, nisso, não há demérito 
algum. O que vale é a escolha das pessoas e a expressão de suas vontades.
Há grandes experiências de democracia direta circulando pelo mundo e que 
tentam de certo modo descortinar e reverter a experiência do mundo grego e que 
visam integrar as pessoas para que elas interajam na vida social. Uma dessas formas é o 
orçamento participativo, no qual as pessoas podem, poruma escolha direta, direcionar 
parte dos recursos arrecadados para obras que consideram fundamentais.
1.2 Universalização do voto
Segundo Canêdo (2015), para evitar que o poder de escolha fosse somente de alguns, se 
adotou uma forma universalizada na expressão “cada pessoa um voto”. Porém, cabe lembrar 
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que, em muitos locais, até mesmo no Brasil, em alguns períodos, só votavam pessoas com 
uma renda mínima estabelecida, do sexo masculino, e assim por diante. A universalização do 
voto até hoje ainda é uma dificuldade em muitos lugares do mundo. Como exemplo, podemos 
citar a Arábia Saudita que somente permitiu o voto feminino em dezembro de 2015.
Figura 1 – Votar e votar eis a aclamação
O ato de votar se apresenta de muitos modos, depende do local e da circunstância onde 
é praticado; ele pode ser por aclamação, voto eletrônico, por cédulas etc. Cada sociedade 
estrutura-se para que esse exercício se efetive. A prática do voto é a mesma em todas as 
formas, isto é, escolha direta ou por meio de representação, e tem sido em muitos casos a 
única forma de participação política dos cidadãos. 
O orçamento participativo, como dito anteriormente, se expandiu por muitos lugares 
como uma forma de as pessoas escolherem o que desejam que seus governantes façam, 
não só com base nos programas de governo apresentados previamente em uma campanha 
eleitoral, mas durante o período de governo, variável, em geral, de quatro a cinco anos. “O 
significado que hoje damos à democracia – soberania do povo – deveria nos fazer refletir 
mais profundamente sobre o que se tornou possível, e determinar os modos de construção 
dessa instituição” (CANÊDO, 2015 p. 519).
O sufrágio universal (voto estendido a todos os cidadãos) foi uma conquista lenta 
das democracias contemporâneas. [...] O voto para os negros nos Estados Unidos foi 
conquistado apenas em 1965. O voto para mulheres no Brasil foi conquistado em 
1934, e na África do Sul em 1994 (DIMENSTEIN; STRECKER; GIANSANTI, 2008, p. 225-
226).
A democracia tornou-se tão importante que passou a ser um valor social e político 
fundamental, a ponto de poucas pessoas defenderem formas diferentes de governo que não 
as democráticas. No Brasil, ainda há pessoas que defendam o retorno da ditadura, mas são 
poucas, felizmente. E mesmo que ela viesse a ser instalada, seria muito difícil de sobreviver. 
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Governos não democráticos sofrem cada vez mais resistência por parte da 
população. Por exemplo, a Primavera Árabe, que se iniciou em 2010, a reação contra 
o governo da Venezuela, em especial, após a morte de seu líder, Hugo Chaves, a luta 
em Cuba por uma abertura maior, de maior participação e acesso a espaços sociais de 
liberdade. 
Em todos esses casos, os países têm se pautado por formas cada vez maiores de 
liberdade, característica básica dos governos democráticos.
2 A construção da democracia no Brasil
A democracia no Brasil tem suas peculiaridades. Por isso, buscamos a compreensão de 
quem somos, em primeiro lugar, como povo. Quem é esse povo chamado brasileiro? Que país 
é esse que chamamos de Brasil? 
Por nossas características culturais e de formação étnica, temos, nesse sentido, fatores 
históricos e sociais bem diferentes do que qualquer outro país no mundo. 
Um pensamento que se venha a ter em relação ao Brasil, nos faz afirmar sentimentos e 
esses se dão sempre com base nas experiências que passamos, tanto no sentido individual 
como coletivo. É a partir desses sentimentos que com o auxílio dos avanços de elaborados 
a partir de uma reflexão que se poderá enfrenta-los e avançar coletivamente. O importante 
é termos claros que uma indignação, uma reflexão que seja apenas individual, não nos 
levará a avanços significativos. Esses avanços ocorrerão quando pudermos ter um poder de 
mobilização, de influência, de indignação coletiva. Quando isso brotar, quando isso vier a 
ocorrer, teremos condições de construirmos uma sociedade democrática ou se quisermos 
reafirmar verdadeiramente democrática.
A história brasileira é rica de ensinamentos, pois desde o período colonial a população 
dos municípios se habituou a eleger os representantes de suas Câmaras, e antes 
mesmo da Independência, em 1821, participou das primeiras eleições gerais para a 
escolha de seus representantes na Corte de Lisboa (CANÊDO, 2015, p. 519).
A história da democracia no Brasil tem “altos e baixos”, a participação tinha sua 
importância, mas não era universal, por isso, pode-se dizer que hoje há democracia no Brasil, 
mas nem sempre foi assim. Até mesmo nos períodos de ditadura, utilizou-se do nome de 
democracia para manipular a vontade das pessoas e dar um cunho democrático ao que na 
realidade não existia. 
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Por exemplo, no período Vargas, bastava não acontecer o que era de sua vontade que um 
novo partido era criado por ele: UDN = União Democrática Nacional, PTB = Partido Trabalhista 
Brasileiro etc. Tudo com a intenção de fazer com que suas propostas fossem aprovadas 
(embora se deva a esse período também a instituição da CLT = Consolidação das Leis do 
Trabalho, do salário mínimo, entre outros). 
O mesmo ocorria no período da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985) quando, para se 
atribuir que o sistema era democrático, foram criados dois partidos: um de situação, o ARENA 
– Aliança de Renovação Nacional –, e outro de oposição, o MDB – Movimento Democrático 
Brasileiro, esse último criado e incentivado para que algumas pessoas aderissem a ele para se 
“plantar” a ideia de que havia democracia no Brasil.
“No Brasil, prefeitos, governadores e presidentes da República (poder executivo) 
são eleitos pelo povo, bem como vereadores, deputados estaduais, deputados federais e 
senadores (poder legislativo)” (DIMENSTEIN; STRECKER; GIANSANTI, 2008, p. 225). A cada 
dois anos, eleições livres e diretas eram realizadas para a escolha desses representantes da 
sociedade. Exceção feita no período da Ditadura Militar, em que Estados, capitais, cidades de 
fronteira, os mandatários do executivo eram indicados pelo poder central e geralmente eram 
escolhidas pessoas alinhadas com a ideologia do poder.
 A realidade do Brasil, atualmente, se expressa por ser democrática. Temos uma imprensa 
livre, a possibilidade das pessoas se manifestarem, o direito à escolha dos representantes das 
esferas legislativa e executiva, uma série de valores os quais podemos louvar como de grande 
valor para a vida em sociedade. 
Mas nem sempre foi assim, como mencionado anteriormente, entre os anos de 1964 
e 1985 estabeleceu-se sobre o Brasil um governo forte, de caráter autoritário, comandado 
pelas forças armadas. Durante esse período, os direitos de manifestação e organização eram 
restritos. Os meios de comunicação como jornal, rádio e televisão eram controlados e, para 
divulgar determinadas notícias, tinham de passar por censura. 
Havia censura social, nas universidades, nos centros de convívio, nos bares etc., pois 
esses lugares eram tidos como perigosos para o poder instituído. Muitas universidades foram 
invadidas, quartéis eram construídos ao lado delas, pessoas eram plantadas nas salas de aula 
para ouvir o que os professores e alunos pensavam e difundiam. Muitos professores, em 
especial das universidades públicas, foram cassados (banidos de sua atividade de ensino) e 
exilados (tiveram de se refugiar em outros países).
Levando em conta as características básicas de um regime democrático, que é a escolha 
livre dos governantes e a clara divisãoentre os poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário, 
pode-se afirmar que o Brasil, em especial, após se tornar república (em 15 de novembro de 
1889), viveu somente dois períodos classificados como realmente democráticos: 1945-1947 e 
a partir de 1988 até hoje. E, segundo Dimenstein, Rodrigues e Giansanti (2008), é interessante 
observar também que esses períodos democráticos surgiram depois de ditaduras, períodos 
em que a participação popular não existia, pois governos ditatoriais não permitem que as 
pessoas se manifestem livremente. 
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Não são as eleições que garantem uma democracia. Tanto os processos eleitorais 
como o voto são importantes e necessários para que as pessoas possam manifestar-se, 
mas não são sinônimos de democracia, apenas a simbolizam. Por exemplo, no período 
de 1964-1985, havia eleições para o legislativo em todas as esferas (municipal, estadual 
e federal) e para o executivo municipal (com exceções de cidades de fronteira) e nem 
por isso se pode dizer que se vivia uma democracia.
Outro fator importante que garante uma democracia são as leis; no Brasil, a lei maior é 
a Constituição. Três anos após o fim da ditadura militar, em 1988, o Brasil estabeleceu a sua 
Constituição e ela está em vigor até hoje, com uma série de alterações, mas ainda vigente. 
Seu lançamento foi recebido com grande euforia pela população da época. 
Durante o regime militar, vários Atos Institucionais - AI2 foram colocados em prática para 
justificar a ação realizada pelo presidente-ditador e sobre esses atos institucionais é que 
muitas perseguições foram feitas e muitas liberdades suspensas. Quem viveu esse período 
sabe bem como eram as possibilidades de vida e ascensão social. Claro que muitos, ainda 
influenciados pela propaganda difundida pelo regime, ainda acham que houve grande 
desenvolvimento e grandes benesses sociais. Mas tudo isso com um alto custo social.
Segundo Dimenstein, Rodrigues e Giansanti (2008, p. 228):
Graças aos direitos estabelecidos pela Constituição de 1988, conquistados com a 
participação de milhões de pessoas, hoje é possível para qualquer cidadão falar o 
que pensa, reunir-se com outras pessoas que tem opiniões semelhantes, manifestar-
se e exigir o atendimento de suas reivindicações. Milhões de pessoas atuam 
em movimentos ecológicos, sindicatos, entidades estudantis, partidos políticos, 
associações profissionais, grupos de pressão e fiscalização dos órgãos públicos e 
dos parlamentares. Várias causas fazem pessoas participarem de alguma forma, das 
lutas por mudanças em relação a problemas de segurança pública, saúde, educação, 
transporte, habitação, carga tributária, reforma agrária.
Apesar de todas essas perspectivas que se abriram na sociedade brasileira, nem todos os 
nossos problemas foram resolvidos. A democracia política é uma das formas de se constituir 
um governo, mas ainda existem outras que precisam ser resgatadas, como a democracia 
econômica, com a maior participação das pessoas nos lucros auferidos socialmente, tanto 
pelos governos, como pelas empresas. Ainda temos, em relação a muitos países, salários 
mais baixos para a realização das mesmas atividades. Democracia social de respeito a 
2 Atos Institucionais (AI) são “normas elaboradas no período de 1964 a 1969, durante o regime militar. Foram editadas pelos Comandantes-
em-Chefe do Exército, da Marinha e da Aeronáutica ou pelo Presidente da República, com o respaldo do Conselho de Segurança Nacional. 
Esses atos não estão mais em vigor” (BRASIL, 2016). Foram elaborados 17 ao todo, durante a ditadura militar no Brasil. Sendo o que mais se 
notabilizou foi o AI 5. 
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crianças e idosos, respeito religioso, étnico, racial e de gênero. Muitos aspectos importantes 
e fundamentais ainda precisam ser buscados pela sociedade brasileira. 
Os avanços democráticos proporcionados neste século na sociedade brasileira são 
grandes, como a maior universalização da educação e moradia, o combate à corrupção, entre 
outros. No entanto, a democracia é um regime que deve se reinventar sempre, nunca está 
pronto. Uma vez atingindo um estágio, precisa partir para outro e assim sucessivamente, 
quando não, dependendo do governo instituído, pode haver retrocessos.
Não são as divergências em relação às questões políticas que devem nos fazer pensar 
que a democracia não é boa. A divergência é uma forma de crescer e se desenvolver. Os 
partidos políticos formam concepções ideológicas importantes para que se realize a adesão 
ou a participação em um ou outro grupo partidário. Infelizmente, vivemos um momento 
histórico conturbado no âmbito político – muito pelo conhecimento em relação à corrupção 
–, mas devemos ter clareza que isso só foi possibilitado porque se vive em uma democracia. 
Se estivéssemos em uma ditadura, na qual os amigos dos ditadores e aqueles que recebem 
as benesses desse regime convivem, nada saberíamos do que é praticado em nosso governo.
É necessário compreender que a democracia não é um regime pronto, fechado e 
que tudo o que se faz ou se deve fazer esteja estabelecido. É um regime constituído 
pela liberdade das pessoas e, como tal, passível de que essas cometam deslizes.
Por mais que se queira ou se deseje afirmar qualquer coisa contra a democracia, 
devemos reafirmar que é melhor viver em regimes democráticos do que de outra 
forma, só neles se tem garantida as liberdades de expressão, de ir e vir, de busca de 
melhorias sociais.
Precisamos aprender a participar, seja numa reunião de colégio, faculdade, condomínio, 
de associação de bairro, seja em que momento da vida social for. Normalmente, as pessoas 
se isentam da participação ou até mesmo participam porque é obrigatório e com isso deixam 
exercer seu direito. 
Isentar-se também é uma escolha e, como tal, as decisões que tomamos são fruto da 
participação ou não participação de cada um de nós nas atividades que nos são proporcionadas. 
Ao participar ativamente, podemos fazer escolhas certas e erradas. O bom da democracia é 
a possibilidade de corrigir um ato praticado erroneamente em outro momento de reunião ou 
numa próxima votação.
No Brasil, a participação democrática ainda tem sido pautada pela obrigatoriedade. Isso 
é fruto de um período no qual as pessoas “deviam” participar do voto para caracterizar a 
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democracia. Ainda temos muito a aprender sobre democracia no Brasil, mas, como já dito, 
nada disso invalida essa forma de viver e conviver em sociedade. Temos uma realidade 
democrática de apenas 30 anos. Pode parecer muito, mas para a sociedade ainda é pouco. É 
nos erros e acertos que se constitui uma sociedade.
A canção “Pra não dizer que não falei das flores”, que representava o que não era uma 
realidade democrática no Brasil, foi composta e interpretada por Geraldo Vandré, ficou em 
segundo lugar no Festival Internacional da Canção de 1968 e se tornou, muito tempo depois, 
um símbolo da resistência contra o regime ditatorial brasileiro:
Quadro 1 – Pra não dizer que não falei das flores
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
 
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
 
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nosquartéis lhes ensinam
Uma antiga lição
De morrer pela pátria
E viver sem razão
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição
de Geraldo Vandré, 1968.
Essa música foi sintomática para o momento no qual vivia o Brasil e serviu de tomada 
de consciência para muitas pessoas, que passaram a perceber sua realidade. Ou seja, de 
“soldados armados”, o “ensinamento de antigas lições”, pelas “ruas a fome em grandes 
plantações”, nas ruas marchando indecisos cordões, mas em especial chama a atenção para 
que as pessoas tenham a história na mão. Isso é altamente democrático. 
Devemos lembrar que, em 1964, foi instalada a ditadura militar no país, e essa música 
aparece pouco depois, quando se viviam os piores momentos do arrocho sobre a população. 
Perseguições, imposição de silêncio, controle sobre a sociedade e em especial grande medo 
das pessoas pelo que se divulgava; pouco se sabe sobre o que realmente ocorria. 
Vivemos outro período de nossa história. A luta de muitas pessoas pela democracia fez 
com que conseguíssemos fazer uma passagem gradual da ditadura para a democracia. Não se 
pode dizer que ela exista em sua plenitude, pois ainda precisamos avançar em consciência de 
participação, de não obrigatoriedade de voto, melhorar padrões de distribuição econômica e 
da educação etc.
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Ser democrático não é apenas votar, embora esse seja um símbolo desse sistema, ele é 
mais amplo do que isso. Caminhamos, com certeza, no sentido de uma melhoria das condições 
sociais, mas precisamos ainda fazer mais. Não basta apenas melhorar em alguns aspectos, 
precisamos decidir que caminho tomar, que rumos dar ao país e, para tal, precisamos de 
maior grau de verdade e honestidade. É preciso transparência dos governos com relação à 
arrecadação e de como o dinheiro é gasto, além dos resultados produzidos para a população 
e para o país. 
Não podemos mais ser marionetes de jogos de interesses partidários e os partidos 
devem exercer com eficiência seu papel de defender suas posições ideológicas. Por isso, há 
muito a se fazer, e só depende da participação das pessoas. Se deixarmos que os outros 
façam por nós, isso não ocorrerá, pois, embora sempre tenhamos uma grande possibilidade 
de exercer a democracia visando a um bem coletivo e social, também temos uma visão 
individualista. Precisamos desenvolver a concepção de que os nossos interesses também 
devem ser interesses de todos.
Ser democrático é um exercício sem fim. Caminhamos para isso, mas precisamos fazer 
mais e participar mais. Esse é o grande desafio do momento, a sociedade, na medida em 
que participa, exige de seus representantes que o façam, o que pode não ser totalmente 
consensual. Vejamos um exemplo claro de democracia e não consensual. Não é um exemplo 
brasileiro, mas um exemplo de democracia, de debate, que o Brasil já passou e passa, em 
relação ao estatuto do desarmamento, Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003. Com o 
título de “Vendas de armas”, o jornal Zero Hora (2016) escreveu:
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou um pacote de medidas que 
não passará pelo congresso. Entre elas, a checagem mais rigorosa dos antecedentes 
de quem compra armas e a exigência de licenças de todos que as vendem. Durante o 
anúncio, Obama chorou ao lembrar o massacre que deixou 28 mortos numa escola do 
Estado de Connecticut em 2012, sendo 20 crianças.
Tanto nos Estados Unidos, quanto aqui, o tema é controverso. Há pessoas que apoiam 
e que discordam dessas medidas, mas isso representa a democracia. Só um debate aberto 
e propositivo levará a sociedade a um posicionamento e a uma tomada de decisão. O que 
ocorrerá não se sabe. Mas, se observar pela própria reportagem, já se tem um parecer: a 
medida “não passará no congresso”. Essas são as belezas e os desafios da democracia, só a 
participação, o aprofundamento do debate e o próprio debate possibilitarão uma tomada de 
decisão que não é eterna, serve para o momento e para a situação atual. Posteriormente, 
entenderemos se acertada ou não e, em caso negativo, há sempre a possibilidade de mudança 
e reafirmação.
3 Democracia, cidadania e direitos humanos
Ao pensarmos sobre democracia, cidadania e direitos humanos, devemos, em primeiro 
lugar, ter claro que são temas interligados e inseparáveis. Não há democracia sem cidadania, 
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do mesmo modo que não há democracia e cidadania sem direitos humanos, ou seja, um 
exige a presença do outro. Para que a democracia exista, é necessário que o Estado a institua 
e isso sempre é feito por meio da Constituição, e se efetiva na prática pela participação das 
pessoas, a cidadania. Tomemos como exemplo a Constituição brasileira de 1988:
A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel do Estado e 
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de Direito e tem 
como fundamentos: 
I- a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – O pluralismo político (artigo 1º) (BRASIL, 1988).
Nesse primeiro artigo da Constituição, temos claramente a direção de toda legislação 
brasileira e dos sinais da democracia; primeiro, porque já está expresso: somos um Estado 
democrático de Direito. Um Estado verdadeiramente cidadão é um Estado democrático e 
para constituir-se deve sê-lo sobre a concordância de seus cidadãos e pautado por leis que 
partam da vontade da população. O que significa que as ações tomadas devem ser regidas 
pela própria legislação. Não se faz de modo baderneiro, desorganizado ou à revelia da lei. 
A lei é um parâmetro para o que se vier a executar. Com isso, poderíamos perguntar: mas 
se a lei rege, existe liberdade? Sim, ser livre não se é fazer o que bem quiser e entender, até 
mesmo porque isso não existe – sempre fazemos e agimos dentro do que é estabelecido pela 
sociedade e por aquilo que as pessoas aceitam como razoável.
Esse artigo, primeiramente, é complementado pelo Art. 4 ao expressar como o Brasil vai 
reger suas relações internacionais, em especial no inciso II, que afirma os direitos humanos 
como uma forma de se estabelecer as relações; o mesmo serve em relação ao inciso VI que 
afirma a defesa pela paz, repúdio ao terrorismo e ao racismo no artigo VIII. É nesse sentido 
que afirmamos a importância de uma legislação para a defesa dos direitos das pessoas como 
uma garantida de que sejam respeitados. 
Partindo desse pressuposto, cabe ao Estado e de certo modo a todas as pessoas, a serem 
os controladores das ações que podem se tornar violentas atingindo a todos. Também, se 
torna importante para um Estado que ele por meio de sua constituição e de suas leis, julgar 
as atitudes praticadas pelas pessoas. E, por fim, cabe também cobrar taxas, impostos e 
obrigações econômicas aos cidadãos.
Aqui, já temos um bom debate a ser feito sobre as maneiras (corretas) de ver o Estado, 
mas o quanto a sociedade realmente tem tido de acesso a tudo isso que é o plano ideal e 
papel do Estado? É para isso que ele se estrutura e para isso que recolhe parte da renda 
social, para redistribuir em benefícios aos cidadãos.
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Talvez devêssemos recuperar esse conceito de Platão, citado no primeiro itemdessa 
aula, para nosso contexto, pois temos visto em muito do que ele diz que, em não havendo 
uma relação profícua (amizade) na sociedade, desaparecem seus fundamentos. 
Para que um povo persista, ou pereça devorado pelo ódio coletivo, é preciso conhecer 
a alma de sua cidade, a polis ou res publica. O que faz com que um povo repita seus 
gestos, reproduzindo-se como violento ou ainda não civilizado, durante um período 
curto ou longo de tempo? O que o torna distinto de outros? [...] a alma de um povo 
surge nas suas realizações, nos costumes, nas artes e ciências, nas religiosidades, na 
cultura. Ou seja, apenas na vida social e nas formas políticas podemos captar esse ser 
fugidio (ROMANO, 2002, p. 53).
Defender os direitos humanos é defender a igualdade entre as pessoas. Essa igualdade é 
uma característica das democracias modernas, pois foi a partir delas que se passou a admitir 
que uma democracia se fundamente e se justifique quando os direitos subjetivos estão 
garantidos. Mas sem dúvida é no século XX que aprendemos realmente a instaurar democracias 
cidadãs, pautadas em direitos humanos. Isso se efetiva quando há uma participação para 
todos, forma só possível dentro de um sistema democrático, mas como também vimos isso foi 
se estabelecendo de modo gradual e, a partir do século passado, se intensificando. Isso quer 
dizer que toda pessoa que vive sob uma forma de governo democrático deve ser participante 
desse governo. Ninguém pode ser excluído e nem mesmo alguns serem privilegiados em 
detrimento de outros.
Assim, pode-se dizer que há uma:
Necessária participação de todos no governo democrático, portanto, da ideia de 
que a lei a qual estou de acordo ou pude recusar será, por direito, aplicada a mim. 
Esse fundamento, diferentemente de uma concepção de legitimidade que coloca no 
centro a paz e a prestação de assistência, é o consentimento das pessoas afetadas 
pela decisão, isto é, dos que fazem parte do povo (KAUFMANN, 2013, p. 79).
As vantagens do sistema democrático podem ser destacadas em muitos aspectos – 
podemos, por exemplo, citar a defesa de seus cidadãos. Na democracia, a ação dos governos 
tem controle, pois se estabelece um equilíbrio de poder, constituído por: Legislativo, 
Executivo e Judiciário. O mesmo deve-se afirmar em relação às garantias que as pessoas 
têm em viver dentro de um regime democrático. As pessoas têm garantidos os seus espaços 
sociais e particulares, sem serem molestadas por mecanismos de imposição do Estado (como 
nas ditaduras), assim como têm o direito à privacidade.
Nas sociedades democráticas é que se podem estabelecer os direitos no campo 
econômico, pois é possível realizar discussões e ter o exercício de possibilidades de 
atividades que o Estado venha a fazer para os cidadãos e em seu nome. A vantagem de 
exercermos política desse modo, além de ser uma garantia de cidadania, ajuda a contar com 
a participação das pessoas como uma forma de garantir os direitos humanos, pois são as 
pessoas que estabelecem as formas de viver e conviver socialmente, tanto em nível econômico 
como político. 
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Aqui, cabe lembrar o que diz o primeiro parágrafo do preâmbulo da Declaração Universal 
dos Direitos Humanos, de 1948: “Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente 
a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento 
da liberdade, da justiça e da paz no mundo” (ONU, 1948, p. 2).
Para estabelecer essa declaração e elencar seus 30 artigos, a ONU (Organização das 
Nações Unidas) considerou uma série de aspectos. 
A relação entre democracia e direitos humanos também está fortemente indicada na 
Declaração e Programa de Ação de Viena de 1993: 
A democracia, o desenvolvimento e o respeito pelos Direitos Humanos e pelas liberdades 
fundamentais são interdependentes e reforçam-se mutuamente. A democracia 
assenta no desejo livremente expresso dos povos em determinar os seus próprios 
sistemas políticos, econômicos, sociais e culturais e a sua participação plena em todos 
os aspectos das suas vidas. Neste contexto, a promoção e a proteção dos Direitos 
Humanos e das liberdades fundamentais, a nível nacional e internacional, devem ser 
universais e conduzidas sem restrições adicionais. A comunidade internacional deverá 
apoiar o reforço e a promoção da democracia, do desenvolvimento e do respeito 
pelos Direitos Humanos e pelas liberdades fundamentais no mundo inteiro (ONU, 
1993, p. 4).
Logo, falar em democracia, cidadania e direitos humanos nos coloca diante de uma 
série imensa de possibilidades e desafios, que são frutos e resultados de umas das melhores 
formas, se não a melhor forma, de a sociedade se organizar.
Considerações finais
A democracia é uma das mais desafiadoras criações humanas. Em especial no Brasil, 
temos muito a fazer e aprender em nosso desafio democrático e de convívio social. 
Considerando o tempo de República, é possível comparar o quão pouco tempo temos vivido 
sobre as regras democráticas. A beleza e o bom de tudo isso é que nada recebemos pronto e 
podemos observar como as experiências históricas são fundamentais para o que se vive hoje 
e o que se planeja em termos de futuro e de país. 
O Brasil vive um momento histórico único, em que as liberdades estão em seu pleno auge. 
Isso é possibilitado pela forma como a democracia está se solidificando e tem sido fortalecida 
no país. Podemos participar, nos manifestar, expressar nossa satisfação ou insatisfação em 
relação ao que está ocorrendo e isso é democracia. 
Além disso, devemos avançar em muitos aspectos e se houver a efetiva participação social, 
com certeza, vamos progredir. Se retrocessos surgirem, não devemos nos deixar abater, pois 
na democracia temos a certeza de que avanços e recuos podem ser corrigidos, diferentemente 
do que ocorre em regimes autoritários, em que essas possibilidades não existem.
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Referências
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BRASIL. Atos institucionais. Portal da Legislação. Disponível em: <http://www4.planalto.gov.br/
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CANÊDO, Letícia Bicalho. Aprendendo a votar. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). 
História da cidadania. 6. ed., São Paulo: Contexto, 2015.
DIMENSTEIN, Gilberto; RODRIGUES, Marta M. Assumpção; GIANSANTI, Álvaro Cesar. Dez lições 
de sociologia. São Paulo: FTD, 2008.
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KAUFMANN, Mattias. Em defesa dos Direitos Humanos: Considerações históricas e de 
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______. Conferência de Direitos Humanos – Viena – 1993. DHNET. Disponível em: <http://
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ROMANO, Roberto. Ética e Brasil 500 anos – história, ideias e fatos. In: COIMBRA, José de Ávila 
Aguiar. Fronteiras da ética. São Paulo: Senac, 2002.
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Aula 11
Cidadania na vida pública e privada
Objetivos Específicos
• Problematizar questões de liberdade e democracia. 
Temas
Introdução1 Ética, cidadania e seus contextos de aplicação
2 Ação política, ativismo político, democracia e competência democrática
Considerações finais
Referências
José Antônio Fracalossi Meister 
Professor Autor
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2
Introdução
A proposta desta aula não será conceituar o que ética e cidadania significam, e sim 
como elas acontecem e nos apresentam dificuldades e benefícios. Esses conceitos provocam 
reações, entendimentos e, de modo muito especial, tornam a vida em sociedade mais 
dinâmica, levando, inclusive, as pessoas, a partir do seu entendimento, a buscar fazer com 
que elas sejam colocadas em pratica e provoquem mudanças nas relações sociais. 
Os conceitos devem ter sua validade nas práticas efetivas. As pessoas, por sua vez, 
precisam perceber tais práticas na medida em que sentem o bem-estar pessoal e social, e 
podem notar que, ao participarem, podem fazer a sociedade melhor, como um espaço no 
qual todos possam conviver democraticamente.
A existência da democracia depende da ética. Quando ambas são efetivas, encontramos a 
cidadania. Se, por um lado, isso é um desafio, por outro, temos muitos exemplos de situações 
na sociedade que nos gratificam com a participação, com momentos de realização humana e 
da vida em sociedade. Muitas atitudes excludentes (como preconceito de raça ou sexo) já não 
são mais aceitas. Outros aspectos, porém, ainda precisam ser mais incentivados e reafirmados 
– como as experiências democráticas (na área política, nas empresas, nas organizações em 
geral) e a solidariedade (tanto individual como coletiva – em situações do dia a dia, como ao 
ajudar alguém, lutar por justiça, a fim de que não falte comida, moradia e trabalho etc.). Esses 
exemplos e os que veremos no decorrer desta aula tornam-se um convite para que se viva 
essas três dimensões: ética, democracia e cidadania.
1 Ética, cidadania e seus contextos de aplicação
Quando pensamos ou buscamos expressar a cidadania, devemos ter presente que ela é 
resultante de um aprendizado. Aprendemos a ser cidadãos. Ao nascermos, a legislação nos 
garante cidadania, pois é papel da lei garantir a todos “um lugar” o qual possamos identificar 
como nosso (pátria e lar, com garantias sociais etc.). Para que a cidadania possa existir, 
primeiro ela vem garantida legalmente e, depois, efetiva-se com a participação social de cada 
um e do conjunto da sociedade.
A civilidade não nasce nem se desenvolve, se não produz uma sintonia entre os atores 
sociais que entram em jogo, entre a sociedade correspondente e cada um de seus 
membros. Por isso a sociedade deve gerar em cada um o sentimento de pertencimento 
a ela, de que essa sociedade se preocupa com ele e, em consequência, a convicção de 
que vale a pena trabalhar para mantê-la e melhorá-la (CORTINA, 2005, p. 29).
O conceito de cidadania e esse modo de ser socialmente engajado tornou-se um padrão 
para as pessoas. Mais do que isso, deve-se pensar em uma sociedade globalizada e não 
somente na cidadania nacional, como diz Cortina (2005), cosmopolita, isto é, que vai além 
do contexto de nosso país, pensando em problemas e em situações maiores do que os que 
estão próximos a nós. 
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Não se pode mais pensar de modo restritivo. Por exemplo, um problema ambiental 
em determinado lugar pode atingir um amplo espectro, não delimitado por barreiras 
territoriais. Da mesma forma, acontece quando uma crise econômica ou política atinge 
um país ou região. Várias situações nos fazem entender que o mundo, nesse sentido, 
não tem “fronteiras” e que devemos aprender a conviver e a ver os problemas de uns 
como sendo de todos.
Outro ponto a considerar sobre a cidadania é que se por um lado, ela é uma aquisição 
que se faz pelo pertencimento social, por outro, também é resultante de um aprendizado 
que se adquire desde a educação formal (escolar) até a educação informal (família, amigos, 
meios de comunicação, ambiente social). Com isso, deve-se ter presente que se aprende a 
ser ético, democrático, assim como aprende-se a ser cidadão. Segundo Cortina (2005, p. 27-
28): “cidadania é um conceito mediador porque integra exigências de justiça e, ao mesmo 
tempo, faz referências aos que são membros, une a racionalidade da justiça com o calor do 
sentimento de pertença”.
1.1 Ética e cidadania da vida privada
Vivemos em uma sociedade na qual somos desafiados constantemente a nos adaptar 
ou a alterar nossa realidade, pois, ao nascer, recebemos um contexto pronto, que não fora 
escolhido por nós, mas desenhado por terceiros. A cada dia, temos que aprender a conviver, 
a lutar por nossa sobrevivência, a estudar, a trabalhar, a nos relacionar etc. Ao embarcar 
em um ônibus, metrô ou trem, por exemplo, temos sempre que dividir nossos espaços com 
outros. E, sobre isso, Cortina (2005, p. 29) afirma:
A sociedade civil [...] apresenta-se hoje como a melhor escola de civilidade, a partir 
do que se denominou ‘o argumento da sociedade civil’. [...] É nos grupos da sociedade 
civil, gerados livremente e espontaneamente, que as pessoas aprendem a participar 
e a se interessar pelas questões públicas, já que o âmbito político na verdade está 
vetado. A sociedade civil será, portanto, sob essa perspectiva, a autêntica escola de 
cidadania. 
É na sociedade civil que as pessoas acabam interessando-se pelas questões públicas, pois 
é a partir da real participação, que a autora afirma ser espontânea, que as pessoas passam 
a aprender e a exercer seu papel de cidadãs. Politicamente, o desenvolvimento do papel da 
cidadania fica mais difícil, pois em geral está fechado/vetado para a maioria das pessoas.
É em sociedade que se vive a liberdade. Esta até pode ser suprida quando, por exemplo, 
as pessoas não têm emprego e o pão de cada dia falta. Não se resolve o problema da cidadania 
se as pessoas não estiverem incluídas socialmente e com possibilidades reais de atuarem, 
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atuação essa que, como diz Cortina (2005), se efetiva quando espontânea, pois, “[...] em 
última instância, cada indivíduo que precisa estar convencido de que essas leis são as que ele 
daria a si mesmo, mesmo que as tenha aprendido em seu contexto social” (CORTINA, 2005, 
p. 15). 
A partir daí, passa-se a ter uma compreensão ética da cidadania, não uma ética que parte 
do universal para o particular, mas do particular para o geral. Não é uma lei impositiva, mas 
um entendimento de que somos parte de um todo e que, como tal, é necessário estender a 
todos os benefícios que se deseja para cada um.
A grande vantagem de conseguir aprender a viver desse modo é que o aprendizado se dá 
no processo de socialização e de validade para as leis a serem estabelecidas, para que sejam 
compreendidas por todos e socialmente. Esse desafio nos leva a entender a cidadania em 
seu sentido mais amplo possível, não só no sentido político, mas também na compreensão 
econômica e civil, ou seja, em uma compreensão mais holística/completa da cidadania. 
O mais instigante em todos esses aspectos é o entendimento de que as pessoas precisam 
sentir-se membros da comunidade; só aí são despertadas para a sua valorização e para a 
importância da sua atuação dentro dessa sociedade.
1.2 Ética e cidadania das instituições de ensino
Este item pode ser pensado de dois modos. Um deles seria como as instituições de 
ensino estabelecem suas relações com seus diferentes públicos: funcionários, professores, 
alunos, pais, Estado etc. e como elas se estabelecem e reconhecem dentro da perspectiva 
social. O segundo modo, não menos importante e que parece que sedesperta para uma 
questão-fim, é o papel formador da instituição de ensino. 
Vamos nos prender mais a esse segundo aspecto, que parece ser uma questão de 
fundamental importância para as instituições de ensino na formação intelectual e moral 
do cidadão. Assim, pode-se estar em consonância com o que expressa a nossa Constituição 
Federal de 1988, em seu Artigo 205: “a educação, direito de todos e dever do Estado e da 
família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno 
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para 
o trabalho” (BRASIL, 1988).
É a partir da formação intelectual e moral que se tem a grande possibilidade de formação 
de cidadãos. Nesse sentido, pode-se afirmar que a instituição escolar tem um papel central 
na formação das pessoas. 
A família, a mídia, o mundo do trabalho não são mais os mesmos de alguns anos 
atrás. Em geral, dão-se conotações positivas a essas transformações. Afinal de contas, 
passou-se a viver em um mundo mais flexível, mais democrático. O mesmo pode ser 
dito com relação aos padrões de um comportamento de sexualidade, de consumo, 
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educação dos filhos, de relação entre as pessoas. Entretanto, não se pode negar que 
essas mesmas transformações ocasionaram rachaduras nos modos de funcionamento 
dessas instituições clássicas, e por consequência tem-se a crise familiar, a crise das 
relações de trabalho, a crise educacional e até mesmo da democracia (PEREIRA, 2008, 
p. 27).
A dinâmica das relações e das instituições leva a sociedade, em determinados momentos, 
a ver alguns padrões diferenciados em seus modos de ser e de viver. Por exemplo, dentro 
da perspectiva educacional, temos professores e famílias diante de situações as quais eles 
não sabem como resolver, situações que não são lineares e, como tal, exigem respostas, 
posicionamentos e ações que não estão prontos. 
A vivência da cidadania precisa ser construída e elaborada, por isso, não é sem razão 
que muito se tem afirmado que a escola vive um período fora de sua época, isto é, ela pratica 
ensinamentos para os quais os alunos não conseguem encontrar serventia. Por um lado, ela 
tem um papel (inserção no mundo intelectual) e dele não pode prescindir. E, para esse fim, 
ela recorre ao passado para que as pessoas possam saber o que já foi feito e pensado e, a 
partir daí, buscar a inovação. Quando nos defrontamos com o papel inovador é que estão os 
grandes problemas educacionais e sociais. 
A ética na educação visa formar as pessoas com o intuito de constituir seres que se 
entendam como membros da sociedade e que, como tal, assumam responsabilidades 
que são próprias de cada um e de todos.
Cabe à ética orientar as pessoas para que os conhecimentos adquiridos estabeleçam 
relações entre competências para atuarem socialmente. E isso deve resultar em uma 
possibilidade de convívio social responsável. Citemos um exemplo brasileiro nesse sentido:
É preciso reconhecer que alguns esforços concretos vêm sendo formalizados com 
intuito de inserir a discussão ética no contexto educacional. São exemplos os temas 
transversais dos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) que se referem a um conjunto 
de temáticas sociais, presentes na vida cotidiana, que deverão ser tangenciadas 
pelas áreas curriculares específicas, impregnando dessa forma transversalmente os 
conteúdos em cada disciplina (PEREIRA; SILVA, 2008, p. 29).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais trouxeram para a sala de aula uma situação que 
fez com que todos os cursos de graduação, inclusive tecnólogos, levassem até seus alunos 
essa temática ética e cidadã, como uma tarefa a ser pensada. Nossa aula é um exemplo disso. 
Estamos refletindo sobre ética, cidadania e democracia porque isso foi estabelecido como 
uma das competências que cabe à instituição escolar trazer para os três níveis de ensino 
(fundamental, médio e superior).
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A temática deve ser discutida e proposta no currículo dos alunos e é isso que se está 
fazendo: a reflexão sobre a realidade ética e seus desdobramentos sociais, como a cidadania 
e a democracia. Não podemos também nos furtar de perguntar se as instituições estão 
cumprindo esse papel de refletir e levar seus educandos a um engajamento. O que se constata 
é que estão se esforçando para isso e que, dentro de um mundo de temas que devem ser 
pautados nas escolas, muitas vezes, alguns são negligenciados.
Para alguns alunos, talvez essa seja uma oportunidade única de refletir de forma 
sistemática sobre isso; para outros, é apenas mais um estágio, pois continuarão seus estudos 
em níveis cada vez mais elevados. Nem uma nem outra situação é garantia de que as pessoas 
sairão dos bancos escolares éticas e cidadãs, porque esse é um papel de formação constante 
e a escola é apenas mais uma formadora. E, hoje, mais do que em outros tempos, talvez os 
meios de comunicação tenham formado mais em alguns aspectos do que a escola, na medida 
em que o conteúdo e as temáticas estão facilmente acessíveis por esses meios.
Entre os vários aspectos com os quais a educação se defronta, o acesso à informação 
tem sido um desafio constante, tanto para as instituições como para os educadores. As 
informações circulam muito rapidamente e têm levado desafios cada vez maiores para a 
sala de aula. Assim, aqui, nos deparamos com duas realidades. Nas escolas particulares, 
essa tecnologia está mais disponível e acessível; já nas escolas públicas, geralmente, ela 
está equidistante e, muitas vezes, não é muito acessível para os alunos e professores. Com 
isso, criam-se dois mundos na educação: os incluídos e os excluídos do mundo tecnológico-
globalizado, o que é preocupante. 
É fundamental não realizar pré-julgamentos, pois eles causam danos aos indivíduos, 
à sociedade e às instituições. Vamos observar, a seguir, um exemplo concreto, com dados 
oficiais, sobre a inclusão e o acolhimento de crianças com deficiência nas escolas. 
A inclusão cresce a cada ano e, com ela, o desafio de garantir uma educação de 
qualidade para todos. Na escola inclusiva, os alunos aprendem a conviver com a 
diferença e se tornam cidadãos solidários. Para que isso se torne realidade em cada 
sala de aula, a participação do professor é essencial [...]. O número de estudantes 
com algum tipo de necessidade especial cresce a cada ano na rede regular de ensino. 
Em 1998, havia apenas 43,9 mil matriculados nas redes pública e privada. Em 2003, 
eram 144,1 mil e, no ano passado, chegaram a 184,7 mil — um crescimento anual 
recorde de 28,1%. Os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais 
Anísio Teixeira (Inep) não deixam dúvidas de que o movimento de inclusão no Brasil é 
irreversível (CAVALCANTE, 2005).
Outro exemplo que se pode citar como uma questão altamente ética, cidadã e democrática 
é a luta por mais vagas em creches públicas. 
De acordo com as leis brasileiras, toda criança tem sua vaga garantida nas creches 
públicas. [...] ‘ninguém na creche estava me fazendo um favor’ [...]. Na verdade, os 
governantes são obrigados a assegurar vagas para todas as crianças na escola. É 
para isso que pagamos impostos. Quando as autoridades se recusam a cumprir suas 
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obrigações, devemos recorrer à Justiça para garantir nossos direitos! (RÉGENER, 
2014).
Desses dois exemplos desprende-se, em especial, que os direitos desde o nosso 
nascimento existem para que possamos assumi-los como nossos. Eles devem também ser 
asseguradospelo Estado, pois esse é seu papel e essa é sua função. Para isso, são pagos 
impostos, ou seja, cada um entra com sua contrapartida: o cidadão paga seus impostos 
em todas as operações de compra que realiza e o Estado fornece aquilo que é garantia dos 
cidadãos, conforme a legislação. São vias de duas mãos; as duas estão sob a guarda e a 
vigilância da lei. Se cada um cumprisse seu papel, não haveria necessidade de famílias terem 
que recorrer à justiça, por exemplo, para garantir aquilo que lhes é devido. O papel coercitivo 
da lei é uma forma de garantir que os direitos que deveriam ser tácitos sejam cumpridos.
Vivemos em uma sociedade em que as leis passam a ser necessárias como uma forma de 
garantia e de obrigação para que os direitos sejam executados e efetivados. Por isso, cabe a 
cada um de nós fazer com que esses direitos valham. E, se isso não ocorrer de modo “natural”, 
os próprios mecanismos que a sociedade criou precisam ser ativados. 
 Toda vez que se toma uma realidade de forma parcial, é possível cometer injustiças e 
praticar ações que ferem a ética e a cidadania. É importante perceber o quanto uma ação pode 
ser perigosa e causar prejuízo quando não se faz, por exemplo, um levantamento cuidadoso 
dos fatos. A educação, nesse sentido, pode nos ajudar a obter métodos de conhecimento e 
de levantamento importantes para evitar erros. 
Aprendemos socialmente a estabelecer maneiras e a formular princípios éticos 
para que sejamos cada vez mais cautelosos e façamos de nossa ação algo fundamental 
para que o convívio social seja efetivamente pautado pela ética. Poder-se-ia perguntar: 
isso existe? Sim, em muitas situações, e não, em outras. O que devemos aprender 
é que somos eternos errantes em busca de verdades e que estas sejam as mais 
corretas possíveis.
Os meios de comunicação ou a mídia assumem determinados fatos e os tornam 
manchete. Alguns desses fatos têm recursos que podem chocar a pessoas e levá-las a agir de 
um determinado modo que, posteriormente, deveria ser repensado. Mas, uma vez lançado 
ao ar determinado fato, é muito difícil resgatá-lo, até mesmo porque um levantamento 
ou inquérito leva tempo para ser concluído, e as pessoas poderão já ter cometido atos 
equivocados em relação ao assunto em questão. Essa posição é reforçada por Srour 
(2013, p. 17): 
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Embora seja um valioso instrumento de vigilância democrática, a mídia tem um 
enorme potencial para causar prejuízos à imagem das empresas e das pessoas quando 
ignora o princípio da presunção de inocência e quando propaga investigações policiais 
e administrativas que se deveriam pautar pelo sigilo e pela discrição. 
Quando se reafirma a participação social, a cidadania, o papel da democracia e da ética, 
o que se visa é chamar a atenção para fatos que são de nosso dia a dia e que estão muito 
presentes na realidade. Viver uma realidade democrática é ter a possibilidade de erro, exceto 
quando cometido por atos de imprudência, por julgamentos apressados e que levam as 
pessoas a agir de modo precipitado e sem fundamento.
1.3 Ética e cidadania da vida política
Para Ribeiro (2002), a ética política tem relação com a ética da responsabilidade, pois 
leva em conta as consequências previsíveis de seus atos. É a ética que leva a pessoa a entender 
que responde pelos resultados do que fez, tendo presente sempre uma questão futura; pensar 
nos efeitos e nos resultados que serão de produzidos. Os problemas de governo relacionam-
se mais com a ética da responsabilidade. A política prioriza uma ética da responsabilidade e 
está em vista ao que os governantes do executivo e parlamentares pensam.
A Constituição Federal de 1988 tem, em si, um cunho ético, especialmente quando vem 
ao encontro dessa defesa de uma sociedade que visa seu bem-estar, que visa melhorias 
sociais, e isso aparece de forma muito clara e expressa no Art. 3º, que afirma:
Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem raça, sexo, cor, idade e 
quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1988).
Assim, poder-se-ia questionar: haveria forma mais ética de ser um cidadão do Brasil ou 
de qualquer outro país do que a partir do que está expresso, por exemplo, no artigo citado 
da Constituição? Mesmo que não fosse apenas de nossa constituição, mas da constituição de 
qualquer país do mundo? 
As leis brasileiras, em muitos casos, estão muito próximas de um alto grau de acerto. 
O problema não está na lei, mas na sua execução. Esse é, sem dúvida, o principal problema 
ético de nossa sociedade hoje.
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Ribeiro (2002) ainda chama a atenção para um fato importante que, felizmente, 
foi aprovado e está em execução no Brasil, que é a lei da responsabilidade fiscal (Lei 
complementar nº 101, de 4 de maio de 2000). Um pouco antes dessa lei, surgiu a 
lei de responsabilidade ambiental (Lei nº 9605, de 12 de fevereiro de 1998). Ambas 
são, sem dúvida, leis que trouxeram grandes avanços no tocante à responsabilidade, 
pois estabelecem limites de gastos e tarefas do poder executivo em relação ao que 
deve realizar. No entanto, falta uma grande lei e que deveria ser pensada com muita 
urgência e presteza, que é a lei de responsabilidade social, que “[...] medisse a ação dos 
governantes no tocante a uma cesta de indicadores sociais” (RIBEIRO, 2002, p. 139).
O que os governos têm buscado fazer é estabelecer um equilíbrio orçamentário, mas, 
como diz Ribeiro (2002, p. 139): “[...] equilibrar as contas é meio, promover a justiça é fim. 
Os fins são mais importantes que os meios. Infelizmente, não tem sido esse o caso”. Nesse 
sentido, deve-se seguir para que a sociedade se conscientize a respeito da responsabilidade 
social.
A vivência da cidadania na vida política ou pública exige, de cada um de seus partícipes, 
cada vez mais transparência e correção das ações. Vivemos um momento ímpar no mundo, 
possibilitado pela comunicação e divulgação de dados pela internet.
É importante, portanto, perceber que muitas das ações sociais realizadas são 
consequências dos direitos humanos e trouxeram grandes avanços e importantes inovações 
no tocante ao papel dos governantes, pois passaram a estabelecer que: “os fins de seus 
atos devem estar direcionados a um aumento da qualidade de vida, que não se esgota na 
linguagem dos direitos humanos, mas têm nela, ao menos, sua condição necessária (ainda 
que não suficiente)” (RIBEIRO, 2002, p. 140).
Mesmo dentro de um regime democrático, o foco de atuação dos governantes pode 
ser estabelecido, segundo Ribeiro (2002), em duas vertentes: a liberal e a de solidariedade, 
que não podem limitar-se aos direitos humanos. Se fosse liberal, buscar-se-ia uma forma de 
maior liberdade de iniciativa e consumo, fechando-se para políticas de distribuição de renda 
e redução da desigualdade, que é uma busca constante da solidariedade.
O rumo da política será dado por escolhas que se faz, por meio de eleições, as quais irão 
estabelecer as políticas a serem praticadas pelos governantes. Mas, mais do que isso, toda 
e qualquer ação política deve sempre ter, como metas, a redução da miséria e a melhoria 
da qualidade de vida dos cidadãos, e é para isso que os governantes devem estabelecer os 
devidos caminhos e as políticas que visem esses rumos.
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Toda forma de governo deve estar atenta à redução da pobreza e da miséria, ou 
seja, pensar em formas de inclusão social, visando atender sempre aos socialmente 
marginalizados. Para isso, cabe à política, em suas formas, estabelecer suas ações em 
vista a uma cidadania efetiva e uma realidade ética.
Assim, deve-se considerar ainda o que Ribeiro (2002, p. 142) enfatiza, ao afirmar que: “o 
século XX foi marcado por forte investimento no avanço administrativo, basicamente por meio 
de procedimentos que, há um tempo, aumentassem a eficiência do Estado e garantissem a 
justiça de sua atuação”.
Segundo Ribeiro (2002), pensar ética na política é ir além do que é bom e correto ou 
até mesmo além da honestidade, pois isso não é suficiente. É preciso que se faça mais e 
realize-se a efetiva cidadania, isto é, que as pessoas sejam de fato membras da sociedade e 
entendam quais são as metas necessárias para que os governantes ajam com o mais alto grau 
de correção possível. É a partir dessa efetiva participação social que se pode dizer que uma 
sociedade é participativa ou cidadã e que age eticamente.
E, mais ainda, não adianta a sociedade dizer que os políticos são corruptos; eles só o são 
porque a sociedade os aceita ou tolera. E, uma vez os tolerando, os elege e reelege; com isso, 
continuam fazendo e reafirmando políticas que deixam a desejar e não são aceitas. Mas, por 
outro lado, a sociedade também não age para impedir essas ações da classe política; assim, 
o ciclo se repete. 
Figura 1 – A eleição como troca de favores
Oselka (2002), citando Volnei Garrafa, que deve ser realizada uma política altamente 
importante em localidades em que haja realmente uma cidadania crescente. Essa cidadania 
crescente pode ser denominada como cidadania da igualdade. Ou seja:
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A igualdade é consequência desejada da equidade, sendo esta o ponto de partida 
para aquela. Ou seja, é somente através do reconhecimento das diferenças e das 
necessidades dos sujeitos sociais que se pode alcançar a igualdade. A igualdade 
não é mais um ponto de partida ideológico que tendia a anular as diferenças. A 
igualdade é o ponto de chegada da justiça social, referencial dos direitos humanos 
e onde o próximo passo é o reconhecimento da cidadania (GARRAFA apud OSELKA, 
2002, p. 171).
A cidadania não tem preço, mas tem um valor inimaginável. Não se vende e não se 
empresta nem que seja para obter qualquer benefício individual ou até mesmo que venha 
a favorecer um momento oportunista ou um princípio de ganho egoísta. O importante é 
entender que ser cidadão é um direito e isso não pode ser desfeito, nem mesmo pode-se 
abrir mão dele em vista de qualquer benesse. 
Sabemos que vivendo em uma sociedade altamente capitalista, que visa o lucro e o 
ganho, a solidariedade só pode existir quando de modo gratuito, sem exigências ou trocas. 
Viver de modo cidadão é viver sem “vender” sua consciência ou sua maneira de agir em vista 
de um bem coletivo e que visa a inserção cada maior de pessoas.
2 Ação política, ativismo político, democracia e competência 
democrática
No Brasil, a participação cidadã em sentido político sempre foi muito restritiva. Somente 
após a implantação da democracia efetiva, após 1985, a participação política pôde realmente 
firmar-se e abrir espaços para a população manifestar-se e demonstrar se gosta ou não do 
que acontece ao seu redor. Devemos, assim, entender que a cidadania política, estatal é:
O espaço público é o setor da administração dos rendimentos e dos gastos do 
Estado que satisfaz as necessidades e aspirações públicas, e se situa além do espaço 
doméstico e da economia de mercado. Sua promoção assegura uma certa economia 
comum, que incide em uma distribuição mais justa da riqueza (CORTINA, 2005, p. 19).
A questão que desafia o pensamento é buscar um ponto de contato no qual as leis e os 
valores possam ser humanizadores a partir do que as pessoas admitem como próprio para si 
e para os outros. A união da vida política/democrática com a cidadania é uma forma de fazer 
com que ambas se efetivem. Não se pode encontrar formas de estabelecer a democracia sem 
que haja espaço para a participação e vice-versa.
Segundo Ribeiro (2002), as democracias modernas, além do aspecto ético, têm outro 
parâmetro importante a ser destacado, que, nesse sentido, se tornou altamente positivo e 
inovador: os direitos humanos. 
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Os direitos humanos, a grande conquista moderna, procede de ideia de que o 
governo está a serviço dos cidadãos, e não o contrário. Cada indivíduo, antes mesmo 
de fazer parte do poder político, já detém direitos que são seus, pelo simples ato de 
nascer. É esse vínculo do direito ao nascimento que permite dizer que eles são direitos 
naturais. Já o Estado é um instrumento para realizar fins comuns às pessoas (RIBEIRO, 
2002, p. 134).
É importante entender esse modo de conceber a realidade e a própria sociedade. 
O grande desafio que se tem é justamente buscar fatores de igualdade entre desiguais. 
Por exemplo, uma pessoa que vive no Japão atinge uma média de idade em torno de 80 
anos; já em países como Serra da Leoa ou Burkina Fasso, a média de idade é metade da 
de um japonês. Esses são exemplos de países pouco relevantes para o contexto mundial 
e, neles, está um alto grau de pessoas excluídas e que não contam como importantes 
para o sistema capitalista mundial.
O que vamos entender, então, por ativismo político? 
Trata-se de uma doutrina que nos leva a uma prática ou ação com o intuito de 
transformação da realidade e que pode efetivar-se em várias possibilidades, como a civil, 
na busca de cumprimento do direito de atendimento à saúde para todos, garantido pela 
constituição, por exemplo; a social, com melhorias no transporte público; a econômica, com 
uma greve ou uma negociação de dissídio; a política, na busca de ética na política. Claro que 
nenhuma dessas corre sozinha; em determinados momentos, todas essas dimensões podem 
estar juntas; em outros, só uma ou outra.
Por isso é que, em muitos casos, os ativistas são vistos como as pessoas que fazem 
manifestações, protestos, atrapalham o andamento da cidade – pensemos, por exemplo, nas 
passeatas, paralisações e marchas. Por isso, muitas vezes, os ativistas políticos são encarados 
como militantes (= pessoas que seguem determinada ideologia).
O ativismo político, além dos exemplos citados, pode ser uma rebelião feita por presos 
ou por trabalhadores diante de uma situação injusta. Pode ser dentro da legalidade ou da 
ilegalidade, como na invasão de um terreno ou de propriedades para fazer uma ocupação. 
O que é essencial ao ativismo não é simplesmente haver mais do que uma pessoa, 
como em um cinema, mas um sentido de solidariedade em busca da transgressão. 
Deve haver um sentido de identidade compartilhada, que pode ser entendido nesta 
etapa como pessoas reconhecendo, umas nas outras, a raiva, o medo, a esperança 
ou outras emoções que sintam quanto a uma transgressão (JORDAN, 2002, p. 11-12).
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Tem-se privilegiado o uso do termo ativista para não se utilizar revolucionário e radical, 
pois essas palavras sofreram desgaste em seu significado no decorrer da história. O ativista é 
uma pessoa que busca revolucionar determinada ordem porque não concorda com ela ou a 
considera injusta. 
São também exemplos que trouxeram grande mudança:
A Primavera Árabe, movimento que ocorreu no Oriente Médio e no norte da África, em 
que a população foi às ruas para buscar melhorias de condições de vida e derrubar

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