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Aulas 13 e 14 Prof. Riyuzo Ikeda Júnior O Estado Constitucional de Direito e sua gênese com o Estado Liberal e O Estado e suas perspectivas contemporâneas (1ª parte) 1 Objetivos 1 - estabelecer a relação existente entre a ascensão do Estado Liberal e a decadência das estruturas fundamentadoras do Estado absolutista; 2 - correlacionar o Estado de Direito com o movimento constitucionalista do Século XVIII; 3 - apontar as principais características do denominado Estado Liberal, a partir da ideia de Estado Mínimo. 4 - compreender que o chamado paradigma neoconstitucionalista propõe um novo equilíbrio de forças no processo de divisão de poderes no Estado; 5 - entender os motivos pelos quais o reconhecimento da universalidade dos direitos humanos contribuem para a relativização do conceito de soberania estatal; 6 - reconhecer as dificuldades dos Estados contemporâneos em se relacionarem com as divergentes demandas das vertentes pluralistas e multiculturalistas. 2 Estrutura da Aula 1. A ascensão do Estado liberal no âmbito do declínio do Regime absolutista. 2. O Estado de Direito como decorrência do Estado liberal. 3.As características do Estado Liberal. 4. O Neoconstitucionalismo e a reconfiguração da divisão de poderes. 5. Os direitos humanos e a relativização da soberania estatal. 6.A pluralização do Estado contemporâneo. 3 Evolução do conceito de Estado Constitucional e seus atuais desafios 4 Os marcos da construção do conceito de Estado na história: 1648 – Estado Absoluto 1789 – Estado Liberal 1919 – Estado Social Evolução do conceito de Estado Constitucional e seus atuais desafios Sobre o Estado Constitucional, especificamente, não há uma discussão pacífica em torno de seu início. Há aqueles que alegam que foi em 1776 (Independência Americana) com a Carta dos Povos da Virgínia. Por outro lado há os que defendem seu início em 1789 (Revolução Francesa) com a Carta dos Direitos do Homem e do Cidadão. De toda a forma ambos os processos são caminhos pavimentados à democracia através de textos constitucionais, então esta é a conclusão em comum para o nascimento do Estado Constitucional. 5 Evolução do conceito de Estado Constitucional e seus atuais desafios 6 Direitos Fundamentais = americanos. Direitos Humanos = franceses. Carta dos Direitos do Homem e do Cidadão. Evolução do conceito de Estado Constitucional e seus atuais desafios 7 O Estado Constitucional na forma como conhecemos tem seu marco no final da Guerra Fria. Queda do Muro de Berlim, em 1989. Fim simbólico do Bloco Soviético. Mikhail Gorbachev, ex-líder- dirigente da URSS faz pronunciamento final em cadeia de rádio e televisão oficializando o final do Bloco Soviético em 1991. Evolução do conceito de Estado Constitucional e seus atuais desafios 8 Nesse Estado Constitucional contemporâneo pós-Guerra Fria se destacam alguns pontos: 1) Neoliberalismo ou Modelo Neoliberal; 2) Relativização da soberania (absoluta) do Estado westfaliano; 3) Estado Social superado pelo Estado pós-Social (ou Estado pós-moderno) com interferências no Direito Constitucional; 4) Crise doWelfare State. A ciência política e seu objeto de estudo 9 Há hoje duas formas de pensar a Ciência Política: como uma generalidade ou como um acidente. Generalização: nesse caso o cientista político tenta observar e entender o fenômeno político como sendo algo genérico ao longo da história, com pontos em comum, teorias fixas, quadros globais do contexto. Acidente: “... tradições políticas e sociais vivenciadas em um dado território guardariam íntima relação com as especificidades histórico-culturais que marcam cada região.” Evolução do conceito de Estado Constitucional e seus atuais desafios 10 Outro ponto que explica a construção do Estado Constitucional contemporâneo é: os atentados de 2001 em NovaYork. Dentre os pontos que identificam esse Estado estão: (i) relativização da soberania, (ii) encurtamento jurídico do Estado, (iii) revivificação da ordem política liberal, (iv) os riscos de neutralização ética da Constituição e da proteção constitucional dos hipossuficientes Atentados terroristas no complexo do World Trade Center (WTC) na Ilha de Manhattan em Nova York, EUA, em 2001. Evolução do conceito de Estado Constitucional e seus atuais desafios 11 Estado Constitucional de Direito e sua gênese com o Estado Liberal 12 A Revolução Francesa foi o marco do constitucionalismo democrático por aplicar dois pontos importantes do Direito Constitucional moderno: 1) A separação dos poderes. 2) previsão de direitos fundamentais que prevalecem sobre a existência do próprio Estado. A superação do governo dos homens pelo governo das leis 13 O Estado de Direito, formado pelo fortalecimento do Estado Liberal, começa a ganhar forma com as revoluções liberais do século XVIII (Revolução Americana e Revolução Francesa). No Estado Liberal a obediência às leis, e não ao monarca (governo de homens), marcam o respeito aos direitos e garantias individuais. OBS.: Declaração da Virgínia e a Declaração de Independência dos EUA. Estado Liberal de Direitos = Estado limitado por uma constituição e leis elaboradas pelo próprio Estado. A superação do governo dos homens pelo governo das leis 14 No Estado Liberal a constituição tem as seguintes características: (i) rígida, (ii) escrita e (iii) garantidora da tripartição do poder. A superação do governo dos homens pelo governo das leis 15 As bases do Estado Liberal tem suas origens em reivindicações burguesas da França. Era uma camada social em ascensão e com poderio econômico não absorvido pela estratificação social da época, bem como pagava pesados impostos e estava subordinada aos desmandos do monarca. A superação do governo dos homens pelo governo das leis 16 O objetivo principal do Estado Liberal passa pelo direito de: “proteger a propriedade e as liberdades individuais ante o arbítrio do poder político a partir de uma “estatalidade mínima”, não interventora.” John Locke. A liberdade como valor primordial e o Estado Mínimo 17 • O Estado Liberal preconiza uma liberdade formal. Liberdade nas leis, mas não necessariamente prática (todos são iguais perante a lei). TRATAMENTO IGUAL PARA OS DESIGUAIS. • Este Estado Liberal preconiza Estado mínimo, ou seja, “... direitos de participação política e aos círculos de liberdades do indivíduo, aí incluída a livre iniciativa e a propriedade. São os chamados direitos políticos e civis.” A liberdade como valor primordial e o Estado Mínimo 18 Relembrando as gerações de Direitos Humanos: 1ª geração Individual, civil e política 2ª geração Sociais, econômicos e culturais 3ª geração Fraternidade, direitos coletivos e difusos Possível 4ª geração Informática e bioética A liberdade como valor primordial e o Estado Mínimo 19 Estado Liberal (mínimo, liberdades econômicas, livre iniciativa, liberdade do capital, lucro) versus Estado Social (previdência, preocupação com trabalhador, questão social, direitos relativos à produção, salubridade, moradia, outros). “Em síntese, o paradigma Liberal só reconhece como direitos públicos subjetivos as liberdades individuais e os direitos políticos (direito de votar, ser votado e de participar da vida política do Estado).” O Estado Social: o Welfare State e a crise do Estado liberal 20 Se por um lado o Estado Liberal protegia a classe burguesa e não o homem comum em si o Welfare State vem para suprir as lacunas deixadas pelo primeiro. “... a engenharia constitucional do modelo liberal não teve o condão de garantir a dignidade da pessoa humana, ainda que em sua expressão mínima. Nesse sentido, é muito importante perceber que nem mesmo os avanços da democracia liberal, tais como: (i) a igualdade formal perante a lei, (ii) a garantia dos direitos civis e políticos, (iii) a limitaçãodo arbítrio estatal mediante a separação de poderes e muitos outros, foram capazes de criar as condições mínimas indispensáveis ao efetivo gozo dos direitos fundamentais garantidores de vida digna para de todos os cidadãos.” CRISE DO MODELO DE ESTADO LIBERAL. Características do Welfare State 21 O Estado Social tem como marcos a Constituição do México (1917) e a Constituição de Weimar (1919). Esses textos constitucionais são pioneiros ao introduzir em seu rol temas trabalhistas, sociais, culturais e econômicos. O Estado Social significou maior intervencionismo do poder público na economia, na sociedade, na vida privada, rejeição ao Estado Mínimo e outros. No Brasil a introdução do Estado Social ocorreu na Constituição de 1934. Características do Welfare State 22 No Welfare State se procurava a igualdade material por intermédio do Estado e não perante o Estado. “... deve agora o Estado tratar desigualmente os desiguais (na proporção de suas desigualdades), protegendo os hipossuficientes.” A crise do Welfare State no mundo globalizado 23 Globalização; Fim do bipolarismo mundial (Capitalismo X Socialismo); Relativização dos direitos trabalhistas, culturais e econômicos; O Estado e suas perspectivas contemporâneas 24 De forma geral tarefas de uma Constituição são as seguintes: a) traçar a organização política do Estado. b) estabelecer um rol de direitos fundamentais. c) determinar os princípios fundamentais e os objetivos que orientarão as ações de Estados. O Estado e suas perspectivas contemporâneas 25 “Por isso, a forma como as constituições se configuram tem inequívoca relação com a estruturação do Estado (suas competências, as relações mantidas entre os poderes, seus órgãos etc.). Se, historicamente, observamos que o Estado liberal se organiza com base em constituições de cunho liberal, estabelecendo um tipo de Estado que se abstém de atuar (Estado mínimo) e o Estado social se estrutura por meio de constituições que organizam um Estado atuante, prestador de serviços e por isso mais “encorpado”, a pergunta que surge é a seguinte: que tipo de constitucionalismo vem influenciando a formação do Estado brasileiro nos dias de hoje?” O Estado e suas perspectivas contemporâneas 26 Na conjuntura pós-Estado Social está clara a construção do chamado neoconstitucionalismo. Insta salientar que o neoconstitucionalismo não abriu mão dos direitos individuais e sociais alcançados até então, mas agregou novas formas ao Estado contemporâneo. Duas características se destacam no neoconstitucionalismo: (i) nova reconfiguração entre os poderes, sobretudo o Legislativo e o Judiciário e (ii) as Constituições irradiam valores, principalmente sobre a dignidade humana. O Estado e suas perspectivas contemporâneas 27 (i) “... por trás de cada preceito legal é sempre possível encontrar uma norma constitucional que pode confirmar tal preceito (legal) ou, ao contrário, pode contradizê-lo.”Ou seja deu-se ao Poder Judiciário, sobretudo concenente ao Controle de Constitucionalidade a liberdade de interpretar e reinterpretar normas constitucionais havendo necessidade de fazê-lo. Ao adentrar, ainda, em diversos ramos da vida, a Constituição também daria margem ao Poder Judiciário de ampliar sua atuação, não sendo mais necessário devido processo legislativo para efetivar normas. Vê-se assim a Constituição no comando total de um país. Ex.: judicialização da política. O Estado e suas perspectivas contemporâneas 28 No Brasil: Há o chamado ativismo judicial. Reequilíbrio entre poderes. Figuras criadas para dar maior autonomia ao Poder Judiciário e aperfeiçoar a democracia brasileira: amicus curiae e as audiências públicas. O Estado e suas perspectivas contemporâneas 29 Neste sentido, e embora o neoconstitucionalismo não se recuse a usar um tipo de racionalidade consequencialista (sujeito medindo as consequências do seu agir/custo-benefício e assim questões ético-morais recaem a segundo plano), tão cara à Maquiavel, também leva em consideração em sua configuração teórica a necessidade de se analisar os problemas jurídico-políticos por um tipo de racionalidade moral, como pretensão de adicionar justiça (substantiva) ao sistema jurídico. O Estado e suas perspectivas contemporâneas 30 (ii) No neoconstitucionalismo há uma linha a ser seguida que deve sempre se valer de três temas na elaboração (Poder Legislativo), aplicação e interpretação (Poder Judiciário) de normas: moral, política e jurídica. Para tanto o valor moral deve ser levado em consideração na costura desses três temas acima citados. Bibliografia DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. São Paulo: Saraiva, 1995. GÓIS, G. S.; LIMA, M. M. Ciência Política. Rio de Janeiro: Estácio, 2015. STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência Política e Teoria Geral do Estado. 3. ed. Porto Alegre: Editora Livraria do Advogado, 2003 31
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