Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O conteúdo faz parte do Secad, uma empresa da Artmed, o maior hub de educação em saúde do Brasil. ACESSO EXCLUSIVO E GRATUITO PARA INSCRITOS DO CURSO. BOA LEITURA! https://www.artmed.com.br/?utm_source=rd%20station&utm_medium=email&utm_campaign=artigo_secad_gratuito_pdf&utm_term=artigo_secad_gratuito_pdf_cancer_utero https://www.facebook.com/SecadOficial/?utm_source=rd%20station&utm_medium=email&utm_campaign=artigo_secad_gratuito_pdf&utm_term=artigo_secad_gratuito_pdf_cancer_utero https://www.youtube.com/secadoficial/?utm_source=rd%20station&utm_medium=email&utm_campaign=artigo_secad_gratuito_pdf&utm_term=artigo_secad_gratuito_pdf_cancer_utero https://www.instagram.com/secadoficial/?utm_source=rd%20station&utm_medium=email&utm_campaign=artigo_secad_gratuito_pdf&utm_term=artigo_secad_gratuito_pdf_cancer_utero CÓ PIA C ON TR OL AD A ■ INTRODUÇÃO O câncer de colo do útero é o quarto tumor mais comum em mulheres no mundo, com uma taxa de 7,9%. No Brasil, são estimados 16.370 casos novos de câncer para cada ano do biênio 2018–2019, com um risco estimado de 15,43 casos a cada 100 mil mulheres, sendo o câncer do colo do útero o terceiro tumor mais frequente.1 Nos países com programas de rastreio organizados, que também contemplam o tratamento das lesões precursoras, houve um declínio na incidência e na mortalidade causada pela doença invasora.2 A história natural do carcinoma é insidiosa, levando de 3 a 12 anos até que se instale o tumor invasor, o que demonstra ser possível uma intervenção nas formas pré-invasivas da doença. Com a implementação dos programas de rastreio do câncer do colo do útero, as taxas de detecção do carcinoma de vagina, principalmente as suas formas precursoras, registraram um aumento. A detecção precoce de uma enfermidade pode alterar sua história natural, diminuindo a taxa de mortalidade e morbidade associada ao seu curso, com consequente diminuição dos gastos com o tratamento da doença. A prevenção divide-se em primária, secundária e terciária, tendo cada etapa aspectos bem definidos: ■ prevenção primária atua removendo os fatores causais da doença, provendo a saúde e atuando na proteção específica, como a vacinação; ■ prevenção secundária inclui as ações que visam à detecção e ao tratamento precoce de uma enfermidade, limitando a sua morbidade; ■ prevenção terciária é um conjunto de ações que visa agilizar o processo de diagnóstico do câncer nas mulheres que já apresentam os sintomas. RITA MAIRA ZANINE BEATRIZ DOS SANTOS PREVENÇÃO SECUNDÁRIA DO CÂNCER NO TRATO GENITAL INFERIOR 91 | P RO AG O | C icl o 1 6 | Vo lum e 3 | CÓ PIA C ON TR OL AD A A prevenção secundária baseia-se no rastreamento. O rastreamento é um exame realizado em pessoas assintomáticas, utilizado para classificá- las como portadoras ou não da enfermidade que é o objeto do rastreio. Os indivíduos positivos são submetidos à investigação diagnóstica para confirmar ou afastar a doença investigada. Para que o teste tenha aplicabilidade, são necessárias certas características, como ■ presença de uma enfermidade com morbidade e mortalidade elevadas passíveis de prevenção e tratamento; ■ história natural da doença bem conhecida e com uma fase precursora detectável e curável; ■ teste de rastreio de baixo custo, seguro, com sensibilidade e especificidade boas; ■ acesso ao tratamento garantido. ■ OBJETIVOS Ao final da leitura deste capítulo, o leitor será capaz de ■ identificar o conceito de prevenção secundária do câncer do trato genital inferior (TGI); ■ reconhecer os principais fatores de risco para as neoplasias intraepiteliais escamosas de colo, vagina e vulva; ■ reconhecer como se processa a oncogênese no TGI; ■ identificar os métodos diagnósticos das neoplasias intraepiteliais escamosas; ■ avaliar a necessidade do tratamento juntamente à escolha adequada da modalidade terapêutica para as neoplasias intraepiteliais do colo, vagina e vulva. 92 PR EV EN ÇÃ O S EC UN DÁ RIA DO CÂ NC ER NO TR AT O G EN ITA L I NF ER IOR | CÓ PIA C ON TR OL AD A ■ ESQUEMA CONCEITUAL Conclusão Caso clínico Colposcopia Histopatologia Biologia molecular Citologia Métodos propedêuticos para rastreamento e diagnóstico do câncer Neoplasia intraepitelial cervical Introdução Tratamento Excisão da zona de transformação de tipo 3 com eletrodo reto (SWETZ) Excisão da zona de transformação de tipo 3 com bisturi a frio Seguimento pós-tratamento Excisão da zona de transformação de tipo 1 e 2 com alça semicircular de alta frequência Comparação entre os métodos de cirurgia de alta frequência e bisturi a frio Neoplasia intraepitelial vulvar Neoplasia intraepitelial vulvar diferenciada Seguimento Lesão intraepitelial escamosa de alto grau da vulva (neoplasia intraepitelial vulvar usual) Terapias ablativas Tratamento tópico Terapia combinada Terapias excisórias Tratamento Carcinogênese no trato genital inferior Infecção pelo papilomavírus humano História natural da infecção pelo papilomavírus humano Tratamento ablativo Tratamento clínico Tratamento cirúrgico Neoplasia intraepitelial vaginal Modalidades de tratamento 93 | P RO AG O | C icl o 1 6 | Vo lum e 3 | CÓ PIA C ON TR OL AD A ■ CARCINOGÊNESE NO TRATO GENITAL INFERIOR A seguir, são descritos os mecanismos relativos à carcinogênese no TGI. INFECÇÃO PELO PAPILOMAVÍRUS HUMANO Para desenvolver o câncer cervical ou as lesões precursoras, é necessária uma infecção persistente por papilomavírus humano (HPV) de alto risco, sendo os tipos 16 e 18 responsáveis por cerca de 70% de todos os cânceres cervicais.3 O HPV tipo 16 é o mais carcinogênico, responsável por cerca de 55 a 60% de todos os cânceres cervicais, e tem sido detectado em 24% das mulheres infectadas por HPV.3 O HPV tipo 18 é o segundo mais carcinogênico, representa 10 a 15% dos cânceres do colo do útero, e é encontrado em cerca de 9% das mulheres com HPV. Aproximadamente, outros 10 tipos de HPV de alto risco respondem por 25 a 35% das demais neoplasias cervicais.3 História natural da infecção pelo papilomavírus humano O HPV, vírus que contém um genoma circular de ácido desoxirribonucleico (DNA) de cadeia dupla, infecta as células epiteliais e depende da diferenciação dessas células para completar seu ciclo de vida. O vírus chega à camada basal das células epiteliais através de microtraumas da superfície epitelial. As etapas subsequentes no ciclo de vida do vírus são estabelecimento, manutenção, produção.3 A história natural do HPV pode ser resumida em duas fases: infecciosa ou produtiva e persistente.4 LEMBRAR A fase infecciosa resulta em mudanças celulares, incluindo proliferação das células basais resultante da expressão do produto gênico de E6 e E7, bem como alterações citopáticas, como halos perinucleares causados pela expressão de E4. As alterações citopatológicas manifestam-se como lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (em inglês, low-grade squamous intraepithelial lesion [LSIL]) e as histopatológicas, como neoplasia intraepitelial cervical grau 1 (NIC 1). Como essas lesões iniciais podem ser pequenas, e a citopatologia é relativamente insensível, nem todas as lesões produtivas são identificadas. As infecções produtivas também podem se desenvolver e regredir entre as triagens e não serem detectadas.4 A fase de infecção persistente por HPV de alto risco consiste no verdadeiro risco de lesão pré-câncer, com considerável potencial de progressão quando não tratada, sendo representada citopatologicamente pelas lesões intraepiteliais escamosas de alto grau (em inglês, high-grade squamous intraepithelial lesions [HSILs]) e histopatologicamente por NIC 2 e NIC 3.4 94 PR EV EN ÇÃ O S EC UN DÁ RIA DO CÂ NC ER NO TR AT O G EN ITA L I NF ER IOR | CÓ PIA C ON TR OL AD A O HPV está implicado na carcinogênse de diversos sítios, tais como, ânus (88%), vagina (70%), pênis (50%), vulva (43%), orofaringe (26%).3 LEMBRAR Grandeparte das alterações cervicais decorrentes da infecção pelo HPV tem pouca probabilidade de progredir. Mais de 90% das mulheres infectadas por esse vírus terão clareamento das lesões em até 2 anos.5 ■ MÉTODOS PROPEDÊUTICOS PARA RASTREAMENTO E DIAGNÓSTICO DO CÂNCER A seguir, são descritos os métodos propedêuticos empregados no rastreamento e no diagnóstico do câncer. CITOLOGIA O câncer do colo do útero é precedido por longa fase de doença intraepitelial cervical. O ciclo inicia quando as mulheres são infectadas com um ou mais tipos de HPV. Entretanto, somente quando desenvolvem infecção persistente é que essas mulheres poderão evoluir para uma lesão pré-invasora ou câncer do colo do útero, cuja prevenção pode ser feita pela triagem. Estratégias de prevenção ótimas devem identificar as alterações cervicais que podem progredir para câncer invasivo.5 A citopatologia é um bom exame para rastreamento porque é barato, fácil de realizar, bem tolerado e não impõe risco importante à paciente.6 A prova de que o Brasil avançou na sua capacidade de realizar diagnóstico precoce é que na década de 1990 70% dos casos diagnosticados eram de doença invasiva. Atualmente, 44% dos casos são de lesão precursora do câncer, chamada in situ.1 A citopatologia tem alta especificidade (faixa de 79 a 100%, média de 95%) e sensibilidade aceitável, mas não ideal (faixa de 30 a 80%, média de 47%). A taxa de falsos-negativos associada ao exame de Papanicolaou foi reconhecida como uma de suas principais limitações como exame de rastreamento. Todavia, o valor preditivo negativo do exame melhora a cada resultado negativo sequencial.6 Fatores como amostragem inadequada e transferência de amostra com baixa celularidade são as principais causas de resultados falsos-negativos na citopatologia oncótica convencional. Também influenciam os resultados citológicos erros de interpretações do citopatologista, tipo da espátula e do cytobrush e experiência do examinador que realizou a coleta.6 Pesquisadores presumem que as citologias com resultados falsos-negativos são mais comuns nas lesões pequenas, independentemente da idade.6 Para tentar otimizar a coleta da amostra cervical, preconiza-se6 ■ não realizar a coleta no início ou no decorrer do período menstrual; ■ evitar relações sexuais 48 horas antes do exame citológico; ■ evitar uso de tampões, cremes vaginais ou medicações vaginais 48 horas antes do exame. 95 | P RO AG O | C icl o 1 6 | Vo lum e 3 | CÓ PIA C ON TR OL AD A O ideal é tratar qualquer cervicite ou leucorreia previamente ao exame, mas nenhuma coleta deve ser adiada diante de leucorreia inespecífica ou sangramento inesperado, uma vez que esses sintomas podem estar relacionados com câncer do colo do útero ou TGI.7 Como a presença de células escamosas varia ao longo da vida, é indispensável relatar informações ao patologista, tais como, ■ idade; ■ data da última menstruação; ■ status menopausal; ■ gravidez; ■ uso de contraceptivos; ■ uso de dispositivo intrauterino; ■ história de sangramento uterino em investigação; ■ história prévia de citológicos alterados. Na citologia, a espátula de Ayre (de madeira ou de plástico) é projetada para se encaixar adequadamente ao contorno do colo do útero e acessar a junção escamocolunar (JEC), a zona de transformação (ZT) e o canal endocervical distal. Após a obtenção da amostra com a espátula, deve-se inserir a escova no canal endocervical, até que as cerdas distais se mantenham visíveis no (estejam no nível do) orifício externo. Assim, evita-se a coleta de células do segmento inferior do útero, as quais podem ser confundidas com células cervicais atípicas.6,7 Imediatamente, após a coleta, o material colhido deve ser aplicado, em monocamada, na lâmina (girar a escova endocervical horizontal à lâmina e a amostra ectocervical em sentido perpendicular) e fixado com fixador ou em etanol 95%. Não se deve deixar o material coletado secar no ar. O componente da amostra endocervical secará primeiro do que o componete da espátula.6,7 As gestantes, especialmente após o segundo trimestre, geralmente terão ZT visível. Logo, a amostragem cuidadosa com a espátula obterá, adequadamente, material da ZT.6 A citologia em base líquida (ThinPrep) foi introduzida em 1996 e aprovada pela Food and Drug Administration (FDA). Subsequentemente, surgiram os sistemas SurePath e MonoPrep, que obtiveram aprovação da FDA em 1999 e 2006, respectivamente. Esses sistemas surgiram para tentar melhorar a sensibilidade da ciotologia convencional, com a capacidade de fazer a testagem molecular para HPV.6,7 Na citologia em base líquida, a escova deve ter sua porção central e mais longa inserida no orifício endocervical. Uma pressão delicada deve ser aplicada sob o colo para que as cerdas flexionem. Deve-se, então, rodar a escova no mesmo sentido cinco vezes. A escova pode ser usada em grávidas.6,7 Na técnica ThinPrep, a extremidade distal da escova coletora deve ser agitada dentro do frasco e, depois, descartada. Na tecnologia SurePrep, a extremidade final da escova é enviada junto com o frasco/solução fixadora.6,7 As diretrizes brasileiras para rastreamento do câncer do colo do útero1 preconizaram que o rastreio do câncer e de suas lesões precursoras seja trienal, após dois exames citopatológicos anuais normais. 96 PR EV EN ÇÃ O S EC UN DÁ RIA DO CÂ NC ER NO TR AT O G EN ITA L I NF ER IOR | CÓ PIA C ON TR OL AD A A população alvo para rastreamento do câncer do colo do útero deve ser dos 25 aos 64 anos de idade. As pacientes com 64 anos de idade, sem história de doença neoplásica pré-invasiva e com dois resultados citológicos negativos nos últimos 5 anos podem ter seu rastreio interrompido. Pacientes de 64 anos e que nunca realizaram exame citopatológico devem coletar duas citologias com intervalo de 1 a 3 anos. Se ambas forem negativas, não precisarão de exames adicionais. As pacientes submetidas à histerectomia total e sem história de doença neoplásica pré-invasiva também estarão dispensadas do rastreamento. Com vistas à padronização, os laudos da citologia devem seguir a Nomenclatura de Bethesda (Quadro 1). Quadro 1 CLASSIFICAÇÃO DE BETHESDA (2001) Anormalidades de células epiteliais Células escamosas ■■ ASCUS ■■ ASC-H ■■ LSIL abrangendo HPV/displasia leve/NIC 1 ■■ HSIL abrangendo displasia moderada e grave, CIS, NIC 2 e NIC 3 ■■ Carcinoma de células escamosas Células glandulares ■■ Atípicas: ■• células endocervicais (SOE ou especificar comentários) ■• células endometriais (SOE ou especificar comentários) ■• células glandulares (SOE ou especificar comentários) ■■ AIS endocervical ■■ Adenocarcinoma ASCUS (em inglês, atypical squamous cells of undetermined significance): células escamosas atípicas de significado indeterminado; ASC-H (em inglês, atypical squamous cells-cannot exclude high-grade squamous intraepithelial lesion): células escamosas atípicas — não é possível excluir lesão de alto grau; CIS: carcinoma in situ; SOE: sem outras especificações; AIS: adenocarcinoma in situ. Fonte: Adaptado de Health Organization (2019). 8 COLPOSCOPIA Quando anormalidades são detectadas durante o rastreamento, a avaliação visual ampliada do colo do útero (colposcopia) tem papel importante no algoritmo para diagnosticar câncer ou pré-câncer do colo do útero.5 A colposcopia é considerada a técnica mais sensível para detectar lesões invasivas e pré-invasivas do colo do útero. A sensibilidade para o referido método é de 70%.5 O exame colposcópico implica avaliação sistemática do TGI, com ênfase especial no epitélio e nos vasos sanguíneos do estroma subjacente. O principal papel da colposcopia é localizar a área da lesão e direcionar as biópsias para as áreas suspeitas. Para que isso seja possível, é preciso delimitar a ZT. 97 | P RO AG O | C icl o 1 6 | Vo lum e 3 | CÓ PIA C ON TR OL AD A A ZT é definida como a área delimitada caudalmente pela JEC original e cranialmente pela nova JEC.É justamente na ZT, mas não exclusivamente nela, que as principais lesões causadas pelo HPV surgem. A descrição dos achados colposcópicos deve seguir a nomenclatura da Federação Internacional de Patologia Cervical e Colposcopia (IFCPC) aceita no 14ª Congresso Mundial de Colposcopia e Patologia Cervical, realizado no Rio de Janeiro, em 2011, tanto para diagnóstico quanto para orientação de condutas (Quadro 2).9 Quadro 2 TERMINOLOGIA COLPOSCÓPICA DO COLO DO ÚTERO Avaliação geral ■■ Colposcopia adequada ou inadequada. ■■ Visibilidade da JEC: completamente visível, parcialmente visível e não visível. ■■ ZT: tipo 1, tipo 2 e tipo 3. Achados colposcópicos normais ■■ Epitélio escamoso original: maduro, atrófico. ■■ Epitélio colunar: ectopia. ■■ Epitélio escamoso metaplásico: cistos de Naboth, orifícios abertos. ■■ Deciduose na gravidez. Achados colposcópicos anormais (princípios gerais) ■■ Localização da lesão: dentro ou fora da ZT, conforme posição do relógio. ■■ Tamanho da lesão: número de quadrantes do colo do útero envolvidos pela lesão e tamanho da lesão em porcentagem do colo do útero. ■• grau I (menor) — epitélio acetobranco tênue, de borda irregular ou geográfica, mosaico fino e pontilhado fino; ■• grau II (maior) — epitélio acetobranco denso, acetobranqueamento rápido, orifícios glandulares espessados, mosaico grosseiro, pontilhado grosseiro, margem demarcada, sinal da margem interna e sinal da crista (sobrelevado); ■• não específico — leucoplasia (queratose, hiperqueratose), erosão e captação da solução de lugol positiva (corado) ou negativa (não corado) — teste de Schiller positivo ou negativo. Suspeita de invasão ■■ Vasos atípicos. ■■ Sinais adicionais: vasos frágeis, superfície irregular, lesão exofítica, necrose, ulceração (necrótica) e neoplasia tumoral/grosseira. Miscelânea ■■ ZT congênita, condiloma, pólipo (ectocervical/endocervical), inflamação,estenose, anomalia congênita, sequela pós-tratamento e endometriose. Fonte: Adaptado de Bornstein e colaboradores (2012).9. Diferentes índices de graduação colposcópica foram testados, mas o menos subjetivo foi o Índice de Reid. Esse índice é destinado a padronizar a avaliação colposcópica. Avalia quatro aspectos colposcópicos (margens, cor, vasos e iodo), com cada achado recebendo pontuação de 0 a 2 no seu escore máximo, possui acurácia de 97% para NIC 2 ou mais.10 98 PR EV EN ÇÃ O S EC UN DÁ RIA DO CÂ NC ER NO TR AT O G EN ITA L I NF ER IOR | CÓ PIA C ON TR OL AD A Posteriormente, o Índice de Reid foi modificado, havendo a eliminação dos aspectos relacionados à coloração pelo iodo, que já havia sido excluída por vários colposcopistas, e os três aspectos restantes receberam pontuação de 0 a 3. As áreas com achados suspeitos ou com alto escore para lesão de alto grau devem sofrer biópsia. A conduta, nessas situações, será determinada a partir da impressão colposcópica e da histopatologia incisional.5 Após o Índice de Reid, foi desenvolvido o Swede Score, índice colposcópico que incluíu o tamanho da lesão nas variáveis do Índice de Reid. O Swede Score tem especificidade de 90% para excluir lesão superior ou igual a NIC 2 quando o escore for inferior a 5. Também foi verificado que 70% das lesões maiores revelam escore mínimo de 2 pontos, resultando em lesões histopatológicas superiores ou iguais à NIC 2.10 HISTOPATOLOGIA O conceito de doença pré-invasiva do colo foi introduzido em 1947, quando se reconheceu que poderiam ser identificadas alterações epiteliais que possuíam aparência de câncer invasivo, mas eram limitadas ao epitélio. Estudos subsequentes mostraram que, caso as lesões não fossem tratadas, poderiam evoluir para câncer cervical.11 As características mais significativas para o diagnóstico histológico de NIC incluem imaturidade celular, desorganização celular, anormalidades nucleares e aumento da atividade mitótica. O grau de atividade mitótica, a proliferação celular imatura e a atipia nuclear identificam o grau de neoplasia. Se houver mitoses e células imaturas apenas no terço inferior do epitélio, a lesão é designada como NIC 1. O envolvimento dos terços médio e superior é diagnosticado como NIC 2 e NIC 3, respectivamente.11 A nomenclatura histopatológica segue a Classificação Histológica de Richardt, de 1967. As lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau incluem NIC 1 (displasia leve) e as alterações do HPV, denominadas de atipia coilocitótica. A categoria HSIL inclui NIC 2 e NIC 3 (displasia moderada, displasia grave e CIS). BIOLOGIA MOLECULAR Outro progresso importante no rastreamento de câncer cervical foi a introdução da testagem molecular para DNA de HPV de alto risco no tratamento de pacientes com anormalidades epiteliais cervicais. O vírus pode ser testado a partir da amostra coletada para citologia líquida.6 Trata-se de uma técnica mais sensível do que a citologia. O teste deve ser usado em um cenário de rastreamento organizado.12 A testagem molecular para DNA de HPV de alto risco é uma técnica melhor do que a citologia para identificar lesões glandulares (adenocarcinoma).12 99 | P RO AG O | C icl o 1 6 | Vo lum e 3 | CÓ PIA C ON TR OL AD A Em 2018, um grupo de revisores normatizou, no Brasil, o uso do teste de DNA-HPV no rastreamento do câncer do colo do útero, no seguimento de mulheres com atipias citológicas ou em pós-tratamento de NIC. As diretrizes são as seguintes:12 ■ o teste de DNA-HPV pode ser usado como rastreamento primário (alternativa à citologia) em mulheres com 30 anos de idade ou mais. Quando negativo, pode ser repetido em 5 anos; ■ quando o teste de DNA-HPV for positivo para HPV oncogênico, uma citologia deve ser realizada para evitar encaminhamentos exagerados para a colposcopia. Porém, quando a genotipagem estiver disponível e o teste DNA-HPV for positivo para os tipos 16 e 18, a mulher deve ser encaminhada para a colposcopia. ■ mulheres com resultado citológico de ASCUS e com 30 anos de idade ou mais podem realizar, em 6 meses, teste de DNA-HPV como alternativa a uma nova citologia; ■ mulheres com resultado citológico de LSIL e com 30 anos ou mais podem realizar teste de DNA-HPV para seleção de encaminhamento à colposcopia; ■ em mulheres com resultados citológicos de ASC-H e HSIL, com colposcopia normal, um teste DNA-HPV negativo, teoricamente, elimina a possibilidade de lesões precursoras ou doenças invasivas; ■ em mulheres com resultados citológicos de atipia de células glandulares (AGC) e AIS, com colposcopia normal, um teste DNA-HPV negativo significa baixa probabilidade de doença cervical e impõe a necessidade de investigar endométrio e outros órgãos pélvicos; ■ o teste de DNA-HPV pode ser usado no seguimento de tratamento de lesões NIC 2/3 e AIS para excluir doença residual ou recorrente, e é recomendado que seja realizado em 6 e 12 meses após o tratamento. ATIVIDADES 1. Com relação ao câncer e sua prevenção, assinale a alternativa correta. A) O carcinoma apresenta história natural insidiosa, levando de 2 a 8 anos até que se instale o tumor invasor. B) Ações que visam à detecção e ao tratamento precoce de uma enfermidade, limitando a sua morbidade, integram a prevenção primária. C) Remoção dos fatores causais da doença, promoção da saúde e atuação na proteção específica, como a vacinação, são características da prevenção secundária. D) Um conjunto de ações que objetiva agilizar o processo de diagnóstico de câncer nas mulheres que já apresentam os sintomas compõe a prevenção terciária. Resposta no final do capítulo 2. Qual é a fase da infecção natural do HPV que consiste no verdadeiro risco de lesão pré-câncer? A) Fase infecciosa. B) Fase de estabelecimento. C) Fase de infecção persistente. D) Fase produtiva. Resposta no final do capítulo 100 PR EV EN ÇÃ O S EC UN DÁ RIA DO CÂ NC ER NO TR AT O G EN ITA L I NF ER IOR | CÓ PIA C ON TR OL AD A 3. As diretrizes brasileiras para rastreamento do câncer do colo do útero, de 2016, preconizam que o rastreamentocontemple qual faixa etária? A) 21 até 64 anos de idade. B) 25 até 64 anos de idade. C) 3 anos após sexarca até 70 anos de idade. D) 1 ano após sexarca até 65 anos de idade. Resposta no final do capítulo 4. Quanto às funções da colposcopia, marque V (verdadeiro) ou F (falso). ( ) Avaliar o epitélio e os vasos sanguíneos do estroma subjacente. ( ) Localizar a área da lesão e realizar as biópsias colpodirgidas. ( ) Avaliar o TGI sob magnificação sem direcionar biópsias. ( ) Direcionar biópsias das áreas suspeitas sem utilizar visualização ampliada do colo do útero. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. A) V — V — F — F B) F — V — V — F C) V — F — F — V D) F — V — F — V Resposta no final do capítulo 5. Conforme a Classificação de Richardt, 1967, como se classificam as lesões histológicas? A) LSIL, HSIL e AGC. B) Achados maiores, achados menores e achados inespecíficos. C) ASC-H, ASCUS e NIC 1. D) NIC 1, NIC 2 e NIC 3. Resposta no final do capítulo 6. A partir de qual idade a biologia molecular (teste de DNA-HPV) pode ser utilizada como rastreamento primário ou coteste? A) 35 anos. B) 30 anos. C) 25 anos. D) 21 anos. Resposta no final do capítulo 101 | P RO AG O | C icl o 1 6 | Vo lum e 3 | CÓ PIA C ON TR OL AD A ■ NEOPLASIA INTRAEPITELIAL CERVICAL A seguir, são descritos os principais aspectos relativos à NIC. INTRODUÇÃO A prevenção do câncer do colo do útero é feita por meio de programas de rastreio organizado, os quais podem detectar a doença na fase precursora e tratá-la antes do desenvolvimento do carcinoma invasor. A NIC é a condição pré-maligna do colo do útero que, em uma pequena proporção dos casos, poderá progredir se não for tratada adequadamente. As lesões precursoras do câncer cervical foram inicialmente denominadas como displasia leve, moderada e acentuada. A partir de 1988, uma nova nomenclatura foi introduzida, conhecida como sistema Bethesda, que foi revisado em 1991 e em 2001. Nesse sistema, foi introduzida uma nomenclatura para os achados citológicos (SIL) e outra para os achados histológicos (NIC).13 As NICs são classificadas em três categorias, a saber: ■ NIC 1 — é uma lesão de baixo grau, que está presente no terço inferior do epitélio e apresenta atipias celulares de grau leve. É considerada a manifestação citológica da infecção pelo HPV. ■ NIC 2 — pode ser considerada uma lesão de alto grau. Compromete os dois terços do epitélio. Essa categoria possui moderada reprodutibilidade interobservador; ■ NIC 3 — é a verdadeira precursora do câncer do colo do útero, apresentando alterações nos três terços do epitélio, com perda total de polaridade e monotonia celular. Em 2012, foi introduzida outra nomenclatura para a classificação das NICs, denominada Lower Anogenital Squamous Terminology (LAST), sistema que classifica os achados de histopatologia da mesma maneira que os da citologia. Assim, a NIC 1 é referida como LSIL. A NIC 2 é classificada de acordo com a positividade ou não pelo p16, pois, além de ser pouco reprodutível, é sabidamente heterogênea. Em alguns casos, tem comportamento de uma NIC 1, enquanto, em outros, de uma NIC 3, ou seja, uma verdadeira precursora do carcinoma do colo do útero. A lesão que se cora pelo p16 é considerada HSIL, e a lesão p16 negativa é classificada como lesão de baixo grau.13 A lesão de baixo grau é considerada o reflexo da infecção pelo HPV, sendo muito comum em mulheres abaixo dos 30 anos de idade. No Brasil, a prevalência dessa lesão na citologia é de 0,8% dos exames citológicos e de 27,6% dentre as citologias alteradas.1 O potencial de regressão das lesões de baixo grau é grande, como foi demonstrado por Bansal e colaboradores, que, em um estudo com 680 mulheres portadoras de NIC 1, segundo biópsia, e que foram seguidas por um período de 12 meses, encontraram, na citologia realizada nos 6 meses, os seguintes dados:14 ■ 49% tiveram o exame citológico negativo; ■ 35% apresentaram persistência da doença; ■ 7% progrediram para HSIL. 102 PR EV EN ÇÃ O S EC UN DÁ RIA DO CÂ NC ER NO TR AT O G EN ITA L I NF ER IOR | CÓ PIA C ON TR OL AD A Na visita correspondente a 12 meses, dentre as mulheres que tinham citologia negativa aos 6 meses, observou-se que14 ■ 80% permaneceram com resultados negativos; ■ 17% apresentaram LSIL; ■ 4% HSIL. Dentre as pacientes que tinham persistência de LSIL aos 6 meses, ficou demonstrado que14 ■ 50% regrediram; ■ 46% permaneceram com LSIL; ■ 4% progrediram para HSIL. Como a reprodutibilidade do diagnóstico de lesão de baixo grau é pobre, muitos casos rotulados como HSIL não seriam consequência de uma progressão da doença, e sim de um provável subdiagnóstico de uma lesão de maior gravidade.14 LEMBRAR As lesões de alto grau são diagnosticadas com maior frequência na faixa etária entre 25 e 35 anos, enquanto a doença invasora ocorre cerca de 10 a 13 anos após a detecção das neoplasias precursoras. A incidência estimada nos Estados Unidos é de 4% para NIC 1 e 5% para NIC 2 e 3. No Brasil, cerca de 0,26% das citologias correspondem a HSIL, que está presente em 9,1% dos casos de exames alterados.1 Os fatores de risco para as NICs são a infecção pelo HPV e os cofatores como tabagismo, uso de anticoncepcionais orais e imunossupressão. O principal método de prevenção secundária do câncer do colo do útero é o tratamento das lesões intraepiteliais de alto grau. Tanto as pacientes com NIC 2 quanto as portadoras de NIC 3 serão manejadas da mesma maneira em razão da dificuldade de distinção entre os graus histopatológicos das lesões. Aparentemente, 50% das NICs 2 terão regressão se permanecerem sem tratamento. Em uma metanálise publicada em 2018, que incluiu 3.160 mulheres portadoras de NIC 2, foi observado, após 24 meses, que 50% tiveram regressão da doença, 32% persistiram e 18% progrediram para NIC 3. Em um subgrupo de mulheres com menos de 30 anos de idade, foram encontradas taxas de 60% de regressão, 23% de persistência e 11% de progressão da doença. O risco da perda de seguimento deverá ser levado em conta quando se pretende ter uma conduta mais conservadora.15 No estudo ALTS, a regressão de NIC 2 foi menor nas lesões positivas para o HPV 16. Quando comparadas as taxas de progressão da NIC 2 com as da NIC 3, foi vista uma maior progressão dessa última, o que foi explicado pelo fato de os tipos de HPV mais comuns na NIC 2 serem outros tipos oncogênicos, como 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52 e 58, os quais têm uma associação mais fraca com a doença invasora do que os tipos 16 e 18, que são mais comuns na NIC 3.16 Nos casos de NIC 3, está estimada uma taxa de regressão espontânea entre 32 e 47%, enquanto 12 a 40% das pacientes progredirão para carcinoma invasor se não forem submetidas a tratamento. Em razão da grande taxa de progressão, a conduta expectante não é recomendada.16 103 | P RO AG O | C icl o 1 6 | Vo lum e 3 | CÓ PIA C ON TR OL AD A As mulheres jovens têm uma abordagem diferente, como demonstrado na metanálise de Tainio e colaboradores. Cerca de 60% das pacientes com menos de 30 anos de idade apresentam regressão da doença, o que contrasta com a população geral do estudo, em que 50% tiveram regressão em 24 meses. Nos casos de NIC 3 entre as mulheres de 20 a 24 anos, a taxa de progressão estimada para o carcinoma invasor em 1 ano é de 0,5%. A taxa aumenta com a idade, atingindo 10% ao ano nas mulheres de 80 anos de idade ou mais.15 Um dos pontos mais importantes na abordagem terapêutica das mulheres jovens abaixo da faixa etária do rastreio é verificar se a colposcopia permite a total visualização da ZT. Se a lesão for compatível com NIC 2, a conduta expectante é a mais indicada em razão da probabilidade de essas lesões terem um comportamento como um achado de menor gravidade. Quando se tratar de NIC 3 ou a ZT não for visualizada no exame colposcópico, o tratamento é a melhor opção.17 As gestantes portadoras de HSIL na citologia deverão ser encaminhadas para acolposcopia. Se houver suspeita de doença invasora, a biópsia deverá ser realizada. Se for confirmada NIC 2 ou NIC 3, a paciente deverá ser orientada a repetir toda a propedêutica 12 semanas após o parto. A cesárea deverá ficar restrita às indicações obstétricas.1 Os métodos preconizados para o tratamento das lesões escamosas de alto grau são classificados em destrutivos e excisionais. Esses últimos têm preferência por fornecerem peça para estudo histopatológico e, com isso, permitirem análise das margens cirúrgicas e exclusão da doença invasora.18 Os procedimentos terapêuticos deverão levar em consideração a topografia e o tamanho da ZT para que haja sucesso na erradicação das lesões e minimização dos efeitos mórbidos. Para evitar interpretações errôneas de relatos na literatura a respeito dos modos de tratamento para as lesões intraepiteliais de colo, bem como o uso indevido dos termos conização, biópsia cônica e cirurgia de alta frequência (CAF), a IFCPC instituiu uma classificação da ZT para que houvesse uma uniformidade dos tipos de procedimentos entre os autores.18 A ZT foi dividida em18 ■ zona de transformação de tipo 1 (ZT 1) — encontra-se totalmente visível no ectocérvice; ■ zona de transformação de tipo 2 (ZT 2) — apresenta um componente endocervical que é totalmente visualizado; ■ zona de transformação de tipo 3 (ZT 3) — tem um componente endocervical que não pode ser visualizado em sua totalidade. Os tipos de ZT são ilustrados nas Figuras 1–3. 104 PR EV EN ÇÃ O S EC UN DÁ RIA DO CÂ NC ER NO TR AT O G EN ITA L I NF ER IOR | CÓ PIA C ON TR OL AD AFigura 1 — ZT 1: componente ectocervical totalmente visível, que pode ser pequeno ou grande. Fonte: Arquivo de imagens de Cibele Feroldi Maffini. Figura 2 — ZT 2: componente endocervical totalmente visualizado; pode ter um componente ectocervical pequeno ou grande. Fonte: Cedida por Cibele Feroldi Maffini. Figura 3 — ZT 3: componente endocervical não totalmente visível; pode ter um componente ectocervical pequeno ou grande. Fonte: Cedida por Cibele Feroldi Maffini. 105 | P RO AG O | C icl o 1 6 | Vo lum e 3 | CÓ PIA C ON TR OL AD A Para cada tipo de ZT, há um tipo de excisão, a saber:9 ■ excisão do tipo 1 — corresponde a uma retirada totalmente ectocervical, ou seja, é realizada na ZT 1; ■ excisão de tipo 2 — compreende a retirada de uma pequena porção de epitélio do canal cervical, ou seja, é empregada na ZT 2; ■ excisão de tipo 3 — corresponde àquela em que a retirada do epitélio endocervical será maior e mais longa, adentrando o canal cervical em seu limite superior, sendo utilizada na ZT 3. A excisão de tipo 3 é mais apropriada no manejo das lesões glandulares, na doença microinvasiva e nas pacientes que já foram tratadas previamente.9 A excisão de cada tipo de ZT está associada a uma determinada técnica, como também apresenta riscos diferentes em relação à morbidade.9 TRATAMENTO As duas técnicas excisionais mais utilizadas no tratamento das lesões intraepiteliais cervicais são a cirurgia de alta frequência (CAF) e a ressecção com bisturi a frio. Excisão da zona de transformação de tipo 1 e 2 com alça semicircular de alta frequência A excisão da ZT 1 e da ZT 2, com alça semicircular de alta frequência, é a modalidade de tratamento excisional mais empregada atualmente. Esse procedimento poderá ser tanto diagnóstico como terapêutico; porém, o foco principal para a sua utilização é a terapia. Uma de suas principais vantagens é poder ser realizado ambulatorialmente. Anteriormente ao procedimento, uma colposcopia deverá ser realizada para a visualização da lesão e a demarcação da ZT. Para um manejo eficaz, a ZT deve ser removida em sua totalidade. A retirada somente da área mais atípica do colo não é recomendada em razão da alta taxa de recorrência.19 A exérese deverá ser realizada em um só fragmento, e todo cuidado deverá ser feito para evitar o dano térmico. O procedimento hemostático é obtido pela fulguração dos pontos sangrantes presentes na cratera decorrente da exérese. A cicatrização é realizada por meio da reepitelização secundária, que tem, como resultado, um colo com JEC visualizada, permitindo uma boa coleta da citologia e a realização de um exame colposcópico adequado. A taxa de cura da excisão da ZT 1 e da ZT 2 com alça semicircular de alta frequência é de 95%, a mesma obtida por outros métodos, como o realizado com bisturi ou laser. As principais indicações da cirurgia com a alça de alta frequência são as lesões presentes na ZT 1 e na ZT 2 e o método ver x tratar. 106 PR EV EN ÇÃ O S EC UN DÁ RIA DO CÂ NC ER NO TR AT O G EN ITA L I NF ER IOR | CÓ PIA C ON TR OL AD A Método ver x tratar O método ver x tratar tem sua indicação nos casos de citologia de HSIL com exame colposcópico compatível com presença de achados maiores em mulheres que se encontram na população de rastreio. A lesão deverá ser totalmente visualizada tanto em seu limite cranial como caudal e não deverá ultrapassar o primeiro centímetro do canal cervical. A principal preocupação com o método ver x tratar é a taxa de sobretratamento, que não deverá ser superior a 10%. Em um estudo publicado por Ebisch e colaboradores, várias combinações entre achados de citologia e colposcopia foram analisadas quanto à taxa de sobretratamento. Nas pacientes que apresentavam20 ■ citologia de HSIL e colposcopia com achados maiores, a taxa encontrada foi de 11,6%; ■ citologia de HSIL e colposcopia de LSIL, a taxa correspondeu a 29,3%; ■ citologia de LSIL e colposcopia de HSIL, a taxa foi de 46,4%; ■ citologia de LSIL e colposcopia menor, a taxa correspondeu a 72,9%. A taxa de sobretratamento das mulheres com citologia de HSIL e colposcopia maior foi compatível com as taxas de mulheres que fizeram a abordagem tradicional com a biópsia (11 a 35%).20 O risco de infecção ou sangramento na ressecção pela alça é de 2 a 3%, e a taxa de estenose de canal cervical corresponde a 4% dos casos operados. Deverão ser lembrados os problemas em relação ao futuro obstétrico, como taxa maior de parto prematuro (PP) ou baixo peso (BP) ao nascer quatro vezes maior do que na população geral.21 Excisão da zona de transformação de tipo 3 com eletrodo reto (SWETZ) A ressecção cirúrgica com a alça diatérmica só permite a retirada de um fragmento que consiga ser englobado pelo tamanho do dispositivo, pois ele é inflexível e pré-determinado. Muitas vezes, a peça é retirada em mais de um fragmento, o que poderá dificultar a análise histopatológica. Outro aspecto importante é a impossibilidade de controlar e visualizar a profundidade da incisão, principalmente quando a lesão se estende para o interior do canal cervical. A excisão de tipo 3 está indicada quando a ZT tem localização no endocérvice e o seu limite cranial não pode ser visualizado.22 Um dos pontos importantes na escolha do tratamento são as possíveis complicações, como o sangramento e as alterações no futuro obstétrico das pacientes, que estão associadas às grandes retiradas de tecido, bem como à estenose do canal cervical, a qual prejudica o acesso para a coleta do esfregaço citológico no período do seguimento. A exérese com o eletrodo reto permite a retirada de lesões que se encontram dentro do canal cervical, com menor morbidade, taxa menor de excisões incompletas e menor probabilidade de fragmentação da peça cirúrgica. Deve ser realizada na sala de cirurgia, na modalidade hospital-dia. A anestesia é local, com sedação. 107 | P RO AG O | C icl o 1 6 | Vo lum e 3 | CÓ PIA C ON TR OL AD A Na excisão da ZT 3 com o eletrodo reto, as complicações poderão ocorrer em 5,6% dos procedimentos para tratamento das lesões de alto grau do colo do útero. Cerca de 1 em 500 mulheres terão complicações hemorrágicas, principalmente sangramento. Poderá também haver relato de dor, infecção, estenose e danos ao futuro obstétrico. Excisão da zona de transformação de tipo 3com bisturi a frio A excisão de tipo 3 com bisturi a frio está indicada para pacientes que apresentam uma ZT 3, principalmente quando há suspeita de doença microinvasora e nas lesões glandulares. O procedimento de excisão de tipo 3 com bisturi a frio é realizado em centro cirúrgico sob raquianestesia. A principal complicação da excisão de tipo 3 com bisturi a frio é o sangramento no transoperatório ou no pós-operatório imediato. O coto cirúrgico deverá ser visualizado à procura de pontos de sangramento, poderá ser realizada a cauterização desses pontos. Na presença de sangramento arterial, deverão ser feitos pontos hemostáticos com fio de vicryl 0 em forma de chuleio. Um tampão vaginal deverá permanecer durante 24 horas. Outras complicações são a dor em fossa ilíaca, a infecção e, tardiamente, o aparecimento de estenose e repercussões no futuro obstétrico, como maior taxa de PP e BP ao nascer. Comparação entre os métodos de cirurgia de alta frequência e bisturi a frio Nenhum dos métodos (CAF e bisturi a frio) mostra superioridade quanto à eficácia e à segurança.23 Comparado com o cone com bisturi, a CAF tem ■ tempo operatório mais curto (média de 9,5 minutos; 95%, intervalo de confiança [IC]: 6,4–12,6 minutos); ■ menor taxa de sangramento (média de 42,4mL; 95%, IC: 21,3–106mL); ■ estadia hospitalar menor (média de 1,5 dias; 95%, IC: 1,1–1,8 dias). A incidência de sangramento pós-operatório não foi significativa entre os procedimentos. A presença de infecção pós-operatória foi relatada mais frequentemente após a CAF (0,2 x 2%, risco relativo [RR]: 0,31; 95%, IC: 0,08–1,10). A taxa de estenose referente ao procedimento com a CAF é de 4% e de 8,3% no cone com bisturi. Porém, a CAF apresenta um risco maior de doença pós-tratamento (RR 2,3; 95% IC: 1,0–5,5) em relação ao cone com bisturi.24 A conização com o bisturi está relacionada a um maior dano no futuro obstétrico da paciente.21 As evidências dão suporte para que a escolha entre a CAF e o bisturi não seja puramente técnica, e sim com a avaliação dos benefícios a curto e a longo prazo, bem como das complicações que ainda não estão inteiramente elucidadas pela literatura. 108 PR EV EN ÇÃ O S EC UN DÁ RIA DO CÂ NC ER NO TR AT O G EN ITA L I NF ER IOR | CÓ PIA C ON TR OL AD A Seguimento pós-tratamento Tão importante quanto o tratamento das lesões é o seguimento após a terapêutica, que deverá se basear no status das margens. No caso de comprometimento das margens, a paciente deverá ser seguida com citologia e colposcopia semestralmente, durante 24 meses. Se esses exames forem negativos, ela deverá repeti-los anualmente, durante cinco anos e, depois, trienalmente. No caso de margens livres, deverá ser feito um acompanhamento com citologia semestral durante 12 meses e, depois, anualmente, durante 5 anos. Se os exames permanecerem negativos, a paciente voltará ao rastreio trienal. ATIVIDADES 7. Observe as afirmativas sobre os tipos de NIC. I — Lesão de baixo grau que está presente no terço inferior do epitélio e apresenta atipias celulares de grau leve, a NIC 1 é considerada a manifestação citológica da infecção pelo HPV. II — A NIC 2, que pode ser considerada uma lesão de grau moderado, compromete dois terços do epitélio e possui alta reprodutibilidade interobservador. III — Verdadeira precursora do câncer do colo do útero, a NIC 3 apresenta alterações nos três terços do epitélio, com perda total de polaridade e monotonia celular. Quais estão corretas? A) Apenas a I e a II. B) Apenas a I e a III. C) Apenas a II e a III. D) A I, a II e a III. Resposta no final do capítulo 8. Com relação à lesão de baixo grau do colo do útero, marque V (verdadeiro) ou F (falso). ( ) Muito comum em mulheres acima dos 30 anos de idade, a lesão de baixo grau é considerada o reflexo da infecção pelo HPV. ( ) No Brasil, a prevalência da lesão de baixo grau é de 0,8% dos exames citológicos e de 27,6% dentre as citologias alteradas. ( ) As lesões de baixo grau apresentam potencial de regressão reduzido. ( ) Por ser a reprodutibilidade do diagnóstico de lesão de baixo grau pobre, muitos casos rotulados como HSIL seriam consequência de um provável subdiagnóstico de uma lesão de maior gravidade. 109 | P RO AG O | C icl o 1 6 | Vo lum e 3 | CÓ PIA C ON TR OL AD A Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. A) V — F — V — F B) F — V — V — F C) V — F — F — V D) F — V — F — V Resposta no final do capítulo 9. Quanto à lesão de alto grau do colo do útero, é correto afirmar que A) o tratamento da NIC 2 depende do resultado do teste do DNA-HPV. B) a NIC 2 p16 positiva é considerada uma HSIL verdadeira e deverá ser tratada como tal. C) a lesão correspondente a NIC 2 poderá regredir em até 60% dos casos quando presente em mulheres com mais de 40 anos de idade. D) a paciente portadora de NIC 3, que se encontre na idade de rastreio, poderá ter conduta expectante. Resposta no final do capítulo 10. Com relação ao seguimento pós-tratamento das lesões intraepiteliais cervicais, complete as lacunas: quando houver comprometimento das margens, a paciente deverá ser seguida com citologia e colposcopia semestralmente, durante ____________. Se esses exames forem negativos, ela deverá repeti-los ____________, durante 5 anos e, depois, trienalmente. A) 24 meses — anualmente B) 24 meses — bianualmente C) 36 meses — anualmente D) 24 meses — bianualmente Resposta no final do capítulo ■ NEOPLASIA INTRAEPITELIAL VAGINAL Com a melhora a e expansão dos programas de rastreamento para o câncer do colo do útero por meio da citologia, observou-se um crescimento na detecção precoce das alterações intraepiteliais presentes na vagina. A neoplasia intraepitelial de vagina (NIVA) é uma condição pré-maligna rara do epitélio vaginal, apresenta incidência correspondente a 0,2 casos por 100 mil mulheres e é responsável por 0,4% das doenças pré-invasivas do TGI. Essa doença é 100 vezes menos frequente do que a encontrada no colo do útero.24 110 PR EV EN ÇÃ O S EC UN DÁ RIA DO CÂ NC ER NO TR AT O G EN ITA L I NF ER IOR | CÓ PIA C ON TR OL AD A A média de idade das mulheres com diagnóstico de NIVA é de 53 anos, e existe uma associação positiva entre o grau da doença e a idade mais avançada. Nas últimas duas décadas, o diagnóstico tem sido feito em mulheres mais jovens, fenômeno explicado pela disseminação da infecção pelo HPV. O risco da transformação dessa patologia em doença invasora durante a vida varia entre 9 e 10%.24 A coexistência da NIVA com a neoplasia intraepitelial do colo do útero ocorre em 65% dos casos e em 10% com a neoplasia intraepitelial de vulva, o que vem a confirmar o efeito oncogênico de campo no TGI.25 A classificação histológica da doença pré-invasiva da vagina é a mesma utilizada para o colo do útero, ou seja, lesão de baixo grau correspondendo à NIVA I e lesão de alto grau que abrange NIVA II e III. O principal agente etiológico da NIVA é o HPV. Os fatores de risco são ■ baixo nível socioeconômico; ■ histerectomia prévia; ■ história de procedimentos anteriores para tratamento de NIC; ■ imunossupressão; ■ passado de radioterapia para carcinoma do colo do útero. O principal método diagnóstico da NIVA é a citologia seguida pela colposcopia, que tem um papel preponderante na demarcação da topografia da lesão e também colabora na hora da escolha da opção terapêutica. A NIVA tem presença mais comum no terço superior da vagina e, frequentemente, tem caráter multifocal, o que dificulta ainda mais a abordagem terapêutica.26 O diagnóstico padrão-ouro da NIVA é o estudo histopatológico das peças de biópsia. As alterações colposcópicas presentes na vagina não são tão específicas como as do colo do útero, tornando a análise histopatológica obrigatória. Poderão coexistir vários graus de NIVA na mesma mulher.26 MODALIDADES DE TRATAMENTO Não existe um protocolo para o tratamento da NIVA, e as modalidades de tratamentotendem a ser individualizadas, com nenhuma abordagem representando uma modalidade padrão de tratamento. Todos os métodos terapêuticos têm uma taxa razoável de sucesso de acordo com o tempo de seguimento. Os resultados são influenciados por tamanho, localização e número de lesões, bem como estado de saúde da paciente, principalmente no que tange à imunidade. A taxa de recidiva está entre 10 e 42% entre todas as modalidades de terapia.27 Os métodos de tratamento da NIVA podem ser cirúrgico, ablativo, radioterápico, clínico e expectante. 111 | P RO AG O | C icl o 1 6 | Vo lum e 3 | CÓ PIA C ON TR OL AD A Tratamento cirúrgico O tratamento excisional é a modalidade de escolha quando existe suspeita de doença invasora ou a paciente é considerada de risco, como na presença de história prévia de histerectomia por doença HPV induzida, nas doenças recorrentes ou diante de imunocomprometimento. Essa opção terapêutica fornece peça para análise histopatológica, permitindo o estudo das margens e a exclusão da doença invasiva, além de ter as melhores taxas de sucesso, que oscilam entre 66 e 83%.28 Biópsia excisional A biópsia excisória é a opção de primeira linha principalmente na lesão unifocal e bem delimitada.29 A reação inflamatória que acontece após o tratamento e a exfoliação do epitélio auxilia na remissão da lesão. A biópsia excisional tem a vantagem de ser realizada em ambiente ambulatorial, e vários fragmentos poderão ser retirados até a totalidade da lesão.29 A hemostasia deverá ser realizada utilizando-se a solução de percloreto férrico, aplicada diretamente na lesão, com o auxílio de um swab ou por meio da pasta de Monsel, que será veiculada juntamente com um tampão vaginal, devendo permanecer por 24 horas no local.29 Na biópsia excisional, o uso do termocautério está contraindicado pela possibilidade de causar retrações no canal vaginal com consequências danosas para a vida sexual da paciente.29 De acordo com alguns estudos, a biópsia excisional tem uma taxa de cura entre 64 e 67%.29 Cirurgia de alta frequência Existem poucos estudos a respeito da utilização da CAF nas lesões intraepiteliais de vagina. A técnica requer muita experiência por parte do cirurgião pela proximidade da vagina com a bexiga urinária e o reto. Deve-se ter em conta o tempo cirúrgico mais demorado e a possibilidade de provocar perda sanguínea severa. É preconizado um procedimento em centro cirúrgico ambulatorial sob narcose, sendo realizada uma infiltração local anestésica de lidocaína a 1% com epinefrina, que será injetada abaixo da lesão para deslocá-la do tecido subjacente e, dessa maneira, evitar danos à bexiga e ao reto. Esse procedimento resulta em um mínimo dano termal aos tecidos adjacentes, efeito semelhante ao do laser. A excisão consiste na retirada da mucosa e de parte da submucosa, e tem a vantagem de oferecer peça para o estudo histopatológico, além de a cauterização do leito não ser feita; e o epitélio é fechado com pontos separados para evitar hemorragia no pós-operatório. Em um estudo com 23 mulheres portadoras de NIVA histologicamente confirmada, a taxa de sucesso em 12 meses foi de 86,96% e a de recorrência foi de 13,04%. Quando o seguimento foi estendido para 24 meses, a resposta completa foi de 75%, e 25% das pacientes tiveram recorrência da doença. Os autores concluíram ser a CAF um método valioso de tratamento, pois produziu peças interpretáveis de toda a lesão por meio de um procedimento que tem um baixo custo financeiro.30 112 PR EV EN ÇÃ O S EC UN DÁ RIA DO CÂ NC ER NO TR AT O G EN ITA L I NF ER IOR | CÓ PIA C ON TR OL AD A Excisão local alargada A excisão local alargada é um procedimento cirúrgico realizado com a finalidade de retirar toda a lesão, além de uma porção de tecido sadio. Essa abordagem serve tanto como método diagnóstico quanto terapêutico, razão pela qual é considerada uma cirurgia conservadora que envolve uma área específica da vagina. A taxa de sucesso é de 63%. Vaginectomia parcial A vaginectomia parcial consiste na remoção do ápice vaginal, e sua principal indicação é o tratamento das lesões de alto grau de cúpula, principalmente quando envolvem a escara após a histerectomia. A taxa de cura é de 80%.31 A taxa de cura pela vaginectomia parcial varia de acordo com os trabalhos entre 68 e 88%, a mais alta entre os estudos. Vaginectomia total A vaginectomia total é um procedimento cirúrgico de última escolha, que deverá ser indicado por meio de critérios rigorosos, em que o custo-benefício deverá ser muito bem avaliado.27 A vaginectomia total está associada a várias complicações, como as fístulas vesicovaginais ou retovaginais. Em muitas ocasiões, será necessário o uso de enxertos cutâneos, o que fará com que o tempo cirúrgico seja maior. As alterações anatômicas decorrentes desse procedimento dificultarão ou até mesmo impedirão o intercurso sexual. Apesar de ser uma intervenção radical, poderá apresentar recorrência da doença mesmo nos enxertos.27 Tratamento ablativo A ablação tem a sua indicação nos casos em que a suspeita de invasão foi afastada mediante uma biópsia prévia. É a modalidade de eleição nas mulheres jovens sexualmente ativas. A total visualização das lesões é obrigatória para evitar a doença residual.27 Vaporização pelo laser A vaporização pelo laser é um método muito útil principalmente em pacientes portadoras de lesões multifocais bem visualizadas. Com tal procedimento, pretende-se preservar a função sexual. A vaporização pelo laser está contraindicada nas lesões de cúpula após histerectomia, em razão da dificuldade de acesso e risco de causar danos às estruturas adjacentes. A taxa de sucesso da vaporização pelo laser oscila entre 69 e 87%, e a doença recorre em 33% dos casos. 113 | P RO AG O | C icl o 1 6 | Vo lum e 3 | CÓ PIA C ON TR OL AD A Tratamento radioterápico O uso da radiação no tratamento das neoplasias ginecológicas aprimorou-se desde as primeiras descrições na literatura. O tratamento radioterápico tem uma taxa de sucesso entre 86 e 100%; porém, apresenta uma taxa perto de 36% de complicações, que incluem estenose de vagina, sangramento retal, insuficiência ovariana precoce e aparecimento de neoplasia. O tratamento radioterápico é um método contraindicado nas pacientes jovens e nas mulheres que já foram irradiadas previamente em função da alta taxa de morbidade. O tratamento radioterápico tem sua indicação nas pacientes em que outros métodos estão contraindicados. Tratamento clínico Em razão da praticidade, o tratamento feito com os agentes tópicos ganhou espaço dentre o arsenal terapêutico para a NIVA. Ácido tricloroacético O ácido tricloroacético (ATA) é um ceratolítico que, ao ser aplicado no epitélio, coagula as proteínas, destruindo todo o tecido. Com base nesses efeitos, o composto é utilizado para o tratamento das lesões intraepiteliais. A maioria dos relatos a respeito de seus efeitos são de especialistas, e não de estudos publicados. O ATA pode ser utilizado em todos os graus de NIVA. Apresenta maior taxa de remissão nas lesões de baixo grau. 5-fluorouracil Em consequência da morbidade dos procedimentos excisionais, somada à probabilidade das recorrências nas lesões de alto grau de vagina, o uso do 5-fluorouracil (5-FU) tornou-se uma opção viável no arsenal terapêutico para essas lesões.32 O 5-FU é um antimetabólito de DNA frequentemente utilizado em uma variedade de doenças malignas epiteliais. O sucesso no tratamento das lesões associadas à infecção pelo HPV no TGI advém da sua habilidade em penetrar nas superfícies epiteliais sem causar efeitos colaterais tóxicos sistêmicos. O tratamento tópico com 5-FU tem sua indicação maior nas lesões multifocais e nas recorrentes, com bons resultados na literatura. Os efeitos colaterais do 5-FU fazem com que ele não tenha uma boa aceitação por parte das mulheres. Os mais comuns são queimação, prurido e ulcerações, especialmente emmulheres na pós-menopausa, em decorrência do epitélio atrófico. A taxa de sucesso desse fármaco é de 74%. 114 PR EV EN ÇÃ O S EC UN DÁ RIA DO CÂ NC ER NO TR AT O G EN ITA L I NF ER IOR | CÓ PIA C ON TR OL AD A Imiquimode O imiquimode é um composto químico indicado para o tratamento das verrugas genitais causadas pelo HPV. É um modificador da resposta imune que mimetiza o que ocorre na resposta imune normal quando o HPV é reconhecido pelo sistema imune; portanto, ele tem ação direta sobre o fator etiológico da NIVA. Em uma metanálise feita por Tranoulis e colaboradores, ficou demonstrado ser o imiquimode uma alternativa segura e eficaz para o tratamento da NIVA, principalmente em mulheres jovens, portadoras de lesões multifocais, e em pacientes na pós-menopausa, que necessitem de abordagens menos agressivas, dada a sua condição atrófica. A efetividade desse método foi de 85%.33 ■ NEOPLASIA INTRAEPITELIAL VULVAR A neoplasia intraepitelial vulvar (NIV), lesão precursora do câncer de vulva, sofreu várias mudanças de nomenclatura nos últimos anos. No passado, teve várias denominações, como doença de Bowen, papulose bowenoide, eritroplasia de Queyrat, distrofia hiperplásica com atipias e CIS de células escamosas. Em 1982, o termo “NIV” foi introduzido pela primeira vez; posteriormente, em 1986, a Sociedade Internacional para o Estudo de Doenças Vulvovaginais (ISSVD) adotou-o com a subdivisão em tipo escamoso (NIV I, II e III) e não escamoso, incluindo a doença de Paget e o melanoma in situ. Foi acrescentado também o termo “NIV diferenciada”.13 No ano de 2004, a ISSVD apresentou outra classificação que suprimiu as NIVs I/II/III ao mesmo tempo em que se tornou binária, com os termos “NIV tipo usual associada ao HPV” e “NIV diferenciada não relacionada ao HPV”, caracterizada por alta diferenciação celular. O termo “NIV I” foi considerado uma manifestação da infecção pelo HPV.13 Quando a nomenclatura “terminologia escamosa anogenital inferior” (em inglês, lower anogenital squamous terminology [LAST]) foi introduzida em 2012, o termo “lesão intraepitelial escamosa” foi adotado como padrão em lugar de NIC/NIV e graduado em dois sistemas: HSIL e LSIL. Esse termo foi adotado por ser mais reprodutível pelos patologistas do que os usados anteriormente.13 Em 2014, a Organização Mundial da Saúde (OMS)34 publicou uma classificação dos tumores femininos em que os termos “LSIL” e “HSIL” da classificação LAST foram inseridos ao mesmo tempo em que o termo “NIV diferenciada”. A ISSVD lançou, então, uma nova classificação em 2015, que divide a NIV escamosa em três categorias:35 ■ lesão intraepitelial de baixo grau (HPV induzida); ■ lesão intraepitelial de alto grau (tipo usual); ■ NIV diferenciada. A NIV usual difere da NIV diferenciada em vários aspectos, como epidemiologia, clínica, histopatologia e potencial de malignidade. 115 | P RO AG O | C icl o 1 6 | Vo lum e 3 | CÓ PIA C ON TR OL AD A A incidência da NIV aumentou cerca de quatro vezes no período entre 1973 e 2000,36 principalmente nas mulheres jovens, que representam 75% dos casos. Esse aumento está relacionado com as mudanças no comportamento sexual, a infecção pelo HPV e o tabagismo, além de ser um reflexo da preocupação com os cuidados de saúde. Os principais fatores de risco associados à NIV são a imunossupressão, as apresentações multifocais ou multicêntricas e a presença de margens positivas nas peças cirúrgicas. As intervenções profiláticas devem ser realizadas em relação ao combate ao tabagismo e ao tratamento das dermatoses vulvares, principalmente o líquen escleroso, que está associado ao carcinoma de vulva. LESÃO INTRAEPITELIAL ESCAMOSA DE ALTO GRAU DA VULVA (NEOPLASIA INTRAEPITELIAL VULVAR USUAL) A HSIL representa 90% das NIVs, com uma incidência de 5 por 100 mil por ano, acometendo mulheres na faixa etária de 35 a 50 anos de idade. Está associada mais frequentemente com HPV 16, podendo haver concomitância de NIC, NIVA e neoplasia intraepitelial anal (NIA). A HSIL é mais frequente em mulheres fumantes ou imunodeprimidas. Cerca de 50 a 70% das pacientes relatam, como queixa principal, prurido ou ardor. Na maioria das vezes, as lesões são visíveis e multifocais. Há possibilidade de regressão espontânea ou após a biópsia, bem como evolução para a invasão de forma lenta em torno de 10% dos casos. Os testes biomoleculares de Ki67 e p16 geralmente são positivos. Quanto ao aspecto histopatológico, a NIV usual pode ser dividida em três categorias: verrucosa, basaloide e mista. NEOPLASIA INTRAEPITELIAL VULVAR DIFERENCIADA A NIV diferenciada representa apenas 2 a 5% das NIVs e é considerada CIS tipo simples, uma lesão altamente diferenciada, com maior risco de invasão. Ocorre em mulheres mais velhas e está associada com líquen escleroso, hiperplasia de células escamosas e líquen simples crônico. O teste p53 é geralmente positivo. TRATAMENTO O tratamento da NIV depende de tipo histológico, localização, tamanho e número de lesões. Também devem-se levar em conta as doenças associadas, a idade e os fatores psicológicos. O objetivo principal da terapêutica é prevenir o desenvolvimento do carcinoma invasivo ao mesmo tempo que preserva a arquitetura e a função da vulva. Tanto o tratamento ablativo quanto o tópico e o cirúrgico têm eficácia semelhante, e o último é o padrão-ouro na abordagem da NIV.37 A LSIL é equivalente ao condiloma acuminado, não é uma lesão precursora do câncer e não necessita de tratamento se não apresentar sintomas. 116 PR EV EN ÇÃ O S EC UN DÁ RIA DO CÂ NC ER NO TR AT O G EN ITA L I NF ER IOR | CÓ PIA C ON TR OL AD A As principais modalidades terapêuticas para NIV diferenciada são ■ excisão local alargada; ■ vulvectomia cutânea; ■ terapia ablativa; ■ tratamento tópico. Muitas considerações deverão ser levadas em conta antes de escolher a modalidade terapêutica. Nas pacientes portadoras de HSIL (NIV usual), cujas lesões exibem padrões suspeitos de doença invasiva, como ulcerações e bordas irregulares, ou naquelas mulheres com fator de risco para invasão, como tabagismo, história pregressa de NIV, imunossupressão, idade acima de 45 anos ou líquen escleroso, o tratamento de eleição é o excisional. Esse método proporciona peça para estudo anatomopatológico, que poderá excluir o componente invasivo, sendo, ao mesmo tempo, diagnóstico e terapêutico.37 Nas mulheres cujas lesões não apresentam características de malignidade, a escolha do tratamento dependerá da extensão da doença e da escolha da paciente. De acordo com alguns cenários, existem as seguintes opções de manejo: ■ tratamento excisional no caso de lesão única que permite a retirada completa; ■ vaporização com o laser na mulher jovem portadora de doença multifocal com lesões envolvendo clitóris, uretra ou ânus e introito vaginal; ■ uso do imiquimode nas portadoras de lesão recorrente ou que apresentem risco para recorrência, como as tabagistas severas e as imunocomprometidas, pois evitará as múltiplas excisões; ■ 5-FU como última linha pelos seus efeitos colaterais. Para as pacientes com NIV diferenciada, a terapia cirúrgica é a opção de eleição em razão do grande risco de associação com a doença invasora da vulva. A seguir, é apresentada a descrição das modalidades terapêuticas para NIV diferenciada. Terapias excisionais As terapias excisionais para NIV incluem excisão alargada, vulvectomia simples e vulvectomia cutânea. Excisão local alargada A excisão local alargada está indicada na lesão única quando o objetivo é obter 1cm de margem. A ausência de doença na margem da peça reduz a recorrência no local de onde foi retirada, mas não impede a recidiva em outros locais da vulva ao longo do tempo. Quanto à profundidade, a área removida deverá contemplar a epiderme. Quando a camada mais superficial da derme for retirada, haverá maior segurança da ausência de doença invasiva. A excisão poderá ser realizadacom bisturi, eletrocautério ou laser. 117 | P RO AG O | C icl o 1 6 | Vo lum e 3 | CÓ PIA C ON TR OL AD A No caso de margens positivas sem lesão residual visível, é recomendado seguimento com colposcopia. Se for visualizada lesão após o tratamento da NIV, e as margens forem comprometidas, uma nova intervenção é preconizada.38 Vulvectomia simples A vulvectomia simples é o procedimento de escolha quando há suspeita de invasão, nas lesões extensas e multifocais, em que não há possibilidade de se realizar a excisão local alargada. Consiste na remoção total da vulva e do períneo com inclusão de uma parte do tecido subcutâneo.39 Vulvectomia cutânea A vulvectomia cutânea está indicada nas lesões extensas e nas refratárias a outros tipos de tratamento. Consiste na remoção da pele um pouco abaixo da epiderme, mas com preservação do tecido subcutâneo.36 Terapias ablativas Dentre as modalidades ablativas, o laser é o método mais indicado. A doença invasora deverá ser descartada por meio de biópsias. O objetivo da ablação é o tratamento de toda a área com lesão.40 O controle da profundidade é conseguido por meio do uso do colposcópio no momento do tratamento. Atenção deve ser dada às diferenças nas profundidades das áreas pilosas e não pilosas. É importante saber que o folículo piloso se estende até 2,5mm de profundidade, o que mostra ser necessária uma destruição do tecido de cerca de 3mm nas áreas pilosas. Nas áreas mucosas, 1mm já é o suficiente para um tratamento efetivo. A destruição profunda atinge os apêndices da pele, causando uma cicatriz hipertrófica.37 Tratamento tópico O tratamento tópico é a modalidade de escolha para as pacientes jovens porque preserva a anatomia vulvar. Uma avaliação colposcópica acompanhada de biópsias deverá ser realizada para a certificação de que não haja doença invasora no local, antes do início do tratamento. Imiquimode O imiquimode é um modificador da resposta imune que age por meio do estímulo local da produção de citocinas e da imunidade celular. É muito eficaz no tratamento da HSIL, mas ainda precisa de maiores estudos. O medicamento deve ser aplicado nas lesões individualmente três vezes na semana, durante 16 semanas. Reações inflamatórias leves a severas poderão ocorrer no local da aplicação. Conforme a intensidade dos efeitos, as aplicações poderão ser mais espaçadas. 5-fluorouracil O 5-FU tem uma boa taxa de resposta. Seu modo de ação é a descamação da lesão, mas não é bem tolerado por conta da intensa reação inflamatória, que poderá cursar com dor, queimação e ulceração. Em decorrência dos efeitos colaterais, não é o fármaco de escolha de primeira linha. 118 PR EV EN ÇÃ O S EC UN DÁ RIA DO CÂ NC ER NO TR AT O G EN ITA L I NF ER IOR | CÓ PIA C ON TR OL AD A Terapia combinada As terapias ditas combinadas ainda estão sendo estudadas, principalmente a associação entre a excisão e a vaporização com laser. Essas associações deverão ser utilizadas principalmente em lesões extensas e multifocais que requeiram vários tipos de abordagens em decorrência do seu pleomorfismo.40 Um tópico que merece atenção por suscitar muitas dúvidas é o tratamento da NIV na gestação. A ocorrência da NIV na gestante é rara; porém, toda a lesão deverá sofrer biópsia, e o manejo poderá ser feito por meio de exérese ou ablação das lesões, ou pela conduta expectante, principalmente se o diagnóstico for definido no terceiro trimestre da gestação. Poderá ocorrer regressão da doença, principalmente nas mulheres com menos de 30 anos de idade, com doença pigmentada multifocal. A terapêutica clínica não é recomendada para gestantes, e o imiquimode só deverá ser utilizado se os benefícios forem maiores do que os riscos para o feto. Ele é considerado um fármaco classe C pela FDA. O 5-FU é um fármaco de classe D e não deverá ser administrado na gestação.41 SEGUIMENTO Apesar do tratamento, a NIV recorre em 30 a 50% dos casos. Em 4 a 8% dos casos, a recidiva ocorre como doença invasiva. Uma observação atenta de todo o TGI após a aplicação do ácido acético a 5% é mandatória durante um longo período de tempo. Está preconizada uma avaliação semestral durante o primeiro ano após o tratamento e depois anual. ATIVIDADES 11. Com relação ao tratamento cirúrgico da NIVA, assinale a alternativa correta. A) A opção de primeira linha, principalmente na lesão unifocal e bem delimitada, é a biópsia excisória com uso do termocautério. B) Na CAF, procedimento indicado nas lesões pequenas e multifocais e que resulta em um mínimo dano termal aos tecidos adjacentes, é realizada uma excisão para retirada da mucosa e de parte da submucosa. C) Abordagem que serve tanto como método diagnóstico quanto terapêutico, a excisão local alargada é um procedimento cirúrgico realizado com a finalidade de retirar toda a lesão, além de uma porção de tecido sadio. D) A vaginectomia total apresenta a taxa mais alta de sucesso nas lesões de cúpula pós-histerectomia. Resposta no final do capítulo 119 | P RO AG O | C icl o 1 6 | Vo lum e 3 | CÓ PIA C ON TR OL AD A 12. Quanto às modalidades ablativa e clínica da NIVA, assinale a alternativa correta. A) O tratamento com o vapor de laser tem sua indicação nas lesões de cúpula vaginal pós-histerectomia. B) O tratamento radioterápico é um método indicado nas pacientes jovens e contraindicado nas mulheres que já foram irradiadas previamente em função da alta taxa de morbidade. C) O ATA é utilizado para o tratamento das lesões intraepiteliais e pode ser indicado para todos os graus de NIVA. D) O tratamento tópico com 5-FU tem ação direta sobre o fator etiológico da NIVA e indicação maior nas lesões multifocais e nas recorrentes, bem como no tratamento das verrugas genitais causadas pelo HPV. Resposta no final do capítulo 13. Com relação às terapias ablativa, tópica e combinada para NIV, marque V (verdadeiro) ou F (falso). ( ) Na terapia ablativa com laser, cujo objetivo é o tratamento de toda a área com lesão, 1mm já é o suficiente para um tratamento efetivo nas áreas mucosas. ( ) Considerado eficaz no tratamento da HSIL, o imiquimode deve ser aplicado nas lesões, de forma individual, duas vezes na semana, durante 12 semanas. ( ) O 5-FU, cujo modo de ação é a descamação da lesão, não é bem tolerado por conta da intensa reação inflamatória, que poderá cursar com dor, queimação e ulceração. ( ) As terapias combinadas são indicadas principalmente em lesões extensas e multifocais que requeiram vários tipos de abordagens em decorrência do seu pleomorfismo. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. A) V — F — V — F B) F — V — V — F C) V — F — V — V D) V — V — V — V Resposta no final do capítulo 120 PR EV EN ÇÃ O S EC UN DÁ RIA DO CÂ NC ER NO TR AT O G EN ITA L I NF ER IOR | CÓ PIA C ON TR OL AD A ■ CASO CLÍNICO Paciente A.S., 35 anos de idade, G4P4, usuária de pílula anticoncepcional há 15 anos, não deseja nova gestação e apresenta resultado de citologia compatível com HSIL. A paciente foi encaminhada à colposcopia. Foi visualizada, após a aplicação de ácido acético, presença de epitélio branco denso periorificial acompanhado de área de mosaico irregular em lábio superior. Nota-se também extensa área de epitélio branco com aspecto algodoado caudalmente em relação ao mosaico. A JEC não foi visualizada (Figura 4). Realizou-se a biópsia, e o laudo do exame histopatológico correspondeu à NIC 3. Figura 4 — Presença de epitélio branco denso periorificial acompanhado de área de mosaico irregular em lábio superior. JEC não visualizada. Notar extensa área de epitélio branco com aspecto algodoado caudalmente em relação ao mosaico. Fonte: Arquivo de imagens das autoras. ATIVIDADE 14. Quanto ao caso clínico, assinale a alternativa correta. A) O tratamento mais adequado é o ver x tratar. B) A paciente deverá ser encaminhada para a histerectomia total, pois está com a prole completa. C) O procedimento mais indicado é a traquelectomiaradical pelo fato de a lesão ser muito extensa. D) A paciente deverá ser abordada com a excisão de tipo 3 por eletrodo reto ou bisturi de lâmina fria. Resposta no final do capítulo 121 | P RO AG O | C icl o 1 6 | Vo lum e 3 | CÓ PIA C ON TR OL AD A ■ CONCLUSÃO A história natural dos tumores de vagina e vulva baseia-se no conhecimento sobre a história natural do câncer do colo do útero, doença insidiosa, com uma fase longa de pré-invasão, o que permite um processo de rastreamento, que poderá detectar as lesões precursoras. O diagnóstico é feito mediante citologia, colposcopia e histopatologia. Por meio do tratamento adequado das neoplasias intraepiteliais de colo, vagina e vulva, é possível alterar a história natural da doença, diminuindo sua morbidade e mortalidade. ■ RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS Atividade 1 Resposta: D Comentário: O carcinoma apresenta história natural insidiosa, levando de 3 a 12 anos até que se instale o tumor invasor. Remoção dos fatores causais da doença, promoção da saúde e atuação na proteção específica, como a vacinação, são características da prevenção primária. Ações que objetivam a detecção e o tratamento precoce de uma enfermidade, limitando a sua morbidade, integram a prevenção secundária. Atividade 2 Resposta: C Comentário: Para desenvolver o câncer cervical ou as lesões precursoras, é necessária uma infecção persistente por HPV de alto risco, sendo os HPVs tipos 16 e 18 responsáveis por cerca 70% de todos os cânceres cervicais. Atividade 3 Resposta: B Comentário: Além da baixa incidência do câncer do colo do útero em mulheres jovens, há evidências de que o rastreamento é menos efetivo em mulheres com menos de 25 anos de idade. Há menos evidências sobre o momento de encerrar o rastreamento. Entretanto, mulheres com exame citológico negativo entre 50 e 64 anos de idade apresentam uma diminuição de 84% do risco de desenvolver carcinoma invasor entre 65 e 83 anos de idade, em comparação às mulheres que nunca foram rastreadas. Atividade 4 Resposta: A Comentário: O principal papel da colposcopia é localizar a área da lesão e direcionar as biópsias para as áreas suspeitas. Para que isso seja possível, é preciso delimitar a ZT, que é definida como a área delimitada caudalmente pela JEC original e cranialmente pela nova JEC. É justamente na ZT, mas não exclusivamente nela, que as principais lesões causadas pelo HPV surgem. Atividade 5 Resposta: D Comentário: A nomenclatura histopatológica segue a Classificação Histológica de Richardt (1967). As lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau incluem NIC 1 (displasia leve) e as alterações do HPV, denominadas de atipia coilocitótica. A categoria HSIL inclui NIC 2 e NIC 3 (displasia moderada, displasia grave e CIS). O grau de atividade mitótica, proliferação celular imatura e atipia nuclear identificam o grau de neoplasia. Se houver mitoses e células imaturas apenas no terço inferior do epitélio, a lesão é designada como NIC 1. O envolvimento dos terços médio e superior é diagnosticado como NIC 2 e NIC 3, respectivamente. 122 PR EV EN ÇÃ O S EC UN DÁ RIA DO CÂ NC ER NO TR AT O G EN ITA L I NF ER IOR | CÓ PIA C ON TR OL AD A Atividade 6 Resposta: B Comentário: É sabido que as mulheres com menos de 30 anos de idade têm maior tendência a adquirir HPV, mas têm maior clareamento espontâneo da infecção viral. Atividade 7 Resposta: B Comentário: A NIC 2, que pode ser considerada uma lesão de alto grau, compromete dois terços do epitélio e possui moderada reprodutibilidade interobservador. Atividade 8 Resposta: D Comentário: Muito comum nas mulheres abaixo dos 30 anos de idade, a lesão de baixo grau é considerada o reflexo da infecção pelo HPV. As lesões de baixo grau apresentam grande potencial de regressão. Atividade 9 Resposta: B Comentário: A NIC 2 é uma lesão heterogênea quanto a seu comportamento biológico. Pela nomenclatura LAST, quando a NIC 2 se corar pelo p16, será considerada uma lesão de alto grau, e, quando o p16 for negativo, será classificada como uma NIC 1. A lesão correspondente a NIC 2 poderá regredir em até 60% dos casos, quando presente em mulheres com menos de 30 anos de idade. Em razão da grande taxa de progressão, a conduta expectante não é recomendada nos casos de NIC 3. Atividade 10 Resposta: A Comentário: No caso de margens livres, deverá ser feito um acompanhamento com citologia semestral durante 24 meses e, depois, anual, durante 5 anos. Se os exames permanecerem negativos, a paciente voltará ao rastreio trienal. Atividade 11 Resposta: C Comentário: A opção de primeira linha, principalmente na lesão unifocal e bem delimitada, é a biópsia excisória, em que o uso do termocautério está contraindicado pela possibilidade de causar retrações no canal vaginal. O procedimento indicado nas lesões pequenas e multifocais é a vaporização pelo laser. A vaginectomia parcial apresenta a taxa mais alta de sucesso nas lesões de cúpula pós-histerectomia. Atividade 12 Resposta: C Comentário: A vaporização pelo laser é um método muito útil, principalmente nas pacientes portadoras de lesões multifocais bem visualizadas, e está contraindicado nas lesões de cúpula após histerectomia, em razão da dificuldade de acesso e do risco de causar danos às estruturas adjacentes. O tratamento radioterápico é um método contraindicado nas pacientes jovens e mulheres que já foram irradiadas previamente em função da alta taxa de morbidade. O tratamento tópico com 5-FU tem sua indicação maior nas lesões multifocais e nas recorrentes. O imiquimode é um composto químico com ação direta sobre o fator etiológico da NIVA e cuja principal indicação é o tratamento das verrugas genitais causadas pelo HPV. 123 | P RO AG O | C icl o 1 6 | Vo lum e 3 | CÓ PIA C ON TR OL AD A Atividade 13 Resposta: C Comentário: Considerado eficaz no tratamento da HSIL, o imiquimode deve ser aplicado nas lesões, de forma individual, três vezes na semana, durante 16 semanas. Atividade 14 Resposta: D Comentário: No caso clínico descrito, a JEC não é visualizada, o que indica uma ZT 3. Nesse caso, a retirada com a alça semicircular pode não ser suficiente para a ressecção completa da lesão. O tratamento padrão para lesão de alto grau em uma ZT 3 é a excisão de tipo 3, que poderá ser realizada tanto com o eletrodo reto quanto com o bisturi. ■ REFERÊNCIAS 1. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Diretrizes brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero. 2. ed. Rio de Janeiro: INCA; 2016 [acesso em 2018 fev 27]. Disponível em: http://www1.inca.gov.br/wcm/incidencia/2017/pdf/anexo-apendices.pdf. 2. Martin-Hirsch PP, Keep SL, Bryant AA. Interventions for preventing blood loss during the treatment of cervical intraepithelial neoplasia. Cochrane Database Syst Rev. 2010;(6):CD001421. 3. Crosbie EJ, Einstein MH, Franceschi S, Kitchener HC. Human papillomavirus and cervical cancer. Lancet Infect Dis. 2013 Sep;382(9895):889–99. 4. Waxman AG, Chelmow D, Darragh TM, Lawson H, Moscicki AB. Revised terminology for cervical histopa- thology and its implications for management of high-grade squamous intraepithelial lesions of the cervix. Obstet Gynecol. 2012 Dec;120(6):1465–71. 5. Jeronimo J, Massad LS, Castle PE, Wacholder S, Schiffman M. Interobserver agrément in the evaluation of digitized cervical images. Am Coll Obstetr Gynecol. 2007 Oct;110(4):833–40. 6. Drew PA, Wilkinson EJ. Conventional cytology. In: Apgar B, Brotsman G, Spitzer M, editors. Colposcopy: principles and practice: an integrated textbook and atlas. 2nd ed. Philadelphia: Saunders Elsevier; 2008. p. 59–65. 7. Hoffman B, Schorge JO, Caffer JI. Ginecologia de Williams. 2. ed. Porto Alegre: Artmed; 2014. 8. World Health Organization. Sistema Bethesda de 2001 [internet]. Geneva: WHO; 2019 [acesso em 2019 out 8]. Disponível em: https://screening.iarc.fr/atlasclassifbethesda.php?lang=4.
Compartilhar