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Propriedades de inércia Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Explicar o que é inércia. � Reconhecer os processos de arranque e resistência por fricção. � Identificar energia cinética de rotação e exemplos de mecanismos que armazenam esse tipo de energia. Introdução Você já se perguntou quanta energia é necessária para parar um trem? O princípio da inércia afirma que objetos em movimento têm a tendência de se manterem dessa forma, e os efeitos dessa afirmação podem ser observados no dia a dia. Mas, então, o que faz o trem parar? Uma das respostas para essa pergunta está no atrito entre corpos e superfícies, que dissipa a energia de movimento do trem até a sua parada. Além disso, o princípio da inércia também pode ser utilizado no funcionamento de alguns sistemas de armazenamento de energia. Neste capítulo, você estudará a propriedade de inércia dos corpos, como ela pode ser usada a seu favor em sistemas de armazenamento de energia e, também, os princípios do atrito e as suas utilidades. Inércia Imagine a seguinte situação: você está dirigindo um automóvel, e, de repente, um cachorro cruza a rua logo à sua frente. Para evitar a colisão, você freia bruscamente, e todos os passageiros do veículo são arremessados para frente. Isso ocorre porque os corpos dos passageiros tendem a continuar em movimento devido a um fenômeno conhecido como inércia, que será estudado a seguir. O estudo do movimento dos corpos data de mais de dois mil anos atrás e foi iniciado na Grécia Antiga. O filósofo Aristóteles foi um dos primeiros a tentar explicar como o movimento funcionava. Para ele, um objeto só poderia permanecer em movimento se, sobre ele, fosse aplicada constantemente uma força. Em outras palavras: os corpos tendem sempre ao repouso (HEWITT, 2010). A concepção proposta por Aristóteles permaneceu sendo considerada válida até século XVI, quando o cientista italiano Galileu Galilei descobriu que, embora seja necessária uma força para iniciar o movimento de um corpo, se nenhuma força contrária a esse movimento fosse aplicada, o corpo continuará em movimento (HEWITT, 2010). A Figura 1 ilustra um exemplo das ideias de Galileu. No primeiro caso, o movimento da bola é causado pela força da gravidade, que a puxa pela rampa. No trecho reto, nenhuma força atua sobre a bola. Já, na rampa final, a força da gravidade age contra o movimento, desacelerando o corpo até que o mesmo pare e comece o movimento de descida na rampa. Figura 1. Exemplo das ideias de Galileu. Fonte: Hewitt (2010, p. 50). Posição inicial Posição inicial Posição inicial Posição �nal Posição �nal Onde é a posição �nal? No segundo caso, a rampa final tem uma inclinação menor, desacelerando a bola mais vagarosamente. O terceiro caso apresenta apenas a rampa inicial, que causa o movimento e o trecho reto. Ou seja, como, nesse exemplo, não existe atrito entre a bola e a pista, não há uma força que pare a bola, a qual seguirá seu movimento indefinidamente. Propriedades de inércia2 Imagine a seguinte situação: um goleiro de futebol defendendo uma bola chutada pelo atacante do time adversário. Suponha, agora, que a bola de futebol seja trocada por uma bola de boliche. O goleiro teria muito mais dificuldade em pará-la. Isso porque sua massa é muito maior, e, consequentemente, é necessário um esforço muito maior para mudar seu estado de movimento, ou seja, pará-la. Assim, pode-se afirmar que a inércia é a propriedade de objetos se manterem em seu estado de movimento. Mas não confunda a inércia com uma força, pois ela é uma propriedade dos corpos em resistir à mudança no movimento (HEWITT, 2010). A medida utilizada para quantificar a inércia é a massa, expressa em quilogramas (kg). Quanto mais massa um corpo tiver, mais difícil será alterar o seu estado de movimento. Embora, muitas vezes, utilizados como sinônimos, massa e peso não devem ser confundidos. Enquanto a massa pode ser definida como a quantidade de matéria presente em um corpo, o peso é uma força gravitacional exercida pela Terra (ou outro objeto) sobre o mesmo. Essa confusão ocorre porque o peso de um objeto é diretamente proporcional à sua massa (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). Assim, uma bigorna que flutua pelo espaço sideral e não sofre o efeito da gravidade causada por um corpo celeste pode não ter peso, mas ainda tem massa (HEWITT, 2010). 3Propriedades de inércia Atrito O atrito está presente em todos os momentos do dia a dia e ocorre sempre que um objeto está em contato com uma superfície sólida ou um fluido (HEWITT, 2010). Sem o atrito não seria possível andar de bicicleta, caminhar ou, até mesmo, segurar objetos. Se um objeto em movimento retilíneo uniforme num plano reto tende a se manter nesse estado pelo princípio da inércia, por que, quando os cachorros de um trenó pararem de correr, o trenó também parará? A resposta está no contato entre as lâminas do trenó e o solo coberto de neve. O atrito entre eles gera uma força contrária ao movimento e provoca a diminuição da sua velocidade até a sua parada total. Em um automóvel, cerca de 20% do combustível consumido é utilizado para vencer o atrito dos componentes internos do motor e da transmissão (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2009). A magnitude da força de atrito entre duas superfícies sólidas depende do material com o qual são feitas e da força com que são pressionadas uma contra a outra. Esse tipo de atrito ocorre porque essas superfícies nunca são perfeita- mente polidas, mesmo que, a olho nu, isso não seja perceptível (HEWITT, 2010). As pequenas irregularidades presentes formam uma sequência de pontos salientes nessas superfícies, e são somente esses pontos que apoiam uma superfície na outra. Devido à pressão sobre essas saliências, ocorrem micro- soldas entre os pontos de contato. Assim, o atrito nada mais é do que a força necessária para romper essas microsoldas e impor um movimento relativo entre as superfícies. Conforme as saliências de uma superfície encontram as da outra superfície, vão ocorrendo novas microsoldagens, que vão sendo rompidas pelo movimento, e assim sucessivamente (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2009). A Figura 2 ilustra as irregularidades que causam o atrito entre superfícies. Propriedades de inércia4 Figura 2. Interferências entre irregularidades nas superfícies que causam o atrito sólido. Fonte: Hewitt (2010, p. 58). Existem vários experimentos simples que podem ser feitos para o estudo das características do atrito, que levam aos resultados a seguir. � Se um objeto se encontra em repouso, existe uma força externa de atrito que deve ser vencida para colocá-lo em movimento — essa força de atrito atua paralelamente à superfície de contato e em direção con- trária à força aplicada, conforme demonstrado na Figura 3 (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). 5Propriedades de inércia Figura 3. Interferências entre irregularidades nas superfícies que causam o atrito sólido. Fonte: Hewitt (2010, p. 58). � A força necessária para superar a força de atrito e fazer um objeto sair do repouso é maior do que a necessária para vencer a força de atrito e manter esse objeto em movimento com velocidade constante (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). � O módulo da força de atrito entre um corpo que se move e uma superfície é proporcional ao módulo da força normal (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). � A força de atrito independe da área de contato e da velocidade do objeto, mas depende da aspereza das superfícies — quanto mais ásperas, maior será a força de atrito (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). Propriedades de inércia6 No vídeo disponível no link a seguir, você encontrará mais informações sobre a força normal. https://goo.gl/erm56L A partir do resultado desses experimentos, fica claro que a força de atrito deve ser tratada em dois casos: quando o objeto se encontra em repouso (atrito estático) e quando o objeto está se movendo sobre a superfície (atrito cinético)(BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). A Figura 3 apresenta um homem exercendo uma força sobre um bloco que se encontra em uma determinada superfície. A Figura 4, a seguir, apresenta o gráfico do módulo da força de atrito versus o tempo, para esse exemplo. Figura 4. Gráfico do módulo da força de atrito versus tempo. Fonte: Adaptada de Halliday, Resnick e Walker (2009, p. 127). M ód ul o da fo rç a de a tr ito Desprendimento Tempo 0 Valor máximo de ƒs ƒk é aproximadamente constante Nessa Figura 4, é possível perceber que, à medida que o homem aplica a força sobre o bloco, ela é equilibrada pela força de atrito estático ( fs), que tem módulo igual à força aplicada, mas em direção contrária, mantendo o bloco 7Propriedades de inércia em repouso. À medida que o homem aumenta o módulo da força aplicada, fs também aumenta, até atingir um valor máximo de atrito. Nesse momento, a força de atrito é vencida e ocorre o “desprendimento” do bloco, que inicia o movimento na direção da força aplicada pelo homem. Com o movimento iniciado, a força necessária para manter o bloco com velocidade constante é igual à força de atrito cinético ( fk), que ainda tem direção contrária à força aplicada, mas, agora, com um módulo menor e aproximadamente constante. Caso o homem cesse a força aplicada, a de atrito cinético continuará atuando até a parada total do bloco. O módulo da força de atrito cinético pode ser encontrado pela seguinte expressão: fk = μkN onde N é o módulo da força normal e μk é o coeficiente de atrito cinético. Este coeficiente apresenta, na maioria dos casos, um valor entre zero e um, onde zero representa uma superfície hipotética, totalmente sem atrito (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). O coeficiente de atrito é um valor adimensional determinado experimentalmente, cujos valores dependem tanto das proprieda- des do corpo como da superfície (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2009). Como a força de atrito cinético tem módulo constante, pode-se considerar que, para um objeto se manter em velocidade constante, deve-se realizar uma força paralela à superfície de deslocamento de módulo igual ao da força de atrito. Assim, a força resultante externa será zero, e o corpo se manterá em equilíbrio (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). Já a força de atrito estático ( fs) não tem valor constante, o qual será sempre igual ao da força aplicada paralelamente à superfície de deslocamento, em mesmo sentido, mas na direção oposta, até que essa força exceda o valor máximo da força de atrito estático e comece a se movimentar (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). O módulo máximo da força de atrito estático será proporcional à força normal entre corpo e superfície, conforme a seguir (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012): fs,max = μsN Propriedades de inércia8 onde N é a força normal entre as superfícies, e μs é o coeficiente de atrito estático. Este coeficiente, também adimensional e obtido de maneira experi- mental, será sempre maior que o de atrito cinético, uma vez que é necessário mais esforço para retirar um objeto do repouso do que mantê-lo em movimento (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). No Quadro 1, são mostrados alguns coeficientes de atrito estáticos e di- nâmicos entre alguns materiais. Fonte: Adaptado de Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 119). Material 1 Material 2 μs μk Borracha Concreto seco 1 0,8 Borracha Concreto úmido 0,7 0,5 Aço Aço 0,7 0,6 Madeira Madeira 0,5 0,3 Prancha com parafina Neve 0,1 0,05 Aço Aço oleado 0,12 0,07 Teflon Aço 0,04 0,04 Pedra de curling Gelo 0,017 * Observe que esses valores são aproximados e dependem, em grande parte, da condição da superfície que existe entre os dois materiais. Quadro 1. Coeficientes típicos de atrito entre materiais Por fim, para alterar as forças de atrito, existem duas possibilidades: mo- dificar a força normal, ou seja, a força exercida pelo objeto sobre a superfície; ou modificar o coeficiente de atrito. Para isso, deve-se atuar nas superfícies, por exemplo, trocando seu material, utilizando substâncias entre as superfícies ou efetuando uma operação que mude sua “aspereza”, como o polimento. 9Propriedades de inércia Um fabricante de panelas precisa descobrir qual é o coeficiente de atrito estático entre o aço e seu novo material antiaderente. Para isso, ele utiliza uma rampa revestida com o material e a inclinação variável. Sobre essa rampa, foi colocado um cubo de aço e iniciada a variação de sua inclinação a partir de 1º. No momento em que a rampa atingiu 5º de inclinação, o cubo começou a se mover. Qual o coeficiente de atrito estático do novo material antiaderente? Para esta utilização, ele é melhor que o teflon convencional? Py Px P N fs 5º 5º y x O primeiro passo para a resolução do problema é a identificação das forças no momento em que o bloco está na iminência do movimento. No eixo x, pode-se observar uma componente do peso (Px) e, na direção contrária, a força de atrito estático (fs). Já, no eixo y, encontra-se a componente do peso Py e a força normal (N). Então, é necessário montar o diagrama de corpo livre (DCL), ilustrado na figura a seguir. Aplicando a somatória das forças em y, obtém-se que o módulo da força normal é igual ao módulo da componente Py do peso: ∑ Fy = N – Py =0 N = Py = Pcosθ No momento em que o bloco se encontra na iminência do movimento, há um equilíbrio entre a componente x do peso e a força de atrito máxima. Assim, realizando a somatória das forças do eixo x, obtém-se: ∑ Fy = Px – fs,max=0 Psenθ – fs,max = 0 Aplicando a equação da força máxima de atrito estático: Psenθ – µSN = 0 Substituindo o valor da força normal encontrado: Psenθ – µSPcosθ = 0 Propriedades de inércia10 Isolando μs, pode-se encontrar o seu valor: µS = Psenθ Pcosθ = tanθ Aplicando o valor de θ, obtém-se o valor do coeficiente de atrito estático: μS = 0,087 Assim, pode-se afirmar, observando o Quadro 1, que esse novo material não é mais eficiente como antiaderente que o teflon convencional, uma vez que seu coeficiente de atrito é mais alto. No movimento dos automóveis, o atrito desempenha um papel fundamental. Porém, esse caso apresenta algumas particularidades. Imagine que o motor força o pneu a girar em um sentido. Se não houvesse atrito entre o pneu e a pista, a roda giraria livremente, e o carro não sairia do lugar. Como existe o atrito, o pneu tenta empurrar o asfalto, porém este resiste e empurra o carro para frente, gerando o movimento. Note que, quando um carro se move, seus pneus não estão derrapando, ou seja, não há um deslizamento entre as superfícies. Assim, embora o carro esteja se movimentando, a força de atrito entre pneu e asfalto é a de atrito estático. Quando um carro acelera ou freia bruscamente, o pneu “patina”, o que quer dizer que a força exercida pelo pneu foi a máxima de atrito estático, gerando movimento entre as superfícies do pneu e do asfalto. Assim, nesse momento, a força de atrito se torna cinética. Como o coeficiente de atrito cinético entre duas superfícies é menor que o estático, consequentemente, a força de atrito também será. É por esse motivo que um carro que “arranca” com os pneus patinando demora mais a acelerar. Também é por esse motivo que, durante uma frenagem, quando as rodas travam, o carro demora mais a desacelerar. No vídeo disponível no link a seguir, você encontrará mais informações sobre atrito e movimento. https://goo.gl/AMRAoq 11Propriedades de inércia A partir de 2014, tornou-se obrigatória a fabricação de carros com freios ABS. Este sistema trabalha impedindo que, durante a frenagem, as rodas se travem. Assim, a força que será responsável pela parada do veículo será a de atrito estático, ou seja, o veículo vai parar mais rapidamente. Energia cinética de rotação Dentre as várias formas de geração de energia nos dias atuais, uma das que vêm se destacando é a energia eólica. A energia dos ventos é transformada em energia elétrica por meio dos aerogeradores, que têm rotores com pás que, ao serem movimentadas,descrevem um movimento circular. Assim, a energia dos ventos é convertida em energia cinética de rotação, usada para movimentar um gerador que converterá essa energia de rotação na que abastece a indústria e as residências de uma região. Todo objeto em movimento, como a pá do aerogerador, é capaz de realizar trabalho, pois ele tem uma energia de movimento, chamada de energia cinética (HEWITT, 2010). A energia cinética de um corpo depende de sua massa e velocidade, obe- decendo à seguinte relação (HEWITT, 2010): K = 1 2 mv 2 Por definição, a energia cinética é uma grandeza escalar sempre positiva ou igual a zero, quando um objeto se encontra em repouso. Sua unidade é o joule (J), 1 J = 1 N · m = 1 kg · m/s² (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). No caso do aerogerador, seu rotor descreve um movimento circular, ou seja, como está em movimento, tem energia cinética e pode realizar trabalho. A chamada energia cinética de rotação nada mais é que a energia armazenada por corpos que se encontram em movimentos circulares. Propriedades de inércia12 No link a seguir, você pode assistir a um vídeo e obter mais informações sobre movi- mento circular uniforme. https://goo.gl/AMRAoq Para calcular a energia cinética de rotação de uma partícula pontual se movendo numa trajetória circular de raio r em torno de um eixo, pode-se utilizar a relação entre velocidade linear e velocidade angular (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012): K = 1 2 1 2m (rω) 2 = mr2ω2 Para se obter a energia cinética de rotação de um grupo de partículas que gira em torno de um eixo fixo, basta somá-las. É o princípio utilizado para calcular a energia cinética de rotação de corpos, já que estes podem ser considerados um conjunto de partículas (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). K = 1 2 1 2 1 2∑ miri 2ω2 = (∑ miri 2) ω2 = Iω2 n n i = 1 i = 1 onde n é o número total de partículas que giram em torno de um eixo, cada qual com sua massa e seu raio de giro, mas todas a uma mesma velocidade angular. Na equação acima, a somatória dos produtos entre a massa de cada partícula e o quadrado da sua distância ao eixo de rotação foi substituída pela quantidade I, chamada de momento de inércia, também conhecida como inércia rotacional (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). 13Propriedades de inércia Quanto maior a inércia rotacional de um corpo, maior será a sua resistência a mudanças em seu estado de rotação. O mesmo corpo apresenta valores de I diferentes para eixos de rotações diferentes. A Figura 5 traz as diferentes fórmulas para calcular esses valores de acordo com a geometria do corpo e o eixo em torno do qual ele gira. Figura 5. Cálculo do momento de inércia para diferentes geometrias. Fonte: Bauer, Westfall e Dias (2012, p. 319-320). (a) (b) (c) (d) (e) (f ) (g) (h) (i) Propriedades de inércia14 Armazenamento da energia cinética de rotação Quando você escuta a expressão “armazenamento de energia”, o que vem à sua cabeça? Provavelmente você pensará em baterias, porque elas são o meio mais comum utilizado para armazenar energia atualmente. Porém, existem outros mecanismos que também são capazes de armazenar energia. O conceito de dispositivos que armazenam energia cinética em uma massa girante, também chamada de volante de inércia ou f lywheel, já é conhecido há muito tempo. Na sua concepção inicial, eles foram utiliza- dos para evitar variações bruscas de velocidade em motores e geradores (RIBEIRO, 2008). Essa forma de armazenamento de energia se baseia no princípio da inér- cia. Um corpo de grande massa girando a uma velocidade constante tem a capacidade de “absorver” variações momentâneas de rotação em um motor, mantendo, assim, sua velocidade constante. Observando a equação da energia cinética de rotação, é possível perceber que a energia armazenada em um corpo em movimento rotativo é diretamente proporcional à inércia rotacional e ao quadrado da velocidade angular (ω). Assim, com o aumento da rotação do volante de inércia, há um grande incre- mento na energia armazenada (RIBEIRO, 2008). Com o surgimento da eletrônica de potência e da eletrônica digital, criou- -se a segunda geração de sistemas de armazenamento de energia cinética. Neles, o volante de inércia foi acoplado a um motor/gerador. Seu objetivo principal é armazenar energia cinética em condições de funcionamento normal de um sistema e, em caso de faltas, alimentar suas cargas elétricas (RIBEIRO, 2008). Com o avanço da tecnologia dos materiais, o desenvolvimento de sis- temas que diminuíssem as perdas nesse tipo de equipamento e o aumento de sua confiabilidade, surgiu a sua terceira geração, que tornou viável a utilização dos sistemas de armazenamento de energia cinética (EL-MANN, 2009). 15Propriedades de inércia A Figura 6 ilustra a construção de um sistema de armazenamento de energia cinética de terceira geração. Ele é constituído por uma bomba de vácuo, que retira o ar da carcaça do equipamento, para diminuir a fricção entre a massa girante e o ar, por meio dessa e um motor/gerador, responsável pela conversão de energia. Durante o carregamento, a energia elétrica é convertida em energia mecânica e, durante a descarga, a energia mecânica é convertida em energia elétrica. Esse sistema utiliza mancais magnéticos para diminuir a perda por fricção gerada pelo apoio do sistema girante. Figura 6. Construção de um sistema de armazenamento de energia cinética. Fonte: Adaptada de Mírez (2002, documento on-line). Eixo de rotação Mancal magnético superior Mancal magnético inferior Rotor (massa girante) Motor/ gerador Bomba de vácuo Carcaça a b c Na indústria, as unidades de armazenamento de energia cinética são uti- lizadas para manutenção da qualidade da energia elétrica e o suprimento de pequenas faltas (EL-MANN, 2009). Na Figura 7, é possível observar uma planta de armazenamento de energia com capacidade instalada de 20MW, situada na Pensilvânia. A unidade é utilizada para regulação de frequência da rede elétrica e conta com 200 flywheels. Propriedades de inércia16 Figura 7. Sistema de armazenamento de energia de 20MW em Hazle, PA. Fonte: Beacon Power (2014, documento on-line). Hazle Spindle - Hazle Township, PA Câmara de vácuo Massa girante Mancais magnéticos Motor / gerador Mancais radiais No setor de transportes, esse tipo de sistema aproveita a energia de frenagem que, ao invés de ser dissipada em forma de calor, pode impulsionar uma massa girante ou carregar uma bateria, que posteriormente auxiliará na propulsão do veículo. Esse sistema, chamado KERS (kinetic energy recovering system), já vem sendo utilizado em carros de Fórmula 1, desde 2009 (EL-MANN, 2009). No vídeo disponível no link a seguir, você poderá conhecer o funcionamento de um protótipo de KERS que armazena a energia de frenagem em uma massa girante. https://goo.gl/9QMCtG Na indústria aeroespacial, existem estudos para substituição de bancos de baterias por flywheels. O sistema com massas girantes poderia suprir a carga por três vezes mais tempo que as baterias atualmente utilizadas (EL- -MANN, 2009). 17Propriedades de inércia 1. Um travesseiro com massa de 1 kg e um cubo de chumbo com a mesma massa se movimentam sobre uma superfície em trajetória retilínea, com velocidade constante. Sobre essa afirmação, desconsiderando as forças de atrito, é correto afirmar que: a) a força que deve ser exercida para parar o travesseiro será muito menor que a exercida para parar o cubo de chumbo. b) a força que deve ser exercida para parar o cubo de chumbo será menor que a exercida para parar o travesseiro. c) se nenhuma força atuar sobre os objetos, o cubo de chumbo parará primeiro. d) se nenhuma força atuar sobre os objetos, o travesseiro parará primeiro. e) a força que deve ser aplicada para parar os dois objetos é a mesma. 2. Um motorista está dirigindo em alta velocidade, quando um cachorro atravessa a pista logo à frente, e ele freia bruscamente. Considerando essa situação, qual a resposta correta?a) Se ele pisar com muita força nos freios, e as rodas do carro travarem, a frenagem será mais eficiente, e ele parará mais rápido. b) Em um carro com ABS, as rodas não travarão, o que retardará a frenagem, atropelando, assim, o cachorro. c) Mesmo que o carro tenha sistema de freios ABS, as rodas travarão, e a frenagem será menos eficiente, demorando mais para parar. d) Não há diferença nos modos de frenagem, sendo o tempo de parada o mesmo em qualquer caso. e) O motorista deve pisar no freio de modo a não travar as rodas, encurtando, assim, a distância de frenagem. 3. Um homem empurra um caixote de madeira em um piso plano com velocidade constante. Sobre esse cenário, é correto afirmar que: a) a força que o homem exerce sobre o caixote no sentido do deslocamento é igual à força de atrito cinético entre o caixote e o piso. b) a força que o homem exerce sobre o caixote no sentido do deslocamento é igual à força de inércia do caixote. c) se o homem parar de empurrar o caixote, ele continuará em movimento para sempre. d) a força de atrito entre o caixote e o piso não depende do seu peso. e) a força de atrito depende da área de contato entre o caixote e o piso. 4. Sobre a energia cinética de rotação, é correto afirmar que: a) para se obter a energia cinética total de um grupo de partículas, basta multiplicar suas energias cinéticas individuais. b) se dobrarmos a massa de uma partícula em movimento circular uniforme, sua energia cinética de rotação quadruplicará. Propriedades de inércia18 BAUER, W.; WESTFALL, G. D.; DIAS, H. Física para universitários: mecânica. Porto Alegre: AMGH, 2012. BEACON POWER. 20 MW flywheel energy storage plant. 2014. Disponível em: <http:// www.sandia.gov/ess/docs/pr_conferences/2014/Thursday/Session7/02_Areseneaux_ Jim_20MW_Flywheel_Energy_Storage_Plant_140918.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2018. EL-MANN, M. Sistema Armazenador de Energia Cinética – SAEC: implementação expe- rimental. 2009. 99 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009. v. 1. HEWITT, P. G. Fundamentos de física conceitual. Porto Alegre: Bookman, 2010. MÍREZ, J. Flywheel. [2002]. Disponível em: <https://jmirez.wordpress.com/2013/09/04/ j604-flywheel-o-volantes-de-inercia/>. Acesso em: 19 jun. 2018. RIBEIRO, M. R. Sistema Armazenador de Energia Cinética – SAEC: estratégia de controle e simulações. 2008. 157 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. c) se dobrarmos a velocidade de rotação de uma partícula em movimento circular uniforme, sua energia cinética de rotação também dobrará. d) para uma mesma velocidade de rotação, quanto maior a inércia rotacional de um corpo, maior será a energia cinética armazenada. e) A massa de uma partícula em movimento circular uniforme não influencia a energia cinética da mesma. 5. Sobre sistemas de armazenagem de energia cinética rotacional, pode-se afirmar que: a) para uma mesma rotação, quanto maior a massa girante, menor será a energia acumulada no sistema. b) o vácuo aplicado em flywheels tem a função de evitar a corrosão do sistema. c) para evitar grandes perdas por atrito no sistema girante, são aplicados rolamentos de rolos autocompensadores. d) esses sistemas não têm aplicação prática, apenas teórica. e) um modo eficaz de aumentar a energia armazenada no sistema é ampliando sua velocidade de rotação. 19Propriedades de inércia Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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