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C a d . S a ú d e C o l e t . , R i o d e J a n e i R o , 16 (3 ) : 471-482 , 2008 – 471 modeloS teóRiCoS do uSo de SeRviçoS de Saúde: ConCeitoS e ReviSão T�e�re���a� m��e�s �f �ea��� serv��es �������a����:����ep�s a�� rev�e� Ana Luiza Braz Pavão1, Cláudia Medina Coeli2 Resumo O uso de serviços de saúde é um comportamento complexo, determinado por uma grande variedade de fatores. A relação entre a utilização de serviços e seus determi� nantes pode ser melhor compreendida por meio de modelos teóricos explicativos. Este trabalho irá revisar os conceitos dos principais modelos teóricos do uso de serviços, como o Modelo de Crenças em Saúde, o Modelo Comportamental de Andersen, o Modelo de Dutton e o Modelo de Evans & Stoddart, com ênfase no modelo de An� dersen, já que tem sido o mais aplicado em estudos de utilização. Dentre os modelos revisados, o modelo de crenças e o de Andersen foram os pioneiros. Este último incorporou o conceito das crenças em saúde como um dos determinantes do uso e propôs ainda a discussão acerca de novos determinantes, como a necessidade e o acesso, que seriam incorporados pelos modelos subseqüentes. Dada a complexidade existente neste campo, torna�se fundamental o contínuo debate e investigação acerca do uso de serviços de saúde e seus fatores relacionados. PalavRas-chave Serviços de saúde, utilização, modelos teóricos abstRact Health services utilization is a complex behavior determined by a great variety of factors. The relationship between the use of health services and its determinants can be easier understood by means of theoretical models of use. The aim of this paper is to review the main concepts of some theoretical models of use, such as the Health Belief Model, Andersen’s Behavioral Model, the Model of Dutton, and the Model of Evans & Stoddart, with emphasis in Andersen’s model, for it has been the most applied in studies of use. Among them, the Health Belief Model and Andersen’s Behavioral Model were the pioneers. The latter has incorporated health beliefs as one of the determinants of the use of health services. Moreover, it has proposed a discussion on other new determinants, such as need and access, which would be incorporated by subsequent models. Given the complexity of this field, it becomes relevant the increasing debate and research concerning health services utilization and its related factors. �� �es�re em Sa��e ���e��va�. E��: �v. L���� ��s�a�� �º �.�60�� ����� 0���� ap�º �0� Barra �a T����a - R�� �e Ja�e�r� - �E�: �es�re em Sa��e ���e��va�. E��: �v. L���� ��s�a�� �º �.�60�� ����� 0���� ap�º �0� Barra �a T����a - R�� �e Ja�e�r� - �E�: 226�0-0��0 E-ma��: a�a�����a�p@ya���.��m.�r 2 �ós-�����ra�� em Sa��e ������a pe�a U��vers��é �e ����réa��� �a�a�á. �ós-�����ra�� em Sa��e ������a pe�a U��vers��é �e ����réa��� �a�a�á. �r�fess�ra-a�����a �� �epar�ame��� �e �e�����a �reve���va �a U��vers��a�e �e�era� �� R�� �e Ja�e�r� e ���e��e �� �r��rama �e �ós-Gra��a��� �� I�s������ �e Es����s em Sa��e ���e��va – IES��U�RJ. 05Nov_CADERNOS_SAUDE_COLETIVA_XV77 77 5/11/2009 17:41:03 472 – C a d . S a ú d e C o l e t . , R i o d e J a n e i R o , 16 (3 ) : 471 - 482 , 2008 a n a l u i z a b R a z p a v ã o , C l á u d i a m e d i n a C o e l i Key woRds Health services, utilization, theoretical models 1. IntRodução O uso de serviços de saúde é uma interação entre os consumidores e os pres� tadores destes serviços. É um comportamento complexo, determinado por uma grande variedade de fatores (Dever, ��988). Compreende tanto o contato direto com os serviços de saúde (consultas médicas, hospitalizações), como o indireto (realização de exames preventivos e diagnósticos). Resulta ainda da interação do comportamento do indivíduo que procura cuidados e do profissional que o conduz dentro do sistema de saúde (Travassos & Martins, 2004). Os motivos pelos quais um indivíduo se consulta vão além da carga de mor� bidade que este possa estar sofrendo (Mendoza�Sassi & Béria, 200��). Segundo Donabedian (��973), o conjunto de interações entre os profissionais de saúde e os seus clientes não ocorre em um vácuo, mas sim dentro de um ambiente organi� zacional que, por sua vez, é rodeado e penetrado por traços sociais e culturais. A utilização dos serviços de saúde, portanto, é influenciada por fatores sociocul� turais e organizacionais, e fatores relacionados com o consumidor e prestador de serviços (Dever, ��988). Hulka e Wheat (��985) realizaram uma revisão da literatura sobre os fatores que influenciam a utilização dos serviços de saúde e os dividiram em cinco categorias principais, a saber, estado de saúde e necessidade, características demográficas, disponibilidade de médicos, aspectos organizacionais dos serviços de saúde e mecanismos financeiros. O principal determinante do uso de serviços foi o estado de saúde ou necessidade do indivíduo, a qual possui relação de causalidade com o uso. Outros fatores como sexo, idade, disponibilidade de médicos, plano de saúde, mecanismos financeiros e o nível socioeconômico dos indivíduos também estiveram associados ao uso de serviços. 2. modelos teóRIcos do uso de seRvIços de saúde A relação entre a utilização dos serviços e seus determinantes pode ser me� lhor compreendida por meio de modelos teóricos explicativos do uso de serviços de saúde. Alguns dos principais modelos teóricos são: o Modelo de Crenças em Saúde, desenvolvido na década de 50; o Modelo Comportamental de Andersen, elaborado em ��968; o Modelo de Dutton, de ��986; e o Modelo de Evans & Stoddart, proposto em ��990 (Rosenstock, ��966; Andersen, ��995; Dutton, ��986; Evans & Stoddart, ��994). Este trabalho irá revisar os conceitos dos principais modelos teóricos do uso de serviços, com ênfase no Modelo Comportamental de Andersen. 05Nov_CADERNOS_SAUDE_COLETIVA_XV78 78 5/11/2009 17:41:03 C a d . S a ú d e C o l e t . , R i o d e J a n e i R o , 16 (3 ) : 471 - 482 , 2008 – 473 m o d e l o S t e ó R i C o S d o u S o d e S e R v i ç o S d e S a ú d e : C o n C e i t o S e R e v i S ã o Este último será destacado devido à sua maior aplicabilidade nos estudos de utilização (Travassos & Martins, 2004), decorrente possivelmente da sua relativa fa� cilidade de operacionalização, e por se tratar de um dos modelos de uso de serviços mais completos, tendo sofrido atualizações constantes ao longo das últimas décadas. Também foi um dos modelos pioneiros na dimensão do uso de serviços, tendo in� fluenciado os modelos posteriores. 2.1. modelo comPoRtamental de andeRsen O Modelo Comportamental de Andersen foi inicialmente desenvolvido em ��968 para avaliar e compreender o comportamento do uso de serviços de saúde dos indivíduos, definir e medir o acesso eqüitativo aos serviços, bem como auxiliar na implementação de políticas que promovam a eqüidade no acesso (Andersen, ��995). O conceito de acesso, para este autor, está ligado à entrada inicial do indivíduo no sistema de saúde. É uma característica da oferta de serviços, sendo importante para a explicação do padrão de utilização dos mesmos. Trata�se de uma dimensão do desempenho dos sistemas de saúde, relacionada à sua organização (Travassos & Martins, 2004). O seu processo de elaboração envolveu quatro fases distintas. Segundo a primeira fase do modelo (década de 60), os determinantes do uso de serviços de saúde consi� derados são os fatores de predisposição, ou predisponentes, os fatores de capacitação, ou capacitantes, e a necessidade em saúde. Os fatores predisponentes, por sua vez, influenciam os fatores capacitantes e a necessidade em saúde é o determinante mais proximal da utilização de serviços, segundo o modelo. Os fatores predisponentes estão ligados ao fato de o indivíduo estar mais ou menos susceptível ao uso dos serviços de saúde. Encontram�se subdivididos em três categorias: os demográficos, os da estrutura social e as crenças em saúde. Os fato� res demográficos, como idade e sexo,são aqueles que representam características biológicas prédeterminadas, as quais conferem maior chance ao indivíduo de vir a necessitar dos serviços de saúde. Os fatores de estrutura social, como escolaridade, ocupação e raça, determinam o status do indivíduo na comunidade, sua habilidade em lidar com problemas e o quão saudável ou não é o ambiente físico em que ele vive. As crenças em saúde são atitudes, valores e conhecimento que os indivíduos têm sobre sua saúde e sobre os serviços de saúde, que irão influenciar a sua percepção de necessidade e, conseqüentemente, o uso de serviços. Trata�se da mesma dimen� são do modelo de crenças em saúde, descrito a seguir, tendo sido provavelmente influenciado por este. Os fatores capacitantes relacionam�se à possibilidade de acesso ao serviço, englo� bando tanto fatores individuais e familiares, quanto fatores da oferta de serviços na comunidade. Estes fatores incluem: renda, plano de saúde, uso regular dos serviços 05Nov_CADERNOS_SAUDE_COLETIVA_XV79 79 5/11/2009 17:41:03 474 – C a d . S a ú d e C o l e t . , R i o d e J a n e i R o , 16 (3 ) : 471 - 482 , 2008 a n a l u i z a b R a z p a v ã o , C l á u d i a m e d i n a C o e l i de saúde, transporte e tempo de espera pelo serviço. O acesso potencial, segundo definição proposta por Andersen, seria a própria situação de presença dos fatores capa� citantes, ao passo que o acesso realizado seria o efetivo uso dos serviços de saúde. A necessidade inclui tanto o estado de saúde dos indivíduos, avaliado por profis� sionais, quanto a autopercepção de saúde dos pacientes. A necessidade percebida está relacionada à procura pelo cuidado e à adesão ao tratamento. A necessidade avaliada relaciona�se mais ao tipo de tratamento que será realizado, após a consulta inicial. O desfecho do modelo é o uso de serviços de saúde, medido, por exemplo, através de consultas em ambulatórios médicos, hospitais e consultórios dentários. Uma das hipóteses do modelo é de que o uso de diferentes tipos de serviços pode ser explicado por diferentes tipos de fatores. Quadro �� Síntese das principais características dos modelos teóricos do uso de serviços de saúde: Crenças em saúde, Andersen, Dutton e Evans & Stoddart, com relação aos determinantes do uso considerados e às especificações encontradas Modelos Determinantes do uso Especificações Crenças em Saúde (1950-1960) 4. Readiness to act 5. Crença na efetividade do exame 6. Fator de estímulo (interno/ex- terno) • Uso de serviços preventivos • Baseado nas crenças, percepções e riscos dos indivíduos Andersen (1968) Fatores de predisposição Fatores de capacitação Necessidade em saúde É o modelo mais utilizado Necessidade é o determinante mais proximal no uso Discute conceito de acesso Andersen (1970) Fatores de predisposição Fatores de capacitação Necessidade em saúde Sistema de saúde Conceito de satisfação do consumidor (desfecho final do modelo) Andersen (1980-1990) Fatores de predisposição Fatores de capacitação Necessidade em saúde Sistema de saúde Práticas pessoais de saúde (interação com o uso) Conceito de estado de saúde percebido e avaliado (desfecho final do modelo) Dutton (1986) • Fatores do paciente (determi- nantes de Andersen) • Fatores do prestador • Fatores do sistema • Introduz fatores do prestador (demográficos, formação, atitudes) como determinante do uso Evans & Stoddart (1990) • Determinantes de saúde • Acesso • Necessidade • Conceito de saúde ampliado para bem-estar • Efeito negativo da expansão dos sistemas de cuidado Andersen (1995 em diante) Fatores de predisposição Fatores de capacitação Necessidade em saúde Sistema de saúde Enfatiza a natureza dinâmica do modelo de uso 05Nov_CADERNOS_SAUDE_COLETIVA_XV80 80 5/11/2009 17:41:03 C a d . S a ú d e C o l e t . , R i o d e J a n e i R o , 16 (3 ) : 471 - 482 , 2008 – 475 m o d e l o S t e ó R i C o S d o u S o d e S e R v i ç o S d e S a ú d e : C o n C e i t o S e R e v i S ã o A fase 2 do modelo originou�se na década de 70 e caracterizou�se pela in� clusão do sistema de saúde como mais um determinante do uso de serviços de saúde incorporado no modelo (Quadro ��). Este determinante consistia em três dimensões: políticas em saúde, recursos financeiros e aspectos organizacionais. Além disso, nesta fase, foi introduzido o conceito de satisfação do consumidor como um resultado do uso de serviços. O uso de serviços de saúde deixa, portanto, de ser um desfecho final do modelo, o “fim da linha”, e passa a ser um desfecho intermediário para o desfecho final da satisfação do consumidor. No modelo de fase 3, criado nas décadas de 80 e 90, foram introduzidos os desfechos em saúde como outros desfechos finais resultantes do uso de serviços, uma vez que o uso também exerce influência na saúde dos indivíduos. Desta forma, os desfechos em saúde seriam uma maneira de avaliar o próprio uso de serviços. Foram incluídos como desfechos em saúde o estado de saúde percebido pelo indivíduo e o avaliado por profissionais. Também na fase 3, foi introduzida a idéia de que práticas de saúde pessoais, como dieta e exercícios, são fatores que interagem com o uso dos serviços e, conseqüentemente, influenciam os desfechos em saúde, mas não são considerados determinantes do uso propriamente dito, pelo modelo de Andersen. A última fase do modelo é a fase 4, ou modelo emergente, na qual Andersen enfatiza a natureza dinâmica da utilização dos serviços de saúde, incluindo as múltiplas influências dos determinantes no uso e, conseqüentemente, nos desfechos em saúde. Esta fase também irá englobar as relações de feedback (retroalimenta� ção) dos desfechos em saúde com os fatores predisponentes, com a necessidade percebida e com o comportamento em saúde. A última e mais recente fase do modelo de Andersen mostra, portanto, a complexidade existente no contexto da utilização de serviços de saúde, com a presença de múltiplos determinantes do uso de serviços. Dentre eles, a neces� sidade em saúde ainda é o fator mais proximal, sendo importante preditor do uso. As variáveis sociais também são fatores importantes, segundo o modelo de Andersen (Figura ��). 2.2. modelo de cRenças em saúde O modelo comportamental baseado nas crenças dos indivíduos (health belief model) foi desenhado nos anos 50, a fim de explicar falhas na adesão aos pro� gramas de prevenção e detecção precoce de doenças (Rosenstock, ��966). Ele busca explicar o comportamento dos indivíduos em relação à saúde e ao uso de serviços, segundo suas crenças, intenções e percepções dos riscos (Travassos & Martins, 2004). Segundo sua hipótese principal, a decisão de se realizar um exame preventivo ou diagnóstico não é feita se as seguintes condições não forem 05Nov_CADERNOS_SAUDE_COLETIVA_XV81 81 5/11/2009 17:41:03 476 – C a d . S a ú d e C o l e t . , R i o d e J a n e i R o , 16 (3 ) : 471 - 482 , 2008 a n a l u i z a b R a z p a v ã o , C l á u d i a m e d i n a C o e l i atendidas: a) o indivíduo está psicologicamente preparado para realizar a ação (readiness to act), e este estado de prontidão dependerá do quanto ele se sente susceptível a contrair a condição em questão e da percepção da gravidade das conseqüências da mesma para a sua saúde; b) a crença de que o exame pre� ventivo ou diagnóstico é viável e apropriado para a sua saúde, de que o mesmo poderá diminuir sua susceptibilidade ou gravidade percebida e de que não há barreiras psicológicas importantes para a tomada de ação; c) presença de um fator de estímulo, uma espécie de “gatilho” para a tomada de ação, o qual pode ser interno (p.ex., percepção de alterações orgânicas) ou externo (p. ex., relações interpessoais, influência dos meios de comunicação, propagandas de médicos ou dentistas, conhecimento de indivíduos que contraíram a doença, dentre outros). Este modelo analisa o comportamento de indivíduos saudáveis na utilização de serviços de prevençãoe tratamento e os seus determinantes. Neste caso, tem maior aplicabilidade em classes sociais mais altas do que nas baixas, pois as crenças e os comportamentos de saúde, que estão relacionados a uma maior preocupação com o futuro e com a longevidade, tendem a serem mais presentes em níveis socioeconômicos mais elevados (Figura 2). 2.3. modelo de dutton O modelo proposto por Dutton, publicado em ��986, analisa fatores finan� ceiros, organizacionais e profissionais que afetam a utilização dos serviços de saúde, tomando como base um inquérito de 3.058 indivíduos, entre adultos e crianças (Dutton, ��986). A utilização é vista como o produto de características Figura �� Modelo de Andersen (fase 4 ou modelo emergente) Fonte: Andersen ��995 05Nov_CADERNOS_SAUDE_COLETIVA_XV82 82 5/11/2009 17:41:04 C a d . S a ú d e C o l e t . , R i o d e J a n e i R o , 16 (3 ) : 471 - 482 , 2008 – 477 m o d e l o S t e ó R i C o S d o u S o d e S e R v i ç o S d e S a ú d e : C o n C e i t o S e R e v i S ã o Figura 2 Modelo de crenças em saúde Fonte: Glanz et al., 2002 do paciente, do prestador do cuidado e do sistema de saúde. Consiste num dos poucos modelos que inclui características individuais do prestador/profissional de saúde como fatores de explicação do uso. Neste modelo, as características dos pacientes são compostas pelos determinantes individuais definidos por Andersen; as características dos médicos são determinadas por aspectos demográficos, de formação, experiência e atitudes; e as características do sistema são relacionadas aos obstáculos estruturais que influenciam a utilização, tais como: financeiros, temporais (tempo de espera e distância), organizacionais e aqueles ligados à prática médica. A autora mostra que diferentes tipos de serviços podem ser influenciados por diferentes fatores. O uso de exames preventivos e a primeira consulta são, em geral, fatores controlados pelo paciente, e que dependerão de suas características e das barreiras estruturais do sistema. Já o uso de consultas subseqüentes e a rea� lização de tratamentos estão relacionados ao controle pelos médicos, dependendo da necessidade de saúde do paciente e das características destes profissionais. Segundo a autora, os elementos determinantes de uma consulta de primeira vez são distintos daqueles que influenciam as consultas subseqüentes; no entanto, a necessidade de saúde permanece um determinante importante em todos os tipos de uso de serviços (Travassos & Martins, 2004; Dutton, ��986) (Figura 3). 2.4. modelo de evans & stoddaRt Evans & Stoddart propuseram, em ��990, a criação de um modelo mais complexo, flexível e de fácil compreensão, que representasse a grande variedade das relações dos determinantes de saúde, chamado de “Modelo de Produção da Saúde” (Evans & Stoddart, ��994). Este foi criado em várias etapas, evoluindo em 05Nov_CADERNOS_SAUDE_COLETIVA_XV83 83 5/11/2009 17:41:04 478 – C a d . S a ú d e C o l e t . , R i o d e J a n e i R o , 16 (3 ) : 471 - 482 , 2008 a n a l u i z a b R a z p a v ã o , C l á u d i a m e d i n a C o e l i sua complexidade, na medida em que eram identificadas inadequações nos está� gios anteriores. Constituiu�se, portanto, de cinco estágios principais. No primeiro e mais simples estágio, chamado de “modelo simples de feedback entre a saúde e o cuidado em saúde”, o foco principal era a relação entre a doença (ausência de saúde) e o cuidado, sendo a saúde representada em termos de categorias e capacidades do cuidado. O indivíduo que se sente doente procura um sistema de cuidado, onde será diagnosticada a doença e definido o cuidado específico. Esta interação é mediada pela necessidade do indivíduo e pelo acesso ao cuidado. O acesso, para este autor, possui significado semelhante ao proposto por Andersen, pois está relacionado aos recursos físicos e humanos disponíveis para os indivíduos e a aspectos administrativos e financeiros do sistema de saúde. O sistema responde positivamente através da provisão do cuidado e este, através de sua efetividade, diminuirá o nível de doença. O segundo estágio do modelo, chamado de “modelo de feedback da expansão dos sistemas de cuidado”, reflete a crise financeira dos sistemas de cuidado com a situação de tensão entre as necessidades crescentes e os recursos diminuídos. A demanda por cuidado aumenta consideravelmente, assim como seus custos, e começam a surgir interesses pela efetividade com a qual os serviços de cuidado respondem às necessidades, representados pela expansão da Epidemiologia Clínica, da avaliação do cuidado em saúde e de pesquisas dos serviços de saúde. Um terceiro estágio do modelo foi desenvolvido para introduzir significado aos determinantes de saúde. Estes foram categorizados em: estilo de vida, ambientais, biológicos e organizacionais dos sistemas de cuidado. Este estágio do modelo enfatizou a importância da saúde como objetivo primordial e a existência de diversos determinantes para alcançá�la, e não apenas a provisão do cuidado. A quarta etapa do modelo apresentou duas mudanças estruturais: a introdução dos determinantes sociais na relação com a saúde, o que, segundo os autores, poderia explicar o achado de que a morbidade e a mortalidade variam de acordo com o gradiente socioeconômico; e a distinção entre doença, a qual é diagnosticada e tratada pelo sistema de cuidado, e saúde e função, que seria o conceito de saúde/doença, percebido pelo indivíduo, o qual é ampliado para o seu bem�estar. Na quinta e última etapa, os autores introduzem a idéia de que a expansão dos sistemas de cuidado pode trazer efeitos negativos para a saúde dos indivíduos, na medida em que seus gastos excessivos impedem investimentos em outros setores que poderiam promover o bem�estar e, da mesma forma, aumentar a saúde da população. É importante ressaltar que, conforme indicado por Travassos e Martins (2004), este modelo ainda carece de comprovação empírica (Figura 4). 3. conclusão Os modelos teóricos do uso de serviços de saúde são ferramentas impor� tantes para a melhor compreensão do processo de utilização de serviços e os seus fatores relacionados. Dentre os modelos revisados, o modelo Andersen e 05Nov_CADERNOS_SAUDE_COLETIVA_XV84 84 5/11/2009 17:41:04 C a d . S a ú d e C o l e t . , R i o d e J a n e i R o , 16 (3 ) : 471 - 482 , 2008 – 479 m o d e l o S t e ó R i C o S d o u S o d e S e R v i ç o S d e S a ú d e : C o n C e i t o S e R e v i S ã o Figura 4 Modelo Evan & Stoddart Fonte: Evan & Stoddart, ��994 o modelo de crenças em saúde foram os pioneiros. O modelo de Andersen incorporou o conceito das crenças em saúde como um dos determinantes do uso de serviços, proposto inicialmente pelo modelo de crenças (década de 50), e propôs ainda a discussão acerca de novos determinantes, como a necessi� dade e o acesso, dentre outros, os quais seriam incorporados pelos modelos teóricos subseqüentes. Também sofreu constantes atualizações, o que permitiu o seu aperfeiçoamento ao longo dos anos. Desta forma, é possível observar a influência dos determinantes do uso de serviços, propostos por Andersen, nos Figura 3 Modelo de Dutton Fonte: Dutton, ��986 05Nov_CADERNOS_SAUDE_COLETIVA_XV85 85 5/11/2009 17:41:04 480 – C a d . S a ú d e C o l e t . , R i o d e J a n e i R o , 16 (3 ) : 471 - 482 , 2008 a n a l u i z a b R a z p a v ã o , C l á u d i a m e d i n a C o e l i modelos de Dutton e de Evans & Stoddart, embora cada modelo tenha as suas especificações (Quadro ��). Dada a complexidade existente no campo do uso de serviços, haja visao as diferenças, com a intensificação da reflexão sobre o tema, entre o modelo inicial proposto por Andersen e o de ��995 em diante (modelo emergente), não é impossível imaginar que possam haver diferenças nas relações entre o uso de serviços e seus determinantes dependendo do contexto avaliado. Por isso, torna� se fundamental o contínuo debatee investigação acerca do uso de serviços de saúde e seus fatores relacionados. R e f e R ê n C i a S b i b l i o g R á f i C a S andeRsen, R. m. Revisiting the behavioral model and access to medical care: does it matter? Journal of Health and Social Behavior. United States, v. 36, n. ��, p. �����0, ��995. deveR, g. e. a. A Epidemiologia na Administração dos Serviços de Saúde. São Paulo: Livraria Pioneira e Editora, ��988. 2����p. donabedIan, a. Aspects of medical care administration: specifying requirements for health care. 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