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Geologia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Carlos Eduardo Martins Revisão Textual: Prof. Esp. Tiago Araújo Vieira Processos Erosivos e as Rochas Sedimentares 5 • Introdução • Intemperismo • Sedimentação ou deposição • Estratificação ou acamamento • Classificação granulométrica dos sedimentos · A unidade tem por objetivo analisar as causas e processos que levam à formação das rochas sedimentares, bem como enumerar e analisar alguns tipos de rochas sedimentares. Nesta unidade, assim como nas anteriores, você terá acesso a diversos recursos que o (a) auxiliarão a entender melhor o nosso tema: os processos erosivos e as rochas sedimentares. Veja o mapa mental, que sintetiza a estrutura do assunto tratado neste módulo. Fique atento aos prazos das atividades que serão colocadas no ar. Recorra sempre que possível às videoaulas e ao PowerPoint narrado para tirar eventuais dúvidas sobre o conteúdo teórico. Participe do fórum de discussão proposto para o tema. No seu tempo livre, procure pesquisar as fontes do material complementar. Além disto, procure pesquisar o máximo que puder sobre o tema: Processos erosivos e as rochas sedimentares. Há inúmeros conteúdos na internet que são bastante úteis para o seu estudo e para a sua formação profissional. Processos Erosivos e as Rochas Sedimentares 6 Unidade: Processos Erosivos e as Rochas Sedimentares Contextualização Avanço das dunas no Litoral do Piauí faz moradores abandonar casas Problema acontece na Praia de Maramá, cidade de Luís Correia. A Secretaria do Meio Ambiente diz que projetos não contemplam a área. O avanço das dunas no litoral piauiense está obrigando algumas famílias a abandonarem suas casas. Segundo a aposentada Maria Evangelista Almeida, o problema está afligindo os moradores da Praia de Maramá, na cidade de Luís Correia. Ela explica que teve a casa invadida pela areia e que o avanço das dunas foi muito rápido. 7 Introdução A origem das rochas sedimentares está ligada à dinâmica que ocorre na superfície terrestre à qual denominamos de intemperismo ou meteorização. O intemperismo diz respeito às transformações pelas quais passam as massas rochosas originadas pela atividade das forças endógenas ou tectônicas, devido à ação química, física e biológica das forças exógenas chamadas de intempéricas, ou meteóricas, de meteorização, isto é, a radiação solar, o vento, a chuva, os rios, a vegetação, e a vida animal, incluindo o homem. A decomposição dos processos formadores e modeladores pode induzir à ideia de que as forças endógenas constroem as formas da superfície enquanto as forças exógenas as degradam. Este tipo de percepção é o mesmo que afirma a existência de um processo cíclico que regulam a paisagem. Sob essa perspectiva podemos inter-relacionar a tectônica de placas aos climas atuantes na superfície terrestre. Intemperismo Do ponto de vista cíclico, o intemperismo seria a origem do processo de formação das rochas sedimentares, supondo-se que uma massa rochosa pré-existente seja exposta à ação degradadora das forças exógenas, lideradas pela água e pelo ar. Pressupostamente entende-se que o intemperismo age diretamente nas camadas mais externas das rochas, podendo atuar no seu interior devido à porosidade pré-existente (planos de estratificação, fraturas, falhas, diáclases etc., os quais serão mencionados mais à frente). O granito é a rocha que apresenta uma resposta inequívoca e clássica ao intemperismo. Seu comportamento apresenta uma tendência a descamar-se em corpos arredondados (esfoliação esferoidal) cada vez menores até que a massa rochosa seja completamente denudada (rebaixada) e dê lugar a uma depressão aplainada (Figura 1). Figura 1. Esfoliação esferoidal do granito. Adaptado de Small, 1978 8 Unidade: Processos Erosivos e as Rochas Sedimentares Intemperismo físico ou mecânico O intemperismo físico ou mecânico é caracterizado pela desagregação dos cristais por meio de abrasão, choque, tração, dilatação-contração, entre outras forças; teoricamente, sem alteração química dos componentes. Os produtos do intemperismo físico ou mecânico são denominados de terrígenos ou epiclásticos. Podemos subdividir o intemperismo físico em: Termoclastia: é a desagregação das camadas superiores das rochas devido à amplitude térmica diária, no caso dos climas áridos, que podem alcançar os 50°C; ou sazonal (Figura 2). Figura 2. Intemperismo físico termoclástico. Fonte: Wikimedia Commons Crioclastia: é a desagregação promovida pela oscilação água-gelo decorrente da sazonalidade dos climas frios. A água penetra nas fissuras da rocha no período mais quente e congela na estação fria. O gelo dilata e produz uma pressão de até 14 kg/m² (POMEROL et al, 2013) sobre as paredes das fissuras, promovendo, então, a desagregação das camadas superiores ou mesmo de blocos de rochas (Figura 3). Figura 3. Intemperismo físico por crioclastia. Fonte: Wikimedia Commons 9 Haloclastia: é a desagregação, muito similar à crioclastia, devida ao crescimento por hidratação de cristais salinos, migrados para a parte interna da rocha por meio da porosidade pré-existente, pela água de circulação intersticial (percolação). Esta dilatação dos minerais provoca a eliminação da coesão progressiva dos minerais das rochas. Há diversas formas de intemperismo abrasivo decorrentes de choque de partículas contra a superfície rochosa. Estes processos geram formas bastante peculiares e que refletem a ausência do trabalho da água, em se tratando de regiões áridas, ou, pelo contrário, do trabalho excessivamente mecânico da água, especialmente em regiões costeiras. O Parque Estadual de Vila Velha, em Ponta Grossa, Paraná, guarda remanescentes de intemperismo físico, predominantemente, eólico, sobre arenitos do período Carbonífero da era Paleozoica. A Figura 4 apresenta a feição considerada símbolo da significância dessa morfologia tão peculiar. Figura 4. A Taça. Feição residual de arenito sob intenso intemperismo físico. Fonte: Wikimedia Commons Intemperismo químico O intemperismo químico se dá pela decomposição ou alteração ao nível molecular dos cristais das rochas. No intemperismo químico, a decomposição ocorre quando os minerais agregados, aqueles que são solúveis, encontram-se na presença de um solvente como a água, e são removidos e migram para fora da composição mineral que caracterizava a rocha. Normalmente, a fase sólida ou não solúvel permanece dando origem à cobertura pedológica, solo ou manto de alteração. Nestes é que podem ocorrer as concentrações minerais de interesse econômico como, por exemplo: o alumínio, o ferro, o manganês, o urânio etc.. 10 Unidade: Processos Erosivos e as Rochas Sedimentares Os elementos residuais podem não permanecer perpetuamente no seu local de origem, podendo ser removidos mecanicamente por forças abrasivas, ou de tração, para ambientes deposicionais. Podemos subdividir os processos de alteração química das rochas em: Figura 5. Paisagem cárstica, Eslovênia. Fonte: Wikimedia Commons Figura 6. Caverna Dominica, Eslovênia. Fonte: Wikimedia Commons Hidrólise:: é a decomposição mineral pela adição de uma molécula de água (H-O-H), a partir da qual o H (positivo) se liga ao ânion, e o OH (negativo) se liga ao cátion da molécula quebrada. Este processo solubiliza os minerais residuais do processo de dissolução. Como exemplo do processo de quebra por hidrólise, a passagem abaixo representa o processo de eliminação do potássio (k) no ambiente, quando da transformação do feldspato em caulinita, na presença da água. 4KAlSi3O8(fedspato) + 22H2O → Al4Si4O16(OH)8(caulinita) + 4K + 4OH -+8H4SiO4 11 Um aspecto que deve ser levando em conta em relação à alteração das rochas é a temperatura. Quanto mais quente é o clima, desde que haja disponibilidade de água percolante, maior é a velocidade das reações de quebra mineral. A Figura 7 apresenta um esquema da relação entre as variáveis exógenas, preferencialmenteclimatobotânicas, e os produtos de intemperismo. Intemperismo biológico O intemperismo biológico deve-se à ação química ou física dos seres vivos, isto é, tanto plantas, como animais dos mais diversos portes, podem atuar tanto na desagregação física, quanto na decomposição química das rochas. Esta modalidade de transformação das rochas apresenta um espectro escalar que vai da ação química microbiológica na síntese de minerais, para a respiração anaeróbica e consequente liberação de compostos ácidos (Figura 8), até a ação mecânica de arvores e animais de grande porte (Figura 9). Figura 8. Ação intempérica bioquímica sobre a rocha. Figura 9. Ação intempérica mecânica sobre a rocha. Wikimedia Commons Wikimedia Commons Figura 7. Variáveis exógenas e produto de intemperismo. Fonte: POMEROL et al (2013, p. 666) 12 Unidade: Processos Erosivos e as Rochas Sedimentares A ação humana pode ser responsabilizada pela transformação das rochas na escala desta atividade e na sua área de influência, que pode ser de alguns metros, a algumas dezenas de quilômetros, como os casos dos desastres tecnológicos, por exemplo. De qualquer forma, o intemperismo, seja ele físico, químico ou biológico, é responsável pela alteração das camadas superiores das rochas, disponibilizando os minerais ou os fragmentos de rocha para as próximas etapas do processo. Os produtos do intemperismo químico e biológico são, em geral, difíceis de serem distinguidos, pois podem ter sofrido ação química ou biológica. Assim são denominados de forma geral, de alobioquímicos. Os sedimentos que dão origem às rochas carbonáticas são um bom exemplo deste processo. Erosão A erosão atua no âmbito da mobilização dos produtos do intemperismo precedente, agora, considerados materiais sedimentares como solutos e fragmentos de rocha, disponibilizando-os para o transporte. Transporte O transporte de material sedimentar é o conjunto de forças responsável pela remoção (por suspensão, saltação e arrasto) do material sedimentar da área de ocorrência do intemperismo e erosão carreando-o para os ambientes de sedimentação ou de deposição. Os meios de transporte de sedimentos são os classificados por: ação dos movimentos de massa, ação dos fluidos e ações gravitacionais em encostas e em geleiras. Os movimentos de massa são os deslizamentos e escorregamentos frequentemente observados em vertentes montanhosas muito declivosas. Determinadas condições como a umidade excessiva podem eliminar a coesão da cobertura pedológica, vegetal e até, de gelo sobre a rocha sã. Como consequência, o material desliza ou escorrega pela vertente abaixo até ser depositado na base da vertente, onde a ruptura de declive marca a mudança na direção e de velocidade do deslocamento dos sedimentos. Os fluidos, no caso, a água e o vento, são agentes de transporte de sedimentos pela superfície. Transporte pela água: neste caso, tanto a água como os próprios sedimentos, estão à mercê da ação gravitacional, entretanto a força da corrente vai determinar o alcance horizontal da viagem e o porte dos sedimentos. Quanto mais forte o fluxo, maior a distância e a diversidade de sedimentos transportados (Figura 10). 13 Figura 10. Transporte pela água (fluvial), rio Betsiboka, Madagascar. Fonte: nasa.gov Transporte pelo vento: a energia cinética presente nas correntes de ar é capaz de colocar partículas sólidas (sedimentos) em suspensão e deslocá-las por grandes distâncias até finalmente depositá-las (Figura 11) Figura 11. Intemperismo físico pela ação do vento. A Onda, erosão eólica do Arenito Navajo, Arizona – Utah, EUA. Fonte: nasa.gov Transporte por movimento de geleira: a mobilidade das geleiras também é responsável pelo transporte de solutos e fragmentos de rochas. Sob a influência da gravidade, a geleira está sempre sendo empurrada para as depressões do terreno. Neste trajeto, a geleira cumpre todas as ações anteriormente atribuídas aos outros elementos (Figura 12). 14 Unidade: Processos Erosivos e as Rochas Sedimentares Figura 12. Intemperismo físico resultante da movimentação e recuo de uma geleira, com a formação do relevo em U (1) e estriamento da superfície do embasamento cristalino (2). Fonte: opengeography.org, education.usgs.gov De forma mais abrangente, além das ações já descritas, as geleiras são responsáveis pela modelagem do terreno que as abriga. Após grandes mudanças climáticas que encerram períodos glaciais, o gelo desaparece revelando a forma em U, típica dos relevos que sustentaram as geleiras por centenas ou milhares de anos, e a forma fica gravada na paisagem, como mostra a Figura 12-1. As marcas deixadas pela geleira são encontradas pontualmente em afloramentos rochosos (Figura 12-2), nos quais a direção do deslocamento da geleira produz o atrito dos fragmentos de rocha sobre o embasamento cristalino. O resultado deste processo é o aparecimento de feições do tipo: estriamento glacial. As estrias glaciais existentes em vários continentes foram utilizadas por Alfred Wegener, em 1914, para a defesa da sua teoria da Deriva dos Continentes, primeira tentativa da história na defesa da mobilidade da superfície terrestre. O Município de Salto, estado de São Paulo, detém um dos poucos remanescentes de estriamento glacial encontrados no mundo, situado nas dependências do Parque Rocha Moutonnée. A Rocha Moutonnée de Salto, é um granito róseo, remanescente do embasamento cristalino atingido pela movimentação de uma geleira que cobriu a porção centro-sul da América do Sul, na Era Paleozoica (Figura 13). Figura 13. Rocha Moutonnée, Salto, São Paulo, os traços sub-horizontais e paralelos são estriamentos paleozoicos. 15 É importante salientar que, tanto o fluxo d’água, quanto o vento atuam como agentes intempéricos físicos, já que os materiais transportados estão em contato permanente com a superfície da rocha por onde passam, contribuindo para o seu desgaste, por abrasão. Os movimentos de massa são fenômenos de movimentação gravitacional natural (podendo também ser induzidos pela atividade humana), irregular e de escalas variadíssimas, que têm como característica o transporte de solo, de vegetais e de rocha. O que se deve considerar, em todos os casos, é que em determinada ocasião o material que compõe a cobertura pedológica das encostas íngremes deve mover-se e, no geral, esse movimento é instantâneo e de grande magnitude morfológica, isto é, pode causar grandes mudanças na paisagem. A maior problemática causada pelos movimentos de massa são as perdas humanas e materiais. A Figura 14 apresenta o movimento de massa ocorrido em uma comunidade rural do Afeganistão, em 02/05/2014. Figura 14. Movimento de massa em encosta íngreme sobre vilarejo no Afeganistão. Fonte: cdn.theatlantic.com 16 Unidade: Processos Erosivos e as Rochas Sedimentares Sedimentação ou deposição A deposição dos sedimentos transportados é o resultado de uma combinação de fatores adversos à capacidade de transporte dos fluidos e dos fluxos gravitacionais, e isso implica no que chamamos de redução da competência de transporte dos agentes. Podemos generalizar esse processo como resultante da diminuição ou cessação da força motriz anteriormente presente, nos agentes transportadores. Com a diminuição ou cessação da força e consequente mudança para o estado de repouso dos agentes intempéricos, os sedimentos mais grosseiros vão sendo depositados primeiro, Esses são seguidos dos mais leves que estavam em suspensão. Evidentemente que o local da deposição não é o mesmo da origem dos detritos sedimentares. Estes, agora, encontram-se sobre porções do terreno que, dadas as suas condições topográficas e morfológicas, são receptáculos desses detritos e, por este motivo, são denominadas de depressões ou bacias sedimentares. Pode ser que a deposição ocorra devido à água tornar-se supersaturada em solutos (os sedimentos de origem química). A Figura 15 apresenta as bacias sedimentares existentes no Brasil e queocupam escalas de ordem regional. Figura 15. Bacias sedimentares existentes no território brasileiro. Fonte: cprm.gov.br 17 Ambientes de sedimentação O que denominamos de fase de sedimentação, deposição ou, ainda, acumulação de detritos sedimentares, ocorre em ambiente subaquático e/ou, subaéreo, em geral, sob condições gravitacionais positivas, ou algo próximo disso. Normalmente, há uma tendência à deposição dos detritos sedimentares nas depressões do terreno, ou na base das encostas mais íngremes que sofrem a os processos gravitacionais devido à elevada declividade do terreno. São múltiplas as situações em que a deposição pode acontecer. Ambientes continentais · Ambiente aluvial: deposição no talvegue (fundo do canal do rio principal); margem e área de inundação (várzea) de cursos d’água que recebem sedimentos a partir da cessão da corrente; · Ambiente lacustre: deposição em lagos naturais e artificiais que recebem sedimentos de afluentes; · Ambiente desértico: deposição em depressões de relevo ocupadas com dunas que recebem sedimentos terrígenos de planaltos adjacentes; · Ambiente glacial: deposição em depressões de terreno que recebem sedimentos tracionados por geleiras. Ambiente costeiro · Ambiente deltaico: deposição na foz em delta que recebe os sedimentos com a cessão da corrente; · Ambiente de planícies de maré: deposição que combina sedimentos fluviais com os trazidos pelo mar; · Ambiente de praia: deposição de sedimentos depositados pelas ondas ou cursos d’água pontuais. Ambiente marinho · Ambiente de plataforma continental: recebe os sedimentos fluviais; · Ambiente de recifes orgânicos: sedimentação essencialmente biogênica; · Ambiente de margem continental: deposição de precipitados alobioquímicos difusos; · Ambiente abissal: deposição de resíduos de derrames fissurais. Em síntese, os ambientes de sedimentação são muito diversos. Para efeito de elucidação dos conceitos básicos, objetivo deste material, os ambientes foram subdivididos da seguinte forma: 18 Unidade: Processos Erosivos e as Rochas Sedimentares Soterramento Devemos considerar que o processo de deposição é subsequente, isto é, após um ciclo de deposição se encerrar, inicia-se outro. Formam-se camadas sobrepostas de detritos sedimentares correspondentes a cada nova fase de deposição. Assim, tanto a depressão ou a bacia sedimentar, quanto as camadas mais profundas, vão sendo soterradas. Há bacias sedimentares, como a Amazônica, que podem ter profundidades de mais de 3.000 metros de sedimentos. Diagênese A diagênese é a fase de constituição da rocha sedimentar propriamente dita. A Figura 16 apresenta o esquema que sintetiza o processo. O aumento da pressão (1 atm a cada 4,5 metros) exercida pelas camadas superiores sobre as camadas subjacentes leva à progressiva eliminação da porosidade e a diminuição da participação da água nos compostos, que cai de 50 a 60%, para 10 a 15%. A Combinação desses processos ao aumento da profundidade concomitante ao aumento da temperatura (+ 1°C a cada 30 metros) produz a precipitação de minerais como a calcita ou a sílica. Estes minerais recristalizam-se entre as partículas mais resistentes, cimentando-as. Podemos afirmar que, a partir daí, o processo de litificação, ou, a formação da rocha, esteja completo. Este mesmo processo segue ocorrendo nas camadas subsequentes até que toda a coluna de material sedimentar converta-se em uma sequência litoestratigráfica. Rochas sedimentares As rochas sedimentares são originadas a partir do acúmulo de sedimentos depositados em depressões do terreno, em diferentes escalas geográficas, na superfície terrestre. Lembrando que os sedimentos podem ser de origem terrígena, alobioquímica ou ambos. São exemplos de rochas sedimentares: arenito; argilito; calcário; chert; conglomerado; folhelho; ritmito; siltito; tempestito e turbidito. Figura 16. Diagênese de rochas sedimentares. Fonte: Adaptado de Small, 1978 19 O esquema a seguir, mostrado na Figura 17, representa as matérias primas sedimentares e as rochas correspondentes, incluindo a formação de rochas com minerais energéticos, como o petróleo: uma mistura de sedimentos com restos de vida orgânica precipitada em bacias sedimentares oceânicas rasas, da era mesozoica, posteriormente cobertas por rochas capeadoras. Boa parte desse recurso encontra-se sob diversas camadas sedimentares, na plataforma continental sul-americana, que corresponde ao litoral brasileiro. Figura 17. As matérias primas e as rochas sedimentares correspondentes. Estratificação ou acamamento Estratos ou camadas são faixas que representam fases de sedimentação. Segundo Otto (1935), apud Suguio (1980), os extratos podem ser considerados unidades de sedimentação. São fisicamente diferenciados e delimitados dos extratos, ou camadas subjacentes, ou sobrejacentes, por intervalos determinados pelos seguintes aspectos: · Variação nas dimensões da granulação do material depositado; · Variação na composição mineralógica do material depositado; · Variação na forma das partículas do material depositado; · Orientação das partículas do material depositado; · Se depositado em planos de estratificação cruzados ou paralelos. 20 Unidade: Processos Erosivos e as Rochas Sedimentares Estratificação cruzada A estratificação cruzada é aquela que se apresenta descontínua e com os estratos inclinados entre si e em relação ao embasamento cristalino. No geral, a estratificação cruzada origina-se em depósitos deltaicos, depósitos costeiros de praia, dunas eólicas, canais fluviais anastomosados e em leques aluviais. A título de exemplo, a Figura 18 apresenta um ambiente de sedimentação deltaico do rio Lena, Rússia. A imagem foi registrada pelos sensores multiespectrais do Landsat, em 2000. Os depósitos formados nas porções da superfície acabaram gerando rochas sedimentares com perfis extremamente irregulares, como mostra a Figura 19 e também a Figura 11, que retrata a Onda, no Arizona, EUA. Figura 18. Delta do rio Lena, Rússia (Landsat, 2000). Figura 19. Corte de rocha sedimentar de estratificação cruzada de arenito. Jackson County, Ohio, EUA. Fonte: Wikimedia Commons Estratificação plano-paralela A estratificação plano-paralela apresenta um comportamento tipicamente horizontal. As primeiras classificações estratigráficas ainda utilizadas como forma de datação relativa, utilizam este tipo para determinar sequências deposicionais, afinal, caso a coluna estratigráfica não tenha sofrido nenhum distúrbio pós-diagenético, os estratos mais baixos serão mais velhos do que aqueles que os sobrejazem. Em geral, afirma-se que a deposição plano-paralela ocorre em ambiente calmo, quando a energia do fluxo praticamente cessou. Os estratos planos paralelos, como a própria denominação indica, são paralelos entre si e em relação ao embasamento cristalino. Ainda que a depressão, ou bacia de sedimentação, apresentasse anteriormente ao início do soterramento, um relevo irregular, a deposição plano- paralela subsequencial vai retificar este fundo até o aplainamento total da superfície sedimentar. A Figura 20 representa o comportamento típico da estratificação plano-paralela. 21 Outros tipos de sedimentos que, por suas peculiaridades, merecem ser destacados, são os ritmitos. Esses depósitos denotam a sazonalidade do clima, na época em que a deposição estava em curso. No município de Itu, São Paulo, ocorre um tipo de ritmito denominado de varvito (do termo sueco varv, que significa repetição). No caso do varvito de Itu, trata-se de uma rocha sedimentar formada por estratos duplos ou de duas matrizes sedimentares: uma de origem arenítica-síltica e outra argilosa. Trata- se de uma depressão lacustre periglacial, isto é, que se situava muito próximo a uma geleira e que durante o inverno, expandia-se e cobria o lago. Com a superfície congelada e a água praticamente em estado de repouso, as partículas de argila suspensas eram depositadas em camadasfiníssimas no fundo do lago. Sobre as camadas finas de argilas, observam-se icnofósseis, isto é, marcas dos corpos e do rastro de duas espécies de invertebrados bentônicos (vermes). Durante o verão, quando a geleira recuava, o escoamento superficial do entorno do lago despejava ali, grande quantidade de silte e areia, arrastados dos arredores, formando estratos mais espessos sobre as argilas. Atualmente, após décadas de explotação minerária, a área que compreende este depósito encontra-se protegida da degradação e abriga um parque que recebe centenas de visitantes todos os dias. A Figura 21 apresenta uma das paredes da antiga cava de mineração que permite visualizar a perfeita horizontalidade dos estratos duplos, que caracterizam o varvito, um típico registro paleozoico glacial. Figura 20. Estratificação perfeitamente plano- paralela. Grand Canyon N. P. Arizona, EUA. Fonte: Wikimedia Commons Figura 21. Ritmito do tipo varvito. Itu, São Paulo. Fonte: Wikimedia Commons 22 Unidade: Processos Erosivos e as Rochas Sedimentares Classificação granulométrica dos sedimentos A granulometria é a técnica de classificação da espessura das partículas sedimentares. Ela vai da partícula microscópica, àquelas tão grandes quanto um automóvel. A classificação apresenta quatro níveis básicos: cascalho, areia, silte e argila, além de uma subclassificação a partir da diferenciação de espessuras dentro do nível anterior. O quadro abaixo, da Figura 22, apresenta a classificação oficial. Figura 22. Classificação granulométrica das partículas sedimentares. Intervalo granulométrico (mm) Classificação nominal Proposição original (inglês) Tradução usual (português) >256 256-64 64-4,0 4,0-2,0 GRAVEL Boulder Cobble Pebble Granule CASCALHO (ou balastro em Portugal) Matacão Bloco ou calhau Seixo Grânulo 2,0-1,0 SAND Very coarse sand AREIA Areia muito grossa 1,0-0,50 Coarse sand Areia grossa 0,50-0,25 Medium sand Areia média 0,250-0,125 Fine sand Areia fina 0,125-0,062 Very fine sand Areia muito fina 0,062-0,031 SILT Coarse silt SILTE Silte grosso 0,031-0,016 Medium silt Silte médio 0,016-0,008 Fine silt Silte fino 0,008-0,004 Very fine silt Silte muito fino <0,004 CLAY Clay ARGILA Argila Fonte: TEIXEIRA et al (2000) Como mostra o quadro da Figura 22, chamamos de argila as partículas com espessura inferior a 0,004 mm e de matacão, qualquer partícula com mais de 256 mm. 23 Material Complementar Livros: Varvito, segundo o SIGEP: http://sigep.cprm.gov.br/sitio062/sitio062.pdf Erosão eólica no arenito de Vila Velha: http://sigep.cprm.gov.br/sitio029/sitio029.pdf Sites: Banco de dados sobre rochas sedimentares: http://www.rc.unesp.br/museudpm/rochas/index.html Intemperismo, segundo o Serviço Geológico do Brasil (CPRM): http://www.cprm.gov.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1313&sid=129 Varvito, segundo o Serviço Geológico do Brasil (CPRM): http://www.cprm.gov.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=2659&sid=129 24 Unidade: Processos Erosivos e as Rochas Sedimentares Referências LEINZ, V. e AMARAL, S. E. Geologia Geral. 13ª Edição revisada. Ed. Nacional. São Paulo, 1998. POMEROL, C; LAGABRIELLE, Y; RENARD, M; GUILLOT, S. Princípios de Geologia: Técnicas, Modelos e Teorias. 14ª Edição. Bookman. Porto Alegre, 2013. PRESS, F, SIEVER R., GROTZINGER, J. & JORDAN, T. H. Para Entender a Terra. 4ª Edição. Editora Bookman. Porto Alegre, 2006. SUGUIO, K. Geologia Sedimentar. Ed. Edgard Blücher. São Paulo, 2003. SUGUIO, K. Rochas Sedimentares. Ed. Universidade de São Paulo. São Paulo. 1980. TEIXEIRA, W. et al. Decifrando a Terra. Companhia Editora Nacional São Paulo, 2009. 25 Anotações
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