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► CAPÍTULO 25 Gestão da clínica Gustavo Gusso Paulo Poli Neto Aspectos-chave ► É importante conhecer a demanda para o bom gerenciamento da clínica. ► A agenda deve ajudar na organização da demanda, e não diminuí-la ou limitá-la. ► Pressão assistencial é o número de consultas em um período/número de dias trabalhados em um mesmo período. “Frequência” é o número de consultas em um período (geralmente um ano)/número de habitantes. ► A agenda não deve ser verticalizada ou organizada por “programas” e, quando isso ocorre, é sinal de que há algum equívoco na gestão da clínica (p. ex., alta pressão assistencial com baixa “frequência”) e/ou compreensão inadequada dos conceitos da atenção primária à saúde (APS). ► A divisão entre crônico e agudo é prejudicial à estruturação de serviços com alto escore de APS. A APS brasileira tem sido marcada por uma heterogeneidade de modelos. Atualmente, além do modelo de saúde suplementar, que inicia um processo de fortalecimento da APS, o país convive, no sistema público, com unidades básicas chamadas tradicionais e a Estratégia Saúde da Família (ESF). Além disso, nos últimos anos, tem aumentado a quantidade de unidades ambulatoriais de pronto-atendimento (como as Unidades de Pronto-Atendimento [UPAs]) com variados graus de integração com os demais modelos. Cada um desses modelos tem uma origem histórica nacional e internacional. O modelo de unidades básicas chamadas tradicionais – cuja porta de entrada se dá com um clínico (no Brasil, muitas vezes, um médico sem residência ou especialidade), pediatra e ginecologista-obstetra –, foi primeiro estruturado na antiga União Soviética, ainda na década de 1920, pelo então Ministro da Saúde Nikolai Semashko.1 Muitos países também usam as chamadas walk-in clinics (em que é atendida exclusivamente a demanda espontânea, sem adstrição ou lista fechada de pacientes), complementando o atendimento realizado por centros de saúde que lidam com as pessoas de maneira longitudinal.2 O modelo em que está estruturado o sistema de saúde influencia diretamente na forma como se dá a gestão da clínica. Além dessa influência dos modelos, no Brasil, há também a tradição de se trabalhar por programas, uma vez que até a década de 1990, ou seja, antes da Constituição de 1988 e da implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), a assistência era uma prerrogativa do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) e cabiam ao Ministério da Saúde (MS) as ações programáticas, como campanhas de vacina ou de vigilância contra dengue ou cólera. A tradição de se trabalhar por programas e a dissociação entre vigilância à saúde e assistência estão, de certa maneira, impregnadas nos diversos modelos de atenção. A ESF, por envolver uma equipe de generalistas na porta de entrada do sistema, tem o desafio de oferecer serviços clínicos para problemas abrangentes das pessoas, mas também está em unidades cuja história é a de ações populacionais indiferenciadas (rastreamentos e vacinações) e atenção focada em patologias ou situações de relevância epidemiológica (doenças infecciosas, cardiovasculares, gestantes e crianças). No modelo de unidade básica tradicional, é difícil que a superação ocorra, já que tem como porta de entrada três profissionais, sendo que um atende crianças, o outro, problemas ginecológicos e obstétricos, e o último, adultos em geral. Além disso, com frequência, esses profissionais têm treinamento essencialmente hospitalar e entendem o trabalho na unidade como apenas de vigilância (puericultura, pré-natal, câncer de mama e colo do útero, hipertensão e diabetes), sendo que problemas de saúde seriam resolvidos no hospital. Isso faz com que a espera por consultas – em grande parte das unidades básicas que trabalham conforme essa lógica – chegue a meses, sem possibilidade para “encaixe” ou consulta marcada no dia, pois o objetivo seria lidar com problemas crônicos ou programas verticais de vigilância. Independentemente do modelo, quando isso ocorre, há uma atenção primária de baixo escore e baixa qualidade, como é possível mensurar pelo Primary care assessment tool (PCATool), desenvolvido pelo grupo de pesquisadores liderado pela Profa. Bárbara Starfield.3 Além do modelo, outros aspectos que influenciam na organização dos serviços são a existência de área adstrita ou lista de pessoas, e a conformação das equipes – abertas ou fechadas. Na ESF, as equipes são fechadas, ou seja, há um médico, um enfermeiro, um ou mais técnicos de enfermagem, e alguns agentes comunitários para uma população definida. Mesmo sendo considerada “fechada”, é muito difícil que os técnicos de enfermagem ou, inclusive, os médicos e enfermeiros não lidem em algum momento com pessoas que não sejam da sua “área de cobertura”. Os técnicos de enfermagem, por ficarem fixos ou em rodízio nas salas de vacina, curativo, sinais vitais e, às vezes, na farmácia, na prática, muitas vezes, trabalham sem uma população definida. Em geral, em países anglo-saxões que têm APS estruturada – como Inglaterra, Holanda, Dinamarca –, as equipes são abertas. Nesse caso, os médicos têm uma população definida, e os outros profissionais se organizam por tarefas, lidando com todos os pacientes, ou, ainda, a população é apenas adstrita à unidade. A outra variável – a lista de pacientes – também tem formas distintas de organização. Em geral, na maioria dos países, as pessoas podem escolher o médico de família, desde que haja vaga e cada profissional fique responsável por 1.500 a 2.000 pacientes. Ou seja, um pai pode ir a um médico, e o filho, em outro. Embora haja a alegação de que essa forma prejudica a abordagem familiar, o fato de todos os membros da mesma família irem ao mesmo profissional não é garantia de que essa abordagem será feita com qualidade. Esse tipo de habilidade depende muito mais da capacitação do profissional do que do acesso a toda família ao mesmo profissional, inclusive porque a abordagem familiar é feita a partir de um indivíduo (no genograma, há a pessoa-índice). No Brasil, tanto as unidades básicas tradicionais como a ESF trabalham por região geográfica. Na ESF, ainda há a subdivisão que define a área de cada equipe. Nesse modelo, há a vantagem de facilitar a cobertura populacional, já que com a área geográfica as pessoas de determinada região têm, em tese, sua equipe de referência. O Estado tem apenas a responsabilidade de conseguir alocar os profissionais naquela equipe. Essa maneira de organizar prejudica a longitudinalidade, pois sempre que alguém muda de endereço há o risco de ter de trocar de equipe, e as pessoas não têm flexibilidade para serem atendidas por uma equipe ou um profissional com o qual tenham mais afinidade. Dessa forma, o Estado abdica da responsabilidade de colocar uma proporção adequada de profissionais por população. Quando se trabalha por lista de pessoas, o Estado é responsável pela formação e atração de profissionais que cuidarão da população descoberta. Na forma de organização por área geográfica, essa tensão se dilui e de certa forma a responsabilidade da cobertura é transferida, ou ao menos dividida com a equipe. Desse modo, no Brasil, cada equipe da ESF lida com 2.400 a 4.000 pessoas na área de abrangência. Uma equipe tem, em geral, entre 8 e 10 pessoas, sendo um médico, um enfermeiro, um ou dois técnicos de enfermagem e 4 a 6 agentes comunitários de saúde. Se a população for de 4.000 pessoas, são aproximadamente 400 pessoas por profissional. Em muitos países da Europa, as equipes (abertas ou fechadas) são constituídaspor apenas médico e enfermeiro e, como são 2.000 pessoas no máximo por equipe, ficam, no total, 1.000 pessoas/profissional. A diferença é que há um médico geral ou de família para 2.000 pessoas, e no Brasil, há um para 4.000 pessoas, e a principal pressão assistencial é por consulta médica, havendo uma tensão constante. Independentemente de como se estruturam as equipes, se abertas ou fechadas, elas devem ser funcionais,4 o que significa que devem trabalhar em rede colaborativa, em que cada integrante deveria exercer o seu potencial máximo. Em equipes grandes como as utilizadas no Brasil, o médico deveria ficar cada vez mais responsável por lidar com patologias ou com queixas vagas e mal definidas, deixando a prevenção primária e secundária para outros membros.5 Para isso, é importante que os outros membros se apresentem e se mostrem disponíveis a assumir responsabilidades. Caso se opte por reduzir o número de pessoas, como se dá na maioria dos países da Europa, cujo teto é 2.000 pessoas, necessariamente, as equipes devem se tornar menores, com um médico generalista bem treinado e um enfermeiro e/ou técnico de enfermagem capacitado no seu núcleo. Essa tensão da pressão assistencial, aliada à tradição de se trabalhar de forma vertical, faz com que haja grande atração pela organização da clínica por programas focando na “priorização” de alguns grupos populacionais. A própria ESF, cujo nome inicial era Programa Saúde da Família, nos primeiros anos, priorizou seis grupos: hipertensos, diabéticos, gestantes, crianças, tuberculosos e hansenianos. Esses grupos continuam existindo e sendo entendidos como prioritários, mas cada vez mais há a compreensão de que a APS de alta qualidade deve conseguir dar resposta a todas as demandas, inclusive desses seis grupos. Outra consequência da excessiva programação da agenda é que a equipe define quando e com que frequência quer ver os hipertensos, diabéticos, gestantes e crianças, mas tais grupos têm dificuldade para acessar a equipe quando sentem necessidade, como em situações em que a criança está com febre, a gestante com dor de garganta, e o hipertenso com alguma micose. Dessa forma, é fundamental ter em mente que, quando se priorizam os seis ou outros grupos e se concentram os esforços neles, negligenciando outras demandas, tem-se uma APS de baixa qualidade, pois se está assumindo que não há a possibilidade de dar resposta a todas as demandas. Quando a pressão assistencial e a estruturação da equipe obrigarem a organização dessa maneira, ter consciência da limitação é importante, bem como mais adequado do que acreditar que o trabalho por programas ou a priorização de grupos populacionais é algo que qualifica a APS. Fatores que influenciam a utilização da unidade de saúde O Quadro 25.1 sistematiza os diversos fatores que influenciam a utilização da unidade de saúde e, consequentemente, a gestão da clínica. Quadro 25.1 | Fatores que influenciam a gestão da clínica6 Fatores do usuário ► Fatores que criam necessidades ● Doença crônica ● Situações de sofrimento ● Compreensão subjetiva do estado de saúde ● Estado funcional ► Fatores predisponentes ● Idade e sexo ● Etnia ● Condições de trabalho/desemprego ● Nível educacional e socioeconômico ● Situações de sofrimento ● Estado civil ● Família monoparental, divórcio ● Déficit de apoio social ● Disfunção familiar ● Condições de higiene ● Crenças e expectativas com relação ao serviço ► Fatores facilitadores ● Tempo para conseguir uma consulta agendada/tempo na sala de espera ● Distância da unidade de saúde ● Forma de pagamento (por produção, por capitação, por salário) ● Disponibilidade do serviço ● Organização do serviço ● Discriminação positiva (raça, sexo, idade, problema de saúde) ● Relação médico-paciente Fatores do profissional ► Formação ► Demanda induzida pelo profissional ► Pagamento por produção/consulta ► Medicina defensiva ► Insatisfação profissional/burnout ► Sexo ► Idade/experiência ► Estilos de prática clínica (técnico, ativador de retornos, deficitário em habilidades de comunicação, rápido, influenciado pela indústria farmacêutica) Fatores da organização ► Acessibilidade ► Disponibilidade ► Copagamento (pagamento complementar por consulta ou serviço) ► Incentivos econômicos ► Tamanho da área de abrangência ou da lista de pessoas ► Pagamento por produção ► Falta de continuidade/longitudinalidade ► Trabalho por equipe ► Multiprofissionalismo ► Retroalimentação da informação (relatórios) ► Programas de saúde (prevenção) ► Relação com o setor secundário ► Burocracia/consultas administrativas (renovação de receita ou de atestados) ► Agenda e sistemas de marcação ► Consulta telefônica ► Organização médico-enfermeiro Conhecendo e organizando a demanda O valor aceito internacionalmente de consultas/paciente/ano é de três a quatro. Países como Espanha chegam a ter sete,6 ao passo que, no Brasil, o número conhecido é de 1,4 consultas/paciente/ano.7 Analisando apenas esse dado, pode parecer que há melhor manejo da demanda no Brasil, mas pode ser apenas uma demanda reprimida. Não dar resposta à demanda reprimida não é adequado do ponto de vista da gestão da clínica, pois cria tensões e não diminui a carga de trabalho, ao contrário do que muitas vezes os profissionais imaginam. Para entender a demanda, é preciso ter um sistema de registros mínimo. Um bom prontuário eletrônico pode ajudar nessa tarefa, o que pode ser possível também por meio de registros manuais. Para compreender quais informações devem ser resgatadas, é preciso conhecer os seguintes conceitos:6 ● Pressão assistencial = número de consultas em um período/número de dias trabalhados em um mesmo período (p. ex., 247 dias de trabalho em um ano). ● “Frequência” = número de consultas em um período (geralmente uma consulta por ano)/número de habitantes.[NA] A partir desses conceitos básicos, é possível prever quatro situações,6 descritas no Quadro 25.2. Quadro 25. 2 | Análise quantitativa da demanda6 Alta “frequência” Baixa “frequência” Alta pressão assistencial Situação A Situação B Baixa pressão assistencial Situação C Situação D Fonte: Casajuana Brunet e Bellón Saameño.6 ● Situação A. É a situação mais comum no meio urbano. Um excesso de “frequência” (média ao redor de 6-7 consultas/habitante/ano) é geralmente devido a certo déficit organizativo. Não é possível saber, apenas com esses dados, se existe também uma falta de recursos, exceto calculando-se que pressão ficaria com uma frequência de 3,5-4 consultas/habitante/ano. ● Situação B. O excesso de pressão assistencial é acompanhado de uma baixa “frequência”. Isso indica, aparentemente, que não há muita margem de manobra organizativa para poder reduzir a utilização, sendo a única opção um incremento nos recursos para adequar a pressão assistencial. ● Situação C. Essa situação é observada em áreas rurais com pouca população adstrita (baixa pressão). Existe uma alta “frequência” aprimorável com medidas organizativas. Na teoria, sobram recursos, mas isso pode não ser aplicável, pois, em áreas rurais, há grande rotatividade de profissionais impedindo o planejamento das ações. ● Situação D. Essa situação é encontrada em zonas urbanas de classe alta, nas quais as pessoas podem usar outros recursos sanitários, uma vez que o sistema público é pouco atrativo. Poderia tentar melhorar a atração à população adstrita ou diminuir os recursos humanos. É importante saber em que situação cada equipe se encontra. Nem sempre a linha divisória é bem estabelecida. Muitas vezes, as equipes que atuam na ESF se encontram na situação B. A principal margem de manobra, nesse caso, é tornar a equipe, que em geral tem muitos componentes, mais funcional,resolvendo grande parte da demanda (e não a recusando) antes de chegar ao médico. O grande objetivo da gestão da clínica é diminuir, para o médico, a demanda administrativa e ampliar a demanda assistencial (ou de problemas que necessitem, de fato, intervenção). Outro dado relevante para a gestão da clínica é a taxa de referenciamento, ou seja, o número de referenciamentos (ou encaminhamentos) sobre o número de consultas realizadas. No Brasil, divulga-se a taxa de 15% como adequada. Na média, é possível alcançar 10 a 12% com uma boa prática clínica, sendo destinados 3 a 4% para oftalmologia, a maioria demanda de refração. Em grande parte dos países com uma APS bem estruturada, essa taxa fica entre 4 e 6%, no total.8 Vale ressaltar que essa taxa é muitas vezes chamada de “resolutividade”, dando uma falsa impressão de que se “resolvem” 80 ou 90% dos problemas na APS. Porém, como um mesmo paciente contribui com quatro consultas em média por ano, se for necessário referenciá-lo, apenas uma dessas consultas contabilizará tal referenciamento, enquanto as outras três da mesma pessoa entrarão no denominador desse indicador. Cálculo da lista de pacientes O número de duas mil pessoas por médico (FTE, em inglês full time equivalent) é geralmente o resultado de certas variáveis, que são:9 ● Pressão assistencial. ● Frequência. ● Tempo disponível para consulta. ● Número de pessoas por médico. ● Tempo da consulta. Duas formas de se utilizarem tais variáveis são fixando um número para a lista de pacientes ou se fixando um tempo de consulta (Quadro 25.3). Das variáveis implicadas, a frequência é a mais difícil de ser modificada em curto prazo. O tempo de consulta, portanto, também pode ser uma resultante. Porém, o mais adequado é não entender o tempo de consulta como estanque, já que se está lidando com médias em um ambiente de cuidado longitudinal. O mais adequado na APS é multiplicar o tempo de consulta pela frequência, e assim se tem como dado aceito aproximadamente 50 minutos por paciente ao ano.10 É mais adequada a divisão deste tempo em quatro períodos de 12 minutos do que oferecer apenas duas chances de 25 minutos por ano. Quadro 25.3 | Formas de se utilizarem as variáveis necessárias para a gestão da clínica Forma 1: Resultante é o tempo de consulta ► O que é dado: ● 40 horas semanais/8 horas diárias ● 36 horas de atendimento por semana (432 min ao dia) ● 2.000 pessoas por equipe ● 4 consultas ao ano em média ► O que fazer: ● 8.000 consultas ao ano = 720 consultas ao mês (1 mês de férias) = 32 consultas ao dia = 1 consulta a cada 13,5 min Forma 2: Resultante é a lista de pacientes ► O que é dado: ● 40 horas semanais/8 horas diárias ● 36 horas de atendimento por semana (432 min ao dia) ● 1 consulta a cada 20 min ● 4 consultas por pessoa por ano ► O que fazer: ● 21 consultas ao dia = 462 consultas ao mês ● 5.082 consultas ao ano (1 mês de férias) = 1.270 pessoas por equipe Organização da agenda Geoffrey Rose11 descreveu as diferenças entre a abordagem populacional e individual. Há vantagens e desvantagens nas duas abordagens, mas, na abordagem individual, procura-se intervir nas pessoas de maior risco. Na abordagem populacional, em geral, intervém-se no grupo como um todo para que haja um benefício global. Porém, o maior equívoco cometido é propor intervenções que deveriam ser reservadas para pessoas com maior risco para toda uma população. Portanto, é fundamental avaliar riscos individuais. No grupo das pessoas com hipertensão, há aquelas com diabetes; no grupo daquelas com hipertensão e diabetes, há as que já tiveram um infarto agudo do miocárdio (IAM); no grupo daquelas sem hipertensão ou diabetes, também há as que tiveram IAM. O risco cardiovascular de uma pessoa com hipertensão sem IAM é menor do que o de uma pessoa que já sofreu IAM, mas não é hipertensa, que é menor do que aquela com hipertensão, diabetes e IAM. Dessa forma, pré- selecionando quem tem hipertensão e/ou diabetes, corre-se o grave equívoco de negligenciar o cuidado a quem teve IAM, mas não tem hipertensão nem diabetes. Geoffrey Rose utiliza o exemplo do colesterol para melhor demonstrar tal situação. Como a maioria da população tem colesterol normal, a maior proporção de pessoas que teve IAM também tem colesterol normal, ou seja, essa não é uma condição sine qua non. Esses exemplos demonstram facilmente o risco de se trabalhar priorizando grupos populacionais. Assim, a agenda do profissional deve ser a mais livre possível (Quadro 25.4). Quanto menos seleção de grupos populacionais, mais qualificada é a atenção prestada. Apenas dois grupos devem ser protegidos, caso a pressão assistencial seja muito grande: gestantes e crianças menores de 1 ano. Nestes, devem-se sempre avaliar riscos e estimular o menor número de consultas preconizado pelas diretrizes baseadas em evidências (nem sempre há evidências claras e, por isso, deve-se reavaliar constantemente as rotinas com o intuito de mensurar excesso de consultas para pessoas de baixo risco). Quadro 25.4 | Características básicas da agenda ► Organizar número de consultas disponíveis de forma compatível com a demanda ► Não setorizar ou verticalizar (separar períodos para programas) ► Adaptar a variações da demanda ► Manter e/ou prever espaços entre as consultas para recuperação de atrasos ► Alternar a agenda complementar entre médico e enfermeiro ► Individualizar o tempo de consulta (reservar a maior parte para consultas rápidas, deixando espaço para algumas consultas demoradas – autorreferenciamento) Fonte: Casajuana Brunet e Bellón Saameño.6 A agenda e a consulta agendada não servem para diminuir a demanda, mas, sim, para organizá-la. Não podem ser, portanto, um fator de represamento de demanda. A diferenciação entre demanda espontânea ou programada, ou entre crônicos e agudos, é artificial e, em geral, prejudica a organização dos serviços. Sabe-se que, na APS, os profissionais veem tanto pacientes antigos com problemas antigos como pacientes antigos com problemas novos e, mais raramente, pacientes novos com problemas novos.12 Dessa forma, mesmo sendo pacientes conhecidos, é importante diminuir a demanda por consultas de “controle”, ou “rotina”, em que não há nenhuma alteração ou conduta, seja para pessoas com hipertensão ou diabetes ou para crianças (Tabelas 25.1 e 25.2). Esse tipo de demanda é estimulada por sistemas em que o pagamento é realizado por produção, como ocorre no sistema privado brasileiro, que consome mais da metade do investimento feito na área da saúde no país e, portanto, influencia indiretamente o sistema como um todo. O mesmo profissional que trabalha no consultório privado e estimula sem amparo científico a criança saudável, de baixo risco e filha de pais zelosos a consultar todo mês para “controle”, eventualmente também trabalha em uma unidade básica tradicional do sistema público, na coordenação de vigilância do município ou do Estado, ou leciona na universidade, fazendo com que esse equívoco seja perpetuado e “contamine” os protocolos. Tabela 25.1 | Carga de trabalho e número de pacientes Al Aus Can Fr It Hol NZ Nor Sue RU EUA Média de horas trabalhadas por semana – % das horas de contato individual com paciente 50,8 70% 40,5 87% 42,5 75% 48,6 82% 37,5 75% 44,4 69% 41 83% 40,5 67% 37,8 66% 42,2 68% 47,8 76% Média de pacientes vistos por semana 242 128 124 110 171 123 116 81 53 130 96 Tempo de contato com cada paciente – 9,1 (6,4 – 13,4) 17 (14,9 – 19,2) 16,8 (12,1 – 23,3) 22,2 (16,9 – 29,5) 10,3 (7,2 – 15,0) 15,0 (12,2 – 18,0) 17,4 (15,4 – 19,8) 20,6 (16 – 26) 28,8 (24 – 36) 13,3 (10,8 – 16,8) 22,5 (17 – 29,7)média (quartil inferior- quartil superior) Al, Alemanha; Aus, Austrália; Can, Canadá; Fr, França; It, Itália; Hol, Holanda; NZ, Nova Zelândia; Nor, Noruega; Sue, Suécia; RU, Reino Unido; EUA, Estados Unidos da América. Fonte: Koch e colaboradores.13 Tabela 25.2 | Média de consultas e de visitas domiciliares, médicas e de enfermeiros – MADRID Média de atividades realizadas Médico Enfermeiro Demanda espontânea 33,5/dia 9,8/dia Programada (agendada) 3,3/dia 12,3/dia Visita agendada 3,4/semana 5,7/semana Visita não agendada 3,2/semana 4/semana Fonte: Forster.14 O objetivo é resolver a demanda da forma mais rápida e custo-efetiva possível, seja uma renovação de receita feita durante o momento do dia em que o profissional ou equipe separa para trabalho burocrático (paper work), seja uma consulta solicitada no mesmo dia por uma suposta descompensação do diabetes. Por definição, isso é APS de qualidade, pois respeita os atributos nucleares (acesso, abrangência, longitudinalidade e coordenação). A resposta rápida às demandas não é exclusividade de pronto-atendimentos que não trabalham longitudinalmente nem de forma coordenada, ao contrário do que se alega. Ou seja, quando se responde, no mesmo dia, a uma demanda de um paciente conhecido, há a possibilidade de vê-lo novamente e ainda há o registro desse atendimento para consulta futura, não se está fazendo “pronto-atendimento” no sentido estrito do conceito, mas sim APS de alta qualidade. Na APS, o que faz superar a simplificação da “queixa-conduta” é a longitudinalidade e o vínculo, além da competência do profissional para trabalhar nesse ambiente. Muitas vezes, além da própria pressão assistencial inerente, há o despreparo do profissional para trabalhar na APS, pois ele vem com a ideia antiga da verticalização ou da APS como um lugar para se fazer prevenção primária e secundária (como descrito por Leavell e Clark15), o que causa frustração. O Quadro 25.5 mostra um exemplo de agenda. Nesse modelo, destaca-se a importância do acesso. Há diferentes tempos previstos por atendimento tanto para o médico de família e comunidade quanto para o enfermeiro, com consultas mais breves, de 10 minutos, intermediárias de 15 minutos e, todos os dias, um período multifuncional, que pode servir também para consultas mais longas ou para recuperar atrasos na agenda. No exemplo, veem-se uma unidade com duas equipes, com médico de família e enfermeiro. Nesse desenho, bastariam dois consultórios, um para cada equipe, porque o médico de família e comunidade e o enfermeiro se alternam no atendimento clínico na unidade e nas demais atividades. Desse modo, as pessoas vinculadas à lista da equipe contam com um profissional de referência todos os dias, das 7 às 19 horas. Caso exista uma segunda equipe (ou outras), é interessante que os médicos de família façam horários diferentes, pois assim podem servir de apoio tanto para uma quanto para a outra equipe.16 O ideal é que todas as pessoas que procuram por consulta pudessem agendar para o mesmo dia ou no máximo em até 48 horas por telefone, por uma página da internet ou por aplicativos de agendamento, cada vez mais comuns. Muitas situações poderiam até ser resolvidas por teleconsultoria, como orientações simples de saúde ou situações administrativas. Isso evitaria o número excessivo de pessoas pedindo informações, consultas ou aguardando em sala de espera. De todo modo, é importante prever a possibilidade de procura direta e é necessário dar conta dessa demanda, quando possível. Cada médico de família ou enfermeiro tem nessa agenda uma reserva diária de até 2 horas para funções diversas. O atendimento domiciliar, por exemplo, não deveria se restringir a um dia ou período da semana, mas, sim, pautar-se na necessidade da população. Esse horário pode ser organizado, portanto, para visitas domiciliares, visitas hospitalares ou contato com especialistas focais, retorno aos pacientes por telefone ou correio eletrônico, agendamento de pequenos procedimentos, atualização das informações sobre pacientes com maior risco ou situações raras e reuniões administrativas com a equipe. É fundamental reservar tempo para resolver demandas burocráticas (paper work) e para atender telefone ou responder a e-mails, quando essas tecnologias estiverem disponíveis.17 O restante da agenda é reservado a pacientes que preferem marcar antecipadamente ou para aqueles a quem o próprio profissional decide que precisa dedicar mais tempo, como na abordagem de pessoas com sintomas depressivos ou para um procedimento cirúrgico. Dessa forma, na primeira metade da manhã e da tarde, as consultas demoram de 10 a 15 minutos, e no restante do dia, duram entre 20 e 40 minutos, o que ocorre raramente. Outra possibilidade prevista nessa agenda é a dos atendimentos aos sábados. Com profissionais com turnos de 40 horas semanais, a hora multifuncional poderia ser reduzida para oferecer um horário extra aos sábados. Como a maioria da população cuidada pela APS trabalha em horário comercial, oferecer atendimento antes das 8 ou 9 horas, após as 17 horas e aos sábados contribui muito para o acesso. Quadro 25.5 | Exemplo de organização da agenda Médico de família e comunidade 1 Segunda a sexta Sábado 7h-9h Consultas breves – agendadas ou da procura direta (10 em 10 min) Opção de rodízio para atendimento das consultas do dia 9h-13h Consultas agendadas em até 48h (15 em 15 min) 14h-16h Horário multifuncional: retornos de situações complexas, recuperação de tempo, visitas domiciliares, visita hospitalar, pequenos procedimentos, responder aos e-mails dos pacientes e especialistas, retornar telefonemas dos pacientes, atividades administrativas como renovação de receitas, ver exames, verificar listas dos pacientes de risco, reuniões e atividades coletivas Enfermeiro 1 Segunda a sexta 10h-12h Horário multifuncional: atividades de coordenação da enfermagem, retornos de situações complexas, recuperação de tempo, visitas domiciliares, visita hospitalar, pequenos procedimentos, responder aos emails dos pacientes e especialistas, retornar telefonemas dos pacientes, atividades administrativas como renovação de receitas, ver exames, verificar listas dos pacientes de risco, reuniões e atividades coletivas 13h-16h Consultas breves – agendadas ou da procura direta (10 em 10 min) 16h-19h Consultas agendadas em até 48h (15 em 15 min) Enfermeiro 2 Segunda a sexta 7h-9h Consultas breves – agendadas ou da procura direta (10 em 10 min) 9h-13h Consultas agendadas em até 48h (15 em 15 min) 14h-16h Horário multifuncional: atividades de coordenação da enfermagem, retornos de situações complexas, recuperação de tempo, visitas domiciliares, visita hospitalar, pequenos procedimentos, responder aos e-mails dos pacientes e especialistas, retornar telefonemas dos pacientes, atividades administrativas como renovação de receitas, ver exames, verificar listas dos pacientes de risco, reuniões e atividades coletivas Médico de família e comunidade 2 Segunda a sexta 10h-12h Horário multifuncional: retornos de situações complexas, recuperação de tempo, visitas domiciliares, visita hospitalar, pequenos procedimentos, responder aos e-mails dos pacientes e especialistas, retornar telefonemas dos pacientes, atividades administrativas como renovação de receitas, ver exames, verificar listas dos pacientes de risco, reuniões e atividades coletivas 13h-15h Consultas breves – agendadas ou da procura direta (10 em 10 min) 16h-19h Consultas agendadas em até 48h (15 em 15 min) Fonte: Arquivo pessoal dos autores. Os grupos educativos podem ficar a cargo de outros membros da equipe, como agentes comunitários, técnicos de enfermagem ou dos próprios pacientes (os chamados grupos de pares). A avaliaçãoadequada da abordagem comunitária, que envolve a atitude do profissional, não se dá pelo número de horas que ele fica fora do consultório. Trabalhando de maneira funcional, não há demanda reprimida e a quantidade de atendimento médico se mantém em 400 a 450 ao mês, com 12 a 15 minutos, em média. O maior benefício, entretanto, é que o paciente se sente seguro com a possibilidade de retorno e não percebe a necessidade de abordar todos os problemas em um mesmo encontro. Assim, a consulta pode transcorrer melhor, dependendo das habilidades clínicas e de comunicação para sua condução, bem como a relação da equipe com a comunidade. As principais fontes de resistência para a implementação desse tipo de agenda não vêm do excesso de demanda propriamente, mas da compreensão inadequada do que é APS e do medo das equipes com o excesso de trabalho. De fato, durante alguns meses em que há transição do modelo, a carga de trabalho aumenta devido à demanda reprimida. Muitas vezes, o profissional que se dispõe a organizar sua agenda dessa maneira é demovido da ideia por outros componentes da equipe ou da unidade de saúde. Caso a região esteja desestruturada, pode haver, também, um afluxo de pacientes de outras áreas de abrangência que precisa ser gerido. Esse tipo de gestão da clínica, em que a chamada demanda espontânea quase que conflui com a programada, privilegia o acesso, primeiro atributo nuclear da APS. Porém, o que deveria se chamar apenas acesso, devido à dificuldade de execução descrita, tem recebido outros termos, como demanda espontânea, consulta do dia, acolhimento18 e advanced access (paciente consegue consulta em até 48 horas).19 (Ver Cap. 5, Modelos de acesso ao cuidado pelo médico de família e comunidade na atenção primária à saúde.) Um tema incipiente no Brasil, mas bastante consolidado em muitos países, é reservar momentos para falar com os pacientes ao telefone. Isso diminui consideravelmente a demanda por consultas administrativas ou de retornos breves para falar sobre o efeito de alguma medicação prescrita. Já há diretrizes que orientam quais problemas podem ser tratados por telefone e quando se deve agendar uma consulta presencial.20 O mesmo pode ocorrer em relação ao contato por e-mail ou chat, que já vem sendo usado por algumas equipes de saúde da família no Brasil, servindo tanto para o agendamento de consultas como para informações de saúde ou sobre os serviços disponíveis na unidade. A comunicação por e-mail pode diminuir a necessidade de contatos presenciais e ajudar a organizar a demanda do paciente pela necessidade de enviar uma mensagem escrita. Essa ferramenta merece alguns cuidados, como o de não privilegiar excessivamente a população que a utiliza e o de zelar pela confidencialidade dos conteúdos das mensagens.21 O Conselho Federal de Medicina (CFM) autoriza o uso de chat de médicos com seus pacientes, ou seja, quando já houve consulta presencial, desde que respeitadas premissas como a confidencialidade e a segurança da informação.22 Lidando com o hiperutilizador Não há um critério bem definido para os pacientes hiperutilizadores (antes chamados heart sink patients e, mais recentemente, frequent visit, frequent callers ou frequent attenders). Sabe-se que até 80% das consultas são consumidas por 20% da população.6 Segundo Casajuana Brunet e Bellón Saameño,6 “a maioria dos pacientes difíceis (aqueles que provocam incômodo no profissional) são hiperutilizadores, mas nem todos os pacientes hiperutilizadores são difíceis” (ver Cap. 22, Pessoas que consultam frequentemente, e Cap. 23, Pessoas consideradas doentes difíceis). Segundo um estudo, os hiperutilizadores são predominantemente mulheres, demandam três vezes mais consultas que a média, oito vezes mais internações hospitalares, sendo que os principais diagnósticos são psiquiátricos (36%), de dor (21%), de doença crônica (16%), gestação (13%) ou problemas frequentes em crianças (9%).23 Mas é importante conhecer a população hiperutilizadora em cada realidade, pelos dados do prontuário eletrônico ou por meio de pesquisas específicas. Não há uma forma única de se lidar com o hiperutilizador, porém, sabe-se que uma estratégia que não funciona é a limitação do acesso. Pelo contrário, muitas vezes, o esgotamento da demanda agendando um horário fixo semanal ou diário é, muitas vezes, a melhor estratégia. Além disso, é fundamental praticar a abordagem centrada na pessoa. Uma das principais tarefas da gestão da clínica é convencer quem utiliza muito a unidade (e é de baixo risco) a ir menos, e quem não utiliza (e tem algum risco) a comparecer. Por isso, sistemas de avaliação de “qualidade” ou de “resultado” que medem apenas a quantidade de exames (p. ex., número de coleta de citopatológico/população adstrita) carregam consigo o grave erro de estimular a hiperutilização, pois dessa forma alguns usuários, em geral zelosos e de baixo risco, compensam a ausência dos pouco frequentadores (muitas vezes quem de fato precisaria realizar a atividade mensurada). Se essa forma de avaliação e organização do trabalho se tornar sistemática, há uma APS de baixa qualidade. Habilidades para serem utilizadas na gestão da clínica Uma primeira habilidade que deve ser treinada e aprimorada constantemente é a gestão do tempo. Embora haja uma média, cujo valor aceitável é 15 minutos, é um equívoco grave usar este tempo de forma rígida. Muitos estudos demonstraram que é possível fazer abordagem centrada na pessoa em 10 a 15 minutos.13 O esperado é que, ao final do dia, algumas pessoas tenham sido vistas em 2 a 5 minutos, e outras, em 30 a 40 minutos. Ou seja, deve haver grande variabilidade. De forma geral, quando a média de utilização é de cinco consultas/ano, sendo 10 minutos por consulta, como é o caso de muitas unidades de saúde inglesas, cada paciente teve em média 50 minutos por ano.11 No caso do Brasil, se a média for de fato 1,4 consultas por paciente/ano e cada consulta demorar 20 minutos, tem-se uma média de 30 minutos por ano divididos em menos oportunidades. Levando-se em consideração mais uma vez os atributos da APS, principalmente acesso e longitudinalidade, a solução inglesa é a mais adequada. Quanto mais tempo o profissional permanecer na mesma unidade, com maior facilidade conseguirá manejar o tempo de consulta ou, inclusive, reduzir a média. Quanto mais tempo a unidade permanecer com a mesma organização e gestão da agenda, maior a satisfação dos pacientes. Segundo a pesquisadora Barbara Starfield, a satisfação é um conceito relacionado à estabilidade dos serviços.24 Não raro quando há uma mudança, mesmo que nitidamente para melhor, há uma desestabilização e um consequente aumento da insatisfação. Outro conceito importante é o da demora permitida. É fundamental para evitar referenciamentos ou retornos mal programados e avaliar, para cada problema, qual a demora permitida. Esse conceito foi definido por Kurt Kloetzel como “a utilização do tempo como instrumento de trabalho desde que o médico esteja convencido de que não está diante de uma urgência e que tenha uma ideia formada sobre o tempo que lhe é permitido esperar sem risco para o paciente”.25 Para um paciente que tem glicemia de jejum (GJ) 103 sem nenhuma comorbidade, pode-se repetir o exame em 6 meses, por exemplo. Embora a maioria das diretrizes sugira fazer imediatamente teste de tolerância oral, é possível concluir, após uma avaliação clínica, que, em pacientes de baixo risco, a investigação pode continuar em 6 meses, caso a pressão assistencial esteja grande. Por fim, o último conceitoé o de watchful waiting, ou seja, observação atenta. Essa intervenção, prevista inclusive na classificação de procedimentos da APS,26 é bastante diferente do que “não fazer nada”. No exemplo citado da GJ cujo resultado foi 103 mg/dL, o profissional ou a equipe deve ligar para o paciente após passados 6 meses para que ele continue a investigação. No caso de ter sido observada alguma lesão dermatológica em que a demora permitida avaliada foi de 48 horas, se o paciente não mobilizar a unidade presencialmente ou por telefone, assim mesmo a equipe deve acioná-lo. REFERÊNCIAS 1. Roemer MI. National strategies for health care organization: a world overview. Ann Arbor: Health Administration; 1985. 2. National Health Services[Internet]. London: NHS;c2018 [capturado em 12 maio 2018]. Disponível em: Disponível em http://www.nhs.uk/NHSEngland/AboutNHSservices/Emergencyandurgentcareservic es/pages/Walk-incentresSummary.aspx 3. Brasil. Ministério da Saúde. Manual do instrumento de avaliação da atenção primária à saúde: primary care assessment tool (pcatool – Brasil). Brasília: MS; 2010. 4. Gervas J, Pérez Fernández M. Uma atenção primária forte no Brasil. Relatório de como fortalecer os acertos e corrigir as fragilidades da Estratégia Saúde da Família [Internet]. SBMFC: Rio de Janeiro; 2011 [capturado em 12 maio 2018]. Disponível em: http://www.sbmfc.org.br/media/file/documentos/relato riofinal_portugues.pdf. 5. Sibbald B. Should Primary Care be nurse led? BMJ, 2008;337:658-9. 6. Casajuana Brunet J, Bellón Saameño JA. Gestión de la consulta em Atención Primária. In Martin Zurro A, Cano Perez JF. Atencion primária: conceptos, organización y práctica clínica. 5a ed. Madrid: Elsevier; 2003 7. Brasil. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Prograb: Programação de gestão por resultados. Brasília: MS; 2006. (Série A. Normas e Manuais Técnicos) 8. O’Donnell CA. Variation in GP referral rates: what can we learn from the literature? Fam Pract. 2000;17(6):462-71. 9. Murray M, Davies M, Boushon B. Panel size: how many patients can one doctor manage? Fam Pract Manag. 2007;14(4):44-51. 10. Pereira-Gray D. Forty-seven minutes a year for the patient. Br J Gen Pract. 1998;48(437):1816-7. 11. Rose G. Sick individuals and sick populations. Int J Epidemiol. 1985 Mar;14(1):32-8. http://www.nhs.uk/NHSEngland/AboutNHSservices/Emergencyandurgentcareservices/pages/Walk-incentresSummary.aspx http://www.sbmfc.org.br/media/file/documentos/relatoriofinal_portugues.pdf Cap�tulo 25
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