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2012 Trabalho e ConTemporaneidade Prof. Fabio Roberto Tavares Prof.ª Vera Lúcia Hoffmann Pieritz Copyright © UNIASSELVI 2012 Elaboração: Prof. Fabio Roberto Tavares Prof.ª Vera Lúcia Hoffmann Pieritz Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 306.36 T231t Tavares, Fábio Roberto Trabalho e contemporaneidade / Fábio Roberto Tavares; Vera Lúcia Hoffmann Pieritz. Indaial : Uniasselvi, 2012. 195 p. : il. ISBN 978-85-7830-341-9 1. Trabalho; 2. Formação profissional. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. III apresenTação Caro(a) acadêmico(a)! Iniciamos os estudos de Trabalho e Contemporaneidade. Entraremos no mundo intrínseco do trabalho do assistente social e seus princípios norteadores, sua origem e evolução, no qual estudaremos a questão do trabalho nos dias de hoje e a formação profissional do assistente social brasileiro. Portanto, esta disciplina aborda a compreensão dos significados do capitalismo no mundo, além de propiciar um contato com as novas relações advindas do mundo do trabalho e promover uma reflexão e uma discussão sobre o trabalho no dia a dia de cada cidadão brasileiro. Também trabalhar-se-ão, neste Caderno de Estudos, as questões do mundo do trabalho do assistente social, correlacionadas com as diversas questões sociais brasileiras, as demandas profissionais do assistente social e sua formação profissional no serviço social contemporâneo. Finalizamos os nossos estudos com uma reflexão sobre as dinâmicas do serviço social, a organização social do trabalho e as relações de trabalho e o serviço social. Na Unidade 1, você discutirá questões em torno do trabalho na contemporaneidade, no intuito de possibilitar um entendimento referente à dinâmica do capitalismo, sua evolução e seu predomínio no mundo, e diferenciar as novas relações de trabalho que devem convergir para a dignidade do ser humano, além de possibilitar ao(à) acadêmico(a) uma compreensão da importância do trabalho na vida das pessoas como realização de todo ser humano. Na Unidade 2, você conhecerá o mundo do trabalho do assistente social e sua formação profissional contemporânea, promovendo a reflexão e a discussão sobre o significado do mundo do trabalho do assistente social e aprofundar os conhecimentos acerca das diversas formas de enfrentamento das questões sociais brasileiras, além de possibilitar, ao(à) acadêmico(a), a identificação das diversas demandas profissionais do assistente social e compreender a trajetória histórica da formação profissional no serviço social contemporâneo. IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! Na Unidade 3, você compreenderá as novas relações que se estabelecem nas diferentes organizações presentes na sociedade e a dinamicidade do serviço social para acompanhar esta evolução, além de visualizar como se desenvolvem, nos dias atuais, os novos movimentos e suas principais características e entender a abrangência da questão social como realidade que acompanha a evolução da sociedade. Pronto(a) para começar a compreender o significado da ciência política? Bons estudos! Prof. Fabio Roberto Tavares Prof.ª Vera Lúcia Hoffmann Pieritz UNI V VI VII UNIDADE 1 – O TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE ................................................... 1 TÓPICO 1 – O CAPITALISMO NO MUNDO .................................................................................. 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 EXPANSÃO DO CAPITALISMO SOB O PADRÃO FORDISTA-KEYNESIANO ................. 3 3 O MARXISMO E O PENSAMENTO FENOMENOLÓGICO ..................................................... 8 4 O PREDOMÍNIO CAPITALISTA NAS BASES DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO .... 10 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 12 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 16 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 17 TÓPICO 2 – NOVAS RELAÇÕES DE TRABALHO ........................................................................ 19 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 19 2 AS RELAÇÕES ESTADO-SOCIEDADE PÓS-GUERRA ............................................................. 19 3 TRABALHO E DIGNIDADE ............................................................................................................ 22 4 ENTENDENDO A CONTEMPORANEIDADE ............................................................................. 24 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 26 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 29 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 30 TÓPICO 3 – O TRABALHO HOJE ...................................................................................................... 31 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 31 2 DISTRIBUIÇÃO DE RENDA ............................................................................................................ 32 3 O TRABALHO SOLIDÁRIO ............................................................................................................. 35 4 ECONOMIA SOLIDÁRIA ................................................................................................................. 36 LEITURA COMPLEMENTAR ..............................................................................................................44 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 48 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 49 TÓPICO 4 – O TRABALHO NO BRASIL .......................................................................................... 51 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 51 2 ANTES DO DESCOBRIMENTO ...................................................................................................... 51 3 FAMÍLIA REAL NO BRASIL ............................................................................................................ 58 4 IMIGRANTES NO BRASIL ............................................................................................................... 62 5 TRABALHO E DESENVOLVIMENTO ........................................................................................... 72 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 81 RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 83 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 84 sumário VIII UNIDADE 2 – O TRABALHO E A FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO SERVIÇO SOCIAL CONTEMPORÂNEO ............................................................................................................................. 85 TÓPICO 1 – O MUNDO DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL ..................................... 87 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 87 2 O TRABALHO E O SERVIÇO SOCIAL .......................................................................................... 89 2.1 CONCEPÇÕES DE TRABALHO .................................................................................................. 89 2.2 O SERVIÇO SOCIAL É TRABALHO OU NÃO? ....................................................................... 90 2.3 OS PROCESSOS DE TRABALHO NO SERVIÇO SOCIAL ..................................................... 91 3 O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE ................................................................ 94 3.1 CONEXÃO DO SERVIÇO SOCIAL COM A PRÁXIS PROFISSIONAL DA ATUALIDADE ................................................................................................................................. 95 3.1.1 Rompimento da visão endógena e focalista ...................................................................... 96 3.1.2 A profissão do serviço social como tipo de trabalho ........................................................ 96 3.1.3 O serviço social como produção e reprodução da vida social ........................................ 97 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 98 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 100 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 102 TÓPICO 2 – AS QUESTÕES SOCIAIS BRASILEIRAS E O SERVIÇO SOCIAL ...................... 103 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 103 2 O OBJETO DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL ...................................... 103 2.1 A QUESTÃO DA DESIGUALDADE SOCIAL ........................................................................... 107 2.2 A POBREZA E EXCLUSÃO SOCIAL .......................................................................................... 110 3 A QUESTÃO SOCIAL BRASILEIRA .............................................................................................. 115 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 120 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 125 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 126 TÓPICO 3 – AS DEMANDAS PROFISSIONAIS DO ASSISTENTE SOCIAL ......................... 127 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 127 2 AS DEMANDAS E RESPOSTAS DOS PROFISSIONAIS DO SERVIÇO SOCIAL .............. 127 3 AS DEMANDAS PROFISSIONAIS NO ÂMBITO DAS RELAÇÕES ENTRE ESTADO E SOCIEDADE ..................................................................................................................................... 132 4 AS DEMANDAS DO SERVIÇO SOCIAL NAS INSTITUIÇÕES PRIVADAS ....................... 133 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 134 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 137 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 138 TÓPICO 4 – A FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO SERVIÇO SOCIAL CONTEMPORÂNEO ..................................................................................................... 139 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 139 2 O ENSINO – A FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL ................................ 139 3 AS NOVAS DIRETRIZES CURRICULARES ................................................................................. 144 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 146 RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 151 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 152 IX UNIDADE 3 – SERVIÇO SOCIAL E TRABALHO NO BRASIL ................................................... 153 TÓPICO 1 – A DINAMICIDADE DO SERVIÇO SOCIAL ............................................................ 155 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 155 2 O SERVIÇO SOCIAL E AS NOVAS RELAÇÕES SOCIAIS ....................................................... 155 3 O SERVIÇO SOCIAL NA DINÂMICA DA ECONOMIA E DA SOCIEDADE ...................... 158 3.1 A MULHER NO TRABALHO ....................................................................................................... 158 3.2 TRABALHO INFANTIL ................................................................................................................ 160 3.3 PRIMEIRO EMPREGO E CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL .................................................. 161 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 162 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................................165 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 166 TÓPICO 2 – ORGANIZAÇÃO SOCIAL E TRABALHO ................................................................ 167 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 167 2 O INDIVÍDUO E O COLETIVO ....................................................................................................... 167 3 NOVOS MOVIMENTOS SOCIAIS ................................................................................................ 168 4 MOVIMENTO ESTRUTURALISTA ................................................................................................ 170 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 173 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 177 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 178 TÓPICO 3 – AS RELAÇÕES DE TRABALHO E A QUESTÃO SOCIAL .................................... 179 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 179 2 DESEMPREGO E SALÁRIO ............................................................................................................. 179 3 A QUESTÃO SOCIAL ........................................................................................................................ 182 4 EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL E DO TRABALHO ADVINDAS DE SITUAÇÕES EXTREMAS ........................................................................................................................................... 183 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 185 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 187 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 188 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 189 X 1 UNIDADE 1 O TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você será capaz de: • entender a dinâmica do capitalismo, sua evolução e seu predomínio no mundo; • diferenciar as novas relações de trabalho, que devem convergir para a dig- nidade do ser humano; • compreender a importância do trabalho na vida das pessoas como realiza- ção de todo ser humano. A Unidade 1 está dividida em quatro tópicos e você terá a oportunidade de fixar seus conhecimentos realizando as autoatividades disponibilizadas no final de cada um deles. TÓPICO 1 – O CAPITALISMO NO MUNDO TÓPICO 2 – NOVAS RELAÇÕES DE TRABALHO TÓPICO 3 – O TRABALHO NO MUNDO TÓPICO 4 – O TRABALHO NO BRASIL 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 O CAPITALISMO NO MUNDO 1 INTRODUÇÃO Seis mil anos antes de Cristo, no período neolítico, o ser humano desenvolveu a capacidade do polimento de pedras, de fabricar cerâmicas e, a partir daí, outras tantas atividades se desenvolveram para uma realidade cada vez mais controlada pelo homem. Assim, chegamos à Revolução Industrial com força total na mecanização, favorecendo a produção em massa, que tem sua grande expressão no conhecido fordismo. O contraponto do capitalismo, o socialismo, idealizado pelo marxismo e o pensamento fenomenológico, também serão tratados nessa unidade, evidenciando a predominância do capitalismo no mundo. Estudaremos também, nessa unidade, as variantes do trabalho, que vão além da indústria, da prestação de serviços, seja ela pública ou privada, e o trabalho comunitário. 2 EXPANSÃO DO CAPITALISMO SOB O PADRÃO FORDISTA-KEYNESIANO Vamos ilustrar o caminho do trabalho apenas em alguns momentos, mas não menos importantes, da vida do ser humano e sua ação transformadora na Terra. UNIDADE 1 | O TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE 4 FONTE: Os autores FIGURA 1 – ALGUNS MOMENTOS DO CAMINHO DO TRABALHO . . Poderíamos fazer uma avaliação das consequências dessa hegemonia do capitalismo no mundo de hoje, porém essa realidade vai estar presente no decorrer de toda a Unidade. As situações mostradas anteriormente também podem pecar pela superficialidade de informações, mas servem para nos conduzir até a padronização fordista-keynesiana, determinante na expansão do capitalismo. NOTA O keynesianismo surge a partir da necessidade de intervenção do estado nas relações de trabalho. Vejamos o conceito da teoria keynesiana e seus objetivos: “Conjunto de ideias que propunham a intervenção estatal na vida econômica, com o objetivo de conduzir a um regime de pleno emprego. As teorias de John Maynard Keynes tiveram enorme influência na renovação das teorias clássicas e na reformulação da política de livre mercado. Acreditava que a economia seguiria o caminho do pleno emprego, sendo o desemprego uma situação temporária, que desapareceria graças às forças do mercado. O objetivo do keynesianismo era manter o crescimento da demanda em paridade com o aumento da capacidade produtiva da economia, de forma suficiente para garantir o pleno emprego, mas sem excesso, pois isto provocaria um aumento da inflação. Na década de 1970 o keynesianismo sofreu severas críticas por parte de uma nova doutrina econômica: o monetarismo. Em quase todos os países industrializados o pleno emprego e o nível de vida crescente alcançados nos 25 anos posteriores à II Guerra Mundial foram seguidos pela inflação. Os keynesianos admitiram que seria difícil conciliar o pleno emprego e o controle da inflação, considerando, sobretudo, as negociações dos sindicatos com os empresários por aumentos salariais. Por essa razão, foram tomadas medidas que evitassem o crescimento dos salários e preços, mas, a partir da década de 1960, os índices de inflação foram acelerados de forma alarmante. FONTE: Disponível em: <http://www.economiabr.net/teoria_escolas/teoria_keynesiana.html>. Acesso em: 4 jan. 2010. TÓPICO 1 | O CAPITALISMO NO MUNDO 5 Qual a novidade que Henry Ford traz em relação ao que já estava em funcionamento em algumas indústrias dos Estados Unidos e na Europa no início do século XX? Já existia produção em massa, já existia a cadeia de montagem, já existia um grau de mecanização em forte expansão. A novidade que o fordismo apresenta é a mecanização da cadeia de montagem, com a instalação de uma esteira, na qual os objetos de trabalho circulavam continuamente. Ronaldo Dias apresenta-nos, em seu livro “Sociologia das Organizações” (2008), alguns objetivos que o fordismo alcançará com essa nova dinâmica da produção em massa. Observe: FONTE: Dias (2008) FIGURA 2 – OBJETIVOS DO FORDISMO DICAS Esse filme ilustra a realidade de trabalho dentro do sistema capitalista nos moldes de produção implantados por Henry Ford. Que tal assisti-lo? FONTE: Disponível em: <http://www.museu.ufrgs.br/admin/ programacao/arquivos/moderntimes.jpg>. Acesso em: 4 jan. 2010. UNIDADE 1 | O TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE 6 Vamos recorrer ao mesmo autor (DIAS, 2008) para entendermos a caracterização do processo de produção do fordismo: FONTE: Dias (2008) FIGURA 3 – CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DO FORDISMOE o keynesianismo? Qual a contribuição desse método para o capitalismo quando ele – o keynesianismo – anda junto com o fordismo? Sabemos que o keynesianismo é a teoria que resumidamente se caracteriza pela forte presença do Estado na economia e na dispensa de emprego. Com a contribuição e caracterização dessas duas teorias – fordismo e keynesianismo – o capitalismo vai dominar as forças produtivas até o final da década de 60, quando a rigidez desse modelo vai sendo substituída pela flexibilidade presente, e atuante de forma expressiva no Japão e nos países da Europa Ocidental, a partir do “aumento da demanda da produção”. A modernização dos parques industriais, a oferta de produtos desenvolvidos com mais competitividade e com preços mais baixos afetam de forma direta a demanda a nível mundial. Inglaterra e Estados Unidos, por excelência os representantes do modelo fodista-keynesiano, percebem que o Estado não tem a mesma capacidade de ser o regulador da economia, da oferta de empregos. TÓPICO 1 | O CAPITALISMO NO MUNDO 7 O início dos anos 70 agravou o quadro de instabilidade em decorrência da eclosão da Crise do Petróleo de 1973. A diminuição da oferta deste insumo energético fez aumentar os gastos com energia das nações industrializadas. Em médio prazo, ocorreu o aumento dos juros em âmbito financeiro internacional, o que contribuiu para o encarecimento dos empréstimos aos países pobres e especialmente, às nações emergentes ou em “via de desenvolvimento”. A economia do Brasil, a exemplo, neste período – final dos anos 70 – foi marcada pelo rápido e substancial crescimento da dívida externa e do processo inflacionário, bem como o início do processo recessivo, com aumento do desemprego e do arrocho salarial para a classe trabalhadora. Em âmbito mundial, a segunda metade dos anos 70 marcou o início de um período de recessão, particularmente na economia norte- americana. A partir daí as bases do modelo Keynesiano-Fordista foram questionadas. No âmbito da produção, a crise instaurada demonstrou que o Fordismo era um sistema rígido, que não conseguiu dar respostas rápidas para superar os obstáculos que se apresentavam naquele novo contexto. No Japão, ao contrário, onde a produção baseava-se no modelo Toyotista, a produção já adotava os princípios da flexibilidade produtiva, por conseguinte, um sistema produtivo mais ágil e capaz de responder de forma mais eficiente às novas exigências de um mercado em crise e com profundas contradições. (VASCONCELOS; LIMA FILHO, 2009, p. 3-4). Vimos a crise do modelo de produção fordista-keynesiano, substituído pelo modelo Toyotista do Japão. De que forma o fordismo e o keynesianismo implementarão o capitalismo neste período, que vai do início do século XX até o final da década de 60? Após o desenvolvimento do Fordismo nos Estados Unidos, na primeira metade do século XX, o Japão se encontrou em um cenário totalmente desfavorável à implementação desse sistema de produção. O Fordismo tinha como característica principal a produção em massa, sendo necessários enormes investimentos e uma grande quantidade de mão de obra. Ora, o Japão tinha um pequeno mercado consumidor. Além disso, o país não possui uma grande quantidade de matérias-primas, inviabilizando, assim, o princípio fordista da produção em massa. Elaborado por Taiichi Ohno, o toyotismo surgiu nas fábricas da montadora de automóvel Toyota, após a Segunda Guerra Mundial. No entanto, esse modo de produção só se consolidou como uma filosofia orgânica na década de 70. O toyotismo possuía princípios que funcionavam muito bem no cenário japonês, que era muito diferente do americano e do europeu. O toyotismo tinha, como elemento principal, a flexibilização da produção. Ao contrário do modelo fordista, que produzia muito e estocava essa produção, no toyotismo só se produzia o necessário, reduzindo ao máximo os estoques. Essa flexibilização UNIDADE 1 | O TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE 8 tinha como objetivo a produção de um bem exatamente no momento em que ele fosse demandado, no chamado Just-in-Time. Dessa forma, ao trabalhar com pequenos lotes, pretende-se que a qualidade dos produtos seja a máxima possível. Essa é outra característica do modelo japonês: a Qualidade Total. A crise do petróleo fez com que as organizações que aderiram ao toyotismo tivessem vantagem significativa, pois esse modelo consumia menos energia e matéria-prima, ao contrário do modelo fordista. Assim, através desse modelo de produção, as empresas toyotistas conquistaram grande espaço no cenário mundial. FONTE: MUNDO EDUCAÇÃO. Toyotismo. Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com.br/ geografia/toyotismo.htm>. Acesso em: 30 nov. 2009. Vamos destacar as características do toyotismo que o diferenciam do fordismo, tendo presente que aquele se desenvolve no Japão e vai sendo adotado por outras nações capitalistas: • Mercado consumidor pequeno e reduzida matéria-prima. • Produção flexível e voltada para produzir somente o necessário. • Estoques reduzidos. • Produção de pequenos lotes. • Menor consumo de energia e de matéria-prima. • Qualidade total. Esses são os diferenciais que tornam o toyotismo o modelo ideal para o desenvolvimento econômico e para o novo florescimento do capitalismo, com roupagem nova, tornando-o ainda mais vigoroso frente ao socialismo referendado pelo marxismo. 3 O MARXISMO E O PENSAMENTO FENOMENOLÓGICO A contribuição dessas duas realidades para a evolução das relações humanas e do trabalho são significativas no que tange à necessidade de termos referenciais que expõem os limites pelos quais deve caminhar a humanidade. Quando falamos em pensamento fenomenológico, devemos entendê-lo a partir da relação “sujeito e objeto”, do “eu e a coisa”, que sofrem a mediação da fenomenologia. A fenomenologia, vista aqui como método de mediação entre o sujeito e objeto, pode ser compreendida a partir de três grandes linhas, em que cada uma delas tem seus representantes. A linha transcendental tem Husserl como representante, a segunda, a existencial, é defendida por Sartre e a terceira, a hermenêutica, traz Martin Heidegger como representante. TÓPICO 1 | O CAPITALISMO NO MUNDO 9 O pensamento marxista também se desenvolverá nesse embate entre duas realidades distintas, assim como o pensamento fenomenológico: indivíduo e sociedade, natureza e ser humano, meios de produção e distribuição etc. A título de exemplo, pode-se tratar da questão da relação entre a consciência e a realidade. Esse ponto foi decisivo no contraponto entre o marxismo e o idealismo (fenomenologia). Para o idealismo é a consciência que produz a realidade. Para Marx é justamente o contrário: a realidade, ao invés de produto é a produtora da consciência. Com isso, o marxismo inaugura um método que se sustenta pela concreticidade do real a partir da ordem material das coisas e não pela especulação direcionada à consciência do espírito como no método fenomenológico. FONTE: Disponível em: <http://www.urutagua.uem.br/011/11barra.htm>. Acesso em: 5 jan. 2010. Nessa produção de conhecimento marxista, o clássico sujeito – conhecedor – e o objeto – conhecido – têm sua ordem invertida, quando a especulação é superada pela materialidade do objeto em si. As palavras de Engels que veremos a seguir, na homenagem a Karl Marx em seu funeral, refletem a importância do pensamento marxista para o mundo do trabalho. Engels expõe de forma mais apaixonada do que informativa a condição do pensamento de Marx, mas serve para nos passar algumas informações do pensamento de Marx. FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Karl_ Marx_001.jpg>. Acesso em: 5 jan. 2009. FIGURA 4 – KARL MARX UNIDADE 1 | O TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE 10 4 O PREDOMÍNIO CAPITALISTA NAS BASES DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHOPodemos imaginar que com o fim do modelo fordista, o capitalismo teria assinado seu atestado de óbito. Não! A sisudez, a rigidez do modelo, é substituída pelo modelo Toyotista, mais flexível e mais sensível às mudanças econômicas, às crises, em especial do petróleo, recessões, enfim, a necessidade de respostas mais eficientes vão se traduzir em: ● novos setores de produção; ● novos mercados; ● nova disposição dos sistemas financeiros. Não podemos deixar de fora a tecnologia e a capacidade organizacional que contribuirão fortemente para que o capitalismo seja predominante nas novas bases de organização do trabalho. Nesse predomínio capitalista, o Estado tem participação mínima, com forte crítica a todos os sistemas que, de uma forma ou de outra, querem estabelecer a proteção social. O próprio mercado estabelece prerrogativas que subordinam tudo a sua volta: o mínimo de Estado e o máximo de liberdade econômica. Assim discorre Engels no seu panegírico fúnebre: Marx era, antes de tudo, um revolucionário. Sua verdadeira missão na vida era contribuir, de um modo ou de outro, para a derrubada da sociedade capitalista e das instituições estatais por esta suscitadas, contribuir para a libertação do proletariado moderno, que ele foi o primeiro a tornar consciente de sua posição e de suas necessidades, consciente das condições de sua emancipação. A luta era seu elemento. E ele lutou com uma tenacidade e um sucesso com quem poucos puderam rivalizar. [...] Como consequência, Marx foi o homem mais odiado e mais caluniado de seu tempo. Governos, tanto absolutistas como republicanos, deportaram-no de seus territórios. Burgueses, quer conservadores ou ultrademocráticos, porfiavam entre si ao lançar difamações contra ele. Tudo isso ele punha de lado, como se fossem teias de aranha, não tomando conhecimento, só respondendo quando necessidade extrema o compelia a tal. E morreu amado, reverenciado e pranteado por milhões de colegas trabalhadores revolucionários – das minas da Sibéria até a Califórnia, de todas as partes da Europa e da América – e atrevo-me a dizer que, embora, muito embora, possa ter tido muitos adversários, não teve nenhum inimigo pessoal. FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx>. Acesso em: 15 nov. 2009. Nos dias atuais não podemos afirmar que o socialismo tenha sido exterminado. Em algumas nações ele ainda vigora com maior ou menor intensidade, mas nem de longe se supõe que ele ainda possa ameaçar ou suplantar a hegemonia do sistema capitalista. TÓPICO 1 | O CAPITALISMO NO MUNDO 11 Sabemos, hoje, com raras exceções, que a grande maioria dos países vive com sua economia nos moldes do capitalismo. Se ele é selvagem, domesticado, não vem ao caso. O que presenciamos é que esse sistema não consegue minimizar as desigualdades sociais e o suprimento das necessidades básicas de uma população, pelo contrário, torna mais evidente a concentração de renda, de riqueza e das oportunidades. Se tivemos o fordismo keynesiano, o toyotismo, temos e tivemos também a capacidade de reestruturação produtiva, com novos produtos que buscam responder aos diferentes segmentos do mercado, a multifuncionalidade e a flexibilidade dos trabalhadores que não só fazem, mas sabem fazer. São tendências da pós-modernidade, quando o Estado vai se retirando do mercado – a não ser, é claro, no momento excepcional da crise de 2008, que foi marcada pela bolha imobiliária nos Estados Unidos e se espalhou pelo mundo – dando lugar ao que chamamos de livre mercado. Para encerrar este Tópico, e nos encaminharmos para o Tópico 2, que tratará das relações de trabalho, apresentamos as tendências que caracterizam esse novo modelo de mercado – livre mercado em seis realidades, desenvolvidas por Celso Antonio Pinheiro de Castro, em seu livro Sociologia Aplicada à Administração. 1 Reestruturação produtiva e novas relações do trabalho no capitalismo contemporâneo. O desemprego tornou-se estrutural e surgiram outros fenômenos, como: fragmentação da produção em massa e preço baixo de produtos de multinacionais que exploram a mão de obra barata e países periféricos. Aliada a inovações tecnológicas e estruturais, temos a flexibilidade nos contratos de trabalho. Para fugir ao desemprego, os trabalhadores sujeitam- se a imposições ou se dirigem para o mercado informal. Desqualificação e requalificação no âmbito do trabalho. 2 Tendências no mundo do trabalho: heterogeneização, fragmentação e complexificação. Granjeou foros de instituição o processo de terceirização. É menos oneroso para as organizações celebrar contrato com uma empresa alocadora de mão de obra do que contratar um contingente de trabalhadores, enfrentando o acúmulo de tributos atinentes à legislação trabalhista, encargos sociais e previdenciários, sem contar as reivindicações trabalhistas. O governo, por sua vez, no Brasil, recupera como paródia a tradução máxima liberal lassez faire, laissez passer para: deixa como está, para ver como é que fica. As reformas, atingindo o arcabouço jurídico, converteram-se em “legislação de circunstância” ao sabor dos grupos que detêm o poder. 3 Nova divisão internacional do trabalho e nova questão social. Aumento da concorrência do mercado internacional e mobilidade de capital financeiro e produtivo (macroeconomia). 4 Administração das mudanças. Embora soe repetitivo, hoje é necessário levar em conta as mudanças imprevistas, ou pelo menos, descontínuas, decorrentes da globalização, aliadas à desregulamentação e de profundas e sucessivas transformações tecnológicas. Do administrador exige-se uma visão prospectiva para não ser presa, do que Mario Henrique Simonsen denominava “acidentalidades” e ter as melhores opções para enfrentar as mudanças. UNIDADE 1 | O TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE 12 5 Desintegração da classe média que se amalgamou às classes mais baixas, distanciando-se das classes altas, com a consequente quebra do nível de aspiração. 6 Os sindicatos perdem a força de que gozavam anteriormente. As negociações tornam-se setorizadas na dimensão intraempresa. Com o desemprego estrutural, as reivindicações que poderiam atingir o movimento de paralisação (greve), hoje, tornam-se arriscadas por levar à demissão, sem a possibilidade de o excluído do mercado de trabalho a ele retornar. FONTE: CASTRO, Celso Antonio Pinheiro de. Sociologia aplicada à administração. São Paulo: Atlas, 2008. p. 211. Podemos perceber que o próprio capitalismo precisa evoluir, ou, visto de outra forma, é-lhe cobrado novas respostas. As crises, principalmente as desses últimos anos, mostraram que o livre mercado,– quando o Estado não intervém na economia, – não sobreviveria sem o socorro do Estado. Esse livre mercado também evoluiu para o também conhecido neoliberalismo, que trouxe consigo algumas propostas: • reformas administrativas; • reformas previdenciárias; • ajustes fiscais; • redução do Estado na economia e corte nos gastos sociais; • liberação de: mercado financeiro, bens e serviços; • diminuição do poderio dos sindicatos. Somos testemunhas das rachaduras desse neoliberalismo, com o carro- chefe bancário-financeiro, fazendo escolhas erradas nos empréstimos e no capital especulativo que se mostrava superior ao capital produtivo. Qual foi a consequência disso? Intervenção forte do Estado que, numa análise mais acurada, nunca deixou de intervir, mas nos momentos de crise se mostrou forte, vigoroso e presente. CAPITALISMO E SOCIALISMO 1. AS RELAÇÕES DE TRABALHO NA IDADE MODERNA E CONTEMPORÂNEA: A FORMAÇÃO DO CAPITALISMO – A IDADE MODERNA, DE 1453 A 1789, E A FORMAÇÃO DO CAPITALISMO COMERCIAL No século XV, o comércio já era a principal atividade econômica da Europa. Os comerciantes, ou a classe burguesa, já tinham acumulado grandes capitais, realizando o comércio com a África e a Ásia, atravésdo mar Mediterrâneo. O capital torna-se a principal fonte de riqueza, substituindo a terra, do período feudal. De que forma o capital podia ser acumulado ou obtido? LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 1 | O CAPITALISMO NO MUNDO 13 • Por meio da ampliação cada vez maior do comércio. • Por meio da exploração do ouro e da prata. A expansão do comércio gerou a necessidade de se aumentar a produção, principalmente o artesanal. Os artesãos mais ricos começaram a comprar as oficinas dos artesãos mais pobres. Esses se transformaram, então, em trabalhadores assalariados, e o número de empregados nas oficinas foi aumentando. A fase de acumulação do capital por meio do lucro obtido com o comércio e, ainda, por meio da exploração do trabalho do homem, seja o assalariado ou o escravo, recebe o nome de capitalismo comercial. Nessa fase do capitalismo, nos séculos XV e XVI, ocorreu a expansão marítimo-comercial. A expansão marítima europeia fez ressurgir o colonialismo. 2. A IDADE CONTEMPORÂNEA, DE 1789 ATÉ OS DIAS ATUAIS: A FORMAÇÃO DO CAPITALISMO EM SUA FORMA MODERNA – O CAPITALISMO INDUSTRIAL – E AS RELAÇÕES DE TRABALHO Até o século XVIII, o comércio era a principal atividade econômica da Europa, proporcionando grandes lucros à burguesia comercial. Nessa época começaram a surgir novas técnicas de produção de mercadorias. Como exemplo, podemos citar a invenção da máquina a vapor, do tear mecânico e, consequentemente, dos lucros da burguesia. Surge, desse modo, um novo grupo econômico, muito mais forte que a burguesia comercial. Cabia à burguesia industrial a maior parte dos lucros, enquanto a grande maioria dos homens continuava pobre, uns continuaram trabalhando a terra arrendada, outros se tornaram operários assalariados. Essa situação histórica é conhecida como Revolução Industrial. O primeiro país a realizar a Revolução Industrial foi a Inglaterra, em 1750. Posteriormente, já no século XIX, outros países realizaram a Revolução Industrial: França, Alemanha, Bélgica, Itália, Rússia, Estados Unidos e Japão. O capitalismo industrial, firmando-se como novo modo de vida, fez com que o trabalho assalariado se tornasse generalizado. O homem passou, assim, a comprar o trabalho de outro homem por meio do salário. A Revolução Industrial tornou mais intensa a competição entre os países industriais, para obter matérias-primas, produzir e vender seus produtos no mundo, fazendo surgir um novo colonialismo no século XIX – o imperialismo. As potências industriais europeias invadiram e ocuparam grandes áreas dos continentes africano e asiático. Fundaram colônias e exploraram as populações nativas, pagando baixos salários pelo seu trabalho. Além de fornecer matérias-primas para as indústrias europeias, as colônias eram também grandes mercados consumidores de produtos industrializados. Os países americanos, apesar de independentes de suas metrópoles europeias – Portugal, Espanha e Inglaterra –, não escaparam dessa dominação colonial, principalmente da Inglaterra. Os países latino-americanos, inclusive o Brasil, continuaram como simples vendedores de matérias-primas e alimentos para as indústrias europeias e como compradores dos produtos industrializados europeus. UNIDADE 1 | O TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE 14 A Revolução Industrial levou a um aumento da produção, dos lucros e, também, da exploração do trabalho humano. O trabalhador foi submetido a longas jornadas de trabalho, 14 horas ou mais, recebendo baixos salários. Não eram somente adultos que se transformavam em operários: crianças de apenas seis anos empregavam-se nas fábricas, executando tarefas por um salário menor que o do adulto. Essa situação levou os trabalhadores a se revoltarem. Inicialmente eram revoltas isoladas, mas, depois, os operários se organizaram em sindicatos, para lutar por seus interesses. E os trabalhadores descobriram uma arma para lutar contra a exploração de sua força de trabalho – a greve. A atual fase do capitalismo recebe o nome de capitalismo financeiro. A atividade bancária, ou seja, empréstimos de dinheiro a juros, predomina. Todas as outras atividades dependem dos empréstimos bancários. A moeda tornou-se a principal “mercadoria” do sistema. 3. AS CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA CAPITALISTA Esse sistema se caracteriza, em linhas gerais: • pela propriedade privada ou particular dos meios de produção; • pelo trabalho assalariado; • pelo predomínio da livre iniciativa sobre a planificação estatal. A interferência do Estado nos negócios é pequena. Diante do que foi exposto, percebe-se que a sociedade capitalista divide-se em duas classes sociais: a que possui os meios de produção, denominada burguesia; a que possui apenas a sua força de trabalho, denominada proletariado. A preocupação com as injustiças sociais já existia desde a Antiguidade. Desde a Antiguidade algumas pessoas, preocupadas com a vida em sociedade, pensavam em modificar a organização social e assim melhorar as relações entre os homens. Na Idade Moderna também houve essa preocupação. Um inglês de nome Thomas More escreveu um livro chamado Utopia, no qual mostrou como imaginava a sociedade de uma forma menos injusta. Entretanto, com as grandes desigualdades sociais criadas pela Revolução Industrial, as ideias de reformar a sociedade ganharam mais força. Foi assim que surgiram pensadores como Saint-Simon, Charles Fourier, Pierre Proudhon, Karl Marx, Friedrich Engels e outros. Esses pensadores ficaram conhecidos como socialistas. Essas ideias socialistas espalharam-se pela Europa e depois por todo mundo; e não ficaram somente na teoria. É o caso da Revolução Socialista de 1917, na Rússia, onde a população colocou em prática as ideias socialistas. TÓPICO 1 | O CAPITALISMO NO MUNDO 15 4. AS CARACTERÍSTICAS DO SOCIALISMO E A SUA PROPAGAÇÃO PELO MUNDO Até 1917 a Rússia era um país feudal e capitalista. O povo não participava da vida política e vivia em condições miseráveis. Essa situação fez com que a população, apoiada nas ideias socialistas, principalmente nas de Marx, derrubasse o governo do czar Nicolau II e organizasse uma nova sociedade oposta à capitalista – a socialista. A Rússia foi o primeiro país a se tornar socialista e, posteriormente, passou a se chamar União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Em linhas gerais, podemos caracterizar o socialismo como um sistema no qual: • não existe propriedade privada ou particular dos meios de produção; • a economia é controlada pelo Estado, com o objetivo de promover uma distribuição justa da riqueza entre todas as pessoas da sociedade; • o trabalho é pago segundo a quantidade e qualidade do mesmo. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), outros países se tornaram socialistas, como, por exemplo, a Iugoslávia, a Polônia, a China, o Vietnã, a Coreia do Norte e Cuba. Entretanto, esse novo sistema, colocado em prática nesses países, principalmente na União Soviética, apresenta vários problemas: • falta de participação do povo nas decisões governamentais; • falta de liberdade, de pensamento e expressão; • formação de um grupo político altamente privilegiado. A teoria econômica elaborada por Karl Marx, Friedrich Engels e outros pensadores foi interpretada de várias formas, dando origem a diferenças entre os socialismos implantados. FONTE: Disponível em: <http://netopedia.tripod.com/historia/socxcap.htm>. Acesso em: 28 nov. 2009. 16 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico vimos: • As fases pelas quais o capitalismo foi evoluindo, a partir da Revolução Industrial até os dias atuais. • As características de como se desenvolveu o fordismo, o keynesianismo e sua união dentro do sistema capitalista. • A importância do marxismo dentro do socialismo, como ideologia marcadamente comunista nas relações de trabalho. • As adaptações docapitalismo para as necessidades surgidas a partir do desenvolvimento econômico, de modo especial o toyotismo e o neoliberalismo. 17 1 Apresente as características do socialismo a partir de sua dinâmica sistemática. 2 Quais são as propostas que vêm junto com a evolução do mercado, o conhecido neoliberalismo? 3 Quais são os diferenciais do toyotismo, que vão dar novo fôlego ao capitalismo? AUTOATIVIDADE 18 19 TÓPICO 2 NOVAS RELAÇÕES DE TRABALHO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Temos noção de que o trabalho é a chave de toda questão social, quando usamos o caminho que leva para o bem do homem? Vários estudos nessa área apontam para essa realidade: o trabalho é a “chave primordial” que se abre para o bem do homem. Nesse tópico queremos discutir sobre as relações do Estado com a sociedade após a Segunda Guerra Mundial e, também, sobre a dignidade que advém da realização do trabalho, como valor, necessidade e realização do ser humano. 2 AS RELAÇÕES ESTADO-SOCIEDADE PÓS-GUERRA Quando queremos dar um passo adiante no conhecimento sobre a questão social, devemos ter presente que essa realidade não pode se resumir em desigualdades, em injustiças entre classes, pois vai além da questão social, chegando até a dimensão mundial, na qual se desenvolvem, realmente, as relações, sejam elas humanas ou institucionais. Com efeito, se em tempos passados se punha em relevo no centro de tal questão, sobretudo o problema da classe, em época mais recente, é posto em primeiro plano o problema do mundo. Por isso, deve ser tomado em consideração não apenas o âmbito da classe, mas o âmbito mundial das desigualdades e das injustiças; e, como consequência, não apenas a dimensão da classe, mas sim a dimensão mundial das tarefas a assumir na caminhada que há de levar à realização da justiça no mundo contemporâneo”. (PAULO II, 2004, p. 8). As relações entre as instituições, sejam elas econômicas, sociais e, é claro, políticas, sempre sofrem influência do Estado, seja para gerenciar, seja para interferir, seja para opinar, seja para intermediar. A partir do pós-guerra, várias transformações vão ocorrendo, em resposta aos efeitos das guerras. Os Estados assumem, então, a responsabilidade de tornar possível o desenvolvimento, transcorrendo, daí, novas relações entre o Estado e a sociedade. UNIDADE 1 | O TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE 20 Podemos trazer como exemplo o petróleo como recurso essencial para o desenvolvimento das economias. Vários acontecimentos se desenvolvem a partir do petróleo, seja em benefício das economias de determinadas nações, seja em prejuízo das mesmas. Podemos nos perguntar como se visualiza, nessa questão, a presença ou não do Estado, visto que o petróleo é um produto fundamental para todas as economias mundiais. Vamos verificar essa realidade na ilustração a seguir, que mostra um pequeno histórico do preço do petróleo e os vários eventos que se sucedem por influência do petróleo e dos Estados. FONTE: Disponível em: <http://netopedia.tripod.com/historia/socxcap.htm>. Acesso em: 4 jan. 2010. FIGURA 5 – PREÇO DO PETRÓLEO UNI Caro(a) acadêmico(a), você pode fazer esse mesmo exercício, recordando alguma realidade que teve ou tem importância de influenciar ou até de estabelecer novas relações na sociedade, seja ou não com a presença do Estado. TÓPICO 2 | NOVAS RELAÇÕES DE TRABALHO 21 O mundo está em contínua transformação. O mundo não permite que seja diminuído quando discutimos a sobrevivência do ser humano na Terra. Classes sociais, Estado, sociedade, tudo deve convergir para que esse mundo seja um habitat digno a todos. Vimos anteriormente que o modelo keynesiano estabelecia a participação ativa do Estado na criação de empregos, na regulação do mercado. As crises recessivas e outras tantas crises, principalmente do petróleo, expressam muito bem a necessidade de novas relações entre o Estado e a sociedade, no que tange à questão do mercado e do trabalho. O novo modelo de flexibilização da produção na economia traz consigo novas relações entre Estado e sociedade, que trazem consigo a justeza entre liberdade civil e liberdade política e a participação mínima do Estado na economia. O ajuste neoliberal da crise preconiza a defesa do mercado livre, como pressuposto da liberdade civil e política; a desregulamentação da economia e administração; a configuração do estado mínimo, subordinados às prerrogativas do mercado; e, finalmente, oposição e crítica aos sistemas de proteção social [...] O neoliberalismo tem seus princípios expressos na economia de mercado, na regulação estatal mínima e na formação de uma cultura que deriva liberdade política da liberdade econômica. FONTE: Disponível em: <http:/http//www.senept.cefetmg.br/galerias/Arquivos_senept/anais/ quarta_tema3/quartaTema2Artigo4.pdf>. Acesso em: 5 jan. 2010. FONTE: Disponível em: <http://www.logdemsn.com/wp-content/ uploads/2008/03/leonardo-davinci.jpg>. Acesso em: 5 jan. 2010. FIGURA 6 – HOMEM VITRUVIANO UNIDADE 1 | O TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE 22 Queremos acreditar que as novas relações entre Estado e sociedade, advindas das transformações do mercado, sejam realmente fundadas na urgência de recolocar o ser humano como centro de todo o processo de produção, como sujeito do trabalho e não como mero objeto ou apenas um detalhe. 3 TRABALHO E DIGNIDADE Reafirmamos o que de antemão já sabemos e constatamos cotidianamente na nossa vida: o trabalho é um forte indicativo da capacidade humana de criar, de inovar, de transformar a natureza, mas o ser humano não pode se contentar somente com essa adaptação da natureza e das coisas para suprir suas necessidades. O ser humano tem que se sentir realizado, sentir-se satisfeito por realizar tal prodígio, sentir-se mais humano. No primeiro capítulo do livro de Gênesis, no versículo 28, encontramos o ordenamento de Deus para que o homem frutifique e se multiplique na terra, dominando todas as criaturas, enfim, todo o universo. Vamos ilustrar essa condição, para visualizarmos a importância de compreender o ser humano como agente de transformação e como principal beneficiário dessa condição. Observe: FONTE: Os autores FIGURA 7 – O SER HUMANO COMO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO Podemos observar que o texto bíblico deixa claro, através de expressões, o quanto Deus deposita confiança no ser humano quando lhe dá a responsabilidade sobre a “gerência” da criação. TÓPICO 2 | NOVAS RELAÇÕES DE TRABALHO 23 Nossos consultórios estão cheios de pessoas angustiadas com seus trabalhos, suas escolhas profissionais. Adoecidas pelo trabalho. Retrofletindo, introjetando. Lutando com o controle de dentro e o controle de fora. Hipnotizadas pelo espetáculo do qual fazem parte. O trabalho é constituinte do sujeito. Tomar consciência de si, de suas necessidades, de sua vocação e de suas escolhas pode acordar o indivíduo desse sono e o implicar com seu desejo e sua vocação reais, o que pode permitir a ele trilhar um encontro mais verdadeiro e prazeroso com o trabalho, revestindo-o de significado e sentido. Contato, enquanto relação eu-trabalho-mundo. “Trabalhar é impor à natureza nossa face. O mundo fica mais parecido conosco e, portando nossa subjetividade ali, fora de nós, nos representando” (CODO; SAMPAIO; HITOMI, 1992, p. 190). Devemos acreditar que a dignidade do trabalho só é possível quando se firma na dignidade do trabalhador. E essa realidade se traduz em: • salário justo; • participação nos lucros; • formação de associações; • direitos e deveres cumpridos tanto para empregado, quanto para o empregador; • ambiente de trabalho digno, que propicie o bem-estar de todos. FONTE: Disponível em: <http://opovo.uol.com.br/opovo/ empregospopulares/img/763478_not_fot.jpg>. Acesso em: 5 jan. 2010.FIGURA 8 – AMBIENTE DE TRABALHO UNIDADE 1 | O TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE 24 Podíamos continuar essa lista, mas devemos acreditar que dignidade e trabalho devem ser uma realidade do cotidiano, que passa pelo próprio ambiente de trabalho, pelas nossas vidas e pelo mundo em que vivemos. E é esse o mundo em que vivemos que tem suas peculiaridades muito próprias e características muito marcantes deste tempo. Que tempo é esse? É a contemporaneidade. É o que veremos no próximo ponto. 4 ENTENDENDO A CONTEMPORANEIDADE Vamos apresentar nosso entendimento por contemporaneidade que é compartilhado por muitos estudiosos da história. Primeiramente vejamos seu conceito para depois ver algumas características que marcam o período em que estamos vivendo. A professora Daisy Pecininni, livre-docente da Escola de Artes da USP, apresenta o seguinte conceito para contemporaneidade: A contemporaneidade diz respeito aos tempos recentes, dos últimos vinte anos, e pode-se considerar a marca desta época o fenômeno da globalização ou da mundialização. Definida basicamente como estabelecimento de uma rede de informações a distância e de fluxo contínuo, tem como suporte a tecnologia avançada da informação, a informática, que organiza a vida econômica, política e social, segundo uma ordem mundial. As comunicações ultrapassam quaisquer limites ou barreiras nacionais dos Estados, estabelecendo, apoiadas na alta tecnologia, um fluxo rápido e em modo contínuo de dados – sons, imagens e textos cruzando o planeta, sem controle e sem limites, abertos. Definida como a terceira a onda industrial, a informatização, ou revolução eletrônica, propiciou esse grande salto das comunicações, vencendo as distâncias, acelerando o tempo da história e da veiculação, de notícias e dados, potencializando e mantendo a memória, da otimização de estocagem destes, expandindo possibilidades no futuro, a partir de pressupostos ou probabilidades. FONTE: Disponível em: <http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/ seculoxx/modulo7/contemp/index.html>. Acesso em: 13 fev. 2012. Quando ouvimos aquela máxima em propagandas “imagem é tudo”, constatamos a alta rotatividade de tudo que vemos, tanto nos meios de comunicação, quanto na realidade próxima, que nos cerca. Um exemplo muito evidente é a moda. As roupas estão em constante transformação, em mudança. O que estava na moda na semana passada já foi substituído por outro estilo, outra referência, outra cor, outra modelagem. Somente essa realidade do que vestir nos apresenta muitos questionamentos que nos deixam inseguros quanto ao que vestir, quanto ao que os outros vão falar, o que vamos sentir com determinada roupa, vale a pena seguir o conselho dos outros, dos amigos antenados, dos editoriais de moda, das revistas, ou vamos aceitar a roupa adequada como aquela que nos faz sentir bem. TÓPICO 2 | NOVAS RELAÇÕES DE TRABALHO 25 FIGURA 9 – A MODA FONTE: Disponível em: <http://simplesmenteelegante.com/2010/11/cores-imagens-e- movimentos-de-moda/>. Acesso em: 13 fev. 2012. A imagem anterior nos reporta a essas dúvidas atuais: a partir da moda, que caminhos tomar quando tantos caminhos se apresentam e se temos que, no fim das contas, fazer uma escolha por vez? Isso é a contemporaneidade. A globalização trouxe consigo a possibilidade da igualdade, da equidade, do acesso a tantas coisas que em décadas anteriores não se visualizavam. A informação é uma dessas características marcantes da contemporaneidade, com desenvolvimento acentuado a partir da década de 90 do século passado. Não se trata só de informação, mas da sua facilidade de transitar por todo o mundo com extrema velocidade. Não vamos questionar a veracidade e a qualidade dessas informações, vamos ficar somente na sua capacidade de difusão, de tornar algo conhecido em segundos no mundo todo. Algo do cotidiano, simples, paroquial passa a ter importância mundial, porém, em segundos, volta à sua, digamos, insignificância. Os 15 minutos de fama para todo ser vivente, apregoados por Andy Warrol no século passado, viraram 15 segundos que podem ser eternos. UNIDADE 1 | O TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE 26 A década de 90 vem ampliar ou confirmar o processo de globalização mediante o desenvolvimento tecnológico da informática nas comunicações. O marco neste período final do século e do milênio é a instauração da internet, essa plataforma do mundo virtual, onde sem limites imagens e textos, dígitos, todo o imaginário possível se altera, se reparte e se repete, em trânsito contínuo.O volume de imagens deste mundo virtual é infinitamente maior que o do mundo real, romperam-se as barreiras de tempo e espaço, os limites históricos das leis e da moral, das línguas, das religiões e mitos. A internet assume um poder de ser uma verdadeira extensão do viver cotidiano atual. Por outro lado, possibilita a sedução da liberdade, de um espaço ilimitado de comunicação e de expressão do indivíduo. Consequentemente, Z. Bauman afirma que o valor supremo da pós-modernidade é a vontade de liberdade. No campo da arte, jamais o artista teve tanta liberdade de criação, e experimentação; sem limites ou ideologias, o artista é demiurgo e taumaturgo no seu universo de criação, observa-se o desenvolvimento da Arte e Tecnologia, em que se operam os meios da alta tecnologia, em cruzamentos e intermediações com outros meios, o poliglotismo de meios e linguagens configuram hibridismos, conjugando fragmentos de diferentes naturezas – semânticas, técnicas e tecnológicas. FONTE: Disponível em: <http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/ seculoxx/modulo7/contemp/index.html>. Acesso em: 13 fev. 2012. É neste mundo que estamos inseridos e é este mundo que nos oferece tantas ferramentas para o pleno desenvolvimento de diferentes atividades, obras, coisas, objetos, relações etc. O Serviço Social na contemporaneidade se faz cada vez mais presente em instituições, às vezes por obrigatoriedade de lei, às vezes por incremento das relações no trabalho, mas sempre para melhorar no respeito e na dignidade de cada pessoa envolvida nas relações entre empregado, empregador, colaborador. LEITURA COMPLEMENTAR O CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Define-se por Desenvolvimento Sustentável um modelo econômico, político, social, cultural e ambiental equilibrado, que satisfaça as necessidades das gerações atuais, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades. Essa concepção começa a se formar e difundir junto com o questionamento do estilo de desenvolvimento adotado, quando se constata que esse é ecologicamente predatório na utilização dos recursos naturais, socialmente perverso com geração de pobreza e extrema desigualdade social, politicamente injusto com concentração e abuso de poder, culturalmente alienado em relação aos seus próprios valores e eticamente censurável no respeito aos direitos humanos e aos das demais espécies. O conceito de sustentabilidade comporta sete aspectos principais, a saber: TÓPICO 2 | NOVAS RELAÇÕES DE TRABALHO 27 • Sustentabilidade Social - melhoria da qualidade de vida da população, equidade na distribuição de renda e de diminuição das diferenças sociais, com participação e organização popular. • Sustentabilidade Econômica - públicos e privados, regularização do fluxo desses investimentos, compatibilidade entre padrões de produção e consumo, equilíbrio de balanço de pagamento, acesso à ciência e tecnologia. • Sustentabilidade Ecológica - o uso dos recursos naturais deve minimizar danos aos sistemas de sustentação da vida: redução dos resíduos tóxicos e da poluição, reciclagem de materiais e energia, conservação, tecnologias limpas e de maior eficiência e regras para uma adequada proteção ambiental. • Sustentabilidade Cultural - respeito aosdiferentes valores entre os povos e incentivo a processos de mudança que acolham as especificidades locais. • Sustentabilidade Espacial - equilíbrio entre o rural e o urbano, equilíbrio de migrações, desconcentração das metrópoles, adoção de práticas agrícolas mais inteligentes e não agressivas à saúde e ao ambiente, manejo sustentado das florestas e industrialização descentralizada. • Sustentabilidade Política - no caso do Brasil, a evolução da democracia representativa para sistemas descentralizados e participativos, construção de espaços públicos comunitários, maior autonomia dos governos locais e descentralização da gestão de recursos. • Sustentabilidade Ambiental - conservação geográfica, equilíbrio de ecossistemas, erradicação da pobreza e da exclusão, respeito aos direitos humanos e integração social. Abarca todas as dimensões anteriores através de processos complexos. Define-se por Desenvolvimento Sustentável um modelo econômico, político, social, cultural e ambiental equilibrado, que satisfaça as necessidades das gerações atuais, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades. Essa concepção começa a se formar e difundir junto com o questionamento do estilo de desenvolvimento adotado, quando se constata que esse é ecologicamente predatório na utilização dos recursos naturais, socialmente perverso com geração de pobreza e extrema desigualdade social, politicamente injusto com concentração e abuso de poder, culturalmente alienado em relação aos seus próprios valores e eticamente censurável no respeito aos direitos humanos e aos das demais espécies. UNIDADE 1 | O TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE 28 O grande marco para o desenvolvimento sustentável mundial foi, sem dúvida, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992 (a Rio 92), na qual se aprovaram uma série de documentos importantes, dentre os quais a Agenda 21, um plano de ação mundial para orientar a transformação desenvolvimentista, identificando, em 40 capítulos, 115 áreas de ação prioritária. A Agenda 21 apresenta como um dos principais fundamentos da sustentabilidade o fortalecimento da democracia e da cidadania, através da participação dos indivíduos no processo de desenvolvimento, combinando ideais de ética, justiça, participação, democracia e satisfação de necessidades. O processo iniciado no Rio em 92 reforça que, antes de se reduzir a questão ambiental a argumentos técnicos, deve-se consolidar alianças entre os diversos grupos sociais responsáveis pela catalisação das transformações necessárias. FONTE: Disponível em: <http://www.catalisa.org.br/site/index.php?option=com_ content&view=article&id=30&Itemid=59>. Acesso em: 28 nov. 2009. 29 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico vimos que: • Novas relações do Estado com a sociedade surgiram após a Segunda Guerra Mundial e influenciaram de forma direta as relações estabelecidas no trabalho. • O ser humano deve ser agente de transformação, não só de sua própria vida, mas de todas as realidades a que está condicionado, porque ele é o principal beneficiário dessa condição. • A dignidade do trabalho só é possível quando se firma na dignidade do trabalhador, que busca sua realização e o seu desenvolvimento em seu próprio trabalho. • “A contemporaneidade diz respeito aos tempos recentes, dos últimos vinte anos, e pode-se considerar a marca desta época o fenômeno da globalização ou da mundialização”. 30 1 Complete corretamente as lacunas da frase: Classes sociais, Estado, ____________________, tudo deve convergir para que esse mundo seja o habitat ___________________ a todos. 2 Que itens podemos elencar para traduzir a dignidade do trabalhador fundada na dignidade do trabalho? 3 Qual a definição para desenvolvimento sustentável? AUTOATIVIDADE 31 TÓPICO 3 O TRABALHO HOJE UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Bolha imobiliária, crise das bolsas, moratórias na Argentina, em Dubai. O que fazer com todas essas situações econômicas influindo em nossas vidas? Ou será que elas não chegam até nós? A globalização tem seus prós e, como nesses casos, contras. O Brasil sempre foi um forte exportador de alimentos. Regiões como o Nordeste, atualmente, estão exportando alimentos para europeus, para o Oriente Médio, o Japão e os Estados Unidos, de forma mais sistemática do que tempos atrás. Regiões tradicionais na exportação de alimentos, como o Centro-Oeste, estão modernizando cada vez mais a sua produção, desde a semente, o plantio, a colheita, a logística, para embutir mais valor aos seus produtos quando chegam no mercado externo. Todo país quer um desenvolvimento que abranja todas suas regiões de forma igualitária e sustentável. Identificar o potencial da região e trabalhar para o seu desenvolvimento. É a distribuição do desenvolvimento para chegar à distribuição de renda. É o caminho mais justo e sustentado. Quando isso não acontece, surgem as desigualdades regionais. Ninguém quer isso. Porém, existe. Tanto o setor privado quanto o público precisam buscar soluções para essa condição presente, hoje, principalmente, nos países pobres e em desenvolvimento. Outra realidade muito conhecida é a do trabalho solidário, que estabelece um diferencial tanto na sua forma quanto no resultado do seu produto. Tudo isso é o que veremos neste tópico. UNIDADE 1 | O TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE 32 2 DISTRIBUIÇÃO DE RENDA Iniciaremos esse item trazendo alguns conceitos que estão perceptivelmente próximos do termo distribuição de renda, que envolvem três realidades distintas, mas que se complementam: FONTE: Os autores FIGURA 10 – CONCEITOS PRÓXIMOS AO TERMO “DISTRIBUIÇÃO DE RENDA” De forma mais resumida, podemos dizer que distribuição de renda é a distribuição de toda a riqueza produzida em um país entre seus habitantes. Vamos começar, então, com o primeiro conceito que trata sobre índices estatísticos. Qual a função deles? Analisam as questões ligadas à distribuição de renda na economia de um país, de um conjunto de países, de uma região com vários países. Recordemos aqui de dois desses índices que são muito usados – Coeficiente de Gini e IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que avalia e mede o bem-estar dos habitantes de um determinado país. A seguir, oportunizamos um exemplo do Coeficiente de Gini, que apresenta a distribuição do rendimento das pessoas economicamente ativas e também a distribuição do rendimento domiciliar per capita do Brasil. Brasil e Grandes Regiões PIB(1) per capita Rendimento Médio Mensal (2) em R$ Índice de Gini Taxa de Atividade (4) Taxa de Desocupação (4)CR$ US$ Brasil (3) 5.861,0 3.229,7 313,3 0,567 61,0 9,6 Norte - - 244,3 0,547 58,6 11,4 Nordeste - - 144,9 0,587 61,1 8,0 Sudeste - - 273,4 0,537 59,0 11,2 Sul - - 334,4 0,543 66,0 8,0 Centro-Oeste - - 291,3 0,573 63,5 9,6 TÓPICO 3 | O TRABALHO HOJE 33 Departamento de Contas Nacionais do IBGE. O valor em US$ foi convertido pela taxa de câmbio. (1) Os valores em US$ estão baseados na taxa média de câmbio do Banco Central do Brasil e foi feito pela média anual, divulgada pelo Banco Central. A cotação média em 2000 foi de 1,8147/US$. (2) População de 10 ou mais anos de idade, com ou sem rendimentos. O valor em R$ é o valor nominal. (3) Exclusive a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. (4) População de 10 anos ou mais de idade. FONTE: Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/ indicadoresminimos/tabela2.shtm>. Acesso em: 5 jan. 2010. Nessa figura, o Coeficiente de Gini faz uma análise dos fatores econômicos no Brasil e traz o conceito de renda per capita. Que conceito é esse? É uma equação que apresenta uma média entre asoma do salário da população de um determinado país dividido pelo número de habitantes desse mesmo país, resultando numa média por pessoa no país. Concentração de renda é o terceiro conceito: é o processo no qual boa parte dos rendimentos ficam concentrados nas mãos de poucas pessoas, causando a desigualdade. Para entender essa questão, vejamos o seguinte raciocínio, especificamente no caso do Brasil. Temos, no Brasil, aproximadamente, 190.000.000 de habitantes. 80 milhões de habitantes que fazem parte da população pobre detém 12% da renda nacional, que é praticamente o mesmo valor – 13% – do que ganha o grupo dos mais ricos do Brasil, que congrega, aproximadamente, 1% da população. Façam suas contas! Tendo presente esses conceitos e exemplos, podemos averiguar como é feita a distribuição de renda em nosso próprio país e, assim, fazermos outros questionamentos. Enfim, por que há uma grande concentração de renda – má distribuição da renda – em países em desenvolvimento e, por excelência o Brasil que é o segundo pior em distribuição de renda no mundo? Podemos dizer que esses países em desenvolvimento estão realmente em desenvolvimento ou estão num crescimento econômico que, justamente, leva para uma concentração de renda e a maioria da população não desfruta desse crescimento? 34 UNIDADE 1 | O TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE FONTE: Disponível em: <http://bastidoressf.files.wordpress. com/2009/09/renda-brasileira-dreamstime.jpg>. Acesso em: 5 jan. 2010. FIGURA 11 – MÁ DISTRIBUIÇÃO DA RENDA Nos países subdesenvolvidos e em alguns emergentes, há grande concentração de renda nacional em mãos de uma pequena parcela da população, enquanto nos desenvolvidos, a riqueza está melhor distribuída. Há basicamente dois fatores que explicam a concentração de renda: O sistema tributário e a inflação. Esta, nunca repassada integralmente aos salários. Se os preços das mercadorias subirem sem que esse índice seja repassado aos salários, aumenta a taxa de lucro dos empresários e diminui o poder aquisitivo dos assalariados; com o constante processo de concentração de renda. O sistema tributário constitui o modo como são arrecadados os impostos que podem ser diretos ou indiretos em um país. É um poderoso mecanismo de distribuição de renda na forma de serviços públicos. O imposto direto é aquele que recai diretamente sobre a renda ou sobre a propriedade dos cidadãos. Pode ser cobrado de maneira progressiva e quem tem pouca posse paga menos ou fica isento. O governo pode distribuí-lo na forma de escolas ou hospitais, como financiamento da aquisição da casa própria, subsidiando setores econômicos geradores de empregos, saneamento básico entre outros. Os impostos indiretos já estão incluídos nos preços das mercadorias. Pode ser considerado injusto quando assume proporções elevadas, já que é cobrado sempre o mesmo valor do consumidor, não importando a sua faixa de renda. É um imposto que pesa mais no bolso de quem ganha menos, pois não há possibilidade alguma de aplicar a progressividade na arrecadação e, portanto, distribuir a renda. A carga tributária brasileira, além de ser umas das maiores do mundo, está mal distribuída entre as três esferas do governo, que são: a União, os estados e os municípios. TÓPICO 3 | O TRABALHO HOJE 35 Em muitos países subdesenvolvidos o maior volume de recursos arrecadados pelo governo recai sobre os impostos diretos. Na Escandinávia, mais do que em outros países desenvolvidos, há uma elevada tributação. Entretanto, paga mais quem ganha mais, e os serviços públicos são eficientes, o que consiste em um eficiente mecanismo de distribuição de renda. A Globalização intensificou a abertura ou transferência de filiais de empresas para países onde os salários são mais baixos e a legislação trabalhista mais flexível em detrimento aos trabalhadores. FONTE: MOREIRA, João Carlos; SENE, Eustáquio. Distribuição de renda. Publicado em: maio 23, 2009. Disponível em: <http://pt.shvoong.com/social-sciences/economics/1899659- distribui%C3%A7%C3%A3o-renda/>. Acesso em: 1 dez. 2009. DICAS Caro(a) acadêmico(a), no site: <http://www.integral.br/zoom/materia.asp?materia=304&pagina=2> podemos encontrar vários indicadores socioeconômicos, de trabalho, de distribuição de renda, de exclusão, muito bem ilustrativos e atualizados. Acesse-o e complemente seus estudos! A distribuição de renda é urgente, é necessária, justamente porque todos querem não só crescimento econômico, mas desenvolvimento, do qual todos contribuíram e, por justiça, todos devem usufruir do resultado. 3 O TRABALHO SOLIDÁRIO Verifica-se uma grande dinâmica e expressão do trabalho solidário, que se traduz no cooperativismo, no associativismo, no trabalho comunitário e também no trabalho artesanal, realidades essas que agregam aquelas pessoas que desenvolvem principalmente suas habilidades no desenvolvimento de materiais diferenciados dos de uma produção em série. O trabalho solidário não foge às regras básicas de qualquer trabalho, conforme regulamentado pela OIT (Organização Internacional do Trabalho): • deve ser produtivo; • remunerado; • exercido com segurança; • desenvolvido na liberdade. 36 UNIDADE 1 | O TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE No Brasil, o trabalho solidário é muito bem-vindo e, nos empreendimentos econômicos aqui presentes, são regidos dentro da solidariedade, mas na seriedade de um desenvolvimento econômico e social sustentável. Conforme o mapeamento oficial feito pelo governo federal, constatou-se que, dos 14.954 empreendimentos econômicos, solidários pesquisados no país, em 2005, 77% foram criados nos últimos 10 anos. Eles operam sob autogestão: os trabalhadores são proprietários das empresas e decidem democraticamente tudo o que lhes seja relevante, particularmente a destinação de excedentes. Inexistem as figuras clássicas de patrão ou empregado, a propriedade é coletiva, a gestão compartilhada e atua-se sob princípios solidários. (MANCE, 2007, p. 14). O trabalho solidário é, via de regra, uma resposta às necessidades muito específicas, localizadas, ou seja, desejo de emprego, de geração de riqueza, que se integram a outras redes sociais e que dá uma nova dinâmica, um novo caminho, possível, palpável, para um novo desenvolvimento econômico mais humano, mais sustentável, mais justo. Vemos, portanto, que uma nova economia, não capitalista, ecologicamente sustentável e sociologicamente justa, centrada nos valores da participação democrática e distribuição de riqueza está crescendo, trazendo consigo a proposta de um novo modelo de desenvolvimento e a esperança de um mundo melhor para todos. (MANCE, 2007, p. 14). O trabalho solidário deve primar pela união. É o contraponto do que temos hoje no mundo do trabalho: competição e individualismo. Se no ponto anterior sobre a distribuição de renda vimos a dificuldade de se colocar em prática essa condição e, muito pelo contrário, percebemos as injustiças que resultam dessa má distribuição, vemos, aqui, uma possibilidade real do desenvolvimento econômico sustentável, com distribuição de renda equânime, sistema altamente produtivo, investimentos, renovação, expansão etc. É possível. Basta querer. 4 ECONOMIA SOLIDÁRIA No que tange às questões relativas à Economia Solidária (ES), poderemos visualizar no texto adaptado de Pieritz (2008, p. 22-30) que: As transformações do mundo do trabalho no Brasil reconfigura as relações laborais. A falta de oportunidades e o crescente aumento das desigualdades sociais, e da precariedade das condições de sobrevivência geram condições para o questionamento do comportamento civilizatório na sociedade capitalista. TÓPICO 3 | O TRABALHO HOJE 37 Como reação a este cenário, começam a surgir questionamentos sobre o tipo de desenvolvimento ideal para a humanidade. Deste contexto
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