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RESUMO DE FILOSOFIA

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TEMA 1: INTRODUÇÃO À FILOSOFIA I: A PASSAGEM DO PENSAMENTO MÍTICO PARA O PENSAMENTO FILOSÓFICO E OS PRÉ-SOCRÁTICOS DE MAIOR RELEVÂNCIA.
1 GRÉCIA: O NASCEDOURO DA FILOSOFIA E DA ÉTICA
A Filosofia surge na Grécia como um sistema de pensamento que nasce para se sobrepor ao modo mítico de pensar que dominava essa civilização. Para o pensamento mítico, a natureza, as relações sociais e todas as questões que surgiam eram tratadas através das narrativas simbólicas sobre as várias divindades que os gregos cultuavam.
Os primeiros pensadores são os chamados pré-socráticos. E o que esses pensadores representavam para romper com o pensamento mítico? Esse ponto é muito importante. A diferença crucial do mito para a filosofia está no fato de que no mito, a realidade é representada por uma narrativa poética que representa como as coisas são, independente da intervenção do homem, a partir da força dos deuses do Olimpo e da sua determinação (SOUZA, 1996). A Filosofia surge como uma forma de ver a realidade através da razão e da argumentação, que sobrepõe o modo fatalista de entender a natureza e o destino dos homens como obra do divino. O homem, com a filosofia, torna-se capaz de observar a dinâmica do real e tentar explicar seu funcionamento segundo sua capacidade de compreensão e descrição.
2 ORIGEM DA FILOSOFIA
Os primeiros pensadores são os chamados pré-socráticos. Eles têm esse nome não por acaso e marcam a transição do mito à filosofia. Não que esses autores não fossem filósofos. Eles eram. Mas são chamados de pré-socráticos justamente porque Sócrates é o autor considerado marco para o surgimento de um modo específico de questionar e pensar sobre a realidade que chamamos de filosofia.
2.1 TALES DE MILETO
Tales de Mileto foi o primeiro pré-socrático que lançou a questão sobre a “origem” das coisas. Essa questão motivou todo o debate posterior dos pré-socráticos. Tale perguntava sobre o “princípio” (em grego, arché) da natureza (physis). Ele queria descobrir o elemento a partir do qual surgia a natureza como um todo. Tales queria entender o elemento a partir do qual surgem todas as coisas e no qual todas as coisas se transformam quando findam. Esse questionamento fez sentido para Tales e foi muito importante para os pré-socráticos, tendo em vista que o homem grego dessa época percebia a natureza (physis) como um ciclo em que tudo está integrado, tanto os elementos naturais, como os animais, o próprio homem e até os deuses (SOUZA, 1996).
Essa tentativa de determinar a “origem” de tudo é o início do processo do homem de abandonar a submissão à vontade dos deuses e à narrativa dos mitos e passar a compreender a realidade através da argumentação e da razão. Veremos como se desenvolve esse pensamento e como essa semente vai gerar a árvore frondosa da Filosofia. Através dessa reflexão, Tales conclui que o elemento a partir do qual tudo se origina é a água. Ele observa que onde há vida, há água. Para ele, todas as coisas se nutriam de água: a semente precisava de água para brotar, o homem precisava de água para se manter, os animais também.
2.2 ANXIMANDRO DE MILETO E ANAXÍMENIS DE MILETO
Anaximandro foi discípulo de Tales e nasceu em aproximadamente 610 a.c. Ele aprofundou tanto o debate sobre a origem (arché) da natureza (physis) como tornou o debate iniciado por Tales ainda mais filosófico, usando uma linguagem que se aproxima ainda mais da utilizada pelos filósofos posteriores(CHAUÍ, 2002). Anaximandro avança na investigação sobre a origem das coisas perguntando sobre “porque” e “como” todas as coisas derivam do elemento originário. Além disso, ele escreve em prosa, não em verso, como Tales.
Para Anaximandro, a água não poderia ser o elemento originário porque ela já é, na realidade, um elemento derivado. A origem de tudo seria o infinito (em grego, á-peiron), que é indefinido e imaterial, e que permeia todas as coisas. Vamos acompanhar a explicação para entender melhor o que Anaximandro quer dizer. O á-peiron é, para Anaximandro, aquilo que não possui limites, não podendo ser determinado espacialmente, nem ter sua natureza definida e delimitada. E, por ser ilimitado, o á-peiron pode dar origem a todas as coisas, conformando-se de várias formas distintas. Todas as coisas são geradas a partir do á-peiron e a partir dele se determinam e existem.
Para Anaximandro, o mundo era constituído por uma série de contrários como, por exemplo, o frio e o quente, o claro e o escuro etc. Tais elementos, nessa perspectiva, vivem em disputa para predominar sobre o outro. Anaximandro desenvolve uma espécie de cosmologia que, assim como Tales e os outros pré-socráticos, compreende que a natureza é animada por um movimento eterno. 
Anaxímenes nasceu em Mileto, aproximadamente em 588 ac. Ele considera que o princípio originário é resultado da transformação de um ar infinito que ele chama de pneuma. Todas as coisas surgiriam de um processo de rarefação e condensação desse ar infinito. Ao fazer essa afirmação, Axímenes aprofunda ainda mais o debate sobre a origem das coisas, pois ele, além de identificar o elemento que origina todas as coisas, explica a partir de qual processo é possível passar do elemento primordial (a unidade) para as muitas e diferentes coisas que constituem o mundo (a multiplicidade).
3 PARMÊNIDES E HERÁCLITO: “SER” OU “NÃO SER”?
Parmênides vai introduzir um elemento importante para as discussões posteriores da filosofia, a ideia de ser. “Ser” é, aparentemente, somente um verbo que conjugamos para indicar a qualidade de existência do sujeito ao qual ele se refere. Mas, para a filosofia, “SER” pode ser compreendido como um substantivo. O ser para a filosofia exprime a essência do que é. Ou seja, aquilo que define e subsiste em todos os seres e que por isso é estável e os define. Em filosofia existe uma disciplina que estuda o ser, a ontologia.
Parmênides escrevia que o ser ‘é’, e não pode ‘não ser’; o ‘não-ser’ ‘não é’, e ‘não pode ser’, de modo nenhum. Parece uma colocação óbvia e, ao mesmo tempo, enigmática. Mas vamos entender o que Parmênides quer dizer (HERÁCLITO, 1989). Para ele o ‘ser’ significa o positivo o puro e o ‘não-ser’, o contrário, o negativo puro. Assim, se existe o ‘ser’ é necessário que o ‘não-ser’ não exista. Tudo o que se pensa e se diz, para ele, é “ser”, assim, não se pode dizer nem pensar sobre aquilo que não é, ou seja, sobre o não-ser. Isso seria uma contradição. Parmênides conclui que o ‘ser’ é imutável e imóvel, porque a mobilidade supõe o ‘não-ser’, na transição de um estado de ser para outro. O “ser” é uma unidade.
Heráclito, por outro lado, diz o oposto de Parmênides. Heráclito escreve que ‘Tudo’ se move (panta rhei). Para ele, nada permanece fixo, tudo sempre muda e nada escapa a essa dinâmica. O movimento é o princípio de todas as coisas, que gera e sustenta toda natureza.
TEMA 2: INTRODUÇÃO À FILOSOFIA II: O PENSAMENTO FILOSÓFICO DE SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES.
Sócrates, Platão e Aristóteles oferecem os alicerces teóricos que sustentam as bases de vários conhecimentos que hoje utilizamos. Para a Ética, principalmente, esses autores são àqueles que vão lançar as primeiras questões que guiarão a discussão posterior.
1 SÓCRATES: A ATITUDE FILOSÓFICA
Sócrates representa a atitude filosófica. Seu modo de viver, argumentar e lidar com as pessoas durante as discussões define essa atitude. Uma pessoa que pode te tirar da sua zona de conforto e te mostrar modos diferentes de compreender algo que você achava que conhecia plenamente. Inquieto, o filósofo é aquele que não para de conhecer, fazendo dessa procura pela verdade a motivação de seu trabalho constante de questionar a si e aos outros. Pois é aquele que ama o conhecimento. O pensamento dele se desenvolvia através de diálogos com seus discípulos que transmitiram seu conhecimento. Sócrates procedia dessa forma não por acaso. Para ele, o diálogo era o meio pelo qual a argumentação filosófica deveria desenvolver-se e o modo peculiar como ele conduzia essas conversas é uma marca importante desse pensador. 
Sócrates inventa um mododiferente de dialogar, um método, que marca o surgimento da filosofia. Esse método inovador de Sócrates é o que chamamos de MAIÊUTICA (CHAUÍ, 2003). Sócrates vivia andando pela cidade e abordando as pessoas que encontrava pelo seu caminho. Então, ele iniciava uma conversa sobre um tema aparentemente banal elaborando uma questão como, por exemplo, “O que é felicidade?”. 
Segundo Reale e Antiseri (1990), o interlocutor de Sócrates então, respondia ao questionamento a partir dos seus conhecimentos e experiências, acreditando com certeza que sabia a resposta da pergunta proposta. Diante disso, Sócrates se colocava sempre na posição daquele que não sabia e permanecia perguntando ao seu interlocutor e, para cada resposta dada, Sócrates aprofundava o debate com mais perguntas, fazendo o seu interlocutor repensar algo que seria supostamente óbvio. O que a maiêutica de Sócrates produzia era um processo de exame da alma e da conduta daquele com quem ele conversava.
 Isso acontecia não porque Sócrates afirmava alguma coisa sobre a conduta ou as verdades que o seu interlocutor acreditava. Mas pela forma como ele se colocava, como aquele que não sabia, e pelo modo como perguntava, fazendo o seu interlocutor, durante o diálogo, perceber que também não sabia o que pensava saber e, assim, se ver obrigado a pensar sobre aquela questão através de uma nova prespectiva. 
O filósofo seria aquele que nunca presumia saber seguindo apenas o que mostrava o senso comum e, por isso, dedicava-se a perguntar e investigar a fundo todas as aparentes verdades e conceitos que possuímos e utilizamos de maneira não refletida, repetindo o que nos foi ensinado ou apenas aplicando algum raciocínio que conhecemos, mas sem nunca efetivamente investigar seu sentido e sua causa. O “não saber” funcionava como uma postura que, para Sócrates, o filósofo deve assumir como estratégia do método maiêutico, com o objetivo de produzir um diálogo em que o interlocutor do filósofo fosse obrigado a refletir e a tornar-se filósofo, em alguma medida. 
Além do “não saber”, a maiêutica também funcionava a partir da “ironia socrática”. Sócrates, ao escutar seu interlocutor, assumia o que lhe foi afirmado em resposta, mesmo discordando do conteúdo e, a partir de um tipo de simulação, fazia surgir as contradições no interior da ideia que lhe foi apresentada. Como uma espécie de jogo com objetivo de gerar autorreflexão. Sócrates afirmava: “Só sei que nada sei” (ABBAGNANO, 1982). E é precisamente por não saber sobre tudo, acrescido de uma postura de humildade, que Sócrates é um filósofo e dedicouse a conhecer. Essa postura de busca pela verdade o colocava à frente daqueles que pensavam que já sabiam e, por isso, nunca investigam. 
Reale e Antiseri (1990) entendem que a atividade de Sócrates de perguntar e provocar as pessoas com quem conversava a examinar a própria alma provocou incômodo na Grécia da época, o que levou o filósofo a ser julgado na Ágora e condenado à morte.
2 PLATÃO: AS IDEIAS, AS APARÊNCIAS E A BUSCA PELA VERDADE
Platão, um pensador até hoje importante para o pensamento ocidental, escreveu suas obras no formato de diálogo. Os seus textos são todas descrições de debates em que Sócrates aparece (na maior parte deles) na posição de filósofo e exercendo sua maiêutica com vários interlocutores distintos. É um método interessante porque demonstra a natureza argumentativa a partir da qual se desenvolve a filosofia e que é parte essencial desse saber, desde seu surgimento. 
Para Platão, são três as partes da alma: a concupiscente, ligada aos desejos e apetites mais básicos; o lado irascível, ligado à coragem, honra e impetuosidade e, por último, a razão, cuja função é organizar e guiar da melhor forma as outras duas partes (ABBAGNANO, 1982). Para Platão, cada parte da alma corresponde a uma função na cidade, respectivamente: o servo, o guerreiro e o filósofo. Para Platão, a parte mais nobre e elevada da alma é a parte racional e alcançar o pleno contato e controle dessa faculdade é crucial para o desenvolvimento da alma humana.
Para Platão, existem duas realidades, a realidade inteligível e a realidade sensível. A primeira é imutável e universal, o mundo das ideias. A segunda é múltipla e mutável, o mundo sensível. O mundo sensível, como o nome já demonstra, é composto pelo que acessamos com nossos sentidos: uma variedade de coisas, animais, objetos etc. Essas coisas são múltiplas. Conhecemos o que é um cavalo, por exemplo, mas, ao longo de nossas vidas, cada cavalo singular que entramos em contato será diferente em relação ao outro.
É sobre isso que fala Platão quando diz que os seus objetos são múltiplos no mundo dos sentidos, pois são singulares e possuem características específicas que os diferem entre si, mesmo que reconheçamos que pertencem à mesma categoria, a de cavalos, por exemplo. No mundo sensível também as coisas perecem, envelhecem, mudam, adquirem ou perdem características. Ou seja, o mundo sensível está em constante movimento. O mundo das ideias é fixo, permanente e infinito. Ele abriga os conceitos e ideias gerais que definem as coisas no mundo, mas que não se reduzem às suas representações singulares no mundo sensível. É como se para Platão o mundo tivesse uma forma a priori, ou seja, anterior ao mundo sensível que, por sua vez, é uma estrutura inteligível.
Para alcançar o mundo das ideias é preciso romper as correntes que prendem o homem à mesma posição, permitindo apenas a visão de uma perspectiva, e virar-se para entender o mecanismo que gera as sombras na parede. Segundo Platão, o filósofo não é compreendido por todos que, apegados ao que veem e conhecem, consideram que esse homem só pode estar louco ao afirmar que possa existir outras coisas que não as sombras que eles conhecem. 
Essa é a teoria das ideias de Platão. A partir dessa teoria surge o que chamamos de metafísica. A metafísica seria o estudo daquilo que está além do físico. Ao definir a existência de um mundo das ideias, Platão inicia os estudos dessa matéria da filosofia que vai se desenvolver ao longo da história e é estudada até hoje.
3 ARISTÓTELES: A SISTEMATIZAÇÃO DAS CIÊNCIAS
Aristóteles definiu as ciências em três ramos: as ciências teoréticas, as ciências práticas e as ciências poiéticas (CHAUÍ, 2002; REALE; ANTISERI, 1990). As teoréticas procuram investigar o saber pelo saber, são elas: a metafísica e a física. As práticas, utilizam o saber com a intenção de propiciar o aperfeiçoamento moral, são elas: a ética e a política. As ciências poiéticas, ou produtivas, se ocupam da criação de coisas e objetos e buscam o saber em função do fazer, é a técnica. Para ele, as ciências mais elevadas são as ciências teoréticas: As ciências teoréticas realizam uma reflexão ampla e profunda, já que não estão condicionadas a um objetivo específico. Elas seriam, por isso, ciências mais elevadas. Dentre as ciências teoréticas, a metafísica é, para Aristóteles, a ciência mais elevada. Ele chama de ciência primeira. Primeira no sentido de que ela trata dos princípios mais basilares, mais gerais e mais abstratos que são anteriores a qualquer utilização e aplicação de ciências com objetivos práticos. Aristóteles circunscreve o objeto da metafísica a partir de quatro definições: 
 I. Ela pergunta pela causa ou princípios supremos.
 II. Ela indaga pelo ser enquanto ser. 
III. Questiona sobre a substância. 
IV. Pergunta por Deus e a substância supra-sensível.
O objeto principal de investigação da metafísica é a busca pelas causas primeiras. Segundo Aristóteles, existem quatro causas que determinam o ser, elas são o fundamento e o princípio das coisas, correspondem às causas formal, material, eficiente e final. A causa formal diz respeito à forma o que constitui a essência, aquilo que define o ser. A causa material está relacionada a matéria que constitui as coisas e seres. A causa eficiente aponta para a causa que gerou determinada coisa, a força motriz, e a causa final se refere ao fim ou objetivo ao qual se destina o devir. 
Aristóteles pergunta o que é a substância e comodefini-la. Os pré-socráticos definiam a substância através dos elementos materiais, como Tales, que considerava que a água é a origem (arché) da natureza (physis). Platão disse que a substância é a forma, ou ideias, que são universais e estáveis, e que definem as coisas em sua multiplicidade no mundo sensível. Quem teria razão, para Aristóteles? Ninguém tem razão, para ele. Porque, se tomadas individualmente, essas respostas apontam para elementos parciais, mas não para o todo da questão. É preciso pensar em um conjunto.
A forma é o princípio que concretiza e realiza a matéria. Ela define o que é cada coisa, a substância. Diferente de Platão, Aristóteles não separa a matéria e a forma (ou substância) como duas realidades separadas. Ao contrário, para ele as duas coisas coexistem no ser. Os seres seriam compostos de forma e matéria, mas a substância, o ser em si, estaria determinado pela forma. Assim, em sentido impróprio apenas pela matéria e em sentido mais próprio pela junção entre matéria e forma (CHAUÍ, 2003). 
Porém, a definição mais basilar e mais fundamental do ser que o define por excelência é a substância. Esse é o objeto da metafísica, a ciência primeira justamente porque trata das causas primeiras, àquelas que antecedem a todas as definições particulares que podemos oferecer ao ser.
TEMA 3: ÉTICA EM SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES
1 A ÉTICA EM SÓCRATES
Sócrates funda a atitude filosófica que permanece enquanto modelo de pensador até os dias de hoje. Além disso, Sócrates é o primeiro pensador que, na história do pensamento grego, vai deslocar o foco da natureza (presente na filosofia dos pré-socráticos) para o homem. Depois de Sócrates, o ser se torna o objeto do pensamento filosófico e assim ele abre as portas para o surgimento da metafísica e para o desenvolvimento posterior de todo pensamento filosófico. Por isso Sócrates é um marco da transição do mito, o pensamento naturalista, para o surgimento da Filosofia.
No campo da ética, um conceito muito importante para o pensamento de Sócrates é a ideia de virtude. Virtude é a tradução que se oferece à palavra grega areté. Por virtude, Sócrates compreende o que pode tornar uma coisa melhor naquilo que ela é. É o modo de ser que provoca o aperfeiçoamento da alma, guiando-a para seu melhor potencial. Em outras palavras, a virtude é o empenho em se tornar a melhor versão de si mesmo(a). Para Sócrates, essa atividade leva o ser a se tornar aquilo que ele deve ser, ou seja, a realizar sua essência.
O distanciamento do conhecimento, ou seja, a ignorância, é o que leva ao vício, o contrário da virtude, para Sócrates. O homem que não se dedica a pensar e compreender a si mesmo vive distante de sua própria essência e não pode aperfeiçoá-la.
A maior qualidade da razão humana, para Sócrates, é o autodomínio (enkrateia). O autodomínio possibilita que dominemos as paixões e saibamos dosar os desejos, a ambição e a ira, de modo a não sermos comandados por eles. O caminho para alcançar o autodomínio está em conseguir comandar os impulsos mais irracionais, que nos aproximam dos animais, através daquilo que há de mais humano, a razão. A alma deve ser quem comanda o corpo.
Para Sócrates, esse domínio racional sobre a nossa porção ‘animal’ é o que determina a liberdade. O homem livre é aquele que age por si mesmo, guiado pelo uso da razão, dedicando-se a si mesmo e escolhendo racionalmente como aplicar seus desejos, sua força, sua ambição.
A ética de Sócrates é a ética do autoconhecimento. Virtuoso é aquele homem capaz de vencer seus inimigos interiores. A felicidade (eudaimonia) é alcançada através do ordenamento da alma, nunca por coisas exteriores a ela, pois a alma é a essência do ser. Assim, felicidade é bem diferente de apenas ter prazeres. Para Sócrates, a virtude, ou a procura pela virtude é um bem em si mesmo. Apenas por tornar-se virtuoso o homem já recebe as recompensas que a harmonia e conhecimento da alma podem oferecer. Sócrates nos mostra que os homens são aqueles que podem escolher (ou não) alcançar sua felicidade.
2 A ÉTICA EM PLATÃO: O BEM E VIRTUDE
O mundo das ideias, para Platão, está organizado segundo uma hierarquia, sendo algumas são inferiores e outras superiores. A ideia que ocupa o lugar mais alto nessa hierarquia e que causa todas as outras (sem ser causada por nenhuma delas) é, para Platão, o Bem. A ideia de Bem constitui o fundamento de tudo que podemos conhecer. O processo de escalada do filósofo de dentro da caverna para fora, que representa o seu processo de aperfeiçoamento racional e a ascensão da alma, chamado por Platão de dialética, tem como resultado final o conhecimento dessa ideia mais elevada, o Bem. Assim, ao alcançar o lugar mais abstrato e mais elevado, distante dos sentidos, o homem alcança também o conhecimento de como agir de maneira justa e correta na medida em que toma conhecimento do Bem.
A ideia de bem e, por consequência, a noção de justiça para Platão e para o debate da ética está diretamente ligada ao conhecimento da alma. Após definir as partes da alma, Platão pergunta se é possível um homem ser virtuoso, ou seja, praticar o bem, se for comandado pela parte concupiscente ou irascível da alma. 
Segundo Platão, no livro IV de A República, a justiça exige que o superior comande o inferior. Como sabemos, a parte superior da alma para Platão é a parte racional. Logo, o homem só pode ser virtuoso se souber governar com a razão os apetites e a ira. . Para Platão, os desejos e a ira, impulsos irracionais e passionais, podem fazer obscurecer o uso da razão. O vício e o apego aos prazeres dos sentidos e do corpo nos levariam à ignorância, enquanto o exercício da razão nos levaria a virtude.
Assim, podemos concluir que uma vida ética e virtuosa, para Platão, depende do desenvolvimento da parte racional da alma. A tarefa ética da parte racional é exatamente governar as outras partes, promovendo harmonia, de modo que elas não se degenerem em vícios. Ao submeter a parte concupiscente à razão, alcançamos a virtude da temperança, ou seja, da moderação (sophrosyne). Essa virtude consiste em não ceder aos prazeres e impor medida aos desejos através da razão.
Ao submeter a parte irascível da alma à razão, saberemos decidir o que é bom e mal para a subsistência do corpo, evitando lutas e conflitos desnecessários. A virtude que daí decorre é a honra e coragem. Assim, um homem é virtuoso quando vive uma vida justa, aquela em que cada parte da alma exerce sua função de maneira virtuosa através da direção e do domínio da parte superior da alma, a razão. O homem virtuoso é o oposto do homem que escolhe uma vida baseada nos vícios, deixando de governar as partes inferiores de sua alma e acabando governado por elas.
 A ética em Platão é pensada também através da ideia de virtude, como em Sócrates. Aliás, essa é uma marca importante da ética grega. Os gregos pensavam o Bem e a vida feliz através da realização da essência do ser. E a virtude grega tem relação direta com um processo de aperfeiçoamento. Esse processo se dá através da educação. Platão chama esse processo de “dialética”, ilustrando-o através do rompimento das correntes e da escalada para fora da caverna, que proporciona o conhecimento do mundo de forma mais ampla. Essa educação volta-se à alma, ou seja, à razão. O desenvolvimento da razão é o que leva à virtude e a felicidade.
3 A ÉTICA EM ARISTÓTELES
As ciências práticas dizem respeito à conduta do homem e a qual finalidade essa conduta pretende alcançar, tanto em sentido individual como também coletivo. Pensar qual o fim a que se destina a conduta do homem através do ponto de vista do indivíduo é o objeto de pesquisa da ética, sob o ponto de vista da sociedade, temos o objeto de pesquisa da política. Para Aristóteles todas as ações humanas destinam-se a um fim, ou seja, a uma finalidade, a intenção de realizar algo.
 O fim último das ações humanas, ou seja, a finalidade mais fundamental dentre todas é, para ele, a felicidade. Alcançar o “bem supremo”, que chamamos de “felicidade”, é ao que se destinam todas as nossasações. Aristóteles responde que para alguns a felicidade está ligada à realização dos prazeres, para outros, à honra, que, no vocabulário antigo, significa algo como sucesso para nós, atualmente. Para outras pessoas, ainda, a felicidade é ter riquezas. Aristóteles, seguindo a ética em Sócrates e em Platão, considera que a felicidade se realiza através da capacidade de utilizar a razão e a dedicação para aperfeiçoar-se cada vez mais. Ele considera também que a alma é aquilo que define nosso ser. Apesar de Aristóteles, com um senso materialista mais aguçado do que Platão, reconhecer a utilidade dos bens materiais e da satisfação dos prazeres, considera que devemos nos dedicar à alma e, mais precisamente, à parte mais nobre da alma, à razão.
Aristóteles considerou que a alma do homem é primordialmente a razão, mas não somente a razão. A virtude, para Aristóteles, é exercida através do hábito, ou seja, a partir da repetição de uma série de ações. E esse hábito consiste em utilizar a razão para moderar os muitos apetites e desejos, que tendem sempre para o excesso ou para a falta, a intervenção da razão deve impor a justa medida. A justa medida é o caminho do meio, é a medida que se configura como meio termo entre dois excessos opostos.
A virtude da alma racional é chamada por Aristóteles de dianética. Ele considera que a alma racional é subdividida em dois aspectos: a dedicação às coisas mutáveis e a dedicação àquilo que é imutável e universal. A dedicação a essas questões leva à sapiência (sophia). Enquanto a dedicação as coisas mutáveis, ou seja, a realidade sensível, gera a sabedoria (phrónesis). Ao se dedicar à metafísica, o homem desenvolve a habilidade de voltar-se para um tipo de atividade contemplativa, ou seja, observadora, abstrata. Assim, o homem aproxima-se do divino e, desse modo, pode alcançar felicidade. Existe uma relação entre a vida contemplativa e a aproximação com os deuses. Aristóteles escreve que a atividade contemplativa é a atividade própria dos deuses que gozam da mais completa bem-aventurança e felicidade.
O homem possui uma centelha divina em sua alma, que se apresenta como a capacidade de utilizar a razão e dedicar-se às ciências teoréticas. Assim, quando o homem exercita essa parte da sua alma, se aproxima da felicidade e bem-aventurança gozada pelos deuses, aproxima-se do caminho da virtude. Quanto mais dedicar-se à contemplação, mais próximo estará da felicidade.
TEMA 4: ÉTICA NA HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA, MEDIEVAL, MODERNA E CONTEMPORÂNEA.
1 A ÉTICA NA ANTIGUIDADE
A tentativa de regulação moral como forma de manter o bem-estar social já estava presente nos povos da antiguidade clássica como os egípcios, os sumérios, os babilônicos, chineses, hebreus, dentre outros. Foram desenvolvidas “éticas” não sistematizadas cujos preceitos e máximas foram impostos, secularizados e fundamentados em princípios religiosos, são as chamadas morais teocráticas (do grego theós (Deus) e kratos, (poder, governo), ou seja, governo de Deus).
Na Grécia clássica a palavra “ética” passa a ser entendida como “ciência” ou “filosofia da moral”, ou seja, uma reflexão de caráter radical e sistemática sobre o fenômeno da moral. Os filósofos gregos foram os primeiros a desenvolver uma reflexão sistemática acerca das questões morais, acerca da conduta, ou seja, das ações humanas. A palavra “Ética” provém do termo grego ethos, cujo significado literal pode ser traduzido para costume, caráter, conduta, comportamento, ação humana. A Ética é um campo de investigação próprio da Filosofia que tem como principal objeto de estudo a moral (do latim mores, costume), ou seja, busca investigar que preceitos e fundamentos devem justificar nossas ações no mundo. A Ética é uma “ciência” da moral, ciência não compreendida em seu sentido formal e empírico, mas no sentido de reflexão crítica e sistematizada logicamente.
Com os gregos ganha potência e formalização o espirito crítico, a partir de filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles e Epicuro e de escolas como a dos sofistas e dos estoicos. Assim, inicia-se um processo de negação das fundamentações da ação moral a partir de preceitos de ordem mítico-religiosa. Muitos desses filósofos desenvolveram teorias éticas onde se buscavam normas de conduta que não fossem derivadas da razão. Os gregos foram um pilar extremamente importante para o desenvolvimento das investigações no campo da ética. Dentre os principais motivos podem-se citar: 
• A tentativa de racionalizar os conflitos, tanto na perspectiva teórica quanto na perspectiva prática.
 • Criticaram as fundamentações de ordem mítica e propuseram fundamentações de ordem lógico-racional, ou seja, fundamentaram as normas sociais na própria humanidade.
 • Passaram a perceber-se como seres humanos iguais enquanto cidadãos (Princípio de Isonomia). 
• A partir disso, foram fundadas várias escolas éticas.
ESCOLAS ÉTICAS GREGAS
Dentre as principais escolas éticas gregas podemos citar:
SOFISTAS: Propuseram questões críticas sobre o que era a moralidade e porque esta deveria existir. Sofistas como Protágoras defenderam uma concepção dos códigos morais como uma criação estritamente humana e útil aos conjuntos de convenções que possibilitam a vida social.
ESTOICOS: A escola foi fundada por Zenão de Cítio (334-262 a.C.), em Atenas, no ano 300 a.C. Muitos foram influenciados por esta escola, desde escravos até imperadores como Marco Aurélio. Os estoicos buscavam uma harmonia com a natureza universal que governava tudo, já que era movida por uma razão (logos) universal. Viver virtuosamente era viver de acordo com a razão universal. A ética estoica preocupava-se com questões ligadas à morte, à velhice, à doença, ao sofrimento e à vulnerabilidade do ser humano. Para os estoicos a função da Ética e da Filosofia era auxiliar o ser humano a viver melhor.
EPICURO: Epicuro de Samos, nascido em 341 a.C. A ética epicurista buscava, principalmente, livrar o ser humano do sofrimento, da dor e dos medos. Pregava uma vida dedicada à sabedoria, aos prazeres moderados e à amizade, dando extrema importância a esta última para a obtenção de uma vida feliz. Para Epicuro a política era fonte de sofrimento e de corrupção dos valores humanos.
A MORAL ROMANA: O império romano sofreu grande influência das éticas gregas, principalmente a partir de Constantino, e pouco a pouco foi sofrendo a influência da moral cristã. Devido à vastidão do império romano, houve uma grande atenção aos problemas de ordem prática (moral). Buscaram sanar conflitos e estabelecer a paz entre as partes do grande império. A maneira de conseguilo foi a elaboração de um sistema de leis (Direito) onde a moral torna-se jurídica.
2 A ÉTICA NA IDADE MÉDIA - SÉCULOS V – XV
Para compreender o papel da Ética nas culturas em geral, torna-se imprescindível perceber que moral, ética e religião são âmbitos distintos, ainda que, como veremos no período medieval, a religião pode influenciar diretamente nas questões da moralidade. O que ocorre na ética e na filosofia medieval é uma submissão da razão frente os desígnios da fé, algo inaceitável na tradição grega. A religião busca a salvação, enquanto a Ética busca uma moralidade racionalmente fundamentada em normas de conduta.
De acordo com a tradição cristã, Deus havia revelado a humanidade normas de comportamento. Foi assim que, durante a Idade Média, a escolástica e a patrística, representadas por filósofos cristãos como Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, Boécio, Pedro Abelardo, dentre outros, estabelecem uma relação íntima entre moral e religião, pois acreditava-se que somente a fé em Cristo e as práticas dos seus mandamentos poderia encaminhar a humanidade para a purificação dos seus atos e para a salvação.
A felicidade ou a libertação da alma aqui é buscada em um outro mundo, essa ideia indica uma sintonia com a filosofia platônica. O preceito principal da moralidade cristã é o amor, o temor a Deus, a aceitação do sofrimento e a inspiração na vida de Jesus. A virtude está associada à fé, à prática da caridade e ao amor ao próximo.3 A ÉTICA NA MODERNIDADE - SÉCULOS XVI – XIX
Com a modernidade europeia, surge uma nova concepção de ser humano e de mundo, dentre os principais movimentos intelectuais, religiosos, científicos e filosóficos deste período, determinantes para as transformações radicais ocorridas na época, podemos citar: a passagem do feudalismo para o capitalismo, o fortalecimento da burguesia, o renascimento italiano (revalorização do ser humano e da natureza), a revolução de Copérnico e Galileu (debate geocentrismo x heliocentrismo), a formação dos Estados absolutos, a reforma protestante, o desenvolvimento das ciências naturais, a invenção da imprensa, o antropocentrismo, o iluminismo, racionalismo, o empirismo, o ceticismo, criticismo, o jusnaturalismo, o contratualismo, dentre outros. 
 O pensamento moderno representa uma ruptura com os fundamentos da teologia e da filosofia cristã medieval. Todos esses movimentos e descobertas científicas produzem uma mudança radical no campo dos valores morais, o que pressupõe novas sistematizações e problematizações no campo da Ética e da política. Com o Renascimento, se inicia uma nova etapa na história da ética, sua principal característica é o antropocentrismo (ser humano como centro das questões culturais e mundanas). Ganha força o humanismo, enquanto movimento filosófico que busca reivindicar valores como a autonomia, a liberdade de pensamento e a racionalidade científica como meio de liberação das imposições dogmáticas cristãs que impediam o pleno desenvolvimento humano.
Com os filósofos iluministas surge uma nova moralidade, não mais centrada em valores teológicos, mas na autonomia, na razão e na busca pela compreensão do que seja a natureza humana. Torna-se impossível enumerar características comuns da ética moderna devido à imensa quantidade de teorias e autores, ainda assim podemos identificar alguns temas que foram investigados por alguns filósofos da época, como o bem individual e o bem social, a natureza humana, o dever, o desejo, a felicidade, o ser humano como meio e como fim, a relação entre ética e ciência etc.
 Dentre os principais expoentes da ética moderna, podemos citar René Descartes, Tomas Hobbes, John Locke, Rousseau Spinoza, David Hume, Immanuel Kant, Nietzsche, Leibniz, Hegel, dentre outros tantos. Aqui iremos tratar de apenas três dos principais expoentes da ética moderna: Hobbes, Kant e Nietzsche. 
Tomas Hobbes (1588-1679): Filósofo inglês, foi influenciado pela filosofia de Descartes e pela nova ciência de Galileu. Sua obra mais importante no campo da Ética foi “O Leviatã”. Nos séculos XVII e XVIII, os debates no campo da Ética ganharam força na Inglaterra, principalmente devido as ideias de Hobbes. Hobbes defendia a ideia de que o ser humano possui uma natureza má, é individualista, egoísta por essência, não possuindo uma tendência natural a viver em sociedade.
As ideias de Hobbes, ao afirmar que o ser humano atua de forma egoísta para obtenção de prazer ou por temor a dor, era algo inaceitável para a ética cristã, que associava o bem com a prática dos desígnios divinos e o mal com o pecado. Assim sendo, o mal e o bem para Hobbes estão relacionadas com escolhas, desejos e com a natureza do ser humano, não havendo bem ou o mal em um sentido geral ou objetivo. Para Hobbes a natureza é a guerra de todos contra todos e os conflitos na sociedade surgem pelo fato de que cada indivíduo busca satisfazer seus desejos de forma ególatra.
Immanuel Kant (1711-1776): Foi um dos filósofos mais importantes da ética moderna. Suas ideias no campo da Ética foram expostas, principalmente, em obras como “Fundamentação da Metafísica dos Costumes” e “Crítica de Razão Prática”. Kant foi educado no Pietismo, uma tendência religiosa cristã do protestantismo alemão considerada libertina. 
Ainda que sua obra pressuponha uma análise crítica e sistemática sobre as questões relacionadas à moralidade, é notável uma influência cristã em seu pensamento. Para ele não importa o quanto a razão pode atuar no individuo, pois os resultados das ações humanas estão à mercê de circunstâncias e acidentes. Para Kant as ações humanas devem estar orientadas pelo bem em si mesmo, como uma espécie de obrigação, um imperativo.
Nietzsche (1844-1900): Filólogo e filósofo austríaco, foi um dos maiores críticos da moral convencional baseada em dogmas, sejam provenientes da razão, da fé ou de qualquer tipo de fundamentação que aprisione o ser humano, sufocando a vontade e os instintos. Para Niestzsche toda tradição moral ocidental postula uma moral escrava, submissa, que está enraizada no código moral do judaísmo cristão e no pensamento grego.
 A moral cristã considera a pobreza, a humildade, o comodismo e o auto sacrifício como principais virtudes, o que, para este autor, produz indivíduos dóceis, débeis, medrosos, submissos, reafirmando o que o autor chama de “espirito de rebanho”. Em lugar das religiões tradicionais, Nietzsche propõe a grandeza da alma humana.
4 A ÉTICA CONTEMPORÂNEA - SÉCULOS XX
Consideramos ética contemporânea toda aquela produzida desde o século XX até os dias atuais, a partir de autores como Hegel, Marx, Kiekegaard, Scheler, Bentham, Stuart Mill, Sartre, Stiner, Freud, Richar Rorty, John Dewey, Habermans, K. Apel, Enrique Dussel, dentre outros. Pode-se dividir a ética contemporânea em dois grandes períodos: o período de crise, consequência da crise generalizada da Filosofia do método científico moderno e o período de ressurgimento da ética kantiana.
Muitos filósofos contemporâneos defenderão que a moral universal é um engano e um meio de controle e submissão. Um dos principais representantes das teorias éticas atuais é o filósofo norte-americano John Rawls que, em sua Teoria da Justiça, busca elaborar uma concepção de justiça que supere as limitações de uma ética utilitarista (toda ação moral deve se basear na ideia de utilidade e bem estar) e que seja fiel a Kant em sua defesa de uma ética baseada na ideia de dever.
Rawls propõe uma concepção de bem comum como conjunto de bens primários que possibilitam a vida dos indivíduos e suas preferências individuais de acordo com suas diferentes concepções de bem.
Por fim, a história da Filosofia revela as várias mudanças que aconteceram no debate sobre ética. Essas mudanças acompanham as transformações sociais e o fluxo do debate filosófico na história das ideias. Cada período histórico possui características próprias e um debate direcionado a responder perguntas específicas, relevantes para aquele momento em questão. Para compreender a ética de maneira mais ampla e para efetivamente acessar os debates contemporâneos, é preciso se aproximar dessas teorias filosóficas anteriores. 
Deslocar nossa percepção para entender outros modos de pensar e compreender a realidade, bem como as relações sociais, nos ajuda a pôr nosso ponto de vista atual em perspectiva e, desse modo, entender em quais elementos conceituais esta visão está ancorada.
TEMA 5: ÉTICA E MORAL NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
Ética e moral são dois termos que têm significados distintos para a Filosofia. Assim, a ÉTICA está ligada ao conjunto de valores que orientam o convívio em sociedade. Já a MORAL, por outro lado, são os costumes, convenções, tradições e modos de agir adotados pelos indivíduos e que determinam o modo pessoal de cada um de viver.
A palavra Ética vem do grego ethos que significa caráter.
Moral vêm do latim morales que significa costumes. Vamos prosseguir agora com nosso debate sobre Ética e conversar sobre os pensadores contemporâneos.
1 HANNAH ARENDT E A BANALIDADE DO MAL
Hannah Arendt foi uma filósofa alemã judia que viveu na época do nazismo e dedicou sua obra para compreender o fenômeno do fascismo alemão, a crueldade e a violência que ele propiciou. Como compreender e, desse modo, evitar que novos fenômenos sociais como o fascismo alemão ocorram, é, para Arendt, uma questão urgente para a ética contemporânea.
A autora dedica-se a compreender o problema do mal e da sua banalização em organizações sociais como a que ela vivenciou na Alemanha. A perguntasobre o problema do mal é uma forma de tentar compreender o que para Arendt parece inexplicável: como a violência e a brutalidade tornam-se práticas naturalizadas entre os seres humanos.
É interessante notar que o debate sobre o mal, proposto por Arendt (1999), não tem um fundo na moral religiosa cristã, que define o bem e o mal, o céu e o inferno, Deus e o diabo. O mal, para Arendt, não está relacionado a uma malignidade essencial, instintiva. E é exatamente isso que torna sua filosofia sobre esse tema tão interessante. Arendt (2000) demonstra que os seres humanos podem ser capazes de realizar ações cruéis sem necessariamente ter uma motivação maligna ou prazer em propiciar sofrimento. Para a autora, o mal torna-se banal em uma sociedade em que a industrialização e a técnica penetram de tal maneira no modo de vida que as ações nessa sociedade se tornam tecnicistas.
Em 1962, Hannah Arendt aceita o convite de uma revista americana para cobrir o julgamento de Eichmann, ocorrido em Jerusalém. Mas, afinal, quem foi Eichmann? Ele era o principal responsável pelo transporte dos judeus para os campos de concentração durante o regime de Hitler. Observando os relatos de Eichmann no tribunal e como ele realizava sua defesa em juízo, Arentd escreve Eichmann em Jerusalém (1963), texto em que ela define o conceito de “mal banal”.
Foi o comportamento de Eichmann que levou Arendt a falar sobre a banalidade do mal. O mal, nesse caso, era algo tão banal que nem mesmo era tratado como mal, era banalizado e transformado em obrigação, dever a cumprir, trabalho a realizar. É um mal sem relação direta com a maldade, nem com nenhuma patologia psicológica ou com o compromisso com alguma convicção ideológica. Mas que, da mesma forma que a maldade, gera sofrimento aos demais seres humanos.
Arendt (2000) conclui que o mal banal é resultado da falta de pensamento. É porque a pessoa recusa-se a refletir sobre o que realiza de forma mecânica e não se sente responsável pelo resultado de sua ação. Apenas submete-se a um conjunto de regras externas de tal forma que anula sua capacidade de reflexão e apenas acata aquilo que lhe foi proposto. 
E a ética só se realiza através da relação com o outro.
O praticante do mal banal renuncia o pensar sobre essa relação, prefere viver como se não compartilhasse o mundo com outros seres humanos e escolhe não pensar sobre o mal que pode estar provocando aos outros através do simples cumprimento de suas obrigações.
Ao tratar do problema do mal, Hannah Arendt nos mostra um meio para compreender a violência contemporânea, muitas vezes banalizada e naturalizada. Para resolver o problema da banalidade do mal, Arent (2000) considera que é preciso recuperar a ideia de mundo comum. A ideia de que compartilhamos o mundo com outros seres humanos e que devemos estar comprometidos com o bem comum. Esse cuidado com o mundo que compartilhamos com os outros Arendt chama de amor mundi, o que propiciaria aos homens sentirem-se amparados pela comunidade em que convivem, considerando-se corresponsáveis por essa comunidade e pelo bem-estar dos seres humanos iguais e diferentes.
2 HABERMAS E A ÉTICA DA DEMOCRACIA
Jürgen Habermas é um filósofo alemão contemporâneo, nascido em 18 de junho de 1929, pertencente a corrente filosófica chamada de Teoria Crítica. Essa corrente surgiu na Alemanha, no pós-guerra, quando um grupo de filósofos judeus e de orientação marxista fundaram um instituto de pesquisa conhecido como Escola de Frankfurt. Esse instituto tinha como objetivo realizar pesquisas interdisciplinares na área de humanidades, aliando sociologia, filosofia e psicologia com o intuito de compreender a sociedade contemporânea.
Habermas é um pensador mais contemporâneo em relação aos primeiros autores que fundaram a Escola Adorno, Horkheimer, Marcuse e Benjamin). Um tema crucial para a filosofia de Habermas é a questão da democracia. O filósofo considera que compreender a democracia é algo extremamente necessário, considerando que essa é a forma de governo da maior parte dos países atualmente e é a partir desse modo de organização social e institucional que constituímos nossas relações interpessoais.
Habermas (2012) dedica sua filosofia ao trabalho de compreender o debate público e o modo como esse debate é constitutivo para a democracia. Para o filósofo, a democracia se realiza através dos processos de debate. Considerando que é através do diálogo e do debate público que se faz política, Habermas apresenta uma ética que serve de base para orientar esse debate de modo a preservar o espaço democrático e seu pleno funcionamento. 
A democracia é, para Habermas (2012), um valor muito importante que devemos preservar. Apesar das inúmeras dificuldades que enfrentamos nas sociedades atuais para que exista um sistema político realmente participativo (como supõe a ideia de democracia), em que todos se sintam realmente inclusos nos processos de decisão e plenamente representados pelo conjunto de políticos eleitos, Habermas (1989) considera que a democracia é algo que devemos preservar e, ao mesmo tempo, promover sua melhoria para que ela possa se aproximar mais de seu conceito ideal.
A democracia possui um grande valor porque, além de ser um sistema de organização institucional que supõe eleições livres e processos de participação política, supõe também um modo de vida em sociedade. Habermas (1989) nos mostra que quando comunicamos uma mensagem, na realidade, estamos agindo. Quando fazemos uma promessa e não cumprimos, por exemplo, isso tem consequências e produz um fato na realidade, modificando-a. Quando um policial diz “Você está preso”, ele está efetivamente realizando a prisão.
3 DUSSEL E A ÉTICA DA LIBERTAÇÃO
Enrique Dussel, nascido em 24 de dezembro de 1934, radicado no méxico desde 1975, é um filósofo argentino que criou a Ética da Libertação. Tal concepção questiona o motivo que leva a relação de opressão entre os seres humanos e os meios, tem como objetivo demonstrar ao oprimido sua condição de opressão, nem sempre clara nas sociedades contemporâneas, e como compreender essa condição.
A Ética da Libertação evidencia a atenção à alteridade e a capacidade de compreender e acolher o sofrimento do outro como elemento importante para o processo de libertação. Dussel é um filósofo lationamericano, por isso, trata das sociedades latinas e de suas imensas desigualdades sociais, compreendendo as formas de opressão que os sujeitos subalternizados estão submetidos. Ele trata da relação entre os diversos povos, principalmente os povos chamados desenvolvidos do norte e os chamados povos em desenvolvimento, do sul. O filósofo busca meios de tornar a relação com o “outro” produtiva.
Para a Ética da Libertação (DUSSEL, 1986), é crucial compreendermos a experiência do "outro", que significa compartilhar, responsabilizar-se por seu desconforto. Para isso, é preciso deixar de lado uma postura de neutralidade, considerando que seu próprio ponto de vista é universal, e compreender que vivemos no espectro de uma sociedade global assimétrica. O “outro” é aquele que se difere de nós, que não consideramos um de nós. O outro normalmente sofre opressão, sua diferença é tratada como uma marca de inferioridade.
Para a Ética da Libertação, essa relação deve ocorrer através da solidariedade e compaixão. Para a Filosofia da Libertação (DUSSEL, 1986), os dominados devem desenvolver uma consciência crítica e prática de sua dominação, pois se a dominação não é criticamente percebida, não é possível perceber a necessidade de liberação.
A ética da libertação é uma ética da vida humana, onde se afirma a dignidade negada e disfarçada do excluído. A relação que ocorre entre a negação de alguns sujeitos, expressa no sofrimento das vítimas da sociedade (índio, mulher, negro, escravo, trabalhadores, idosos, imigrantes etc), e a consciência de tudo isso é o ponto de partida de todas as críticas. 
Para Dussel (1986), a Ética da Libertação é uma ética prática. Conhecer não significa apenas ter acasso a informações, mas treinar a consciência para uma melhorcompreensão da sociedade. Isso se faz através de um olhar mais sensível ao “outro”.
TEMA 06: ÉTICA E ESTÉTICA COMO CONDIÇÃO DE SOCIABILIDADE NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
A Ética e a Estética são duas áreas da Filosofia que, apesar de tratarem de questões relacionadas à prática, não têm um uso pragmático claro nem geram produtos ou resultados mensuráveis como outras áreas do conhecimento. Apesar disso, são conhecimentos que fazem parte das nossas vidas e que são elementos cruciais para as sociedades. Eles dizem sobre nossa cultura e sobre o nosso modo de vida.
1 O QUE É ESTÉTICA?
É uma área da Filosofia e trata do conhecimento sobre o que é o belo e suas manifestações nas artes ou na fruição na vida comum. A Estética investiga a experiência artística, que é parte da humanidade desde o tempo das cavernas. A arte é o meio através do qual o ser humano, desde os primórdios, expressam seus anseios, angustias com o mundo, retratam sua cultura e modo de vida, as experiências religiosas, as emoções etc. 
A arte expressa a capacidade de criação da humanidade através de uma linguagem figurativa, ou seja, que vai além da mera descrição da realidade. A Estética e a arte têm papel fundamental para a sociabilidade humana. Ao longo da história, a arte teve uma ligação muito forte com a experiência religiosa. Para os povos mais antigos, a obra de arte tinha um estatuto de deslocamento da vida comum e representava elementos transcendentais. Assim como a religião, a arte possuía uma “aura”. A obra de arte era algo único, autêntico, uma aparição singular.
A arte, pensada desse modo, envolvia uma espécie de culto e tinha uma função ritual. Para várias civilizações antigas a arte representava os deuses, os fenômenos considerados divinos ou dignos de culto, ou objetos e animais admirados por aqueles povos. Na contemporaneidade, experimentamos a arte ao ligar a TV ou o rádio no carro.
Como essa reflexão nos leva a ver, o modo como cada civilização lida com a arte expõe elementos cruciais de seu tempo e o modo de sociabilidade. Também o modo de vida influi em como vamos encaixar a arte em nossa vida cotidiana. Mas, mesmo que de forma distinta, a arte sempre fez parte das sociedades humanas. Apesar de não ter utilidade clara, aparentemente, não podemos viver sem arte.
Para expressar o quanto é essencial essa experiência para o ser humano, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (2006, p.32) escreveu: “Sem música a vida seria um erro”. O filósofo está falando de uma expressão específica da arte, a música. Mas quer expressar justamente como uma vida sem arte seria uma vida limitada, carente de sentido.
2 PORQUE ESTUDAR ÉTICA?
A Ética é também um conhecimento cuja aplicação não parece tão evidenciada. No entanto, ela transpassa todas as atividades humanas, seja na vida comum, no dia a dia, seja nas atividades produtivas de trabalho. 
Toda atividade que está ligada às relações humanas têm uma implicação ética. Então, o que estudar Ética nos obriga a fazer é justamente observar nossas ações de maneira valorativa. O que isso quer dizer? É entender que todas as ações que executamos expressam um modo de pensar e de entender a realidade. Assim, a Ética nos faz perceber que participamos de uma comunidade. O ser humano é um ser comunitário e não vive isolado. A sociabilidade é algo fundamental para nós.
Toda atividade profissional supõe uma Ética. Mesmo para as atividades mais ligadas à tecnologia, ou à burocracia, entre tantas outras. Isso porque toda atividade humana tem alguma relação com a comunidade em que vivemos. Cada função tem uma importância social específica, resolve problemas e sana necessidades da sociedade.
3 A ÉTICA E A ESTÉTICA: IMPLICAÇÕES PARA A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA SEGUNDO A ESCOLA DE FRANKFURT
A Escola de Frankfurt é a denominação que se dá a um grupo de filósofos da Alemanha que iniciaram seus trabalhos na época do pós-guerra. Os principais autores são Theodor Adorno e Max Horkheimer (1985) e Walter Benjamin (1994). Essa escola da filosofia se desenvolve até hoje e são também conhecidos como Teoria Crítica. 
Esses filósofos criaram um instituto de estudos interdisciplinares em Frankfurt com a intenção de compreender a sociedade e apresentar estudos que possam contribuir com a realidade social e a política. Um dos temas importantes para essa escola da filosofia é a relação entre a produção artística e o nosso modo de viver na sociedade contemporânea. Assim, eles relacionavam a Estética e a Ética, além de perceber esses dois elementos como importantes para entender o modo como vivemos.
Para esses filósofos, a sociedade contemporânea é uma sociedade de massa. O que isso quer dizer? Para eles, na sociedade capitalista existe uma massificação dos seres humanos que nos leva a ter gostos e interesses padronizados. Todos agem de maneira similar, atendendo a uma expectativa apresentada pelo modo de vida em nossa sociedade e suas exigências. No capitalismo surgiu um modo de produzir mercadoria chamado fordismo. Aplicado pelas indústrias para otimizar a produção, esse método possibilitava a produção em massa de produtos, padronizados e produzidos em larga escala. 
A sociedade de massa pode ser entendida como uma forma de organização social em que os indivíduos, assim como as mercadorias, são padronizados. Essa sociedade produz arte através também da lógica industrial. Isso é o que os autores da Escola de Frankfurt chamam de indústria cultural (ADORNO, 1971). A arte também é massificada e produzida em “linha de montagem”.
Benjamin (1994) considera que a possibilidade de reprodução em massa da obra de arte gerou maior acesso a elas, tanto para o espectador como para o artista que quer produzir arte. A arte deixou de ser privilégio da elite e tornou-se acessível a uma parte maior da população, e isso é um aspecto positivo. Por outro lado, para Adorno e Horkheimer (1985) a indústria cultural gerou um processo de “semicultura”.
A indústria da arte funcionaria como qualquer indústria, seu objetivo é gerar lucro e vender a maior quantidade de produtos (ADORNO, 2009). Desse modo, seus produtos seguem uma espécie de “gosto médio”, para assim atender a maior fatia de público possível. A arte perderia seus aspectos criador e de unicidade, assim como a sua exterioridade crítica e feição inovadora.
Esse modo de lidar com a arte, a expressão da criação estética humana, nos levaria a uma sociedade em que não há espaço para a liberdade e a expressão de nossa unicidade. Nas sociedades contemporâneas, na maioria dos casos, as pessoas encontram-se em um ciclo em que ou estão produzindo, no trabalho, ou estão consumindo, em seu tempo livre. Ou seja, tanto em seus momentos produtivos quanto nos momentos em que não estão trabalhando, as pessoas estão dentro da lógica da produção econômica: em alguns momentos, como trabalhador e em outros, como consumidor.
Esses sujeitos, para os autores da Escola de Frankfurt (ADORNO, 1985), não veem sentido, nem dispõem de tempo, para a atividade criadora da Estética nem para a reflexão sobre os valores que guiam seus atos, a Ética. Desse modo, tornam-se “homens-massa” e apenas seguem as expectativas da sociedade em que vivem, abrindo mão da possibilidade de autonomia. A Escola de Frankfurt nos mostra como a Estética, a Ética e o funcionamento da sociedade estão ligados. O modo de organização social das sociedades contemporâneas nos leva a uma lógica da produção artística e também a um modo de sociabilidade específico, que têm implicações para a estrutura social em que vivemos.
TEXTO COMPLEMENTAR TEMA 8: ANÁLISE CONTEMPORÂNEA DOS PROBLEMAS ÉTICOS FUNDAMENTAIS
A Filosofia mudou ao longo de sua história, atualizando seu modo de tratar seus temas. Apesar de algumas questões da Ética se estenderem da Grécia antiga para a sociedade atual, eles são tratados de forma distinta pela Filosofia.
Existem dois modos de tratar a teoria:
1. Posição relativista: a norma ética é puramente convencional e mutável. O conhecimento da norma ética é empírica. Defende a existência de várias morais, do subjetivismo.2. Posição universalista: a validade dos valores éticos é a priori. Defende a existência de uma moral universal objetiva.
A posição universalista está mais ligada ao modo de fazer filosofia da metafísica, ou seja, da filosofia antiga e parte das filosofias modernas. As filosofias contemporâneas tratam a teoria a partir de um ponto de vista mais relativista. Isso se deve ao fato de a filosofia contemporânea considerar que a pretenção da metafísica de dar respostas universais e atemporais para as questões da ética desconsiderava que essas questões estão ligadas a um contexto específico, a um tempo e a uma sociedade.
Assim, a Filosofia contemporânea considera que é preciso considerar que as teorias sobre Ética serão sempre falibilistas, ou seja, elas podem ser rejeitadas. E que existem uma pluralidade de teorias e respostas para uma mesma questão da Ética.
Para os universalistas:
• Cada ser humano é dotado de algo natural que o predispõe ao discernimento do que é certo e errado em termos éticos; 
• Não poderia falar do bem e do mau, da virtude e do vício, se não houvesse a consciência humana, aquela que é capaz de intuir o que vale;
 • Não há criação nem transmutação de valores, senão descobrimento ou ignorância dos mesmos. Os valores não se criam, nem se transformam, se descobrem ou se ignoram.
Esses pressupostos produzem um pensamento que considera que a Ética pode ser tratada a partir de valores universais, independente da época. A razão é uma faculdade abstrata, logo, pode ser tratada sob o viés universalista. Sociedades, culturas e costumes, ao contrário, são reais, mutáveis, contingentes.
Desse modo, os relativistas compreendem a Ética através dos seguintes termos:
• Entendem não haver sentido falar em valores à margem da subjetividade humana; 
• O bom e o mau não significam algo que valha por si, mas são palavras cujo conteúdo é condicionado por referenciais históricos, sociais e valorativos; 
• Criação de valores por vontade dos homens: liberdade e autenticidade.
A mudança na Filosofia e nos debates sobre Ética estão ligados a alguns fenômenos sociais que provocaram um modo distinto de tratar as questões da Ética:
• Modernidade: separação entre Estado e Esfera Pública da vida privada;
 • Respeito às liberdades individuais; 
• A Ética Contemporânea tende a avaliar as questões da Ética sob o prisma do contexto histórico e social;
 • Não define a priori o que é bem ou justo, nem de forma definitiva;
Atualmente, vivemos em uma sociedade que existe uma pluralidade de modos de vida que devem ser respeitados. O processo de modernização social possibilitou a separação entre Estado e vida privada, de modo que as questões pessoais atualmente não são decididas pelo Governo nem pela religião. Assim, o respeito às liberdades de escolha individuais tornou-se elemento fundamental da Ética.

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