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GESTÃO DO CONHECIMENTO AULA 3 Prof. João Alfredo Lopes Nyegray 2 CONVERSA INICIAL O que seria de nós sem a inovação? Possivelmente ainda estaríamos nos campos, entretidos na tarefa da agricultura. Talvez seja da natureza humana buscar novidades, conhecer coisas distintas, ou mesmo criar. No entanto, eis uma situação: é possível criar algo novo, e, portanto, inovar, sem o conhecimento? Não, de forma alguma! Assim, já de início, você pode perceber como inovação e conhecimento caminham lado a lado. A humanidade, se não fossem as inovações, estaria, como já dito, focada em cultivar o próprio alimento. Antes da Revolução Industrial, ponto nevrálgico da inovação nos últimos séculos, a maior parte da população trabalhava para se alimentar. Por isso, é seguro dizer que a inovação mudou radicalmente os rumos da humanidade. De caçadores e coletores para industriais, de industriais para seres de uma economia baseada no conhecimento. No caminho entre essas ondas, muito aconteceu, e uma coisa é certa: o conhecimento humano expandiu-se de forma que jamais retrocederá. CONTEXTUALIZANDO Imagine a seguinte cena: você acorda pela manhã para ir trabalhar. Acende a lenha do fogão para aquecer a água do banho enquanto corta um pedaço de pão para se alimentar. Enquanto a água do seu banho aquece lentamente sobre a lenha, você toma seu café da manhã e faz outras coisas para se preparar para o dia que virá. Após o banho, você pega um pouco de brasa da lenha que aqueceu sua água, põe dentro de um rudimentar ferro de passar para alisar sua camisa branca. Quando está quase terminando de passar a camisa, um pedaço de carvão pula do ferro e queima um pedaço da roupa que vestiria. Ao chegar no trabalho, você lê cartas, correspondências e telegramas. Para respondê-los, utiliza uma máquina de escrever, que não conta com teclas de apagar ou deletar. E então, o que acha desse cenário? Para muitos, principalmente os jovens, a vida assim seria um calvário total. Estamos tão acostumados com as inovações que nos cercam que dificilmente saberíamos viver sem elas. E nem precisamos retroceder tanto. Você se imagina na era pré-WhatsApp, pré-redes 3 sociais ou smartphone? Você imagina que, há pouco tempo, você precisava assistir ao jornal ou acessar a internet da sua casa para saber das notícias do país e do mundo? Nem faz tanto tempo que somente podíamos acessar a internet de casa ou do trabalho, mas, mesmo assim, parece que foi há uma eternidade. E por quê? Porque a inovação é um caminho sem volta. Ela nos acostumou de tal forma com as modernidades de nossa vida que, seja como consumidores, seja como gestores, só há um caminho possível: para frente. Pesquise Quais as inovações mais marcantes do ainda jovem século XXI? TEMA 1 – INOVAÇÃO: A CHAVE DO SUCESSO NA NOVA ERA INDUSTRIAL Temos o costume de enxergar a inovação pelo seu resultado final, os produtos inovadores. Assim, acabamos negligenciando o processo que leva à criação de coisas novas, à maneira pela qual ideias se transformam em produtos e serviços. É preciso que você saiba que a inovação não é apenas um produto ou serviço final, acabado, novo, pronto para ser consumido. Inovação é um processo, e cada vez mais esse processo tem se tornado a alma e o DNA das empresas. Mas, afinal, o que é inovação? Uma definição interessante nos conta que “inovação vem do latim innovare, que significa ‘fazer algo novo’ [...]. Segundo outro entendimento, a inovação e a detenção de capacidades tecnológicas referem-se a um processo de fazer de uma oportunidade uma nova ideia e de colocá-la em uso da maneira mais ampla possível.” (Tidd; Bessant; Pavitt, 2005, p. 86). Inovação pode ser também uma “técnica, design, fabricação, gerenciamento e atividades comerciais pertinentes ao marketing de um produto novo (ou incrementado) ou do primeiro uso comercial de um processo ou equipamento novo (ou incrementado)” (Freeman, 2008, p. 12). Ou seja: inovação pode ser bastante coisa. Bem, antes de mais nada, há que se fazer uma distinção. Existe a inovação radical, aquela que cria produtos ou serviços completamente novos, absolutamente inéditos, nunca vistos ou experimentados antes, o que é algo mais raro. Outro tipo de inovação é a 4 chamada inovação incremental, que melhora produtos ou serviços já conhecidos, dando a eles novas características. Do muito que podemos falar a respeito da inovação, um dos demais pontos importantes é que ela é revolucionária: a situação que descrevemos na contextualização desta aula acontece porque toda vez que surge uma inovação, todo mercado no qual essa novidade foi lançada se altera. Por isso, pode-se dizer que a inovação “incessantemente revoluciona a estrutura econômica a partir de dentro, incessantemente destruindo a velha, incessantemente criando uma nova.” (Schumpeter, 1984, p. 113). Mas o que estimula a inovação? De um lado, sem dúvida, os consumidores, ansiosos por consumir mais e melhor. Do outro, a concorrência. Se meu concorrente inova e eu não, por qual motivo os consumidores continuarão comprando meu produto? Assim, através de novas mercadorias, novas tecnologias, novas fontes de oferta, novos tipos de organização (a grande unidade de controle e, larga escala) – concorrência que comanda uma vantagem decisiva de custo ou qualidade e que atinge não a fímbria dos lucros e das produções das firmas existentes, mas suas fundações. (Schumpeter, 1984, p. 113) É justamente por isso que dos países comunistas, onde tudo é do Estado, não saiu sequer uma grande empresa inovadora. No capitalismo, por outro lado, a inovação é uma questão de vida ou morte, de permanência no mercado ou de ostracismo. Quantas grandes empresas já desapareceram? Muitas. Várias dessas organizações que deixaram de existir deixaram também de inovar. Pense por um instante: quais eram os grandes líderes em aparelhos telefônicos há 20 anos? Motorola, Blackberry e Nokia. E hoje, quais são os grandes líderes na área de telefonia? Samsung e Apple, enquanto as líderes do passado são apenas uma sombra do que já foram. E isso que aconteceu na área da telefonia e dos smartphones aconteceu também em diversas outras áreas, em diversos domínios distintos da indústria. E quer saber mais? Essa preocupação com inovação é mundial. E será cada vez mais, já que as principais atividades produtivas, o consumo e circulação, assim como seus componentes (capital, trabalho, matéria-prima, administração, informação, tecnologia e mercados) estão organizados em escala global, diretamente ou mediante uma rede de conexões entre agentes econômicos. [...] Uma economia global é algo diferente: 5 é uma economia com capacidade de funcionar como uma unidade em tempo real, em escala planetária. (Castells, 2007, p. 257) A economia global de hoje acabou com as fronteiras para as empresas. Isso significa que, se as empresas brasileiras não inovam, nada impede uma rival estrangeira de entrar aqui lançando produtos melhores. O inverso também vale: empresas brasileiras inovadoras também saíram pelo mundo oferecendo seus produtos, atrapalhando a vida dos líderes nos mercados nos quais desembarcaram. Ou seja, inovação é a palavra de ordem, não só no Brasil, mas no mundo. Aquele que deixa a inovação de lado será igualmente deixado de lado pelos seus clientes. Saiba mais Assista ao Case de inovação – a verdadeira história do Post-it®, disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=7QZoxRl2Rmk>. TEMA 2 – INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO PARA A CRIAÇÃO DEINOVAÇÕES Qual será a base do conhecimento? Pense no seu caso. Você estudou, leu diversas coisas durante a vida, teve experiências distintas, ouviu casos e histórias, vivenciou atividades... Trata-se de um conjunto complexo de aprendizados que te transformaram na pessoa que é hoje. Tudo isso mostra que o aprendizado está diretamente ligado a outra coisa: as informações que retemos, guardamos e que conseguimos utilizar em nosso dia a dia. Quando você junta suas experiências e seus aprendizados às informações que adquire, constitui seu arcabouço de conhecimentos. O conhecimento, então, nasce para nós de informações diversas que vamos coletando no decorrer da vida, somadas a outros fatores práticos. E nas empresas, como isso acontece? De certa forma, funciona da mesma maneira. Hoje, na Era da Informação, essas questões acabam ganhando uma importância ainda maior do que já tiveram antes: Entre os insumos de uma empresa (materiais, equipamentos, energia, etc.), dois adquiriram especial importância para o aumento da capacidade de gerar inovações e consequentemente aumento da competitividade: informação e conhecimento. O uso adequado desses insumos permite identificar mudanças nas necessidades dos consumidores, tendências de mercado, potenciais 6 lançamentos da concorrência, entre outras. Esse uso, entretanto, passa por estágios, desde a coleta, o tratamento e o registro de informações até as práticas que levam à aprendizagem da organização com base em compartilhamento e retenção de conhecimento. Como consequência, a empresa gera inovações (de produto, de processo, de serviço) mais rapidamente do que seus concorrentes. (Strauhs et al., 2012, p. 12) Isso significa que a informação, quando devidamente utilizada e transformada em conhecimento, permite que a empresa desenvolva vantagens competitivas frente a seus concorrentes, o que a deixa em posição privilegiada. Hoje, num mundo tão dinâmico, isso faz muito sentido. Vamos pensar no seguinte caso: uma determinada organização, preocupada em se manter à frente dos concorrentes, passa a captar cada vez mais informações do mercado em que atua. Assim, acaba por perceber que a população idosa está “órfã” no mercado de smartphones: telefones com muitas funcionalidades, a maior parte delas pouco atrativa para pessoas que se interessam apenas por efetuar e receber chamadas, enviar e receber mensagens. Eis a informação. E o conhecimento? O conhecimento é fazer algo com essa informação: pesquisas de mercado, entender qual a classe social desses idosos e tudo mais. A inovação surge quando a empresa utiliza suas informações e seu conhecimento para algo maior, para efetivamente fazer algo concreto com o que sabe: Como já dito, há uma relação direta entre informação, conhecimento e inovação. Além disso, quanto maior for a capacidade da empresa de inovar mais e melhor, maior será sua vantagem competitiva. Para isso, há estágios a serem seguidos: 1. Obtenção da informação; 2. Tratamento da informação; 3. Transformação da informação em conhecimento; 4. Transformação do conhecimento em inovação. (Strauhs et al., 2012, p. 13) A consequência desses estágios é o aumento nas vantagens competitivas da organização. Precisamos nos lembrar de uma das lições mais fundamentais das inovações: a inovação privilegia o lado inovador. A empresa que inova, ao lançar algo de diferente no mercado, terá o monopólio dessa novidade durante algum tempo, até que seus concorrentes a copiem, aprimorem ou lancem algo diferente. Nesse tempo, ela conquista uma vantagem sobre os consumidores, que passam a desejar seus produtos e a manter a marca e o nome da empresa em mente. Veja que a inovação tem uma importância tão grande que afeta até mesmo a reputação das empresas. 7 É justamente por isso que não se pode confiar que apenas um grande sucesso ou uma grande inovação seja o suficiente para manter uma empresa no mercado durante um grande período de tempo. Retomemos o exemplo da indústria dos telefones do início desta seção: Nokia, Blackberry e Motorola foram muito felizes durante muito tempo com seus aparelhos. No entanto, ao não se atualizarem, não permaneceram inovando e, ao confiar excessivamente nos sucessos do passado, foram rapidamente ultrapassadas por Apple e Samsung. Isso indica que o sucesso das inovações é transitório. Por isso, a inovação deve ser uma busca cotidiana das empresas, algo que não tem fim nem parada. Em uma economia onde a única certeza é a incerteza, a fonte certa de vantagem competitiva duradoura é o conhecimento. Quando os mercados transformam-se, as tecnologias proliferam, os competidores multiplicam-se e os produtos tornam-se obsoletos quase do dia para a noite, as empresas bem-sucedidas são as que criam consistentemente novos conhecimentos, disseminam-no amplamente pela organização e o incorporam rapidamente em novas tecnologias e produtos. Essas atividades definem a empresa “criadora de conhecimento”, cujo negócio principal é a inovação constante. (Nonaka; Takeuchi, 2008, p. 39) E qual o grande motor para isso acontecer? O conhecimento. TEMA 3 – CAPACITANDO A INOVAÇÃO DENTRO DA EMPRESA Para que a inovação aconteça de fato, a empresa toda deve estar alinhada, da diretoria aos gerentes e colaboradores de todos os níveis. É o que podemos chamar de alinhamento estratégico. Além disso, é importante que você saiba que as empresas são repositórios de conhecimentos. As empresas globais podem ser visualizadas como um encadeamento lógico de relacionamentos entre numerosos componentes em movimento – ideias, informações, conhecimento, capital e produtos físicos. Esses relacionamentos definem as organizações e suas redes estendidas de colaboradores, inclusive fornecedores e consumidores. A capacidade da organização de articular seletivamente esses relacionamentos entre componentes em constante movimentação é a essência da capacidade da organização de responder em tempo real e de maneira econômica eficaz às demandas do mundo. (Prahalad; Krishnan, 2008, p. 38) Ainda assim, podemos dizer com muita certeza que as empresas em si não têm conhecimento algum. O conhecimento é dos indivíduos que a compõem, parte dessas pessoas e deve direcionar-se ao todo da organização. 8 Toda vez que um colaborador guarda informações e conhecimentos para si, sem os repassar aos colegas, toda a organização perde com isso. Existe um ponto do empreendedorismo que nos auxilia a entender isso melhor. Chama-se empreendedorismo corporativo “o processo pelo qual um indivíduo ou um grupo de indivíduos, associados a uma organização existente, criam uma nova organização ou instigam a renovação ou a inovação dentro da organização existente.” (Dornelas, 2009, p. 38). Mas não é só isso. Os empreendedores não são apenas “aqueles que têm ideias, criam novos produtos ou processos. São também aqueles que implementam, lideram equipes e vendem suas ideias” (Dornelas, 2009, p. 73). Dentro das empresas, pois, o empreendedorismo corporativo é o responsável por manter acesa a chama da inovação e manter ativa a transmissão de conhecimentos entre os membros da organização. No entanto, “não adianta apenas as organizações terem indivíduos com espírito empreendedor e vontade de fazer acontecer se essas organizações não dão condições para que seus empreendedores proponham novos projetos” (Dornelas, 2009, p. 52). Mais do que isso, capacitar a empresa para a inovação é também capacitá-la para estimular o empreendedorismo corporativo. Existem alguns tópicos importantes que podem ajudar as companhias nessa tarefa: 1. Inicialmente, a organização precisa priorizar o empreendedorismocomo sendo uma prática importante para o seu negócio e essa ação deve ser liderada pela alta cúpula da empresa; 2. Estrategicamente, a organização deverá eleger um executivo de alto posto para ser o responsável pelas ações empreendedoras [...]; 3. Em conjunto com a área de recursos humanos, deve-se elaborar um programa de treinamento para se disseminar o conceito por toda a empresa [...]; 4. A empresa deve então criar as condições para que as pessoas, em todos os níveis, ajam de forma empreendedora, busquem a inovação e o desenvolvimento de novos projetos [...]. (Dornelas, 2009, p. 52) Obviamente, essa lista se estende bastante, mas você já deve ter captado a ideia: o preparo organizacional para a inovação e para a boa gestão do conhecimento passa pela criação de uma organização na qual todos sintam que podem colaborar, ser ouvidos e manter-se empreendedores. Uma empresa composta de empreendedores corporativos é criadora de conhecimento: 9 a empresa criadora de conhecimento subsiste tanto sobre ideais quanto sobre ideias. E é isso o combustível para a inovação. A essência da inovação é recriar o mundo de acordo com uma visão ou um ideal determinado. Criar novos conhecimentos significa, bem literalmente, recriar a empresa e todos nela em um processo de autorrenovação pessoal e organizacional sem interrupções. Na empresa criadora de conhecimento, inventar o novo conhecimento não é uma atividade especializada – domínio dos departamentos de P&D, marketing ou planejamento estratégico. É uma forma de comportamento, na verdade, uma forma de ser, na qual todos são trabalhadores do conhecimento – isto é, empreendedores. (Nonaka; Takeuchi, 2008, p. 41) Por que você acha que tantos jovens desejam trabalhar no Google? Porque essa empresa é reconhecida por estimular os funcionários a criar seus próprios aplicativos e programas ou materializar suas ideias. No Google, o funcionário pode utilizar 20% do seu tempo de trabalho, em horário de expediente, para projetos próprios. Daí vieram ideias como a do extinto Orkut e também do Gmail. Como você deve ter percebido, os “processos internos são fundamentais para apoiar a cultura de inovação. Porém, se ficarem sem manutenção e se não forem adaptados conscientemente às mudanças no ambiente de negócios, os processos internos podem converter-se em impedimentos à inovação.” (Prahalad; Krishnan, 2008, p. 40). TEMA 4 – ACESSO AO CONHECIMENTO E SEU COMPARTILHAMENTO Como vimos anteriormente, não basta que a companhia queira ser uma empresa geradora de conhecimentos e inovação. Além de seus membros estarem necessariamente capacitados para fazer parte desse processo, a organização deve criar um ambiente no qual as inovações possam surgir. É necessário, ainda, que esta se informe e esteja atenta ao ambiente à sua volta. Por exemplo: faz sentido lançar hoje um novo aparelho de vídeo cassete? Não, pois essa é uma tecnologia ultrapassada. Por mais absurdo que esse exemplo possa parecer, ele nos ajuda a entender e a vislumbrar a importância do entendimento do ambiente no qual a empresa está inserida. Quais são seus concorrentes? O que fazem? Onde são melhores do que eu? O que eu posso aprender com eles? Outro ponto bastante importante é que não basta que a empresa saiba disso tudo a nível de diretoria. A informação precisa estar disseminada na organização, de modo a estar ao alcance de todos os colaboradores. 10 A organização do conhecimento possui informações e conhecimentos que a tornam bem-informada e capaz de percepção e discernimento. Suas ações baseiam-se numa compreensão correta de seu ambiente e de suas necessidades, e são alavancadas pelas fontes de informação disponíveis e pela competência de seus membros. A organização do conhecimento possui informações e conhecimentos que lhe conferem uma especial vantagem, permitindo-lhe agir com inteligência, criatividade e, ocasionalmente, esperteza. Administrando os recursos e processos de informação, a organização do conhecimento é capaz de: • adaptar-se às mudanças do ambiente no momento adequado e de maneira eficaz; • empenhar-se na aprendizagem constante, o que inclui desaprender pressupostos, normas e crenças que perderam validade; • mobilizar o conhecimento e a experiência de seus membros para gerar inovação e criatividade; • focalizar seu conhecimento em ações racionais e decisivas. (Choo, 2003, p. 31) Ou seja, todas as decisões organizacionais baseiam-se nos conhecimentos da organização e de seus membros. A estrutura organizacional deve ser formada de modo que a informação possa fluir com facilidade entre os pontos distintos da hierarquia organizacional. Certamente um diretor, por exemplo, sabe muito mais sobre os concorrentes e o cenário econômico do que um membro operacional. Por outro lado, é mais provável que um funcionário operacional saiba mais sobre os problemas do dia a dia da organização do que um diretor. O importante é que essas informações possam ser trocadas e compartilhadas num tempo hábil que permita à empresa continuar tomando boas decisões para assegurar sua permanência no mercado. Hoje, é muito comum ambientes corporativos amplos e abertos, no quais todos trabalham num mesmo local, sem salas, portas ou paredes. Essa foi a solução encontrada por Jack Welch, falecido CEO da General Eletric, para facilitar o trâmite de processos organizacionais. Mas será que essa tática permanece eficiente? Parece que o trâmite de informações depende mais de pessoas do que de paredes. Na Era da Informação, não faz mais sentido que as empresas tenham aquele tipo de colaborador que guarda as informações como se fossem um grande segredo, que não compartilha contatos e dados, embora esse comportamento seja ainda bastante frequente. É necessário que as informações e os conhecimentos fluam: Organizações geram, codificam coordenam e transferem conhecimento a partir, entre e para seus membros. Sem 11 conhecimento não há organização. Consideradas tais asserções, Buckland (1991) sugere três formas que a informação pode assumir no contexto organizacional: • Informação como processo (information-as-process) – trata-se da ação de informar, o que alguém sabe muda quando esse alguém é informado. • Informação como conhecimento (information-as-knowledge) – informação reduzindo ou aumentando a incerteza. • Informação como coisa (information-as-thing) – dados, documentos e livros aqui referidos como sendo instrutivos e/ou informativos. (Neto, 2014) Isso significa que existem várias formas que a informação pode assumir dentro de uma empresa. Para familiarizar seus novos colaboradores, existem treinamentos de adaptação. No entanto, só isso não basta: a informação e o conhecimento devem ser usados de forma estratégica, reduzindo as incertezas e aumentando as chances de sucesso da empresa. Para isso, o conhecimento deve ser acessado e explorado. Eis a razão pela qual se tem falado tanto de endomarketing ou de sistemas gerenciais internos. São formas pelas quais os colaboradores podem saber sobre a empresa como um todo, uma vez que a Era da Informação não aceita mais funcionários altamente empenhados em saber apenas a sua função. A ideia é que as empresas preparadas para o século XXI sejam aquelas que pulsam como um só ser. TEMA 5 – CAPITAL INTELECTUAL Um dos efeitos do conhecimento é gerar o que se chama de capital intelectual. Mas o que é isso? O Capital Intelectual – composto por capital humano, capital estrutural e capital de clientes – representa benefícios intangíveis que, quando associados aos outros fatores tangíveis, agregam valor às organizações, aos clientes e aos fornecedores,tornando-se um diferencial competitivo, o que faz com que se estabeleça a coerência entre o resultado e a longevidade corporativa (Stewart, 2002). (Capital..., [s.d.]) Ou seja, podemos afirmar que o capital intelectual é um somatório de saberes intangíveis. É todo o conhecimento que a empresa gerou, acumulou, adquiriu ou incorporou em seus anos de atuação. A princípio, pode ser o capital dos membros fundadores da organização que, conforme se agregam outros membros, torna-se maior. Além disso, o capital intelectual engloba os procedimentos da organização, o que ela faz, onde faz e com quem faz. Uma outra definição interessante é: 12 Segundo Stewart (1998), capital intelectual é o conjunto de ativos intangíveis composto por diversos fatores, tais como: qualidade e coerência do relacionamento entre empresa – clientes e fornecedores – talentos, ideias e insights apresentados por todos os envolvidos no contexto organizacional, entre outros. Esses fatores, quando combinados e trabalhados em um sistema gerencial eficiente alinhado aos objetivos organizacionais, geram conhecimentos, capazes de promover a inovação e reestruturação contínua dos processos, gerando resultados eficazes. (Capital..., [s.d.]) Mais uma vez, é possível perceber como a ideia de capital intelectual é ampla e engloba também os relacionamentos da empresa. E qual o propósito de nos preocuparmos com isso? Alavancar a organização, buscando resultados melhores. Há ainda outra forma de enxergar o capital intelectual: o conjunto composto por marcas registradas, patentes, direitos autorais, direitos exclusivos para comercialização, tecnologia utilizada no processo de produção, portfólio de clientes, competência dos funcionários, flexibilidade e capacidade de inovação, banco de dados, perfil de gestão e liderança, que deverão ser mensurados e aplicados em conformidade com os objetivos organizacionais. (Capital..., [s.d.]) Perceba que a definição de capital intelectual é ampla, e, seja qual for, abrange um somatório dos conhecimentos da organização. Os conhecimentos, a organização e as pessoas que a compõem fazem parte desse somatório. Qual a conclusão que podemos ter disso? Que o maior patrimônio de uma organização é seu capital intelectual. Mesas, cadeiras e computadores são facilmente precificáveis, seu valor pode ser facilmente convertido em dinheiro. E o conhecimento? E a reputação de uma empresa? E sua marca? Esses ativos podem ser até mesmo invaloráveis, como o nome Google ou a marca Apple. E por quê? Porque por mais que essas organizações tenham uma infraestrutura física, seu capital intelectual é o que possibilitou que se tornassem empresas tão grandes. TROCANDO IDEIAS Como os conhecimentos da empresa em que você trabalha poderiam gerar inovação? Você, com seu capital intelectual, seria capaz de gerar algo de novo? NA PRÁTICA Em 1973, Steven Sasson, um homem alto de queixo saliente, havia acabado de se formar em engenharia elétrica pelo Rensselaer Polytechnic 13 Institute (RPI), e seu diploma o levou a um emprego no laboratório de pesquisas da divisão de aparelhos da Kodak. [...] Em 1975, trabalhando com uma pequena equipe de técnicos talentosos, Sasson usou CCDs [dispositivos de carga acoplada] para criar a primeira câmera fotográfica digital do mundo. [...] A máquina tinha o tamanho de uma torradeira, pesava quase quatro quilos, tinha resolução de 0,01 megapixel e tirava até 30 imagens digitais em preto e branco – a ideia foi escolher um número entre 24 e 36 para estar alinhado com as opções dos filmes de rolo da Kodak. A câmera também armazenava fotos no único dispositivo de armazenamento permanente então disponível: uma fita cassete. Mesmo assim, foi uma realização surpreendente e uma experiência de aprendizado incrível. [...] Em 1996, a Kodak possuía 140 mil funcionários e uma capitalização de mercado de US$ de 28 bilhões. Tratava-se realmente de um monopólio de respeito. Nos Estados Unidos, a empresa controlava 90% do mercado de filmes e 85% do mercado de câmeras. No entanto, havia esquecido seu modelo de negócio. Começara nos segmentos de produtos fotoquímicos e papéis fotográficos, para depois dominar o de conveniência. Mas não é só isso. Existe ainda a questão do que exatamente a Kodak estava tornando mais conveniente. Apenas a fotografia? Não. Ela era só o meio de expressão. E o que estava sendo expresso? O “Momento Kodak”, claro: o desejo das pessoas de documentar a própria vida, de captar o fugidio, de registrar o efêmero. A empresa estava no negócio de registrar lembranças. Então, além da câmera digital, o que poderia tornar o registro de lembranças mais conveniente? Só que não foi essa a visão da Kodak Corporation no final do século 20. A empresa achou que a câmera digital prejudicaria os negócios de produtos químicos e de papéis fotográficos, o que essencialmente a forçaria a competir contra si mesma. Assim, soterrou a tecnologia. [...] Ao ignorar isso, em vez de usar sua poderosa posição para ocupar o mercado, acabou dominada por ele. Fonte: Diamandis; Kotler, 2016, p. 14-15. Analisando o trecho acima, como a falha da Kodak em relação à câmera digital afetou a empresa? Como essa pode ser uma lição em gestão do conhecimento? 14 A Kodak era líder absoluta do mercado de fotografia e, hoje, deixou de existir. A empresa tinha um ambiente que capacitava a inovação, tanto que a máquina digital surgiu ali. No entanto, não soube aproveitar a inovação, achando que seu sucesso momentâneo seria perene. Depois de outras empresas terem utilizado a câmera digital, a Kodak perdeu mercado para nunca mais recuperar. Se, ao contrário, tivesse investido na ideia, teria sido capaz de aumentar o número de fotos armazenadas, a capacidade das câmeras e a própria tecnologia. Por fim, a empresa foi incapaz de gerenciar a inovação gerada pelo próprio conhecimento, e enterrou um projeto que seria seu passaporte para o futuro. FINALIZANDO Inovação é uma palavra que “vem do latim innovare, que significa ‘fazer algo novo’ [...]. Segundo outro entendimento, a inovação e a detenção de capacidades tecnológicas referem-se a um processo de fazer de uma oportunidade uma nova ideia e de colocá-la em uso da maneira mais ampla possível.” (Tidd; Bessant; Pavitt, 2005, p. 86). Existe a inovação radical, aquela que cria produtos ou serviços completamente novos, absolutamente inéditos, nunca vistos ou experimentados antes, o que é algo mais raro. Outro tipo de inovação é a chamada inovação incremental, que melhora produtos ou serviços já conhecidos, dando a eles novas características. Quando você junta suas experiências e aprendizados com as informações que adquire, constitui seu arcabouço de conhecimentos. O conhecimento, então, nasce para nós de informações diversas que vamos coletando no decorrer da vida, somadas a outros fatores práticos. A informação, quando devidamente utilizada e transformada em conhecimento, permite que a empresa desenvolva vantagens competitivas frente a seus concorrentes, o que a deixa em posição privilegiada. Para que a inovação aconteça de fato, a empresa toda deve estar alinhada, da diretoria aos gerentes e colaboradores de todos os níveis. É o que podemos chamar de alinhamento estratégico. Ainda assim, podemos dizer com muita certeza que as empresas em si não têm conhecimento algum. O conhecimento é dos indivíduos que a compõem, parte dessas pessoas e deve direcionar-se ao todo da organização. 15 Todas as decisões organizacionais baseiam-se nos conhecimentos da organização e de seus membros. A estrutura organizacional deve ser formadade modo que a informação possa fluir com facilidade entre os pontos distintos da hierarquia organizacional. Certamente um diretor, por exemplo, sabe muito mais sobre os concorrentes e o cenário econômico do que um membro operacional. Por outro lado, é mais provável que um funcionário operacional saiba mais sobre os problemas do dia a dia da organização do que um diretor. O importante é que essas informações possam ser trocadas e compartilhadas num tempo hábil que permita à empresa continuar tomando boas decisões para assegurar sua permanência no mercado. Por fim, o capital intelectual é um somatório de saberes intangíveis. É todo o conhecimento que a empresa gerou, acumulou, adquiriu ou incorporou em seus anos de atuação. A princípio, pode ser o capital dos membros fundadores da organização que, conforme se agregam outros membros, torna- se maior. Além disso, o capital intelectual engloba os procedimentos da organização, o que ela faz, onde faz e com quem faz. 16 REFERÊNCIAS AMATUCCI, M. Teorias de negócios internacionais e a economia brasileira – de 1850 a 2007. In: _____. Internacionalização de empresas. São Paulo: Editora Atlas, 2009. CAPITAL intelectual: a gestão do conhecimento aplicada em uma indústria química do estado de Goiás. [S.d.]. Disponível em: <http://dvl.ccn.ufsc.br/congresso/anais/2CCF/20080810202047.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2017. CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2011. CAVUSGIL, S. T.; KNIGHT, G.; RIESENBERGER, J. Negócios internacionais – estratégia, gestão e novas realidades. São Paulo: Pearson, 2010. CHOO, C. W. A organização do conhecimento: como as organizações usam a informação para criar significado, construir conhecimento e tomar decisões. São Paulo: Senac, 2003. DIAMANDIS, P.; KOTLER, S. 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