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2019 Direito tributário e empresarial Profª. Gabriela Wolff Profª. Ana Paula Tabosa dos Santos Sanches Prof. Anderson de Miranda Gomes Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Profª. Gabriela Wolff Profª. Ana Paula Tabosa dos Santos Sanches Prof. Anderson de Miranda Gomes Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: W855d Wolff, Gabriela Direito tributário e empresarial. / Gabriela Wolff; Ana Paula Tabosa dos Santos; Anderson de Miranda Gomes. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 204 p.; il. ISBN 978-85-515-0249-5 1.Direito empresarial. – Brasil. 2.Direito tributário. – Brasil. I. Wolff, Gabriela. II. Sanches, Ana Paula Tabosa dos Santos. III. Gomes, Anderson de Miranda. IV. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 346.81065 III apresentação Prezado acadêmico! Iniciamos os estudos de Direito Tributário e Empresarial. Na Unidade 1, estudaremos o conceito, as fontes do Direito Tributário, como se aplica e integra esta legislação específica. A Unidade 2 é dedicada ao estudo do conceito e classificação dos tributos, da competência tributária e das limitações a este poder. Também nesta unidade, estudaremos a obrigação tributária e o lançamento tributário. Já na Unidade 3, voltada ao Direito Empresarial, estudaremos seu conceito, a figura do empresário e suas características, bem como a estrutura das sociedades empresárias, os títulos de crédito e o procedimento para a recuperação das empresas. Desejamos a você uma trajetória de sucesso! Bons estudos! IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – DIREITO TRIBUTÁRIO ............................................................................................. 1 TÓPICO 1 – CONCEITO DE DIREITO TRIBUTÁRIO ................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 CONCEITO DO DIREITO TRIBUTÁRIO ...................................................................................... 3 2.1 DIREITO FINANCEIRO E DIREITO TRIBUTÁRIO .................................................................. 5 2.2 DIREITO TRIBUTÁRIO COMO RAMO DO DIREITO PÚBLICO ........................................... 6 2.3 RELAÇÕES DO DIREITO TRIBUTÁRIO COM OUTROS RAMOS DO DIREITO ................ 7 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 15 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 16 TÓPICO 2 – FONTES DO DIREITO TRIBUTÁRIO ........................................................................ 17 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 17 2 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 .......................................................................................... 18 2.1 EMENDAS CONSTITUCIONAIS ................................................................................................. 19 3 LEI ORDINÁRIA .................................................................................................................................. 22 4 MEDIDAS PROVISÓRIAS ................................................................................................................ 23 5 LEIS DELEGADAS ............................................................................................................................... 25 6 RESOLUÇÕES E DECRETOS LEGISLATIVOS ............................................................................. 26 7 DECRETOS REGULAMENTARES ................................................................................................... 27 8 TRATADOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS ................................................................... 28 9 NORMAS COMPLEMENTARES ...................................................................................................... 29 9.1 ATOS NORMATIVOS ..................................................................................................................... 31 9.2 DECISÕES ADMINISTRATIVAS................................................................................................... 32 9.3 PRÁTICAS REITERADAS .............................................................................................................. 32 9.4 CONVÊNIOS .................................................................................................................................... 32 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 34 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 35 TÓPICO 3 – INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA LEI TRIBUTÁRIA ................................ 37 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 37 2 NOÇÕES DE INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO ..................................................................... 37 3 INTEGRAÇÃO DO DIREITO TRIBUTÁRIO ................................................................................ 38 3.1 ANALOGIA ...................................................................................................................................... 39 3.2 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO TRIBUTÁRIO ................................................................... 39 3.3 PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO PÚBLICO ........................................................................... 41 3.4 EQUIDADE ....................................................................................................................................... 42 4 PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO PRIVADO ............................................................................ 43 5 INTERPRETAÇÃO LITERAL ............................................................................................................. 43 6 INTERPRETAÇÃO BENIGNA .......................................................................................................... 44 RESUMODO TÓPICO 3........................................................................................................................ 46 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 47 sumário VIII TÓPICO 4 – VIGÊNCIA E APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA ............................. 49 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 49 2 VIGÊNCIA DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA ............................................................................... 49 2.1 VIGÊNCIA NO ESPAÇO ................................................................................................................ 50 2.2 VIGÊNCIA NO TEMPO ................................................................................................................. 51 3 APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA ........................................................................... 52 3.1 APLICAÇÃO RETROATIVA DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA .............................................. 53 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 55 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 60 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 61 UNIDADE 2 – CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO DOS TRIBUTOS ............................................. 63 TÓPICO 1 – CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO DOS TRIBUTOS ................................................. 65 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 65 2 CONCEITO DE TRIBUTO.................................................................................................................. 65 3 CLASSIFICAÇÃO DOS TRIBUTOS ................................................................................................ 66 3.1 IMPOSTOS ........................................................................................................................................ 67 3.2 TAXAS ............................................................................................................................................... 69 3.3 CONTRIBUIÇÕES DE MELHORIA ............................................................................................. 71 3.4 EMPRÉSTIMOS COMPULSÓRIOS............................................................................................... 73 3.5 CONTRIBUIÇÕES .......................................................................................................................... 74 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 77 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 78 TÓPICO 2 – COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA E LIMITES AO PODER DE TRIBUTAR ........... 81 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 81 2 COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA ........................................................................................................ 81 2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS ................................................................................. 82 2.1.1 Competência Privativa ........................................................................................................... 82 2.1.2 Competência Comum/Concorrente ..................................................................................... 83 2.1.3 Competência Cumulativa ...................................................................................................... 83 2.1.4 Competência Residual ........................................................................................................... 84 2.1.5 Competência Extraordinária ................................................................................................. 84 3 LIMITES NO PODER DE TRIBUTAR ............................................................................................. 85 3.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ..................................................................................................... 86 3.2 PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE – ANUAL E NONAGESIMAL ....................................... 87 3.3 PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE ....................................................................................... 90 3.4 PRINCÍPIO DA ISONOMIA .......................................................................................................... 91 3.5 PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA .................................................................... 92 3.6 PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DE CONFISCO .............................................................................. 93 3.7 PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE TRÁFEGO DE BENS E PESSOAS ...................................... 93 4 IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS ......................................................................................................... 94 4.1 IMUNIDADE DAS ENTIDADES POLÍTICAS/RECÍPROCA ................................................... 95 4.2 IMUNIDADE AOS TEMPLOS DE QUALQUER NATUREZA ................................................ 95 4.3 IMUNIDADE AOS PARTIDOS POLÍTICOS, SINDICATOS DE EMPREGADOS, ÀS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO E ENTIDADES DE ASSISTÊNCIA SOCIAL .................... 96 4.4 IMUNIDADE À IMPRENSA ......................................................................................................... 97 4.5 IMUNIDADE MUSICAL ................................................................................................................ 97 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 98 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 99 IX TÓPICO 3 – RELAÇÃO JURÍDICA TRIBUTÁRIA ........................................................................101 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................101 2 ELEMENTOS DA RELAÇÃO JURÍDICA TRIBUTÁRIA ..........................................................101 2.1 HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA E FATO GERADOR .................................................................102 2.2 OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA ........................................................................................................104 2.2.1 Sujeitos da obrigação tributária ..........................................................................................104 2.2.2 Responsabilidade tributária ................................................................................................105 2.2.3 Objeto e causa da obrigação tributária ..............................................................................107 3 LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO .......................................................................................................108 4 CRÉDITO TRIBUTÁRIO ..................................................................................................................109 4.1 SUSPENSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO ...............................................................................110 4.2 EXCLUSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO ................................................................................111 4.3 EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO .................................................................................112 5 CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA E EXECUÇÃO FISCAL..........................................................115 6 REGIMES DE TRIBUTAÇÃO ..........................................................................................................118 7 PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO ..................................................................................................119 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................121 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................124 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................125 UNIDADE 3 – DIREITO EMPRESARIAL ........................................................................................127 TÓPICO 1 – BREVE HISTÓRICO – SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DO DIREITO EMPRESARIAL.....................................................................................129 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129 2 A TEORIA DA EMPRESA ................................................................................................................131 3 A EMPRESA .........................................................................................................................................132 4 O EMPRESÁRIO INDIVIDUAL .....................................................................................................133 4.1 PROIBIDOS DE EXERCER ATIVIDADE EMPRESARIAL ......................................................134 5 EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA – EIRELI .......................135 5.1 REQUISITOS E IMPEDIMENTOS PARA SER TITULAR DE EIRELI ...................................136 6 EMPRESÁRIOS RURAIS ..................................................................................................................138 7 MICROEMPRESÁRIOS E EMPRESÁRIOS DE PEQUENO PORTE .......................................139 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................142 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................143 TÓPICO 2 – SOCIEDADES EMPRESÁRIAS ..................................................................................145 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................145 2 SOCIEDADES DE PROPÓSITO ESPECÍFICO (SPE) .................................................................146 2.1 DIFERENÇA ENTRE SPE E CONSÓRCIO CONTRATUAL ..................................................147 3 SOCIEDADES PERSONIFICADAS E NÃO PERSONIFICADAS ...........................................147 3.1 SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS OU DESPERSONIFICADAS ...............................148 3.1.1 Sociedade em Comum .........................................................................................................148 3.1.2 Sociedade em Conta de Participação .................................................................................150 3.2 SOCIEDADES PERSONIFICADAS ...........................................................................................151 3.2.1 Sociedades Simples ...............................................................................................................152 3.2.2 Sociedades Empresárias .......................................................................................................154 3.2.2.1 Sociedades Empresárias Limitadas .................................................................................155 3.2.2.2 Sociedade Anônima (S.A.) ................................................................................................158 3.2.2.3 Sociedade em Nome Coletivo ..........................................................................................161 3.2.2.4 Sociedade em Comandita Simples ..................................................................................162 3.2.2.5 Sociedade em Comandita por Ações ..............................................................................163 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................165 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................166 X TÓPICO 3 – TÍTULOS DE CRÉDITO, RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FALÊNCIA .......167 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................167 2 O SURGIMENTO DO CRÉDITO ...................................................................................................167 3 CONCEITO E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO TÍTULO DE CRÉDITO ..................169 4 CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO ......................................................................171 5 CONCEITOS IMPORTANTES LIGADOS AOS TÍTULOS DE CRÉDITO ............................172 5.1 ENDOSSO .......................................................................................................................................172 5.2 AVAL ................................................................................................................................................173 5.3 PROTESTO ......................................................................................................................................174 5.4 PRESCRIÇÃO .................................................................................................................................175 6 TÍTULOS DE CRÉDITO EM ESPÉCIE...........................................................................................175 6.1 LETRA DE CÂMBIO .....................................................................................................................176 6.2 NOTA PROMISSÓRIA ..................................................................................................................177 6.3 CHEQUES .......................................................................................................................................179 6.4 DUPLICATA ...................................................................................................................................182 7 DA RECUPERAÇÃO DA EMPRESA..............................................................................................183 7.1 DA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL ...................................................................................183 7.2 DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL .................................................................................................186 8 FALÊNCIA ............................................................................................................................................187 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................190 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................193 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................194 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................197 1 UNIDADE 1 DIREITO TRIBUTÁRIO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você será capaz de: • entender o conceito de direito tributário, suas principais fontes e a sua relação com os outros ramos do direito; • compreender a legislação tributária, sua vigênciae aplicação, sua interpretação e integração ao caso concreto, a ponto de facilitar no seu dia a dia profissional. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada um deles, você encontrará atividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CONCEITO DE DIREITO TRIBUTÁRIO TÓPICO 2 – FONTES DO DIREITO TRIBUTÁRIO TÓPICO 3 – INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA LEI TRIBUTÁRIA TÓPICO 4 – VIGÊNCIA E APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 CONCEITO DE DIREITO TRIBUTÁRIO 1 INTRODUÇÃO A denominação direito tributário está consagrada no direito brasileiro, sendo a expressão mais adequada, segundo o entendimento majoritário dos estudiosos do assunto. Por outro lado, assevera Difini (2006), que em outros países é utilizado o termo direito fiscal, como no direito francês (droit fiscal), inglês (fiscal law), bem como em Portugal que, segundo estudiosos, limita o ramo jurídico ao estudo de um só dos polos (o polo ativo) da relação jurídica tributária, qual seja o fisco, desprezando o outro, no qual se encontra o sujeito passivo (contribuinte e/ou responsável). Assim, a terminologia direito tributário, para a denominação do ramo jurídico, objeto de nosso estudo, vem sendo adotada em nosso direito desde a Emenda Constitucional no 18, de 1965, que organizou o Sistema Tributário Nacional. Daí passou à Lei nº 5.172/66, o Código Tributário Nacional e às constituições subsequentes (BRASIL,1966). A Constituição Federal de 1988, no Capítulo I (artigos 145 a 162) do Título VI, cuida do Sistema Tributário Nacional (BRASIL, 1988). 2 CONCEITO DO DIREITO TRIBUTÁRIO O conceito de tributo encontra-se descrito no artigo 3º do Código Tributário Nacional (Lei no 5.172/1966), o qual traduz que: “Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”. UNIDADE 1 | DIREITO TRIBUTÁRIO 4 FIGURA 1 – CONCEITO DE TRIBUTO Prestação Pecuniária deve ser paga em dinheiro Prestação compulsória o pagamento é obrigatório Prestação que não constitui sanção por ao ilícito, o pagamento não tem intenção de penalidade Prestação cobrada por atividade vinculada, o contribuinte está obrigado a pegar o tributo e o fisco não pode se recusar a cobrar o tributo devido T R IB U T O Prestação instituída por lei FONTE: Os autores Existe discordância na doutrina quanto ao conceito de Direito Tributário, entre as diversas conceituações, cada autor escolhe certos elementos que considera mais significativos para chegar ao conceito (MAZZA, 2018). Para Souza (1993, p. 40), um dos percursores da ciência tributária no Brasil, “Direito Tributário é o ramo do direito público que rege as relações jurídicas entre o Estado e os particulares, decorrentes da atividade financeira do Estado no que se refere à obtenção de receitas que correspondam ao conceito de tributos”. De acordo com Machado (2004, p. 63), defensor de uma concepção mais garantista, “é o ramo do Direito que se ocupa das relações entre o Fisco e as pessoas sujeitas a imposições tributárias de qualquer espécie, limitando o poder de limitar e protegendo o cidadão contra os abusos desse poder”. Torres (2006, p. 35), por sua vez, adota uma conceituação objetiva funcional voltada para as atividades estatais que são objeto do ramo. “Direito Tributário é o conjunto de normas e princípios que regulam a atividade financeira relacionada com a instituição e cobrança de tributos: impostos, taxas, contribuições e empréstimos compulsórios”. TÓPICO 1 | CONCEITO DE DIREITO TRIBUTÁRIO 5 Para Carvalho (2004, p. 4), “direito tributário positivo é o ramo didaticamente autônomo do direito, integrado pelo conjunto de proposições jurídico-normativas que correspondam, direta ou indiretamente, à instituição, arrecadação e fiscalização de tributos”. A análise dos conceitos anteriormente apresentados permite identificar alguns elementos fundamentais, isto é, núcleos conceituais que são úteis para formar uma compreensão mais detalhada do que é o direito tributário (MAZZA, 2018). Confira no quadro a seguir: QUADRO 1 – ANÁLISE DO CONCEITO DE DIREITO TRIBUTÁRIO Atividade financeira para obtenção de rendimentos Finalidade essencial à captação de recursos para custeio do Estado. Limite do poder de tributar e proteção do cidadão Regrar as atividades fiscais estabelecendo restrições ao poder de cobrar tributos como forma de proteger os direitos do contribuinte. Instituição e cobrança de tributos Estabelecer tributos, cobrança de tributos, fiscalização do pagamento do tributo. Autônomo Ramo didaticamente autônomo, o direito em si, considerado como o conjunto de regras impostas pelo Estado. Disciplina jurídica de tributos O direito tributário constitui um ramo jurídico integralmente construído em torno de um único instituto: o tributo. FONTE: Adaptado de Mazza (2018) A partir das conceituações dos autores citados. Podemos dizer que: o direito tributário é o ramo de direito público que estuda princípios e normas disciplinadoras do exercício das atividades de instituição, cobrança e fiscalização de tributos. Desta forma quando o dinheiro do contribuinte ingressa nos cofres públicos, termina o direito tributário e começa o direito financeiro (MAZZA, 2018). 2.1 DIREITO FINANCEIRO E DIREITO TRIBUTÁRIO São frequentes as confusões envolvendo os conceitos de direito tributário e direito financeiro. O direito financeiro é o ramo do direito público (domínio deontológico, ciência do dever e da obrigação) que tem por objeto a disciplina jurídica das atividades jurídicas do Estado, com exceção daquelas de natureza tributária. A exceção das atividades de natureza tributárias é relevante porque essas atividades de criação, cobrança e fiscalização de tributos também são atividades financeiras do Estado, mas pertencem ao objeto específico do direito tributário e foram extintas do direito financeiro (MAZZA, 2018). UNIDADE 1 | DIREITO TRIBUTÁRIO 6 Desse modo, as atividades financeiras compreendidas no objeto do direito financeiro são: despesa pública, receita pública, crédito público e orçamento público. Confira a tabela a seguir: TABELA 1 – COMPARATIVO DO DIREITO TRIBUTÁRIO E DIREITO FINANCEIRO Direito Tributário Direito Financeiro Ramo do direito público Ramo do direito público Conjunto de princípios e normas que regula as relações jurídicas entre Estado e o particular. Conjunto de princípios e normas que regula a atividade financeira do Estado. Atividades de instituição, cobrança e fiscalização de tributos. Despesa pública, receita pública, crédito público e orçamento público. FONTE: Adaptado de Mazza (2018) 2.2 DIREITO TRIBUTÁRIO COMO RAMO DO DIREITO PÚBLICO O direito tributário classifica-se como ramo do direito público à medida em que desenvolve a criação, cobrança e fiscalização de tributos, que são atividades que o ordenamento jurídico brasileiro define como próprias de Estado. FIGURA 2 – CARACTERÍSTICAS DO DIREITO TRIBUTÁRIO Direito Público: Criação, cobrança e fiscalização de tributos Direito Obrigacional: Relação jurídica entre o fisco e a contribuinte Direito Comum: Aplicável à generalidade das pessoas Direito Material: Natureza substancial ou formal FONTE: Os autores Por estabelecer uma atividade de natureza formal, o direito tributário é ramo de direito material, obrigacional, na relação jurídica ligando o fisco ao contribuinte, direito comum no sentido de ser aplicável à generalidade das pessoas. TÓPICO 1 | CONCEITO DE DIREITO TRIBUTÁRIO 7 2.3 RELAÇÕES DO DIREITO TRIBUTÁRIO COM OUTROS RAMOS DO DIREITO O direito tributário tem autonomia didática, possuindo princípios próprios e técnicas especificas para compreensão do seu objeto (criação, cobrança e fiscalização de tributos). Embora seja autônomo, o direito tributário tem diversos pontos de conexão com outras disciplinas jurídicas(MAZZA, 2018), conforme será visto a seguir: O direito financeiro é o estudo da normatização das atividades financeiras do Estado. Assim, entende-se que a criação, cobrança e fiscalização de tributos são atividades materialmente financeiras, mas que foram subtraídas do campo de interesse do direito financeiro para integrar, pelo processo de especialização, o objeto do direito tributário (MAZZA, 2018). FIGURA 3 – DIREITO FINANCEIRO Direito Financeiro Destinação do dinheiro arrecadado pelo fisco. FONTE: Os autores O direito constitucional versa sobre o Sistema Tributário Nacional, abrangendo os artigos 145 a 162 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), implicando a constitucionalização dos seguintes temas tributários: a) Espécies de tributos (arts. 145, 148, 149 e 195) Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: I - impostos; II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição; III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas. § 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. § 2º As taxas não poderão ter base de cálculo própria de impostos. UNIDADE 1 | DIREITO TRIBUTÁRIO 8 Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios: I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, "b". Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo. § 1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão contribuição, cobrada de seus servidores, para o custeio, em benefício destes, do regime previdenciário de que trata o art. 40, cuja alíquota não será inferior à da contribuição dos servidores titulares de cargos efetivos da União (Nova redação dada pela EC 41/03). Redação original: § 1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir contribuição, cobrada de seus servidores, para o custeio, em benefício destes, de sistemas de previdência e assistência social. (Parágrafo renomeado pela EC nº 33/01) § 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de que trata o caput deste artigo: (§ 2º acrescentado pela EC 33/01) I - não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação; II - incidirão também sobre a importação de produtos estrangeiros ou serviços; (Nova redação dada ao inciso pela EC 42/03). Redação original. II - poderão incidir sobre a importação de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool combustível; III - poderão ter alíquotas: a) ad valorem, tendo por base o faturamento, a receita bruta ou o valor da operação e, no caso da importação, o valor aduaneiro; b) específica, tendo por base a unidade de medida adotada. § 3º A pessoa natural destinatária das operações de importação poderá ser equiparada a pessoa jurídica, na forma da lei. § 4º A lei definirá as hipóteses em que as contribuições incidirão uma única vez. Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: (Vide Emenda Constitucional nº 20, de 1998). b) Reserva de Lei complementar (art. 146) Art. 146. Cabe à lei complementar: I - dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar; III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes; b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários; TÓPICO 1 | CONCEITO DE DIREITO TRIBUTÁRIO 9 c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas. d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e para as empresas de pequeno porte, inclusive regimes especiais ou simplificados no caso do imposto previsto no art. 155, II, das contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12 e 13, e da contribuição a que se refere o art. 239. (Redação dada à alínea "d" do inciso III e ao p. único e seus incisos pela EC 42/03). c) Competência tributária (arts. 147, 153, 155, e 156) Art. 147. Competem à União, em Território Federal, os impostos estaduais e, se o Território não for dividido em Municípios, cumulativamente, os impostos municipais; ao Distrito Federal cabem os impostos municipais. Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: I - importação de produtos estrangeiros; II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados; III - renda e proventos de qualquer natureza; IV - produtos industrializados; V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários; VI - propriedade territorial rural; VII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar. Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (Nova redação dada ao artigo pela EC 3/93) I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos; II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; III - propriedade de veículos automotores. Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: I - propriedade predial e territorial urbana; II - transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar (Nova redação dada ao inciso pela EC 3/93). d) Princípios (art. 150) Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos; III - cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; (Nova redação dada à alínea pela EC 42/03) IV - utilizar tributo com efeito de confisco; V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de UNIDADE 1 | DIREITOTRIBUTÁRIO 10 tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público; VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; b) templos de qualquer culto; c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão. e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser (Acrescentado pela EC 75/13). e) Imunidades (art. 150, VI) Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: VI - instituir impostos sobre; f) Tributação de guerra (arts. 148, I, e 154, II) Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios: I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; Art. 154. A União poderá instituir: II - na iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordinários, compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação. g) Regime do Simples Nacional (art. 146, parágrafo único) Art. 146. Cabe à lei complementar: Parágrafo único. A lei complementar de que trata o inciso III, d, também poderá instituir um regime único de arrecadação dos impostos e contribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, observado que: I - será opcional para o contribuinte; II - poderão ser estabelecidas condições de enquadramento diferenciadas por Estado; III - o recolhimento será unificado e centralizado e a distribuição da parcela de recursos pertencentes aos respectivos entes federados será imediata, vedada qualquer retenção ou condicionamento; IV - a arrecadação, a fiscalização e a cobrança poderão ser compartilhadas pelos entes federados, adotado cadastro nacional único de contribuintes. Além desses temas, o constituinte incluiu no Sistema Tributário Nacional as regras de repartição de receitas tributárias (arts. 157 e 158), tema que na verdade pertence ao objeto específico do direito financeiro (MAZZA, 2018). Primeiramente, as relações do direito tributário com o direito constitucional decorrem principalmente do fato de que a Constituição contém as bases do ordenamento jurídico, é nela que se encontra o próprio fundamento de validade do tributo, a outorga de competência tributária para as várias pessoas políticas (União, estados, Distrito Federal e municípios), e por fim, define os TÓPICO 1 | CONCEITO DE DIREITO TRIBUTÁRIO 11 lineamentos básicos do sistema tributário nacional (os princípios constitucionais tributários, as limitações ao poder de tributar, a discriminação de rendas e a repartição das receitas tributárias). É também na Constituição que se regulam os tipos de normas veiculadoras de preceitos tributários e o respectivo campo de atuação, ou seja, quando a matéria é de competência normativa da lei complementar, quais as matérias reservadas à lei ordinária, às resoluções do Senado Federal, os convênios etc. FIGURA 4 – DIREITO CONSTITUCIONAL Direito Constitucional A CF/88 em seu título V "Tributação e Orçamento" contribuindo para aproximar o direito tributário e o direito constitucional. Direito Administrativo Com exceção da criação de tributos, que é função legislativa, todas as atividades desempenhadas pela Administração Tributária, ou fisco, são manifestações da função administrativa, regidas pelos princípios e regras do direito administrativo. FONTE: Os autores O direito administrativo empresta ao direito tributário uma importante base valorativa e principiológica, como: os princípios administrativos da legalidade, impessoalidade, segurança jurídica, publicidade, entre outros. A estrutura organizacional e o quadro de pessoal componentes da administração tributária estão subordinados ao regramento do direito administrativo. Tem-se que toda a operação, visando à arrecadação e fiscalização de tributos, opera por intermédio dos órgãos que compõem a administração pública do Estado, cuja atuação é regida pelo direito administrativo. Tal determinação emana do próprio conceito de tributo dado pelo Código Tributário Nacional (BRASIL, 1966a). FIGURA 5 – DIREITO ADMINISTRATIVO FONTE: Os autores UNIDADE 1 | DIREITO TRIBUTÁRIO 12 O direito civil contribui com diversos institutos e conceitos para o direito tributário, sendo um ramo de sobreposição porque utiliza conceitos e institutos próprios de outros ramos do direito (MAZZA, 2018). Em todos os seus setores – direitos reais, direito das obrigações, direito de família, direito das sucessões –, fornece vários conceitos para a lei fiscal. Os contratos, as relações de família, as questões sucessórias e a propriedade tramitam na seara tributária, constituindo fatos geradores para a cobrança de tributos. Assim, por exemplo, em torno do contrato de compra e venda de imóvel, regulado pelo direito civil, a lei tributária pode estruturar uma ou mais relações tributárias, passando a exigir o recolhimento do imposto de transmissão inter vivos, de competência dos municípios. Já sobre o lucro que o vendedor apure, a lei estabelece a obrigação de pagamento do imposto de renda. FIGURA 6 – DIREITO CIVIL Direito Civil Utiliza diversos institutos e conceitos. Exemplo: o legislador define como hipótese de incidência de IPTU "ser proprietário de imóvel predial e território urbano", os conceitos de "proprietário" e "imóvel" são provenientes do direito civil. FONTE: Os autores O direito penal tem relação com o direito tributário, especialmente a existência dos chamados crimes contra a ordem tributária, tipificados na Lei no 8.137/90, que revogou a antiga Lei de Sonegação Fiscal (4.729/65). O crime mais importante definido na Lei é o de supressão ou redução de tributo (MAZZA, 2018). Além de sancionar criminalmente os ilícitos tributários considerados mais graves, como sonegação fiscal, apropriação indébita em matéria tributária etc, que constituem objeto do direito penal tributário, fornece, ao direito dos tributos, um conjunto de princípios extremamente útil no campo das infrações e penalidades fiscais de caráter não delituoso, como in dúbio pro reo e a retroatividade benigna (retroatividade de disposição legal sobre infração tributária mais favorável ao infrator). TÓPICO 1 | CONCEITO DE DIREITO TRIBUTÁRIO 13 Direito Penal Existência dos chamados crimes contra a ordem tributária, tipificados na Lei nº 8.137/90. Direito Processual Penal Ritos utilizados para apuração e o julgamento dos crimes contra a ordem tributária. FIGURA 7 – DIREITO PENAL FONTE: Os autores O direito processual penal colabora com os seus ritos utilizados para apuração e julgamento dos crimes contra a ordem tributária, sendo um ramo do direito público com o qual o direito tributário tem uma relação de proximidade e colaboração (MAZZA, 2018). FIGURA 8 – DIREITO PROCESSUAL PENAL FONTE: Os autores O direito empresarial possui pontos de conexão com o direito tributário especialmente no que diz respeito ao tema da responsabilidade tributária (MAZZA, 2018). FIGURA 9 – DIREITO EMPRESARIAL Direito Empresarial Responsabilidade tributária nas transformações empresariais, no trespasse empresarial e desconsideração da personalidade jurídica para fins tributários. FONTE: Os autores UNIDADE 1 | DIREITO TRIBUTÁRIO 14 Direito Processual Civil Estabelece o devido processolegal para cobrança judicial de tributos, bem como para propositura de ações em defesa do contribuinte. Direito Internacional Público Celebração de Tratados e Convenções internacionais versando sobre questões tributárias. O direito processual civil define as normas adjetivas (formais) a serem observadas quando a questão tributária material for levada a juízo pelo contribuinte ou pelo fisco (MAZZA, 2018). FIGURA 10 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL FONTE: Os autores O direito internacional público relaciona-se ao direito tributário com a celebração de tratados e convenções internacionais versando sobre questões tributárias. A participação do Brasil no Mercosul tem criado novos desafios envolvendo tributação internacional, especialmente ao equilíbrio da balança comercial nas importações e exportações (MAZZA, 2018). FIGURA 11 – DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO FONTE: Os autores Desta forma, quanto ao caráter relativo da autonomia de qualquer ramo do direito, sempre que se estuda essa questão, deve-se levar em consideração que todos se inter-relacionam, mantendo entre si correlações que configuram a unidade do sistema jurídico. Logicamente, disso não escapa o direito tributário, que se vale das construções elaboradas por outros segmentos do direito para, sobre elas, estruturar as relações tributárias. 15 Neste tópico, você aprendeu que: • O direito tributário, na forma adotada pelo direito brasileiro, decorre de uma complexa construção jurídica, cujos parâmetros são estabelecidos pela Constituição Federal de 1988. • O direito tributário é um ramo do direito público em razão do claro interesse do Estado na arrecadação dos tributos perante os particulares. • O direito tributário mantém estreitas relações com o direito constitucional, financeiro, administrativo, penal, processual e com o direito privado. RESUMO DO TÓPICO 1 16 1 Descreva as diferenças entre o direito tributário e o direito financeiro. 2 O direito tributário tem diversos pontos de conexão com outros ramos do direito. Com base nessa afirmativa, descreva as disciplinas jurídicas que envolvem o direito tributário. AUTOATIVIDADE 17 TÓPICO 2 FONTES DO DIREITO TRIBUTÁRIO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Quando a palavra fonte é utilizada sob a ótica jurídica, adquire sentido próprio e especial, significando o nascedouro, o que determina as regras norteadoras de determinado instituto. A expressão fontes do direito, segundo Moraes (apud ROSA JÚNIOR, 1991, p. 134), é empregada com o significado de “ponto originário de onde provém ou nasce a norma jurídica”, sendo expressão sinônima de “causas de nascimento do direito”, correspondendo, pois, aos processos de criação das normas jurídicas. De acordo com a lição de Carvalho (2004, p. 4), as fontes do direito devem ser compreendidas como “focos ejetores de regras jurídicas, isto é, os órgãos habilitados pelo sistema para produzirem normas, numa organização escalonada”. As fontes são, portanto, o modo de expressão do direito. Em sistemas de direito escrito, como o brasileiro, a fonte básica do direito é a lei. Tal concepção é ainda mais importante no direito tributário, uma vez que é regido pelo princípio da legalidade. Sobre a legislação tributária, assim estabelece o art. 96 do Código Tributário Nacional: “Art. 96. A expressão “legislação tributária” compreende as leis, os tratados e as convenções internacionais, os decretos e as normas complementares que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e relações jurídicas a eles pertinentes” (BRASIL, 1966a). ATENCAO A doutrina e a jurisprudência exercem, também no campo tributário, sua importância na construção do direito, mas com influência mais restrita, em virtude do princípio da estrita legalidade dos tributos. Cabe salientar a diferença entre legislação tributária e Lei tributária. Conforme quadro a seguir: UNIDADE 1 | DIREITO TRIBUTÁRIO 18 QUADRO 2 – CONCEITOS DE LEGISLAÇÃO E LEI TRIBUTÁRIA Legislação Tributária Lei Tributária Conceito abrangente Conceito restrito Inclui leis, tratados, convenções internacionais, decretos e normas complementares (atos normativos, decisões do fisco, convênios e costumes) Somente leis em sentido formal emanadas do Parlamento (ordinárias, complementares, emendas constitucionais) Fonte da obrigação tributária acessória Fonte da obrigação tributária principal FONTE: Mazza (2018) 2 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 O substantivo fonte pode evidenciar vários sentidos, dependendo da interpretação que se lhe atribui. Comumente, poderíamos entendê-lo como “aquilo que origina ou produz; origem, causa” (AURÉLIO, 2010). Contudo, quando a expressão fonte é utilizada sobre o ponto de vista jurídico, adquire sentido próprio e específico, significando a origem das regras norteadoras de determinado instituto. Fontes do direito são centros criadores de regras jurídicas, no direito tributário podemos encontrar as seguintes fontes: materiais, reais e formais (primárias e secundárias). Fontes materiais são os órgãos habilitados pelo sistema para produção de normas tributárias, assim como os acontecimentos sociais relevantes para criação de regras jurídicas. Exemplo: Congresso Nacional, Assembleias Legislativas, Câmaras Municipais, Presidência da República (na edição de medidas provisórias tributárias) (MAZZA, 2018). Fontes formais são os veículos introdutores de normas tributárias, como as leis ordinárias, as leis complementares, as medidas provisórias, a Constituição Federal etc. As fontes formais se dividem em primárias e secundárias (MAZZA, 2018). TÓPICO 2 | FONTES DO DIREITO TRIBUTÁRIO 19 FIGURA 12 – FONTES FORMAIS FONTES FORMAIS Primárias: conhecidas também como principais ou imediatas, são aquelas que podem criar efetivamente regras jurídicas, inovando em caráter originário na ordem jurídica. Exemplo: leis, medidas provisórias, emendas constitucionais; Secundárias: conhecidas também como acessórios ou mediatas, são aquelas que podem somente detalhar regras introduzidas pelas fontes primárias. Exemplo: decretos, regulamentos, instruções normativas, portarias ministeriais. FONTE: Mazza (2018) Ainda que abstratamente, encontramos, na Carta da República, a descrição de vários tributos, sendo estabelecidas, ainda, referências aos impostos, às taxas e às hipóteses em que estas são admitidas: à contribuição de melhoria e seus pressupostos; e ao delineamento dos empréstimos compulsórios. Por outro lado, é importante salientar que a Constituição Federal, embora seja considerada a principal lei tributária, não cria tributos. A competência tributária para tal é da lei infraconstitucional. Contudo, é na Constituição que encontramos a delimitação e o fracionamento da competência tributária, na qual a União, os estados, os municípios e o Distrito Federal receberam cada qual um campo tributável próprio. Assim, a Constituição não criou tributos, apenas atribuiu competências para que as pessoas políticas, por meio de lei, venham a fazê-lo. 2.1 EMENDAS CONSTITUCIONAIS As emendas constitucionais podem modificar as regras tributárias contidas no texto constitucional, inserindo novos comandos ou suprimindo os já existentes sem violar as Cláusulas Pétreas (MAZZA, 2018). As Cláusulas Pétreas são consideradas um Dispositivo constitucional que não pode ser alterado nem por Proposta de Emenda à Constituição (PEC). As cláusulas pétreas inseridas na Constituição do Brasil de 1988 estão dispostas em seu artigo 60, §4º. São elas: a forma federativa de Estado; o voto direto, secreto, universal e periódico; a separação dos Poderes; e os direitos e garantias individuais (SENADO, 2018). Sucessivas emendas constitucionais já foram promulgadas versando sobre matéria tributária, merecendo destaque: UNIDADE 1 | DIREITO TRIBUTÁRIO 20 QUADRO 3 – EMENDAS CONSTITUCIONAIS Emenda Constitucional no 3/93 Autorizou a União a instituir o imposto sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira– IPMF (art. 2º da Emenda): “Art. 2.º (*) A União poderá instituir, nos termos de lei complementar, com vigência até 31 de dezembro de 1994, imposto sobre movimentação ou transmissão de valores e de créditos e direitos de natureza financeira”. Emenda Constitucional no 17/97 Alterou regras de distribuição aos Municípios da receita proveniente da arrecadação do Imposto de Renda (art. 3º da Emenda): “A União repassará aos Municípios, do produto da arrecadação do Imposto sobre a Renda e Proventos de qualquer natureza, tal como considerado na constituição dos fundos de que trata o art. 159, I, da Constituição, excluída a parcela referida no art. 72, I, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias”. Emenda Constitucional no 20/98 Modificou o regime constitucional das contribuições sociais (art. 195, I, da CF/88): “Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: (Vide Emenda Constitucional nº 20, de 1998) I - dos empregadores, incidente sobre a folha de salários, o faturamento e o lucro”. Emenda Constitucional no 32/2001 Alterou o regime das medidas provisórias tributárias (art. 62, §2º, da CF/88) “Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional; § 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)”. TÓPICO 2 | FONTES DO DIREITO TRIBUTÁRIO 21 Emenda Constitucional n. 33/2001 Disciplinou a instituição de Cides (art. 149, §2º) e alterou regras do ICMS (art. 155, §2º, IX, da CF/88) Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo. § 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de que trata o caput deste artigo: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001”. “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) § 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) IX - incidirá também: a) sobre a entrada de bem ou mercadoria importados do exterior por pessoa física ou jurídica, ainda que não seja contribuinte habitual do imposto, qualquer que seja a sua finalidade, assim como sobre o serviço prestado no exterior, cabendo o imposto ao Estado onde estiver situado o domicílio ou o estabelecimento do destinatário da mercadoria, bem ou serviço; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001). Emenda Constitucional n. 42/2003 Modif icou o regime da anter ior idade tributária (art. 150, III, “c”, da CF/88) Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: III - cobrar tributos: c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003). UNIDADE 1 | DIREITO TRIBUTÁRIO 22 Emenda Constitucional n. 55/2007 Alterou os percentuais de distribuição de receita do IPI (art. 159, I, “d”, da CF/88) “A União entregará: (Vide Emenda Constitucional nº 55, de 2007) I - do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e proventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados quarenta e oito por cento na seguinte forma: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 55, de 2007) d) um por cento ao Fundo de Participação dos Municípios, que será entregue no primeiro decêndio do mês de dezembro de cada ano; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 55, de 2007)”. FONTE: Adaptado de Mazza (2018) Assim como ocorre com o próprio texto constitucional, as emendas constitucionais não criam tributos, pois esta tarefa é exclusiva do legislador ao definir legalmente os cinco aspectos da hipótese de incidência tributária (aspecto pessoal, material, territorial, temporal e quantitativo) (MAZZA, 2018). 3 LEI ORDINÁRIA O direito tributário, em regra, é disciplinado por lei ordinária. O uso de lei complementar em matéria de tributação constitui exceção. Desta maneira, as leis ordinárias são o veículo normativo mais importante para disciplina dos temas tributários não gerais de competência federal. Neste sentido, cabe à lei ordinária disciplinar tudo aquilo que não estiver sobre reserva de lei complementar (MAZZA, 2018). FIGURA 13 – EXEMPLOS DE LEI ORDINÁRIA IPTU CONTRIBUIÇÕES DE MELHORIAS TAXAS CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS Realizada por meio de lei ordinária FONTE: Os autores Todavia, como ocorre na esfera federal, a lei ordinária também é a fonte formal mais importante para o direito tributário nos âmbitos estadual, distrital e municipal. Compete à Lei Ordinária, entre outros temas, instituir, majorar, reduzir e extinguir todos os tributos de competência dos Estados, Distrito Federal e Municípios (MAZZA, 2018). TÓPICO 2 | FONTES DO DIREITO TRIBUTÁRIO 23 4 MEDIDAS PROVISÓRIAS As medidas provisórias constituem inovação da Constituição Federal (BRASL,1988, s.p.), sendo o seu campo de atuação determinado em seu artigo 62. Vejamos seu teor: Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral; b) direito penal, processual penal e processual civil; c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros; d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º; [...] II - que vise à detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro; III - reservada a lei complementar; IV - já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República. § 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada. § 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12, perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes. § 4º O prazo a que se refere o § 3º contar- se-á da publicação da medida provisória, suspendendo-se durante os períodos de recesso do Congresso Nacional. § 5º A deliberação de cada uma das Casas do Congresso Nacional sobre o mérito das medidas provisórias dependerá de juízo prévio sobre o atendimento de seus pressupostos constitucionais. § 6º Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de sua publicação, entrará em regime de urgência, subsequentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todasas demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando. § 7º Prorrogar-se-á uma única vez por igual período a vigência de medida provisória que, no prazo de sessenta dias, contado de sua publicação, não tiver a sua votação encerrada nas duas Casas do Congresso Nacional. § 8º As medidas provisórias terão sua votação iniciada na Câmara dos Deputados. § 9º Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores examinar as medidas provisórias e sobre elas emitir parecer, antes de serem apreciadas, em sessão separada, pelo plenário de cada uma das Casas do Congresso Nacional. § 10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo. § 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até sessenta dias após a rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante sua vigência conservar-se-ão por ela regidas. § 12. Aprovado projeto de lei de conversão alterando o texto original da medida provisória, esta manter-se-á integralmente em vigor até que seja sancionado ou vetado o projeto. UNIDADE 1 | DIREITO TRIBUTÁRIO 24 A partir da publicação da medida provisória, o Congresso Nacional tem prazo de sessenta dias, prorrogável, uma vez, por igual período, para aprová-la ou rejeitá-la. Sua aprovação poderá ser feita na íntegra ou com alterações. Por outro lado, havendo a rejeição da Medida Provisória, esta não pode ser reeditada. Por fim, apesar de ter força de lei, sua utilização é restrita. No campo tributário, poderá ser utilizada para a instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, da Constituição da República (BRASIL, 1966b), só produzindo efeitos no exercício financeiro seguinte, se houver sido convertida em lei até o último dia daquele ano em que foi editada. Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: I - importação de produtos estrangeiros; II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados; IV - produtos industrializados; V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários; Art. 154. A União poderá instituir: II - na iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordinários, compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação. No julgamento da ADI no 2391/2006, o Supremo Tribunal Federal admitiu a possibilidade de existirem medidas provisórias estaduais, desde que expressamente previstas na Constituição do respectivo Estado-membro. O entendimento baseou- se na ausência de proibição, na Constituição Federal de 1988, para outras esferas federativas editarem medidas provisórias (MAZZA, 2018). DICAS Plenário declara constitucional norma catarinense que permite edição de MP pelo Estado Por maioria de ministros, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) declarou constitucional dispositivo da Constituição do Estado de Santa Catarina que prevê a possibilidade de o governador daquele estado editar medidas provisórias. A decisão de hoje foi tomada no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 2391, ajuizada em 2001 pelo Partido dos Trabalhadores (PT), contra a Assembleia Legislativa catarinense (Alesc). No final de maio, o julgamento da ADI 2391 foi interrompido após o pedido de vista da ministra Cármen Lúcia Antunes da Rocha. Na ocasião, já haviam votado a ministra Ellen Gracie, relatora da ação, e os ministros Sepúlveda Pertence – acompanhando o voto da relatora, no qual julgou improcedente a ADI – e Carlos Ayres Britto, que a julgou procedente. O julgamento foi retomado em maio com a análise do mérito referente à possibilidade da edição de medida provisória na esfera estadual. A relatora lembrou que, no julgamento da TÓPICO 2 | FONTES DO DIREITO TRIBUTÁRIO 25 ADI 425, “a Corte reconheceu, por maioria, a constitucionalidade da instituição de medida provisória estadual, desde que, primeiro, esse instrumento esteja expressamente previsto na Constituição do Estado e, segundo, sejam observados os princípios e limitações impostas pela Constituição Federal”. Ellen Gracie citou o voto do relator da ADI 425, ministro Maurício Corrêa (aposentado), ao afirmar que o parágrafo 1º, do artigo 25, da Constituição Federal reservou aos Estados “as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição. Quis o constituinte que as unidades federadas pudessem adotar o modelo do processo legislativo admitido para a União, uma vez que nada está disposto, no ponto, que lhes seja vedado”. De acordo com a relatora, se a Constituição Federal não autorizou explicitamente os Estados- membros a adotarem medidas provisórias, “ela ofereceu, no entanto, forte e significativa indicação quanto a essa possibilidade quando estabeleceu no capítulo referente à organização e regência dos Estados a competência desses entes da federação para ‘explorar diretamente ou mediante concessão os serviços locais de gás canalizado na forma da lei, vedada, diz a Constituição, a edição de medida provisória para a sua regulamentação’ (artigo 25, parágrafo 2º, da CF)”. Para a ministra Ellen Gracie, “concluir de forma diversa nos levaria a indagar inevitavelmente se teria sentido endereçar tal restrição ao presidente da República num dispositivo que trata apenas de atividade exclusiva dos outros partícipes da federação, que não a União, ou ainda porque motivo a Constituição Federal imporia uma proibição específica quanto à utilização pelos Estados-membros de um instrumento legislativo que lhes fosse vedado a instituir”. Ellen Gracie concluiu seu voto no sentido da constitucionalidade da adoção de medidas provisórias pelos Estados, “com a condição inafastável de que esse instrumento esteja expressamente previsto na Constituição Estadual e nos mesmos moldes impostos pela Constituição Federal, tendo em vista a necessidade da observância simétrica do processo legislativo federal”. Hoje, todos os ministros votaram de acordo com o voto da relatora, vencido o ministro Carlos Ayres Britto. Nesta ADI, não votou o ministro Gilmar Mendes por ter atuado como advogado-geral da União na época. FONTE: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=67609>. Acesso em: 13 ago. 2018. 5 LEIS DELEGADAS Trata-se de ato normativo oriundo do Poder executivo, em forma de lei, emanado de delegação expressa do Poder legislativo, tão somente para casos específicos e concretos. UNIDADE 1 | DIREITO TRIBUTÁRIO 26 IMPORTANT E Sobre as leis delegadas, assim dispõe o artigo 68 da Constituição Federal (BRASIL, 1988, s.p.): Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional. § 1º Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação sobre: I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros; II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais; III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos. § 2º A delegação ao Presidente da República terá a forma de resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício. § 3º. Se a resolução determinar a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional, este a fará em votação única, vedada qualquer emenda. De acordo com o dispositivo constitucional sob enfoque, o Presidente elabora a lei delegada, após o deferimento do pedido de delegação formulado ao Congresso Nacional, que o confere mediante resolução. O objeto da delegação é restrito, não podendo envolver os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara dosDeputados ou do Senado Federal, a matéria adstrita à lei complementar e determinadas matérias próprias da legislação. Por outro lado, no campo tributário não há restrições à delegação em matéria tributária, podendo a lei delegada instituir e aumentar tributos, nos casos em que não se exige lei complementar. 6 RESOLUÇÕES E DECRETOS LEGISLATIVOS Resolução é uma espécie normativa utilizada para veiculação de matéria de competência privativa do Senado, da Câmara dos Deputados ou do Congresso Nacional (art. 51 e 52 da CF/88). A promulgação da resolução cabe ao Presidente do Senado (no caso de resolução do Senado ou do Congresso) ou da Câmara (para resolução da Câmara dos Deputados) (MAZZA, 2018). No que se trata ao direito tributário, a Constituição de 1988 prevê a necessidade de resolução nas seguintes hipóteses: TÓPICO 2 | FONTES DO DIREITO TRIBUTÁRIO 27 QUADRO 4 – RESOLUÇÕES TRIBUTÁRIAS Aprovar delegação ao Presidente da República para editar leis delegadas (resolução do Congresso Nacional, art. 68, §2º, da CF/88): Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional. § 2º A delegação ao Presidente da República terá a forma de resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício. Estabelecer alíquota do ICMS (Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação aplicáveis às operações e prestações, interestaduais e de exportação, mediante resolução do Senado, de iniciativa do Presidente da República ou de um terço dos senadores, aprovada pela maioria de seus membros (art. 155, §2º, IV, da CF/88): § 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: IV - resolução do Senado Federal, de iniciativa do Presidente da República ou de um terço dos Senadores, aprovada pela maioria absoluta de seus membros, estabelecerá as alíquotas aplicáveis às operações e prestações, interestaduais e de exportação; Definir alíquota mínima e máxima do ICMS (Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação) nas operações internas (resolução Senado, art. 155, §2º, V, a e b, da CF/88 Fixar alíquota máxima do ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação) Estabelecer alíquota mínima do IPVA (imposto sobre a propriedade de veículos automotores) resolução Senado, art. 155, III, da CF/88: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: III - propriedade de veículos automotores/’. FONTE: Mazza (2018), adaptado pelos autores. 7 DECRETOS REGULAMENTARES Decretos e regulamentos são atos administrativos gerais e abstratos, expedidos privativamente pelos Chefes do Executivo (MAZZA, 2018). FIGURA 14 – CHEFES DOS PODERES DO EXECUTIVO Presidente da República C h e fe s d o e xe cu ti vo Prefeitos Governadores FONTE: Os autores UNIDADE 1 | DIREITO TRIBUTÁRIO 28 Ainda no que corresponde ao decreto regulamentar, conforme determinação do art. 84, inciso IV, da Constituição Federal (BRASIL, 1988), é de competência privativa do Presidente da República “sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução”. O decreto, portanto, traça as regras para a fiel execução da lei da qual é dependente, sendo mero complemento e de cujos limites não se pode afastar, observadas as regras de interpretação estabelecidas pelo Código Tributário Nacional. 8 TRATADOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS Os tratados e convenções internacionais dos quais o Brasil seja signatário são fontes formais do Direito Tributário, sendo considerados Legislação Tributária pela Lei no 5.172/66 (BRASIL, 1966a, s.p.): Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Art. 96. A expressão "legislação tributária" compreende as leis, os tratados e as convenções internacionais, os decretos e as normas complementares que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e relações jurídicas a eles pertinentes. Os tratados e as convenções internacionais derivam de atos externos que provocam efeitos na ordem jurídica interna, por força do art. 98 do Código Tributário Nacional (BRASIL,1966), atribuindo-lhes, especialmente, o caráter revogatório ou modificativo. Os atos que envolvem os tratados e as convenções são celebrados pelo Presidente da República, porém, devem ser referendados pelo Congresso Nacional, mediante decretos legislativos: “Art. 98. Os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a legislação tributária interna, e serão observados pela que lhes sobrevenha”. IMPORTANT E Sobre a competência do Presidente da República para a celebração de tratados e convenções internacionais, assim dispõe a Constituição Federal (BRASIL, 1988): “Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: [...]” “VIII – celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;[...]”. TÓPICO 2 | FONTES DO DIREITO TRIBUTÁRIO 29 9 NORMAS COMPLEMENTARES Norma complementar é aquela que completa uma norma constitucional que não é autoexecutável, ou seja, não possui eficácia própria e está sujeita à aprovação por maioria absoluta. A norma complementar em matéria tributária está prevista também no art. 146 da CF/88 (s.p.): Art. 146. Cabe à lei complementar: I - dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar; III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes; b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários; c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas. d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e para as empresas de pequeno porte, inclusive regimes especiais ou simplificados no caso do imposto previsto no art. 155, II, das contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12 e 13, e da contribuição a que se refere o art. 239. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) Parágrafo único. A lei complementar de que trata o inciso III, d, também poderá instituir um regime único de arrecadação dos impostos e contribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, observado que: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) I - será opcional para o contribuinte; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) II - poderão ser estabelecidas condições de enquadramento diferenciadas por Estado; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) III - o recolhimento será unificado e centralizado e a distribuição da parcela de recursos pertencentes aos respectivos entes federados será imediata, vedada qualquer retenção ou condicionamento; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) IV - a arrecadação, a fiscalização e a cobrança poderão ser compartilhadas pelos entes federados, adotado cadastro nacional único de contribuintes. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003). De acordo com o artigo acima, referente à lei complementar, podemos entender as seguintes características da norma complementar em matéria tributária, segundo Lima (2009): dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; regular as limitações constitucionais ao poder de tributar; estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária especialmente sobre definição de tributos
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