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1 MARCELA DE CASTRO MOLINARI APLICAÇÕES DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL AOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESCOLA PAULISTA DE DIREITO Especialização em Direito Civil e Processo Civil SÃO PAULO 2018 MARCELA DE CASTRO MOLINARI 2 APLICAÇÕES DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL AOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu, Especialização em Direito Civil e Processo Civil, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Especialista em Direito Civil e Processo Civil pela Escola Paulista de Direito (EPD). Orientador: Dr. SÃO PAULO 2018 3 FICHA CATALOGRÁFICA MARCELA DE CASTRO MOLINARI 4 APLICAÇÕES DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL AOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS Monografia apresentada à Escola Paulista de Direito (EPD), como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Direito Civil e Processo Civil. Aprovado com média______________________ São Paulo, 04 de dezembro de 2018. Banca Examinadora: ___________________________________________________________ Prof. Orientador: ........................................................................................... ___________________________________________________________ Prof. Orientador: ........................................................................................... ___________________________________________________________ Prof. Orientador: ........................................................................................... 5 DEDICATÓRIA Aos meus queridos e amados pais, Elizabeth de Castro Ribeiro e Marcos Molinari, que com muito carinho, dedicação e apoio, não mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha vida. Ao meu amado filho João Miguel, agradeço por me motivar a continuar a minha caminhada, mesmo tão pequeno, me trouxe luz e vida aos meus caminhos. 6 RESUMO Com o advento do Novo Código de processo civil, algumas alterações importantes ocorreram no âmbito do procedimento dos Juizados Especiais, principalmente na esfera Cível. Portanto, diante tais alterações, é necessários que os aplicadores do Direito tenham atenção ao realizar a aplicação do NCPC ao procedimento do Juizado Especial Cível. Como se sabe, o Juizado Especial Cível possua legislação especial própria, regida pela Lei nº 9.099/95, cuja determinação de seu funcionamento nem sempre está expresso, surgindo, portanto grandes discussões sobre a aplicação do NCPC e suas alterações no procedimento do Juizado Especial Cível. Dessa forma, o propósito maior do trabalho é a análise sobre as possibilidades de aplicação análoga do NCPC ao procedimento dos Juizados Especiais Cíveis, pois realiza uma abordagem sobre aplicação subsidiária ou expressa do NCPC, bem como o que aplicar ao procedimento do Juizado quando a lei for omissa. (Palavras-chave: Juizados Especiais Cíveis; Aplicação subsidiária do Novo Código de Processo Civil, Alterações Legislativas da Lei nº 9.099/95 ) 7 ABSTRACT With the advent of the New Code of Civil Procedure, some important changes occurred within the scope of the Special Courts policy, mainly in the civil area. Therefore, on account of such changes, it is necessary for law enforcers to pay attention to implementing the NCPC to the Special Civil Court procedure. As is well known, the Special Civil Court has its own special legislation ruled by Law No. 9.099 / 95, whose determination of its functioning is not always written or expressed, which arises discussions about the application of the NCPC and its amendments to the Special Civil Court procedure. Consequently the major purpose of this work is to analyze the possibilities of analogous application of the NCPC to the procedures of the Special Civil Courts, performing an approach on the subsidiary or express application of the NCPC, as well as what to apply to the procedure of the Court in cases when the law is silent or unclear. (Keywords: Special Civil Court; Subsidiary Application of the New Code of Civil Procedure; Legislative Amendments of the Law nº 9.099/95 ) 8 Sumário INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10 CAPÍTULO 1 – BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA E JURÍDICA DOS JUIZADOS DE PEQUENAS CAUSAS AOS ATUAIS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVES BRASILIEIROS ......................................................................................................... 11 1.1. Juizado Informal de Pequenas Causas ...................................................... 11 1.2. Peculiaridades da implantação do Juizado de Pequenas Causas .......... 12 CAPÍTULO 2 – A REFORMA DA LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS .......... 15 2.1. O advento da Lei nº 9.099/95 ........................................................................ 15 2.2. Inovações do Juizado Especial com o advento da Lei n 9.0099/95 ......... 17 CAPÍTULO 3 – O JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E A APLICAÇÃO DO NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL .............................................................................................. 29 3.1. Relação dos Juizados Especiais com o novo Código de Processo Civil. ............................................................................................................................... 32 3.2. Normas Do Novo Código de Processo Civil Com Aplicação Expressa Nos Juizados Especiais ...................................................................................... 33 3.2.1. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica. .................... 36 3.2.2. Modificações quanto aos Embargos de Declaração .................................. 37 3.3. Normas de aplicação subsidiária e supletiva nos Juizados Especiais.... 39 3.3.1. Contagem de prazos em dias úteis.............................................................. 39 3.3.2. Fundamentação das decisões judiciais ...................................................... 41 3.4. Normas Peculiares dos Juizados Especiais .............................................. 43 3.4.1. Aplicação da conciliação e da transação no procedimento dos Juizados Especiais ........................................................................................................... 47 3.4.2. A pretensão autoral no âmbito dos Juizados Especiais ............................ 49 3.4.3. Da resposta do réu no âmbito do Juizado Especial Cível. ........................ 51 3.4.4. A inaplicabilidade do prazo processual em dobro no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis ............................................................................... 53 3.4.5. A instrução probatória no procedimento do Juizado Especial Cível ....... 53 9 CAPÍTULO 4. A ATIVIDADE PROBATÓRIA E PODERES INSTRUTÓRIOS DO JUIZ .......................................................................................................................... 54 CAPÍTULO 5. CABIMENTO DAS MEDIDAS DE URGÊNCIA NO PROCEDIMENTO DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ....................................................................... 56 CAPÍTULO 6. COMPLEXIDADE DA PROVA E NECESSIDADE DE PERÍCIA NO PROCEDIMENTO DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. ....................................... 58 CAPÍTULO 7. O CUMPRIMENTO DE SENTENÇA NO PROCEDIMENTO DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ............................................................................... 59 CAPÍTULO 8. O SISTEMA RECURSALNO ÂMBITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL ........................................................................................................................ 61 CAPÍTULO 9. AS PRINCIPAIS ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS NO ÂMBITO DOS JUIZADOS ESPECIAIS ............................................................................................ 64 10. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 65 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 69 10 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como objetivo, apresentar, de maneira sucinta, as alterações no direito processual brasileiro juntamente com as inovações trazidas pelo Código de Processo Civil de 2015, bem como as alterações ocorridas no procedimento dos Juizados Especiais Cíveis. Isso porque, como é sabido, a alteração do Novo Código de Processo Civil causou grandes discussões ante as lacunas nas normas adotadas ao que tange à aplicação das alterações ao microssistema dos Juizados Especiais Cíveis. Como é cediça, a criação dos Juizados Especiais teve como objetivo facilitar o acesso dos mais necessitados à Justiça para a solução de conflitos de causas de menor complexidade de forma mais célere e menos formal. Porém, como o procedimento dos Juizados Especiais Cíveis não segue todos os procedimentos e etapas do procedimento ordinário, o legislador se preocupou em criar uma lei específica que regulamentasse as demandas de menor complexidade. No entanto, tal legislação não supre todas as lacunas, razão pela qual se aplica o Código de Processo Civil de maneira subsidiária. Então, o presente trabalho, irá trazer aspectos evolutivos do instituto no Brasil, além de fazer um esboço do instituto puramente à luz do CPC/15 abrangendo a questão da aplicação subsidiária e expressa do NCPC ao procedimento do Juizado Especial Cível. 11 CAPÍTULO 1 – BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA E JURÍDICA DOS JUIZADOS DE PEQUENAS CAUSAS AOS ATUAIS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVES BRASILIEIROS 1.1. Juizado Informal de Pequenas Causas Analisando a estrutura do Poder Judiciário, a população cobrara uma postura mais ativa, em que este estivesse mais próximo dos debates sociais, assumindo um papel participativo no processo evolutivo das nações, o qual é responsável pelo bem comum. A missão do magistrado não se finda nos autos de um processo, mas é compreendida na defesa do regime democrático, sem o qual a função do Judiciário era reduzida à rasteira esterilidade. É possível observar que inúmeras críticas foram e têm sido feitas à atuação do Judiciário no Brasil. Porém, o Judiciário carece de instrumentos de trabalho mais aprimorado e melhorado, uma vez que a técnica da legislação nacional é caótica e deficiente. Assim, adveio a Lei Federal nº 7.244, de 7 de novembro de 1984, instituindo o Juizado de Pequenas Causas, com competência cível, em que a alçada jurisdicional é determinada pelo valor patrimonial da lide, fixada em até vinte salários mínimos, como forma de possibilitar e viabilizar a resolução dos conflitos. A partir daí, inúmeros Estados da Federação implantaram os seus Juizados de Pequenas Causas. O sistema de Juizados de Pequenas Causas brasileiro é baseado na experiência nova-iorquina das Small Claims Courts, de modo mais consciente. Já em 1980, houve um estudo no Juizado de Pequenas Causas de Nova Iorque para que fosse adaptado ao sistema processual brasileiro, bem como a conciliação e arbitramento, em que à época destinavam-se a solucionar problemas entre vizinhos. Anterior ao ano de 1984, nossos Juizados de Pequenas Causas não eram órgãos jurisdicionais, pois tinham seu poder de atuação limitado à condução de conciliações entre os litigantes e à realização de arbitramentos, caso os litigantes 12 concordassem, A prática foi legalizada mediante a Lei nº 7.244/84, que representa uma das experiências desenvolvidas no intuito de solucionar problemas de acesso dos cidadãos à prestação jurisdicional. A partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, foi determinada a criação de Juizados Especiais, providos por juízes togados (ou togados e leigos), competentes para realizar conciliação, julgamento e execução de causas cíveis de primeiro grau. Além disso, o Poder Judiciário passou a ter uma participação ativa e efetiva, principalmente na solução dos conflitos e ao ampliação a sai atuação com novas vias processuais, demonstrando preocupação voltada de forma prioritária para a cidadania, através de instrumentos jurídicos, preceitos, normas e princípios que sinalizam a vontade popular de ter uma Justiça célere e distributiva. De moro geral, a Lei das Pequenas Causas deu ênfase especial à busca de uma solução conciliatória ou arbitral de forma célere, informal, gratuita e simples, em que se parte para a solução propriamente jurisdicional somente se frustradas todas as tentativas de compor um acordo entre os litigantes, o que foi um grande avanço para a desburocratização e maior acesso à Justiça brasileira. 1.2. Peculiaridades da implantação do Juizado de Pequenas Causas Antigamente, tinha a Justiça o conceito de ser cara, morosa e complicada, tendente a afastar a população de baixa renda da solução de seus conflitos. Assim, com o advento da Lei nº 7.244/84, apresentou-se ao cenário jurídico brasileiro uma modalidade de procedimento que simplificasse e que fosse mais célere quanto à prestação jurisdicional, visando humanizar a justiça, aproximando o cidadão de baixa renda da Justiça. Além disso, a Lei das Pequenas Causas apresentou ao juiz, na direção do processo, um novo campo de ação, dando-lhe ampla liberdade na determinação de provas e serem produzidas a fim de adotar em cada caso a solução que reputasse mais justa e condizente com a situação. 13 Ademais, tal lei apresentou ao juiz um novo campo de ação distanciando-se dos princípios típicos dos sistemas jurídicos fundamentados na Civil Law, ao conceder uma ampla liberdade na determinação de provas a serem produzidas, especialmente adotando em cada caso a solução mais justa e prudente. O advento da Lei teve como peculiaridade, em especial, a criação dos Juizados Especiais de Pequenas Causas nos Estados, no Distrito Federal e nos Territórios, a fim de processar e julgar as causas de valor econômico não excedente à 20 salários mínimos, as quais tivessem por objeto a condenação em dinheiro; a condenação à entrega de coisa certa móvel ou cumprimento de obrigação de fazer, a cargo de fabricante ou fornecedor de bens e serviços para consumo; a possibilidade de as partes, de comum acordo, optarem pelo juízo arbitral, na forma prevista em lei, caso não obtida conciliação; a desconstituição e declaração de nulidade de contrato relativo a coisas móveis e semoventes. Tal lei combinou dois mecanismos extrajudiciais de composição: a conciliação e a arbitragem, dando preferência à conciliação, pois, somente seria acionada a arbitragem caso a tentativa de conciliação restasse frustrada, o que difere da experiência da Corte de Nova Iorque. A concepção de um processo ágil, rápido, acessível e barato, sem quebra da segurança expressa no devido processo legal, bem como a igualdade das partes foi inçado de dúvidas e polêmicas. Porém, era necessário modernizar o trâmite processual pelo informalismo e baseado em simplicidade, sem ultrajar princípios e sem comprometer a qualidade do serviço jurisdicional, bem como do resultado final almejado. Diante disso é que foi inevitável a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil brasileiro, haja vista a inviabilidade de uma lei especial conter toda a disciplina e procedimento do processo e de seus atos, sendo devidamenteaplicado de forma tranquila e equilibrada. Em alguns casos não era possível a aplicação do Código de Processo Civil vigente à época pela existência de leis especiais explícita, vez que derrogava a lei 14 geral, como, por exemplo, da demanda inicial, que podia ser escrita ou verbal, a critério do autor, com seu conteúdo bem simplificado. Outro exemplo que se pode mensurar é o caso da audiência de instrução e julgamento, a qual não era registrada em termo escrito, mas em fitas magnéticas. Nos recursos, existia apenas um, em que a lei estabelecia o seu cabimento, prazo e procedimento. A individualidade do Juizado Cível de Pequenas Causas, além das normas explícitas, aparece nas características essenciais e intrínsecas do tipo de procedimento adotado pela lei e na forma de relacionamento entre as partes. Assim, embora às vezes não era expresso em Lei, certos preceitos do Código de Processo Civil não podiam ser aplicados, sob pena de desvirtuamento da mens legis, como nos casos das provas admitidas na forma da Lei do Juizado Cível de Pequenas Causas, conforme estabelecido pelo artigo 33 da Lei nº 7244/841. Em análise ao sistema probatório do Juizado de Pequenas Causas, observou- se que a prova pericial não era cabível. Ademais, as normas que sobre de preclusão, eram tratadas de forma mais específica, haja vista que elas pressupõem omissão de uma das partes em interpor recurso contra decisões interlocutórias que a desfavorecia, uma vez que tais decisões eram irrecorríveis. A interposição de recursos e repetidos agravos de instrumentos, notoriamente, é um fator que desfavorece a simplicidade e celeridade, bem como agrega o encarecimento do processo, complicando o exercício da jurisdição. Como exemplo disso, a interposição de recurso, cujo não tinha necessidade de intimação, bem como ato formal de recebimento, o prazo de 48 horas para o preparo fluía de imediato. Além do mais, a Lei do Juizado de Pequenas Causas autorizava expressamente que os recursos, cuja interposição em primeira instância negasse provimento, não seria lavrado acórdão de julgamento, valendo apenas a simples súmula elaborada pelo Presidente. 1 Art. 33 - Todos os meios de prova moralmente legítimos, ainda que não especificados em lei, são hábeis para provar a veracidade dos fatos alegados pelas partes. 15 Dessa forma, é possível observar que a Lei das Pequenas Causas, além de proporcionar à população carente um processo rápido, simples, acessível e econômico, ainda transcendeu e constituiu, de forma educativa, a preparação das pessoas para a correta e eficiente defesa de seus interesses e direitos. CAPÍTULO 2 – A REFORMA DA LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS 2.1. A alteração da Lei nº 7244/84 com o advento da Lei nº 9.099/95 Como foi apresentado acima, os Juizados Especiais representaram uma mudança significativa perante o Poder Judiciário, pois sua proposta é de uma maior aproximação aos que não tinham acesso à justiça. Com base em um estudo realizado em comunidades do estado do Rio de Janeiro, Boaventura de Sousa Santos mostra o direito paralelo, em que os habitantes dessa comunidade inventaram com o intuito de protegerem-se da burguesia urbana que reside entorno da comunidade. Através dessa experiência pode-se observar que o objetivo de criar uma organização comunitária era de dar maiores condições de habitabilidade aos moradores da comunidade, uma vez que a burguesia local pressionava o Estado para que as comunidades incluídas nos bairros fossem removidas para o subúrbio. A partir disso, os habitantes das comunidades mobilizaram-se para fortalecerem as estruturas coletivas, em que resultou em associações comunitárias, que aos poucos se transformaram em fóruns jurídicos, haja vista que maior parte do direito utilizado nesses fóruns é nulo ou ilegal, uma vez que, por exemplo, tratavam de posse de terrenos ilegalmente ocupados. Porém, mesmo que o direito fosse nulo ou ilegal, nas comunidades era simplesmente direito, sem qualquer adjetivo. Por outro lado, tal movimento de acesso à justiça passou a ser uma grande preocupação, haja vista o intuito de tornar o Poder Judiciário acessível aos menos 16 favorecidos economicamente, inclusive, estendendo-se fisicamente para os lugares onde ocorrem os conflitos. A partir disso que veio a promulgação da Lei nº 9.099, em 26 de setembro de 1995, em que, em simples linguagem, os Juizados Especiais poderiam ser definidos como pequenos tribunais, localizados próximos às comunidades, de modo que o processo fosse instaurado de forma simples, rápida, informal, com a dispensa de advogado em ações de até 20 salários mínimos, conforme artigo 90, caput2, sem custas, exceto na existência de recurso, com o intuito de priorizar a conciliação como o melhor método de solução de conflitos. Tal lei transformou a ideia dos Juizados em princípios: - princípio da oralidade; - princípio da simplicidade; princípio da informalidade; - princípio da economia processual e – princípio da celeridade. Como o intuito do sistema processual do Juizado Especial é a busca da solução amigável dos imbróglios, maior parte são resolvidas por conciliação. Assim, pode-se entender que a figura central do procedimento do Juizado Especial é o Conciliador. Após mais de dez anos de tradição dos Juizados de Pequenas Causas, o advento da Lei nº 9.099/95 trouxe grandes transformações no panorama processual brasileiro, bem como a substituição da ideia de pequenas causas por causas cíveis de menor complexidade; houve um aumento da alçada de 20 para 40 salários mínimos; a extensão do rol das hipóteses de cabimento do procedimento do Juizado Especial para as causas antes elencadas no artigo 275, inciso II do CPC/73 3, ações de despejo para uso próprio e ações possessórias limitadas àquele valor de alçada; especialmente, trouxe a competência do processo de execução ao Juizado Especial, 2 Art. 90. As disposições desta Lei não se aplicam aos processos penais cuja instrução já estiver iniciada. 3 Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: [...] II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. 17 tanto dos seus próprios julgados com competência de títulos executivos extrajudiciais. De forma mais conclusiva, a criação do da lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, sob o nº 9.099/95, ocorreu sob a inspiração da referida Lei nº 7.244/84 dos Juizados de Pequenas Causas, com o objetivo de diminuir o contingente crescente de demandas judiciárias brasileira, trazendo mais eficácia e eficiência a um juízo mais informal. 2.2. Inovações do Juizado Especial com o advento da Lei n 9.0099/95 O acolhimento do princípio da instrumentalidade das formas, com força do artigo 13 da lei nº 9.099/954, juntamente com os princípios orientadores da criação dos Juizados Especiais, disposto no artigo 20 5da referida Lei, bem como o princípio da oralidade; da simplicidade; da informalidade da economia processual e da celeridade, em que todos os atos processuais serão válidos ainda que praticados diversamente do que dispõe a lei, embora preencham as finalidades as quais foram realizados. No campo dos processos do Juizado Especial, não existe gradação de nulidades, sejam elas simples, relativa ou absoluta, devendo o aplicador da norma sempre observar se houve prejuízo a qualquer das partes e se o ato processual praticado preencheu a finalidade para a qual foi realizado. Como exemplo, a Lei nº 9.099/95, o §2º do artigo 136, dispõe que os atos processuais a serem praticadosem outras comarcas, dispensando a carta precatória, pode ocorrer por intermédio de qualquer meio idôneo de comunicação, sendo ele por telefone, fax, via e-mail, etc. 4 Art. 13. Os atos processuais serão válidos sempre que preencherem as finalidades para as quais forem realizados, atendidos os critérios indicados no art. 2º desta Lei. 5 Art. 20. Não comparecendo o demandado à sessão de conciliação ou à audiência de instrução e julgamento, reputar-se-ão verdadeiros os fatos alegados no pedido inicial, salvo se o contrário resultar da convicção do Juiz. 6 Art. 13. [...] § 2º A prática de atos processuais em outras comarcas poderá ser solicitada por qualquer meio idôneo de comunicação. 18 Além disso, o legislador dispensa o registro de atos processuais desenvolvidos ao longo do processo e que não sejam essenciais a ele, preferindo substituí-los por registros resumidos, notas manuscritas ou datilografadas, taquigrafadas ou estereotipadas, contanto que sejam realizados de forma singela, sendo tratados de modo preferencial os registros de questões absolutamente necessárias. Ademais, os depoimentos e testemunhas realizados em audiência, por alguns juízes, são resumidos, de modo que reste no termo de audiência somente o indispensável. Ainda, nos Juizados Especiais Cíveis não há alegações finais. Em muitos casos, a sentença já é prolatada em audiência, ficando as partes nessa oportunidade cientificadas e intimadas do prazo recursal, nos termos do artigo 42 da Lei dos Juizados Especiais Cíveis7. Além do mais, é autorizado ao juiz que se grave os atos processuais praticados em audiência, podendo ser inutilizados após o trânsito em julgado da sentença. Tal prática representa um grande avanço no judiciário brasileiro. Quanto ao pedido no Juizado Especial Cível, poderá ser formulado de forma escrita ou oral, realizado diretamente na secretaria, dispensando a assistência de advogado, caso não ultrapasse o teto do Juizado que é de 20 salários mínimos, em que independe de prévia distribuição. Perante o Juizado Especial Cível, o Réu, no momento de sua contestação, independente de reconvenção, poderá oferecer seu pedido, desde que obedeçam as regras estabelecidas para a proposta de ação no Juizado Especial Cível, dispostas no artigo 308 c/c artigo 14 e seguintes da Lei nº 9.099/959. Observa-se, portanto, que 7 Art. 42. O recurso será interposto no prazo de dez dias, contados da ciência da sentença, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente. 8 Art. 30. A contestação, que será oral ou escrita, conterá toda matéria de defesa, exceto argüição de suspeição ou impedimento do Juiz, que se processará na forma da legislação em vigor. 9 Art. 14. O processo instaurar-se-á com a apresentação do pedido, escrito ou oral, à Secretaria do Juizado. § 1º Do pedido constarão, de forma simples e em linguagem acessível: I - o nome, a qualificação e o endereço das partes; 19 o pedido contraposto, disposto no artigo 14, parágrafo único da referida Lei, representa a existência de uma actio duplex no Juizado Especial Cível. No Juizado Especial Cível, as citações e intimações, consoante disposição do artigo 18 da Lei10, é realizada, de modo geral, por correspondência, com aviso de mão própria. Sendo o Réu pessoa física, é exigível que a citação seja feita pessoalmente, sob pena de ser realizada via oficial de justiça, haja vista que não recebeu ao chamado da justiça. Na hipótese de o réu ser pessoa jurídica, basta a entrega do aviso de recebimento ao encarregado ou responsável legal, obrigatoriamente identificado pelo agende do correio, que a citação será validada. As intimações serão realizadas da mesma maneira, também podendo ser realizadas II - os fatos e os fundamentos, de forma sucinta; III - o objeto e seu valor. § 2º É lícito formular pedido genérico quando não for possível determinar, desde logo, a extensão da obrigação. § 3º O pedido oral será reduzido a escrito pela Secretaria do Juizado, podendo ser utilizado o sistema de fichas ou formulários impressos. Art. 15. Os pedidos mencionados no art. 3º desta Lei poderão ser alternativos ou cumulados; nesta última hipótese, desde que conexos e a soma não ultrapasse o limite fixado naquele dispositivo. Art. 16. Registrado o pedido, independentemente de distribuição e autuação, a Secretaria do Juizado designará a sessão de conciliação, a realizar-se no prazo de quinze dias. Art. 17. Comparecendo inicialmente ambas as partes, instaurar-se-á, desde logo, a sessão de conciliação, dispensados o registro prévio de pedido e a citação. Parágrafo único. Havendo pedidos contrapostos, poderá ser dispensada a contestação formal e ambos serão apreciados na mesma sentença. 10 Art. 18. A citação far-se-á: I - por correspondência, com aviso de recebimento em mão própria; II - tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado da recepção, que será obrigatoriamente identificado; III - sendo necessário, por oficial de justiça, independentemente de mandado ou carta precatória. 20 por qualquer outro meio idôneo de comunicação, conforme disposto no artigo 19 da Lei11. Em se tratando de audiência de instrução e julgamento, os atos processuais praticados ao longo do processo serão concentrados, uma vez que o réu apresenta sua defesa nessa audiência, através de contestação escrita ou oral; além disso, o réu apresentara os documentos, momento em que o juiz abre vistas ao autor para que possa tomar ciência e argumentar sobre os documentos; após isso, são ouvidas, as partes e as testemunhas para que o juiz possa prolatar a sentença, que posse ser em audiência, em que as partes serão cientificadas e intimadas para o prazo de apresentação de recurso, se houver interesse. Quanto à produção de provas, todas elas serão produzidas no momento da audiência de instrução e julgamento, ainda que não requeridas previamente, podendo ser limitadas ou excluídas se consideradas excessivas, impertinentes ou protelatórias, com fulcro no artigo 33 da Lei dos Juizados Especiais Cíveis12. Em relação aos depoimentos pessoais, as partes e as testemunhas e as partes são intimadas e prestam depoimento na forma exigida pelo artigo 34 13da referida Lei, salientando-se que os depoimentos poderão ser tomados de forma a serem gravados, podendo ser mantidos até o decurso do prazo e trânsito em julgado da sentença a ser proferida no momento da audiência ou posteriormente, ficando as partes intimadas que a sentença será publicada em cartório no prazo de até dez dias. Na prolação de sentença, o juiz pode usufruir dos depoimentos, na ocasião de prova oral produzida, apenas no que for essencial, conforme estabelece o artigo 36 da Lei 9.099/9514. Ocorre que, na prática, os magistrados optam por gravar os 11 Art. 19. As intimações serão feitas na forma prevista para citação, ou por qualquer outro meio idôneo de comunicação. 12 Art. 33. Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, ainda que não requeridas previamente, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias. 13 Art. 34. As testemunhas, até o máximo de três para cada parte, comparecerão à audiência de instrução e julgamento levadas pela parte que as tenha arrolado, independentemente de intimação, ou mediante esta, se assim for requerido. 14 Art. 36. A prova oral não será reduzida a escrito, devendo a sentença referir, no essencial, os informes trazidos nos depoimentos. 21depoimentos, já outros optam por resumi-los, consignando-os no Termo de Audiência de Instrução e Julgamento. O referido artigo prevê que a prova oral não poderá ser reduzida a termo, porém entende-se que adotando tal procedimento promoverá a celeridade processual, haja vista que, por vezes, as audiências de instrução e julgamento tiveram que ser refeitas por falha na gravação ou degradação da mídia. Imperioso ressaltar que, mais eficaz e eficiente seria o magistrado prolatar a sentença em audiência após a instrução, independente de ter gravado ou resumido a termo os depoimentos. A inovação da Lei dos juizados especiais cíveis trouxe, ainda, a condição de não pagamento de custas processuais referentes aos processos de execução, conforme disposto no artigo 55 da referida lei15. Porém, às custas processuais serão pagas, caso haja o reconhecimento da litigância de má-fé, por improcedência dos embargos do devedor, ou, por tratar-se de execução de sentença que tenha sido objeto de recurso improvido do devedor. Quanto aos Embargos à Execução, estes deverão ser oferecidos nos próprios autos, de forma escrita ou verbal, a qual constituirá em ação, nos termos do artigo 52, inciso IX c/c artigo. 53 da Lei nº 9.099/95: Art. 52. A execução da sentença processar-se-á no próprio Juizado, aplicando-se, no que couber, o disposto no Código de Processo Civil, com as seguintes alterações: [...] II - os cálculos de conversão de índices, de honorários, de juros e de outras parcelas serão efetuados por servidor judicial; Art. 53. A execução de título executivo extrajudicial, no valor de até quarenta salários mínimos, obedecerá ao disposto no Código de Processo Civil, com as modificações introduzidas por esta Lei. 15 Art. 55. A sentença de primeiro grau não condenará o vencido em custas e honorários de advogado, ressalvados os casos de litigância de má-fé. Em segundo grau, o recorrente, vencido, pagará as custas e honorários de advogado, que serão fixados entre dez por cento e vinte por cento do valor de condenação ou, não havendo condenação, do valor corrigido da causa. 22 Além disso, é importante destacar o cabimento dos embargos à arrematação e à adjudicação. Em relação à sentença proferida nos autos dos embargos do devedor, caberá recurso previsto na referida lei, o qual terá seu efeito suspensivo, a ser apreciado por Turma Recursal.16 Nos casos em que é realizado acordo em composição realizada em Juizado Especial Criminal, esta será executada no Juízo Cível competente. Porém, em decorrência do valor, poderá ser executada em Juizado Especial Cível17. Em homenagem aos princípios da informalidade, celeridade e simplicidade, o artigo 38 e seu parágrafo único da Lei 9.099/9518, a sentença dispensa o relatório e a exige sempre líquida. Na esfera do Juizado Especial Cível, não há condenação em custas e honorários advocatícios, salvo na hipótese de litigância de má-fé, devendo a sentença ser fundamentada nesse sentido, por imposição da constituição federal. Ademais, de ofício ou a requerimento das partes, a sentença poderá determinar a extinção do processo sem julgamento do mérito, as quais podem ocorrer nas hipóteses: de ausência do autor nas audiências designadas pelo juízo; inadmissibilidade do Juízo, bem como seu prosseguimento após conciliação entre as partes; perante o reconhecimento de incompetência territorial; presença dos impedimentos previstos no artigo 8º 19 da Lei dos Juizados Especiais, com o falecimento do autor ou do réu ou de ambos, conforme disposto no artigo 51 da Lei 16 Art. 41. Da sentença, excetuada a homologatória de conciliação ou laudo arbitral, caberá recurso para o próprio Juizado. 17 Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente. 18 Art. 38. A sentença mencionará os elementos de convicção do Juiz, com breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência, dispensado o relatório. Parágrafo único. Não se admitirá sentença condenatória por quantia ilíquida, ainda que genérico o pedido. 19 Art. 8º Não poderão ser partes, no processo instituído por esta Lei, o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de direito público, as empresas públicas da União, a massa falida e o insolvente civil. 23 nº 9.099/95 concomitantemente ao Código de Processo Civil, não havendo a necessidade intimação prévia dos litigantes. Nesse sentido, a sentença deve ser clara, inteligível e insuscetível de interpretações ambíguas e equívocas. Deve ser precisa, certa e líquida, conforme artigo 38, parágrafo único da Lei 9.099/95. No âmbito do Juizado Especial Cível, só é cabível apenas um recurso, o qual se compatibiliza com o Recurso de Apelação, conforme art.41 da Lei 9.099/95, haja vista a adoção do princípio da oralidade, além dos Embargos de Declaração, previstos no art.4820 da mesma Lei. Haja vista o sistema próprio de recursos dos Juizados Especiais Cíveis e o princípio da celeridade, não há que se falar em Agravo de Instrumento ou Retido, Recurso Adesivo, Embargos Infringentes, ou qualquer outro recurso previsto nos regimentos internos dos tribunais estaduais ou leis de organização judiciária local, isto porque o recurso de lei especial é interposto para o próprio juizado, o qual deverá ser julgado por uma turma composta por três juízes de primeiro grau de jurisdição, que estejam em exercício, reunidos na sede do Juizado, assim, evitando ações burocráticas e demoradas que acarretam ao julgamento do recurso. Ademais, no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, na prática, já é possível verificar o ajuizamento de Mandado de Segurança contra ato de juiz, especificamente quanto às determinadas decisões interlocutórias. O exemplo disso, podemos verificar em situações em que o juiz reduz, ex-ofício, o valor da multa culminada em sede de sentença ou na fase de execução, ante valor ultrapassado o valor da obrigação ou o teto máximo da competência do Juizado, com fulcro no artigo 60 da Lei 9.099/95 21e nos princípios da razoabilidade e proporcionalidade. 20 Art. 48. Caberão embargos de declaração contra sentença ou acórdão nos casos previstos no Código de Processo Civil. 21 Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência. 24 Tal situação decorre diante a interpretação e análise do artigo 52, em seu inciso V, da Lei nº 9.099/9522, o qual estabelece que, nos casos em que a matéria é de obrigação de fazer, não fazer, ou de entregar, em sentença ou na fase de execução, o Juiz cominará multa diária para a hipótese de inadimplemento, arbitrada de acordo com as condições econômicas do devedor. Dessa forma, não cumprida a obrigação, poderá o credor requerer que tal multa seja elevada ou que a condenação seja revertida em perdas e danos, em que o juiz, imediatamente, arbitrará, o qual seguirá a execução por quantia certa, incluída a multa vencida de obrigação de dar, quando estiver em evidenciar a malícia do devedor na execução de sentença, concomitantemente com os demais princípios orientadores dos Juizados Especiais. Além do mais, as sentenças que homologam conciliação, bem como laudo arbitral não podem ser impugnadas por qualquer recurso, conforme exposto no já mencionado artigo 41 da Lei do JEC. Em contrapartida, contra decisões manifestamente prolatadas em desvio da lei, bem como para evitar dano irreparável, restará sempre à via do Mandado de Segurança. Conforme previsão do artigo 41, paraa interposição de recurso no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, não há necessidade de assistência de um advogado. O prazo para interposição de recurso é de dez dias corridos, contados da publicação de decisão ou da sentença, excluindo-se o dia do início e incluindo-se o dia final, conforme fundamento do artigo 42 da Lei nº 9.099/95. Art. 42. O recurso será interposto no prazo de dez dias, contados da ciência da sentença, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente. 22 Art.52. [...] IV - não cumprida voluntariamente a sentença transitada em julgado, e tendo havido solicitação do interessado, que poderá ser verbal, proceder-se-á desde logo à execução, dispensada nova citação; 25 Em casos em que a sentença é proferida em audiência, momento em que as partes tomam ciência da decisão, o prazo correrá a partir do dia seguinte à audiência. Já nas ocasiões em que a sentença é proferida após a audiência pelo magistrado, haverá a necessidade de intimação das partes, a qual poderá ser realizada por qualquer meio previsto no já mencionado artigo 19 da Lei nº 9.099/95, até mesmo via carta, contando-se da data da ciência do prazo final. Havendo réu revel, independente de a sentença ser ou não proferida em audiência, o prazo corre independentemente de sua intimação. Aliás, sendo o réu revel em audiência de conciliação ou de instrução e julgamento, os fatos alegados na iniciai serão reputados como verdadeiros, salvo se o juiz reputar o contrário. Tal ressalva demonstra que o juiz tem autorização para mitigar os efeitos da revelia, se o caso. No âmbito do Juizado Especial Cível, assim como na Justiça comum, a interposição de recurso deverá ser feita por petição escrita, em que o inconformismo deverá ser devidamente fundamentado, nos termos do já mencionado artigo 42 da Lei. Diante disso, a proibição de juntar anexos em complemento, após a interposição do recurso. Para interposição de recurso, compreenderá todas as despesas processuais, bem como aquelas dispensadas em primeiro grau, cujo valor deverá constar na Tabela de Custas das Corregedorias Estaduais do Tribunal de Justiça de Cada Comarca, com modelo de guia próprio para recolhimento de custas, quanto ao valor correto dos emolumentos. Nos Juizados Especiais Cíveis, o juiz de primeiro grau é quem faz o juízo de admissibilidade sobre o preenchimento de todos os requisitos objetivos e subjetivos. Ausentes tais requisitos, ou mesmo por deserção de recurso ante sua inexistência ou irregularidade de preparo, e é ele quem denegará o encaminhamento à Turma Recursal. 26 Em sede de recurso, momento em que, possivelmente aparte já estará assistida por um advogado, cabe a ele saber os requisitos legais á serem preenchidos para o conhecimento do recurso a ser interposto. Via de regra, no âmbito do Juizado Especial Cível, o recurso tem efeito apenas devolutivo, motivo pelo qual é permitida a execução provisória do julgado. Cumpre ressaltar que, de nada impede o juiz de conferir o efeito suspensivo ao recurso interposto, quando considerar que haverá dano irreparável ou de difícil reparação à parte com o cumprimento provisório de sentença, conforme fundamentado no artigo 43 da Lei. Art. 43. O recurso terá somente efeito devolutivo, podendo o Juiz dar-lhe efeito suspensivo, para evitar dano irreparável para a parte. Caberá à parte impetrar Mandado de Segurança perante a Turma Recursal, o qual é o órgão competente para julgamento de tal recurso, quando o juiz denegar seguimento ao recurso, como quando o juiz não conceder o efeito suspensivo ao recurso. Já em relação aos Embargos de Declaração, poderá ser oposto em face de sentença ou acórdão, visando sanar qualquer contradição, omissão ou obscuridade, regulado pelos artigos 48 a 50 da Lei nº 9.099/95. Art. 48. Caberão embargos de declaração contra sentença ou acórdão nos casos previstos no Código de Processo Civil. Art. 49. Os embargos de declaração serão interpostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados da ciência da decisão. Art. 50. Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de recurso. Além disso, o juiz poderá de ofício, corrigir erros materiais existentes em sentença ou acórdão, conforme fundamenta o já mencionado artigo 48 da lei. 27 Ante a oposição dos embargos de declaração, que deverá ser interposto no prazo legal de cinco dias, este poderá ser oposto na forma escrita ou oral e, uma vez recebido, suspenderão o prazo recursal. O prazo recursal, na hipótese de oposição de embargos declaratórios, só começará a fluir novamente, após a ciência da decisão dos embargos, em que as partes serão intimadas da data da sessão de julgamento. A regra não vale para os recursos constitucionais, haja vista que, tanto para recurso especial quanto para recurso extraordinário, os prazos fluem independentemente de intimação ou publicação. Já no âmbito processual penal, as principais inovações são relativas à mitigação das atividades policiais quanto às investigações, em que o inquérito policial foi substituído por um termo de ocorrência sumário, ou termo circunstanciando, como usado no Distrito Federal. Ademais, no âmbito penal, sem quebrar o princípio da obrigatoriedade da ação penal, a lei abre espaços para que haja conciliação e transação, através da reparação por danos ao ofendido e aplicação imediata de pena não privativa de liberdade. Além disso, outra inovação no âmbito do processo penal, trazida pela lei dos juizados especiais, foi à suspensão condicional do processo logo depois do oferecimento da denúncia. Ademais, na esfera do processo penal, o princípio da oralidade foi dilatado para as atividades de denúncia, instrução e embargos. Conforme se pode observar, as inovações trazidas pelos Juizados Especiais estendem-se à criação de centrais de atendimentos, com a racionalização de procedimento, à incorporação e até a adequação à realidade dos institutos e experiências de outros países, como a Common Law, a plea bargaining norte- americana, que permitem acordo entre acusador e acusado, quanto aos fatos, à qualificação jurídica e à pena, e da guilty plea, na qual o acusado se declara culpado. 28 No sistema de Juizados Especiais Criminais brasileiros, quem é acusado recebe tratamento diverso dos outros sistemas internacionais. Como exemplo, a transação penal é oferecida ao suposto autor do fato, independente se este se fizer ou não culpado pela infração, por ser um benefício legal a que terá direito àqueles que não tenham sido anteriormente beneficiados, dentro de 5 anos, pela aplicação da pena restritiva ou aplicação de multa; àqueles que não tenham sido condenados à pena privativa de liberdade por sentença definitiva pela prática de um delito; ou quando não haver indicação de antecedentes, de conduta social ou de personalidade do acusado, bem como motivos e circunstâncias, ser necessárias e suficientes para adoção de medidas, nos termos do artigo 76, §2º, incisos I a III da Lei dos Juizados Especiais Cíveis23. Além disso, no âmbito penal, extinta a punibilidade após o período de prova, para o acusado inexistirá qualquer registro quanto ao delito à ele imputado, como se o fato nunca tivesse ocorrido e ocorrerá a suspensão condicional do processo. Como outra inovação dos Juizados Especiais Criminais, quanto à ação penal pública condicionada à representação, na existência de acordo entre as partes, o acordo homologado, consequentemente, acarretará a renúncia quanto ao direito de queixa ou representação. Assim, pode se observar tanto a preocupação com a vítima, através do advento da composição civil, bem como a pacificação social entre as partes. Após a análise de todas as inovações com o adventoda Lei 9.099/95, é importante ressaltar que tal lei trouxe aos Juizados Especiais medidas consensuais e despersonalizadoras, em harmonia com os novos ideais, princípios e valores do 23 Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta. § 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado: I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva; II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo; 29 contemporâneo do Estado Democrático Social de Direito. Com exceção das falhas, os modelos do Juizado Especial Cível e Criminal representam um grande avanço para a realização da Justiça. CAPÍTULO 3 – O JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E A APLICAÇÃO DO NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL Desde que foi aprovado o novo Código de Processo Civil, por meio do advento da Lei nº 13.105/2015, ou mesmo antes desse episódio, várias discussões foram travadas acerca desse assunto. Porém, para a nova legislação processual, sua bandeira foi o bem maior, a celeridade processual e justa para a sociedade. Assim, o Juizado Especial, o braço do Judiciário mais próximo da celeridade e da sociedade, ficou sobre tais reflexos em relação às alterações do Código de Processo Civil, o qual é a base procedimental dos Juizados Especiais Cíveis. No Brasil, especialmente na cidade Rondônia, desde a vigência do novo Código de Processo Civil, cada juizado vem seguindo uma rotina procedimental, como se cada juizado tivesse legislação própria. Mesmo quando o código de 1973 estava em vigência, já ocorriam problemas práticos, de modo que muitos dos juizados pelo país tornaram-se pequenas varas, contendo a celeridade esperada dos Juizados Especiais Cíveis, haja vista a aplicação de procedimentos indevidos. Com o advento do Código de Processo Civil de 2015, algumas discussões foram renovadas, bem como as burocracias e teorias sobre a esperada função dos Juizados Especiais. 30 Quanto à aplicabilidade do Novo Código de Processo Civil, há normas expressas em questões pontuais, porém a regra é que a aplicação do novo código se dera de forma supletiva ou subsidiária, conforme disposto no art. 1.046, §2º24. Muito embora a ausência de disposição expressa nas Leis nº 9.099/95 e 12.259/01, que determine a aplicação subsidiária do NCPC aos Juizados Especiais Cíveis, tanto estaduais como federais, boa parte dos magistrados e doutrinadores têm defendido a autonomia e independência dos Juizados Especiais, destacando-se o posicionamento do STJ – Superior Tribunal de Justiça e da Ministra Nancy Andrighi Corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ao entendimento da Ministra Nancy Andrighi, as regras do Código de Processo Civil, tanto o de 1973 quanto o de 2015, não se coadunam com o sistema dos Juizados Especiais. Além disso, conforme seu entendimento, esse ponto de vista traz aos juízes mais liberdade quanto à aplicação do sistema mais adequado à resolução dos conflitos, com base nos princípios da simplicidade e informalidade. Ainda, a referida Ministra afirmou, em discurso proferido ante o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, em Belo Horizonte, em 27 de fevereiro de 2015, que: “A Lei 9.099/95 veio sob o signo da simplicidade, da informalidade, da oralidade, da celeridade e da economia processual, critérios, que a fazem diferenciada, distinta e sem nenhuma semelhança com a Justiça Tradicional, tanto que, na parte Cível da referida Lei, sequer menciona eventual aplicação subsidiária do Código de Processo Civil. “ (ANDRIGHI, 2015. p. 30) Embora tenha a Ministra tal entendimento, este posicionamento não é unânime, tendo em vista que o artigo 2º da Lei nº 98.099/95 estabelece que determinados princípios devam ser observados no processamento de causas perante os Juizados Especiais Cíveis, dando ênfase aos princípios da oralidade, simplicidade, informalidade, celeridade e economia processual, o que não significa 24 Art. 1.046. Ao entrar em vigor este Código, suas disposições se aplicarão desde logo aos processos pendentes, ficando revogada a Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973. [...] § 2 o Permanecem em vigor as disposições especiais dos procedimentos regulados em outras leis, aos quais se aplicará supletivamente este Código. 31 que certos regramentos responsáveis pela certeza do direito e pela segurança jurídica devam ser inobservados e prescindidos. Ante o posicionamento de Niemeyer: “Malgrado nem a Lei 9.099/1995, nem o CPC/1973 contenham qualquer norma expressa no sentido de determinar a aplicação supletiva deste em relação àquela, a supletividade é uma consequência do próprio sistema jurídico em vigor com baldrame legal nas disposições da LINDB, bem como reflexo do desenvolvimento científico do direito em geral e do direito processual em específico. Exatamente em razão disso o CPC/1973 sempre se aplicou supletivamente aos processos perante o Juizado Especial Cível desde o advento da Lei 9.099/1995.” (NIEMEYER, 2016) De igual modo, é possível verificar que o legislador do NCPC objetivou estender as novas determinações normativas aos Juizados Especiais Cíveis, que o fez expressamente. Tal fato pode ser notado ante as referências explícitas aos juizados nos artigos que tratam dos incidentes de demandas repetitivas e desconsideração da personalidade jurídica, conforme artigos 985, inciso I e 1.062 respectivamente. Art. 985. Julgado o incidente, a tese jurídica será aplicada: I - a todos os processos individuais ou coletivos que versem sobre idêntica questão de direito e que tramitem na área de jurisdição do respectivo tribunal, inclusive àqueles que tramitem nos juizados especiais do respectivo Estado ou região; Art. 1.062. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica aplica-se ao processo de competência dos juizados especiais. Ademais, durante o XXXVII Encontro do FONAJE, na cidade de Belo Horizonte, ficou consolidado o entendimento de que os Juizados Especiais devem agir de forma autônoma em relação ao NCPC, conforme enunciado nº 161, que de maneira restritiva, dispõe: ENUNCIADO 161 - Considerado o princípio da especialidade, o CPC/2015 somente terá aplicação ao Sistema dos Juizados Especiais nos casos de expressa e específica remissão ou na 32 hipótese de compatibilidade com os critérios previstos no art. 2º da Lei 9.099/95 (XXXVIII Encontro – Belo Horizonte - MG) (FONAJE, 2015). Dessa forma, é possível enxergar que há uma incompatibilidade normativa entre o NCPC e o procedimento da lei dos Juizados Especiais, sendo, portanto, possível à aplicação apenas dos dispositivos que atendem os critérios previstos no art.2º da lei dos Juizados Especiais. Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação. Em contrário do entendimento firmado pelo FONAJE, Monteiro se posiciona de maneira diversa quanto a relação entre o NCPC e a Lei dos Juizados Especiais: Todavia, existiam vários institutos processuais do Código Buzaidiano que eram aplicados nos juizados, a exemplo da concessão de tutelas antecipadas, que não há previsão nos juizados, e mesmo assim corriqueiramente eram de há muito utilizados nesse universo processual, e certamente continuaram a ser aproveitadas com as regras do novo CPC, referente às tutelas provisórias (CPC/2015, art. 294, e seguintes). (MONTEIRO,2016) Assim, mesmo demonstrando pelo enunciado mencionado acima uma desejada autonomia do procedimento dos Juizados Especiais, o entendimento doutrinário é de que sempre que possível, mister se faz o diálogo entre o NCPC e a Lei dos Juizados Especiais, de maneira subsidiária, e que vá de encontro com a sistemática dos Juizados Especiais. Diante o todo mencionado, ante o estudo das aplicações do NCPC ao microssistema dos Juizados Especiais, é possível observar uma divisão nítida entre as normas de aplicação expressa e as normas de aplicação subsidiária. 3.1. Relação dos Juizados Especiais com o novo Código de Processo Civil. 33 Para que seja possível determinar o que e como será aplicado o NCPC aos juizados especiais, é necessário analisar sua relação anterior, haja vista que muitos juristas acreditam que a aplicação do NCPC seja de forma subsidiária. Já outros, afirmam que a lei dos juizados não é especial em relação ao NCPC, uma vez que este decorre diretamente da Constituição Federal, em seu artigo 98: Art.98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I – juizados especiais, providos por juízes, togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau. Para a Ministra Nancy Andrighi, a qual é referência em estudos sobre os juizados especiais, a Lei nº 9.099/95 “não determina expressamente a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil, podendo-se inferir, salvo situações especiais, que se buscou manter afastada a sua incidência, considerando a especialidade de que é revestida essa justiça”. (1996, p.24) No mesmo seguimento, Ricardo Cunha Chimenti fala que “na fase de conhecimento de processos cíveis disciplinados pela Lei nº 9.099/95, o CPC sequer é expressamente apontado como norma supletiva de interpretação (excetuadas indicações contidas na parte final do art. 30 e no caput do art.51 da Lei nº 9.099/95), circunstância que não impede sua aplicação por analogia (art.4º da LICC), mas que recomenda a superação das omissões do legislador com base nos princípios próprios do novo sistema.” (1999, p.27) 3.2. Normas Do Novo Código de Processo Civil Com Aplicação Expressa Nos Juizados Especiais Os juizados especiais são encaixados pelo NCPC na possibilidade de aplicação do incidente de resolução de demandas repetitivas, conforme os já mencionados artigo 985 e do incidente de desconsideração de personalidade jurídica, nos termos do artigo 1.062. 34 Haja vista, o NCPC dispõe que, mesmo com a extinção do procedimento sumário, os Juizados Especiais Cíveis permanecem competentes para o processamento e julgamento das causas previstas no art. 275, II do Código de Processo Civil 197325, correspondente ao artigo 1.063 do NCPC.26 Ademais, algumas alterações foram feitas em relação à oposição dos Embargos de Declaração, vinculando-o aos casos previstos no NCPC, com fundamento dos artigos 1.064 a 1.066, alterando expressamente os artigos. 48, 50 e 83 da Lei nº 9.099/1995. “Art. 1.064. O caput do art. 48 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, passa a vigorar com a seguinte redação: (Vigência) Art. 48. Caberão embargos de declaração contra sentença ou acórdão nos casos previstos no Código de Processo Civil.” “Art. 1.065. O art. 50 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, passa a vigorar com a seguinte redação: (Vigência) Art. 50. Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de recurso.” “Art. 1.066. O art. 83 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, passam a vigorar com a seguinte redação: (Vigência) Art. 83. Cabem embargos de declaração quando, em sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradição ou omissão. 25 Art. 275. Observar-se-á o procedimento sumário: [...]II - nas causas, qualquer que seja o valor: a) de arrendamento rural e de parceria agrícola; b) de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio; c) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico; d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre; e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veículo, ressalvados os casos de processo de execução; f) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o disposto em legislação especial; g) que versem sobre revogação de doação; h) nos demais casos previstos em lei. 26 Art. 1.063. Até a edição de lei específica, os juizados especiais cíveis previstos na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, continuam competentes para o processamento e julgamento das causas previstas no art. 275, inciso II, da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973. 35 § 2º Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de recurso.” Além de tais regras previstas, não há regra quanto à aplicação subsidiária no Código de Processo Civil de 2015 aos Juizados Especiais, bem como nenhuma outra influência expressa sobre o procedimento sumaríssimo. A Lei nº 9.099/95 sofreu alterações com o advento do Código de Processo Civil de 2015, com a expressa competência para as causas do extinto procedimento sumário previsto no art.3º do CPC/7327, e as mudanças quanto à oposição dos embargos de declaração citadas anteriormente. De acordo com a Lei nº 9.099/95, trata se a execução com a aplicação subsidiária do CPC, de acordo com texto literal dos artigos 52 e 53 do CPC no que diz respeito à competência territorial, bem como com algumas regras específicas dos juizados. Dessa forma, não há qualquer disposição geral afirmando a aplicação do Código de Processo Civil de forma subsidiária. Em contrapartida, a Lei dos Juizados da Fazenda Pública dispõe no artigo 6º da Lei nº 12.153/2009, que quanto às citações e intimações aplicam-se as disposições do CPC/73. Ademais, a Lei dos Juizados Especiais de Fazenda Pública dispõe a aplicação subsidiária do CPC/73, bem como a Lei do Juizado Especial Cível e a Lei nº 10.259/2001. Portanto, por questões obvias, se o CPC/73 foi revogado, consequentemente tais artigos já mencionados restaram prejudicados. Portanto, deve-se partir por uma interpretação lógica. Ou seja, o objetivo evidente do legislador na Lei dos Juizados da Fazenda Pública foi de fazer do CPC uma lei subsidiária. Dessa forma, se não há disposição em contrário no NCPC, ele deve ser aplicado em substituição ao CPC/73. 27 Art. 3º Para propor ou contestar ação é necessário ter interesse e legitimidade. 36 3.2.1. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica é um procedimento próprio, o qual foi trazido ao ordenamento jurídico brasileiro pelo NCPC, disciplinado pelos artigos 133 a 137 do referido diploma legal. Tal incidente também pode ser aplicado nos Juizados Especiais Cíveis, conforme previsão do já mencionado artigo 1.062 do CPC, mesmo gerando razoável polêmica. Há uma controvérsia existente, a qual reside no fato de que no Código de Processo Civil, o mencionado incidente tem por natureza a intervenção de terceiros, o que, por sua vez, não se permite nos juizados, conforme dispositivo do artigo 10 da lei nº 9.099/9528. Além disso, uma vez que no sistema dos Juizados Especiais não se admite a suspensão processual, com apenas uma exceção, o que ocorre no incidente de desconsideração da personalidade jurídica com previsão no NCPC. Contudo, mesmo que ainda não exista um entendimento doutrinário firme e consolidado,há uma solução precoce para se evitar o conflito entre as diferentes disposições legais: Numa primeira reflexão, para que não haja colisão, o cabimento da desconsideração da personalidade jurídica nos juizados especiais cíveis, na fase de conhecimento, somente será possível quando requerido na petição inicial, tal como preconizado no art. 124, §2º no CPC de 2015, já que dispensa a instauração de incidente e, nesse caso, não se trata de intervenção de terceiro, mas sim, num litisconsórcio facultativo. (RIBEIRO, 2015. p. 136) Ainda, há um destaque que um “pedido de incidente de desconsideração da personalidade jurídica só teria cabimento no âmbito dos Juizados Especiais, somente nas ações de execução de título extrajudicial, conforme artigo 135,§ 3º do NCPC. 28 Art. 10. Não se admitirá, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro nem de assistência. Admitir-se-á o litisconsórcio. 37 Além disso, a controvérsia gerada pela a aplicação do referido incidente não se limita apenas ao momento de sua interposição, haja vista que o NCPC fala em cabimento de agravo de instrumento contra decisão que julgar, com ares de coisa julgada, o incidente de desconsideração, conforme dispositivo do artigo 1.015, IV, CPC/2015. Porém, não se admite agravo de instrumento nos Juizados Especiais. Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: [...] IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica Assim, se trata de uma questão controvertida. 3.2.2. Modificações quanto aos Embargos de Declaração Em relação à oposição dos Embargos de Declaração há outra repercussão expressa no NCPC aos Juizados Especiais, há disposição quanto as modificações, especificamente quanto aos efeitos aplicados quando da oposição dos embargos de declaração. Anteriormente, na vigência do Código de Processo Civil de 1973, os Embargos de Declaração opostos no âmbito dos Juizados Especiais, recebia o efeito suspensivo. Com o advento do NCPC, a oposição dos embargos de declaração passou a conferir um efeito interruptivo, bem como ocorria no procedimento da justiça comum, interrompendo, e não apenas suspendendo, os prazos para interposição de outros recursos cabíveis, conforme dispositivo dos já mencionados artigos 1.065 e 1.066, § 2º da Lei nº 13.105/2015, alterando o artigo 50 da Lei nº 9.099/95. Além das mudanças quanto aos efeitos aplicados aos Embargos de Declaração, o NCPC trouxe outra modificação na modalidade recursal, por meio do artigo 1.064, o dispositivo do artigo 48 da Lei dos Juizados Especiais passou a vigorar nos seguintes termos: 38 Art. 48. Caberão embargos de declaração contra sentença ou acórdão nos casos previstos no Código de Processo Civil. Contudo, após a leitura do artigo 1.022 do NCPC é possível observar uma possível controvérsia, conforme dispositivo da lei: Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para: I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição; II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento; III - corrigir erro material. Assim, como é possível observar na leitura dos dois artigos das respectivas normas do NCPC e Lei dos Juizados Especiais, a remissão feita pela nova redação do artigo 48 da Lei dos Juizados Especiais ao artigo 1.022 do NCPC, pode gerar dúvidas e discussões, haja vista que o comando presente no CPC é abrangente, enquanto a disposição da lei nº 9.099/95 restringe as hipóteses de interposição dos embargos de declaração apenas a sentenças e acórdãos. Assim, apesar da aplicação restritiva em relação à oposição dos embargos de Declaração no âmbito dos Juizados Especiais, é notadamente compreensível, ante os diversos princípios que atuam nos Juizados Especiais, cuja imunidade não existe em relação ao processo da existência de decisões interlocutórias que exigem uma integração por meio de embargos de declaração. No mesmo sentido, Kozikoski complementa: “Assim, apesar das Leis 9.099/1995, 10.259/2001 e 12.153/2009 não contemplarem a oponibilidade dos embargos de declaração contra as decisões interlocutórias, torna-se recomendável a aplicação subsidiária do art. 1.022 do NCPC em prol do aperfeiçoamento do sistema recursal dos Juizados Especiais, permitindo a ampla “embargabilidade” no tocante a qualquer espécie de pronunciamento 39 decisório. Ou seja, é de se permitir o seu emprego em face das decisões interlocutórias, sentenças e acórdãos. (KOZIKOSKI, 2015. p. 618)” Assim, a aplicabilidade da norma contida no NCPC é medida que se impõe, ante a necessidade de integração entre os sistemas, mesmo com a existência de disposição mais restritiva existente na Lei dos Juizados Especiais. 3.3. Normas de aplicação subsidiária e supletiva nos Juizados Especiais Por outro prisma, encontram-se as normas de aplicação subsidiária e supletiva aos procedimentos dos Juizados Especiais Cíveis. Como mencionado anteriormente, devido as lacunas existentes na legislação constitutiva dos Juizados, é necessária a aplicação de normas que supram a ausência de tais regulações. Tais normas geram grandes discussões por não possuírem previsão expressa de sua aplicação, ante a imperatividade de se delimitar limites e sua abrangência repercussória. Assim, ante as hipóteses de aplicação ou não aplicação de tais regramentos, por vezes mais numerosas, necessitando assim de uma maior delimitação da matéria em questão. 3.3.1. Contagem de prazos em dias úteis Com o advento do NCPC, trouxe ao Juizado Especial uma modificação quanto aos prazos processuais. Dentre essas modificações, o principal destaque está no artigo 219 do NCPC29, que altera, significativamente, a forma de contagem dos prazos, os quais, 29 Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis. 40 anteriormente, eram contados em “dias corridos”, passando a ser contados em “dias úteis”. Tal modificação não altera nenhum dos prazos com previsão nos Juizados Especiais, cuja previsão permanecem. Portanto, como já mencionado, somente serão utilizados os prazos propriamente previstos no NCPC quando não houver previsão de prazo específico a ser contabilizado. Dessa forma, é possível concluir que apenas as contagens dos prazos previstos nos Juizados Especiais é que deverá seguir os critérios adotados pelo novo regulamento do NCPC, uma vez que a Lei nº 9.099/95 não dispõe de qualquer norma regulando a contagem dos prazos processuais no âmbito dos Juizados Especiais. Entretanto, muitos juristas têm defendido posição oposta, sustentando que a conduta sobre os prazos processuais em dias úteis não deve ser aplicada aos Juizados Especiais. Seguindo o mesmo, o FONAJE se manifestou ao publicar a Nota Técnica nº 01/2016: “Todavia, forçoso é concluir que a contagem ali prevista não se aplica ao rito dos Juizados Especiais, primeiramente pela incompatibilidade com o critério informador da celeridade, convindo ter em mente que a Lei 9.099 conserva íntegro o seu caráter de lei especial frente ao novo CPC, desimportando, por óbvio, a superveniência deste em relação àquela.” De igual modo, a Ministra Nancy Andrighi entende, também, que a contagem de prazos em dias úteis, conforme previsão do NCPC, tal forma de contagem processual não deve ser aplicada aos Juizados Especiais, haja vista sua incompatibilidade com os princípios norteadores dos Juizados, em especial o da celeridade, da economia processual e da simplicidade. 41 Ao contrário, a questão foi pacificada na esfera dos Juizados Especiais Federais com o entendimento pela aplicabilidadeda contagem de prazos em dias úteis, quando da publicação da Resolução CJF-RES-2016/00393, a qual alterou o Regimento Interno da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais (TNU), conforme disposição em seu artigo 6º-A: “Art.6º-A. Na contagem de prazo em dias, computar-se-ão somente os dias úteis.” Tal imbróglio, todavia, no âmbito estadual, não restou pacificado, haja vista a oposição ao entendimento adotado pelo FONAJE, a Turma de Uniformização de Jurisprudências dos Juizados Especiais do Tribunal de Justiça do Distrito Federal – TJDF se posicionou de forma favorável à contagem dos prazos processuais em dias úteis, com a publicação do Enunciado nº 4. “Enunciado nº 4 - Nos Juizados Especiais Cíveis e de Fazenda Pública, na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se- ão somente os dias úteis, nos termos do art. 219, do Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/15)” (DISTRITO FEDERAL, 2016).” De forma semelhante, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB se posicionou favorável à contagem dos prazos processuais em dias úteis, conforme previsão do NCPC aos Juizados Especiais, requisitando, ainda, ao FONAJE a revisão de seus enunciados que tratam da matéria. Em projeto aprovado recentemente pelo CCJ – Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, os quais aprovaram o Projeto de Lei nº 10020/18, do Senado Federal, que mudaram a forma de contagem de prazos para atos processuais, inclusive recursos, em ações que correm nos juizados especiais, os quais serão computados apenas os dias úteis em sua contagem. 3.3.2. Fundamentação das decisões judiciais Dentre as modificações trazidas com a vigência do NCPC ao processo civil, o assunto que mais causou discussão é sobre o novo regramento em relação à 42 fundamentação das decisões judiciais, tratado no artigo 489, §1º do NCPC30, o qual dispõe sua concretude em relação ao disposto no artigo 93, IX da Constituição Federal de 198831. Sucintamente, o mencionado artigo 489, §1º do NCPC, traz um rol de situações que caracterizam um vício de fundamentação da decisão, em casos de decisões judiciais. Ou seja, uma decisão judicial somente será considerada como não fundamentada quando se encaixar em qualquer das hipóteses do mencionado no referido artigo. Em contrapartida, em uma das discussões do Fórum Permanente de Processualistas Civis, tratam o mencionado rol como exemplificativo, ou seja, não taxativo. Assim, a aplicação do referido dispositivo às decisões judiciais proferidas no âmbito dos Juizados Especiais têm encontrado uma certa resistência, em especial a hipótese a qual considera como não fundamentada a decisão que não pontuar todos os argumentos trazidos no processo, capaz de infirmar a conclusão do julgados. Seguindo as palavras de Gajardoni: “É duro golpe contra a celeridade e simplicidade do processo oral e sumário dos Juizados. O enfrentamento de todas as questões impede a consecução do ideário de que, nas causas em curso nos 30 Art. 489. São elementos essenciais da sentença: [...] § 2 o No caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e as premissas fáticas que fundamentam a conclusão. 31 Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: [...] IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; 43 Juizados, as decisões são tomadas informalmente, “na ponta do martelo”, com fundamentação sucinta, breve.” (GAJARDONI, 2016) Outro argumento contrário à aplicação do dispositivo, é o da alegação de violação aos princípios da celeridade e simplicidade dos processos no âmbito dos Juizados Especiais, conforme regulamentação do já mencionado artigo 38 da Lei dos Juizados Especiais, é que estabelece que a sentença deverá mencionar os elementos de convicção do Juiz, com breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência, dispensando relatório. No entanto, tal procedimento não vem sido completamente acolhido pelos doutrinadores, bem como salientado por Silva: “Quando o art. 38 da Lei 9.099/95 prescreve que a “sentença mencionará os elementos de convicção do juiz”, não quer, com isso, alijar uma fundamentação completa, sobretudo porque – ainda mais no rito sumaríssimo, em que as partes podem vir desacompanhadas de advogados em causas até 20 salários mínimo -, aqui, a fundamentação torna-se mais premente.” (SILVA, 2015. p. 511) Além disso, na concepção do mesmo, não há qualquer choque entre o referido artigo com a lei dos Juizados Especiais, não se havendo que falar em derrogação de tal lei na parte relativa à sentença. Dessa forma, o entendimento favorável à aplicação do referido artigo 489, §1º do NCPC, vem sido encontrado ante o Enunciado nº 309 do Fórum Permanente de Processualistas Civis, que claramente dispõe: “o disposto no §1º do art. 489 do CPC é aplicável no âmbito dos Juizados Especiais”. 3.4. Normas Peculiares dos Juizados Especiais Há muitas regras procedimentais específicas nas leis dos juizados especiais. 44 Porém, de forma peculiar, as normas que dão suporte ao rito sumaríssimo, o chamado Juizado Especial Cível, regido pela Lei nº 9.099/95, nos artigos 2º a 5º, trata da sua, tratam das regras procedimentais gerais dos juizados especiais, as quais devem ser adotadas concomitantemente às demais, ou na ausência de regra ou lei específica. Art.2º O processo orientar-se-à pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação. [...] Art.5º O Juiz dirigirá o processo com liberdade para determinar as provas a serem produzidas, para apreciá-las e para dar especial valor às regras de experiências comum ou técnica. Art. 6º O juiz adotará em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo aos fins sociais da lei e às exigências do bem comum. Tais regras são as de procedimentos dos juizados, as quais devem ser adotadas cumulativamente às outras, ou caso haja ausência de regras específicas. O artigo 2º, conforme acima mencionado, remete aos princípios orientadores do processo, mesmo que adotada como critério. Nesse sentido, não resta dúvida sobre tal princípio, pois não deixam de ser critérios aplicados no procedimento sumaríssimo. A propositura da Lei dos Juizados Especiais surgiu com o fim de aproximar a justiça da população, dando celeridade e dirimindo a burocracia com a resolução das lides, gerando estabilização social. Para que o juizado especial seja eficaz, fazendo jus a sua criação, é preciso desregrar, simplificar, desformalizar, desburocratizar, modernizando conceitos e 45 institutos, os quais dever ser introduzido à respectiva exigência de celeridade imposta pelo cotidiano e fatores sociais da vida moderna. Os advogados aplicadores desse procedimento processual devem afastar o excesso de técnica e formalidades, para que o princípio da instrumentalidade no processo de conhecimento prevaleça para que o processo de execução tenha bons resultados. Segundo o Professor Kazuo Watanabe, para que o procedimento do Juizado Especial tenha sucesso, é necessária a assimilação de que o “dinamismo do Magistrado é a própria alma do juizado”, ou seja,
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