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FIQUE POR DENTROI REfORMA TRABALHISTA. ESCASSEZ DE ALIMENTOS. / RESUMO COM OS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS - ATUALIZADO ,. ATEOENEM ~ alto astral DO DO DO , 000000 f'\ D O O O O O DO DO D O QUESTOES MUNDIAIS FEMINISMO. REf UGIADOS. lSRA[L x PALESTINA. SU T ABILIDADE ... y ' SUP'ERGUIA nem Sul)<'rgui• E nem Aluali<lades -Edi\,o l -2018- ISBII 918-B5--8241H12H) Edlt()ra,.(he-fe VlvlMie Campos Editor Rlc.ardG Pkdna10 Redaç!o Marisa Séi Imagens e ilu$1Jaç6es Geny lmages, Shune,stod'. lmag,es, Ful!Case e YM:imtdia Commons Design Josemara llascimento Impressão MAR MAR Grãfica Oistriooição Total Express Publicações Fica proibida a reprodll{ÕO parcial ou total de quolquer tt.tto ou Imagem dtJte produto um "utorlzO{ôo prbl11 dM mponsôvtit ptla publkO(ão, ESTA ( UMA PUBLI CAÇÃO DA ~ \J alto astral edilo ra ©2018 EOllORA AlJOASTRAL LTOA. rooos os DIREITOS RESERVADOS PRESIDENTE JO,jo C.rlos de Almeida DIRETOR EXECUTIVO Pedro José O,~uito DIRETOR COMERCIAL Sdvino Brasolotto)unior DIRETOR OE REDAÇÃO s .. dro Pavelo>ki EDITORIAL Gerente Mara Oe Santi PUBLICIDADE Gere-nte Samanllw Pestana Equipe {o,mercial Ana Piwta Maia, José Santos e Mareio Costa Mercado Regional (OF} ARIAAZiM OE COIAUNlúlÇAO (61} ll21- 3440, (RI) PLUS R!PRESEll!,AÇÃO (21) 2240- 92ll Brand Lab Vanessa Neves Opec/ Programãtico Walessa Gimenes e Thíagol.anqueta. Fone (1 1} 3048-2900 / E-m•il publítid•de;iastral.com.br MARKETING Gerente Flaviana Castro E-m•il marltlin~slral.,om.br SERVIÇOS GRAFICOS Gerenle José AlltooioRodrígue< AOMINISTRATIYO/FINANCEIRO Gerent,Jason Pereira ENDIIEÇOS BAURU Rua Gu~,vo M><~( 19-26, CEP 11012-110, Sauru,SP. Úlixa Posial471,CEP 17015-970, S.uru, SP. fone (14) 3235-3878:Tax (14) 3235-3879 SÃO PAULO Rua r .. erife, Ir 31, Coni 21 e 22, B10<0 A. CEP 04148-904, Via O!lmpia, s.io Paul~ SP, Fone/Fax (11) 3048-2900 ATENDIM E.NTO AO LEITOR <Z>(14) J2l5--l885 Oe segunda a sexta, das 8h âs 11111 E-mail •tendinento@aSlfal.com.br Caixa Postal 471, CEP 17015-970. S.uru, SP LOJA wv,w.klja.edlt°' aastral.com.br E-mail lojaonline@asttal.com.br Conteúdo produzido por FULL) CJ\SE Produtos Editoriais Edl!Ao de Conteúdo: Mara Ma9ana Cootd~ a~ o Ed1to1l.al: JulJilnil Klên Supervisão Geral: Angri ka!l'IIO Revisão: Adriana Giusti Uustratões: Bruno Castro í'IP-R1u~ 11. C>T,u or .. u;.lo ,i,. i>r11u r .. u;-ln SlNl>H '.ATO NA( '.N Jr\ AI. IK IS n n1 0 1os 1n:1 JVKUS. tu 3. e-d. Superguia l·XI~ : Atu.o.lidod~s; Rieunlo Piocinato. · 3. t-d. -Sãü Poulo: A ho Aslr.il 2018. 8-1 p. : •. : :?7 cm. 1. El'1111i! Ndomd do En,;ino l\fédb (Bnu;íl). 2. Emno M,-dio. Av:ilklçao. BmiL 3. F.,xure,;. Manu:1is.. Oiias. c1c. l. Pitcimno. Ricardo. 18-J l'°5 l?ilWJUIS 71/Ui<r/OI~ COO. 373.(}')SI CIJU: 373.l(81) :--.., . "".1 \ INTRODUÇÃO [i) O Exame Nacional do Ensino Médio, conhecido popularmente como Enem, foi criado no ano de 1998 a f im de aval iar ha bilidades básicas dos estudantes brasileiros. E, com o passar do tempo, a prova acabou se tornando um dos principais meios de se ingressar em uma universidade e, assim, conquistar o diploma do Ensino Superior. Para isso, os alunos que prestam a avaliação podem, caso atinjam uma determinada nota, optar por entrar em uma instituição pública que aceite os resultados do Enem no processo seletivo ou, ainda, uma faculdade particular pelo Programa Universidade Para Todos, o ProUni. Conforme informa o edital: "Os resultados do Enem 2018 poderão ser utilizados como mecanismo único, alternativo ou complementar de acesso à educação superior, desde que exista adesão por parte das Instituições de Educação Superior (IES). A adesão não supre a faculdade legal concedida a órgãos públicos e a instituições de ensino de estabelecer regras próprias de processo seletivo para ingresso na educação superior". Para se ter uma ideia da importância dessa alternativa para alcançar uma vaga na universidade, 7.603.290 de pessoas se inscreveram no Enem de 2017, superando a estimativa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (lnep) de 7,5 milhões de inscritos. Deste número, 59,3% já concluíram o Ensino Médio, 31,9% completariam o nível escolar em 2017 e 7,8% finalizariam posteriormente. Na edição de 2018, segundo ' • dados do lnep, mais de 5,5 milhões de estudantes tiveram suas inscrições confirmadas para realizar a prova nos dias quatro e 11 de novembro. Com a reformulação da prova feita em 2009, cresceu o número de faculdades que passaram a aceitar o exame como meio de ingresso em seus cursos. Por isso, quem prestou o Enem 2017 concorreu a 239.601 vagas referentes a 130 instituições públicas de Ensino Superior, tanto federais quanto estaduais, para o primeiro semestre de 2018. Lembrando que a relação de quantidade de vagas e instituições disponíveis é realizada pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), podendo ser acessada em sisu.mec.gov.br. Nesta coleção SUPERGUIA ENEM, preparamos o conteúdo necessário para o aluno que deseja garantir uma das 239.601 vagas disponíveis, buscando reforçar tudo aquilo que aprendeu em sala de aula ou estudando em casa . Nas próximas páginas, você poderá conferir uma seleção das principais teorias explicadas e exercícios comentados por professores especialistas. Ao todo, são seis apostilas que abrangem os temas trabalhados no Enem: Ciências Humanas e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. Em cada edição você encontrará dicas especiais e teorias bem explicadas que vão abrir caminho para seu ingresso no Ensino Superior, garantindo uma posição de destaque no mundo profissional. Bons estudos! u ..... :::,: 1 o ... ~ .. V " ~ .. " o ~ .., --~ ·= :::,: o .. o " .. 3 V e: ·;: a: ..... z 1 ~ ·;; >< ~ o :§ e: <( -~ .. e: o V .. V " ;li "' .. "' " a "' 8'. .. "' o " " -"' ..... .. " -.. e: o 'ü "' z o -3 -"' e: o " "' o ~ .. E ·:> z SE Atualidades 2018 1 5 '"~ PARA~ REVISAO • Organize sua rotina de estudos e, se necessário, faça um cronograma para não deixar passar nenhum conteúdo e conseguir dar conta das atividades cotidianas. Livre-se de distrações na hora dos estudos. Celu)ar, redes sociais, televisão ou rádio podem ser empecilhos para a concentração e o foco. Faça simulados ou provas de anos anteriores. Dessa forma, você ficará habituado com o estilo da avaliação e não terá surpresas na hora. Treine seu tempo, pois a prova é longa e o período para sua realização é curto. Em 2018, no primeiro domingo de exame, os candidatos terão cinco horas e meia para a realização das 90 questões de linguagens e ciências humanas, além da redação. No segundo, serão 30 minutos a mais do que em 2017: cinco horas para as 90 perguntas de matemática e ciências da natureza. Foque no seu objetivo. Tenha consciência da nota necessária para ingressar na universidade e curso desejados, assim poderá se esforçar visando sua meta. Leia os enunciados com atenção. Interpretar aquilo que se pede na pergunta é essencial para escolher a resposta certa. Responda primeiro às perguntas mais fáceis, aquelas que você sabe a opção correta. Leia. O hábito da leitura constrói um vocabulário melhor, auxilia a interpretação de texto e desenvolve o raciocínio crítico. Mantenha-se informado. Notícias atuais são temas de redação em potencial. Descanse e durma bem. A mente precisa de um tempo para que os conteúdos sejam assimilados. • • • . ---... • • • • • • •• • ' • • • • • • • • . . • -· • • . .. . . • • • • • • • •• • • • - , .. • • - • •• • • • • • • • ~ • •• 1 • • l . . • • • • • • • • • • • • • • ' •• • •• ... - .. • • • • • .. . . . . • • • ' ' ·- • •• • •.. :.. ... • ·- ~ - ' • • , MARCIO SCARPELLINI VIEIRA Pedagogo. cientistasocial e ad ministrador de empresas e diretor de colégio em São Paulo TEXTO: MARA MAGANA Jornalista pela Cásper Libero. formada em Letras pelt USP, com pós em Jorna lismo e Comunicação. Foi coordenadora e direto ra de colég io em São Paulo . • ' • • • • • • • • • • - ,. • - • • . . -... -.... • - . • • . ....... .- ,• .... - •.• • • .. •• • . . • • • • - • • • • . t· - . •. • • -.. .. • • . • • ... .. • • • • • ' ' • • • • • -1 -. • • . . . • • • • . l . .. • • • ,· • 1 • • • • 1 ..... 1 • • • -· • • . . .. - • • • . .. ·-~,. ..... . , .. • .... f • • • ' .. •. • • . . . .. ' 1 . . ' • • .. • •• • • • • • • ' . • . 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Questão Indígena .......................... ............. ........................................................................ 16 6.A , crise carcerar1a ••••••••••••••••••• • • • ••• • •••••••••••••••••••••• •••••••••••• •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 7. Estatuto do Desarmamento ........................................ . •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• • 18 21 8. Mobilidade ............................................................. ............. ~ ................................................. 22 9. Habitação ............................................................................................................................ , 23 1 O. Adoção ......................................................................... . •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 27 11. 1 srael e Palestina ......... ' .................................................................................................. . 28 12. Estado Islâmico e a Síria •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 30 13. A primavera árabe ......................................................................................................... 33 14. Coreia do Norte ............................................................................................................... 34 15. A década da China .......................................................................................................... 38 16. A Era Trump •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 41 17. A privacidade na internet ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 43 18. Racismo no Brasi l e no mundo .................................................................................... 45 19. Legalização da maconha .............................................................................................. 48 20. Migrações •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 50 21. Desenvolvimento Sustentável ..................................................................................... 53 22. Biotecnologia .................................................................................................................. 54 23. Desigualdade de gênero ............................................................................................... 57 24. Base nacional comum curricular ................................................................................ 59 Atualidades permeiam a prova inteira do ENEM e dos principais vestibulares do país, embora não apareçam como "disciplina".E está correto, porque atualidades são inerentes a qualquer área do conhecimento humano. O , segredo é ler, ler muito, revistas, jornais, ficar ligado nos noticiários, mas saber separar o verdadeiro das chamadas, hoje, "fake news'; notícias falsas espalhadas, principalmen- te, pelas redes sociais. Mas, em meio a tanta notícia, ao que dar prioridade? Alguns temas têm a possibilidade de esta- rem presentes nos exames, como A Crise Política no Brasil, A Situação da Coreia do Norte, A Era Trump, as contendas do mundo árabe, a crise eterna de judeus e palestinos. Cla- ro que a Lava Jato é primordial, bem como questões sociais como a legalização da maconha. Abordamos tudo isso nes- te guia. Ponha-se em dia! , ] . AS INCERTEZAS DE UM PAIS QUASE A DERIVA Fazer alguma revisão sobre o futuro do Brasil na área política é tarefa para um gênio da lâmpada. Do final de 2015 para cá, o imbróglio a que o país se meteu fica cada vez mais confuso. Dilma Rousseff chegou, no final daque- le ano, praticamente fortalecida. E todos acreditavam que ela iria salvar o mandato. Mas já no começo de 2016, ana- listas apontavam a fragilidade do então vice-presidente Michel Temer. Temia-se que ele não chegasse ao próximo réveillon. Mas o que se viu foi o impeachment de Dilma e um fõlego de gato em Temer, que já sobreviveu a vários episódios, onde podia em todos os casos ficar sem o man- dato. Estamos em um ano de eleições. O mundo está de olho em nós. Se compararmos com o cenário da última eleição, veremos que muita coisa mudou: em 2014 não tínhamos ainda Lava Jato, a economia não havia saído totalmente dos trilhos e havia outra figura de proa no cenário políti- co, admirada por muitos: Aécio Neves. Mais: era certo que Rousseff tentaria a reeleição, e Luiz Inácio Lula da Silva era aclamado como um grande estadista, de prestígio interna- cional. As campanhas políticas ainda se beneficiavam do dinheiro das empreiteiras, e o que mais rendia matérias era PSDB x PT, que polarizavam politicamente. Em 2018, a economia anda a marcha lenta, o líder nas pesquisas ainda é Lula, mas em uma situação legal precá- ria. O presidente atual, o Temer cai não cai, não tem força política para indicar quem quer que seja ao cargo de seu sucessor. Geraldo Alckmin, o candidato oficial do PSDB, não vai bem nas pesquisas e enfrenta uma campanha pe- sada contrária à sua eleição nas redes sociais. Tudo isso é fruto dos escândalos que atingiram em cheio PT e PSDB, majoritariamente. Logo após Lula, há um candidato de direita, Jair Bolso- naro, que vem agradando com suas ideias radicais a boa parte dos eleitores, mas alguns analistas políticos ainda colocam em cheque essa posição, não a legitimando até a hora das urnas. Com a pulverização do cenário, que agora se apresenta, há o grande risco de repetirmos 1989, quan- do quase vinte candidatos se apresentaram ao pleito. E, para fechar, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu que as empresas financiem as campanhas de seus eleitos. 1 A Operação Lava Jato Por que o nome "Lava Jato"? Devido ao uso de uma rede de postos de combustíveis e lava jato, utilizada para movimentar recursos ilícitos de uma das organizações cri- minosas que, inicialmente, foi investigada. O processo ca- minhou para averiguação de outras organizações, mas o • nome permaneceu. É a maior operação de investigação de corrupção e la- vagem de dinheiro pela qual o Brasil já passou. Só da Petro- bras, estima-se que o volume dos recursos desviados tenha alcançado a casa dos bilhões de reais. Iniciada em 2014 pela Justiça Federal de Curitiba, ten- do o juiz federa l Sérgio Fernando Moro à frente, foram in- vestigadas e processadas quatro organizações criminosas lideradas por doleiros. Depois, o Ministério Público Federal recolheu provas de um imenso esquema criminoso de cor- rupção envolvendo a Petrobras. É nesse esquema que grandes empreiteiras, organiza- das em cartel, pagavam, a altos executivos da Petrobras e outras personalidades públicas, as propinas investigadas, que variavam de 1 o/o a 5% do montante total de contratos bilionários superfaturados. A pilhagem era distribuída por meio de operadores financeiros do esquema, onde os do- leiros se encaixam. As empreiteiras têm um papel fundamental no esque- ma. Em um cenário ideal, essas empreiteiras concorreriam, para as diversas licitações, entre si. E a Petrobras contrataria a empresa que oferece o menor custo. O que aconteceu foi que as empreiteiras se cartelizaram, formaram uma espécie de clube, substituindo uma concorrência real por uma pa- rente. Os valores a serem cobrados da Petrobras eram pre- viamente discutidos em reuniões secretas. Nesse momen- to, definia-se quem ganharia o contrato e qual o valor. A história foi tão grandiosa que as empreiteiras criaram uma espécie de manual de regras, parecido com um campeona- to de futebol, para a distribuição das obras entre si. Para que somente as empresas que participavam do cartel fossem convidadas para as licitações, entram em cena os funcionários da Petrobras, que restringiam a entra- da de novas empresas e asseguravam que a "ganhadora" da • licitação constasse na lista das convidadas. Cartas marca- das. Inflavam-se esses contratos com aditivos desnecessá- rios, negociações diretas injustificadas e todos com preços altíssimos. As informações sigilosas começaram a vazar. Quem ficou com a função de pagar as propinas foram os operadores financeiros. Além de pagar a propina, esses operadores estavam encarregados de "lavar" o dinheiro, de forma que fosse entregue como dinheiro limpo aos benefi- ciários. Em um primeiro momento, o dinheiro ia em espécie das empreiteiras até o operador financeiro. As formas uti- lizadas para isso eram variadas: contratos simulados com empresas de fachada, movimentação no exterior, paga- mento de bens. Em março de 2015, o Procurador-Geral da República apresentou ao Supremo Tribunal Federal 28 petições pe- dindo a abertura de inquéritos criminais de fatos atribu- ídos a 55 pessoas, das quais 49 são titulares de foro por prerrogativa de função ("foro privilegiado"). Nesse rol, pessoas relacionadas a partidos políticos que eram responsáveis por indicar e manter diretores na Petro- bras foram citadas por meio de colaborações premiadas feitas na 1 • instância mediante delegação d_g Procurador- -Geral. A primeira instância investiga os agentes políticos por improbidade, na área cível, e na área criminal aqueles sem prerrogativa de foro. Os principais envolvidos foram as diretorias: de Abas- tecimento, ocupada por Paulo Roberto Costa entre 2004 e 2012, de indicação do PP, com posterior apoio do PMDB; de Serviços, ocupada por Renato Duque entre 2003 e 2012, de indicação do PT; e Internacional, ocupada por Nestor Cerveró entre 2003 e 2008, de indicação do PMDB. Para o Procurador-Geral da República, esses grupos políticos agiam em associação criminosa, de forma estável, com comunhão • de esforços e unidade de desígnios para praticar diversos crimes, dentre os quais corrupção passiva e lavagem de di- nheiro. 1 O fenômeno Lula Carlos Melo, cientista político do lnsper (Instituto de Ensino e Pesquisa), afirmou recentemente: "Nem mesmo o grid de largada da eleição está definido. A começar pelo primeiro colocado nas pesquisas. Ninguém é capaz de afir- mar se Lula será candidato ou não. Nem mesmo, individu- almente, cada um dos membros da Justiça, envolvidos com seu processo". Lula, atualmente preso por ter sido condenado, inicial- mente em regime fechado, em segunda instância pelo Tri- bunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) no caso do trí- plex em Guarujá, em São Paulo, em 24 de janeiro de 2018, a 12 anos e 1 mês de prisão, pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Anteriormente, em julho de 2017, o ex-presidente ha- via sido condenado pelo juiz da lava Jato, Sérgio Moro, em primeira instância. Moro determinou a prisão imediata de Lula após receber o ofício do TRF-4. Foto: RovenaRosa/Agência Brasil • Até o fechamento desta publicação, Lula registrava cer- ca de 37% das intenções de voto do povo brasileiro. E mes- mo estando preso e condenado nos casos do tríplex e do Guarujá, o PT não desistiu de sua candidatura. De qualquer forma, Lula se enquadra na Lei da Ficha Limpa, ou seja, ainda que se candidate, não é descartada a possibilida- de de ele não poder ser eleito, mesmo que solto. Esse cenário pode levar a uma possível vitória do representante de extrema direita, Bolsonaro. O analista da Fundação Getúlio Vargas, Oliver Stuenkel, confia em uma pulverização caso Lula fique mesmo fora da disputa. Segundo o analista, os votos que então seriam dele poderiam ficar divididos nas diversas candidaturas no pri- meiro turno, igualmente ao cenário de 1989. Stuenkel faz ainda um alerta para o establishment político. Ele afirma que mesmo com a devastação da Lava Jato, o Partido dos Trabalhadores (PT) ainda tem uma imensa força e influência sob as eleições, e isso também pode impedir que outros candidatos venham a vencer o pleito. Em entrevista à emissora de televisão alemã Deutsche Welle, ele declarou que: "Os partidos tradicionais ainda não implodiram como na França, o que abriu espaço para um Em- manuel Macron. Eles ainda contam com dinheiro, influência e a presença nos Estados e municípios que são fundamentais em uma disputa nacional. Não é a vez dos paraquedistas na política''. O mais provável então, de acordo com Oliver Stuenkel, é que um candidato como Alckmin, por exemplo, que faz as vezes de centro e geralmente possui apoio de máquinas partidárias, chegue a vencer. E isso por causa da imprevi- sibilidade e radicalismo que marcam a política brasileira. Stuenkel declarou que, neste caso, é mais provável um cenário chi leno que com a eleição de Sebastián Pinera, não mudou nada no rumo político do Chile, mas que mesmo assim trouxe alguns novos movimentos na sociedade. Ele disse à Deutsche Welle: "No Brasil, devemos ver a mesma coisa, só não vai ser dessa vez que eles vão assumir o pro- tagonismo. Isso deve ficar para 2022". Contudo, mesmo se Alckmin vencer as eleições, o Brasil não verá um breque na polarização política. Pois no caso dos Estados Unidos, por exemplo, quando Barack Obama assumiu em 2008, teve que se deparar com a radicalização de grupos opositores e em virtude disso levou à vitória de Donald Trump nas últimas eleições. Congresso não irá se renovar Nem mesmo a Lava Jato derrotou a classe política que está no poder. Sem o dinheiro das empresas, deputados e senadores criaram regras para continuarem em seus man- datos ou apoiarem àqueles que seguem sua cartilha. Entre as novidades encontra-se um fundo eleitoral portentoso. Esse fundo vai distribuir fatias milionárias aos partidos que já possuem bancadas na Câmara, além da diminuição de tempo na TV das campanhas, levando vantagem para os candidatos já conhecidos. Nâo se contará mais com clipes cinematográficos no horário político, mas quem comanda- rá a cena ainda serão os velhos e conhecidos candidatos . Haverá ainda um índice de renovação inferior a 49% segundo o Departamento lntersindical de Assessoria Parla- mentar (Diap). Essa, inclusive, foi a média das últimas cinco eleições no Brasil. A Diap aponta ainda que, na tentativa de se manter o foro privilegiado, diversos deputados e sena- dores tentarão a reeleição. O caso Temer Foto: NurPhoto/ Getty lmages O entâo presidente Temer, na ocasião em que assumiu o cargo, pretendia compor um ministério de, como ele mesmo dizia, "notáveis''. Mas os brasileiros viram que tudo ficou bem longe disso. Um exemplo já foi a nomeação no início do ano da filha de Roberto Jefferson, Cristiane Brasil para pasta do Trabalho. Seu pai foi um dos protagonistas do caso do mensalâo. Temer ainda aumentou o número de ministérios, para beneficiar aliados como Moreira Franco, Ministro de Minas e Energia do Brasil e que foi também ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência de Temer. Falta a reforma da Previdência, outro nó que vem dividindo políticos e opi- nião pública. Corre o risco de se tornar um problema de seu sucessor. • Temer tenta deixar o cargo apresentando uma melhora da economia, mas o Banco Central derrubou, em julho, a estimativa de 2,6% de crescimento para 1,6%, atribuindo a queda ao impacto da greve dos caminhoneiros e às ativi- • dades que não conseguiram, ainda, se recuperar. O cenário fica, assim, mais pessimista e mostra a face perturbadora da recessão mais grave que o país já passou. O Brasil deve crescer 2% em 2018 de acordo com o rela- tório da Comissão Econômica para a América Latina e o Ca- ribe (Cepal). O crescimento de 2017 avançou 1,2% e, para fins estatísticos, colocou um ponto final na recessão que marcou 2015 e 2016. Mas nem mesmo essa mostra de refrigeração na eco- nomia fez subir a popularidade de Temer que, em junho, registrou 82% de rejeição, segundo pesquisa do Datafolha, colocando-o como o presidente mais impopular de todos os tempos no Brasil. 2. A CRISE DA PREVIDÊNCIA SOCIAL Um seguro público, a Previdência Social trabalha de for- ma coletiva e é obrigatória atualmente. Ou seja, todos os trabalhadores considerados economicamente ativos são obrigados a aderir ao sistema. De acordo com o artigo 201 da Constituição, fica esta- belecido que: A previdência social seró organizada sob a forma de re- gime geral, de caróter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atende ró, nos termos da lei, a: I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; li - proteção à maternidade, especialmente à gestante; Ili - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntório; IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependen- tes dos segurados de baixa renda; A Previdência Social faz parte também do Sistema de Seguridade Social Brasileiro, que comporta programas voltados à saúde como o Sistema Único de Saúde (SUS) e os de assistência social, como o Bolsa Família. Os recursos para esses programas vêm da União, como de contribui- ções sociais entre outras fontes. Essas contribuições são oriundas dos empregados bra- sileiros, por meio de suas rendas, ou seja, de uma série de tributos sobre o seu salário-de-contribuição que podem variar de 7,65% a 20%. Entre os tributos estão a Contribui- ção Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e a contri - buição previdenciária que gira em torno de 20% sobre o valor total da folha de pagamento. Mas também existem outras fontes de financiamento, por exemplo, 50% da arrecadação surge dos bens desapro- priados dos ,crimes ligados a trabalho escravo, tráfico de drogas, renda das loterias, etc. E, ainda, 40% da origem dos leilões de bem que são confiscados pelo Departamento da Receita Federal. Mas, no caso, esses valores financiam tam- bém programas de crédito educacional como o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES). A própria lei permite que o fundo da Seguridade Social seja gasto ainda para o custeio da própria Previdência. No entanto, áreas como de assistência social e da saúde públi- ca poderiam ficar de fora . É também responsável pela administração do Regime Próprio de Previdência Social (RPPS), para os trabalhado- res do setor privado, a União, sem contar o Regime Geral de Previdência Social (RPGS). Este também é voltado para gerenciar as contribuições para o sistema de pensões das Forças Armadas e para os funcionários públicos federais. No País, o sistema previdenciário funciona como repar- tição simples, ou seja, os contribuintes vão pagar um prê- mio para aqueles que já estão aposentados. No entanto, tais contribuintes esperam que, quando chegar a sua hora de se aposentar, serão outros contribuintes que pagarão o seu "prêmio". -E preciso uma reforma? O Brasil começou a viver uma enorme fase de desacele-ração de natalidade por volta do início da década de 1970. Esse cenário chega a uma estabilização nos dias atuais, contudo, com uma taxa muito menor que o essencial para haver um crescimento populacional, ou seja, que seria aci- ma de dois filhos por família. Isso acarreta em um grande problema para o nosso sistema previdenciário. É uma in- cógnita o seu futuro, mas já podemos concluir que o gasto será muito maior daqui a uns anos, justamente por conta do pagamento das aposentadorias e de outras despesas como o SUS, em função da maior longevidade das pessoas e decréscimo de nascidos. A tão fa lada Reforma da Previdência, inclusive, já recebe propostas muito antes dos ex-presidentes Dilma e Luiz Inácio Lula da Silva, e até mesmo do atual presidente Temer quere- rem mudanças. Desde a época de Fernando Henrique Cardo- so surgiam projetos com alterações no sistema previdenciário, que acarretavam inúmeras mudanças para a aposentadoria. O próprio Ministro da Fazenda Henrique Meirelles em 2017 - que foi substituído este ano por Eduardo Guardia -, evidenciou sua preocupação com o momento, dizendo que no ritmo que continuamos, chegaremos à beira de • um colapso, pois vamos ter só 131 milhões de brasi leiros em idade ativa até 2026. Hoje, esse número chega a 141 milhões. Esse cenário gerará uma carga tributária ainda maior para os brasileiros que a atual. E, ainda, poderemos chegar a um cenário até pior: o povo brasileiro ficará sem qualquer tipo de assistência, seja em relação a segurança, saúde e social. Ainda de acordo com o economista do Instituto de Eco- nomia e Pesquisa (lnsper}, Marcos Lisboa, se não houver uma solução o quanto antes, R$1 em cada R$4 gerados no Brasil será apenas para pagar aposentadorias e pensões. Com isso teremos uma baixa em investimentos no País e nos tornaremos cada vez mais pobres. Esse resultado ain- da terá consequências desastrosas, como greves por atra- sos em salários, sucateamento da saúde e outros serviços sociais, maior crescimento de crime organizado, entre outros fatores que levarão o País definitivamente para o fundo do buraco. Proposta do Governo A proposta atual da Reforma da Previdência sugere manter o tempo mínimo de contribuição de 180 meses (15 anos) para aqueles que se aposentarão no futuro pelo INSS. Em contrapartida, eleva para 25 o tempo dos funcionários públicos. O objetivo é corrigir uma distor- ção no sistema atual. No entanto, já temos uma enor- me gama de trabalhadores da iniciativa privada que enfrentam a informalidade e o desemprego e muitos deles não têm suas contribuições recolhidas ao INSS, sem contar que é algo praticamente inexistente no fun- cionalismo público. Outra mudança é a idade para se aposentar: de 65 anos para os homens e 62 anos para as mulheres. Exis- tem, no entanto, algumas exceções. Para professores, a idade é de 60 anos para ambos os sexos, policiais de 55 anos para ambos os sexos também e o segurado especial de 55 anos para mulheres e 60 anos para os homens. A modificação prevê ainda uma idade mínima de 53/55 anos para o INSS e 55/60 para servidores. Além disso, as idades vão subir um ano a cada dois anos. Exemplo, 54/56 anos em 2020 no INSS. Isso é para alcançar o previsto le- galmente em 2028 para os funcionários públicos e para os homens do setor privado em 2038. Foram excluídos do texto da reforma a aposentadoria rural e o Benefício de Prestação Continuada. Eles pagariam um salário mínimo aos idosos e às pessoas com deficiência 6% 5% 4% 3% 2% 1% 0% que fossem pobres, mas segundo os técnicos do governo, isso foi de~virtuado. A npva legislação também prediz que as contribuições sociais não devem ficar submetidas à Desvinculação de Receitas da União (DRU) e proíbe, inclusive, o acúmulo de pensões que somem a aposentadoria acima de dois salá- rios mínimos. Consequências da reforma não acontecer O que significaria não fazer uma Reforma na Previ- dência? Na última década, houve um enorme crescimento nos gastos da Previdência Social. De acordo com dados do Anuário Estatístico da Previdência Social, de 2005 a 2015, o crescimento anual médio foi de 5,3%, ou seja, muito mais que o dobro do crescimento do PIB, que como mostra o gráfico abaixo fo i de 2,5% neste mesmo período. Previdência x PIB entre 2005 e 2015 .. • . Crescimento médtO dos gastos de RGPS Crescimento médio do PIB Fonte: AEPS 2005 e 20 7 5; /BGE Esse crescimento acontece devido ao rápido envelheci- mento populacional, que leva a um aumento contínuo da parcela de aposentados, pressionando os gastos previden- . ' . C1arios. É possível fazer uma previsão dos gastos com aposenta- doria de acordo com as projeções demográficas a partir de uma decomposição contábi l. Em 2015, elas custaram 5,3% do PIB no ano de 2015. Tal despesa pode ser decomposta em três fatores: a proporção de aposentados dentre os ido- • sos (taxa de atendimento); a proporção de idosos dentre a população geral (taxa de dependência-idosos); e a pro- porção entre o valor médio das aposentadorias e o PIB per capita. Já em 2016, somadas todas as despesas com aposen- tadorias, pensões por morte, benefícios assistenciais e aci- dentários do INSS e de servidores da União, o Brasil gastou com Previdência em torno de 13% do PIB (Produto Interno Bruto), segundo dados do então ministro da Fazenda, Hen- rique Meirelles. 3. REFORMA TRABALHISTA Em 11 de novembro de 2017, entrou em vigor a reforma trabalhista aprovada pelo governo Temer. Com isso, hou- ve uma série de modificações na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Dentre vários projetos criados pelo gover- no, esse foi um dos mais controversos. Isso porque pregava as mudanças como uma forma para flexibilizar a legislação, facilitar as contratações e até mesmo corrigir distorções. No entanto, há uma boa parte de especialistas no merca- do que afirmam que essas mudanças tornarão tudo ainda mais precário e enfraquecerão a Justiça Trabalhista. Foram cem pontos da legislação alterados, que modi- ficam as regras relacionadas a jornada de trabalho, planos de carreira, férias, modalidades de trabalho como o home office, trabalho intermitente, contribuição sindical, etc. Abaixo algumas das principais mudanças': Acordos coletivos Antes, alguns acordos coletivos não eram permitidos se sobrepor ao que é garantido pela CLT. Agora, essa flexibili- dade é permitida, como jornadas de trabalho de até 12 ho- ras, licenças maternidade e paternidade, planos de carreira, entre outras, desde que seja no limite de 48 horas semanais e não ultrapasse 220 horas por mês. Jornada parcial Em relação às jornadas parciais, antes eram permiti- das apenas 25 horas semanais, e sem hora extra. Agora, podem ser de até 30 horas semanais, sem hora extra, e de até 26 horas semanais, mas com acréscimo de até seis horas extras. 1 Fonte: http://trabalho.gov.br/ images/Documentos/ASCOM/cartilha_mo- dernizacao.pdf<acesso em 24.07.2018> Férias As novas determinações permitem agora que as férias possam ser parceladas em até três vezes. Antes, só era permitido o parcelamento em duas vezes. No entanto, ne- nhum dos períodos pode ser inferior a cinco dias e, tam- bém, um deles precisa ter pelo menos mais que 14 dias. Grávidas e lactantes Antes da nova lei entrar em vigor, elas eram proibidas de trabalhar em locais e atividades considerados insalu- bres, agora, em locais de grau "mínimo" e "médio'; as grá- vidas e lactantes são permitidas, a não ser que a pedido de seus médicos devam ser afastadas. Já os locais considera- dos de grau "máximo" continuam proibidos. • Contribuição sindical Passa a não ser mais obrigatória. Antes, o desconto era realizado automaticamente, uma vez por ano em folha de pagamento. Agora, será cobrado apenas de trabalhadores que autorizarem. Autônomos Antes das novas regras, se houvesse relação de exclu- sividade e continuidade na prestação de serviços por pes- soas autônomas, era constatado vínculo empregatício.Agora, empresas podem contratar autônomos e, mesmo se a exclusividade acontecer, não será considerado como vínculo. Home office Passa a não existir mais controle de jornada. O traba- lho que for realizado em casa será remunerado agora por tares. E, inclusive, no contrato, deverão constar as regras para equipamentos e definições de responsabilidade pelas despesas, além das atividades que o funcionário vir a de- sempenhar. Já o comparecimento à empresa para a realiza- ção de algumas atividades específicas não descaracterizam também o home office. Trabalho intermitente Antes, a CLT não previa esse tipo de vínculo. Agora pas- sarão a ser permitidos aqueles contratos em que o trabalho não terá continuidade. No caso da convocação do colabo- rador, essa deverá ocorrer com pelo menos três dias de an- tecedência. E a remuneração acontecerá por hora de traba- lho, mas é determinado que ela não poderá ser inferior ao • valor da hora sobreposta no salário mínimo. Além disso, os colaboradores, mesmo que nessas condições, terão direito a férias, previdência, 13° salário e FGTS. Almoço Antes, a CLT determinava um período obrigatório de pelo menos uma hora de almoço. Agora, a regulamentação flexibiliza a negociação entre o empregador e o empre- gado. Ou seja, em caso de redução desse tempo, deve ser descontado da jornada de trabalho. Ações na Justiça: Fica estabelecido que o trabalhador que não compare- cer às audiências ou que também perder ações na Justiça terá que pagar os custos processuais e honorários da par- te contrária, além de multa e pagamento de indenizações. Isso caso o juiz interprete que o trabalhador agiu de má fé. Já nas ações por danos morais, o empregador terá que pa- gar uma indenização de no máximo 50 vezes o último salá- rio do funcionário. Além disso, será obrigado a especificar os valores solicitados nas ações da petição inicial. - I 4. QUESTAO AGRARIA Problema com raízes históricas, a questão da reforma agrária revela aspectos econômicos, políticos e sociais. A situação abrange um quarto da população brasileira, que trabalha no campo, sendo pequenos e grandes agriculto- res, trabalhadores rurais, pecuaristas e os sem-terra. Foto: Brazil Photos/Getty lmages Realizar uma reforma agrária, que traga em seu bojo uma plataforma j usta e economicamente viável, é um dos maiores desafios do Brasil. O país tem mais de 371 milhões de hectares, o equivalente aos territórios de Ar- gentina, França, Alemanha e Uruguai somados, para a agricultura 'no país, mas só uma porção re lativamente pe- quena dessa terra tem algum tipo de plantação. Cerca da metade destina-se à criação de gado. O que sobra é o que os especialistas chamam de terra ociosa, nada se produ- zindo nesse espaço. A concentração de terra ainda é uma realidade brasi- leira e um dos maiores problemas: até a década passada, quase metade da terra cult ivável ainda estava nas mãos de 1% dos fazendeiros, enquanto uma parcela ínfima, menos de 3%, pertencia a 3, 1 milhões de produtores rurais. • Comparando-se com os vizinhos latino-americanos, o Brasil é um campeão em concent ração de terra. Vence ain- da Índia ou Paquistão, onde a situação é calamitosa. Desse cenário impensável para o século XXI, nascem as explo- sões, as guerras fundiárias, os crimes, uma contenda que parece não ter data para terminar. Um pouco de história Os problemas com a terra no Brasil começaram em 1850, quando acabou o tráfico de escravos, e o Império, sob pressão dos fazendeiros, resolveu mudar o regime de propriedade. Até então, ocupava-se a terra e pedia-se ao imperador um título de posse. Dali em diante, com a ame- aça de escravos virarem proprietários rurais, deixando de se constituir num quintal de mão-de-obra quase gratuita, o regime passou a ser o da compra, e não mais de posse. Os Estados Unidos, que à época, discutiam o mesmo problema, fize- ram exatamente o contrário. Em vez de impedir o acesso à terra, abriram o oeste do país para quem quisesse ocupá-lo - só ficavam excluídos os senhores de escravos do sul. Foi as- sim que conseguiram criar e manter uma potência agrícola, um mercado consumidor e uma cultura mais de- mocrát ica. Na Europa, Ásia e América do Nor- te, observando algumas variações, o que predomina é a propriedade fami liar, aquela em que pais e fi lhos pegam na enxada de sol a sol e rara- mente são assalariados. Sua produ- ção é suficiente para o sustento da família e o que sobra, em geral, é vendido para uma grande empresa agrícola comprometida com a compra dos seus produtos. Algo se- melhante acontece com os produtores de uva do Rio Gran- • de do Sul, que vendem sua produção para as vinícolas do norte do Estado. Em Santa Catarina, os aviários são de pequenos proprie- tários. Têm o suficiente para sustentar a família e vendem sua produção para grandes empresas, como Perdigão e Sadia. Esse sistema é tão produtivo que, só no Brasil, boa parte dos alimentos vem de parte da população que possui até 1 O hectares de terra. Proprietárias de terras com mais 1.000 hectares produzem, relativamente, uma parte pequena do que se come. Mesmo se os pequenos proprietários não conseguissem produzir para o mercado, mas apenas o suficiente para seu sustento,já seria uma saída pelo menos para a miséria urbana. Um olhar sobre os assentamentos Os assentamentos, que causam tanta preocupação ao país, podem se tornar uma solução para a tremenda migra- ção que existe no Brasil. O problema agrário está por trás de qualquer fluxo migratório, como o caso dos gaúchos que foram para Rondônia na década de 70 ou os nordes- tinos que buscam emprego em São Paulo. Não podemos nos esquecer daqueles que parecem invisíveis, como o que acontece na região de Ribeirão Preto, a chamada Califór- nia brasileira, onde 50.000 boias-frias trabalham no corte de cana das usinas de álcool e açúcar durante nove me- ses. Nos meses restantes, retornam para casa, grande parte deles é da região do Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais, que apresenta um baixíssimo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Segundo dados do Governo, assentar uma família não é barato: o custo chega a 30 mil reais por pedaço de terra. Mesmo assim é mais barato que a criação de um emprego no comércio, que custa 40 mil reais ou na indústria, que sobe para 80 mil reais. Mas a diferença é que esses não são gastos públicos, já os do campo, em se tratando de assen- tamento, tem de vir do governo. Mas o retorno é alto: de cada 30 mil reais investidos, estima-se que 23 mil voltem a seus cofres após alguns anos, na forma de impostos e mesmo de pagamentos de empréstimos adiantados. Mas, enquanto não se faz a reforma agrária, o que enfrentamos é a urbanização selvagem, a criminalidade em alta, a de- gradação das grandes cidades. Conflitos agrários O Brasil tem visto crescer os conflitos nos últimos anos. Isso é consequência das contradições do modelo agrícola/ agrário em curso. Em destaque, temos a violência contra os camponeses, os povos indígenas e outras populações tra- dicionais, denunciando práticas coloniais, principalmente na expansão territorial do capital que, para essas popula- ções, não são frentes de expansão, mas sim frentes de in- vasao. O processo de desenvolvimento agrário brasileiro neste início de século caracteriza-se: (1) pela persistência da concentração fundiária e as de- sigualdades a ela associadas; (2) pela crescente internacionalização da agricultura com seu expoente na aquisição de terras, processamento agroindustrial, controle da tecnologia e da comercialização da produção-agropecuária; • (3) pelas transformações na produção agropecuária, que provoca insegurança alimentar; (4) pela continuidade da violência, da exploração do trabalho e da devastação ambiental no campo. As populações tradicionais são as que mais se envolvem nos conflitos agrários, segundo dados oficiais. Na maioria dos casos, são vítimas de processos expropriatóriosde seus territórios tradicionais. Movimentos sociais têm ressignificado o conceito de território, que era entendido como base natural do Estado- · Nação. Suas reivindicações são, para além da terra, por ter- ritório. Esses movimentos entendem que a terra é recurso (parcela produtiva) e deve fazer parte de um contexto que possibilite viabilidade social, econômica, política e cultural para as populações tradicionais, camponesas, quilombolas e indígenas. O cenário político ganha, assim, novas formações po- lítico-identitárias, como os remanescentes de quilombos, os indígenas e mulheres (benzedeiras, camponesas, que- bradeiras de coco babaçu) e outras identidades associa- das a gênero. - , 5. QUESTAO INDIGENA As estimativas da população indígena por ocasião do descobrimento do Brasil chegam a cinco milhões. Com a chegada dos portugueses, o extermínio dos povos nativos foi preponderante, devido às doenças que os europeus trouxeram em seus navios, a escravização a que os índios foram submetidos e os conflitos armados. A mão de obra indígena foi a base da formação da nossa economia, no iní- cio da colonização brasi leira. Com a colonização adentrando o interior do país, a • violência aumentou. Os indígenas entraram em conflito com os bandeirantes e sertanistas, que ansiavam por en- contrar as jazidas de ouro e pedras preciosas. Para que isso acontecesse, explorassem minas, era necessário a mão escrava. A resposta para isso foi a organização do que esses "desbravadores" chamaram de bandeiras, ex- pedições formadas para capturar os índios. Mas eles não se revelaram "adequados" para o trabalho escravo e, na década de 1750, a Coroa Portuguesa aboliu a escravidão indígena, trocando-a pela africana. A colonização traz em seu bojo, também, a catequiza- ção, que acontece entre os séculos 16 e 18. A missão fica a cargo dos padres jesuítas vindos de Portugal. Essa ideia de catequização, de que os indígenas deviam abandonar sua cultura e tornarem-se "civilizados'; abraçando a cultura ocidental, chega até o século 20. Criou-se, em 191 O, o Serviço de Proteção ao Índio. Sua principal função era contatar as tribos isoladas com a inten- ção de promover a coexistência pacífica entre indígenas e colonizadores. O principal coordenador desse projeto foi Marechal Rondon que, além de liderar o instituto, partici- pou de expedições às fronteiras do Brasil. Rondon instalou postos telegráficos e procurou manter contato amigável com as populações indígenas. Os irmãos Vi llas-Boas, durante a ditadura de Getúlio Vargas e seu Estado Novo, de 1937 a 1945, atra iram e pacificaram os povos isolados, que ocupavam o Brasil Central. O plano do governo brasi leiro era incorporar o território e economia dessa região na chamada "Marcha para o Oeste". Os Vi lias-Boas foram preponderantes para a criação do Parque Indígena do Xingu, em 1961, volta- do para as etnias dessa região, tornando-se um marco histórico para o Brasil pois, até o momento, não havia uma legislação que protegesse os direitos territoriais dos índios. Na década de 1970, com a ditadura, os olhos voltaram- -se para a Amazônia, na tentativa de uma expansão em suas atividades produtivas. A criação da Transamazônica, estrada com 5.000 quilômetros que atravessaria a flores- ta Amazônica, a partir de João Pessoa no Nordeste até a fronteira com o Peru, era o sonho dourado do presidente Emílio Garrastazu Médici, e transformou-se num dos maio- res fracassos da história recente do País. Mas não foi só da maior estrada que o Brasil teria notícia que se projetou nes- se período: hidrelétricas, desmatamento para a pecuária e conflitos nas regiões expulsaram comunidades indígenas inteiras de suas terras. Em 1973, o governo aprovou o Estatuto do Índio. So- mente em 1988, com a promulgação da nova Constituição Federal, estabeleceu-se o direito originário dos índios sobre as terras que tradicionalmente ocupam e reconheceram-se oficialmente direitos de cidadania, respeito à identidade e organização social, costumes, línguas, crenças e tradições. Os indígenas passaram a fazer parte como categoria do censo do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - a partir de 1992. A categoria revelou que apenas 0,2% do total da população brasileira se decla- rava como indígena, tota lizando 294 mil pessoas. No censo de 201 O, o Brasil t inha 890 mil índios, pertencen- tes a 305 etnias, que se diferem entre si em culturas, crenças e hábitos. São 274 línguas já catalogadas, o que configura uma das maiores diversidades cu ltura is do mundo. A Amazônia legal, formada pelos estados do Amazonas, Acre, Roraima, Rondônia, Mato Grosso e Pará, concentra 70% da população indígena, sendo que 57% deles vivem em terras indígenas oficialmente reconhecidas. Outras fa- mílias moram na zona rural e em cidades, a maioria em si- tuação de pobreza. As principais regiões que concentram os índios hoje são Amazonas, Nordeste, Centro-sul e o estado do Mato Grosso do Sul. Segundo dados da FUNAI - Fundação Nacional do Índio - cerca de 40 povos se encontram isolados, sem ter tido contato com o branco. A situação atual Um dos maiores entraves da população indígena, para que façam valer seus direitos, está na língua e nos costu- mes: para ter acesso a saúde e educação, precisam adquirir os conhecimentos e culturas externos. Mas o maior problema tem sido a demarcação de terras indígenas, o que já ocasionou inúmeros conflitos. Para re- solver essa questão da demarcação, a Funai deve elaborar estudos de identificação e delimitação, que precisam obe- decer a critérios técnicos que levam em conta toda a histó- ria de ocupação daquela terra. Depois o processo deve ser aprovado pela Justiça. Os maiores conflitos acontecem no Mato Grosso do Sul, que tem provocado mortes entre os índios Guarani- -Kaiowá. A maior dificuldade entre a disputa de terra com fazendeiros é a demora da decisão judicial porque, até que a justiça não se pronuncie, não é possível comprovar que a terra é indígena. Preservar a cultura, hoje, tem sido o grande desafio, graças à convivência desses povos com a cultura branca. Convivência forçada, porque essas áreas de preservação ambiental são exploradas ilegalmente. Lembrando que qualquer exploração e aproveitamento de recursos hídri- cos e riquezas minerais só podem ser feitos com autoriza- ção do Estado. Plenário da Câmara dos Deputados durante sessão solene em homenagem ao Dia do Índio, comemorado em 19 de abril. Desde que deram início ao Acampamento Terra Livre, as lideranças indígenas cumpriram a agenda no Parlamento onde apresentam suas reivindicações. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado O garimpo é um dos maiores problemas. Em 2015 a Polícia Federal descobriu atividades garimpeiras ilegais na terra indígena dos Yanomami, em Roraima. O esquema movimentou cerca de 1 bilhão de reais no período de dois anos, e o caso já tinha sido denunciado pelos indígenas que vivem no local. No Baixo Xingu, o maior problema é a Usina Hidrelétrica de Belo Monte em Alta mira, Pará. A barragem foi motivo de oposição entre os habitantes da bacia do Xingu,já que a hi- drelétrica pode afetar o meio ambiente, provocando mor- tandade de peixes e afetando os rios de maneira geral. Mas em 2015 a FUNAI autorizou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA - a conceder licença para barragem operar. Havia, ainda no governo Dilma Rousseff, o projeto de construir 40 barragens no Rio Tapajós, no Pará. Atingiria 19 territórios indígenas e afetaria florestas inteiras preserva- das. O projeto estava em fase de licenciamento ambiental. Outra obra que estava planejada no governo de Dilma Rousseff em 2015 era construir 40 barragens no Rio Tapa- jós, no Pará, que afetaria florestas preservadas e 19 territó- rios indígenas. Na época, o projeto estava em fase de licen- ciamento ambiental. I 6. A CRISE CARCERARIA NO BRASIL Em 1º de janeiro de 2017, aconteceuo segundo maior massacre do sistema prisional brasileiro, no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj). Trata-se da maior penitenciária de Manaus. Naquela data, foi detonado um motim, que durou cerca de 17 horas e teve o saldo de 56 presos brutalmente assassinados. O motivo apontado para o motim foi o conflito entre diversas facções criminosas, mas especialistas apostam suas fichas no descaso das au- toridades com o sistema carcerário do país. • O caso não foi isolado. Outras rebeliões tomaram diver- sos estados, atingindo o total de 130 mortes, superando o maior massacre até então conhecido, o Carandiru, aconte- cido em 1992 . Com a deflagração desses massacres, governos federal e estaduais e diversas instituições apresentaram projetos para a solução do caso, que passam, necessariamente, por novas políticas encarceradoras. Um ano depois, a história se repetia: 14 prisioneiros morreram em Goiânia, no Complexo Prisional de Apareci- da, num conflito entre facções. No Ceará, 1 O caíram mortos na Cadeia Pública de ltapajé, cidade que fica a 124km de Fortaleza - somente nessa unidade, segundo agentes car- cerários, essa cadeia contabilizava 113 presos, mas só tinha capacidade para abrigar 25 pessoas. País é o terceiro que mais prende O último Levantamento Nacional de Informações Peni- tenciárias (INFOPEN), publicado em dezembro de 2017, re- vela um total de 726. 172 pessoas presas e coloca o Brasil na terceira posição em números da população-carcerária do mundo. Esse novo levantamento levou mais de dois anos para ser divulgado - o último havia sido em 2015. O grande problema vai além do número excessivo de presos: desses - - - ,. ( 726.172, há um excedente de 358.663 vagas, revelando a face mais cruel do sistema prisional brasileiro. Isso significa que o crescimento da população prisional não foi acom- panhado pelo número de vagas necessárias para abrigar adequadamente esse contingente. Algumas taxas de ocu- pação assustam: no Amazonas, o registro é de 484% - é a maior do país até o momento - ; no Ceará bateu em 385,6%; em Goiás, 236,6% e no Rio Grande do Norte, 206,5%. Esses dados são somados à grande violência que pre- domina em nosso sistema carcerário. E acresce-se ainda mais: há um altíssimo índice de pessoas aprisionadas ain- da sem condenação. Amazonas, Ceará e Sergipe lideram o ranking do encarceramento provisório: Ceará comparece com 66%, Sergipe com 65% e Amazonas com 64%. A eles seguem Maranhão, Bahia e Minas Gerais (58,6%, 58,2% e 57,8%). A média nacional segue em 40%, semelhante ao levantamento 'anterior, de 2014. Sem educação, sem trabalho O sistema carcerário brasileiro não garante o direito à educação e ao trabalho na prisão. Apenas 12% da popu- lação prisional, ou 87.140 pessoas, estão envolvidas em atividades educacionais. A melhor taxa está em Tocantins (25%), as piores ficam com Rio Grande do Norte e Amapá, Foto: Marie Tama/Getty lmages apenas 2%. Quanto ao trabalho, só 15% do total da popu- lação carcerária exerce alguma at ividade. O Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD) argu- menta que a solução para o sistema carcerário brasileiro está ' na redução da superlotação e em propostas que fomentem o trabalho e a educação. O IDDD elaborou um documento, em fevereiro de 2017, que propõe várias medidas para com- bater essa questão da superpopulação carcerária, e incluem políticas de segurança pública e política prisional. Esse do- cumento foi apresentado ao STF (Supremo Tribunal Federal) e STJ (Superior Tribunal de Justiça). Segundo o IDDD, ganha- ram apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB SP), da seccional paulista da Defensoria Pública de São Paulo, do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), e do Ins- tituto dos Advogados de São Paulo (IASP). Abaixo estão listadas as principais propostas do documento: REGULAMENTAÇÃO DAS AUDIÊNCIAS DE CUSTÓDIA POR MEIO DE LEI Regulamentada via Resolução nº213 de 2.Q,15 do Conse- lho Nacional de Justiça (CNJ), a audiência de custódia con- siste no contato entre o custodiado e autoridades j udiciais em menos de 24 horas após a prisão em flagrante para veri- ficar se há a necessidade de prisão provisória ou mesmo se houve qualquer t ipo de ilegalidade na abordagem policial. Também pode ser visto enquanto mecanismo que busca frear o crescimento de prisões provisórias. PROIBIÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA PARA CASOS DE TRÁFICO PRIVILEGIADO Tal medida visa a alterar a chamada "Lei de Drogas" (Lei 11.343/06), vedando a prisão preventiva em casos em que o réu seja primário e não esteja envolvido em atividade cri- minosa ou associado ao crime organizado. PROIBIÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA PARA CRIMES SEM VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA COM PENA IGUAL OU ME- NOR A 4 ANOS A proposta resultaria na modificação do art. 313 do Código de Processo Penal, prevendo a proibição da prisão preventiva para crimes sem violência ou grave ameaça com pena mínima igual ou inferior a 4 anos, levando em conta que em condenações até esse limite a pena privativa de liberdade poderá ser substituída por medidas restritivas de direitos. De modo que muitas prisões preventivas são permitidas em casos em que não haveriam legalidade para aplicar a pena de prisão. EDIÇÃO DE RESOLUÇÃO PELO CNJ PARA CONTROLE DAS PRISdES PROVISÓRIAS E MEDIDAS CAUTELARES O IDDD propõe a redação, pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de resolução por meio da qual se determi- ne que o magistrado periodicamente passe a reavaliar a necessidad~ de manutenção da prisão cautelar. Idêntica providência se propõe para ser adotada no âmbito dos tri- bunais. Além disso, sugere-se a expedição de ofício aos Tri- bunais Estaduais e Tribunais Regionais Federais reclaman- do-se a aplicação do estabelecido no art. 1 O da resolução n° 213 do CNJ com re lação às medidas cautelares diversas da prisão: Art. 10. A aplicação da medida cautelar diversa da prisão prevista no art. 319, inciso IX, do Código de Processo Penal, seró excepcional e determinada apenas quando demonstra- da a impossibilidade de concessão da liberdade provisória sem cautelar oµ de aplicação de outra medida cautelar me- nos gravosa, sujeitando-se à reavaliação periódica quanto à necessidade e adequação de sua manutenção, sendo des- tinada exclusivamente a pessoas presas em flagrante delito por crimes dolosos puníveis com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos ou condenadas por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalva- do o disposto no inciso Ido cap. do art. 64 do Código Penal, bem como pessoas em cumprimento de medidas protetivas de urgência acusadas por crimes que envolvam violência do- méstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, ido- so, enfermo ou pessoa com deficiência, quando não couber outra medida menos gravosa. EDIÇÃO DE SÚMULAS VINCULANTES QUE PACIFIQUEM ENTENDIMENTOS CONSOLIDADOS PELO STF E CRIAÇÃO DE MECANISMOS URGENTES QUE GARANTAM O CUMPRIMEN- TO DAS SÚMULAS DO STJ O IDDD propõe a edição de súmulas vinculantes pelo Supremo Tribunal Federal em matéria penal envolvendo questões mais urgentes que visam a garantir a igualdade de tratamento de toda a população e em todos os tribunais do país. Além disso, sugere adoção de medidas que exijam dos juízes e tribunais estaduais o cumprimento irrestrito das súmulas do STJ. ALTERAÇÕES NA LEI DE EXECUÇÃO PENAL PARA GA- RANTIR DIREITOS DO APENADO O IDDD propõe a votação em separado e em regime de urgência do Projeto de Lei do Senado n° 513/13, que al- tera a Lei de Execuções Penais. Entre as sugestões, está a aproximação das regras de progressão de regime com as regras da prisão temporária: vencido o prazo, o juiz precisa atuar, caso contrário a pessoa é liberada automaticamente. Isso significaria que, em relação ao cumprimento de pena, alcançado o lapso, o sentenciado seguiria automaticamente ao próximo re- • gime; se o diretor da prisão ou o Ministério Público entenderem que nãoé caso de progressão, devem buscar decisão nesse sen- tido do juiz competente. Assim, a demora ou omissão do Estado e/ ou dos operadores do sistema de justiça criminal não prejudica o di- reito do sentenciado, que terá um alvará de progressão garantido, a menos que o juiz diga que não faz jus à próxima. 70,0 60,0 Efeito do estatuto do desarmamento sobre as armas de fogo 56,3 59,5 50 4 53,2 45 1 47,6 , 160 mil vidas poupadas - SO,O ~ ., E 40,0 -~ o 30,0 :!! ~ 40 3 42,6 ' 38,2 • 33 5 36,1 34 2 33 434 9 34 1 3S,736,636,8 36,7 31 1 ' ' • ' ' 40,1 E 20,0 o :,: 26 7 28,8 ' 24 8 ' 19821,3 23,0 ' 17,018,3 ' 4 10,0 0,0 .. "' "' "' a, a, a, a, "' a, a, "' .... .... .... .... 7. ESTATUTO DO DESARMAMENTO O Estatuto do Desarmamento, sancionado em dezem- bro de 2003, remete a um Fla-Flu em final de campeonato. De um lado, números que defendem a legislação vigente e, do outro, os que querem a revogação das normas atuais sobre porte e posse de armas de fogo no Brasil. De um lado, dados que relacionam o número de armas e o crescimento do índice de homicídios; do outro uma argumentação cal- cada na impossibilidade de se estabelecer um paralelo de causa e consequência entre as duas situações. O Instituto Sou da Paz tem como principal defesa do desarmamento um gráfico com dados do Mapa da Violên- cia que apontam que, desde 2003 - quando o estatuto foi criado - até 2012, 160 mil vidas teriam sido poupadas no Brasil. Veja os gráficos a seguir: ,._ a, a, .... 50,0 2003=46,S - E - Jovem g 40,0 ... - Total E 41 -u. < 30,0 ~ o 2003=22,2 e. 41 "0 "' 20,0 ..., "0 ______ / -"' t: _/ --o E 1980=12,8 41 10,0 "0 "' "' X {?. 1980=7,3 0,0 1980 1984 1988 1992 1996 2000 2004 00 a, o .... N "' ;g "' "' ,._ 00 a, o .... N o o o o o o o o o .... .... .... a, a, o "' "' o o o o o o o o o o o o .... .... N N N N N N N N N N N N N Previstos .,..Registrados Com dados do Instituto Sou da Paz • Deputado pelo PMDB/SC, Rogério Peninha Mendonça é autor do PL 3722/2012, que propõe a revogação do Es- tatuto do Desarmamento, questiona o gráfico divulgado pelo instituto, afirmando que a linha chamada por ele de ad aeternum não funciona, pois se uma criança mostrar crescimento normal, terá 1 O metros de altura aos 60 anos. Do outro lado, pesquisadores de várias áreas, como saúde pública, relações internacionais, direito, economia e sociologia defendem a continuação do estatuto de de- sarmamento. Para tanto, lançaram um manifesto assinado por 57 desses pesquisadores. Um dos trechos do manifes- to apregoa o seguinte: "Estudos científicos que lograram abordar esse problema de forma estatisticamente adequa- da geraram evidências empíricas robustas sobre a relação entre armas de fogo e violência. Esses estudos, conduzidos em inúmeras instituições de pesquisa domésticas e inter- - 2008 nacionais, levam à conclusão inequí- voca de que uma maior quantidade 2012= 47,6 de armas em circulação está associa- 2012= 21,9 20 12 da a uma maior incidência de homicí- dios cometidos com armas de fogo': diz um trecho do texto. Fonte: SIM/ SVS/ MS. Fonte: https:/ / www.mapadaviolencia.org. br/ pdf2015/ mapaViolencia2015.pdf Já a presidente do Movimento Viva Brasil diz que não é possível estabelecer uma relação precisa entre a quantidade de armas disponíveis e o índice de homicídios. A afirmação tem o respaldo de um estudo da ONU, publicado em 2011, • o Global Stud on Homicide (Estudo Global sobre Homicídios), do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes. Mas o estudo também chega à conclusão de que as armas podem facilitar que criminosos em potencial come- tam crimes e transformar'simples' disputas familiares ou de comunidade em tragédias. Um dos trechos do estudo diz o seguinte: "De uma perspectiva teórica, não existe teoria dominante que explique a relação entre a posse de armas e homicídios, ou crimes em geral, já que as armas podem tanto dar poder a um potencial agressor quanto a uma ví- tima que busca meios de resistir à agressão'; diz o Estudo. O Instituto Sou da Paz ainda cita dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação, segundo os quais, en- tre 201 O e 2014, o número de armas registradas para "cida- dãos comuns" teve um salto de 100%. 8. MOBILIDADE Mobilidade urbana é a condição que a população tem de deslocamento no espaço geográfico das cidades. Nor- •• 1 •••••u ·-- il '" UIU 1uc::: lU!!ll.:: • 1 1 malmente se usa esse termo como referência ao trânsito de veículos e de transportes, seja por meio de carros, mo- tos, na modalidade individual, ou seja, por meio de ônibus, trens, na modalidade coletivo. Os congestionamentos maciços, a falta de um transpor- te público adequado, tem colocado a questão da mobilida- de urbana na pauta de qualquer discussão sobre políticas públicas. As grandes cidades não têm encontrado a saída para desenvolver meios práticos para resolver os conges- tionamentos e estrangulamentos do trânsito ao longo do dia. Há, também, outro grave problema a ser solucionado: a grande presença em áreas centrais dos espaços urbanos. De outro lado, o excesso de veículos traz problemas ambientais, gerando poluição e interferindo em problemas naturais e climáticos. Uma das consequências é o aumento das ilhas de calor. • Mas o que causa toda essa problemática na mobilida- de urbana no Brasil? A quantidade de carros particulares em circulação nas ruas das grandes metrópoles é uma das respostas. E isso se deve a fatores como ao aumento da renda média do brasileiro nos últimos anos, à redução de impostos por parte do Governo Federal sobre produtos in- dustrializados (o que inclui os carros), à má qualidade do transporte público no Brasil e à herança histórica da políti- ca da rodoviária do país . • • • , Foto: Getty I mages Dados do Observatório das Metrópoles sinalizam que, entre 2002 e 2012, enquanto a população brasileira cres- ceu 12,2%, o número de automóveis pulou 138,6% em sua escala de crescimento. Há cidades que registram menos de ' 2 habitantes por veículo. E quais seriam as soluções? Especialistas do assunto apontam os transportes coletivos adequados e eficientes como a resposta mais plausível e necessária. Utilização de outros veículos não poluentes, como as bicicletas, também está na pauta do dia, com a construção de ciclovias e cic lo- faixas que respeite um projeto realista. Pedro pedreiro penseiro Esperando o trem Manhã parece carece De esperar também ... Exerto de Pedro Pedreiro, de Chico Buarque Há outros problemas que atrapalham a mobilidade do cidadão nas grandes cidades e fora delas também. Com uma política de transportes voltada quase que exclusiva- mente à malha rodoviária intensificada no século XX, o país padece, hoje, de modos alternativos de locomoção, tanto nas metrópoles quanto fora delas, na ligação de uma ci- dade a outra ou um estado a outro. A diversificação modal de transporte é uma necessidade premente da nova socie- dade. Há, ainda, outras questões a serem examinadas, como o tempo de deslocamento, que só faz aumentar nas gran- des cidades, devido justamente a congestionamentos e ao avanço das periferias, resultado do boom da especulação imobiliária de anos recentes. E outras soluções também são propostas pelos especialistas em Urbanismo e Geogra- fia Urbana, como os rodízios de veículos, já utilizados por algumas cidades como São Paulo. Uma ideia bastante polêmica fala da adoção dos pedá- gios urbanos. Segundo defensores desse projeto, isso dimi- nuiria sensivelmente os veículos em trânsito. Problemas que o Estatuto das Cidades tem de discutir com a sociedade e propor soluções: fóruns de mobilidade urbana, a própria melhoria do estatuto, criação e fisca liza- ção de ciclovias e ciclofaixas, mão única em avenidas nas horas de congestionamento. O debate está aberto. 9. A QUESTÃO DA MORADIA NO BRASIL Um dos maiores problemas sociais do Brasil diz respeito à questãoda moradia. Mas, para entender esse assunto, é preciso compreender, primeiro, como se deu a urbanização das principais cidades brasileiras. Como todos os proble- mas urbanos, a questão da moradia remonta a um século de políticas que não olham para a população mais pobre, em muitos casos como se elas nem existissem. São Paulo será o exerriplo para essa explicação. No começo do século passado, tem início o desenvol- vimento urbano do Rio de Janeiro e São Paulo. Segundo Maricato2: 1 O fim da escravidão fez com que milhares de negros fos- sem expulsos do campo e migrassem para a cidade. Con- comitantemente, imigrantes europeus chegaram ao Brasil para trabalhar no campo e na nascente indústria brasi lei- ra. Esses fatores provocaram o aumento da população nas cidades, especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, fato que acarretou uma demanda por moradia, transporte e demais serviços urbanos, até então inédita. Com ci chegada de mais e mais pessoas aos centros desenvolvidos, que vinham para trabalhar nas fábricas, principalmente imigrantes italianos e espanhóis, no caso de São Paulo, esses trabalhadores passaram a morar em cortiços e pensões e é também nesse período que surgem as primeiras vi las operárias - conjunto de casas oferecidas aos empregados pelas fábricas, descontando o aluguel em seus salários. A construção de moradias oferecidas pelas empresas fez parte de um projeto do governo que oferecia crédito a essas empresas para a empreitada. Mas como os empresários não obtiveram grandes lucros com a construção de habitações individuais - havia uma diferença de preço enorme entre es- sas moradias e as informais--, alguns proprietários começa- ram a construir habitações para as populações mais pobres, os cortiços e vi las operárias, enquanto outros se dedicaram a loteamentos para as classes mais altas. Essas primeiras moradias populares são próximas aos locais de trabalho - como Brás e Mooca, em São Paulo. Ou seja, os trabalhadores viviam perto de seus locais de traba- lho. As periferias, portanto, ainda nâo existiam. Mas, a partir de 1940, o cenário começa a mudar com os movimentos migratórios internos, trazendo grande parte da população do campo para a cidade. Cortiços começam a ser demolidos, preço dos aluguéis sobe e até as vilas ope- rárias começam a desaparecer. Maricato3 afirma que o poder público, apesar de finan- ciar a construção das habitações coletivas, não via os cor- tiços com bons olhos, considerando-os "degradantes, imo- rais e uma ameaça à ordem pública". Assim, o novo poder republicano, que tem sua base formatada nos ideais po- 2 MARICATO, Ermínia. Brasil 2000: qual p lanejamento urbano? Cadernos IPPUR, Rio de Janei ro, Ano XI, n. 1 e 2, p. 113, 1997. 3 Idem /, ;} /, /; ./ /; IÍ Foto: Getty I mages sitivistas, promove uma reforma urbana no Rio de Janeiro para melhorar a circulação de serviços, mercadorias e pes- soas na cidade. Devemos lembrar que o Rio, à época, ainda era a capital do país. Foram demolidos 590 prédios velhos para construção de 120 novos edifícios, o que significou a expulsão de diversas famílias pobres de suas moradias, a ocupação dos subúrbios e a formação das primeiras favelas do Rio de Janeiro. Outro movimento surge por essa época: proprietários de lotes mais distantes do centro começam a vender essas terras para os trabalhadores que, sem conseguirem pagar os aluguéis mais próximos ao centro, passam a comprá-las e a residir distante do local de trabalho. As periferias pas- sam a fazer parte do cenário das cidades. São regiões afastadas, dominadas pela vegetação, sem serviços básicos. Cabe ao governo, então, passar a levares- ses serviços até essa periferia. Energia elétrica, saneamento básico, estradas asfaltadas passaram a fazer parte dos pla- nos da prefeitura. Devido a isso, as regiões intermediárias, que ficam entre o centro e a periferia, também começam a receber esses serviços. Esses terrenos, ainda desabitados, passam, então, a se- rem mais valorizados e vão passar a ser a moradia, em fu- turo próximo, da classe média, ganhando status de bair- ros nobres, como é o caso, em São Paulo, do Morumbi, Vila Sônia, Butantã, na região que fica entre o Centro e o Campo Limpo. Esse fato é descrito com mais detalhes no livro "Por Que Ocupamos? Uma Introdução À Luta dos Sem- -Teto'; escrito por Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e membro da Frente Povo Sem Medo. Com os valores dos imóveis em subida acelerada, es- paços que antes não despertavam interesse no mercado imobiliário tornam-se a menina dos olhos para novas cons- truções, a contínua chegada de novas migrantes, especial- mente vindos do Nordeste e Norte do país, novos bolsões da periferia começam a surgir, cada mais distantes do cen- tro. Mas, em contrapartida, não são realizadas, à mesma medida que crescem, investimentos nos serviços básicos. Dessa forma, até a década de 1930, o problema da ha- bitação agravou-se em diversas cidades brasi leiras, porque o poder público não tinha uma atuação eficaz e pertinente. Com a Revolução de 30, a industrialização e a urbanização ganham impulso e só a partir daí começa a se pensar em uma política para a habitação. • Muitas vezes, fica inviável para um trabalhador atraves- sar a cidade para chegar ao seu local de trabalho, principal- mente porque, àquela altura dos anos 1950 e 1960 a malha de transporte público ainda é bastante incipiente. Programas habitacionais A principal marca da política habitacional do governo populista foi a criação da Fundação da Casa Popular (FCP), em 1946. Os resultados ficaram aquém do imaginado, mas há o mérito de ter sido o primeiro órgão nacional criado para prover residências para a população pobre. A FCP foi uma resposta às fortes pressões dos trabalhadores, reuni- dos em sindicatos, e do crescimento do Partido Comunista. Mas não teve vida longa - devido ao acúmulo de atri- buições, à falta de recursos e de força política, somadas à falta de respaldo legal em 1952, o governo federal redu- ziu as atribuições da FCP. O governo JK tenta, no final da década de 1950, fortalecer a FCP, que estava vivendo seu melhor período, tendo mais investimentos e maior núme- ro de unidades habitacionais construídas. Porém, também sucumbiu graças à inconstância de recursos. Azevedo e Andrade4 explicam: O Estado era o principal financiador e a verba para esse órgão dependia da distribuição interna dos recursos e da situação econômica do país. Mas destaca-se, nesse perío- do, um grave problema: as relações clientelistas e o auto- ritarismo, combinação característica do período populista. Os técnicos do FCP é que determinavam as regiões onde seriam construídos os conjuntos e os critérios de seleção dos candidatos. E, depois da entrega das chaves, visitavam os apartamentos para avaliar e orientar o comportamento social e individual dos moradores, que poderiam ter seus contratos rescindidos caso tivessem conduta nociva "à or- dem ou à moral do Núcleo Residencial, ou criarem embara- ço à sua Administração''. A história sofre uma mudança durante o período da ditadura militar. Como já naquela época o problema da moradia mostrava-se insustentável, em agosto de 1964 foi criado o primeiro programa habitacional brasileiro, denominado Banco Nacional da Habitação (BNH). Mas não era uma proposta voltada aos mais necessitados e nem foi suficiente. Foram financiadas cerca de 5 milhões de casas, das quais só 25% foram destinadas a famílias com renda menor que 5 salários mínimos. Tempos depois, 4 AZEVEDO, Sérgio. A crise da política hab itacional: dilemas e perspectivas para o final dos anos 90. ln. AZEVEDO, Sérgio de; ANDRADE, luis Aurelia- no G. de (orgs.). A crise da moradia nas grandes cidades - da questão da habitação à reforma urbana. Rio de Janeiro: Editora UFRJ.1996. o Governo Lula lança em fevereiro de 2009 o programa habitacional Minha Casa Minha Vida. O programa se faz presente
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