Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS AGROVETERINÁRIAS APOSTILA FITOGEOGRAFIA Lages, SC 2010 ÍNDICE I – FATORES CLIMÁTICOS INTEGRANTES DA FITOGEOGRAFIA............. 01 1 Clima x tempo meteorológico........................................................................... 01 2 Importantes padrões climáticos........................................................................ 01 3 Seleção da vegetação........................................................................................ 05 II – FATORES EDÁFICOS..................................................................................... 10 1 Introdução......................................................................................................... 10 2 Influência dos fatores edáficos na distribuição e desenvolvimento de espécies florestais............................................................................................. 10 2.1 Fertilidade................................................................................................... 10 2.2 Textura e estrutura...................................................................................... 11 2.3 Umidade...................................................................................................... 11 2.4 Profundidade do perfil do solo.................................................................... 13 2.5 Acidez e toxidez por alumínio.................................................................... 13 2.6 Salinidade................................................................................................... 14 III – PRINCIPAIS BIOMAS TERRESTRES.......................................................... 15 1 Tundra............................................................................................................... 15 2 Taiga e Floresta Boreal..................................................................................... 15 3 Floresta Temperada........................................................................................... 16 4 Vegetação Mediterrânea................................................................................... 16 5 Pradaria............................................................................................................. 17 6 Deserto.............................................................................................................. 17 7 Estepe Tropical................................................................................................. 17 8 Floresta Decídua Tropical................................................................................. 17 9 Floresta Semidecídua Tropical......................................................................... 18 10 Savana............................................................................................................... 18 11 Floresta Pluvial Tropical................................................................................... 18 IV – FORMAÇÕES VEGETACIONAIS DO ESTADO DE SANTA CATARINA.............................................................................................................. 20 1 Formações Pioneiras......................................................................................... 20 2 Floresta Ombrófila Densa (Floresta Tropical Pluvial)..................................... 21 3 Floresta Ombrófila Mista.................................................................................. 22 4 Florestas Estacionais Deciduais........................................................................ 22 5 Formações Estépicas......................................................................................... 22 6 Refúgio Ecológico............................................................................................ 22 V - FLORESTAS TROPICAIS E SUBTROPICAIS AO LONGO DE GRADIENTES ALTITUDINAIS............................................................................ 23 VI - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 25 APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 1 I - FATORES CLIMÁTICOS INTEGRANTES DA FITOGEOGRAFIA 1 Clima x tempo meteorológico Clima: condições médias do tempo meteorológico durante um determinado período de tempo. Tempo meteorológico: condição atmosférica percebida em um determinado momento em um determinado local. Existe uma grande variação espacial e temporal do clima, pois fenômenos atmosféricos são dinâmicos e flutuações em torno de uma média é o padrão comum observado. 2 Importantes padrões climáticos Para o crescimento e distribuição das espécies florestais, os parâmetros climáticos mais importantes são: a temperatura, a circulação atmosférica, a precipitação pluvial, evapotranspiração e o comprimento do dia. É importante ressaltar que estes fatores não atuam separadamente. - Temperatura: Cada espécie possui uma temperatura mínima, abaixo da qual não cresce; uma temperatura máxima acima da qual suspende suas atividades vitais; e uma temperatura ótima, em torno da qual se verifica o melhor desenvolvimento. Muitas espécies tropicais são intolerantes à geadas noturnas. Os seguintes parâmetros são importantes para entendermos a distribuição das espécies florestais: temperatura média anual, temperatura média mensal, flutuações das temperaturas medias mensais e flutuações das temperaturas médias diárias. Em geral quanto mais próximo da região equatorial, menor será a amplitude térmica anual (variação da temperatura media mensal durante o ano), consequentemente, nestas regiões as diferenças entre as temperaturas durante o verão e durante o inverno são pequenas. Entretanto, em certas regiões tropicais e sub-tropicais uma elevada amplitude térmica pode ocorrer em função da continentalidade, altitude e APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 2 da baixa umidade do ar. A cada 100m no aumento da altitude, ocorre uma redução de 0,5 Co quando o ar está úmido e de 1,0 Co, quando o ar está seco. Nas regiões temperadas e sub-tropicais existe maior amplitude térmica anual e as estações climáticas são mais bem definidas. - Circulação do ar (ventos): A movimentação do ar ocorre devido à distribuição desigual da energia solar na superfície da Terra, em função: - forma esférica da Terra: faz com que os feixes de luz incidam em ângulos diferentes; - distribuição de terras e água: aquecem de forma desigual (calor especifico); - movimento de rotação: dia/noite - eixo inclinado da Terra e movimento de translação: estações do ano; - cadeias de montanha: obstáculo à movimentação do ar. A região equatorial é a região na superfície terrestre que mais recebe radiação solar durante o ano. A radiação solar provoca o aquecimento do ar, forçando uma movimentação ascendente, criando uma zona de baixa pressão, conhecida como Zona de Convergência Inter-tropical (ZCIT). Quando o ar úmido sobe, ocorre o resfriamento e a precipitação da umidade na forma de chuva. A elevada temperatura e precipitação irá proporcionar as condições ambientais para a ocorrência de florestas ombrófilas densas (Floresta Amazônica, Floresta do Congo, Florestas da Malásia). Após o movimento ascendente, o ar quente e úmido perde a umidade e se torna seco e frio. Este ar seco faz o movimento descendente, criando uma região de alta pressão. As regiões no globo onde isto ocorre são caracterizada pela baixa umidade, favorecendo a ocorrência de um “cinturão de desertos” ao longo do globo. Na América do sul, não ocorre a formação do “cinturão de desertos”, pois a área de baixa pressão é deslocada para a região do semi-árido Nordestino (Caatinga) devido a força que o fenômeno da ZCIT ocorre na Amazônia. As célulasde circulação de ar devido a este aquecimento diferencial podem ser observadas nas figuras abaixo. Os ventos que formam estas células são conhecidos como alísios. APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 3 Fonte: Fonte: Diferenças entre o aquecimento do continente e o oceano durante o dia: APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 4 Fonte: Diferenças entre o aquecimento do continente e o oceano durante estações: Fonte: - Precipitação pluviométrica: Nas regiões tropicais e sub-tropicais, o total de precipitação anual e a distribuição das chuvas apresentam grandes diferenças. A precipitação pluviométrica é fortemente influenciada pela orografia e pela continentalidade. Um exemplo clássico de como estes fatores afetam as formações florestais é a ocorrência de Cerrado em Brasília e de Floresta Ombrófila Densa no Rio de Janeiro. As duas regiões apresentam elevada precipitação média anual, entretanto no Rio de Janeiro (1.100 mm) as chuvas são bem distribuídas durante o ano inteiro e em Brasília (1.500 mm) existe um período seco e chuvoso bem definido. APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 5 Outro exemplo interessante da influência da precipitação pluviométrica sobre a vegetação é a falha de ocorrência de floresta ombrófila densa na Região de Cabo Frio, Rio de Janeiro. A Mata Atlântica, “senso stricto”, ocorre ao longo de uma estreita faixa costeira, desde o Nordeste até o Sul do Brasil. Entretanto, na região de Cabo Frio, norte fluminense, existe uma interrupção da Mata Atlântica, com ocorrência de uma faixa de floresta estacional semidecidual. Esta região apresenta as águas do oceano mais frias (daí o nome Cabo Frio) devido a fenômeno de ressurgência de uma corrente marinha finda da Antártida. Este resfriamento das águas irá causar uma menor evaporação das águas do oceano, tornando a região mais seca. 3 Classificação do clima A classificação climática de Köppen é um dos sistemas mais utilizado no mundo. Foi desenvolvido por Wladimir Köppen, um climatologista alemão, por volta de 1900. Este sistema se baseia no conceito de que a vegetação nativa é a melhor expressão do clima, por tanto os limites das zonas climáticas foi definida utilizando informações sobre a vegetação. Esta classificação combina médias anuais e mensais de temperatura e precipitação, assim como a sazonalidade da precipitação. O esquema de classificação climática de Köppen divide o clima em cinco grupos principais e vários outros sub-grupos. Cada tipo de clima em particular é representado por 2 a 4 letras. Grandes grupos climáticos: A – Clima tropical: - Clima megatérmicos; - Temperatura média do mês mais frio do ano >18oC; - Estação invernosa ausente; - Forte precipitação anual (superior a evapotranspiracao). APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 6 O grupo A é sub-dividido em 4 categorias, de acordo com a distribuição das chuvas: Af – Clima equatorial. Clima úmido. Ocorrência de precipitação em todos os meses do ano. Inexistência de estação seca bem definida. Este tipo de clima define a formação de florestas tropicais úmidas, como a Amazônia. Exemplo de cidades com este clima: Manaus, Belém, Santos. Ocorre predominantemente na região equatorial, com algumas exceções. Am – Clima de monções. Precipitação anual maior do que 1500mm, mas com precipitação do mês mais seco menor do que 60mm. Este clima é caracterizado por uma estacionalidade da pluviosidade relacionada com o aquecimento diferencial entre o continente e água em diferentes épocas do ano. Aw – Clima savânico. Estação seca bem pronunciada, com chuvas concentradas no verão. Exemplo: região de cerrado. Nos locais onde a chuva se concentra no inverno, a codificação utilizada é As. B – Clima árido: - Climas secos (precipitação inferior a 500mm); - Evapontranpiração potencial anual superior à precipitação anual; - Não existem cursos da água permanentes. Primeiramente, o grupo B pode ser subdividido de acordo com a quantidade de chuva anual em BS (clima de estepes), entre 380-760mm, e BW (clima de deserto), menor do que 250mm. Os climas BS e BW podem ser subdivididos novamente de acordo com temperatura em: BSh ou BWh que ocorrem em locais quentes (temp. média anual >18oC) e BSk ou BWk que ocorrem em locais frios (temp. média anual <18oC). O semi-árido brasileiro, que ocorre no nordeste e norte de Minas Gerais, é caracterizado como BSh. BSh – Clima de estepes frias BSk – Clima de estepes quentes BWh – Clima de desertos quentes APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 7 BWk – Clima de desertos frios C – Clima temperado ou temperado quente: - Clima mesotérmico; - Temperatura média do dos três meses mais frios compreendidas entre -3oC e 18oC; - Temperatura média do mês mais quente > 10oC; - Estações de verão e inverno bem definidas. O grupo C apresenta subdivisões em dois grupos hierárquicos, primeiro em função da distribuição da chuva (Cf, Cw e Cs) e posteriormente em função da temperatura (Cfa,Cfb, Cfc, Cwa, Cwb, Cwc, Csa, Csb e Csa). Então, temos os seguintes grupos: - Cf: clima temperado úmido sem estação seca: Cfa: clima temperado úmido com verão quente (temperatura do mês mais quente >20oC). Exemplo: Porta Alegre. Cfb: clima temperado úmido com verões amenos (mês mais quente com temperatura média <22oC). Cfc: clima temperado úmido com verão curto e fresco (mês mais quente com temperatura média <22oC e temperaturas médias do ar > 10°C durante menos de 4 meses). Exemplo: Punta Arenas. - Cw: clima temperado úmido com inverno seco: Cw a: clima temperado úmido com inverno seco e verão quente. Também classificado como clima subtropical/tropical de altitude. Exemplo: várias cidades do sudeste. Cwb: clima temperado úmido com inverno seco e verão ameno. Cwc: clima temperado úmido com inverno seco e verão curto e fresco. - Cs: clima temperado úmido com verão seco: Csa: clima temperado úmido com verão seco e verão quente. Csb: clima temperado úmido com verão seco e ameno. Csc: clima temperado úmido com verão seco, curto e fresco. APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 8 D – Clima continental ou temperado frio: - Clima microtérmico; - Temperatura média no mês mais frio <-3oC; - Temperatura média no mês mais quente >10oC; - Estações de verão e inverno bem definidas. Assim como o grupo D, se divide em dois grupos hierárquicos em função primeiramente da distribuição das chuvas e, posteriormente, em função da temperatura. - Df: Clima temperado frio sem estação seca: Dfa: clima temperado frio sem estação seca e com Verão quente. Dfb: clima temperado frio sem estação seca e com Verão ameno. Dfc : clima temperado frio sem estação seca e com Verão curto e fresco. Dfd : clima temperado frio sem estação seca e com Inverno muito frio. - Dw: clima temperado frio com inverno seco: Dwa : clima temperado frio com Inverno seco e com Verão quente. Dwb: clima temperado frio com Inverno seco e com Verão ameno. Dwc : clima temperado frio com Inverno seco e com Verão curto e fresco. Dwd : clima temperado frio com Inverno seco e muito frio. E – Clima glacial: - Clima polar e de alta montanha; - Temperatura média inferior a <10oC durante todo ano; Classificado em três categorias: - ET: Clima de tundra; - EF: Calota polar; - EM: Altas montanhas. APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 9 Classificação Climática de Koppen Temperatura do ar Precipitação T F M S W f m w s A Tropical - - - - - Equatorial Af Monções Am Savana, chuvas de verão Aw Savana, chuvas de inverno As B Árido Estépico BS Desértico BS - - - - C Temperado - - - - - Subtropical Cfa Oceânico Cfb - Sul de Minas, Pampeano Cwa, Cwb Mediterrâneo Csa, Csb D Continental - - - - - Continental Dfa, DfbSubártico Dfc, Dfd - Manchuriano Dwa, Dwb - E Glacial Tundra ET Polar EF Alpino EM Fonte: APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 10 II – FATORES EDÁFICOS 1 Introdução As florestas tropicais úmidas apresentam uma diversidade de plantas surpreendente, com o padrão de distribuição espacial influenciada pelos fatores bióticos e abióticos do meio. Dentre os fatores abióticos, o ambiente edáfico é essencial para garantir o estabelecimento da floresta, pois além de suporte físico, garante através do ciclo hidrólogo e dos processos biológicos e bioquímicos, o fluxo de água, nutriente e energia, permitindo o estabelecimento de relações ecológicas diversas, importantes para a diversidade da vida macro e microscópica do ecossistema (SIQUEIRA et al., 1994). Dentre os principais fatores edáficos que interferem na distribuição de espécies arbóreas, podemos considerar sua textura, estrutura, composição química, grau de acidez e alcalinidade e capacidade de retenção de água e nutrientes. Como regra geral, espécies florestais podem crescer melhor em solos úmidos, com uma boa aeração e ricos em nutrientes. O entendimento da relação solo-planta é de extrema importância para melhor compreender a dinâmica de floresta tropicais úmidas. 2 Influência dos fatores edáficos na distribuição e desenvolvimento de espécies florestais 2.1 Fertilidade Apesar da elevada riqueza de espécies existente em florestas tropicais, em geral os solos que fornecem suporte a esta vegetação são bastante pobres em nutrientes e de elevada acidez (Felfili, 1993). Este aparente paradoxo é explicado pela eficiente ciclagem de nutrientes que ocorrem nestes ambientes. Os nutrientes que estão na biomassa florestal chegam ao solo por meio da queda do “litter”, formando assim uma camada sobre o solo conhecida como serrapilheira. A partir do momento que este material orgânico começa a se decompor, os nutrientes são prontamente absolvidos por uma rede formada por raízes finas das árvores associadas a microorganismos. Este APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 11 processo conhecido como ciclagem biogeoquimico ocorre com extrema eficiência, permitindo uma elevada diversidade de espécies e produtividade primária. Como já observado por Kimmins e Krumlik (1975), o baixo estoque de nutrientes altamente circulantes no ecossistema tem maior capacidade de sustentar a alta diversidade do que grande estoque de nutrientes pouco circulantes. Vários estudos têm demonstrado que a diversidade de espécies está negativamente correlacionada com a fertilidade do solo, em particular com a disponibilidade do fósforo no solo. Esta relação tem sido explicada em função ao aumento da competição exercida pelas espécies exigentes em fertilidade em relação às demais. 2.2 Textura e estrutura O crescimento e a distribuição de espécies arbóreas são fortemente influenciados pela estrutura e textura do solo. São poucas espécies que conseguem se desenvolver em solos compactados. A compactação do solo pode ocorrer devido a várias atividades antrópicas. Além disso, em ambientes cujos solos se encontram compactados o processo de sucessão ocorre de forma extremamente lenta. A importância da textura e a estrutura do solo esta relacionada com a porosidade do solo. Por sua vez, o tamanho e a distribuição dos poros são importantes, pois determinam a capacidade de retenção de água do solo, as taxas de infiltração e drenagem e a aeração, tudo isso com forte efeito sobre o desenvolvimento e a distribuição de plantas (SOLLINS, 1998). A textura refere-se à proporção de argila, silte e areia presente nas camadas do solo. Solos arenosos apresentam uma melhor drenagem e menos nutrientes, devido à alta taxa de lixiviação. Por outro lado, solos ricos em argila podem apresentar problemas de drenagem. A estrutura refere-se ao arranjo, orientação e organização das partículas do solo (agregados prismáticos, laminares, colunares, granulares e em bloco). O espaço total de poros varia de 35% para solos pobremente agregados a 65% para solos bem agregados. 2.3 Umidade APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 12 A produtividade primária de um ecossistema florestal depende da disponibilidade de água paras as plantas. Por isso a capacidade de retenção de água pode ser considerada como um indicador da qualidade do solo. Vegetação com alta densidade só pode ser encontrada em locais onde as propriedades do solo permitam que uma grande proporção da chuva seja retida e disponível para as plantas. A incorporação de algum material orgânico no solo pode exercer um papel positivo no balanço de água no solo. Materiais ricos em compostos de carbono podem aumentar os níveis de fertilidade, estimular a formação de agregados no solo, aumentar a permeabilidade hidráulica e a capacidade de retenção de água. As mudanças microclimáticas devido à formação de clareiras, também podem afetar umidade disponível no solo. Quando há a formação de uma clareira, o topsolo irá se tornar mais seco devido o aumento da evaporação. Já as camadas mais profundas irão ficar mais úmidas do que na floresta devido a menor transpiração que ocorre nas clareiras (BECKER et al., 1988). Estas mudanças nas condições de umidade do solo são cruciais para o desenvolvimento da regeneração da floresta, sendo fortemente associada com a presença e o tamanho das clareiras (HARTSHORN, 1978). Variações na umidade do solo que ocorrem em ambientes florestais, em função da formação de clareiras, também afetam as taxas de decomposição e de mineralização, que por sua vez influencia na disponibilidade de nutrientes e, portanto o crescimento das plantas. Poucas espécies conseguem se desenvolver em solos constantemente alagados. O déficit de oxigênio representa um sério obstáculo para a germinação de sementes e o estabelecimento de mudas de diversas espécies. Portanto, em ambientes alagados normalmente ocorrem plantas com a habilidade de valer-se alternativamente ou até exclusivamente de reprodução assexuada, ou também, de um ajuste fenológico para a dispersão de sementes em uma época favorável. Espécies que ocorrem nas áreas com alagamentos sazonais necessitam de habilidades para se adaptarem a condições de alagamento prolongado. CLARK e CLARK (2000), estudando a variação na estrutura e na biomassa de uma floresta tropical úmida, verificaram quem solos de várzeas apesar de possuírem solos mais férteis, apresentam menor densidade de árvores, menor área basal, menor biomassa da parte aérea e menor diversidade de espécies. O efeito de pulsos de APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 13 alagamentos e de fertilidade pode explicar a comparável menor diversidade de espécies nas várzeas. 2.4 Profundidade do perfil do solo Dentre as características físicas, a profundidade do perfil do solo tem sido citada como um dos principais fatores que determinam a produtividade de um local. A profundidade do topsolo é um fator crítico que afeta o crescimento de árvores. Esta camada apresenta grande quantidade de matéria orgânica e nutriente, geralmente apresenta boa aeração e é bem drenado, permitindo o máximo crescimento e penetração das raízes (BARROS, 1974). Quanto maior a profundidade efetiva, ou seja, a porção do perfil, em que não há qualquer impedimento (camadas de rocha, adensadas, etc.), para o livre crescimento do sistema radicular, maior a produtividade primária. 2.5 Acidez e toxidez por alumínio O pH do solo é muito importante, pois varia inversamente com a toxidez de Al e diretamente com a disponibilidade de cátions trocáveis. Os solos ácidos representam 63% das áreas nos trópicos úmidos. Em solos florestais, a acidez interfere em vários processos ecológicos, incluindo as reações de trocas entre plantas e os nutrientes, a atividade biológica do solo, a intemperizaçãomineral e a concentração de Al e H+ na solução do solo. A contínua acidificação do solo de ecossistemas florestais pode ocasionar a diminuição do crescimento e aumentar a mortalidade em longo prazo das árvores. Desta forma, o pH do solo irá influenciar na quantidade de indivíduos por hectare. As áreas com maior concentração de Al, e o pH baixo irão possuir menor densidade da vegetação que áreas com características opostas. A acidez e a toxicidade por Al é um problema sério nos solos de cerrado, que se constitui na segunda maior formação vegetal brasileira, depois da floresta Amazônica, abrangendo aproximadamente 25% do território brasileiro. A qualidade do solo do cerrado é um fator que determina o tipo de vegetação característica deste ecossistema. O solo é profundo, bem drenado e submetido a intenso intemperismo e lixiviação, o que o APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 14 torna ácido, pobre em nutrientes e com altos teores de ferro e alumínio. A toxidade do íon alumínio pode ser um dos fatores limitantes para o crescimento das plantas em tais solos (GOODLAND e FERRI, 1979). Na planta, o alumínio causa a inibição do crescimento, provavelmente por impedir o influxo de minerais como cálcio, magnésio e fosfato, ou por inibir o crescimento da raiz (MEHARG, 1994) Estudos realizados por HARIDASAN (1982) com espécies nativas do cerrado identificaram algumas delas como acumuladoras de alumínio (acumulando mais de 1000 mg. kg-1). Tal acúmulo observado nas folhas, não está associado ao baixo nível dos minerais essenciais, indicando que as espécies acumuladoras de alumínio possuem mecanismos de adaptação eficientes na utilização dos nutrientes (HARIDASAN et al. 1987). 2.6 Salinidade A toxidez por sal, déficit hídrico e a deficiência de nutrientes são os principais fatores que limitam o crescimento de espécies arbóreas em ambientes salinos. Para se estabelecerem e sobreviverem nestes ambientes, as plantas devem ser adaptadas ao baixo potencial hídrico e precisam limitar a absorção de sal para impedir problemas com toxidez. A salinidade afeta a produtividade primária, a área foliar, o comprimento dos internódios, a morfologia das folhas, o tamanho dos propágulos e a arquitetura das árvores. Existem várias espécies adaptadas a ambientes salinos como, por exemplo, Rhizophora mangle, que sobre condições naturais é capaz de crescer em áreas com a salinidade variando entre 0 a 90%. APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 15 III – PRINCIPAIS BIOMAS TERRESTRES 1 Tundra • Sem crescimento de árvores • Vegetação arbustiva, herbáceas, musgos e líquens. – Baixas temperaturas e estação de crescimento lento Subdividida em: • Tundra Ártica – Solo permanentemente congelado – Inverno frio e escuro. Temp. média -28oC – Verão com temp. média até 12oC – Ventos fortes – Baixa precipitação pluviométrica • Tundra Alpina – Elevada altitude – Não apresenta solos permanentemente congelado 2 Taiga e Floresta Boreal Bioma caracterizado pela abundância de coníferas. Área de ocorrência: predominante em regiões interioranas do Alaska, Canadá, Suécia, Finlândia, Noruega e Rússia (principalmente na Sibéria). • Clima continental • Temperatura -50 a 30oC • 8 meses temperatura < 10oC • Solos jovens pobres em nutrientes APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 16 3 Floresta Temperada Ocorrem na América do Norte, Europa, Ásia (China, Japão e Coréia), Austrália, Nova Zelândia, Argentina e Chile. a. Floresta Temperada Mista Transição Taiga e Florestas Temperadas Decíduas Árvores angiospermas caducifólias + Coníferas Elevada precipitação Espécies: Quercus spp., Fagus spp., e coníferas Temperatura média anual: 5.5 a 15.5oC b. Floresta Estacional Temperada • Mudança da coloração das folhas • Árvores caducifólias • Quercus spp., Fagus spp., Castanea spp., • Espécies: Quercus spp., Fagus spp., e coníferas • Pinus como espécies do início do processo sucessional • Temperatura média anual: até 20oC • Elevada ppt pluviométrica 4 Vegetação Mediterrânea Área de ocorrência: Costa da Califórnia, México, Chile e região mediterrânea. • Verões secos e invernos úmidos. Com neve em locais de alta altitude • Verões quentes até 40oC na Grécia • Espécies arbustivas e esclerofilas • Ocorrência de fogo natural APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 17 5 Pradaria Locais de baixa altitude Vegetação dominante ervas e arbustos, com poucas árvores, em latitudes temperadas ou sub-tropicais Pradaria (EUA), Estepe (Eurásia), Pampa (America do Sul), Veld (Africa do Sul) Verões úmidos e invernos secos e frios 6 Deserto No globo terrestre os desertos estão associados aos locais com elevada pressão atmosférica e com precipitação pluviométrica inferior a 250 mm. Na classificação climática de Köppen os desertos são classificados como BWh (desertos quentes) e BWk (desertos frios). A vegetação é pouco estruturada, com domínio de gramíneas e arbustivas. As espécies apresentam adaptações morfológicas e fisiológicas para se desenvolver em um ambiente tão limitante. 7 Estepe Tropical Ocorrem predominantemente na América do Sul (Venezuela e Caatinga), África, Índia e Austrália. Área de transição entre os trópicos úmidos e secos Locais de alta-pressão atmosférica Localização continental Clima semi-arido 8 Floresta Decídua Tropical APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 18 Mais do que 50% dos indivíduos perdem as folhas durante o período seco do ano. 9 Floresta Semidecídua Tropical Até 50% dos indivíduos perdem as folhas. 10 Savana No globo terrestre, os ambientes savânicos são caracterizados pela dominância de gramíneas e a presença de poucas árvores e arbustos espalhados pela paisagem. No Brasil, a savana recebe o nome de Cerrado, sendo classificado pelo IBGE nas seguintes categorias: savana gramíneo-lenhosa, savana parque, savana arborizada (cerrado stricto sensu) e savana florestada (cerradão). Esta classificação representa um gradiente estrutural, indo de um extremo com ausência de árvores (gramíneo- lenhosa) até outro extremo com muitas árvores (florestada). Dentro dos fatores determinantes para a ocorrência de savanas destacam-se: Solos pobres em nutrientes, com toxidez por alumínio e ácidos; Ocorrência de fogo Estacionalidade climática, com um período seco bem definido; Herbivoria. 11 Floresta Pluvial Tropical Florestas pluviais tropicais ocorrem em áreas com elevada precipitação total anual, com chuvas durante o ano inteiro e com elevadas temperaturas. São formações vegetacionais com elevada produtividade primária, elevada diversidade, altamente estruturada, com árvores de grande porte e diferentes estratos verticais. As principais áreas com ocorrência de floresta tropical úmida no globo terrestre são: América do Sul e Central, África e Ásia (principalmente na Índia e na Malásia). APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 19 IV – FORMAÇÕES VEGETACIONAIS DO ESTADO DE SANTA CATARINA As principais formações vegetacionais do Estado de Santa Catarina são de acordo com a classificação do IBGE: - Formações Pioneiras - Floresta Ombrófila Densa - Floresta Ombrófila Mista - Florestas Estacionais Deciduais - Formações Estépicas - Refúgio ecológico 1 Formações Pioneiras Abrange a vegetação que é direta ou diretamente influenciada pelo oceano e conseqüentes condições edáficas. Os principais tipos de formações pioneiras são: - Mangue: encontrado principalmente em baias, reentrâncias do mar e desembocadura de rios. Algumas espécies típicas desta formação são: Avicennia schaueriana (siriúba), Laguncularia racemosa (mangue-branco) e Rizophora mangle (mangue-vermelho). - Restinga: Klein (1978) subdividiu a restinga nos seguintes tipos: - Formações de Praiaou psamófila, com espécies predominantemente herbáceas, como salsa-da-praia, batateira-da-praia (Ipomea sp.) grama-da-praia (Paspalum vaginatum), dentre outras. - Formações que ocorrem em dunas semifixas, com dominância de aroeira- vermelha (Schinus terebenthifolius), pau-de-bugre (Lithraea brasiliensis), dentre outras. - Formações que ocorrem em terrenos arenosos firmes, com predominância de várias espécies de Myrtaceae. - Formações em substrato rochoso, com dominância de cactaceaes e bromeliáceas. APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 20 2 Floresta Ombrófila Densa (Floresta Tropical Pluvial) Originalmente, correspondia a 1/3 da área total do Estado. Ocorre sob um clima ombrófilo sem período biologicamente seco durante o ano. Podem ser sub-divididas em aluviais, quando associada a rios, e de acordo com a altitude em Terras-baixas, Sub- montana, Montana e Alto-montana. Devido a grande heterogeneidade ambiental presente na área de ocorrência de FOD no Estado de Santa Catarina, Klein (1978) identificou as seguintes regiões fitogeográficas: a) Planícies quartenárias setentrionais: Ao longo do litoral norte, desde a desembocadura do Rio Saí-Guaçu até o Rio Itapocu, se estende vastas planícies quartenárias onde ocorrem principalmente dois tipos de agrupamentos: - Áreas mais drenadas: Tapirira guianensis, Ocotea pretiosa, Nectandra oppositifolia, Calophyllum brasiliense, Alchornea triplinervea e Ficus organensis. - Áreas de depressões: Richeria australis. b) Encosta da Serra do Mar Setentrional: Dominam as seguintes espécies: Sloanea guianensis, Guapira opposita, Cryptocarya aschersoniana e Euterpes edulis. c) Alto da Serra do Mar: Área situada entre os municípios de Joinville e Campo Alegre, numa altitude de 700 a 1.000 m. Espécies típicas: Nectandra lanceolata, Alchornea triplinervea e Alchornea sidifolia. d) Litoral e encosta centro-norte: Área do Baixo Vale do Itajaí. Dentre as espécies predominantes destacam-se: Ocotea catharinensis, Sloanea guianensis, Alchornea triplinervea, Euterpes edulis, Guapira opposita, dentre outras. APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 21 e) Alto Vale do Itajaí: Espécies típicas são Ocotea catharinensis, Ocotea pretiosa, Aspidosperma olivaceum, Copaifera trapezifolia, Cryptocarya aschersoniana, Hieronyma. f) Floresta Tropical do litoral e encosta centro-sul: Matas de encosta íngremes, situadas nas diversas ramificações da Serra do Mar e da Serra Geral. A Serra do Tabuleiro representa um divisor fitogeográfico muito evidente para diversas espécies tropicais, muito abundantes no Vale do Itajaí e ao norte da costa catarinense (Klein, 1978). g) Floresta Tropical Meridional nas encostas da Serra Geral: Nas encostas íngremes (aparados da serra) da Serra Geral e, sobretudo nas suas diversas ramificações menores, encontramos uma floresta caracterizada pela abundância de Talauma ovata (baguaçu), Guapira opposita (maria-mole),Virola oleifera (bicuiba). h) Floresta Tropical das planícies quartenárias do sul: Área compreendida entre Jaguaruna-Tubarão e o extremo sul (Sombrio e Praia Grande). i) Floresta baixa de topo de morro: Nos locais mais altos com solos mais rasos e terreno com declividade acentuada, encontra-se uma vegetação muito típica e bastante uniforme, onde são freqüentes: Clusia criuva, Lamanonia sp., Tibouchina sellowiana, Drimys brasiliensis, Weinmania sp. e Clethra scabra. 3 Floresta Ombrófila Mista 4 Florestas Estacionais Deciduais 5 Formações Estépicas 6 Refúgio Ecológico APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 22 V - FLORESTAS TROPICAIS E SUBTROPICAIS AO LONGO DE GRADIENTES ALTITUDINAIS Ao longo de gradientes altitudinais, as formações florestais apresentam mudanças graduais na estrutura e composição florística, associadas principalmente às alterações micro-climáticas e edáficas. Nas matas montanas, o aumento da altitude esta geralmente associada a reduções na altura das árvores (e do dossel) e na riqueza de espécies de espécies arbóreas, as quais chegam a valores bastante pequenos nos extremos mais elevados dos gradientes altitudinais, onde geralmente desenvolvem-se matas nebulares ou matas altimontanas, muitas vezes abaixo de regiões onde as condições abióticas impedem o crescimento de árvores ou florestas. Ao mesmo tempo em que a estatura das árvores tipicamente diminui, também as suas folhas tornam-se menores, mais rijas e mais espessas (Falkenberg, 2001). Em áreas de elevada altitudes é comum a formação de nebulosidade, criando um ambiente com elevada umidade relativa do ar, precipitação pluviométrica, menor radiação solar e menores temperatura. A formação de nuvens depende da direção e velocidade do vento, umidade do ar, distância do oceano, forma e orientação da cadeia de montanha e perfil vertical da temperatura do ar. Devido às condições ambientais, nestes locais os solos apresentam menor taxa de decomposição de matéria orgânica e de intemperismo. O microclima das matas nebulares é muito influenciado pela combinação da elevada umidade relativa do ar com precipitacao horizontal; estes dois elementos associados a baixa temperatura, deixam estas matas quase permamentemente umidas. Esta alta umidade favorece a “invasao por liquens e briofitas” epifiticas. Em função da baixa produtividade primária, o crescimento dos indivíduos arbóreos é lento e a vegetação típica é dominada por árvores baixas, tortuosas e com folhas pequenas. A fitofisionomia é caracterizada pela menor estratificação vertical, menor biomassa, maior ocorrência de pteridofitas, musgos e liquens, assim como a redução de lianas. America do Sul (Hueck, 1972): matas de mirtaceas da floresta tucumano-boliviana (no N da Argentina e S da Bolivia); APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 23 as matas de “ceja” da encosta oriental dos Andes (na Bolivia, Peru e Equador); “matas andinas” (Colombia) matas de neblina (Venezuela) “mata pluvial costeira (Brasil) APOSTILA DE FITOGEOGRAFIA 24 VI - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Compartilhar