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Fichamento - Cristina Pecequilo

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CAPÍTULO 1 
Os Estados Unidos no Pós-Guerra Fria 
 
1.1 AS BASES DA HEGEMONIA: ESTRUTURA POLÍTICA E PENSAMENTO 
ESTRATÉGICO 
 
O Sistema Norte-Americano e a Construção da Liderança 
- Desde a Declaração de Independência de 1776, os norte-americanos alimentam um 
sentimento de superioridade frente às demais nações (excepcionalismo norte-americano). 
- A dinâmica tradicional de polarização domina a política interna e externa dos 
Estados Unidos desde a fundação da república, o que pode ser exemplificado pelo processo de 
ratificação da Constituição (vigorada em 1789). "De 1776 a 1789, o país não possuiu uma carta 
definitiva, encontrando-se dividido entre os defensores de uma União sólida, com centralização 
de poder em nível federal, e os que advogavam a prevalência dos governos estaduais e dos 
interesses individuais sobre a nação." (p. 2) 
• Embora esse embate assuma diferentes formas ao longo da história, ele sempre gira 
em "(...) torno das mesmas oposições sobre o papel sociopolítico-econômico do 
Estado: o Estado nacional contra a sociedade (e o indivíduo), que se expressam na 
divisão "grande Estado" e "pequeno Estado".(p. 2) 
• No século XVIII essa avaliação respondia a uma realidade concreta de um país 
recém independente que precisa se fortalecer e se preservar de ameaças. 
 
Governo Washington: 
• Tradição de Washington: agenda que embasa duas correntes táticas para o exercício 
de poder nacional: o isolacionismo (minoritária) e a do internacionalismo 
unilateral (recorrente nas RI, pois permite ao país maior margem de manobra e 
liberdade, para que ele se guie por seu interesse nacional). Os EUA não deixam de 
agir no mundo, mas o fazem de forma tópica, através de alianças não permanentes e 
em caso de extrema necessidade. 
• O fortalecimento das bases de poder nacional no século XIX permite o início da 
transição da retórica à prática, com ênfase ao engajamento externo e na projeção 
de poder. 
• Destino Manifesto: política externa atrelada a um sentido de missão e expansão para 
disseminar e universalizar o experimento liberal e democrático 
• Expansão de fronteiras entendida como um direito e um dever, para a construção 
de um mundo que se espelhe nos ideais de liberdade norte-americanos 
o Duas dimensões da expansão das fronteiras: interna, justificando a expansão 
continental do país do séc XVIII e XIX, e a externa com o avanço no continente 
e no Pacífico (a exemplo da Doutrina Monroe, de 1823), até o Wilsonianismo 
do pós-Primeira Guerra e a consolidação da hegemonia contemporânea a 
partir de 1945. 
 
- Com o fim da Primeira Guerra Mundial, a agenda Wilsoniana atribui aos EUA um papel 
de relevo no mundo, visando a construção de uma ordem internacional estável sustentada 
pela democracia, segurança coletiva e a autodeterminação dos povos. 
• democracias vistas como mais pacíficas; cooperam entre si, compartilham valores 
comuns (o que favorece a paz e a estabilidade) 
• Para que essas negociações ocorram, Wilson propõe o estabelecimento da Liga das 
Nações (OI multilateral), que seria composta por todos os Estados do sistema 
internacional, defendendo a segurança coletiva 
• Essa visão idealista wilsoniana lança as bases do internacionalismo multilateral. Os 
EUA ao assumirem essa função na construção da ordem mundial caminham 
em direção ao papel da hegemonia. 
• No entanto, as forças internas não apoiam essa perspectiva e em 1920 os EUA se 
retiram da Liga das Nações e, posteriormente, em 1929, a Grande Depressão leva o 
país a acentuar um isolacionismo e tendência ao unilateralismo. 
 
Século Americano: pós-Segunda Guerra com a retomada de sua postura ativista (rumo à 
hegemonia) 
• construído a partir da noção de excepcionalismo da república democrática 
• caráter liberal do país refletido nas estruturas de poder 
• "A hegemonia era composta por três pilares: o estrutural, o institucional e o 
ideológico, que, na classificação de Nye Jr (2002) correspondem aos poderes: duro, 
brando e de cooptação." (p. 5) 
• A dominação dos EUA trazia previsibilidade às outras nações e aos organismos 
internacionais e algumas limitações ao próprio país, o que fortalecia a legitimidade 
política de seu domínio e sua credibilidade; país visto como um jogador honesto 
(honest broker) e mantenedor do equilíbrio (holder of the balance). 
• Para a manutenção do status quo como maior potência regional em todos os 
continentes, a tarefa da contenção da União Soviética foi usada como uma forma 
de gerar consenso interno e menor questionamento do papel global. 
• "A junção destes elementos levou à construção do (...) sistema de organizações 
multilaterais e redes de interdependência externas e do reforço do aparato militar e 
diplomático norte-americano para a projeção do poder hegemônico" (p. 5) 
 
Enfim, a hipocrisia 
• Alguns autores ressaltam o caráter misto da dominação americana que, ia desde a 
aproximação com a China (país comunista na década de 70) até o modelo político 
interno. Era questionado como o país que se dizia buscar promover democracia 
externa detinha um caráter tão segregacionista internamente (acentuado, por 
exemplo, pelo movimento pelos direitos civis liderado por Martin Luther King). 
 
Política e sociedade: participação, formulação de políticas e sistema decisório 
- A Constituição de 1789 gerou um grande debate sobre sua relação com os governos 
estaduais e a participação popular, debate esse que resultou em um documento que, com 
algumas mudanças, perdurou até 2012. 
• Bill of Righs: determinava normas sobre a limitações do poder dos governantes e 
os direitos básicos e individuais do cidadão (expressão livre das ideias, direito à 
posse de armas e o direito à autodefesa). 
 
- Existe um grande incentivo à participação popular na esfera micropolítica, o que 
gera maior fragmentação de grupos econômicos, sociais e étnicos (lobbies). Esses grupos 
proporcionam maior visibilidade e efetividade àqueles que possuem maior capacidade de 
organização e recursos financeiros, podendo-se destacar o lobby judaico, cubano, hispânico e 
negro (em termos raciais e étnicos) e o complexo industrial-militar, farmacêutico e agrícola (no 
setor econômico-financeiro). 
- “Estes mecanismos (denominados de “filtros”) impõem restrições à participação, com 
o objetivo de evitar a "tirania da maioria" (p. 7), o que nos leva a uma das maiores 
contradições do sistema eleitoral norte-americano: a instituição de eleições presidenciais 
indiretas. 
O sistema eleitoral americano 
- O Colégio Eleitoral: é composto por 538 delegados divididos proporcionalmente entre 
os estados e tem a função de eleger o Presidente. 
• O colégio eleitoral não sofreu qualquer modificação desde a sua criação, e esse 
mecanismo dificulta a visibilidade de forças independentes organizadas em outros 
partidos políticos. (Polarização do sistema partidário entre democratas x 
republicanos) 
• Além disso, os partidos majoritários tendem a criar disputas intrapartidárias; no 
Partido Republicano essa linha vem se instrumentalizando pelo forte apelo em uma 
sociedade em crise por lideranças jovens neoconservadores que desejam reforçar 
sua influência no partido, dividindo-o entre os conservadores e neoconservadores 
(ex: movimento “Partido do Chá”, de 2010). No Partido Democrata essa 
polarização interna é vista na oposição entre os moderados e a esquerda. 
• Partido republicano: Estado mínimo, defensor das liberdades individuais e dos 
valores norte-americanos, com teor religiosos, apelo popular ao interior mais 
conservados do país e centros urbanos mais ricos 
• Democratas: papel ativo do Estado no setor do bem-estar e aproximação às massas 
urbanas 
 
Os reflexos da fragmentação partidária. 
• “Essas fragmentações partidárias refletem-se no sistema político e nas relações 
Executivo/Legislativo/Judiciário/Sociedade e entre o Executivo e os governos 
estaduais, e que também emanamda lógica interna do país estabelecida pela 
Constituição. No que se refere ao equilíbrio entre os poderes do Executivo entre o 
Executivo e os governos estaduais, evita-se que um poder predomine de forma 
decisiva sobre o outro.” (p. 9). 
• “A centralização do poder e a autonomia convivem, assim como uma divisão de 
tarefas que permita a contenção mútua entre os poderes. O modelo político é misto, 
com poderes compartilhados e existência de controles e equilíbrios” (p. 9) 
 
O Executivo x Legislativo na política externa 
• “(...), existem três fatores que afetam as interações entre o Congresso e o 
Executivo e definem a resposta a esta pergunta: a percepção do Congresso de que 
o Presidente estaria abusando de suas prerrogativas, e o crescente impacto do 
partidarismo na política externa e as agendas que se encontram em disputa.” (p. 
10) 
o Abuso de prerrogativas: embora sejam evitados, “(...) existem mecanismos 
constitucionais previstos que poderiam ajudar o Presidente a impor decisões 
sobre o Legislativo em situações de emergência nacional (...)” (p. 10) 
o “Na maioria das vezes, o Executivo solicita ao Legislativo mandatos especiais 
de negociações, a via rápida (fast track), ou busca a validação de sua ação em 
casos de guerra com pedidos de autorização ao Congresso.” (p. 10) 
o Todo poder constitucional que é dado ao Presidente é compartilhado pelo 
Congresso de alguma forma. Eles dividem poder. 
 
A ascensão hegemônica 
- “A partir da ascensão hegemônica dos EUA em 1945, as condições da emergência da 
Guerra Fria impulsionaram a formação do consenso sobre o engajamento internacional (em 
torno da contenção principalmente), que formavam um ‘centro moderado’ do qual participavam 
moderados e republicanos.” (p. 11) 
o Centro moderado = coalizão liberal; sofre a primeira quebra em 1970 pela 
Guerra do Vietnã, mas prevalece até 1989. Desde então não foi possível 
estabelecer uma nova coalizão. 
o “O Congresso transitou de um modelo de ‘Congresso apoiador’ na Guerra 
Fria (mais ativo e menos assertivo) para um ‘Congresso competitivo’ pós-
Vietnã (ativo e assertivo), para um ‘Congresso estratégico’ (menos ativo e 
mais assertivo) do pós-Guerra Fria (...). Portanto, em épocas de emergência 
nacional e de guerra, é mais provável que se observe a proeminência da 
Presidência, enquanto épocas de paz geram não à ascendência do congresso, mas 
lutas políticas entre os departamentos Legislativo e Executivo sobre política 
externa” (p. 11) 
 
Estratégia, economia e sociedade (1989/2012) 
• As atribuições de Executivo e do Congresso não são claras; dependem das 
circunstâncias, questões e épocas históricas. 
• O sistema define-se como permeável à sociedade, uma vez que ela pode participar 
diretamente das ações do governo por meio de pressões diretas e indiretas, ainda que a 
participação e influência destes grupos de interesse não sejam similares, variando de 
acordo com sua organização, construção ideológica e recursos financeiros. O acesso ao 
sistema, portanto, é mais limitado do que aparenta, e isso se estende à lógica 
partidária. 
o “Apesar de multipartidário, o sistema norte-americano restringe o avanço das 
forças independentes por meio de legislações sobre financiamento de campanha, 
conquista de votos no Colégio Eleitoral, dentre outros mecanismos. Como 
opção, ou essas forças agregam-se a um dos partidos majoritários, (...), ou 
concentram suas ações via grupo de interesses.” (p. 12). Ocorre um misto entre 
pluralismo e o elitismo. 
 
• “Estes debates sobre o papel dos Estados Unidos no mundo e a organização de suas 
relações internas refletem o contexto atual do país, mas também os valores e 
tradições históricas nacionais, que correspondem aos fundamentos do sistema 
norte-americano.” (p. 12) 
 
Os Debates Norte-Americanos 
- Com o encerramento da bipolaridade surgem uma série de debates sobre o papel dos 
Estados Unidos no mundo pós-Guerra Fria, pensando em equilíbrio de poder mundial, 
recursos de poder e nas condições da sociedade. 
• “No que se refere à tática e ao exercício hegemônico do poder, as correntes se 
dividiam entre os que defendiam a reforma e atualização do estilo ‘especial’ de 
lideranças criado em 1945 e a quebra deste padrão. Em linhas gerais, a polarização 
ocorria entre os defensores dos dois tipos de internacionalismo presentes na 
história norte-americana: o multilateral e o unilateral.” (p. 13) Associados aos 
democratas/republicanos moderados e aos neoconservadores, respectivamente. 
• Ronald Regan fortalece essa corrente neoconservadora com sua chegada ao 
poder em 1980, valorizando o poder militar, o excepcionalismo norte-americano, a 
promoção de democracia liberal e etc. Já no pós-Guerra Fria essa visão se torna 
dominante apenas com Bush filho. 
• “Em termos de ordenamento do poder global, as duas visões, unipolares e 
multipolares, se completavam para descrever a realidade. No campo militar, a 
supremacia era incontestável. Prevalecia, na dimensão do poder duro, estrutural, 
a unipolaridade. Nas demais esferas relativas ao poder brando, política, 
economia, cultura e sociedade, a dispersão de recursos (principalmente no setor 
econômico) era maior, indicando tendências de desconcentração de poder.” (p. 
13) Sistema definido como unimultipolar por Huntington. 
• Há um “(...) choque entre modernidade e tradição na vida dos cidadãos e no papel 
desempenhado pelo Estado na economia e na política.” (p. 14) 
• “A política é reflexo da sociedade da qual emerge e representa suas contradições, 
não podendo dela ser descolada. Em duas décadas de pós-Guerra Fria, essas 
tendências produziram três grandes estratégias diferentes: o Engajamento & 
Expansão (1993) no governo democrata de Bill Clinton (1993/2000), Doutrina 
Bush (2002) com o republicano George W. Bush (2001/2008) e a Doutrina Obama 
(2010), do democrata Barack Obama (2009/2012).” (p. 14) 
 
A Reforma Estratégica: de George H. Bush a Bill Clinton (1989/2000) 
- O primeiro governo a enfrentar o fim da Guerra Fria foi o de George H. Bush (1989), 
que de início não previa que a Queda do Muro deteria alcance o suficiente para transformar 
estruturalmente o sistema, tanto que, em janeiro de 89, ele e Gorbachev se reuniram na Cúpula 
de Malta para estabelecer como seria uma administração americano-soviética do sistema 
internacional. No entanto, acontecimentos posteriores (como a Revolução de Veludo) viriam 
marcar de maneira definitiva o fim da zona de influência soviética. 
- Os EUA sentiam um misto de vitória e indefinição diante desses acontecimentos, que 
despontavam em meio à uma crise econômica. O caminho escolhido por Bush pai foi a reforma 
do internacionalismo multilateral, agindo de maneira moderada e com apoio de instituições 
multilaterais (e consonância com seu discurso de nova ordem mundial). 
- Em relação à URSS, a maior preocupação era em não gerar sentimentos 
revisionistas. 
• “Bush pai adotou uma política de distanciamento político nessas situações, e baixa 
ou quase nenhuma ajuda econômica.” (p. 15) Isso devido à crise interna, o que 
frustrou “(...) as expectativas de que haveria um ‘Plano Marshall Europeu Oriental”. 
(p. 15) 
• O país não se ausentou no campo externo, a exemplo das negociações no Acordos 
de Olso em 93 e da revisão de missão da OTAN. 
• A estrutura das forças militares do pós-Guerra Fria foram mantidas, pois estas 
permitiam a organização de forças estratégicas por continentes, bem como sua 
projeção de poder. 
• Alterações ocorrem a partir de 2001, com a criação de mais dois comandos: 
USNORTHCOM (em resposta ao 11/09) e USAFRICOM, criado em 2007 para o 
continente africano 
 
“Na ausência do inimigo soviético, foram criadas duas categorias de Estados que passaram a 
representar focos de ameaça no sistema internacional: os rogue States (Estados párias ou 
bandidos) e os failed States (Estados falidos).” (p. 5) 
• Estados párias: governos autoritárioscom pretensões de hegemonia nacional, que 
não respeitam as normas da comunidade internacional. Exemplos dados: Irã e 
Coreia do Norte 
• Estados falidos: Estados com fragmentação social e ética, com graves problemas 
humanitários. 
• Conter essas nações se torna prioridade para os Estados Unidos, visando a 
mudança de regime em direção à democracia por meio de meios político-
econômicos, o que é visto pelos neoconservadores como um estado de paralisia 
 
A busca por um novo inimigo 
- Haviam três possibilidades: “(...) o amarelo, caracterizado pelo crescimento do Japão, o 
vermelho representado pela China, comunista, e o verde, relacionado à expansão do 
islamismo.” (p. 16) Temores que foram sistematizados por Samuel Huntington em sua tese 
sobre o choque de civilizações, que aponta os conflitos culturais como característica da Nova 
Ordem 
- Em resposta à agenda de Bush, foi proposto o Defense Planning Guidance (DPG), 
em 1992 (...), que defendia o unilateralismo e o distanciamento de organismos como as 
Nações Unidas (por considera-los prejudiciais aos interesses do país), a contenção das 
potências regionais e o reposicionamento estratégico na Eurásia para a ocupação dos espaços 
da antiga União Soviética.” (p. 16) 
- “Essa expansão era vista como essencial para o controle dos recursos energéticos desse 
território e para o controle das suas rotas de passagem” (p. 16) 
 
Eleições de 1992 e a reorganização das forças neoconservadoras no tecido social norte-
americano 
- Bush pai é criticado por seus excessos na política externa em detrimento da agenda 
doméstica e não é reeleito. Essa derrota distanciou os neoconservadores da linha de frente 
da política dos EUA 
- Sob um ideal de mudança e esperança, o democrata Bill Clinton (comeback kid) é eleito e 
cumpre dois mandatos na Casa Branca (1993 a 2000). 
 
Bill Clinton e o terrorismo 
- Como prometido em campanha, inicialmente seus esforços se direcionavam aos temas 
domésticos, no entanto “(...) a realidade da hegemonia rapidamente se imporia a este 
distanciamento. Ainda em 1993, o World Trade Center sofreria o seu primeiro atentado 
terrorista, atribuído a Al-Qaeda, ao qual se seguiria em 1995 um ataque terrorista interno, 
perpetrado por um grupo fundamentalista branco em Oklahoma City contra um prédio federal 
(...)” (p. 17) Além de outros ataques que sucederam em bases militares norte-americanas no 
Iêmen e na Arábia Saudita, e os atentados à bomba em suas embaixadas no Quênia e Tanzânia 
- Clinton cria uma força tarefa para o estudo do risco de ataques terroristas nos EUA 
 
Conceito estratégico de Clinton 
- Engajamento & Expansão (E&E) de 1993 
“1. Fortalecer o núcleo principal das democracias de mercado, inclusive a norte-americana, 
favorecendo a disseminação dos valores e princípios democráticos para todo o sistema a partir desta 
comunidade 
2. Incentivar, quando possível, a implementação e a consolidação de novas democracias e livres 
mercados em Estados significativos e importantes 
3. Impedir a agressão de Estados hostis à democracia e incentivar a sua liberalização por meio de 
políticas específicas 
 4. Perseguir uma agenda humanitária para a melhora das condições de vida em regiões prejudicadas. 
Posteriormente, criar condições para que eventualmente essas comunidades possam integrar-se ao sistema 
pacífica e democraticamente” (p 18) 
 
- Agenda positiva na esfera dos direitos humanos, meio ambiente e cooperação na área 
de saúde 
- A dimensão econômica possuía caráter duplo: recuperação norte americana e o aumento 
de parcerias 
- “Clinton, porém, não conseguiu em nenhum momento do Congresso a via rápida para 
estas negociações, o que afetou negativamente sua capacidade de pressão em conversações 
específicas de integração regional (em particular nas Américas).” (p. 18) 
- Clinton também trouxe a revisão da Doutrina Estratégica (Quadrennial Defense Review, 
1997), onde atualização dos sistemas de segurança, identificação de estados bandidos, estados 
falidos e a emergência do terrorismo são apontados. 
- A agenda foi bem sucedida e permitiu que o país recuperasse seu crescimento e 
renovasse sua economia, mas não garantiu aos democratas a reeleição em 2000. 
- Clinton estava com o processo de impeachment aberto e a visão crítica dos 
neoconservadores acerca de seu multilateralismo, não levou seu vice Al Gore (então 
candidato) à vitória presidencial. Neste ano, Bush filho vence as eleições, prometendo 
reafirmar o papel dos EUA como líder no âmbito externo e seus valores internos. 
- O país estava dividido; ambos os candidatos (Gore e Bush) receberam 50% dos votos, 
que pelo voto direto levaria Gore à vitória, mas pelo Colégio Eleitoral o resultado foi diferente. 
 
O 11/09, o Unilateralismo e o Recuo: George W. Bush (2001/2008) 
- A primeira fase de seu mandato acompanha baixa popularidade (uma vez que mais da 
metade da população não o apoiava) e resistência interna. 
- Adoção de uma ação mais realista e pragmática para o país no mundo, orientada pelo 
princípio de poder 
- Bush filho vai na contramão de Clinton (realocando orçamentos, deixando de lado ações 
multilaterais e etc); retórica da Casa Branca pendendo ao unilateralismo 
 
2001 e o 11 de Setembro 
- Em contestação à dominação hegemônica, os ataques ao símbolo do poder social e 
econômico do país (World Trade Center) e estratégico-político (Pentágono e prédios 
públicos em Washington DC) mostram as fissuras da sociedade norte-americana. 
- “Embora não tenham afetado o equilíbrio de poder mundial naquele momento, os 
atentados (...) favoreceram a construção de um novo inimigo, o terrorismo fundamentalista 
islâmico de caráter transnacional (retomando o medo da onda verde) e a implementação de 
regras de censura e restrição de liberdades civis pelo Estado.” (p. 20) 
- Externamente, a Guerra Total Contra o Terrorismo (GWT, Global War on Terrorism) 
geraria guerras na Ásia Central e no Oriente Médio. 
- “(...) o 11/09 refletiu-se no Quadrenniel Defense Review de 2001 (..), que reafirma que 
foi aberta uma nova era de ameaças aos Estados Unidos e o mundo com foco no terrorismo 
e a necessidade de combate-lo em nível global.” (pág 21) 
 
2002: Doutrina Bush substitui a E&E 
- “Mais do que o estabelecimento do terrorismo como inimigo, e da prioridade das guerras 
assimétricas, entre os Estado Unidos e países menores, entre os Estados Unidos e grupos 
privados transnacionais, a inovação da Doutrina Bush foi a introdução do conceito de 
prevenção como referencial de ação, em detrimento da contenção. Essa reafirmação do 
unilateralismo indica que os Estados Unidos voltavam à tradição das ‘alianças não 
permanentes’ do século XVIII (...), e que agiriam de forma decisiva contra seus inimigos, 
prevenindo a emergência de ameaças antes que surjam.” (p. 22); Doutrina Preventiva 
- Autores da linha oposta apontam que essas medidas apenas reforçam uma obsessão 
americana pelo mal, que traz impactos negativos ao sentimento igualitário e universalista e 
ascende uma plutocracia irresponsável; o poder hegemônico estaria ameaçando a 
democracia 
 
O declínio 
- A Guerra do Iraque (2003) oficializa essas posturas e traz consequências diretas para o 
país e o mundo 
- “Ao desconstruir o sistema de liderança norte-americana criada 1945, os Estados Unidos 
contribuíram para a crise de sua hegemonia, em termos materiais e ideológicos.” (p. 23) 
- “(...) em 2006 os republicanos perderam a maioria no legislativo, devido ao enfoque 
econômico e anti-guerra do Iraque dos democratas.” (p. 23) 
- Bush tenta empreender reformas que respondam “(...) a quatro fatores: à perda de 
legitimidade e credibilidade hegemônicas; ao definhamento e estagnação do sistema 
multilateral; à crescente valorização de coalizões anti-hegemônicas e a utilização de doutrinas 
preventivas por outrosEstados que temiam ser invadidos pelos norte-americanos (...); e à 
ascensão de novas potências e o distanciamento de aliados, que indicavam a consolidação de 
um sistema internacional com tendências multipolares e desconstrução de poder.” (p. 23) 
- As reformas não foram bem sucedidas; polarizações e divisões ideológicas seguiram se 
aprofundando 
 
Equilíbrio brando (soft balancing) 
- Países emergentes buscam diminuir a capacidade dos EUA de impor suas preferências 
a outros Estados, aceitando o equilíbrio de poder vigente, mas buscando também melhores 
resultados. 
 
Agenda de reforma externa 
- Empreendida por Rice, Secretário de Estado a partir do segundo mandato de Bush filho 
- Retoma à diplomacia norte-americana um padrão mais próximo de sua origem, 
baseado no multilateralismo assertivo, que reafirmava o compromissos com o sistema das 
OIs, na diplomacia transformacional que insere o componente político-econômico-social como 
mecanismo de promoção da mudança de regime (retoma a era Clinton) e a aproximação com 
potências regionais, reconhecendo o novo equilíbrio de poder. 
- Apesar de apresentar alguns avanços no campo externo, os últimos anos de Bush filho 
ficam marcados pela crise econômica que assolou o país entre 2007 e 2008. Assim, nas eleições 
seguintes os eleitores optaram por apostar em alguém que trazia propostas de mudança, 
elegendo o democrata Barack Obama. 
 
A Refundação Hegemônica? Barack Obama (2009/2012) 
- No início de seu mandato Obama enfrenta problemas para aplicar as reformas e 
reestruturações desejadas pela forte oposição dos republicanos, que apontavam suas políticas 
como sinônimo de “grande Estado” (com muita interferência na vida dos indivíduos), além de 
acusações de que ele seria socialista. 
- Uma de suas maiores preocupações era (...) sinalizar à comunidade internacional 
seu compromisso com o multilateralismo, as novas potências emergentes, os parceiros 
tradicionais e a renovação da projeção do país em continentes como a África (...).” (p. 26) 
 
O poder inteligente (Nye Jr.) 
- As mudanças no equilíbrio de poder mundial exigem que seja feito uso de todas 
ferramentas disponíveis (diplomática, econômica, militar, político, legal e cultural), de acordo 
com a exigência de cada situação; combinação de hard e soft power. Foi isso que levou 
Obama a ganhar o Prêmio Nobel da Paz em 2009. 
- Obama atualiza o Quadrennial Defense Review (QDR, 2010) e apresenta a Doutrina 
Obama (NSS-2010), onde o terrorismo permanece destacado como ameaça (apesar do 
abandono ao termo GWT), mas dessa vez junto à emergência das guerras cibernéticas. 
(Prevenção agressiva da NSS-2002 é substituída pelo foco em parcerias/cooperação) 
 
Os BRICS 
- Os EUA passam a se entender como parte de um ambiente internacional dinâmico, onde, 
dada a interconexão mundial, é preciso reconhecer a ascensão de novos centros de 
influência na ordem global, o que leva a novas possibilidades de articulação Norte-Sul e Sul- 
Sul. 
- Diante da pressão dos emergentes por reformas no sistema internacional, o governo 
norte-americano contrapôs ações unilaterais e declarações de teor hegemônico 
o “As demandas dos BRICS foram assim sistematizadas em sua primeira reunião de 
Cúpula em Ecaterimburgo na Rússia em 2009:” (p. 28) onde os países emergentes 
declaravam a urgência de haver maior representação nas instituições 
internacionais e afirmavam seu comprometimento com a diplomacia 
multilateral, com as Nações Unidas ocupando o papel centrar na administração dos 
desafios e dos perigos globais, reclamando uma reforma na mesma para lidar de 
maneira mais efetiva com os problemas contemporâneos. 
 
- Obama não via na ascensão dos emergentes o declínio da influência americana e 
europeia no mundo. Ele aponta possibilidade de crescimento dessas nações como resultado 
do mundo que foi moldado pelos EUA e por seus aliados democráticos. 
- O Secretário Assistente do Departamento de Estado Philip Gordon (2012) ressalta que 
cada vez mais os EUA possuem relações significativas com os BRICS e que, apesar de ser 
composto por países que compartilham interesses semelhantes, devem ser tratados a partir de 
sua individualidade 
 
Mundo pós-americano? 
- (...) estes poderes são do status quo, ou seja, não desejam a queda da hegemonia, mas 
sim a sua reforma e do sistema que valorizam. A imagem do mundo ‘pós-americano’, no qual 
os Estados Unidos serão menos dominantes como hegemonia, mas mais presentes como 
??(página cortou) da ideologia democrática é bastante explorada neste sentido. Além disso, 
sempre se retoma o fator de ausência de adversários militares à ‘ordem interpenetrada’ criada 
pelos norte-americanos no pós-1945. Com isso, o cenário permanece favorável para a 
continuidade do ‘Século Americano” (...). (pp. 28-29) 
- Os EUA podem se manter como o centro do sistema mundial se buscarem consolidar 
uma ordem global na qual conquistam aliados, não inimigos, recriando instituições de 
governança básica do sistema. (Ikenberry, 2011) 
 
- O debate que fica é sobre como se dará a renovação dessa hegemonia diante de uma 
sociedade tão dividida, onde o debate interno segue polarizado em assuntos domésticos e 
internacionais. A autora também coloca que visões equivocadas e agressivas sobre diversos 
temas (vide vazamento de informações diplomáticas pelo Wikileaks) ainda estão presentes, 
junto a tópicos como o processo de paz no Oriente Médio que, mesmo se aplicando ao 
multilateralismo, seguem estagnados.

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