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HEBER PIMENTEL GOMES Organizador SISTEMAS DE BOMBEAMENTO Eficiência Energética Editora Universitária – UFPB João Pessoa, 2009 1ª Edição: 2009 Editora Universitária da UFPB Capa: Moisés Menezes Salvino Diagramação: Equipe do LENHS UFPB Impresso no Brasil Esta publicação foi viabilizada com recursos da Centrais Elétricas Brasileiras S.A. - ELETROBRÁS, no âmbito do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica - PROCEL. FICHA CATALOGRÁFICA G 633 d Gomes, Heber Pimentel Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética 1ª Edição. 460p. ISBN: 978-85-7745-390-0 Heber Pimentel Gomes (organizador) - João Pessoa Editora Universitária/UFPB, 2009 1. Eficiência Energética 2. Eficiência Hidráulica 3. Bombeamento UFPB/BC DU 628.1 Este livro está dedicado à memória do professor Milton Tomoyuki Tsutiya pelo seu pioneirismo e contribuição aos estudos e práticas de eficiência energética no setor de saneamento. PREFÁCIO O uso racional da água e da energia no setor produtivo é um requisito indispensável para o desenvolvimento econômico e social no mundo contemporâneo, pela necessidade imperativa da preservação do meio ambiente. Estes insumos são cada vez mais escassos e, por conseguinte, mais caros, onerando, significativamente, os custos de produção no setor industrial. O setor de saneamento, que engloba a indústria de produção de água potável é, talvez, o mais estratégico no que diz respeito ao uso conjunto de água e energia e, portanto, merecedor de uma atenção especial, no tocante à racionalidade da utilização destes insumos. O mundo tem vivido, desde as últimas décadas do século passado, alternadas crises, derivadas de limitações no fornecimento de energia, principalmente, das fontes advindas de combustíveis fósseis. Neste princípio do século vinte e um, as limitações das disponibilidades de energia, frente aos aumentos de demanda, provocados, principalmente, pelo desenvolvimento dos países emergentes, onde se incluem Brasil, Rússia, Índia, China México, África do Sul, dentre outros, vem tornado permanente a preocupação pelo fornecimento e pelo aumento do custo da energia. Os sistemas de abastecimento e de esgotamento sanitário, são responsáveis por, aproximadamente, 3% da energia consumida no mundo. No Brasil a situação não é diferente e, de acordo com dados de 2008 do Programa Nacional de Conservação de Energia para o setor de Saneamento – PROCEL SANEAR –, entre 2 e 3% do consumo total de energia elétrica no nosso país, o equivalente a cerca de 10 bilhões de kWh/ano, são consumidos por prestadoras de serviços de água e esgotamento sanitário. Este consumo refere-se aos diversos usos nos processos de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, com destaque para os equipamentos motobomba das estações elevatórias, que são responsáveis por 90% da energia consumida. Parte significativa da energia gasta nos sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário se deve à ineficiência destes sistemas. Atualmente, no mundo, em média, 25% da energia gasta nestes sistemas se deve à ineficiência energética. Esta ineficiência é derivada do emprego de equipamentos de bombeamento de baixo rendimento (obsoletos, antigos ou mal dimensionados), do excesso de perda de carga hidráulica nas linhas adutoras e nas tubulações das redes de abastecimento, da ausência de manutenção, das perdas reais de água, dentre outros fatores. Nos últimos anos, em virtude, principalmente, da repercussão do custo energético na operação dos sistemas de abastecimento, as empresas prestadoras de serviços de saneamento estão buscando adotar medidas para aumentar a eficiência energética e, consequentemente, diminuir seus custos operacionais. O combate à diminuição do excesso do consumo de energia, provocado pela ineficiência energética, sem que haja comprometimento da qualidade do serviço de abastecimento, depende de um conjunto de ações nas áreas das engenharias hidráulica, mecânica e elétrica. De uma maneira geral, os diagnósticos e as ações de engenharia voltadas para solucionar os problemas da ineficiência energética em sistemas de bombeamento não são realizados por uma equipe multidisciplinar, que envolva profissionais com domínios técnicos nos campos da hidráulica, da mecânica e da elétrica. A falta de uma inter-relação entre os ramos das engenharias, antes apontados, tem dificultado, consideravelmente, os 6 Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética diagnósticos e as ações de combate às perdas de energia em sistemas de bombeamento, voltados para o abastecimento de água e esgotamento sanitário. O objetivo do presente livro é proporcionar aos profissionais da área de saneamento e afins, as diversas matérias concernentes à engenharia de sistemas de bombeamento, com vistas à adoção de medidas necessárias ao aumento da eficiência energética dos sistemas de abastecimento e de esgotamento sanitário. O livro aborda, de forma integrada, os diversos assuntos da mecânica dos fluidos, da hidráulica pressurizada, das bombas e elementos de controle, dos motores elétricos e seus acionamentos, dos processos de automação, da otimização de projetos de redes e estações elevatórias, dos processos de manutenção de sistemas etc. O livro foi escrito por vários autores com larga experiência, acadêmica e prática, na área de sistemas de bombeamento. Está organizado de maneira que os capítulos relacionam-se entre si, em uma sequência lógica, abordando os diversos temas relativos ao diagnóstico e às soluções de problemas de sistemas de bombeamento. Esta edição foi elaborada com apoio da ELETROBRÁS (Centrais Elétricas Brasileiras S.A.), no âmbito do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica para o setor de saneamento (PROCEL SANEAR - Eficiência Energética no Saneamento Ambiental). Heber Pimentel Gomes AUTORES DO LIVRO Airt on Sampaio Gomes - Engenheiro civil e especialista em perícia ambiental pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Atua na área de saneamento desde 1983, com foco em gestão operacional, controle e redução de perdas de água e gerenciamento energético. Ex Diretor Técnico da Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul, têm atuado para diversas instituições, como o PMSS – Programa de Modernização do Setor Saneamento, onde foi coordenador técnico do Projeto “Com+Água” e coordenou a produção de Guias Práticos e outras publicações; CEPEL – Centro de Pesquisas de Energia Elétrica, em apoio ao PROCEL SANEAR da Eletrobrás e; Banco Mundial, como consultor independente, além de diversas empresas do setor. Heber Pimentel Gomes - Engenheiro civil e mestre na área de Recursos Hídricos pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Especialista em Gestão de Recursos Hídricos pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP) e em Engenharia de Irrigação pelo Centro de Estudos Hidrográficos do Ministério de Obras Públicas da Espanha. Concluiu o seu doutorado na Universidade Politécnica de Madrid, no ano de 1992. É autor de quatro livros e possui dezenas de trabalhos científicos, publicados no Brasil e no exterior. É, atualmente, professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental do Centro de Tecnologia da UFPB, em João Pessoa, coordenador do Laboratório de Eficiência Energética e Hidráulica em Saneamento (LENHS) da mesma universidade e consultor técnico de instituições nacionais e internacionais. Luiz Simão de Andrade Filho - Engenheiro mecânico, especialista, mestre e doutor em Engenhariamecânica pela Universidade Federal da Paraíba. Foi coordenador do Laboratório de Mecânica dos Fluidos e Hidráulica e professor das disciplinas Mecânica dos Fluidos, Hidráulica e Máquinas Hidráulicas, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental do Centro de Tecnologia da UFPB, em João Pessoa. Atualmente, é professor voluntário do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da mesma universidade. Osvaldo Luiz Cramer de Otero - Engenheiro eletricista pela Escola Politécnica da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), com especialização na Section Spéciale d’Électrotechnique de l’Institut Polytechnique de Grenoble (França). Vem se dedicando nos últimos anos à área de eficiência energética industrial, especialmente no Setor Saneamento. Participou, como consultor do PNUD, da elaboração do diagnóstico de eficiência e gestão energética em 10 operadoras municipais selecionadas em Chamada Pública pelo PMSS e, posteriormente, como consultor de empresas privadas, na implantação do Projeto “Com+Água” do PMSS nas mesmas operadoras. Participou também dos trabalhos de elaboração do Manual de Utilização da RGR, para apresentação de projetos de eficiência energética com vistas à obtenção de recursos daquela fonte. É autor de vários trabalhos apresentados no Brasil e no exterior. Ronildo Inácio Soares de Alencar - Engenheiro mecânico pela UFPB e mestre em Engenharia mecânica pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP). É, atualmente, professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental do Centro de 8 Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética Tecnologia da UFPB e coordenador do Laboratório de Mecânica dos Fluidos e Hidráulica da mesma universidade. Saulo de Tarso Marques Bezerra - Engenheiro Civil pela UFPB e mestre em Engenharia Hidráulica pela Universidade Federal de Campina Grande. Concluiu o doutorado na área de automação na UFPB. Nos últimos anos, vem se dedicando à área de eficiência hidroenergética no setor de saneamento. Participou, como engenheiro responsável pelos projetos e comissionamento dos equipamentos, da implantação do LENHS/UFPB. Atualmente é professor substituto do IFPB, pesquisador e consultor do LENHS UFPB e instrutor do curso da ABES “Controle de Sistemas Automatizados para Redução do Consumo de Água e Energia”. É autor de artigos em periódicos e capítulos de livros no Brasil e no exterior. Sebastião de Paula Coura - Engenheiro elétrico formado pela Universidade Federal de Itajubá em 1973 e em Mecânica de precisão pela Escola Industrial do Ministério do Exército. Foi gerente de manutenção em empresas dos setores de transportes ferroviários e mineração. Atuou por mais de 25 anos na Sabesp tendo sido gerente dos Departamentos de Engenharia para as áreas de Planejamento, Manutenção Preventiva, Energia e Automação, e Segurança em Barragens. Desenvolveu vários trabalhos para aproveitamento energético de fontes alternativas existentes em sistemas do setor Saneamento Básicas. É autor de diversos artigos científicos publicados no Brasil e no exterior. É, atualmente, consultor na área de eficiência energética e manutenção com foco na melhoria da eficiência hidroenergética em sistemas de bombeamento. Simplício Arnaud da Silva - Engenheiro eletricista e mestre em Engenharia Elétrica na área de Eletrônica de Potência pela UFPB. Concluiu o seu doutorado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal da Paraíba, na Área de Controle de Vibrações no ano de 1998. Possui diversos trabalhos científicos publicados em congressos nacionais e internacionais. E atualmente, professor dos Cursos de Graduação e Pós-graduação em Engenharia Mecânica do Centro de Tecnologia da UFPB, com vários trabalhos de dissertação e tese defendidas sob sua orientação. SUMÁRIO Prefácio 5 Autores do Livro 7 Capítulo 1 – Aspectos Hidráulicos e Elétricos Básicos 15 1.1 - Introdução 15 1.2 - Mecânica dos Fluidos e Hidráulica 15 1.3 - Viscosidade e Outras Propriedades 16 1.3.1 - Viscosidade 16 1.3.2 - Outras Propriedades 17 1.3.3 - O Fluido Água 17 1.4 - Estática dos Fluidos 20 1.4.1 - Equação Fundamental da Estática dos Fluidos 21 1.4.2 - Unidades Para Medidas de Pressão 21 1.4.3 - Escalas e Medidores de Pressão 21 1.5 - Escoamentos de Fluidos - Conceitos e Equações Fundamentais 22 1.5.1 - Conservação da Massa 25 1.5.2 - Equação de Bernoulli 26 1.5.3 - Equação da Energia 29 1.6 - Perdas de Carga 29 1.6.1 - Perdas de Carga Lineares 30 1.6.2 - Perdas de Carga Singulares 34 1.7 - Eletrotécnica 37 1.7.1 - Leis e Conceitos Básicos 38 1.7.2 - Circuitos Trifásicos e Monofásicos 38 1.7.3 - Distribuição de Energia Elétrica 39 1.7.4 - Potências em Corrente Alternada 40 1.8 - Bibliografia 44 Capítulo 2 – Bombas e Estações Elevatórias 45 2.1 - Introdução 45 2.2 - Classificação e Descrição 47 2.2.1 - Classificação das Turbobombas 49 2.2.2 - Classificação das Bombas Centrífugas 49 2.3 - Altura Geométrica e Manométrica, Perdas e Potências 52 2.3.1 - Alturas Geométrica e Manométrica 53 2.3.2 - Potências e Rendimentos 54 2.3.3 - Perdas de Energia na Bomba 57 2.4 - Curvas Características - Ensaios de Bombas 62 2.4.1 - Curvas Característica de Uma Bomba 62 2.4.2 - Ensaio de Bombas 66 2.5 - Curvas do Sistema e Ponto de Trabalho 69 2.6 - Relações Entre as Grandezas Características de Bombas 76 10 Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética 2.6.1 - Leis de Similaridade Para Bombas 76 2.6.2 - Leis de Afinidade 78 2.6.3 - Parábolas de Iso-Rendimento 80 2.6.4 - Corte nos Rotores 81 2.7 - Velocidade Específica 83 2.7.1 - Rotação Específica 83 2.7.2 - Velocidade Específica 84 2.7.3 - Velocidade Específica em Casos Especiais 86 2.8 - Altura de Aspiração, Cavitação e NPSH 87 2.8.1 - Altura de Aspiração 88 2.8.2 - Cavitação 90 2.8.3 - NPSH 91 2.8.4 - O Coeficiente de Thoma 93 2.9 - Associação de Bombas 96 2.9.1 - Associação em Paralelo 96 2.9.2 - Associação em Série 98 2.9.3 - O Rendimento Resultante das Associações de Bombas 100 2.10 - Acionamento Elétrico 104 2.10.1 - Motores de Corrente Contínua (DC) 104 2.10.2 - Motores de Corrente Alternada (AC) 105 2.10.3 - Variação da Velocidade de Rotação 107 2.10.4 - Grandezas Elétricas Relacionadas com Motores Elétricos Trifásicos 107 2.11 - Bibliografia 112 Capítulo 3 – Acionamentos de Motores Elétricos 113 3.1 - Introdução 113 3.2 - Família de Motores Elétricos 114 3.3 - Motor de Indução Trifásico 116 3.3.1 - Princípio de Operação 116 3.3.2 - Dados Construtivos 117 3.3.3 - Características de Operação do Motor de Indução Trifásico 119 3.3.4 - Perdas nas Máquinas Elétricas 126 3.3.5 - Carcaça como Invólucro de Proteção 131 3.3.6 - Utilização de Motores em Áreas Perigosas 134 3.4 - Métodos de Partida de Motores de Indução Trifásicos 135 3.4.1 - Partida Direta 137 3.4.2 - Partida com Chave Estrela-Triângulo 138 3.4.3 - Partida com Autotransformador 141 3.4.4 - Partida por Meio de Dispositivos Estáticos 142 3.4.5 - Chave Soft-Starter 143 3.4.6 - Conversor de Frequência 148 3.4.7 - Fator de Potência 156 3.5 - Cálculo da Potência do Motor Elétrico 159 3.6 - Operação do Motor com Rotações Abaixo da Nominal 165 3.7 - Bibliografia 166 Sumário 11 Capítulo 4 – Válvulas de Controle 167 4.1 - Introdução 167 4.2 - Classificação das Válvulas 167 4.3 - Elementos Constitutivos das Válvulas 170 4.3.1 - Elementos Fixos 170 4.3.2 - Elementos Móveis 173 4.3.3 - Caracterização das Válvulas 175 4.3.4 - Parâmetros para o Dimensionamento das Válvulas 182 4.4 - Dimensionamento da Válvula 183 4.4.1 - Coeficiente de Vazão 183 4.4.2 - Cavitação em Válvulas 184 4.4.3 - Seleção, Dimensionamento e Especificação 185 4.5 - Válvulas de Controle Mais Utilizadas nos Sistemas de Produção e Distribuição de Água 186 4.5.1 - Princípio de Funcionamento 187 4.5.2 - Válvula Redutora de Pressão Pilotada 189 4.5.3 - Válvulas Redutora de Pressão (VRP)190 4.5.4 - Válvula de Alívio ou Sustentadora de Pressão 192 4.5.5 - Válvula Redutora de Pressão e Retenção Pilotada 192 4.5.6 - Válvula Redutora e Sustentadora de Pressão Pilotada 193 4.5.7 - Válvula Antecipadora de Onda Pilotada 193 4.5.8 - Válvula Controladora de Bomba Pilotada 193 4.6 - Instalação de Válvulas de Controle 194 4.6.1 - Válvulas Redutora de Pressão 194 4.6.2 - Válvulas de Alívio ou Sustentadora de Pressão 194 4.6.3 - Válvula Redutora e Sustentadora de Montante 195 4.6.4 - Válvula Antecipadora de Onda 195 4.6.5 - Válvula Controladora de Bomba 195 4.7 - Operação e Manutenção 195 4.8 - Válvulas Tipo Ventosa 196 4.8.1 - Ventosas Simples 196 4.8.2 - Ventosa de Duplo Efeito 197 4.8.3 - Dimensionamento das Ventosas 198 4.9 - Exemplos 198 4.10 - Bibliografia 201 Capítulo 5 – Automação e Controle 203 5.1 - Introdução 203 5.2 - Sistema SCADA 205 5.3 - Instrumentação 206 5.4 - Estações Remotas 210 5.5 - Rede de Comunicação 211 5.5.1 - Topologia de Redes 214 5.5.2 - Protocolos 215 5.6 - Sistema de Supervisão e Controle 219 5.7 - Sistema de Controle 222 12 Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética 5.8 - Automação Local e Aquisição de Dados 227 5.8.1 - Controlador Lógico Programável 227 5.8.2 - Controle de Sistemas através de PC 232 5.8.3 - Aquisição de Dados 233 5.8.4 - Requisitos de Controle 234 5.9 - Aplicações de Automação em Sistemas de Bombeamento 234 5.9.1 - Sistema de Bombeamento Típico com Medição de Vazão e Pressão 235 5.9.2 - Sistema de Bombeamento com Controle Liga/Desliga 236 5.9.3 - Sistema de Bombeamento com Acionamento por meio de Conversores de Freqüência 237 5.9.4 - Acionamento Múltiplo de Conjuntos Motobomba 239 5.9.5 - Captação em Barragem de Nível Variado 239 5.9.6 - CMB do Tipo Flutuante com Conversor de Freqüência 240 5.9.7 - Controle de Pressão do Ponto mais Desfavorável 240 5.9.8 - Controle Liga/Desliga em Função da Qualidade do Manancial 241 5.9.9 - Sistema de Bombeamento em Poços Profundos 242 5.10 - Aplicação de Conversores de Frequência em Sistemas de Bombeamento 242 5.10.1 - Sistemas de Bombeamento 242 5.10.2 - Região de operação dos equipamentos do sistema de bombeamento 246 5.10.3 - Conversor de Frequência 247 5.11 - Bibliografia 249 Capítulo 6 – Diagnóstico de Sistemas 251 6.1 - Introdução 251 6.2 - Lista de Verificação no Diagnóstico Hidroenergético 252 6.2.1 - Levantamento do Diagrama Simplificado Eletro-Hidráulico do Sistema 253 6.2.2 - Levantamento das Contas de Energia das Unidades Consumidoras e Análise Tarifária 253 6.2.3 - Levantamento do Diagrama Unifilar Elétrico das Unidades Consumidoras 255 6.2.4 - Levantamento do Cadastro dos Equipamentos das Unidades Consumidoras, Incluindo as Características Técnicas das Adutoras, Acessórios e Perfil Topográfico 256 6.2.5 - Levantamento dos Equipamentos de Medições Elétricas e Hidráulicas 258 6.2.6 - Levantamento dos Recursos Auxiliares de Gestão 259 6.2.7 - Levantamento dos Procedimentos de Operação e Manutenção 260 6.2.8 - Medições no Campo 262 6.2.9 - Cálculos e Simulações para Estabelecimento de Alternativas de Intervenções 262 6.2.10 - Estimativa de Custo Inicial das Alternativas 263 6.3 - Medições de Campo 263 6.3.1 - Condições Fundamentais para Realização de Medições para Projetos de Eficiência Energética em Sistemas de Abastecimento de Água 264 6.3.2 - Variáveis de Acompanhamento Permanente 269 6.3.3 - Verificações Anuais ou Eventuais 278 6.3.4 - Recomendações para Procedimentos nas Campanhas de Medições 282 6.4 - Indicadores de Desempenho em Sistemas de Bombeamento 285 Sumário 13 6.4.1 - Indicadores de Desempenho Operacional 286 6.4.2 - Indicadores de Desempenho Financeiro 294 6.5 - Bibliografia 296 Capítulo 7 – Ações de Eficiência Energética 297 7.1 - Introdução 297 7.2 - Projetos de Eficiência Energética 297 7.2.1 - Reduzindo a Altura Manométrica de Bombeamento 297 7.2.2 - Melhorando o Rendimento de Equipamentos 308 7.2.3 - Modulando a Carga com Conversores de Frequência 311 7.2.4 - Otimizando a Reservação com Aumento do Bombeamento Fora do Horário de Ponta 322 7.3 - Bibliografia 334 Capítulo 8 – Manutenção em Sistemas de Bombeamento 335 8.1 - Introdução 335 8.2 - Engenharia de Manutenção 336 8.3 - Falhas Comuns em Instalações de Bombeamento 337 8.3.1 - Vibração Excessiva em Conjuntos Motobomba por Causas Relacionadas aos Eixos ou as Carcaças 337 8.3.2 - Sobreaquecimento em Mancais de Conjuntos Motobomba 339 8.3.3 - Sobreaquecimento nos Enrolamentos de Motores 340 8.3.4 - Motores Operando com Correntes ou Tensões Desequilibradas 342 8.3.5 - Bombas Operando em Condições Anormais 345 8.3.6 - Falhas em Equipamentos Diversos de uma Instalação de Bombeamento 346 8.3.7 - Causas de “Queimas” Prematuras de Equipamentos Elétricos por Falhas de Manutenção 351 8.4 - Sistemas para ”Partida” de Motores Elétricos 352 8.4.1 - Partida Direta 353 8.4.2 - Partida Estrela-Triângulo 354 8.4.3 - Soft-Starter 354 8.4.4 - Partida Compensada 354 8.4.5 - Conversor de Frequência 355 8.5 - Métodos Utilizados em Manutenção 356 8.6 - Técnicas Utilizadas em Manutenção Preditiva 359 8.6.1 - Inspeção Termográfica 359 8.6.2 - Medição e Análise de Vibração em Mancais de Máquinas Rotativas 361 8.6.3 - Manutenção da Qualidade da Lubrificação em Mancais 362 8.6.4 - Inspeções e Medições Sistemáticas Eletromecânicas e Hidráulicas 363 8.6.5 - Óleo Isolante e Refrigerante dos Transformadores 366 8.6.6 - Manutenção da Confiabilidade dos Instrumentos de Medição Calibração 367 8.7 - Recomendações de Manutenção por Família de Equipamentos 367 8.7.1 - Principais Equipamentos Mantidos em Sistemas de Bombeamento 367 14 Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética 8.7.2 - Planos Típicos de Manutenção 368 8.8 - Recomendações Gerais 380 8.9 - Qualificação da Mão de Obra 381 8.10 - Indicadores de Desempenho para a Manutenção em Sistemas de Bombeamento 382 8.10.1 - Disponibilidade 382 8.10.2 - Tempo Médio entre Falhas 384 8.10.3 - Tempo Médio para Reparos 384 8.11 - Indicadores para Gestão do Uso da Energia Elétrica 384 8.11.1 - Fator de Carga 385 8.11.2 - Custo Médio 385 8.11.3 - Eficiência 385 8.12 - O Dilema: Reparar ou Substituir? 386 8.13 – Bibliografia 388 Capítulo 9 – Modelagem Hidráulica - Projetos Otimizados 389 9.1 - Introdução 389 9.2 – Modelagem Hidráulica – O Modelo EPANET 389 9.3 - Projetos Otimizados de Eficiência Energética 405 9.3.1 - Introdução 405 9.3.2 - Dimensionamento Econômico de Estações Elevatórias - Método das Tentativas 406 9.3.3 - Dimensionamento Econômico de Redes de Abastecimento Método LENHSNET 418 9.4 - Bibliografia 438 Anexo I – Análise tarifária e Gestão das Contas de Energia 439 Anex o II – Metodologia de Custos Evitados da ANE EL: Resumo 455 1 ASPECTOS HIDRÁULICOS E ELÉTRICOS BÁSICOS Luiz Simão de Andrade Filho 1. 1.1 - INTRODUÇÃO No setor de Saneamento é comum a necessidade de mover água ou esgoto contra a ação da gravidade através de tubulações pressurizadas. Para isto, faz-se uso de bombas hidráulicas, que do ponto de vista energético são máquinas que convertem a energia mecânica, produzida por um motor, em energia hidráulica, na forma de pressão e energia cinética e/ou potencial. Em princípio qualquer motor pode ser utilizado. Na prática, predominam os motores elétricos, por apresentarem inúmeras vantagens, como poderá ser constatado em capítulos posteriores. Os conjuntos formados pelas tubulações, bombas, motores e instalações elétricas são conhecidos como instalações elevatórias. Nos seus projetos, operação e manutenção predominam os conceitos de Hidráulica e Máquinas Hidráulicas. Faz-se necessário ainda o conhecimento básico de Instalações Elétricas e Máquinas Elétricas. Estes conceitos são explorados ao longo desta obra e para melhor compreendê-los é feita neste capítulo,uma breve revisão introdutória de Mecânica dos Fluidos, Hidráulica e Eletrotécnica. 1.2 - MECÂNICA DOS FLUIDOS E HIDRÁULICA Uma visão simplificada da matéria considera que esta pode se apresentar em três fases: sólida, líquida e gasosa. As fases líquida e gasosa constituem os fluidos, que se caracterizam acima de tudo por não possuírem formas próprias. A fase líquida admite uma superfície livre e é considerada praticamente incompressível. Já a fase gasosa ocupa todo o espaço onde é contida, e não admite superfícies livres, além de ser facilmente compressível. A ciência voltada para o estudo do comportamento físico dos fluidos com base nas leis da Mecânica e da Termodinâmica, denomina-se Mecânica dos Fluidos. A Hidráulica trata apenas dos líquidos, particularmente da água. A maciça presença de água e ar, além de inúmeros outros gases e líquidos em nosso dia a dia dá idéia da importância de ambas. Estão presentes em praticamente todas as engenharias e são a base do projeto das máquinas e processos que manipulam fluidos, como por exemplo, as bombas e turbinas, e suas instalações. 16 Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética 1.3 - VISCOSIDADE E OUTRAS PROPRIEDADES Do ponto de vista da Mecânica dos Fluidos, os fluidos são substâncias que se deformam continuamente quando submetidas a uma tensão de cisalhamento. Diferentemente dos sólidos não resistem a tensões desse tipo, de modo que qualquer tensão cisalhante, por menor que seja, produz uma deformação que pode dar-se em maior ou menor velocidade. O conceito é mais bem compreendido valendo-se do clássico movimento entre duas placas planas paralelas e próximas uma da outra, mostrado na Figura 1.1. (a) V = 0 (b) V > 0 Figura 1.1 - Movimento de cisalhamento de duas placas planas paralelas separadas por um sólido a) e por um líquido b) Suponha que, no caso a), colado às duas placas exista uma substância sólida facilmente deformável, como espuma ou borracha. Ao arrastar a placa superior na direção horizontal, enquanto a inferior é mantida fixa, provoca-se um cisalhamento na substância e essa se deforma de um ângulo finito, como indicado pela linha tracejada, e entra em equilíbrio estático. Um incremento na deformação só é possível aumentando-se a tensão até um novo valor de equilíbrio, de modo que a velocidade da placa superior, após a deformação, termina sempre em zero. Considere agora que entre as duas placas existe um fluido. Aplicada a tensão, inicia- se a deformação, que não cessa enquanto a tensão atuar, pois como não há resistência ao cisalhamento, o equilíbrio estático não é atingido. Com isso a placa superior adquire um movimento contínuo, indicado pela velocidade (V), que se propaga por todo o fluido de modo que as partículas que se encontram junto à placa superior movem-se com ela, à velocidade (V), enquanto aquelas que estão junto à inferior, tal como a placa, possuem velocidade nula. Esta é a chamada condição de não deslizamento e tem grande importância na Mecânica dos Fluidos. 1.3.1 - Viscosidade Ainda com base na Figura 1.1, observa-se que a velocidade do fluido (V) varia ao longo de y, de 0 a V, seguindo uma função aproximadamente parabólica, que para pequenos espaçamentos pode ser considerada linear. Newton postulou que, para a maioria dos fluidos, a tensão (τ) é diretamente proporcional ao gradiente de velocidades dessa distribuição ou de sua taxa de deformação, ∂v/∂y: v Aspectos Hidráulicos e Elétricos Básicos 17 v y ∂τ = µ ∂ (1.1) A Equação 1.1 é conhecida como lei da viscosidade de Newton e os fluidos que a seguem são chamados de newtonianos. Fluidos em que a relação entre τ e ∂v/∂y não é linear, tal como creme dental e muitas substâncias orgânicas são ditos não newtonianos. O coeficiente de proporcionalidade (µ) é chamado de viscosidade absoluta ou simplesmente viscosidade. É uma propriedade do fluido que depende de sua temperatura, sendo que nos líquidos decresce com a temperatura enquanto nos gases possui comportamento inverso. As unidades de µ no Sistema Internacional (SI) são N.s/m2 ou kg/ms, que numericamente possuem o mesmo valor. O valor padrão para água é 10-3 N.s/m2, sendo o valor obtido em quadros ou gráficos com base na temperatura. 1.3.2 - Outras Propriedades Além da viscosidade, muitas outras propriedades físicas ou termodinâmicas são necessárias ao estudo da Mecânica dos Fluidos. O Quadro 1.1 mostra um resumo bastante simplificado das principais propriedades. Com base em algumas dessas propriedades alguns conceitos úteis podem ser enunciados. Fluidos cuja densidade é constante são chamados de incompressíveis. A maioria dos líquidos a pressões não muito altas são assim considerados. Se a viscosidade do fluido pode ser desprezada ele é dito não viscoso. Trata-se na verdade de uma abstração que permite desprezar as forças viscosas na busca de soluções simplificadas de um problema. Para que um líquido mude da fase líquida para vapor é necessário que sua pressão atinja a pressão de vapor do líquido (pv). É comum memorizarmos que a água ferve a uma temperatura de 100ºC. Isto realmente é verdade se a pressão é de 1 atm1 ou 101,3 kPa2 absolutos, que é o valor de pv a esta temperatura. Já para temperaturas próximas à ambiente, digamos 15ºC, pv cai para 1,71 kPa, conforme pode ser observado no Quadro 1.1. Em alguns escoamentos as pressões, mesmo à temperatura ambiente, podem tornar-se muito baixas e atingir valores inferiores a 1,71 kPa, de modo que nessas regiões ocorrerá mudança de fase, formando-se uma bolsa de vapor ou cavidade que se expande rapidamente. Ao se deslocar de seu ponto de origem para pontos nos quais a pressão é superior à pv ocorre o seu colapso ou implosão causando erosão do material e instabilidade no escoamento. Este fenômeno é chamado de cavitação e pode surgir em vários dispositivos hidráulicos, mas é nas bombas e turbinas que as consequências são mais danosas, devendo o projetista estar atento para evitá-lo. 1.3.3 - O Fluido Água Cerca de três quartos do planeta terra é composto de água. Ela está presente na fase líquida e sólida nos oceanos, rios e lagos ou ainda sôbre ou sob o solo. O ar também a contém, na forma de vapor, e sua permanente movimentação ao longo dos vários meios 1 1 atm = 10,33 mca (mH2O). 2 1 kPa = 0,102 mca (mH2O). 18 Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética que a contém (superficial, subterrânceo e atmosférico) juntamente com as consequentes mudanças de fase, constituem o chamado ciclo hidrológico. Quadro 1.1 - Principais propriedades dos fluidos Propriedade Definição Fórmula Valores para água* Densidade ou massa específica Massa por unidade de volume** V m=ρ 1000 kg/m3 Peso Específico Peso por unidade de volume ** g V mg ρ==γ 9810 N/m3 Densidade Relativa Relação entre a densidade da substância e a densidade da água OH2 d ρ ρ= 1 Viscosidade Relação entre a tensão cisalhante e a velocidade de deformação y/u ∂∂ τ=µ 10 -3 N.s/m2 Viscosidade cinemática Relação entre a viscosidade absoluta e a densidade da substância ρ µ=υ 10 -6 m2/s Pressão de vapor Pressão associada a uma dada temperatura na qual ocorre a mudança de fase (líquido-vapor ou vice-versa) pv 1707 N/m2 * Valores aproximados para água nas condições padrão (T = 15 ºC e p = 1 atm) no SI. ** Considerando o fluido um meio contínuo e homogêneo. Fisicamente podem se identificar na natureza três tipos básicos de água: água doce, água do mar e águas residuais conhecidas como esgotos. Apenas menos de 1% da água do planeta se presta ao consumo humano. A sua maior parte (97%) está nos oceanos e o restante faz parte das geleiras, está contida na atmosfera ou se encontra em grandes profundidades terrestres, o que torna o seu uso inviável nos dias de hoje. O homem, ainda quando muito primitivo, aprendeu a reconhecer a vital importânciada água e a desenvolver tecnologias capazes de trazer este fluido precioso para perto de si e ao mesmo tempo levar os residuos resultantes de seu uso para bem longe das comunidades. Tais iniciativas vieram a dar origem à Hidráulica, que numa primeira análise é a Mecânica dos Fluidos aplicada ao fluido água e a outras ciências tais como a Hidrologia - que estuda a ocorrência, distribuição e movimentação da água no planeta - e estudos como o do Saneamento - atividade econômica voltada ao abastecimento de água potável encanada e à coleta, tratamento de esgoto e controle de pragas e de qualquer tipo de agente patogênico, visando a saúde das comunidades. Para sanear as comunidades é necessário mover águas. Quando este movimento se dá contra a gravidade, necessita-se obviamente de energia, normalmente elétrica, para acionar os motores das bombas. O crescimento populacional, junto às facilidades dos tempos atuais, consomem quantidades cada vez maiores de água e portanto de energia. É compromisso de todos e em particular da engenharia que atua em Saneamento tornar os processos cada vez mais eficientes do ponto de vista hidráulico e enérgético. Aspectos Hidráulicos e Elétricos Básicos 19 Água Doce São as águas utilizadas para consumo humano e para as atividades socioeconômicas, retiradas de rios, lagos, represas e aquíferos, também conhecidas como águas interiores. Suas principais propriedades físicas, em função da temperatura, são apresentadas no Quadro 1.2. Quadro 1.2 - Principais propriedades físicas da água doce Temperatura T (°C) Densidade ρρρρ (kg/m3) Viscosidade µµµµ (10-3 N.s/m2) Viscosidade Cinemática νννν (10-6m2/s) Densidade relativa d Pressão de vapor pv (kPa) 0 (gelo) 917,0 - - 0,9170 - 0 (água) 999,8 1,781 1,785 0,9998 0,66 4 1000,0 1,558 1,558 1,0000 - 5 1000,0 1,518 1,519 1,0000 0,87 10 999,7 1,307 1,308 0,9997 1,23 15 999,1 1,139 1,140 0,9991 1,71 20 998,2 1,002 1,003 0,9982 2,34 25 997,0 0,890 0,893 0,9970 3,17 30 995,7 0,798 0,801 0,9967 4,25 40 992,2 0,653 0,658 0,9922 7,38 50 988,0 0,547 0,553 0,9880 12,40 60 983,2 0,466 0,474 0,9832 19,90 70 977,8 0,404 0,413 0,9788 31,20 80 971,8 0,354 0,364 0,9728 47,40 90 965,3 0,315 0,326 0,9653 70,10 100 958,4 0,282 0,294 0,9584 101,00 Águas Residuais - Esgotos O consumo de água pelo homem em atividades domésticas ou atividades sociais e econômicas geram águas residuais que, via de regra, não podem ser reaproveitadas. Esgotos sanitários têm em sua composição cerca de 1% de material sólido, compondo-se o restante essencialmente de água. Essa parcela, numericamente tão pequena, permite que se considerem as propriedades físicas do esgoto, idênticas às da água doce e pura. Por outro lado, esta pequena quantidade de resíduos e outras impurezas são terríveis do ponto de vista ecológico, de modo que estas águas devem ser coletadas, tratadas e finalmente redirecionadas para longe das comunidades, minimizando os seus efeitos sobre o meio ambiente. 20 Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética Água do Mar A água do mar padrão é definida como contendo 35 g de sal por kg de solução. Esta concentração de sal (3,5%) é suficiente para alterar algumas das suas propriedades físicas. O seu ponto de fusão, por exemplo, é -1,9ºC contra 0ºC da água doce. O Quadro 1.3 mostra a comparação de várias outras propriedades. Quadro 1.3 - Comparação entre os valores das principais propriedades físicas da água do mar comparadas com a água doce à temperatura de 20ºC Tipo de Água Densidade ρρρρ (kg/m3) Viscosidade µµµµ (10-3 N.s/m2) Viscosidade Cinemática νννν (10-6m2/s) Densidade relativa d Pressão de vapor pv (kPa) Água Doce 998,0 1,000 1,000 0,998 2,34 Água do Mar 1025,6 1,088 1,061 1,027 2,26 Água e Ar Água e ar são fluidos de características bastante diferentes, a começar pelas fases em que se encontram normalmente presentes: líquida para a água e gasosa para o ar. Além disso, enquanto a água é uma substância pura, o ar é uma mistura de gases em que predominam o nitrogênio e o oxigênio. Para os seres humanos, entretanto, possuem duas semelhanças fundamentais, são os fluidos mais abundantes no planeta e ambos são vitais para a sua sobrevivência. A presença de ar na água naturalmente reduz sua densidade. Tal efeito é utilizado, embora com baixa eficiência, em um sistema de bombeamento de água em poços que consiste em injetar ar comprimido proveniente de um compressor na água. A mistura, por ter menor densidade que a fase líquida, ascende na tubulação chegando á superfície onde é coletada. Em tubulações de instalações de bombeamento de água a mistura água-ar costuma ser transitória. Quando o ar entra nas instalações, tende a se separar da água e formar bolsas que se alojam nas partes mais altas das tubulações. Tais bolsas restringem a seção de escoamento, podendo interrompê-lo totalmente, ou no mínimo dificultá-lo, gerando um maior gasto de energia. Quando isto ocorre o ar deve ser retirado, valendo-se para isso de remoção hidráulica ou mecânica. No primeiro caso, a velocidade da água deve ser mantida acima de um valor crítico, determinado através de fórmulas empíricas disponíveis nos Manuais de Hidráulica. No segundo caso, empregam-se ventosas, que são válvulas que permitem a extração do ar automaticamente. 1.4 - ESTÁTICA DOS FLUIDOS Conforme visto na seção anterior, a existência de tensões viscosas num fluido real está condicionada à presença de um gradiente de velocidades (∂v/∂y). Portanto, fluidos em repouso ou mesmo movendo-se como um corpo rígido não possuem distribuição de velocidades nem, consequentemente, tensões viscosas. Assim, na estática dos fluidos apenas as tensões normais são consideradas. Num fluido estas se resumem à pressão, cujo Aspectos Hidráulicos e Elétricos Básicos 21 valor em um ponto, segundo o princípio conhecido como lei de Pascal, é igual em todas as direções. 1.4.1 - Equação Fundamental da Estática dos fluidos A diferença de pressão entre dois pontos quaisquer no interior de um fluido em repouso (p2 - p1) é proporcional à diferença de profundidade (h2 - h1) e ao peso específico do fluido: 2 1 2 1p p (h h )− = γ − (1.2) Se a profundidade, h1, for tomada como referência para a pressão nula, a Equação 1.2 torna-se: p h= γ (1.3) 1.4.2 - Unidades para Medidas de Pressão A pressão possui dimensões de força por unidade de área. Assim sua unidade no SI é o Pascal, Pa = N/m2. O valor da pressão atmosférica ao nível do mar, por exemplo, é de 101,32 kPa. Esta, como qualquer pressão, pode ser expressa em coluna de fluido. Para isto, basta substituir seu valor na Equação 1.3, juntamente com o peso específico da água, γ = 9.810 N/m3, encontrando-se um h de 10,33 m, que é o valor da pressão atmosférica padrão em metros de coluna de água (mca). Utilizando γ = 13,6 x 9.810 N/m3, que corresponde ao peso específico do mercúrio, encontra-se 0,760 mHg ou 760 mmHg. 1.4.3 - Escalas e Medidores de Pressão Pressão, de maneira análoga ao que ocorre com a temperatura, pode ser expressa em escala absoluta ou relativa. A primeira atribui o valor nulo ao vácuo perfeito, enquanto a segunda considera zero ao nível de pressão correspondente à atmosfera local. A maioria dos medidores de pressão mede pressão relativa, ou seja, a diferença entre a pressão absoluta e a pressão atmosférica do local onde se encontram. Estes são os manômetros ou vacuômetros e por esta razão, pressões relativas são normalmente chamadas de manométricas. Os medidores de pressão absoluta são conhecidos como barômetros. Estes são menos práticos e mais custosos que os manômetros e, portanto, só utilizados para a determinação da pressão atmosférica do local. Diferentemente de temperatura, que possui unidades diferentes para cada escala (kelvin e Celsius, por exemplo), uma mesma unidade de pressão é usada para ambas as escalas. A equaçãoque relaciona as escalas é dada por: Pmanométrica = Pabsoluta - Patmosférica_local (1.4) Como exemplo, considere uma bomba que possui um vacuômetro em sua entrada registrando -4 mca e um manômetro na sua descarga acusando 30 mca. Considerando-se que a bomba se encontra ao nível do mar, as pressões absolutas correspondentes são, respectivamente, 6,33 e 40,33 mca. 22 Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética Exemplo 1.1 A que pressão manométrica em mca espera-se que ocorra cavitação na entrada de uma bomba que está recalcando água a 30ºC ? Solução A cavitação ocorre quando a pressão atinge a pressão de vapor. Segundo o Quadro 1.2, para uma temperatura de 30ºC, pv = 4,25 kPa absolutos. Para obter a pressão manométrica equivalente, faz-se uso da Equação 1.4. Considerando-se a pressão atmosférica ao nível do mar (101,30 kPa ou 10,33 mca) se obtém: pvm = 4,25 - 101,30 = -97,05 kPa Em metros de coluna de água: 3 vm 3 p 97,05� �10 9,89 9,81� �10 − ×= = − γ × mca 1.5 - ESCOAMENTOS DE FLUIDOS - CONCEITOS E EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS Os escoamentos classificam-se em relação a vários aspectos, cujo conhecimento é indispensável para o estudo da Mecânica dos Fluidos e da Hidráulica. Com relação às tensões viscosas, o escoamento pode ser laminar ou turbulento. O primeiro é governado pela lei da viscosidade de Newton e ocorre quando o fluido escoa como lâminas que deslizam umas sobre as outras, como mostrado no escoamento entre placas apresentado na Figura 1.1. No caso de um tubo, as lâminas correspondem a cilindros concêntricos cujas velocidades crescem de zero, junto à parede do tubo, até um valor máximo no seu centro. Em qualquer dos casos não existe movimento no sentido normal ao escoamento e, portanto, as camadas não se misturam. O escoamento turbulento é o mais frequente na engenharia. Neste as partículas movem-se segundo trajetórias erráticas, causando transferência de quantidade de movimento entre estas, inclusive na direção normal ao escoamento, causando flutuações de velocidades em torno de uma média que só podem ser percebidas com instrumentação de alta precisão e baixo tempo de resposta. Em tubos, os dois regimes podem ser identificados através do parâmetro adimensional conhecido como número de Reynolds: e VD VD R ρ= = µ υ (1.5) Aspectos Hidráulicos e Elétricos Básicos 23 onde: V = Velocidade média. D = Diâmetro do tubo. ρ = Densidade. µ = Viscosidade absoluta. υ = Viscosidade cinemática. Os valores da viscosidade cinemática da água, em função da sua temperatura, são dados no Quadro 1.2. O escoamento laminar ocorre quando Re < 2300, a transição acontece quando 2300 ≤ Re ≤ 4000, e o escoamento é turbulento quando Re > 4000. Com relação à dependência com o tempo os escoamentos podem ser permanentes e variados. Nos permanentes as propriedades em cada ponto, notadamente a velocidade, não dependem do tempo. Escoamentos por gravidade que tem origem em, relativamente grandes reservatórios, bem como aqueles oriundos de máquinas, tais como bombas (que giram a velocidades constantes), tendem a ser considerados permanentes ou estacionários. A operação de partida ou parada de bombas, quando toda a massa fluida é acelerada ou desacelerada, é um exemplo de escoamento variado. Já com relação à posição podem ser uniformes, quando em um instante qualquer os vetores velocidades são os mesmos em todos os pontos do escoamento, e não uniformes quando estes variam. O escoamento uniforme é uma abstração, uma vez que a própria ação viscosa provoca variações da velocidade e assim o escoamento de um fluido real nunca poderia ser, a rigor, uniforme. Quando além da translação as partículas fluidas sofrem rotação o escoamento é dito rotacional ou com vórtices, caso contrário, será irrotacional. Um escoamento unidimensional despreza as variações de velocidade e outras grandezas transversalmente à direção do escoamento. As condições numa seção transversal são dadas em função de valores médios de velocidade, densidade e outras propriedades. Os escoamentos em tubos são normalmente tratados como unidimensionais. Denomina-se linha de corrente, a uma linha tangente aos vetores velocidades. No escoamento permanente, estas se confundem com as trajetórias. Matematicamente são linhas cuja inclinação é igual à do vetor velocidade. Assim, se no plano xy a velocidade possui componentes u e v, y(x) é uma linha de corrente quando: dy v dx u = (1.6) No escoamento permanente as linhas de corrente permitem a visualização do escoamento. A Figura 1.2 mostra exemplos destas em alguns escoamentos. A vazão volumétrica (Q) representa o fluxo de volume que atravessa uma dada seção transversal. Considerando-se a Figura 1.3, que mostra um fluido sendo descarregado no reservatório R através do tubo T, a vazão Q é dada pela razão entre o volume recolhido no reservatório (∀) e o tempo decorrido para isto (t). Por outro lado, pode ser obtida matematicamente integrando-se o perfil de velocidades (v) ao longo da área da seção transversal (A), ou seja: 24 Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética A Q v dA t ∀= = ⋅∫ (1.7) (a) Saída de reservatório (b) Duto divergente, contração brusca e curva de 90º (c) Embarcação e carro sem descolamento e com descolamento Figura 1.2 - Linhas de corrente em vários escoamentos A velocidade média (V) é a velocidade constante que produz a mesma vazão proporcionada pelo perfil de velocidades real, sendo dada pela equação: A Q 1 V v dA A A = = ⋅∫ (1.8) Figura 1.3 - Perfil de velocidades em um tubo e velocidade média correspondente v v ∀ T A R Aspectos Hidráulicos e Elétricos Básicos 25 1.5.1 - Conservação da Massa Um feixe de linhas de corrente que passa através de uma seção transversal dá origem ao chamado tubo de corrente, que pode ser observado na Figura 1.4. Figura 1.4 - Tubo de corrente A parede lateral de um tubo de corrente é paralela às linhas de corrente adjacentes e, portanto, através dela não há fluxo. Tal fato simplifica muito a análise dos escoamentos, uma vez que o fluido que entra num tubo de corrente, digamos pela curva fechada C1, só pode deixá-lo por sua saída, C2, e assim, se o regime é permanente a massa que nele penetra é igual à que sai. Se, além disso, o fluido é incompressível o raciocínio pode ser estendido de massa para volume, concluindo-se que a vazão volumétrica se conserva, ou seja, para duas seções transversais quaisquer do tubo de corrente, tem-se a Equação 1.9, que é a forma mais simples da equação da continuidade. 1 1 2 2Q V A V A= = (1.9) Exemplo 1.2 O reservatório de água superior da instalação de bombeamento mostrada na Figura 1.5 possui base retangular de 9 m x 4 m. Estando ele inicialmente vazio, o tempo necessário para enchê-lo, em regime permanente, até uma altura de 2,5 m é de 6 horas. A tubulação de recalque possui diâmetro de 100 mm e a de aspiração 125 mm. Determinar: a) a vazão recalcada pela bomba; e b) as velocidades nas tubulações de aspiração e de recalque. Figura 1.5 26 Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética Solução a) Em regime permanente a vazão volumétrica é dada pelo volume na unidade de tempo: 9� �4� 2,5 Q 0,00417 t 6 3600 ∀ × ×= = = × m3/s b) Pela equação da continuidade (Equação 1.9) as vazões nas tubulações de recalque e aspiração, respectivamente Qr e Qa, são as mesmas, ou seja: r aQ Q Q= = Então as velocidades serão: 531,0 4/1,0� 00417,0 4/D Q V 22 r r =×π = π = m/s a 2 2 a Q 0,00417 V 0,340 D /4 �125 /4 = = = π π× m/s 1.5.2 - Equação de Bernoulli O principio de Bernoulli estabelece que nos escoamentos permanentes de fluidos incompressíveis e não viscosos, um incremento em sua velocidade e, consequentemente, em sua energia cinética, causa um decréscimona sua pressão ou na energia potencial. Isto significa que se uma parcela de energia cresce, outra decresce de igual valor, de modo que a soma das três sempre resulta numa constante chamada constante de Bernoulli: Energia de Pressão + Energia Cinética + Energia Potencial = Constante É conveniente escrever a relação anterior na forma de energia por unidade de peso de fluido escoado. Para isto, dividem-se todas as suas parcelas pelo peso do fluido (mg), resultando em: 2p V z g 2g + + = ρ constante (1.10) onde: V = Velocidade média. g = Aceleração da gravidade. z = Cota em relação ao nível de referência. Aspectos Hidráulicos e Elétricos Básicos 27 Todos os termos possuem dimensões de energia por unidade de peso, (E/mg) e, portanto, as unidades no Sistema Internacional são Joule/Newton = Nm/N ou simplesmente metros, m. A dedução formal da Equação de Bernoulli pode ser feita com base na 2ª lei de Newton ou na 1ª lei da Termodinâmica, e se encontra amplamente disponível na literatura. A Figura 1.6 mostra o seu significado físico, nela observam-se as várias parcelas em três seções distintas. A soma da pressão e da energia potencial dá origem à linha piezométrica e a soma delas com a energia cinética forma a linha de energia que, neste caso, representa a constante de Bernoulli, desde que não haja atrito. Assim, para quaisquer dois pontos do escoamento, pode-se escrever: 2 2 1 1 2 2 1 2 p V p V z z 2g 2g + + = + + γ γ (1.11) A Equação de Bernoulli tem largo emprego na engenharia, mas para usá-la deve-se estar ciente de suas hipóteses, que são: • Fluido sem atrito. • Fluido incompressível. • Regime permanente. • Ao longo de uma linha de corrente. Entre as hipóteses da Equação de Bernoulli, certamente a primeira é a mais restritiva. Na prática a consideração do atrito pode ser feita de forma relativamente simples utilizando-se a equação da energia aplicada à hidráulica, também conhecida como Bernoulli generalizado, a ser tratada na seção seguinte. Figura 1.6 - Representação gráfica da Equação de Bernoulli 28 Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética Exemplo 1.3 Água proveniente de uma tubulação de diâmetro 100 mm escoa para a atmosfera, através de uma redução, dando origem a um jato livre de 50 mm de diâmetro. Desprezando o atrito, determinar a pressão na seção 1, p1, que se observará no manômetro, necessária para produzir um jato com 4 m/s de velocidade. Solução A Figura 1.7 representa o esquema do problema apresentado no Exemplo 1.3. Figura 1.7 Pela equação da continuidade (Equação 1.9) as vazões nas seções 1 (Q1) e na seção 2 (Q2) são iguais, ou seja: 1 2 1 1 2 2Q Q V A V A= → = Então a velocidade na seção 1 será: 2 2 2 1 2 1 D 50 V V 4 1 100D = = = m/s A Equação de Bernoulli (Equação 1.11) escrita entre as seções 1 e 2 é: 2 2 1 1 2 2 1 2 p V p V z z g 2g g 2g + + = + + ρ ρ Uma vez que a tubulação se encontra na horizontal (z1 = z2) e como a seção 2 se encontra na atmosfera (p2 = 0 na escala manométrica) a Equação de Bernoulli pode ser simplificada para: 2 2 1 1 2p V V g 2g 2g + = ρ Aspectos Hidráulicos e Elétricos Básicos 29 22 2 2 1 2 1p V V 4 1 0,764 g 2g 2g 2 9,81 −= − = = ρ × m Logo, 3 31p 0,764 9,81 10 7,49 10= × × = × Pa 1.5.3 - Equação da Energia A Equação de Bernoulli pode ser interpretada como a energia entre quaisquer dois pontos de um escoamento que se enquadre nas hipóteses apresentadas, ou seja: [Energia no ponto 1] = [Energia no ponto 2] Na prática, no trajeto entre os pontos 1 e 2, pode ser adicionada energia ao fluido através de uma máquina, tal como uma bomba (Hb), ou retirada energia através de uma turbina (Ht). Além disso, a presença do atrito viscoso dá origem a perdas de energia irrecuperáveis (Hf) no trajeto entre os pontos 1 e 2, de modo que na ausência de Hb, a energia do ponto final é sempre inferior a do ponto inicial, fato na verdade garantido pela 2ª lei da Termodinâmica. Assim, para manter a igualdade da relação anterior, faz-se necessário computar essas parcelas. Logo, a equação da energia ou de Bernoulli generalizado torna-se: 2 2 1 1 2 2 1 b t f 2 p V p V z H H H z g 2g g 2g + + + − − = + + ρ ρ (1.12) Como a Equação 1.12 aplica-se também a fluidos viscosos, e nestes o perfil de velocidades não é constante, é comum escrevê-la utilizando os coeficientes de energia cinética α1 e α2 para corrigir o efeito viscoso nos termos referentes à energia cinética. Assim, estes passam a ser escritos como α1V12/2g e α2V22/2g. No escoamento laminar α é igual a 2, entretanto, no escoamento turbulento, que é a maioria, α ≅ 1, razão pela qual é comum por parte dos técnicos desconhecê-lo. A equação da energia, tal como escrita na Equação 1.12, pode ser obtida da 1ª lei da Termodinâmica, considerando-se o escoamento adiabático (Q = 0), onde os termos Hb e Ht denotam o trabalho (W) e o termo Hf representa o acréscimo da energia interna (U) ocasionado pelo atrito viscoso. 1.6 - PERDAS DE CARGA Através da equação da energia, Equação 1.12, pode-se concluir que, para um trecho de tubulação que não existam bombas ou turbinas, a perda de carga total (Hf) é dada pela equação: ++ γ − ++ γ = 1 2 11 2 2 22 f zg2 Vp z g2 Vp H (1.13) 30 Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética Assim, numa instalação existente, a perda de carga pode ser determinada medindo- se nas seções 1 e 2, as pressões (p1 e p2), as cotas (z1 e z2) e a vazão e com ela as velocidades (V1 e V2). Tal procedimento é relativamente simples. Na prática, o projetista precisa determinar a perda de carga da instalação na fase de projeto. Para isto, antes de tudo, é necessário considerar que as perdas de carga em uma tubulação (Hf) podem ser divididas em duas parcelas: as perdas lineares ou distribuídas (Hl) que resultam do atrito interno do fluido e o deste com as paredes dos tubos e as perdas singulares ou localizadas, (Hs) que ocorrem nos acessórios (válvulas, curvas, reduções etc.) associados, ou seja: f l sH H H= + (1.14) Para calcular Hl e Hs, dispõe-se de inúmeras fórmulas, sendo as mais utilizadas no nosso país tratadas na próxima seção. 1.6.1 - Perdas de Carga Lineares Existem dezenas de fórmulas utilizadas para o cálculo das perdas lineares. A fórmula Universal ou de Darcy-Weisbach é de longe a mais indicada. Não obstante, no cálculo de adutoras e redes, a de Hazen-Williams é a mais utilizada. Nesta obra apenas estas duas são consideradas. Diversas discussões sobre o emprego dessas e de outras são encontradas nos textos de hidráulica. Fórm ula de Hazen-Williams Para instalações de água fria, com diâmetros superiores a 50 mm é muito comum utilizar-se a fórmula de Hazen-Williams, graças principalmente à sua simplicidade. Trata-se de uma fórmula empírica desenvolvida em 1920, em que a perda de carga é função da velocidade ou vazão do escoamento, do diâmetro, do comprimento e de um coeficiente fixo caracterizado de acordo com o tipo e as condições do conduto. No Sistema Internacional de Unidades - SI, incluindo o comprimento, tem-se: 1,85 l 1,85 4,87 L Q H 10,68 C D = (1.15) Ou, explicitando a vazão: 2 ,63 0,54 l 0 ,54 0, 2785�C�D H Q L = (1.16) onde: Hl = Perda de carga linear unitária, em m/m. V = Velocidade do escoamento, em m/s. D = Diâmetro interno do conduto, em m. C = Coeficiente característico do conduto. Aspectos Hidráulicos e Elétricos Básicos 31 O Quadro 1.4 mostra valores do coeficiente C sugerido por Azevedo Netto et al. (1998) para a fórmula de Hazen-Williams. Quadro 1.4 - Valor do coeficiente C sugerido para a fórmula de Hazen-Williams * Tubos Novos Usados ± 10 anos Usados ± 20 anos Aço corrugado (chapa ondulada) 60 - - Aço galvanizado roscado 125 100 - Aço rebitado, novos 110 90 80Aço soldado comum (revestimento betuminoso) 125 110 90 Aço soldado com revestimento epóxico 140 130 115 Chumbo 130 120 120 Cimento-amianto 140 130 120 Cobre 140 135 130 Concreto, bom acabamento 130 - - Concreto, acabamento comum 130 120 110 Ferro fundido, revestimento interno epóxico 140 130 120 Ferro fundido, revestimento de argamassa 130 120 105 Grés cerâmico, vidrado (manilhas) 110 110 110 Latão 130 130 130 Tijolos, condutos bem executados 100 95 90 Plástico (PVC) 140 135 130 * Fonte: Azevedo Netto et al. (1998) Exemplo 1.4 Dois grandes reservatórios são interligados por uma tubulação de ferro fundido com revestimento de argamassa novo, tendo 5 km de extensão e 200 mm de diâmetro, conforme mostrado na Figura 1.8. Desprezando as perdas singulares, determinar a vazão quando o desnível entre os reservatórios (Hg) é de 100 m. Figura 1.8 Hg 2 ° 1 ° 32 Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética Solução Escrevendo a equação da energia (Equação 1.12) entre os pontos 1, sobre a superfície livre do reservatório superior, e 2, na superfície livre do inferior, tem-se: 2 2 1 1 2 2 1 b t f 2 p V p V z H H H z g 2g g 2g + + + − − = + + ρ ρ Como ambos os pontos estão sob a pressão atmosférica (p1 = p2 = 0), o nível dos reservatórios são considerados constantes (V1 = V2 = 0), não existe introdução de bomba (Hb) ou extração de energia (Ht) e z2 - z1 = Hg, a equação da energia torna-se: f gH H 0− = f gH H 100= = m As perdas se resumem às lineares e podem ser substituídas na fórmula de Hazen- Williams (1.16) para calcular a vazão: Q = 0,2785 C D2,63 Hf0,54 Substituindo os valores e adotando C = 130 (Quadro 1.4), tem-se: 0,54 2,63 100Q 0,2785 130 �0, 2 5000 = × × Q = 0,0635 m3/s ou 63,5 L/s Portanto, ocorrerá uma vazão de 63,5 L/s enquanto a tubulação for nova. À medida que esta envelhece o coeficiente C diminui, resultando em vazões cada vez menores. Diversos textos de Hidráulica apresentam valores de C em função da idade e do material da tubulação. Fórmula de Darcy-Weisbach A fórmula de Darcy-Weisbarch ou Universal é recomendada pela Norma Brasileira ABNT - NBR 12218:1994 - Projeto de rede de distribuição de água para abastecimento público. Nela a perda de carga é inversamente proporcional ao diâmetro do tubo e diretamente ao quadrado da velocidade, ao comprimento do tubo e a um coeficiente adimensional f. O f depende das características do escoamento e do material do tubo. É uma equação dimensionalmente homogênea, expressa como: 2 2 l 2 5 V LQL H f 8f D 2g D g = = π (1.17) Aspectos Hidráulicos e Elétricos Básicos 33 Diferentemente da equação de Hazen-Williams, esta fórmula baseia-se em considerações físicas e matemáticas. Foi formulada em meados do século dezenove, mas somente no século seguinte começou a tornar-se prática, depois dos estudos de Nikuradse, que utilizou grãos de areia com dimensões controladas para avaliar o efeito da rugosidade das paredes. Agrupando os equacionamentos apresentados por Nikuradse, seguiram-se então Colebrook e White com a consagrada formulação para f: 1 5,74 2Log 3,7Df Re f ε = − + (1.18) O coeficiente adimensional (f) depende do nível de turbulência do escoamento, expresso através do número de Reynolds, e da rugosidade do material do tubo (ε). A rugosidade relativa é obtida dividindo-se a rugosidade pelo diâmetro do tubo (ε/D). Resumindo: f = f(Re, ε/D). Valores de ε para alguns materiais são apresentados no Quadro 1.5. Quadro 1.5 - Rugosidade absoluta dos tubos (ε) em mm * Material Tubos novos Tubos velhos Aço galvanizado 0,015 a 0,020 0,460 Aço rebitado 0,100 a 0,300 0,600 Aço revestido 0,040 0,050 a 0,120 Aço soldado 0,004 a 0,006 0,240 Chumbo Lisos Lisos Cimento-amianto 0,0025 - Cobre ou latão Lisos Lisos Concreto bem acabado 0,030 a 0,100 - Concreto ordinário 0,100 a 0,200 - Ferro forjado 0,004 a 0,006 0,240 Ferro fundido 0,025 a 0,050 0,300 a 0,500 Ferro fundido com revestimento asfáltico 0,012 0,210 Manilhas cerâmicas 0,060 0,300 Plástico (PVC) 0,0015 0,0015 * Fonte: adaptado de Azevedo Netto et al. (1998) Para escoamentos turbulentos, o valor de f pode ser obtido de ábacos ou fórmulas semi-empíricas, sendo a de Colebrook-White, Equação 1.18, a mais precisa. Infelizmente nela o valor de f não pode ser explicitado, o que torna o seu uso complicado e dependente de calculadoras programáveis ou computadores. Moody simplificou a formulação criando o célebre diagrama que tem o seu nome, mostrado na Figura 1.9. Para usá-lo basta que se entre com o número de Reynolds em sua abscissa e selecione a curva correspondente à rugosidade relativa do tubo. A interseção de ambos define um ponto cuja ordenada é o valor de f. Atualmente é comum utilizar em seu lugar, com erros aceitáveis, a fórmula de Swamee-Jain, válida para 10-6 ≤ ε/D ≤ 10-2 e 103 ≤ Re ≤ 108, que em sua versão de 1976 é: 34 Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética 2 0,9 0, 25 f 5,74 log 3,7D Re = ε + (1.19) O diagrama de Moody permite que se identifiquem os vários regimes de operação dos tubos. O regime laminar ocorre para baixos valores de Reynolds, inferiores a 2300 e onde f = 64/Re. A partir deste valor e até 4000 se encontra a transição de laminar a turbulento. Já no regime turbulento, pode-se identificar os tubos lisos, nos quais f depende apenas de Re, e a zona de tubos rugosos, à direita e acima da linha tracejada, onde o f depende apenas de ε/D. Entre as curvas tracejada e a de tubo liso, f depende de Re, ε/D. Figura 1.9 - Diagrama de Moody 1.6.2 - Perdas de Carga Singulares Conforme a norma da ABNT NBR 12214:1992 (projeto de sistema de bombeamento de água para abastecimento público), a perda de carga de uma dada singularidade ou acessório é dada pela equação: g2 V kH 2 s = (1.20) Onde k é um fator adimensional que representa o coeficiente de perda de carga do acessório. Valores de k para os principais acessórios de tubulações são apresentados no Quadro 1.6. Aspectos Hidráulicos e Elétricos Básicos 35 Como as tubulações normalmente possuem vários acessórios é conveniente escrever a Equação 1.20 na forma: 2 2 s 2 4 V 8Q H k k 2g D = = π ∑ ∑ (1.21) Quadro 1.6 - Coeficiente de perdas k para válvulas e acessórios Tipo de Acessório k Curva de raio longo 0,25-0,40 Curva de raio curto (cotovelo) 0,90-1,50 Curva de 45º 0,20 Crivo 0,75 Redução gradual 0,15 Registro de gaveta aberto 0,20 Registro globo aberto 10,00 Te de passagem direta 0,60 Te de saída lateral 1,30 Válvula de retenção 2,50 Válvula de pé 1,75 Entrada de reservatório (borda viva) 0,50 As perdas de carga singulares podem ainda ser calculadas através dos comprimentos equivalentes Le, fornecidos pelo Quadro 1.7. Neste caso ao invés do coeficiente k, utiliza-se o comprimento equivalente de cada peça e soma-se os mesmos ao comprimento físico da tubulação. Em seguida, aplica-se a Equação Universal à tubulação virtual de comprimento L + Σ Le e encontra-se a perda de carga total. Por exemplo, para uma tubulação de diâmetro D = 100 mm e comprimento L = 200 m, que possua uma válvula de gaveta (Le = 0,70 m), uma válvula globo (Le = 34 m) e uma curva de raio longo (Le = 2,10 m), calcula-se a perda de carga total, utilizando na Equação Universal um comprimento de 236,8 m. Quadro 1.7 - Comprimento equivalente, em número de diâmetros * Peça especial Le Cotovelo de 90º 45 x D ** Cotovelo de 45º 20 x D Curva de 90º 30 x D Curva de 45º 15 x D Entrada de borda 35 x D Registro tipo globo aberto 350 x D Saída de canalização 35 x D Tê, passagem direta 20 x D Tê, saída lateral 65 x D Válvula de pé com crivo 250 x D Válvula de retenção 100 x D * Fonte: Pimenta (1981) ** Diâmetro do tubo 36 Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética Exemplo 1.5 Água escoa de um grandereservatório para a atmosfera através de um tubo de PVC com 100 m de comprimento e 75 mm de diâmetro, conforme mostrado na Figura 1.10. Determinar o desnível Hg, necessário para que a vazão escoada seja de 8,4 L/s, quando: a) consideram-se as perdas lineares e singulares; e b) todas as perdas são desprezadas. Figura 1.10 Solução a) A equação da energia (Equação 1.12) entre os pontos 1 e 2 da Figura é: 2 2 1 1 2 2 1 b t f 2 p V p V z H H H z g 2g g 2g + + + − − = + + ρ ρ Como não existe máquina entre 1 e 2, Ht = Hb = 0. Pela Figura, z2 - z1 = Hg e p1 = p2 = 0 (ambos os pontos se encontram na atmosfera), além disso, V1 = 0. A equação da energia se simplifica, resultando em: 2 2 f V Hg H 2g = + A velocidade na tubulação é: 2 2 2 2 Q 0,0084 V 1,90 D /4 �0,075 /4 = = = π π× m/s A perda de carga total será a soma das lineares, aqui calculada com a Equação Universal (Equação 1.17), com as singulares (Equação 1.20): 2 2 l VL V H f k D 2g 2g = + Hg 2 ° 1 ° Aspectos Hidráulicos e Elétricos Básicos 37 A única perda singular existente é a entrada de reservatório (borda viva), cujo k, de acordo com o Quadro 1.6, é 0,5. Para calcular o coeficiente de atrito f, será utilizada a fórmula de Swamee-Jain (Equação 1.19): 2 0,9 0, 25 f 5,74 log 3,7D Re = ε + Segundo o Quadro 1.2, tem-se que a viscosidade da água (ν) a 20°C é 1,003 x 10-6 m2/s, com isto, o número de Reynolds será então: 5 e -6 VD 1,90 0,075 R 1,4 10 1,003 10 ×= = = × υ × A rugosidade do PVC é obtida do Quadro 1.5, sendo ε = 0,0015 mm. Substituindo tudo na fórmula de Swamee-Jain, temos: 2 5 0,9 0,25 f 0,0168 0,0015 5,74 log 3,70 75 (1,4 10 ) = = + × × Então: 2 f 100 1,90 H 0,0168 0,5 4, 21 0, 075 2 9,81 = + = × m Substituindo na equação da energia: 2 2 f V Hg H 2g = + = 0,18 4, 21+ = 4,39 m b) Se as perdas são desprezadas, Hf = 0, e então Hg = 0,18 m. Isto significa que cerca de 98% (4,21/4,29 × 100) da energia é utilizada para vencer as perdas, os restantes 2% são convertidos em energia cinética. 1.7 - ELETROTÉCNICA Esta seção expõe de forma muito simplificada, conceitos fundamentais de Eletrotécnica. Isto se faz necessário para a compreensão dos projetos de instalações elétricas e dos motores elétricos utilizados nos sistemas de bombeamento de água, assuntos que serão objeto de capítulos posteriores. 38 Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética 1.7.1 - Leis e Conceitos Básicos Tensão, corrente e potência são grandezas fundamentais dos circuitos elétricos. Em seguida é feita uma breve revisão das relações que as envolvem. Lei de Ohm A lei de Ohm é a base para a solução de circuitos elétricos e é expressa pela Equação 1.22. Segundo esta, a tensão elétrica (V), nas extremidades de um resistor ou condutor, é igual ao produto da resistência (R) pela intensidade da corrente elétrica (I) que a percorre. V R I= (1.22) onde: V = Tensão elétrica, em volts (V). R = Resistência, em ohm (Ω). I = Corrente elétrica, em ampéres (A). Potência Elétrica A potência elétrica é a taxa de variação do trabalho elétrico, sendo dada pelo produto da tensão pela corrente: IVP = (1.23) Substituindo a tensão (V) pela equação da lei de Ohm, resulta em: P = R I2 (1.24) Energia Elétrica Uma vez que potência (P) é o trabalho ou energia elétrica (E) na unidade de tempo (t) ela pode ser calculada pela equação: tPE = (1.25) Sendo, no Sistema Internacional, a unidade de Energia, Watt × segundo (Ws, equivalente a 1 Joule). Na prática, se utiliza normalmente o kWh. Esta última unidade é utilizada pelos medidores de energia instalados pelas concessionárias em cada unidade consumidora, e é a unidade básica das tarifas por elas cobradas. 1.7.2 - Circuitos Trifásicos e Monofásicos A energia elétrica é gerada e distribuída para o consumo utilizando corrente alternada senoidal. Assim, a tensão e a corrente variam ao longo do tempo segundo uma Aspectos Hidráulicos e Elétricos Básicos 39 senoide cuja variação por unidade de tempo, isto é, a frequência, é constante. No Brasil a frequência é igual a 60 Hz (corresponde a 60 ciclos por segundo). A geração se dá em sistemas trifásicos, enquanto a distribuição pode ser monofásica ou trifásica. A Figura 1.11 mostra a representação gráfica da tensão para os dois sistemas, observando-se que no sistema trifásico, as tensões de cada fase estão defasadas entre si de 120º. Além disso, tem-se, em qualquer instante, um valor de tensão diferente de zero, em pelo menos em duas fases. (a) Monofásica (b) Trifásica Figura 1.11 - Forma de onda da tensão alternada 1.7.3 - Distribuição de Energia Elétrica De acordo com a Resolução Nº 456/2000 da ANEEL, a tensão de fornecimento para a unidade consumidora se dará de acordo com a potência instalada: a) Tensão secundária de distribuição: quando a carga instalada na unidade consumidora for igual ou inferior a 75 kW. b) Tensão primária de distribuição inferior a 69 kV: quando a carga instalada na unidade consumidora for superior a 75 kW e a demanda contratada ou estimada pelo interessado para o fornecimento for igual ou inferior a 2500 kW. c) Tensão primária de distribuição igual ou superior a 69 kV: quando a demanda contratada ou estimada pelo interessado para o fornecimento for superior a 2500 kW. Os níveis de tensões praticados no Brasil são: 765 kV, 525 kV, 500 kV, 440 kV, 345 kV, 300 kV, 230 kV, 161 kV, 138 kV, 132 kV, 115 kV, 88 kV, 69 kV, 34,5 kV, 23 kV, 13,8 kV, 440 V, 380 V, 220 V, 110 V. Os tipos de fornecimento são definidos em função da carga instalada, da demanda, do tipo de rede e local onde se encontra a unidade consumidora, e de critérios próprios de cada concessionária. As distribuições secundária e primária possuem as seguintes características: a) Distribuição Secundária - pequenos consumidores domésticos urbanos ou rurais recebem energia em tensão monofásica, basicamente através de dois fios (fase neutro ou fase fase) ou, em alguns casos, três fios (fase neutro fase). Consumos 40 Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética maiores recebem energia trifásica, predominantemente por meio de quatro fios (três fases e um neutro) ou de três fios (três fases). A maioria das instalações elevatórias não se enquadra nesta categoria, salvo aquelas muito pequenas. b) Distribuição Primária - a distribuição é trifásica utilizando 3 ou 4 fios. A maioria das instalações elevatórias se enquadra na distribuição primária com tensão inferior a 69 kV. 1.7.4 - Potências em Corrente Alternada Foi visto, nas seções anteriores, que a potência elétrica num circuito monofásico é dada pelo produto V I ou por √3 V I num circuito trifásico. Isto é verdade nos circuitos de corrente contínua ou nos circuitos de corrente alternada onde a carga é puramente resistiva. Nestes casos, a corrente elétrica se encontra em fase com a tensão e seu gráfico ao longo do tempo, possui comportamento semelhante ao da tensão, conforme mostrado na Figura 1.12a. Nesta Figura, percebe-se que a corrente intercepta o eixo do tempo nos mesmos pontos que a tensão. A presença de motores elétricos e outros dispositivos que provocam cargas indutivas dão origem a uma defasagem da corrente em relação à tensão (ver Figura 1.12b). O ângulo correspondente a este atraso é chamado de ângulo de fase (φ) e o seu cosseno é conhecido como fator de potência (cos φ). Por outro lado, a presença de capacitores e outros arranjos que provocam cargas capacitivas, tornam a corrente adiantada em relação à tensão (ver Figura 1.12c). Este comportamento simétrico com relação às cargas indutivas é muito útil quando se deseja anular estas últimas, reduzindoo ângulo de fase e com isso aumentando o fator de potência. Figura 1.12 - Comportamento da corrente frente à tensão para circuitos resistivos, indutivos e capacitivos a) fator de potência unitário (cos φ = 1), b) fator de potência atrasado (cos φ < 1) e c) fator de potência adiantado (cos φ < 1) (b) (a) (c) Aspectos Hidráulicos e Elétricos Básicos 41 A presença do ângulo de fase φ diferente de zero, leva a identificação das potências aparente, ativa e reativa, que podem ser mais bem visualizadas pelo triângulo de potências da Figura 1.13. Figura 1.13 - Triângulo de potências O Quadro 1.8 resume as fórmulas de cálculo destes três tipos de potências para circuitos monofásicos e trifásicos. Com base na Figura 1.13 e nas relações do Quadro 1.8 o fator de potência (cos φ) pode ser dado pelo quociente: cos φ = at ap P P (1.26) Fisicamente o fator de potência representa o cosseno do ângulo de defasagem entre a tensão e a corrente. Quando a corrente está atrasada em relação à tensão, o fator de potência é indutivo. Quando a corrente está adiantada em relação à tensão o fator de potência é dito capacitivo. Quando não há defasagem (φ = 0) o fator de potência é unitário. O fator de potência é uma medida da indesejável potência reativa, aquela que embora não utilizada tem que ser produzida pelos geradores. Valores abaixo de 0,92 (Resolução da ANEEL n.º 456/2000) exigem medidas para elevá-lo. Como ele é comumente indutivo, o uso de banco de capacitores, que como já foi visto adianta a corrente, é utilizado para aumentá-lo. Quadro 1.8 - Fórmulas das Potências Aparente, Ativa e Reativa Tipo Monofásico Trifásico Potência aparente Pap = V I (1.27) Pap = √3 V I (1.30) Potência ativa Pat = V I cos φ (1.28) Pat = √3 V I cos φ (1.31) Potência reativa Pre = V I sen φ (1.29) Pre = √3 V I sen φ (1.32) A potência ativa ou total é dada em watt (W) ou quilowatt (kW) e pode ser medida com um wattímetro. A potência reativa não produz trabalho útil, mas circula entre o gerador e a carga, exigindo do gerador e do sistema de distribuição uma corrente adicional. A potência reativa é medida em quilovolt ampère reativo (kVAr). A potência aparente é medida em quilovolt ampère (kVA). 42 Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética Exemplo 1.6 O circuito da Figura 1.14 contém uma carga indutiva L. É instrumentado através de um wattímetro, um voltímetro e um amperímetro, cujas leituras são, respectivamente, 1.910 W, 220 V e 11 A. Traçar o triângulo de potências. Figura 1.14 Solução Pelas fórmulas do Quadro 1.8 pode-se calcular as várias potências. A potência aparente Pap (Equação 1.27) é: Pap = V I Pap = 220 × 11 = 2420 VA A potência efetiva é dada pelo wattímetro, Pef = 1910 W. Em seguida, utilizando-se a Equação 1.28, pode-se explicitar φ e encontrar o fator de potência e ângulo de fase: cos φ = Pat /(V I) cos φ = 1910/2420 = 0,789 φ = cos-1(φ) = 37,9º Então pela Equação 1.29 a potência reativa será: Pre = V I sen φ Pre = 2420 × sen(37,9) = 1487 VAR O triângulo de potências pode então ser traçado. Note que o fator de potência (0,789) é atrasado pois a carga é indutiva. Aspectos Hidráulicos e Elétricos Básicos 43 Exemplo 1.7 O fator de potência do Exemplo 1.6 deve ser corrigido para 0,90, adicionando-se capacitores em paralelo ao circuito. Determinar a potência reativa total do banco capacitores a ser empregado. Solução Com o novo fator de potência calcula-se o ângulo de fase: φ = cos-1(0,9) = 25,8º A potência ativa (Pat = V I cos φ) deve permanecer inalterada. A nova potência aparente será: Pap = Pat /cos φ Pap = 1910/0,9 = 2122 VA A potência reativa será então: Pre = Pap sen φ Pre = 2122 × 0,435 = 923 VA A potência reativa dos capacitores (Prec) será a diferença das potências reativas deste exemplo e do Exemplo 1.6: Prec = 1483 - 923 Prec = 560 VAR 44 Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética 1.8 - BIBLIOGRAFIA CREDER. H. Instalações elétricas. Rio de Janeiro: LTC, 2001. DÍEZ, P. F. Flujo viscoso incompresible. In: ______. Mecanica de Fluidos. Departamento de Ingenieria Electrica y Energetica. Cantábria - España: Universidad de Cantabria, 2003. cap. 9. Disponível em <http://es.libros.redsauce.net/index.php? folderID=10>. FOX, R. W. Introdução à mecânica dos fluidos. Rio de Janeiro: LTC, 2001. LUCARELLI, D. L. Bombas e sistemas de recalque. São Paulo: CETESB, 1974. MATAIX, C. Mecánica de fluidos y maquinas hidráulicas. España: Ediciones del Casstillo, 1986. MUNSON, B. R.; YOUNG, D. F.; OKIISH, T. H. Fundamentals of Fluid Mechanics. 2. ed. New York: John Whiley & Sons, 2002. SILVESTRE, P. Hidráulica geral. Rio de Janeiro: LTC, 1979. 2 BOMBAS E ESTAÇÕES ELEVATÓRIAS Luiz Simão de Andrade Filho 2. 2.1 - INTRODUÇÃO A bomba constitui-se no dispositivo de transferência de energia de fluido mais antigo que se conhece. A mais remota é sem dúvida a Noria Chinesa, Figura 2.1a, utilizada em irrigação na Ásia e África a partir de 1000 anos antes de Cristo. É constituída de uma roda munida de caçambas movida por força animal ou humana. Posteriormente, podia ser acionada pela própria corrente do curso de água do qual retirava o líquido, constituindo- se, nesse caso, num misto de bomba e turbina. Outros dispositivos muito antigos, como o parafuso de Arquimedes (250 a.C), Figura 2.1b, também conhecido como bomba de parafuso e a bomba de êmbolo (270 a.C) permanecem sendo fabricados e usados até hoje no transporte de misturas líquido-sólido e líquidos puros, respectivamente. No contexto das máquinas de fluxo, as bombas são dispositivos que convertem trabalho mecânico em energia de fluido (pressão, energias cinética e/ou potencial). O trabalho pode ser oriundo de uma fonte qualquer, inclusive do esforço humano, sendo que atualmente, graças à alta eficiência, larga faixa de potência e praticidade, predomina o uso do motor elétrico. O termo bomba é restrito ao deslocamento de líquidos. Quando o fluido é um gás, estes equipamentos passam a ser chamados, de acordo com as pressões envolvidas, de ventiladores, sopradores ou compressores. A energia desejada no fluido pode ser apenas cinética (mangueiras de incêndio, equipamentos de lavagem, líquidos de corte), pressão (boosters, acumuladores de pressão, alimentação de caldeiras) e potencial (estações elevatórias) ou, principalmente, uma combinação delas. Na verdade a bomba fornece um campo de pressões (e vazões correspondentes), a tubulação por sua vez é que transforma esta pressão na forma da energia final desejada. Analisando a instalação como um todo, as bombas são elementos que fornecem uma determinada gama de pares de valores de vazão e de energia hidráulica (esta última chamada de altura manométrica e será discutida posteriormente). Estes dados são apresentados através de sua curva característica principal, cuja aparência típica é mostrada na Figura 2.2. Do ponto de vista do sentido da transformação de energia, as bombas enquadram-se nas máquinas geratrizes, enquanto as turbinas, que fazem a conversão 46 Sistemas de Bombeamento - Eficiência Energética inversa, da energia hidráulica ou de fluido em trabalho mecânico, pertencem ao grupo das máquinas motrizes. a) Noria Chinesa b) Parafuso de Arquimedes Figura 2.1 - Bombas Primitivas Figura 2.2 - Curvas características típicas de bombas Bombas e Estações Elevatórias 47 2.2 - CLASSIFICAÇÃO E DESCRIÇÃO As bombas classificam-se basicamente em duas categorias: as volumétricas ou de deslocamento positivo e as turbobombas, também chamadas de cinéticas ou ainda bombas de fluxo. As bombas volumétricas possuem uma ou mais câmaras sobre a qual algum
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