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Universidade Federal de Campina Grande –UFCG CAMPUS POMBAL Mecânica dos Solos Profª.: Dra. Suelen Silva Figueiredo Andrade 3 Se as cargas ou tensões em uma camada de fundação ou em um talude, são aumentadas de modo que as deformações se tornem inaceitáveis, dizemos que a fundação ou o talude romperam. Neste caso estamos nos referindo à resistência limite do solo que foi ultrapassada. Em geotecnia, este termo é geralmente associado à resistência ao cisalhamento dos solos porque, na maioria dos problemas com fundações e estabilidade de taludes, as falhas resultam no excesso de cargas cisalhantes aplicadas. 4 A resistência de qualquer material é a maior tensão que o mesmo pode suportar. Se a tensão aplicada excede a sua resistência, a ruptura acontece. Vários materiais empregados na construção civil resistem bem a tensões de compressão, porém têm uma capacidade bastante limitada de suportar tensões de tração e de cisalhamento, como ocorre com o concreto e também com os solos. As tensões cisalhantes são a principal causa do movimento relativo entre as partículas do solo. Por estas razões, quando se refere à resistência dos solos, implicitamente trata-se de sua resistência ao cisalhamento. 5 A resistência do solo forma, juntamente com a permeabilidade e a compressibilidade, o suporte básico para resolução dos problemas práticos da engenharia geotécnica. Dentre os problemas usuais em que é necessário conhecer a resistência do solo, destacam-se a estabilidade de taludes, a capacidade de carga de fundações, os empuxos de terra sobre estruturas de contenção, as escavações de túneis e as camadas de pavimentos rodoviários. 6 7 8 9 10 11 Nos solos, a ruptura por cisalhamento ocorre quando as tensões entre as partículas são tais que deslizam ou rolam umas sobre as outras. Portanto, se pode dizer que a resistência ao cisalhamento depende da interação entre as partículas, e esta interação pode ser dividida em duas categorias: i) Resistência friccional (de atrito) e ii) resistência coesiva (coesão). 12 13 Sendo N a força vertical transmitida pelo corpo, a força horizontal T necessária para provocar o deslizamento do corpo deverá ser superior a N.μ, em que μ é o coeficiente de atrito na interface entre os dois materiais. Dessa maneira, verifica-se que há uma proporcionalidade entre as forças tangencial e normal, que pode ser representada através da seguinte equação: 14 T = N⋅μ onde μ = tan φ φ = ângulo de atrito, o ângulo formado entre a resultante das duas forças com a normal N. Nos solos, é denominado ângulo de atrito interno. 15 A resistência friccional é a parcela de resistência predominante nos solos ditos “não plásticos” ou granulares, nos quais a drenagem é sempre favorecida. Os parâmetros de resistência, neste caso, são sempre referidos como drenados ou efetivos. 16 Parâmetros que influenciam o ângulo de atrito: Grau de saturação Tamanho das partículas Forma das partículas Estado de tensão atuante. 17 18 A resistência ao cisalhamento dos solos é, por natureza, conferida pelo atrito entre as partículas sólidas. Todavia, dependendo da mineralogia do solo, a atração química que pode haver entre essas partículas é capaz de ocasionar uma resistência que independe da tensão normal atuante no plano de cisalhamento, o que constitui uma coesão verdadeira. O efeito é análogo à existência de uma cola entre duas superfícies em contato. 19 É uma parcela da resistência ao cisalhamento de solos úmidos, não saturados, que não tem sua origem na cimentação e nem nas forças intrínsecas de atração. Esse tipo de coesão deve-se ao efeito de capilaridade na água intersticial. Saturando-se totalmente o solo, ou secando-o por inteiro, esta parcela desaparece, donde o nome de aparente. A sua intensidade cresce com a diminuição do tamanho das partículas. A coesão aparente pode ser uma parcela bastante considerável da resistência ao cisalhamento do solo, principalmente nos solos argilosos e/ou siltosos. 20 Parâmetros que influenciam na coesão: Quantidade de argila e atividade coloidal Razão de pré-adensamento (OCR) Teor de umidade 21 TENSÕES NO PONTO Considere uma massa de solo, submetida a um conjunto de forças, F1, F2, F3, ..., Fn, atuando num sistema plano de tensões. 22 Consideremos um elemento deste corpo submetido a um estado plano de tensões: As tensões em um plano passando por um ponto do solo (plano ) podem ser decompostas em suas componentes cisalhante e normal ao plano. 23 A resolução destas forças em componentes normais e tangenciais, num plano passando por um ponto qualquer no interior da massa de solo é: 24 Considerando que o elemento de solo está em equilíbrio podemos escrever: Fh = H – Tcos - N sen = 0 Fv = V + Tsen - N cos = 0 Dividindo-se as forças atuantes pelas áreas em que atuam obtemos a tensão em cada plano: x sen - cos - sen = 0 y cos + sen - cos = 0 25 A solução do sistema formado pelas duas equações é representada pela equação do círculo que tem por raio (x - y)/2, e por centro {(x + y)/2, 0 }. Quando este círculo é traçado no espaço x , ele é conhecido como Círculo das Tensões de Mohr, e representa o estado de tensões em um ponto em equilíbrio. Como os planos horizontal e vertical não apresentam tensões cisalhantes atuando sobre eles, são chamados de Planos Principais, e as tensões atuantes sobre eles são as Tensões Principais. Assumindo arbitrariamente y = 1 e x = 3, temos: 26 Conhecendo-se os planos e as tensões principais num ponto, pode-se sempre determinar as tensões normais e de cisalhamento em qualquer plano passando por este ponto. 27 Em termos de tensões principais as equações podem ser escritas como: Com estas equações é possível calcular as tensões normal e cisalhante que atuam num plano qualquer, desde que conheçamos as tensões principais que atuam no corpo. 28 29 O estado de tensões atuantes em todos os planos passando por um ponto pode ser representado graficamente num sistema de coordenadas em que as abscissas são as tensões normais e as ordenadas são as tensões cisalhantes. 30 31 32 Sobre o círculo de Mohr há um ponto chamado Polo, o qual representa a origem de todos os planos que passam num determinado ponto, e que possui a seguinte propriedade: Qualquer linha reta traçada através do polo, irá interceptar o círculo de Mohr, num ponto que representa o estado de tensões sobre o plano paralelo à reta. 1 3 20º 20º 1 3 Plano qualquer Paralela ao plano principal maior (onde atua 1) Polo (,) Paralela ao plano 33 34 35 A resistência ao cisalhamento de um solo é a sua resistência a deformação por deslocamento contínuo ao longo de um plano ou superfície de ruptura. Para definir este estado de ruptura, existem vários critérios ou teorias de ruptura. Sendo o mais utilizado, o critério de Mohr- Coulomb. A análise do estado de tensões que provoca a ruptura de um terreno é o estudo da resistência ao cisalhamento dos solos. São os seguintes os critérios empregados na engenharia geotécnica: - Critério de Coulomb - Critério de Mohr - Critério de Mohr-Coulomb 36 37 Mohr (1900), estabeleceu um critério de ruptura para materiais afirmando que: “os materiais rompem quando a tensão cisalhante sobre o plano de ruptura é função unicamente da tensão normal sobre aquele plano”. R = f(R) Neste caso a tensão de cisalhamento é chamada de “Resistência ao Cisalhamento”do material. Conhecidos os vários círculos de Mohr para vários estados de tensão, é possível traçar a envoltória de ruptura (limite) dos círculos, envoltória de Mohr, que estabelece a relação entre a tensão de cisalhamento e a tensão normal na ruptura. 38 39 Qualquer círculo localizado abaixo da envoltória, representa uma condição estável. A ruptura ocorre somente quando a combinação das tensões normal e cisalhante resulta em um círculo que tangencia a envoltória de Mohr. 40 Coulomb (1776) constatou que existem dois fatores influenciando a resistência ao cisalhamento dos solos: um dependente das tensões aplicadas e outro independente. O fator independente é relacionado com a coesão intrínseca do material (c). R = tg + c R = resistência ao cisalhamento do solo, kPa; σ = tensão normal aplicada, kPa; ϕ = ângulo de atrito do solo, graus; c = coesão do solo, kPa. 41 e c são chamados de parâmetros de resistência do solo. Estes valores não são propriedades inerentes do material, ao contrário, eles são dependentes das condições operativas do ensaio. Combinando-se as duas teorias, obtemos o critério de ruptura definido como de Mohr / Coulomb, com a relação entre tensão de cisalhamento e tensão normal sendo linear. 42 Para uma areia (c=0), a equação é do tipo R = tg Para um argila com = 0, a equação é do tipo R = c 43 1R 3R 1R 3R c R Da geometria do triângulo retângulo podemos extrair algumas relações dos ângulos obtidos: O plano de ruptura não é necessariamente o plano de máxima tensão de cisalhamento. + 90º + (180º - 2) = 180º + 90º = 2 = 45 + /2 2 31 Rmax Plano de ruptura Plano de ruptura 44 1 3 c R E D E = c.cotg D R sen gcot.c / sen 2 2 31 31 cos.c.sen 23131 Quando a coesão for igual a zero, teremos: sen sen ousen 1 1 3 1 31 31 Usando identidades trigonométricas temos: 2 45 2 45 2 1 32 3 1 ºtgouºtg Relações de máxima obliquidade (c=0). Da figura ao lado podemos obter: 45 46 47 48 Consiste em uma caixa de cisalhamento de metal na qual o corpo de prova de solo é colocado. Aplica-se uma força normal ao corpo de prova e a seguir aplica-se uma força cisalhante, movendo-se uma metade da caixa em relação à outra até provocar a ruptura da amostra. O esforço resistente ao deslocamento horizontal é a sua resistência ao cisalhamento, para determinada força normal (N) aplicada sobre o corpo de prova ensaiado. Para cada tensão normal aplicada será obtida uma resistência cisalhante. n1= P1/A n2= P2/A n3= P3/A = T/A 1 2 3 49 Com os pares (,) obtidos nos ensaios, determina-se diretamente a envoltória de resistência do solo. E a partir da envoltória determina-se os parâmetros de resistência ao cisalhamento e c. n1 n2 n3 n 1 2 3 c 50 51 Um corpo de prova cilíndrico é revestido por uma membrana de borracha e colocado em uma câmara preenchida com água. O corpo será submetido a uma pressão de confinamento (c) que atua em toda a sua superfície. A seguir a tensão axial será aumentada (a), até a ruptura do corpo de prova. Como não há tensões de cisalhamento na superfície do corpo de prova, as tensões axial (c + a) e de confinamento (c), são as tensões principais maior e menor. 52 53 c=2=3 c axial (1-3) A tensão axial aplicada representa a diferença entre as tensões principais (1 - 3). Para cada tensão de confinamento aplicada, obtém-se uma curva tensão/deformação correspondente, e, para o valor máximo determina-se o valor de 1 na ruptura. Com os resultados de pelo menos três ensaios obtemos a envoltória de ruptura. 31 32 33 1 - 3 32 33 13 12 11 31 55 56 Preenche-se a câmara com água e aplica-se uma pressão na água que atuará em todo corpo de prova (fase 1). O ensaio é realizado acrescendo a tensão vertical (fase 2), o que induz tensões de cisalhamento no solo, até que ocorra a ruptura ou deformações excessivas. Deve-se notar a versatilidade do ensaio. As diversas conexões da câmara com o exterior permitem medir ou dissipar pressões neutras e medir variações de volume. Existem várias maneiras de se conduzir o ensaio. 57 58 1. Não Adensado Não Drenado (UU) O corpo de prova é submetido à tensão confinante e logo a seguir à tensão axial até a ruptura, sem qualquer drenagem. As tensões medidas são totais. Pode-se obter as tensões efetivas se, durante o ensaio forem obtidas medições das pressões neutras desenvolvidas. 59 60 2. Adensado Não Drenado (CU) O corpo de prova é drenado sob a ação da tensão confinante e em seguida aplica-se a tensão axial, impedindo-se a drenagem. As tensões medidas são totais, podendo-se obter tensões efetivas se, após o adensamento inicial forem realizadas medidas das pressões neutras. 61 62 3. Adensado Drenado (CD) Há permanente drenagem do corpo de prova. Aplica-se a tensão confinante e aguarda-se o adensamento, a seguir aplica- se a tensão axial (1-3) lentamente, permitindo-se a drenagem. As tensões medidas são efetivas. 63 64 O aspecto que os corpos de prova mostram ao final do ensaio é bastante característico. Os solos que apresentam ruptura do tipo frágil mostram uma superfície de ruptura bem definida, podendo-se inclusive determinar a direção do plano de ruptura θcrit; já os solos de comportamento plástico mostram um embarrigamento do corpo de prova sem a possibilidade de distinção dos planos de ruptura. 65 66 67 Para a obtenção da envoltória de ruptura (resistência), realiza-se vários ensaios variando-se as tensões confinantes. 31 32 33 1 - 3 31 32 33 13 12 11 c 69 70 Este ensaio também é chamado de ensaio de compressão simples ou compressão uniaxial. O ensaio consiste na moldagem de um corpo de prova cilíndrico e no seu carregamento pela ação de uma carga axial. A carga é aplicada em uma única direção, dando liberdade ao corpo de prova para deformar-se nas outras direções sem qualquer restrição. 71 72 Registrando-se as tensões (carga dividida pela área da seção transversal) pela deformação longitudinal, Ɛl, obtém- se a seguinte curva. 73 O solo não é um material elástico, mas admite-se frequentemente um comportamento elástico-linear para o solo, definindo-se um módulo de elasticidade, E, para um certo valor de tensão e um coeficiente de Poisson, ʋ. 74 suelen.silva@professor.ufcg.edu.br 75
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