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TRABALHO TRIBUTÁRIO

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1. Introdução 
É incontestável que o aumento da qualidade de vida associada ao desenvolvimento econômico depende do meio ambiente. Acontece que a exploração indiferenciada dos recursos naturais renováveis, em razão do desejado desenvolvimento econômico tem ocasionado danos ambientais. Contudo, nos últimos anos, a preocupação com a tutela do meio ambiente em razão dos desastres ecológicos que ameaçam a qualidade de vida da humanidade, tem sido crescente.
 A Constituição Federal aplica, no artigo 225, o direito essencial de todos ao meio ambiente saudável e equilibrado e a responsabilidade do Estado e da coletividade em produzir condições ao desenvolvimento econômico sustentável. Portanto, é de competência do Estado intervir no exercício da atividade econômica, com o propósito de implementar o modelo econômico de bem-estar prescrito nas normas constitucionais, onde insere a proteção do meio ambiente equilibrado e saudável, nos termos do artigo 170 da CF. E, para a efetivação deste dever, o meio de maior eficácia é a aplicação das normas tributárias, dando início ao que vem sendo chamado de “tributação ambiental”. 
 Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo fazer uma breve análise a respeito destes instrumentos utilizados pelo Estado em sua atividade arrecadatória e regulatória, mas que também contribuem para o desenvolvimento sustentável.
2. A Extrafiscalidade dos Tributos
Um dos papeis mais importantes do direito tributário é o de implementar políticas públicas, através da intervenção estatal na atividade econômica. Essa intervenção se dá através da política extrafiscal, pela qual o Estado estimula ou desestimula comportamentos, visando o interesse da sociedade. Ela pode se dar através da tributação que poderá ser regressiva ou progressiva, ou por meio de concessão de incentivos fiscais.
Dessa maneira a extrafiscalidade pode ser definida como ato de política fiscal através do qual se busca o alcance de fins sociais por fomentos ou desestímulos a certas ações, condutas ou atividades, funciona como meio de indução às ações favoráveis aos fins perseguidos pelo Estado. 
Percebe-se, que a extrafiscalidade acontece quando o a cobrança dos tributos tem objetivo não apenas fiscal, mas também ordinatório, ou seja, o Estado deliberadamente utiliza os instrumentos tributários para alcançar finalidades regulatórias de condutas sociais, em matéria econômica, ambiental, política (administrativa, demográfica, sanitária, cultural) ou social. Há possibilidade de induzir o comportamento da demanda no sentido de se privilegiar produtos "verdes", que não agridam ou degradem o meio ambiente, como, por exemplo, os que utilizem embalagem biodegradável. Da mesma forma, pode-se estimular o lado da oferta (setores primário, secundário e terciário) no sentido da utilização de insumos ecologicamente corretos.
Um grande exemplo é em relação ao IPI, que poderá ter alíquotas seletivas em razão da essencialidade ambiental ou do percentual de matéria-prima reciclada utilizada na fabricação de determinados novos produtos. Outro exemplo também é o ISS, onde há incentivos ficais às empresas que invistam em infraestrutura urbana e questões ambientais. Redução ou isenção do imposto a determinados serviços como ecoturismo.
3. O que é a Tributação Ambienta
Os tributos compõem a receita da União, Estados e municípios e engloba os impostos, taxas, contribuições e empréstimos compulsórios. “Tributo é toda prestação pecuniária compulsória em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”, de acordo com o artigo 3º do Código Tributário Nacional.
Os tributos ambientais por sua vez, retratam de início, duas finalidades: fiscal e extrafiscal. A primeira determina a criação de um comportamento ambiental de menor poder ofensivo, já a segunda visa à de capital para a posterior aplicação em programas de defesa do meio ambiente (arrecadatória, de incentivo ou desincentivo a uma dada atividade econômica). 
 A tributação como modo intervencionista na economia, geralmente, tem o seu foco na aplicação de incentivos fiscais caracterizados pela diminuição ou até mesmo a extinção total da carga tributária. Há casos em que os incentivos fiscais são recomendados, pelo fato de não se enquadrarem ao princípio do poluidor pagador, ou por não representarem melhora qualitativa nos processos de produção, mas tão somente mostrando resultado na redução de emissões ou na produção de rejeitos industriais. 
 No caso de tributação ambiental, tem como finalidade, claramente a proteção ao meio ambiente, que segundo o artigo 225, caput da Constituição Federal de 1988 é um bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida e estritamente ligado ao direito à vida. Pode-se alegar que a tributação ambiental já existe no Brasil, como o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) e o Imposto sobre a Propriedade Predial Territorial Urbana (IPTU). Isso pelo fato do conceito de Meio Ambiente não envolver apenas o meio ambiente natural, mas também o meio ambiente artificial e cultural como as edificações, patrimônio histórico artístico e paisagístico.
4. O papel dos tributos na construção de um meio ambiente ecologicamente equilibrado
 A proteção do meio ambiente ecologicamente equilibrado constitui um direito fundamental da sociedade, assim como um dever pela sua conservação não só para as atuais, mas principalmente para as futuras gerações. Nesse sentido, a introdução do fator ambiental na ordem econômica e tributária visa sensibilizar a cadeia produtiva para a importância dessa tutela.
 Sendo o meio ambiente um bem de uso comum, o caráter econômico tende a ser diminuído, já que a priori todos nós teríamos direito de usufruí-lo sem qualquer tipo de exclusividade e de rivalidade. Na perspectiva do direito ambiental, tal inclusão se justificaria pelos princípios do poluidor-pagador e do usuário-pagador no caso de oneração de atividades que geram mais impactos ambientais; e pelo princípio do protetor-recebedor no caso de atividades que promovam algum tipo de conservação ou de preservação dos recursos naturais.
Na visão do direito tributário, o fator ambiental consistiria em uma finalidade extrafiscal, porém, em essência, os princípios tributários devem ser respeitados como qualquer espécie de tributo. Tais como: princípio da legalidade tributária, da isonomia tributária, da capacidade contributiva, da irretroatividade tributária, da “não-surpresa”, do não-confisco, da liberdade de tráfego de pessoas ou bens, da uniformidade tributária, e da não-diferenciação tributária.
Logo, temos que o tributo ambiental caracteriza-se como um instrumento de proteção do meio ambiente com o objetivo de incluir o custo econômico pelo uso dos recursos naturais na cadeia produtiva e, concomitantemente, a fim de induzir um comportamento mais sustentável do setor.
5. IPTU VERDE
O governo recentemente vem criando meios de estímulo para construção sustentável, como a efetivação do IPTU VERDE que trata-se de um desconto no valor do IPTU para o contribuinte que construir ou reformar a sua casa ou empresa instaurando os seguintes sistemas ecoeficientes em sua obra: captação e resto da água, geração de energia, tratamento de resíduos, aproveitamento bioclimático e uso de materiais provenientes de fontes naturais renováveis ou recicladas. 
Portanto o IPTU verde é um programa que emprega descontos, em diferentes níveis, para contribuintes que adotam práticas sustentáveis em sua propriedade urbana, e representa um passo importante no caminho para a construção de cidades mais sustentáveis.
 Na cidade do Rio de Janeiro, foi instituído em 2012 um sistema de pontuação que incentiva a economia e a reutilização de água, além de valorizar a eficiência energética, a coleta seletiva e a reciclagem de lixo, o combate a pontos de calor e a redução das emissões de gases de efeito estufa. Em Curitiba (PR), imóveisque possuam áreas verdes podem receber descontos que variam entre 10% e 100% do IPTU.
Com os fatos expostos, vemos o Estado sendo facilitador do protagonismo da sociedade em vez de apenas centralizar soluções sustentáveis por meio de obras públicas. A cidade ganha em grandes proporções, porque milhares de cidadãos, agindo em suas casas, geram um impacto em escala, o que supera, em muito, o valor das deduções tributárias.
6. Conclusão
Ao conciliar o direito ambiental ao direito tributário, pudemos perceber grande simetria entre eles, na medida em que seus princípios constituem elementos que proporcionam aos tributos tornarem-se instrumentos de proteção ambiental.
Neste caso, surge a chamada “Tributação Ambiental”, segundo a qual o direito Tributário é usado a favor do meio ambiente, seja ele usado com função, para arrecadar fundos para financiar as políticas públicas ambientais do Estado e sobretudo em sua função extrafiscal, que visa condicionar o comportamento dos empreendedores para que busquem novas técnicas e tecnologias menos danosas ao meio ambiente.
Por fim, conclui-se que por meio do direcionamento das espécies tributárias existentes à proteção ambiental, o direito Tributário constitui uma das formas mais eficazes de promover a proteção ambiental previsto na Constituição Federal.
Do todo o exposto, podemos concluir que os instrumentos utilizados pela chamada tributação ambiental, possuem importante papel na efetivação dos direitos fundamentais ligados ao meio ambiente. E no que toca à harmonia que deve exisstir entre o desenvolvimento econômico e o meio ambiente equilibrado, faz-se ainda necessário que estes instrumentos sejam mais concretizados. Mas para isso, há que existir a vontade política do Estado brasileiro.
7. Referências
AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 16. Ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
BALEEIRO, Aliomar. DERZI, Misabel Abreu Machado (atualizadora).Direito tributário brasileiro. 11. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007.
https://jus.com.br/artigos/9151/a-extrafiscalidade-no-direito-tributario-e-suas-classificacoes
https://afchora.jusbrasil.com.br/artigos/184526895/iptu-verde-o-que-e-quem-tem-direito-e-como-solicitar
https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/estudos-e-notas tecnicas/publicacoes-da-consultoria-legislativa/areas-da-conle/tema20/desafios-da-tributacao-ambiental_murilo-soares-e-ilidia-juras_politicas-setoriais

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