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Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Especificar a Área do trabalho HFS LEWIS, VSEPR, TLV E TOM: TEORIAS OU MODELOS? *Uarison Rodrigues Barreto1(PG) (binhoufba@yahoo.com.br), Nelson Rui Ribas Bejarano2(PQ), Martín Labarca3(PQ) Universidade Federal da Bahia – UFBA, Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências, Salvador - Bahia. Universidad Nacional de Quilmes - Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas, CONICET, Argentina. Palavras-Chave: Modelos, Teorias, Ensino. Resumo: Este trabalho, produto e recorte de uma pesquisa, possui como objetivo verificar o tratamento que os Livros Didáticos de Química do Nível Universitário e do Ensino Médio oferecem para a explicação do conceito de ligação covalente, especialmente quanto ao aspecto de considerar como Teorias ou Modelos as perspectivas teóricas de LEWIS, VSEPR, TLV e TOM. Os resultados apontam que as perspectivas teóricas são tratadas nos livros didáticos de química como: modelo, teoria e modelo/teoria. A concepção de modelo foi assumida como possibilidade para as perspectivas de LEWIS, VSEPR, TLV e TOM. INTRODUÇÃO Na caminhada, como professor do Ensino Médio de escolas públicas e particulares, constatei uma problemática (que também ocorre no nível universitário) que para alguns é “aparentemente” normal ou que, pelo menos, ainda não se atentou para o problema, mas que para mim soou como sensação de total estranheza. Essa problemática reside na confusão que vários estudantes fazem entre os termos modelos e teorias na compreensão da ligação covalente e na forma como esta mesma aparece em alguns livros didáticos de química. No ensino, o que se pode observar também é que os estudantes não conseguem perceber que a Química que se aprende na sala de aula pode explicar alguns fenômenos, por exemplo, ligação química. De acordo com Martins e Bicudo (1989), o termo fenômeno vem da expressão grega fainomenon que significa: aquilo que se mostra. Ademais, muitos possuem uma concepção realista ingênua, ou seja, acreditam que o conhecimento químico é um retrato absoluto da realidade. Constata-se também que as dificuldades dos estudantes tanto do ensino médio quanto os de nível universitário ainda são reforçadas por alguns livros didáticos de química. Nessa perspectiva, Kuhn (2009) classifica livros didáticos como manuais científicos, considerando que eles fazem parte de “um corpo já articulado de problemas, dados e teorias, e muito frequentemente ao conjunto particular de paradigmas aceitos pela comunidade científica na época em que esses textos foram escritos” (ibid., p. 176). Nesse caso, é importante destacar que os manuais científicos são escritos por membros da comunidade científica, específicos e de acordo com cada ciência, por exemplo, manuais de Química são produzidos pela comunidade de químicos. Com relação a alguns livros de Química, o que se verifica é que as perspectivas de Gilbert Newton Lewis (LEWIS), da Teoria da Repulsão dos Pares de Elétrons da Camada de Valência (VSEPR é sua sigla em inglês), da Teoria da Ligação de Valência (TLV) e da Teoria do Orbital Molecular (TOM) são tratadas como: Teoria, Modelo e Modelo/Teoria. Além disso, existem lacunas neste campo de investigação. Essas foram às razões as quais levaram - me a construção deste trabalho. mailto:binhoufba@yahoo.com.br Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Especificar a Área do trabalho HFS Diante disso, a reflexão que se faz sobre as aulas de Química quando se discute “ligação covalente” nos remete às seguintes questões de pesquisa: LEWIS, VSEPR, TLV e TOM, são modelos ou teorias? Por que quatro perspectivas teóricas distintas concorrem para explicar um mesmo fenômeno? Essa tensão entre as quatro perspectivas, deixou de manifestar um problema conceitual profundo sobre a natureza da ligação química, já que as mesmas apresentam diferenças ontológicas e, sobretudo, em relação aos seus aspectos teórico-conceituais. Diante do problema químico, busco atacá-lo utilizando como referencial teórico a fenomenologia, em especial, Husserl. Nesse sentido, “a tarefa efetiva da fenomenologia será, pois, analisar as vivências intencionais da consciência para perceber como aí se produz o sentido dos fenômenos” (DARTIGUES, 2005, p. 26). Portanto, essa pesquisa tem como objetivo geral verificar o tratamento que os livros didáticos de Química do nível universitário e do ensino médio oferecem para a explicação do conceito de ligação covalente, especialmente quanto ao aspecto de considerar como teorias ou modelos as perspectivas teóricas de LEWIS, VSEPR, TLV e TOM. No entanto, para alcançar o objetivo proposto, será necessário a compreensão das perspectivas teóricas LEWIS, VSEPR, TLV e TOM. O QUE LEWIS PROPÔS PARA EXPLICAR A LIGAÇÃO COVALENTE? Apesar do destaque na história da Química, o químico americano Gilbert Newton Lewis (1875-1946), desenvolveu sua teoria anos antes do surgimento da mecânica quântica. Em 1902, propôs o chamado “átomo cúbico”, mas não publicou. De acordo com Gugliotti, “Lewis imaginava um átomo estático, com os elétrons arranjados em camadas cúbicas em torno do núcleo" (2001, p. 2). Em 1916, publicou seu trabalho intitulado: “The atom and the molecule”, que buscava explicar a valência e fez uma descrição sobre sua ideia de estrutura atômica (“átomo cúbico” – Figura 1). Assim, os círculos representam os elétrons na camada externa, conforme, a seguir: Figura 1. Reprodução da figura dos “átomos cúbicos” de Lewis publicada em 1916. Fonte: http://200.156.70.12/sme/cursos/EQU/EQ20/modulo1/aula0/aula02/03.htm. Lewis acreditava na existência de uma única causa fundamental para as diversas combinações químicas. Segundo o químico, as ligações eram causadas pela capacidade dos elementos de formar seu grupo de oito elétrons na camada eletrônica mais externa. Nesta perspectiva: Lewis acreditava que o “fenômeno fundamental” numa ligação química era o emparelhamento de elétrons e isto se manifestava pelo número par de elétrons na camada de valência para a maioria dos compostos conhecidos (por exemplo: H2, 2 elétrons; H2O, 8 elétrons; etc.). Deste modo a teoria dos oito de Abegg era uma consequência do emparelhamento de elétrons (DAVANZO & CHAGAS, 1993, p. 153). Para Lewis, apenas o compartilhamento de elétrons possibilitava essa capacidade. Para exemplificar, tem-se a figura 2: Figura 2. Estrutura química proposta por Lewis (1916) para o gás Cl2. Apenas os elétrons de valência estão sendo mostrados. Fonte: http://200.156.70.12/sme/cursos/EQU/EQ20/modulo1/aula0/aula02/03.html. Lewis, em 1916, foi o primeiro a desenvolver uma teoria sistemática de Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Especificar a Área do trabalho HFS compostos covalentes no âmbito da Química estrutural, baseada na regra do octeto (que prescrevia a tendência dos átomos para completar os seus níveis finais de energia com oito elétrons, o que lhe confere configuração eletrônica análoga a dos gases nobres). Para Lewis (1916), uma ligação química ocorre devido à estabilidade adquirida pelo átomo central de uma molécula, sendo que essa estabilidade é alcançada por esse átomo quando um número par de elétrons é constituído comoutros átomos adquirindo assim, a configuração do gás nobre. Em 1923, publicou um livro intitulado: “Valence and the Structure of Atoms and Molecules”. Nesse trabalho, Lewis faz uma revisão sobre suas próprias ideias sobre a estrutura atômica o que o leva a estabelecer um construto mais sólido para a sua teoria. É neste livro que considera o par eletrônico como algo mais fundamental do que propusera em 1916. Ainda em 1923, Lewis construiu a sua ideia de ligação química, considerando alguns resultados publicados, sobretudo, por Langmuir (1919) e Bohr (1913 e 1921) acerca da estrutura dos átomos. Com isso, abandonou sua ideia de “átomo cúbico” e passou a utilizar a ideia de camadas eletrônicas de acordo com o modelo de Bohr. A teoria de Lewis possui diversas dificuldades explicativas. Por exemplo, a teoria é incapaz de estabelecer uma explicação para o emparelhamento dos pares de elétrons na ligação. Cabe chamar atenção, portanto, nessa revisão de literatura, que apesar das dificuldades explicativas, Lewis tem sua importância no contexto histórico. O QUE É VSEPR? Sidgwick e Powell sugeriram, em 1940, que as estruturas de algumas moléculas poderiam ser obtidas a partir dos números de pares de elétrons da camada de valência do átomo central. Entretanto, a Teoria da Repulsão dos Pares de Elétrons da Camada de Valência (VSEPR, por sua sigla em Inglês) foi desenvolvida e expandida mais tarde por Gillespie e Nyholm, em 1957, para compreender e prever a geometria. VSEPR aparece como uma extensão das estruturas de Lewis. Sua versão mais simples parte do pressuposto de que os pares de elétrons de valência repelem entre si “devido as suas cargas, o arranjo geométrico mais estável de pares eletrônicos é aquele em que as repulsões entre os pares são mínimas. Encontrar estes arranjos permite-nos predizer a forma geométrica de uma molécula” (RUSSELL, 1994, p. 384). Para determinar a geometria de uma molécula é necessário utilizar a fórmula geral AXnEm. Assim, temos: A, representa o átomo central, X representa o átomo ligante e E representa um par isolado, por final, o n e m representam os índices, que se referem à quantidade de cada ligante e par isolado, também conhecido como número estérico. Por exemplo, para a molécula da amônia (NH3), temos AX3E, em que o átomo central (A) é o nitrogênio, os ligantes (X) são os átomos de nitrogênio e E é um par isolado (ou solitário de acordo com a figura 3). A geometria está representada, abaixo: Figura 3: A molécula de NH3: pirâmide trigonal. Fonte: http://www.chimica-online.it/download/teoria-vsepr.htm. Portanto, a base fundamental do comportamento na VSEPR é dada pelo princípio de Pauling ao invés do sentido eletrostático. Este princípio justifica a disposição geométrica dos ligantes em torno do elemento central. O QUE É TLV? Com o surgimento da mecânica quântica, muitos cientistas acreditavam que ela poderia explicar a Química na sua totalidade - apenas uma questão de tempo e de cálculos computacionais, conforme Dirac (1929) aponta. A postulação do estudo de um sistema microscópico consiste em encontrar a função de onda Ψ, a qual satisfaz a equação de Schrödinger. Nesse sentido, a mecânica quântica serviu de base para Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Especificar a Área do trabalho HFS melhor “descrever, explicar e prever o comportamento da matéria nos níveis atômico e molecular. Como acontece com toda teoria científica, a mecânica quântica é aceita pelos cientistas porque ela funciona” (BALL, 2005, p. 273). Na Teoria da Ligação de Valência, a molécula é concebida com um agregado de átomos. Essa concepção qualitativa de molécula é a mesma desenvolvida pela Química Clássica antes da aplicação da mecânica quântica para sistemas moleculares. Na teoria, os elétrons ocupam na molécula uma posição determinada, ligando os núcleos atômicos e os átomos que a compõe sendo também identificáveis através de estruturas químicas que as representam - característica se reflete na forma como ela deve ter a função de onda que descreve um sistema molecular. Por exemplo, a melhor função de onda para descrever a molécula de hidrogênio será aquela que combinem expressões em que um elétron esteja associado ao um único núcleo e, em seguida, essas características atômicas uma vez combinadas, formam a molécula. Essa combinação tem uma característica especial: a sobreposição de dois estados de acordo com o princípio de exclusão de Pauling. Assim, a TLV descreve a ligação covalente em termos de orbitais atômicos, uma forma aproximada para resolver a equação de Schrödinger. O que acontece, contudo, se dois átomos a uma distância infinita forem aproximados para formar uma ligação? Frequentemente, esse processo refere-se ao H2, constituída por dois elétrons e dois núcleos. A ligação covalente que se origina da sobreposição de dois orbitais, um de cada átomo como no caso do H2, é chamada de ligação sigma (σ). Segundo Russell (1994), quando é formada a molécula do hidrogênio a mudança da nuvem eletrônica de cada um dos átomos se dilatam, formando um volume maior. O que aumenta significativamente a estabilidade do sistema. Vale lembrar que “a mecânica quântica mostra que a dilatação de uma distribuição de densidade de probabilidade eletrônica abaixa a energia do elétron” (RUSSELL, 1994, p. 929). Para a TLV, cada átomo H tem sua própria região de orbitais. A seguir, a função de onda para a molécula de hidrogênio: Ψ(TLV) = ΨA (1) B (2) + ΨA (2) B (1) De acordo com equação, os elétrons são representados por 1 e 2, e A e B representam átomos de hidrogênio. Um tipo diferente de ligação aparece na molécula de nitrogênio N2. A distribuição dos elétrons em seu orbital é 1s 2 2s2 2p3, isso significa que há um elétron em cada um dos três orbitais 2p. Quando os elétrons no orbital p em cada par de átomos, os orbitais podem sobrepor-se, resultando em um tipo de ligação π (pi). Vale ressaltar que outro conceito importante, nesse contexto, é a hibridização. O QUE É TOM? A Teoria dos Orbitais Moleculares (TOM) foi introduzida pelo químico Robert Mulliken (1928) e o Friedrich Hund, com contribuições de outros autores. Essa teoria surge como uma melhor alternativa para os limites apresentados a teoria de Lewis e VSEPR. TOM pode explicar compostos deficientes em elétrons (diborano, por exemplo), a estabilidade das espécies de H2 + e o paramagnetismo do oxigênio. Assim, considera: os orbitais atômicos, AOs, da camada de valência, deixam de existir quando a molécula se forma, sendo substituídos por um novo conjunto de níveis energéticos que correspondem a novas distribuições da nuvem eletrônica (densidade de probabilidade). Esses novos níveis energéticos constituem uma propriedade da molécula como um todo e são chamados, consequentemente, orbitais moleculares (RUSSELL, 948, p. 948). Aqui, os elétrons não são mais localizados nos átomos ou entre os pares de átomos, a ligação covalente é agora descrita em termos de orbitais moleculares distribuídos por toda a molécula. Um orbital molecular Ψ é explicado em termos de uma Combinação Linear de Orbitais Atômicos (LCAO), sendo que essa combinação entre dois orbitais atômicos pode ocorrer de duas formas. Na combinação aditiva, forma-se um Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Especificar a Área do trabalho HFS orbital molecular conhecido como σ-orbital ligante, menos energético, que os orbitais atômicos e, na subtrativa, forma-se uma orbital molecular mais energético chamado de σ* orbitalantiligante (o asterisco significa que ele é antiligante). Os cálculos para essa situação pode ser obtido da mecânica quântica, mas, para isso, será necessária a utilização de funções de onda que descrevem elétrons 1 e 2 em torno aos núcleos X e Y, propostos conforme as equações a seguir: Ψa = ΨX(1). ΨY(2) + ΨX (2). ΨY(1) (representa orbital ligante) Ψs = ΨX(1). ΨY(2) - ΨX (2). ΨY(1) (representa orbital antiligante) Ademais, a estabilidade da molécula de hidrogênio, por exemplo, pode ser explicada de forma que sua energia é menor em relação aos átomos separados. Em geral, para TOM: “todos os elétrons de valência têm influencia na estabilidade da molécula. (Elétrons das camadas inferiores também podem contribuir para a ligação, mas para muitas moléculas simples o efeito é demasiado pequeno)” (RUSSELL, 1994, p. 948). Outro tipo de orbitais aparece como uma molécula de H2O poliatômica. Nessa molécula, quando um orbital está ocupado e não contribui para a ligação ou orbital antiligante é chamado de orbitais não ligantes. Em alguns casos, esse tipo de orbital é apenas um orbital atômico; em outras, é uma combinação linear de orbitais atômicos de átomos que não são vizinhos e, por conseguinte, uma extensão de sobreposição negligenciável. Outro conceito que faz parte da TOM é a Ordem de Ligação (OL), que expressa à força de uma ligação química. A NOÇÃO DE TEORIA Desde a sua origem, segundo Delattre [1992], a noção de teoria aplicada à ciência possui duas direções distintas. A primeira refere-se à parte racional, discursiva, demonstrativa, da atividade cognitiva que provêm da lógica. A segunda diz respeito à parte intuitiva da atividade teórica relacionada ao conhecimento dos princípios sobre os quais se podem fundar as demonstrações lógicas. No quadro das atividades científicas, de acordo com Morgan e Morrison (1999) compreendem teorias como sistematizações explicativas que, por meio de princípios gerais, governam amplos grupos de fenômenos. Por exemplo, a teoria da relatividade de Einstein, por sua simplicidade e grande poder de explicação dos princípios básicos. Somado a isso, muitos autores acreditam que a teoria captura a "essência" ou qualidade não mensurável do fenômeno investigado. Assim, nas palavras de Kerlinger, uma teoria é conjunto de “construções (conceitos), definições e proposições relacionadas, apresentando um ponto de vista sistemático de fenômenos especificando relações entre as variáveis, com a finalidade de explicar e prever os fenômenos” (1980, p. 9). Em relação ao valor de uma teoria, Sampieri, Collado e Lucio (1997) apresentam cinco critérios: a capacidade de descrição, explicação e predição do fenômeno; consistência lógica (a teoria deve ter proposições que devem ser inter-relacionadas); a perspectiva (relacionada com o nível de generalidade, a explicação de fenômenos e suas aplicações); fertilidade lógica e, por final, a parcimônia (segunda a qual tem a ver com a simplicidade, uma qualidade desejável de uma teoria). CONCEPÇÕES SINTÁTICA E SEMÂNTICA DAS TEORIAS CIENTÍFICAS Na concepção sintática das teorias científicas, considerada como herdeira do positivismo lógico das décadas de 1920 e 1930, uma teoria científica é compreendida segundo Brown (1983), como um sistema axiomático interpretado, em que um modelo da teoria é uma interpretação que faz com que os axiomas sejam verdadeiros. A partir dos anos 1970, tal concepção passa a ser desafiada pela concepção semântica, a qual considera as teorias como família de modelos, conforme aponta Suppe (1989). De modo geral, sintática e semântica envolvem dependência e subordinação dos modelos Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Especificar a Área do trabalho HFS e teorias sobre o mundo sensível. Infere-se que a concepção semântica, ao dissociar teoria de sua sintaxe, torna-se indistinguível a relação entre teoria e modelo. UM APANHADO HISTÓRICO DO USO DO TERMO MODELO Segundo Delattre [1992], o sentido original é o de paradigma, que revela o que se deve copiar. A noção de modelo, entretanto, aplicou-se cada vez mais a realidades mais prosaicas, conforme Platão invoca: modelo de pintor. Paralelamente, foi surgindo outra concepção de modelo, em contraposição ao primeiro sentido. A noção de modelo passou a ser vista como representação de alguma coisa ou, até mesmo, uma representação formalizada e não mais uma referência que se copia. Nessa perspectiva, a coisa representada pode ser concreta ou abstrata (tendo como instrumento de síntese, revelador de unidade – a matemática). Assim, “desde uma maqueta ou um pequeno esboço até ao modelo verbal, e matemático utilizado em particular na física e nas ciências exatas. Em todos os casos, no entanto, o modelo tende a ser associado à representação de uma realidade” [Delattre, 1992, p. 287]. É importante destacar que a representação atribuída aos modelos é parcial possuindo abrangências, limitações, tanto “abstrai a partir de” quanto “traduz em outra forma” a natureza do real, sistema ou ideia conforme apontam Morrison e Morgan (1999). Nessa perspectiva, alguns filósofos da ciência, sustentam que os modelos representam aspectos do mundo, por exemplo, a figura 6: Figura 4: À esquerda, uma imagem obtida de um microscópio de força atômica e de varredura e a direita a representação da molécula do Pentaceno (C22H14). Fonte: http://www.iqsc.usp.br/cursos/quimicageral/quimica_geral.htm. Comentando sobre a imagem do pentaceno (obtida por um complexo processo de captura) e sua representação, elas ratificam aquilo que é observado no ensino, ou seja, as concepções realistas ingênuas que dominam a visão que os estudantes de Química têm das representações e dos modelos. É válido apontar que a representação do pentaceno é resultado de inferências a partir do que é observado, ou seja, nós não observamos na imagem as duplas ligações conforme a sua representação aponta, mas inferimos a partir dela. Sob a ótica de Husserl, a imagem é compreendida como “aparência”, ou melhor, aquilo que aparece e que se apresenta à consciência. Para o autor, toda consciência é consciência de “alguma coisa”. Assim, “o ato de conhecer e o objeto que é conhecido encontra na fenomenologia, na ciência do fenômeno, isto é, da consciência enquanto manifestação de si mesma” (HUSSERL, 2000, p.8). Então, é oportuno questionar: quais são as diferenças entre modelos e teorias? Segundo Morrison e Morgan (1999), uma das principais diferenças consiste no nível de abrangência. Enquanto teorias científicas são capazes de fornecer explicações para os fenômenos, a partir de casos particulares até alcançar a generalizações, explicar regularidades e predizer resultados mais precisos, os modelos são estruturas mais circunscritas que podem ser aplicados em princípios gerais das teorias nos diversos casos. O caráter particularizado do modelo traduz-se no papel específico a que ele é atribuído, ou seja, “um modelo não é outra coisa do que sua função” (CANGUILHEM, 1961, p. 313). Essa concepção de modelo se aproxima de Black (1962), o qual admite que a reflexão que se faz acerca dos modelos, parte da dimensão pragmática, ou seja, quais são as condições que os modelos têm que satisfazer para que sejam utilizados pelos cientistas. CAMINHO METODOLÓGICO Essa pesquisa foi realizada através da pesquisa qualitativa, constituindo-se de um estudo exploratório e descritivo. Nesse intuito, a pesquisa qualitativa, “envolve a Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil– 19 a 22 de agosto de 2014. Especificar a Área do trabalho HFS obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes” (LÜDKE & ANDRÉ, 1986, p.13). Como paradigma, optei pela fenomenologia para revelar o fenômeno e, nesse sentido, foi adotada como procedimento metodológico a redução fenomenológica. De acordo com Bell, “a redução é um procedimento para nos induzir a um particular estado da mente no qual nenhuma concepção adequada pode ser formada por quem não operou com sucesso a redução” (1991, p. 163). O caminho metodológico foi dividido em três momentos. O primeiro residiu na busca de descrições presentes nos livros didáticos de Química. Aqui, os livros foram entendidos como aqueles que nos fornecem percepções do mundo, uma vez captadas as descrições, eles indicaram como os sujeitos percebe o fenômeno, mas, para isso, foi necessário aplicar a Epoché (a suspensão dos juízos). Segundo Husserl (2000), a Epoché é a melhor maneira de apreensão do fenômeno como realmente ele aparece. No segundo momento, foi aplicada a redução fenomenológica. A redução entendida como algo que fez o mundo aparecer como fenômeno nas suas várias possibilidades. Assim, ela consistiu em selecionar quais são as partes das descrições essenciais e, uma vez coletadas, foram extraídas a partir delas a sua essência. Por final, o terceiro momento consistiu na compreensão do fenômeno, cujo objetivo foi estabelecer o "significado". Com base na essência e nas percepções dos livros didáticos, organizei, interpretei os temas revelados, realizando uma síntese das unidades significativas propostas. COLETA DE DADOS Ao iniciar a coleta de dados, assumir o papel de pesquisador como aquele que busca a compreensão do fenômeno. Assim, foram selecionados 4 livros didáticos de Química, sendo 2 livros do nível universitário e 2 livros do ensino médio, de acordo com a quadro 1 a seguir: Quadro 1: Lista de livros didáticos de química selecionados para a pesquisa. Ano Livros Autor (es) Edição Nível Código 2011 Princípios de Química Willian L. Masterton, Emil J. Slowinski e Conrad L. Stanitski 6ª Universitário LD1 1994 Química Raymond Chang 5ª Universitário LD2 1995 Química Da Teoria a Realidade Carmo Gallo Neto 1ª Ensino Médio LD3 2002 Química Realidade e Contexto Lembo 1ª Ensino Médio LD4 AS DESCRIÇÕES PRESENTES NOS LIVROS DIDÁTICOS DE QUÍMICA No LD1, capítulo 9, os autores apontam “como escrever as estrutura de Lewis. Para moléculas muito simples, as estruturas de Lewis podem ser escritas por mera inspeção” (LD1, 2011, p. 192). Ainda, os autores alegam: Segundo este modelo, ambos os átomos de F adquirem a configuração eletrônica 1s 2 2s 2 2p 6 , que é a configuração do gás nobre neônio. Isto de acordo com Lewis, explica por que a molécula F2 é estável e por que os átomos de F... As estruturas que acabamos de ver são conhecidas como estruturas de Lewis (LD1, 2011, p. 191). No capítulo 10, intitulado “Estrutura Molecular”, aparece: 2. No momento, consideraremos duas teorias distintas: Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Especificar a Área do trabalho HFS modelo do orbital atômico ou ligação de valência (Seção 10.3). Nesta teoria, os elétrons de valência estão distribuídos entre orbitais que são característicos dos átomos individuais. O modelo da ligação de valência pode ser aplicado às moléculas que “violam” a regra do octeto, bem como àquelas que a “obedecem”. modelo do orbital molecular (Seção 10.5). Neste modelo, os elétrons de valência estão distribuídos entre orbitais que são característicos da molécula como um todo. A teoria do orbital molecular tem sido aplicada, com admirável sucesso, a uma grande variedade de substâncias; contudo, nossa discussão estará limitada a moléculas diatômicas simples, como N2 O2 e F2. Geometria molecular Os principais aspectos de geometria molecular podem ser previstos com base em um princípio bem simples – repulsão de pares de elétrons. Este princípio é a essência do modelo da repulsão de pares eletrônicos da camada de valência (RPECV), sugerido primeiramente por Sidgwick e Power em 1940 (LD1, 2011, 206). Verifica-se que o LD1 se complica, uma vez que considera “duas teorias distintas” no início do texto e, logo após comenta sobre “modelo do orbital atômico ou ligação de valência”. Como se verifica, torna-se mais do que claro que os autores consideram TLV e TOM como Modelo/Teoria, um tema aqui desvelado. Além disso, é possível perceber também uma grandeza: a confusão linguística. Nesse contexto, os autores utilizam Modelo e Teoria indistintamente e de forma repetida, contudo foram desvelados outros temas como: Modelo de LEWIS (já que os autores consideram LEWIS como Modelo), Modelo RPECV (onde VSEPR, é a sua sigla em inglês, os autores também consideram como Modelo), conforme as respectivas descrições: (...) estruturas que acabamos de ver são conhecidas como estruturas de Lewis (...). (...) este modelo, ambos os átomos de F adquirem (...). (...) modelo da repulsão de pares eletrônicos da camada de valência (...). No LD2, Chang comenta sobre LEWIS no início do capítulo 10: A teoria de Lewis da ligação química, embora seja útil e simples de aplicar, não nos diz como e porque se formam as ligações químicas. Só a Mecânica Quântica pode fornecer respostas adequadas a estas perguntas. Assim sendo, na segunda parte deste capítulo, aplicaremos a Mecânica Quântica ao estudo da geometria e estabilidade moleculares (LD2, 1994, p. 410). Ainda, referente ao capítulo 10, destaca-se: A geometria que a molécula acaba por adoptar (definidas pelas posições de todos os átomos) é aquela que minimiza esta repulsão. Assim sendo, chama- se Modelo de Repulsão dos Pares Electrónicos da Camada de Valência (RPECV) a esta racionalização da geometria molecular, porque procura explicar o arranjo geométrico dos pares electrónicos em torno de um átomo central (LD2, 1994, p. 410). Ademais, no LD2, o autor comenta: Utilizam-se actualmente duas teorias aproximadas da Mecânica Quântica para descrever a formação de ligações covalentes e a estrutura electrónica das moléculas. A teoria do enlace de valência (TEV) postula que os electrões numa molécula ocupam orbitais atómicas dos átomos individuais. Permite-nos reter uma imagem individual dos átomos que participam na formação das ligações. A segunda teoria chama-se teoria dos orbitais moleculares (TOM) e pressupõe a formação dos orbitais moleculares a partir dos orbitais atómicas. (LD2, 1994, p. 427) No LD2, foram desvelados os temas: Teoria de LEWIS, Modelo VSEPR, Teoria da Ligação de Valência (TLV) e Teoria do Orbital Molecular (TOM), conforme as descrições: (...) A teoria de Lewis, da ligação química (...). (...) Modelo de Repulsão dos Pares Electrónicos da Camada de Valência (...). (...) A teoria do enlace de valência (TEV) postula (...). (...) chama-se teoria dos orbitais moleculares (TOM) e pressupõe (...). No LD3, o capítulo 2, intitulado “Ligações Covalentes”, aparece: Foi G. N. Lewis quem sugeriu um modelo que esclarecia a formação de substâncias que não eram explicadas pela eletrovalência. O modelo de Lewis Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Especificar a Área do trabalho HFS propõe a formação de pares de elétrons, constituídos por elétrons de dois átomos,que seriam compartilhados pelos átomos que se ligam (LD3, 1995, p.174). Já no capítulo 3, aparece: “As teorias sobre ligações químicas propostas por Kossel e Lewis pretendiam não só explicar essas ligações, mas também prever a estrutura das moléculas” (LD3, 1995, p. 188). Mais adiante, encontra-se: “Com base na ligação por par de elétrons proposta por Lewis, surgiu a Teoria da Repulsão do Par Eletrônico, sugerida por Sidgwick e Powell e desenvolvida no Canadá por R. J. Gillespie. Para aplicá-la, parte-se sempre da fórmula de Lewis” (LD3, 1995, p.188). Verifica-se que o LD3, complica-se ao abordar a perspectiva de LEWIS. Ao iniciar o texto, o autor comenta, no capítulo 2, o “modelo” sugerido por LEWIS. Em seguida, no capítulo posterior, contradiz-se ao considerar LEWIS como “teorias”. Aparece, contudo, o mesmo tema do LD1 (nível universitário) ao considerar LEWIS como Modelo/Teoria. Em relação à VSEPR, foi desvelado o tema Teoria VSEPR, conforme a seguir: (...) O modelo de Lewis propõe (...). (...) As teorias sobre ligações químicas propostas por Kossel e Lewis (...). (...) Teoria da Repulsão do Par Eletrônico, sugerida por (...). No LD4, o autor ao comentar sobre ligação covalente, afirma: A teoria da ligação covalente, proposta em 1916 pelo norte-americano Gilbert N. Lewis (1875 -1946). Esse químico propôs que haveria a formação de um par eletrônico que pertenceria a ambos os átomos da molécula, ou seja, um par eletrônico compartilhado pelos átomos de hidrogênio (LD4, 2002, p. 122). Ademais, o autor alega ainda na página 131, que “várias teorias permitem que se faça uma previsão sobre a geometria das moléculas. A mais acessível, satisfatória para a maioria das moléculas mais simples, é conhecida como Teoria da Repulsão dos Pares Eletrônicos no Nível de Valência” (LD4, 2002). No LD4, foram desvelados os temas: Teoria de LEWIS e Teoria VSEPR, conforme as descrições: (...) teoria da ligação covalente, proposta em 1916 pelo norte-americano Gilbert N. Lewis (...). (...) Teoria da Repulsão dos Pares Eletrônicos no (...). CONSTRUINDO UMA CONCLUSÃO Visando à compreensão do fenômeno ligação covalente, analisei os temas revelados de forma reflexiva. Então, diante dos resultados obtidos em geral, foi construído um quadro comparativo onde desejei representar o que foi constatado nos livros didáticos de Química do ensino médio e nível universitário. Nesse sentido, proponho o quadro 2 a seguir: Quadro 02: Comparativo quanto ao aspecto de considera teorias ou modelos as perspectivas teóricas investigadas nos livros didáticos em geral. Perspectivas LD1 LD2 LD3 LD4 LEWIS Modelo Teoria Modelo/Teoria Teoria VSEPR Modelo Modelo Teoria Teoria TLV Modelo/Teoria Teoria - - TOM Modelo/Teoria Teoria - - Observação: (-) Não foram abordados nos livros didáticos de química as perspectivas TLV e TOM. De acordo com o quadro 2, verificou-se que há entraves graves, presentes nos livros didáticos. Se por um lado, livros de nível universitário consideram, por exemplo, as perspectivas teóricas de LEWIS e VSEPR, como Modelo (conforme ocorreu no LD1), em contraposição, no ensino médio, há que se considerar LEWIS e VSEPR, como Teoria (conforme ocorreu no LD4). Ainda, nesse sentido, estamos diante de mais uma contradição, quando comparamos os livros didáticos de nível universitário, LD1 e LD2, quanto à perspectiva teórica de LEWIS. Enquanto LD1 considera LEWIS como Modelo, em contraposição o LD2 considera como Teoria. Ademais, em relação às perspectivas teóricas de TLV e TOM, constatou-se outro problema. Enquanto o LD2, TLV e TOM, são consideradas como Teorias, no LD1 os aparece como Modelo/Teoria. Quanto aos livros de ensino médio, verificou-se que aparece também Modelo/Teoria, Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Especificar a Área do trabalho HFS quanto ao aspecto de considerar a perspectiva teórica de LEWIS, conforme ocorreu no LD3. Para Martins (1992), ao abordar diretamente o fenômeno, interrogá-lo e descrevê-lo, observa-se a tentativa de captar a sua essência. Nesse intuito, chego a seguinte conclusão: a confusão que ocorre nos livros didáticos ao tratar de modelo e teoria dentro do tema ligação covalente. Frente a essa situação, parece-me mais do que claro que o cerne do problema reside no uso do termo “modelo” ‘e “teoria” no âmbito educativo como se fossem sinônimos. É oportuno considerar que a ocorrência do tema Modelo/Teoria traz duas implicações. A primeira tem natureza filosófica, “na realidade toda investigação científica inclui conceitos filosóficos tais como aqueles de lei, verdade, hipótese, tempo, energia, entre outros” (BEJARANO, EICHLER & LABARCA, 2013, p.2). A segunda contempla o processo de ensino-aprendizagem. A NOÇÃO DE MODELO COMO POSSIBILIDADE DE CONCLUSÃO Propõe-se a concepção de modelo como possibilidade para as perspectivas de LEWIS, VSEPR, TLV e TOM. Para isso, são utilizados argumentos que buscam sustentar essa tese. Assim, inicio considerando a concepção de teoria de Morgan e Morrison (1999). Diante desse contexto, questiono: por que existem quatro perspectivas teóricas buscam explicar um mesmo fenômeno? Com base no que foi constatado nessa pesquisa, pode-se verificar de forma clara que as quatro perspectivas teóricas apresentam diferenças em relação aos seus aspectos teórico-conceituais e, sobretudo, em relação aos seus aspectos ontológicos. Verifica-se, também, a incompatibilidade entre algumas delas conforme ocorre em TLV e TOM. O que se verifica é que nenhuma das perspectivas teóricas aqui analisadas possui a sua própria estrutura teórica para ser considerada como uma teoria em sentido estrito, ou seja, nenhuma delas é completamente autônoma do ponto de vista teórico. Além disso, TLV e TOM são descrições distintas de um mesmo fenômeno. Essa constatação, não atende à perspectiva de uma teoria, ou seja, uma teoria não é apenas uma descrição particular, mas descreve um conjunto de casos, extraindo o que é particular deles, vai além e generaliza. Contudo, nenhuma das quatro perspectivas teóricas é capaz de explicar completamente todos os aspectos da ligação covalente, embora seja também válido destacar que cada uma forneceu o seu contributo. Quanto às perspectivas, TLV e TOM, ambos possuem uma forte “dívida” teórica para a mecânica quântica e ao seu formalismo matemático, em particular, as duas perspectivas incorporam a equação de Schrödinger e, independente do tempo legal, em ambos os casos, o objetivo central é resolvê-las. Assim, embora sejam chamadas de duas “Teorias” quânticas da ligação química, conforme constatado em livros didáticos de Química, proponho que sejam apenas dois modelos aproximados para resolver a equação de Schrödinger: são descrições diferentes de um sistema molecular dentro do formalismo da mecânica quântica, duas formas incompatíveis de conceber uma molécula. Ademais, quanto ao aspecto de considerar modelo como representação de “alguma coisa”, no sentido fenomenológico, sustenta-se que seja válido considerar o que uma função de onda representa. Argumento, então, que a função de onda de um sistema nada mais é do que uma representação matemática abstrata do estado do sistema, tendo somente significado no contexto da Teoria Quântica. Assim, a função de onda oriunda da matemática, cumpre o seu papel como modelo abstrato – que é representar aspectos do mundo. Diante disso tudo, a coexistência das perspectivas teóricas não atendem às condições exigidas para a sua interpretação em termos ontologicamente pluralistas. Pelo contrário, parece ser melhores compreendidas como modelos, na medida em que postulam estruturas não observáveis para realizar o comportamento empírico dos Divisão de Ensino de Química daSociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Especificar a Área do trabalho HFS sistemas moleculares reais. A concepção de modelo, todavia, pode contribuir para sanar as perplexidades originadas da coexistência de diferentes descrições e explicações apesar da incompatibilidade para um mesmo fenômeno químico. REFERÊNCIAS BALL, David W. Físico-Química. Thomson, 2005, 273 p. BELL, D. Transcendental idealism. In: Husserl. (Serie "The Arguments of the Philosophers" edited by HONDERICH, T…) London: Routledge, 1991. BLACK, M. Models and Metaphors: studies in language and philosophy. Ithaca and London: Cornell UP, 1962. BROWN, H. I. La nueva filosofía de la ciencia. Madrid: Tecnos, 1983. CANGUILHEM, G. (1961) The role of Analogies and Models in Biological Discovery, in A. C. Crombie (org.), Scientific Change. Symposium on the History of Science. University of Oxford, 9-15, July 1961, Heinemann, London 1963; ora in Etudes d’ histoire et de philosophie des sciences, Vrin, Paris 19753, pp. 305 – 318. CHAGAS, A. P.; DAVANZO, C. U. Gilbert Newton Lewis e a revolução dos pares eletrônicos. 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