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INTRODUÇÃO À ZOOLOGIA E BOTÂNICA Belo Horizonte Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 APRESENTAÇÃO Sejam bem-vindos aos cursos oferecidos pela Faculdade Nova Ateneu. Nós agradecemos pela escolha dos que se candidataram a esta especialização, procurando referências atualizadas para dar continuidade aos seus estudos e estamos empenhados em oferecer as melhores condições para que você alcance seus objetivos. A partir de 1996 em que a legislação entrou em vigor no Brasil com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Educação a Distância (EaD) tem experimentado transformações, devido a inúmeros decretos, leis e portarias que são constantemente escritos, avaliados e atualizados. O decreto 9.057, de 25 de maio de 2017, que regulamenta o Art. 80 da LDB, permite a EaD estabelecer uma política de garantia de qualidade em todos os níveis e modalidades educacionais. Por isso, nossos cursos possuem um cenário privilegiado com uma equipe multidisciplinar que propõe uma contribuição para a formação de um indivíduo autônomo que busca desenvolver um aprendizado contínuo, reflexivo e inovador. Neste cenário, a prática educativa e a postura do aluno de aprender a aprender é uma questão que determina a eficácia do processo de construção do conhecimento. Isso exige compromisso do aluno com o curso, além de um bom computador com conexão mais rápida à internet para organizar seus estudos. Devido à flexibilidade de horários para estudar na modalidade EaD, os alunos necessitam empenhar-se para realizar as atividades dentro do prazo proposto, organizando seu tempo para acompanhar o conteúdo de maneira ativa e autônoma, assumindo uma postura protagonista na busca de uma aprendizagem significativa que engrandece o ensino a distância, fazendo a diferença na sua formação. Desejamos despertar a motivação interna em nosso aluno que vai se estruturar na medida em que perceber o valor daquilo que lhe é ensinado, procurando contribuir com a qualidade de nosso material didático e atividades propostas pela disciplina em curso na construção do conhecimento de “dentro para fora” como afirmado pelas pesquisas em neurociências e verificado por Jean Piaget: “você só sabe realmente o que construiu de forma autônoma”. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 SUMÁRIO 1. BIOLOGIA GERAL X BIOLOGIA COMPARADA .................................................. 4 1.1 Diversidade biológica ........................................................................................ 6 1.2 Sistemática e taxonomia ................................................................................... 7 1.3 Escolas Sistemáticas ...................................................................................... 10 1.4 Critérios gerais de classificação ...................................................................... 13 2 TAXONOMIA OU SISTEMÁTICA .......................................................................... 16 3 TAXONOMIA ANIMAL .......................................................................................... 17 3.1 Chave de classificação simplificada ................................................................ 18 3.2 Regras básicas ............................................................................................... 19 4 TAXONOMIA VEGETAL ....................................................................................... 21 4.1 Botânica aplicada ............................................................................................ 22 4.2 Chave de classificação simplificada ................................................................ 22 4.3 Botânica antiga e moderna ............................................................................. 22 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 24 AVALIAÇÃO .................................................................... Erro! Indicador não definido. GABARITO ...................................................................... Erro! Indicador não definido. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 1. BIOLOGIA GERAL X BIOLOGIA COMPARADA Em Biologia costuma-se agrupar as disciplinas em dois campos: Biologia geral e Biologia comparada. A Biologia geral, que inclui fisiologia, bioquímica, biologia molecular, genética, ecologia e evolução, estuda, com ajuda de métodos experimentais, os mecanismos e os processos que governam os seres vivos. A Biologia comparada que inclui sistemática, biogeografia, paleontologia e embriologia, estuda a diversidade das espécies e das categorias taxonômicas superiores usando o método comparativo, mais que o experimental, para descobrir padrões bióticos. A sistemática é a disciplina da Biologia comparada que se ocupa dos métodos para estimar as relações filogenéticas dos seres vivos, ou seja, para reconstruir suas relações de parentesco. Por sua vez, a taxonomia é a parte da sistemática que se ocupa das regras e dos princípios a serem usados para comunicar os resultados da análise sistemática. Um dos métodos que tem sido utilizado mais frequentemente para pesquisar as relações de parentesco (ou filogenéticas) é o cladístico. Esse método utiliza caracteres sinapomórficos como indicadores de parentesco. Caracteres sinapomórficos (ou sinapomorfias) são caracteres homólogos derivados, herdados de um ancestral comum recente por dois ou mais táxons e que permitem reuni-los em grupos monofiléticos, que na maioria dos casos mostra um padrão ramificado. O resultado é resumido em um gráfico, denominado cladograma, que apresenta a distribuição de caracteres. O cladograma é transformado em uma árvore filogenética (Figura 1 abaixo), quando interpretado do ponto de vista temporal e quando assume-se que cada ponto de ramificação (nodo) representa um ancestral, real ou hipotético e que cada ramo representa uma linhagem evolutiva de um dado grupo. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 1 – Árvore filogenética Neste novo contexto, a Zoologia deixou de ser uma ciência puramente descritiva para se tornar uma ciência com objetivos mais amplos. Atualmente, além de descrever a diversidade animal, ela procura também estabelecer relações entre os animais e entre estes e o meio ambiente. Desta forma, faz-se necessária uma introdução aos métodos de estudo comparativos utilizados nesta nova óptica da Zoologia. Desse modo, dependendo do enfoque, a Biologia pode ser desmembrada nos dois ramos principais falados inicialmente: Biologia Geral e Biologia Comparada. Na Biologia Geral, são estudados os processos biológicos dos organismos, caso a caso. Um fisiologista, por exemplo, pode estudar como funciona um determinado órgão excretor, como ele filtra os líquidos corpóreos e/ou como reabsorve íons e moléculas. Um bioquímico pode estar interessado em estudar o funcionamento de uma determinada proteína, verificando a que temperatura ela desnatura, ou seja, tem suas características alteradas, a qual sítio se liga, e assim por diante. De forma similar, um zoólogo pode estar interessado no comportamento de uma espécie de macaco, passando a observar como ele corteja a fêmea, como se comporta perante o grupo e quais estratégias utiliza para obter alimento. Portanto, o objeto de estudo da Biologia Geral é um organismo, um órgão ou uma determinada molécula, não requerendo, na maioria dos casos, um estudo comparativo que permita estabelecer grau de parentesco ou ancestralidade. A Biologia Comparada, por sua vez, representa o ramo que estuda diferentes grupos de organismos, comparando-os quanto às suas formas ou Instituto Pedagógicode Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 estruturas. Um fisiologista, neste ramo da Biologia, pode comparar as diversas estruturas excretórias observadas em diferentes grupos de animais e, dessa forma, avaliar o que é comum aos vários grupos e o que lhes é diferente. Já um bioquímico pode estudar a ocorrência de uma determinada proteína em diferentes grupos animais. Esse mesmo pesquisador pode avaliar a similaridade entre elas e a possível relação entre a existência dessas proteínas em determinados organismos, associando-as ao tipo de vida dos organismos ou ao ambiente onde vivem. Um zoólogo pode estudar a ocorrência de uma determinada estrutura ou de um comportamento em diferentes grupos animais: pode comparar o comportamento de cortejo do macho de um macaco ao de uma ave e ao de um inseto. Estudos comparativos permitem avaliar se uma determinada estrutura, ou um determinado comportamento, surgiu de forma independente nos diversos grupos. O surgimento independente pode ter ocorrido como uma adaptação ao ambiente e ao modo de vida. Tal estrutura ou comportamento, que ocorre em diversos grupos, pode ter sido herdado de um ancestral comum a estes, estabelecendo, portanto, um grau de parentesco. A Biologia Comparada tem uma visão evolutiva sem a qual se torna difícil a compreensão dos aspectos naturais e da diversidade biológica. Logo, a Biologia Comparada, em um sentido amplo, é o estudo da diversidade biológica numa perspectiva histórica. Nesse novo enfoque, a Zoologia estuda os animais numa perspectiva comparativa e histórica. 1.1 Diversidade biológica O estudo da Biologia Comparada requer um conhecimento da diversidade biológica, que pode expressar-se por, pelo menos, duas formas: Diversidade de organismos; Diversidade de caracteres dos organismos, ou seja, de estruturas, moléculas e comportamentos. Para um leigo, pode parecer que a diversidade biológica é pequena e bem conhecida. No entanto, trata-se de uma visão muito restrita, já tendo sido descritas cerca de 5 milhões de espécies de animais, plantas e demais grupos. Estudos efetuados em florestas tropicais mostram que a diversidade nesses ambientes é muito maior do que se conhece atualmente. Estima-se que o número de artrópodes pode chegar a mais de 2 milhões de espécies. Além disso, muitas espécies marinhas de grandes profundidades são, praticamente, desconhecidas. Dessa forma, acredita-se que a diversidade biológica é muito maior do que se conhece atualmente. A Biologia Comparada compõe-se de três elementos distintos: 1. Descrição dos organismos e as semelhanças e diferenças nas suas características. 2. História do organismo no tempo. 3. História da distribuição destes organismos no espaço. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 1.2 Sistemática e taxonomia Deste modo, a classificação é um meio de tornar inteligível a complexidade do mundo vivo, agrupando os organismos em categorias, segundo critérios preestabelecidos. Para que se possa continuar, é necessário fixar em mente alguns termos, bem como o seu significado exato, vamos lá: Sistemática – estudo da diversidade, descrição dos organismos, incluindo a sua filogenia; Taxonomia – estudo da classificação, incluindo nomes, normas e princípios; Classificação – ordenação dos seres vivos em grupos, com base em parentesco, semelhança morfológica, entre outros, e sua hierarquização. Deste modo, a classificação tem por objetivo a economia de pensamento, a facilidade de manuseio, a formulação de hipóteses de investigação e previsões. As classificações devem ser estáveis e conter informação sobre a semelhança morfológica, relações evolutivas, entre outros aspectos. Desde tempos imemoriais que a classificação dos organismos vivos teve como base a tentativa de organização e simplificação dos sistemas vivos, logo os primeiros sistemas de classificação eram práticos e arbitrários, ou seja, classificavase de acordo com a utilidade, interesse econômico, etc. Esta classificação era não racional, pois agrupavam-se organismos que não apresentavam nenhuma relação apenas porque preenchiam uma determinada propriedade (eram saborosos ou perigosos, por exemplo). Estas classificações também são consideradas empíricas, ou seja, não seguem um raciocínio científico, não utilizam caracteres observáveis pertencentes aos organismos (ser saboroso depende de quem classifica, não é uma propriedade inerente ao organismo, como seria a cor verde, por exemplo), apenas servem necessidades humanas básicas, como a alimentação e a defesa. Aristóteles foi o primeiro naturalista a classificar os organismos vivos de acordo com as suas características morfológicas, anatômicas e fisiológicas, obtendo, nos animais, dois grupos: Enaima – animais de sangue vermelho, ovíparos e vivíparos; Anaima – animais sem sangue vermelho. Um preconceito introduzido por Aristóteles foi o fato de todos os animais serem móveis e todas as plantas imóveis, fato que se manteve até ao século XVII. A classificação de Aristóteles é racional, pois baseia-se em características inerentes aos animais. No entanto, todas estas classificações, quer as práticas, quer as racionais ou científicas, são artificiais, baseiam-se num reduzido número de caracteres, por vezes apenas um, originando grupos extremamente heterogêneos. Esses caracteres são escolhidos arbitrariamente, ignorando outras características, reunindo na mesma categoria organismos pouco relacionados entre si (agrupar animais que voam, plantas pelo fato de terem um certo tamanho, etc.). A moderna classificação biológica teve início com Lineu (sec. XVII), cujos trabalhos produziram uma classificação, pelo menos a nível dos animais, não muito diferente da de Aristóteles. Lineu classificou todos os organismos conhecidos na época em categorias que designou por espécies. Agrupou as espécies em gêneros, estes em famílias, Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 ordens e classes. Posteriormente foram criadas mais duas categorias, divisão (plantas) ou filo (animais), que englobam as classes. Lineu foi, também, o criador da chamada nomenclatura binomial latina, ainda hoje utilizada. A classificação de Lineu, o Systema Naturae, é racional, mas artificial pois por vezes usava apenas um caráter, como no caso de plantas em que apenas considerava distintivo o número e localização dos estames na flor. Lineu considerava que a natureza e número das espécies era constante e inalterável – Fixismo -, pois cada indivíduo era comparado com um ideal, um padrão fixo – essencialismo. Vários autores da época criticaram a classificação de Lineu, nomeadamente Buffon, que negou a existência de classes, ordens, etc., na natureza, considerandoas, corretamente, uma criação da mente dos cientistas. Com os descobrimentos, a enorme quantidade e variedade de organismos novos levou à necessidade de uma classificação baseada num maior número de caracteres – classificação natural. No entanto, estas classificações continuavam a ser fixistas. Este período de enormes descobertas, também no campo biológico, levou ao desaparecimento dos naturalistas e ao surgimento de especialistas em cada campo da biologia (mamologistas, herpetologistas, etc.). Apenas em 1859, com a Teoria da Evolução de Darwin, os sistemas de classificação passaram a ter em conta e história evolutiva dos organismos. Estas classificações filogenéticas ou evolutivas pretendem traduzir a posição de cada organismo em relação aos seus antepassados, bem como as relações genéticas entre os diferentes organismos atuais. Até esta altura apenas eram considerados dois reinos, Animalia e Plantae, mas em meados do século XIX foi criado um terceiro Reino, o Reino Protista, no qual foram incluídos os seres cuja classificação era incômoda ou pouco clara. A partirde 1920, com a descoberta da teoria da hereditariedade cromossômica, os microscópios eletrônicos, etc, surge a sistemática, uma nova ciência, que faz a classificação usando todos os novos dados, não se limitando à morfologia. O conceito de população e de fundo genético também tiveram grande importância no desenvolvimento da sistemática. Nos anos 1960 passou a recorrer-se, também, à bioquímica para determinar as relações filogenéticas, sendo, atualmente, a genética molecular uma das principais bases da classificação de organismos. Os computadores, com a sua capacidade de comparar em tempo útil centenas de caracteres, tornaram-se fundamentais, de tal modo que deram origem à chamada taxonomia numérica. O objetivo principal da moderna taxonomia é produzir um sistema de classificações que relacione as espécies semelhantes e originárias de um ancestral comum. Contudo, as dificuldades são várias e difíceis de ultrapassar, como se observa nos pontos abaixo: Registro fóssil – é escasso ou inexistente, como no caso dos microrganismos; Divergência – a partir de um mesmo ancestral, as espécies evoluem para diversos fenótipos atuais; Convergência – espécies com antepassados distintos adquirem estruturas análogas por adaptação a meios semelhantes; Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Redução – em certos grupos de organismos existem simplificações em relação a certos caracteres, o que pode se tomado por primitivismo; Subjetividade – as relações filogenéticas são o resultado de uma interpretação dos fatos por parte do investigador, logo podem ser influenciadas pelo seu passado científico e emocional. Atualmente existem três escolas principais de classificação, de acordo com o ponto de vista do taxonomista e com o objetivo da classificação. No entanto, cada uma destas escolas reflete o pensamento de uma época, dependendo dos conhecimentos científicos que existem, não podendo considerar-se que exista uma classificação definitiva. Sistemática filogenética Nas décadas de 1950/60, o entomólogo alemão Willi Hennig, ao lançar os fundamentos de sua teoria denominada sistemática filogenética, provocou uma revolução no conceito de sistemática, por incorporar a evolução biológica em seu método. Conceitos já estabelecidos por Darwin, como os de organismos ancestrais e descendentes com modificações, foram incluídos nesta teoria. As contribuições mais importantes de Hennig foram as de fornecer uma definição precisa de relacionamento biológico e de desenvolver uma metodologia capaz de reconstruir as relações de parentesco entre as espécies. De forma geral, no método proposto por Hennig, o conceito de relacionamento entre grupos animais é relativo e está ilustrado na figura 2 abaixo: 2 – Relacionamento entre grupos animais Considerando este método, acompanhe com atenção o seguinte desenvolvimento. A sardinha e a lagartixa são mais relacionadas entre si do que o são com o tubarão ou com a estrela-do-mar. Isto acontece porque a sardinha e a lagartixa se originaram do ancestral comum denominado X. Neste caso, X é um ancestral Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 exclusivo da sardinha e da lagartixa e somente deles, não sendo ancestral do tubarão e nem da estrela-do-mar. Por sua vez, o tubarão tem em comum com a sardinha e a lagartixa o ancestral Y, o qual não é o mesmo ancestral da estrela-do-mar. Levando-se em conta a história evolutiva, pode-se considerar que um animal ancestral Z, que viveu no tempo 0 (T0), originou, no tempo 1 (T1), dois animais diferentes: a estrela-do-mar e o animal ancestral Y. Em T2, o ancestral Y originou o tubarão e o animal ancestral X que, por sua vez, em T3, originou a sardinha e a lagartixa. Apesar das semelhanças de forma entre o tubarão e a sardinha, ambos denominados peixes, a afinidade maior da sardinha é com a lagartixa, devido ao fato de ambas compartilharem um ancestral comum X. Portanto, considera-se a sardinha como pertencente ao grupo-irmão da lagartixa e, por sua vez, o tubarão como pertencente ao grupo-irmão que inclui a sardinha e a lagartixa. Hennig mostrou, com o seu método, como a sistemática deve refletir a história evolutiva dos grupos em uma relação de descendência com ancestralidade comum. O conceito de sistemática foi então ampliado, tendo por principais objetivos: Descrever a diversidade biológica. Estudar e ordenar as relações filogenéticas entre grupos. Compreender como se originou a diversidade. Criar um sistema de classificação para ordenar a diversidade biológica. Atualmente, a sistemática é uma ciência complexa, interpretativa e experimental e inclui uma gama enorme de diferentes áreas da investigação biológica, como a Ecologia de Populações, a Biogeografia e a Genética. A sistemática é importante não apenas para conhecer a diversidade de formas, mas também para que se possa avaliar a história da vida no planeta, como surgiram estas formas e quais as condições ambientais que permitiram o seu aparecimento. É essencial que o estudante de Biologia tenha uma noção básica acerca das principais escolas sistemáticas, ou taxonômicas, e as teorias atuais de classificação e reconstrução filogenética. Vamos, então, tratar delas agora. 1.3 Escolas Sistemáticas Na sistemática, as linhas ou escolas de pensamento têm por objetivo principal explicar e ordenar a natureza da diversidade dos organismos. Os animais são reunidos em função de critérios de semelhanças, formando grupos e subgrupos, conforme a maior ou menor afinidade. Normalmente, os resultados dessa ordenação são apresentados na forma de classificações, árvores genealógicas ou sob a forma de um texto, narrando, discutindo e estabelecendo a história evolutiva dos grupos, também denominada Cenário Evolutivo. As diferenças quanto aos critérios utilizados para reunir os grupos de organismos, a utilização ou não do conceito de evolução e as teorias nas quais se baseiam para classificar os animais fazem com que os próprios pesquisadores sejam agrupados em diferentes escolas sistemáticas. A seguir, iremos apresentar uma síntese sobre cada uma destas escolas, que foram, em sua maioria, nomeadas pelo zoólogo e evolucionista Ernst Mayr. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Escola Tradicional - Esta escola sistemática entende que as atividades de classificação não necessitam de um embasamento filosófico, ou seja, ela não apresenta nem teoria nem método para ordenar o conhecimento. As classificações são baseadas no conhecimento de taxonomistas profissionais e se realizam como uma atividade catalogatória semelhante à de um colecionador de selos ou de moedas, que separa ou agrupa coisas considerando suas semelhanças ou diferenças. Os animais como a minhoca, a aranha, a estrela-do-mar e a lombriga, ao contrário do cachorro, do jacaré e do peixe, não apresentam uma coluna vertebral. Desta forma, um pesquisador poderá classificá-los em dois grupos: Grupo I: cachorro, jacaré e peixe; Grupo II: minhoca, aranha, estrela-do-mar e lombriga. Assim, o pesquisador definiria o Grupo I de Vertebrados, por apresentarem como característica “Coluna Vertebral”; e o Grupo II de Invertebrados, por não apresentarem tal característica. Os grupos estudados foram reunidos considerando as maiores ou menores semelhanças observadas pelo pesquisador, a fim de organizar, em classes, a diversidade biológica. Nessa escola, o pesquisador, mais do que qualquer um, seria o responsável por propor a classificação, através de sua sensibilidade e por conhecer as semelhanças e diferenças dos grupos. Embora a ideia de evolução seja amplamente difundida, e provavelmente aceita pelo pesquisador, não existe o compromisso de que tal conceito esteja presente no seu critério de classificação. Escola Fenética - NaEscola Fenética1, também denominada taxonomia numérica, a organização do conhecimento sobre a diversidade dos organismos se baseia em um conjunto de métodos matemáticos bem claros, porém não está fundamentada em uma teoria biológica. Este conjunto visa a reunir grupos animais com o maior número possível de semelhanças observáveis. As características de cada organismo são quantificadas através de critérios matemáticos, e a similaridade entre eles é expressa por porcentagens de semelhanças e distâncias geométricas entre os organismos. Em função das distâncias calculadas, os organismos são reunidos em grupos e subgrupos. A Escola Fenética surgiu na década de 1950, nos Estados Unidos, coincidindo com o aparecimento dos primeiros computadores de grande capacidade e das primeiras calculadoras científicas. Os feneticistas, ao trabalharem com o maior número possível de semelhanças, desvinculam-se de um enfoque evolutivo e das relações filogenéticas dos grupos estudados. Como observou o zoólogo e evolucionista George Gaylord Simpson, o grande problema da escola fenética é o seguinte: “os membros de um grupo são similares porque eles têm um mesmo ancestral comum. Não é porque eles são similares que pertencem ao mesmo grupo”, assim como “dois irmãos não são gêmeos idênticos porque se parecem, mas porque são derivados do mesmo zigoto”. 1 Termo criado por Mayr para designar a taxonomia numérica. A palavra tem origem grega: phaínein = mostrar, expressar + ethos = comum a um grupo de indivíduos, significando semelhança aparente comum a um grupo Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Os zoólogos Gary Brusca e Richard Brusca (1991) também usam uma analogia para explicar o problema de se considerar apenas a maior similaridade entre grupos: “dois primos podem se parecer mais um com o outro do que com os seus respectivos irmãos, mas conhecendo a genealogia da família sabemos que os irmãos são mais relacionados uns aos outros do que cada um com seu primo”. A Escola Fenética apresenta alguns pontos em comum com a escola tradicional, como a utilização de critérios de similaridade e, principalmente, a não fundamentação na teoria evolutiva. Essencialmente, a Escola Fenética se diferencia da taxonomia tradicional pelo emprego de métodos quantitativos e pela utilização de um número maior de características semelhantes entre os organismos. Escola Evolutiva - A Escola Evolutiva, também denominada Escola Gradista, ao contrário da tradicional e da fenética, está embasada na teoria sintética da evolução, ou Neodarwinismo. Contudo, os gradistas ou taxonomistas evolutivos não desenvolveram nenhum método para organizar o conhecimento sobre a diversidade biológica. Os critérios para reunir grupos de organismos têm como suporte o conceito de grados2. Os grados são definidos como a expressão dos graus da história evolutiva dos grupos. Conforme este conceito, um determinado grupo, que tenha atingido a habilidade de explorar um ambiente muito diferente, receberia um status separado do que têm seus ancestrais, ou seja, passaria de um grado para outro que lhe é superior. Um bom exemplo é encontrado entre os vertebrados. Os peixes, habitantes de ambientes aquáticos, representariam a forma mais parecida com o ancestral dos demais vertebrados. A invasão do ambiente terrestre seria um grado na história evolutiva dos vertebrados. Desta forma, os demais vertebrados que se adaptaram às novas condições do ambiente seriam reunidos em um novo grupo ou grado, o dos Tetrapoda que, como os peixes, apresentam sangue frio3. Por sua vez, entre os Tetrapoda surgiram formas capazes de controlar a temperatura corpórea, denominadas animais de sangue quente ou homeotérmicos. Tais formas teriam surgido como dois grados independentes: as aves com capacidade de voo e com penas, e os mamíferos com pelos e glândulas mamárias. Tanto a taxonomia tradicional como a evolutiva utilizam-se da intuição como ferramenta para estabelecer o relacionamento entre grupos de organismos, ou seja, não demonstram claramente como e o que fazem, estabelecendo grupos baseados em critérios muito subjetivos. Escola Cladista - Esta escola sistemática trabalha com o método originalmente proposto por Willi Hennig4. O Cladismo, algumas vezes chamado de sistemática filogenética5, é fundamentado na teoria da evolução orgânica e apresenta uma metodologia compatível com ela. Isto significa que os grupos são formados por relações de parentesco estabelecidas através de um ancestral comum. 2 Grados - Do latim gradus = passo, evolução, degrau, ordem. 3 Os animais de sangue frio são denominados pecilotérmicos. 4 Willi Hennig (1913 -1976) - Entomólogo alemão, publicou em 1950 o livro Grundzüge einer Theorie der Phylogenetischen Systematik. Durante 16 anos, suas ideias ficaram praticamente desconhecidas para a comunidade científica. Somente em 1966, elas foram difundidas, com a publicação em inglês da síntese de seu método de reconstrução filogenética, inicialmente denominada sistemática filogenética. Atualmente, o termo mais utilizado para esta escola de pensamento é cladismo. 5 Sistemática filogenética - Embora para alguns pesquisadores existam diferenças entre sistemática filogenética e cladismo, a abordagem adotada nesta disciplina considerará os dois termos como sinônimos. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 A meta principal dessa escola é propor hipóteses testáveis de relacionamento genealógico entre grupos naturais. Estes são definidos como grupos formados por organismos que possuem um mesmo ancestral comum. Como uma metodologia sistemática, o Cladismo é baseado na passagem, do ancestral para seu descendente, das características que se modificam ao longo da genealogia do grupo. O estabelecimento de agrupamentos naturais é determinado a partir de características modificadas que são novidades evolutivas, herdadas de um ancestral comum que já as possuía. Disponível em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/oficinas/ed_ciencias/peixes/quem/quem_falou/ BiologiaComparadaeEscolasSistematicas.html 1.4 Critérios gerais de classificação Existem inúmeros critérios em que a classificação se pode basear, pois estes evoluíram tanto como a própria biologia. Inicialmente estes critérios eram de morfologia externa, posteriormente surgiram os critérios de morfologia interna e fisiologia, e, recentemente, passaram a ser considerados dados de embriologia, paleontologia, citologia e bioquímica. Os principais critérios de classificação atuais são: Morfologia – este tipo de critério é de grande importância, mesmo atualmente, mas deve ser usado com grandes precauções, pois indivíduos com aspecto diferente podem pertencer ao mesmo grupo, bem como indivíduos semelhantes podem não estar relacionados. Por este motivo deve-se estar particularmente atento às seguintes situações: metamorfoses – o mesmo indivíduo passa por várias formas durante o seu desenvolvimento pós-embrionário, como no caso dos insetos e alguns anfíbios. Neste caso corre-se o risco de classificar em espécies diferentes as várias formas; polimorfismo – indivíduos adultos podem apresentar diversas formas, como o caso dos cnidários, onde os adultos podem ser pólipos ou medusas, ou no caso das abelhas; analogias – órgãos com origem embrionária diferente mas com formas semelhantes. A presença de analogias revela evolução convergente ou adaptação a ambiente semelhante, não um parentesco dos organismos; Simetria corporal – alguns organismos são assimétricos, outros apresentam simetria em relação a um ou vários planos, que dividem o corpo em partes especulares (como um objeto e a sua imagem no espelho). Assim, conforme o número de planos de simetria, um organismo pode ter simetria: bilateral – apresenta apenasum plano de simetria. Este é o caso mais comum, em que um plano sagital divide o ser em duas metades (esquerda e direita). Este tipo de simetria pode ser secundariamente modificada, externamente (caracol, por exemplo) ou internamente (órgãos internos assimétricos, como no caso humano). Uma flor com simetria bilateral diz- se zigomórfica; Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 radiada - simetria em relação a vários planos que se intersectam num eixo pois a simetria existe em relação a um eixo, qualquer plano que intersecte o eixo divide o organismo em duas metades especulares. Estes organismos são geralmente fixos, sendo esta simetria um modo de interagir mais facilmente em todas as direções. Uma flor com simetria radial diz-se actinomórfica; esférica – todo e qualquer plano que intersecte o centro do organismo divideo em duas metades especulares. Este tipo de simetria, muito rara, é também designada por simetria em relação a um ponto. Nível de organização estrutural – este é um critério citológico de utilização relativamente recente: organização nuclear – nos procariontes não existe núcleo delimitado por membrana e o DNA não apresenta proteínas. A divisão celular faz-se por gemiparidade ou cissiparidade, o sistema sexual, quando existe, é unidirecional. Nos eucariontes existe um núcleo organizado e organitos. A divisão celular faz-se por mitose ou meiose; número de células - os organismos podem ser unicelulares, multicelulares, solitários ou coloniais; grau de diferenciação corporal – a diferenciação celular pode existir ou não, bem como a presença de tecidos e órgãos; tipo de nutrição – o Sol é a fonte primária de energia para a vida e o carbono é um dos blocos de construção da matéria orgânica. Assim, atendendo à fonte de energia utilizada, os seres podem ser: - autotróficos – organismos que utilizam uma fonte inorgânica de carbono (CO2 ou CO); - heterotróficos – organismos que utilizam uma fonte orgânica de carbono; - fototróficos – organismos que utilizam a energia luminosa para a síntese de matéria orgânica; - quimiotróficos – organismos que utilizam energia química (respiração ou fermentação) para a síntese de matéria orgânica. Os seres foto e quimio- autotróficos são produtores nos ecossistemas, sendo estes últimos responsáveis pela produção de matéria orgânica em meios onde a luz não penetra. Esta matéria orgânica é utilizada pelos seres heterotróficos por dois processos: *ingestão – o indivíduo recebe os alimentos do exterior e decompõem-nos no seu interior. A digestão pode ser intracelular (por fagocitose em vacúolos digestivo, como nos protistas, poríferos e cnidários) ou extracelular (em cavidades digestivas especializadas para onde são lançadas as enzimas hidrolíticas, situação típica dos animais multicelulares); *absorção – o organismo segrega para o exterior as enzimas digestivas e absorve as moléculas simples, processo característico dos fungos; Bioquímica – estudo comparativo da composição molecular dos organismos permite estabelecer relações de parentesco entre eles. Estas técnicas bioquímicas são especialmente úteis para a classificação de microrganismos, onde é difícil a aplicação de outros critérios; Cariologia – estudo do cariótipo, pois todos os indivíduos da mesma espécie apresentam número e morfologia dos cromossomas igual, com exceção de organismos mutantes. Estudos deste tipo são complexos e os resultados apenas considerados como apoio de outras hipóteses; Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Sexualidade – os organismos podem ser monóicos ou hermafroditas (dois sexos no mesmo indivíduo), dióicos ou gonocóricos (sexos separados); Embriologia – este é, sem dúvida, um dos mais importantes critérios de classificação, principalmente em animais, pois tem sido considerado que padrões de desenvolvimento semelhantes são indícios de relações filogenéticas próximas. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 2 TAXONOMIA OU SISTEMÁTICA Gareth Nelson (1970) considera que quaisquer comparações entre seres vivos são assuntos da “Biologia Comparada”, a qual ele considera um equivalente da própria Sistemática. A contraposição à Biologia Comparada é a “Biologia Geral”, que trata de processos biológicos; as duas juntas formam as Ciências Biológicas. A Sistemática seria, portanto, o ramo das Ciências Biológicas que estuda a diversidade dos seres vivos e os organiza em sistemas classificatórios. Atualmente, o paradigma da área é que estes sistemas sejam concordantes com a evolução dos grupos biológicos, de tal forma que uma classificação seja a forma mais rápida de acesso a uma fonte de dados imensa sobre a morfologia, fisiologia, biologia, biomoléculas, ecologia, etc. Ou seja, virtualmente qualquer sistema de caracteres que permita comparação entre diferentes organismos é uma ferramenta potencial para a Sistemática. Desta feita, a Sistemática pode ser considerada como uma Metaciência, subjacente a todas as outras áreas das Ciências Biológicas. Só se pode conservar o que se conhece e, por isso, o primeiro estágio para conservar a biodiversidade é descrevê-la, mapeá-la e medi-Ia (MARGULES; PRESSEY, 2000 apud MARQUES; LAMAS, 2006). Para tal, o trabalho do sistemata é essencial. Mais que isso, como política para evitar a crise de biodiversidade atual, possivelmente a maior já encontrada na história da Terra, a comunidade de sistematas deve ter uma visão comum, avaliar criticamente suas necessidades, estipular uma agenda de pesquisa ambiciosa, se apropriar de novas tecnologias e inequivocamente deixar claras suas aspirações (WHEELER ET AL, 2004 apud MARQUES; LAMAS, 2006). Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 3 TAXONOMIA ANIMAL Taxonomia (do Grego verbo τασσε_ν ou tassein = “para classificar” e νόμος ou nomos = lei, ciência, administrar, cf “economia”) Com tantos tipos de animais e numerosos taxinomistas trabalhando para denomina-los e descrevê-los em diferentes países, poderiam surgir algumas confusões na nomenclatura. Por esse motivo é necessário obedecer certas regras para dar nomes aos animais; regras estas que só foram estabelecidas após os brilhantes trabalhos do botânico Sueco Carolus Linnaeus em 1758 (Carlos Lineu). A espécie é a unidade básica da classificação biológica. É formada por um grupo de seres que possuem características comuns, e que são diferentes dos seres dos outros grupos. Os indivíduos da mesma espécie originam de antepassados comuns e através do cruzamento formam novos descendentes férteis. Não existe cruzamento natural entre indivíduos de espécies diferentes, quando ocorre são gerados descendentes infecundos. O gênero é formado por duas ou mais espécies que possuem algumas características em comuns. A família é formada por dois ou mais gêneros que possuem algumas características em comuns. A ordem é formada por duas ou mais famílias que possuem algumas características em comuns. A classe é formada por duas ou mais ordens que possuem algumas características em comuns. O filo é formado por duas ou mais classes que possuem algumas características em comuns. O reino é formado pelo conjunto de todos os filos. Existem também as categorias intermediárias, como subfilo, subespécie, subgênero, subfamília, etc., estas são usadas para demonstrar os graus de parentescos mais próximos. Curiosidade... As paredes de muitas cavernas habitadas por homens pré-históricos estão decoradas com figuras que reproduzem motivos variados, entre os quais predominam as silhuetas de cervos, bisões, javalis e outros animais. O interesse do homem pelo meio zoológico data, pois, das origens da espécie humana sobre a Terra. Embora o primeiro motivo da atraçãoexercida pelos animais sobre o homem tenha sido, sem sombra de dúvida, a necessidade de alimento e a caça, o desejo de conhecer e dominar as mais diversas espécies animais foi despertado também em função da própria inquietação intelectual inerente ao gênero humano. Desde tempos muito remotos, portanto, os animais estiveram presentes no âmbito do mágico ou do sagrado, tiveram aproveitada sua força, pela domesticação de algumas espécies, e foram objeto de contemplação pela própria beleza. Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Da mesma forma que as demais ciências naturais, a zoologia apresenta como traço fundamental a distinção de disciplinas subordinadas que se ocupam de analisar, a partir de diferentes perspectivas e com diversas finalidades cada um dos aspectos - morfológico, fisiológico, genético, evolutivo etc. - que integram a unidade biológica do reino animal. Também em analogia com o outro grande campo da pesquisa biológica - a botânica - a zoologia propõe questões controvertidas no que se refere à classificação sistemática de determinadas espécies, geralmente unicelulares ou de escasso desenvolvimento evolutivo, que por algumas de suas características podem estar inseridas no reino animal e, por outras, no vegetal. Um caso paradigmático dessa fonte de discussão é o microrganismo do gênero Euglena, dotado de capacidade de locomoção e capaz de capturar as substâncias que lhe servem de alimento, duas características definitórias dos animais, mas que possui clorofila em sua estrutura celular, como as plantas. De fato, ao longo da história da zoologia, os pesquisadores encontraram grandes dificuldades na classificação sistemática do reino animal, já que muitos de seus componentes apresentam caracteres que em primeira instância os excluiriam desse grupo taxionômico. Assim, são muitos os seres que, como as anêmonas marinhas e as esponjas, passam praticamente todo seu ciclo vital fixados a um mesmo substrato, com o que satisfazem uma das condições específicas do reino vegetal, e são muitas também as espécies de briozoários, hidróides e outros invertebrados marinhos que exibem uma aparência externa compatível com as das plantas superiores. Transcendendo o meio da pura investigação científica, a zoologia abrange total ou parcialmente as mais diversas áreas do conhecimento, ao mesmo tempo que se ocupa de um reino da natureza, o reino animal, cuja vinculação com o ser humano vem do fato de ser ele mesmo, o Homo sapiens, classificado no mais alto grau da escala zoológica. As mais ancestrais referências culturais de civilizações como a egípcia, a fenícia e a grega estão, de fato, indissoluvelmente ligadas à imagem e à noção de diferentes espécies animais. Tanto o amplo panteão do Egito faraônico, como a infindável plêiade de figuras imaginárias da mitologia grega recorrem frequentemente à iconografia animal para encarnar divindades, faunos, quimeras e outros seres fabulosos. Esse fato se repete também na maior parte das religiões surgidas na antiguidade. A simbologia alcança também as crenças cristãs, nas quais, por exemplo, uma das referências essenciais, que são as três pessoas da Santíssima Trindade, inclui a imagem da pomba para representar o Espírito Santo. Em outros contextos, a mesma imagem da pomba simboliza a esperança, a paz e a pureza. Em interpretações certamente menos elevadas, ainda que não menos fundamentais, o conhecimento zoológico se estende até setores como a economia, com especial aplicação no que se refere às espécies destinadas à alimentação, e até as atividades esportivas como o hipismo, a caça e a pesca (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA). 3.1 Chave de classificação simplificada 1) INVERTEBRADOS Poríferos: esponjas Celenterados: corais (pólipos), águas-vivas (medusas) Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 Platelmintes: solitárias Nematelmintes: lombrigas Anelídios: minhocas Moluscos: polvos, lesmas Artrópodes: insetos, aracnídios, crustáceos Equinodermos: estelas-do-mar 2) CORDADOS A) PROTOCORDADOS B) Urocordados: ascídia C) Cefalocordados: anfioxo D) VERTEBRADOS Peixes: ciclóstomos (agnatos), tubarões (cartilaginoso), sardinha, dourado (ósseos) Anfíbios: sapos, salamandras Répteis: cobras, lagartos Aves: avestruzes, patos, gaviões Mamíferos: ornitorrincos (ovíparos), cangurus (marsupiais), carnívoros, primatas (placentários) 3.2 Regras básicas 1 – O nome dos animais devem ser escritos em latim (Lineu usou o latim, porque era a língua dos intelectuais em sua época). 2 – Todo animal tem obrigatoriamente dois nomes no mínimo. O primeiro é o do gênero e o segundo o da espécie (Sistema binominal criado por Lineu). Ex: Homo sapiens 3 – O nome do gênero deve ser sempre escrito com inicial maiúscula, e o da espécie com inicial minúscula. Ex: Trypanosoma cruzi Quando se dá o nome específico em homenagem a uma pessoa, como no exemplo acima, acrescentamos a letra i no sobrenome do homenageado se for do sexo masculino. Ex: Carlos Bates = batesi. Quando o Homenageado for feminino, acrescentamos ae no sobrenome. Ex: Sônia Costa = costae Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 4 – Quando existe subespécie, o seu nome deve ser escrito depois do da espécie e sempre com inicial minúscula. Ex: Rhea americana darwing ou Apis mellifera adansoni 5 – Quando existe subgênero o seu nome deve ser escrito depois do nome do gênero, entre parênteses, e sempre com inicial maiúscula. Ex: Anofheles (nissurrhynchus) darlingi 6 – O nome dos animais deve ser grifado ou deve se usar um tipo de letra diferente do texto, em geral usa o negrito ou caracteres itálicos. 7 – Se um gênero ou espécie foi descrito mais de uma vez, deve-se sempre usar o primeiro nome que o animal foi descrito, mesmo que seja errado. É a lei da prioridade. Expl. Trichuris trichiura é conhecido também como tricocéfalo, em vista de ser usado durante muito tempo o nome Tricocephalus trichiuris. O nome mais antigo Trichuris - (thirix = cabelo; aura = cauda) significa cauda capilar. Quando se descobriu que a parte filiforme do verme correspondia à extremidade cefálica e não caudal, procurou-se mudar o nome para Trichocephalus, o que não é permitido pela regra da prioridade. 8 – Nos trabalhos científicos, depois do nome da espécie coloca-se o nome do autor (o naturalista que a descreveu) e o ano da publicação do trabalho onde foi descrito. Expl. Triatoma infestans - Klug, 1834. Obs. O nome do autor e data, citados entre parênteses, indicam que a espécie em questão foi descrita originalmente em gênero diversos do que aparece citado. Expl. Trypanosoma cruzi (Chagas, 1909). Originalmente foi descrito como Schizotrypanum cruzi. Dias, em 1939 foi quem rivalidou. Mais curiosidades... A criptozoologia é uma parte da zoologia que estuda animais desconhecidos, buscando evidências de sua existência. Essa ciência existe porque nem todos os seres vivos são conhecidos, muitas espécies de animais além de raras vivem em habitats quase inacessíveis aos seres humanos. Alguns biólogos se guiam através de lendas ou relatos populares tentando provar a existência de seres como os pés grandes, yetis, monstros marinhos, etc., sendo que se tratam de cientistas respeitáveis e não de um grupo de fanáticos ignorantes. Na região do Amazonas existem cientistas tentando provar que um animal que aparece no folclore com o nome de mapinguarí pode ser o megatério ou preguiça gigante, mamífero muito comum no Brasil no período mioceno. Talvez um pequeno grupo isolado possa ter se conservado em regiões remotas da floresta. Nos Estados Unidos, existem muitas pesquisas tentando provar Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 a existência dos pés grandes, um tipo de primatamuito mais parecido com os seres humanos do que as espécies conhecidas atualmente, que viveria em florestas densas ou no alto de montanhas remotas. Esse animal descrito por muitas pessoas é similar ao homem das neves, que viveria no Himalaia. Alguns anos atrás se supunha que existiriam mamíferos que tivessem uma forma de vida similar à dos insetos sociais. Isso foi provado com a descoberta do rato toupeira pelado, um roedor que vive em colônias subterrâneas nos desertos da África do Sul. A única fêmea com capacidade de se reproduzir (rainha) é bem maior que os outros membros do grupo, há divisão de tarefas e todos se sacrificam para a manutenção do grupo. 4 TAXONOMIA VEGETAL A classificação e sistematização dos organismos vegetais constituiu uma permanente preocupação dos especialistas em botânica desde que essa disciplina começou a se constituir como ramo diferenciado das ciências naturais. Já na antiguidade clássica, Teofrasto e Dioscórides estabeleceram os primeiros padrões de classificação vegetal, embora suas contribuições ainda se achassem distantes da classificação fundamentada em critérios filogenéticos e evolutivos que posteriormente prevaleceria. Assim, por exemplo, a classificação de Teofrasto se baseava nas características morfológicas exteriores das árvores, arbustos, subarbustos e ervas, e tomava elementos anatômicos e fisiológicos das raízes, caule, tecidos condutores etc. como traços diferenciadores. A partir da Idade Média, sucederam-se as tentativas de criar uma classificação global regida por critérios racionais e registraram-se contribuições de grandes homens de ciência, como santo Alberto Magno, o árabe al-Biruni, Andrea Cesalpino e Marcelo Malpighi. A culminância dos esforços de classificação botânica se deu, porém, com o surgimento do método criado pelo cientista sueco Lineu, pelo qual todos os vegetais são nomeados pelo gênero e pela espécie, e das teorias da evolução e da seleção natural enunciadas pelo britânico Charles Darwin. Elementos introduzidos em seguida no campo da taxionomia vegetal acabaram por delimitar, em termos precisos e rigorosamente científicos, as margens dentro das quais se dava a evolução do reino vegetal. Cabe assinalar a importância da diferenciação de dois grandes grupos: o dos talófitos e o dos cormófitos. Os primeiros - algas, fungos, liquens - apresentam tecidos sem diversificação fisiológica denominado talo, enquanto os cormófitos - musgos, fetos e plantas superiores - são dotados de estrutura em cormo, eixo longitudinal constituído de raiz, caule e folhas. Apesar dos avanços registrados na classificação das espécies vegetais, restam ainda controvérsias no que se refere à abrangência de cada grupo. São muitos os botânicos que defendem, por exemplo, a exclusão dos fungos do reino vegetal em razão de sua carência de função fotossintética, enquanto outros defendem a dupla inclusão de certas espécies de algas unicelulares no campo da botânica e da microbiologia (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA). Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 4.1 Botânica aplicada Em virtude do interesse que pode apresentar sua aplicação, a grande maioria dos vegetais que merecem especial atenção dos pesquisadores botânicos é de plantas superiores -- gimnospermas e angiospermas, razão pela qual sua distribuição costuma obedecer a critérios funcionais, não só opostos como complementares aos estritamente taxionômicos. A partir dessa premissa, encontram-se múltiplos critérios usados para ordenar as espécies vegetais superiores, nos quais intervêm fatores morfológicos, como os que distinguem espécies arbóreas, arbustivas e herbáceas, e fatores condicionantes, relacionados à aplicação de cada espécie, que permitem diferenciar plantas comestíveis, medicinais, fornecedoras de fibras têxteis etc. Destacam-se entre os vegetais superiores as grandes espécies arbóreas, que apresenta grande variedade de formas, dimensões e meios de desenvolvimento (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA). 4.2 Chave de classificação simplificada 1) CRIPTÓGAMAS Talófitas: algas pluricelulares Briófitas: hepáticas, antóceros e musgos Pteridófitas: samambaias 2) FANERÓGAMAS Gimnospermas: pinheiros, abetos Angiospermas: árvores frutíferas, leguminosas, cactos, etc. 4.3 Botânica antiga e moderna Entre os primeiros estudos botânicos, escritos por volta de 300 a.C., estão dois grandes tratados de Teofrasto: “Sobre a História das Plantas” (Historia Plantarum) e “Sobre as Causas das Plantas”. Juntos, estes livros constituem-se na contribuição mais importante à ciência botânica durante a antiguidade e a Idade Média. O médico e escritor romano Dioscórides, fornece importantes evidências sobre o conhecimento das plantas entre gregos e romanos. Em 1665, usando um microscópio primitivo, Robert Hooke descobriu células em cortiça; pouco tempo depois em tecidos vegetais vivos. O alemão Leonhart Fuchs, o suíço Conrad Gessner, e os autores britânicos Nicholas Culpeper e John Gerard, publicaram herbais (livros sobre ervas) com informações de usos das plantas. Chegando à modernidade, uma quantidade considerável de conhecimento é gerada, hoje em dia, pelo estudo de plantas “modelo”, como Arabidopsis thaliana. Esta mostarda ruderal foi uma das primeiras plantas a ter seu genoma sequenciado. Outras mais comercialmente importantes como arroz, trigo, milho e soja estão tendo seu genoma sequenciado, embora algumas delas sejam mais desafiadoras por possuírem mais de uma cópia de seus cromossomos, uma condição conhecida como poliploidia. A alga verde unicelular Chlamydomonas reinhardtii é outro organismo modelo que tem sido extensivamente estudado e fornece importantes informações sobre a biologia celular. Por que estudar as plantas? Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 As plantas são fundamentais para a vida na Terra. Elas geram oxigênio, alimento, fibras, combustíveis e remédios que permitem aos humanos e outras formas de vida existir. Enquanto realizam tudo isso, as plantas ainda absorvem dióxido de carbono, um importante gás do efeito estufa, através da fotossíntese. Uma boa compreensão das plantas é crucial para o futuro de nossa sociedade, já que nos permite: Alimentar o mundo; Entender processos fundamentais; Utilizar remédios e materiais; Entender mudanças ambientais. Vale lembrar...classificação geral • Reino • Filo (animais) / Divisão (plantas) • Subfilo / Subdivisão • Superclasse • Classe • Subclasse • Superordem • Ordem • Subordem • Superfamília • Família • Subfamília • Gênero • Subgênero • Espécie • Subespécie Como exemplo, considere-se a classificação do Ser humano • Reino: Animalia • Filo: Cordado • Classe: Mamífero • Ordem: Primata • Família: Hominidae • Gênero: Homo • Espécie: Sapiens Instituto Pedagógico de Minas Gerais http://www.ipemig.com (31) 3270 4500 REFERÊNCIAS ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda. Disponível em: http://choli.sites.uol.com.br/curi.htm Acesso em: 12 set. 2011. AMABIS, J.M. et al. Biologia. São Paulo: Moderna, 1997. AMORIM, Dalton de Souza. Fundamentos de sistemática filogenética. 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