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E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão UMA GEOGRAFIA DAS CORPOREIDADES E DAS DIFERENÇAS Lorena Francisco de Souza Diogo Marçal Cirqueira Patrício Pereira Alves de Sousa Alex Ratts Introdução As narrativas das transformações ou inflexões na ciência geográfica não necessariamente coincidem com o marcador cronológico dos séculos ou das décadas. No entanto, as questões que trazemos – corporeidade e diferença (racial, de gênero e sexual) – em grande parte se processaram no século XXI, no Brasil, com antecedentes nos anos 1990 e em correlações com os hori- zontes anglo-saxão e ibérico. Cabe rememorar que temporalmente estamos nos referindo à chamada globalização em que se imaginava que processos de homogeneização recobririam o mundo, resultando, ao contrário, em emer- gência das diferenças em várias escalas. Este capítulo é escrito por uma pesquisadora e três pesquisadores que realizam e orientam estudos no campo das corporeidades e das diferenças de raça, gênero ou sexualidade em cursos de pós-graduação e graduação em Geografia. Iniciamos o artigo com uma leitura do corpo e corporeidade na produção de Milton Santos, indicando sua relevância para a reflexão acerca das cidadanias incompletas, sobretudo de indivíduos e coletividades negras. Sem se pretender a um balanço, prosseguimos com um panorama temático de estudos geográficos que tem por foco a diferença de gênero e sexualidade. Por fim, elencamos alguns estudos que se vinculam a um ou a dois campos aqui referidos. Corporeidade, raça e negritude Milton Santos, na última fase de sua produção teórica, apresentou uma série de leituras sobre a corporeidade – como qualificou as relações e proces- sos que produzem sentidos e funções sobre os corpos. Essas abordagens são encontradas tanto em sua obra teórica sobre a epistemologia da Geografia, em especial no livro A Natureza do Espaço (2004) e na conferência Por uma geografia cidadã: por uma epistemologia da existência (1996), quanto em entrevistas, textos e conferências nos quais buscou interpretar as relações E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 42 raciais no Brasil, notadamente em O intelectual negro no Brasil (2000 [1989]), Cidadanias Mutiladas (1996/1997) e Ser negro no Brasil hoje (2002 [2000]). As discussões sobre a corporeidade emergem em Milton Santos nas análises realizadas sobre o lugar e o cotidiano em relação com o processo de Globalização. De acordo com o intelectual, […] a globalização faz […] redescobrir a corporeidade. O mundo da fluidez, a vertigem da velocidade, a frequência dos deslocamentos e a banalidade de movimento e das alusões a lugares e a coisas distantes, revelam, por contraste, no ser humano, o corpo como uma certeza mate- rialmente sensível, diante de um universo difícil de apreender (SAN- TOS, 1996, p. 314). A corporeidade, assim, expressa-se como contraponto e limite à globa- lização. Ao mesmo tempo, a corporeidade, inserida em um lugar, define-se como um limite em si, pois, “o homem é o seu corpo, a sua consciência, a sua socialidade, o que inclui sua cidadania. Mas a conquista, por cada um, da consciência não suprime a realidade social [o lugar] de seu corpo nem lhe amplia a efetividade da cidadania ” (SANTOS, 2002, p. 159). É nesse sentido que o “lugar” aparece como um “intermédio entre o mundo e o indivíduo [e a corporeidade] […] Cada lugar é, à sua maneira, o mundo […] [e cada lugar] torna-se diferencialmente dos demais” (SANTOS, 2004 [1996], p. 314). É na confluência entre a corporeidade e a globalização em um cotidiano de “escassez”, ao qual os “pobres” e as “minorias” são relegadas, que o lugar se torna potência, pois, o “cotidiano é um produtor do fenômeno político na medida em que mostra como as diferenças [e as desigualdades] se estabele- cem aconselhando a tomada de posições [políticas]” (SANTOS, 1996, p. 13). Também, no corpo-a-corpo cotidiano no lugar que se produz “solidariedade, laços culturais e identidade”, ao tempo que se constitui uma “consciência holística do mundo e dos homens” (idem, 2004, p. 328). A modulação da “co-presença” e do “intercâmbio” pela corporeidade reproduz acontecimentos e trocas simbólicas ao infinito nos lugares, consequentemente, produz “cons- ciência”, “solidariedade”, “comunidade”, “cultura popular” etc., em outros termos, une razão e emoção (idem, p. 319-20). Mais diretamente em Por uma Geografia cidadã (1996), Milton Santos demonstra de que forma a corporeidade se apresenta como categoria analí- tica em sua teoria geral. Em sua leitura, o sujeito pode ser compreendido no cotidiano a partir de “três dimensões”: a “corporeidade”, a “individualidade” e a “socialidade”. A “corporeidade” envolve a materialidade do corpo, “uma dimensão objetiva que dá conta da forma com que eu me apresento e me vejo, que dá conta também das minhas virtualidades de educação, de riqueza, da E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão UMA GEOGRAFIA DO SÉCULO XXI: temas e tensões 43 minha capacidade de mobilidade, da minha localidade, da minha lugaridade”. A “individualidade” está relacionada às dimensões subjetivas que constituem os graus diversos de consciência dos sujeitos, “consciência do mundo, cons- ciência do lugar, consciência de si, consciência do outro, consciência de nós”; isso diz respeito ao autorreconhecimento do indivíduo e a consciência crítica de si junto à sociedade. Quanto à “socialidade”, esta envolve as relações sociais, a “transindividualidade” nos termos do autor, “o fenômeno de estar junto” e em interação. A socialidade é um fenômeno que “inclui o espaço e é incluído pelo espaço” (idem, p. 10). Essas três dimensões permitem uma compreensão do cotidiano “do ponto de vista espacial”, pois, “estar juntos dentro de uma área contínua tem reflexos na maneira como a espacialidade se dá, como a individualidade evolui e como a corporeidade é sentida” (idem, p. 10). Também, possibilitam vislumbrar como um dado contexto espacial define os eixos sociais que institucionalizam e qualificam a “cidadania”. A cidadania refere-se aos direitos políticos do indivíduo em uma dada sociedade, que, como o autor ressalta, está acima e além da corporeidade e da individualidade, pois se remete a uma coletividade nacional institucionalizada. Milton Santos, assim, chama a atenção para os aspectos subjetivos e político-jurídicos que dão significados aos traços diacríticos do corpo, isso, em especial, estabelece as bases das leituras “enviesadas” sobre a corporeidade negra no Brasil. Destaca o autor: No caso brasileiro, o corpo da pessoa se impõe como uma marca visível e é frequente privilegiar a aparência como condição primeira de objeti- vação e de julgamento, criando uma linha demarcatória, que identifica e separa, a despeito das pretensões de individualidade e de cidadania do outro. Então a própria subjetividade e a dos demais esbarram no dado ostensivo da corporeidade, cuja avaliação, no entanto, é preconceituosa (SANTOS, 2002[2000], p. 159-160). Uma vez que a sociedade brasileira possui cristalizada em seu ethos e imaginário convicções advindas do longo período escravista, a corporeidade negra – em seu fenótipo e elementos alegóricos significados – se sobrepõe à individualidade. Porém, é importante enfatizar que as avaliações extrínsecas acerca da corporeidade negra vão além, não somente da individualidade, mas, também, do próprio status social de classe e a “capacidade de consumo” que possivelmente as pessoas negras adquiram. Desta forma, continua o intelectual, […] os interesses cristalizados, que produziram convicções escravocratas arraigadas, mantêm os estereótipos, que não ficam no limite do simbólico, E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 44 incidindo sobre os demais aspectos das relações sociais. Na esferapública, o corpo acaba por ter um peso maior do que o espírito na formação da sociabilidade e da sociabilidade (SANTOS, 2000 p. 160). Milton Santos, aqui, demonstra os limites da cidadania brasileira, que no caso de negros e negras, produz “cidadãos mutilados”. Utilizando-se de suas próprias experiências para enfatizar essa condição, Milton Santos (2000 [1998], p. 15) destaca: “[…] tenho instrução superior e posso apresentar um documento, imagino que sou uma individualidade forte, mas tenho certeza de que neste país não sou um cidadão completo. Eu não posso ser cidadão se não sou tratado como cidadão, e não sendo tratado como cidadão raramente serei tratado como uma individualidade forte”. De maneira mais enfática, Milton Santos qualifica os efeitos das “cida- danias mutiladas” para as pessoas negras: […] poderíamos traçar a lista das cidadanias mutiladas neste país. Cidada- nia mutilada no trabalho, através das oportunidades de ingresso negadas. Cidadania mutilada nas oportunidades de promoção. Cidadania mutilada na circulação. Esse famoso direito de ir e vir, que alguns nem imaginam existir, mas que na realidade é tolhido para uma parte significativa da população. Cidadania mutilada na educação. Quem por acaso passeou ou permaneceu na maior universidade deste estado e deste país, a USP, não tem nenhuma dúvida de que ela não é uma universidade para negros. E na saúde também, […] E o que dizer dos novos direitos, que a evolução téc- nica contemporânea sugere, como o direito à imagem e ao livre exercício da individualidade? E o que dizer também do comportamento da política e da justiça, que escolhem como tratar às pessoas em função do que elas parecem ser (SANTOS, 1996/1997, p. 134). Por fim, nos chama atenção o interesse de Milton Santos acerca da cor- poreidade frente ao seu horizonte de referências teórico-filosóficas e ao con- texto epistemológico no qual estava inserido – especificamente no campo geográfico. A corporeidade aparece como um tema bastante adverso ao temário presente na produção geográfica brasileira do período em questão (década de 1990), ainda bastante pautado pelo estruturalismo e pela economia política de base marxista. De qualquer forma, o intelectual com as discussões que realizou sobre corporeidade, apresentou tanto uma proposta teórica, quanto abriu um horizonte de investigações no campo da Geografia. Ainda que o conceito de corporeidade tenha sido pouco tratado no conjunto de sua obra por analistas, vem sendo retomada e mobilizada por pesquisadores e pesqui- sadoras que trabalham temas da diferença na atualidade. Nos anos 1990, um marco temporal de nossas reflexões, na Geogra- fia anglo-saxã o corpo começou a ser tratado como um conceito geográfico E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão UMA GEOGRAFIA DO SÉCULO XXI: temas e tensões 45 entre as pesquisadoras feministas da área. Na coletânea bodyspace (DUN- CAN, 1996), poucos capítulos tratam da relação entre o corporal (bodily) e o espacial. No entanto, Robyn Longhurst (2005) ao redigir o verbete sobre o corpo (The Body) para um dicionário inglês de Geografia Cultural. Na última seção do texto, veremos que vários estudos têm como foco expressões culturais e grupos negros. Uma parte significativa retoma a pro- posição de trabalho com a noção de corporeidade em Milton Santos ou com o corpo em outras acepções. É relevante apontar que a questão negra e racial em correlação com a Geografia e a dimensão ambiental continua sendo abor- dada neste século19. No sentido de um aprofundamento de parte dessa reflexão, cabe mencio- nar Cirqueira (2015) que busca compreender as “inscrições da racialidade” no pensamento geográfico brasileiro entre as décadas de 1880 a 1930; como leituras racialistas estiveram presentes na epistemologia e nas elaborações teóricas da “Geografia Moderna-colonial” desse período. O autor, assim, aponta nesse contexto as discussões sobre o meio que estavam articuladas com a raça para pensar a diferença humana. No mundo de língua inglesa há uma produção em Geografia deno- minada de Black Geographies (MCKITTRICK, 2006; MCKITTRICK, WOODS, 2007). McKittrick (2006, p. 7) define essa perspectiva como “[…] padrões geográficos subalternos ou alternativos que agem ao lado e além das geografias tradicionais e como um terreno de disputas”20. Tal perspectiva, assim, realiza uma crítica a “Geografia tradicional” que, com uma leitura do espaço centrada em um sujeito (homem, branco e heterossexual), reforça narrativas geográficas hegemônicas e escamoteia outras visões e experiências do espaço. Ao romper com essa leitura, a Black Geographies busca privile- giar a experiência geográfica da população negra na diáspora e conformam lentes teóricas para compreender a existência negra que, como expresso em análises, é distintiva e relacional a de outros grupos sociais em sociedades pós-coloniais e pós-escravistas. Essa vertente, também, busca romper com 19 A temática das relações raciais e dos indivíduos ou grupos negros, no horizonte da Geografia, tem sido desenvolvida em alguns núcleos: o grupo de pesquisa GeografAR na Universidade Federal da Bahia, com Guiomar Inez Germani que tem uma linha de pesquisa com “Povos e comunidades tradicionais”, voltada para quilombolas e indígenas, dentre outros grupos rurais; os estudos acerca de comunidades quilombo- las, orientados por Maria de Fátima Ferreira Rodrigues na Universidade Federal da Paraíba; as pesquisas desenvolvidas na Faculdade de Formação de Professores na Universidade Estadual do Rio de Janeiro com os seguintes grupos: Núcleo de Estudos e Pesquisas em Geografia, Relações Raciais e Movimentos Sociais (NEGRAM), com Renato Emerson dos Santos e o Núcleo de Estudo e Pesquisa e Geografia Regional da África e da Diáspora (NEGRA), com Denilson Araújo de Oliveira. Há também o Núcleo de Estudantes e Pesquisadoras Negras na Universidade de São Paulo (NEPEN). 20 “Subaltern or alternative geographic patterns that work alongside and beyond traditional geographies and site a terrain of struggle”. E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 46 a objetificação da população negra e com interpretações que focam apenas nos processos de dominação, subalternização e expropriação. A perspectiva centrada nas Black Geographies privilegia em sua interpretação a geografia expressiva – “in-visível” se comparada a Geografia hegemônica – e a agência do povo negro no/pelo espaço. Geografia e as diferenças de gênero e sexualidade Os estudos geográficos sobre as relações de gênero e sobre as sexualida- des conheceram uma significativa transformação no Brasil a partir das duas primeiras décadas do século XXI. Junto ao aumento da oferta de cursos de pós-graduação stricto sensu e sob a influência de movimentos acadêmicos e sociais tanto brasileiros quanto estrangeiros, houve um expressivo cresci- mento do número de teses, dissertações, artigos em periódicos, laboratórios de pesquisa e grupos de trabalho nos congressos da área, que passaram a se estruturar elegendo as relações de gênero e/ou as sexualidades como algumas de suas temáticas centrais (RATTS et al., 2016). Ainda que não fosse uma novidade para a Geografia brasileira, uma vez que o tema já aparecia em trabalhos realizados desde a década de 199021, esse momento marcou para a disciplina não apenas o crescimento do número de pesquisas, mas a diversificação de temas e mudanças de perspectivas, com uma aproximação mais acentuada às teorias feministas e a ampliação dos sujeitos de interesse (ORNAT, 2008; SILVA, 2010; CESAR; PINTO, 2015; VELEDA DA SILVA, 2016). Ainda que os estudos sobre “a mulher” (ou “as mulheres”) permanecessem como mais comuns nas pesquisas, os alcances dessa categoria passaram a ser questionados quanto a sua abrangência, sob a indicação da necessidade de incluir as diversas trajetórias e experiências vivenciadas por diferentesconjuntos de mulheres: brancas e não brancas, que se estabelecem no campo ou na cidade, que produzem seus cotidianos nos centros ou periferias regionais e urbanas, dentre outras especificidades. 21 Diversos levantamentos que apontam os trabalhos pioneiros na área indicam que a primeira pesquisa de pós-graduação stricto sensu em Geografia no Brasil sobre gênero foi a tese defendida por Sônia Alves Calió, na Universidade de São Paulo, em 1991, com o título “Relações de gênero na cidade: uma contribuição do pensamento feminista à Geografia Urbana”. Em relação à Geografia das sexualidades, a primeira pesquisa foi a dissertação de Jan Carlos da Silva, defendida em 2000, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e intitulada “Os territórios da prostituição na cidade do Rio de Janeiro, 1841-1925”. Em relação aos artigos em periódicos, as primeira publicações sobre gênero teriam ocorrido em 1992, com o artigo de Sônia Calió, intitulado “Re-ler a Cidade ao Feminino: uma proposta de reforma urbana do ponto de vista das mulheres”, e a pesquisa de Rosa Ester Rossini, intitulada “A Mulher como Força de Trabalho na Agricultura da Cana (Estado de São Paulo)”, ambos no volume 22 do Boletim de Geografia Teorética. Em relação à sexualidade, o primeiro trabalho publicado em periódico teria sido o de Rogério Botelho de Mattos e Miguel Ângelo Ribeiro, intitulado “Territórios da Prostituição nos Espaços Públicos da Área Central do Rio de Janeiro”, no Boletim Goiano de Geografia, em 1995. E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão UMA GEOGRAFIA DO SÉCULO XXI: temas e tensões 47 Do mesmo modo, o questionamento sobre a hegemonia heterossexual das experiências espaciais e da heteronormatividade contida nas paisagens foi realizado de modo a reclamar que diferentes expressões da sexualidade e das afetividades fossem consideradas. Estudos sobre as territorialidades e as corporeidades lésbicas, gays, travestis e transexuais passaram, então, a figurar nas produções científicas da área. Esse momento marcou ainda revisões nos conceitos e categorias mais utilizados nas publicações sobre o assunto. Progressivamente, num movi- mento comum a outras Ciências Sociais, gênero passou a figurar como cate- goria central nos estudos, posição anteriormente ocupada pela noção de sexo. Mais do que uma simples mudança semântica, essa modificação significou a adoção na Geografia de um debate sobre como feminino e masculino são papéis sociais construídos relacionalmente e pela preocupação de visibilizar outras performances de gênero para além daquelas binárias. Mais uma vez isso se desdobrou na inclusão de novos sujeitos identitários dentro da temá- tica. Além dos estudos de mulheres, investigações sobre homens e as mas- culinidades também passaram a ser empreendidas. Aos estudos sobre gênero e relações de trabalho, se somaram análises sobre as dimensões identitárias envolvidas na construção dos corpos e de suas espacialidades, apontando como o espaço, além de ser a dimensão material onde essas relações se desenvolvem, também se constitui como uma esfera fundamental na elabo- ração dessas identidades. É necessário destacar ainda que o aumento e diversificação dos estudos de gênero e das sexualidades na Geografia brasileira se deram associados à ampliação do interesse em outras categorias da diferença, tais como raça, etnicidade, geração e identidades regionais e territoriais. Do mesmo modo, esse impulso dos estudos de gênero e das sexualidades foi simultâneo e sinérgico à afirmação de outros subcampos disciplinares, com destaque para a Geografia Cultural, e de adoção de novas perspectivas para subcampos já consolidados, como a Geografia Agrária, Urbana e Econômica. Muitos dos estudos sobre gênero e sexualidades que foram realizados pela disci- plina estiveram, portanto, associados com outros temas emergentes ou já consolidados. Desdobramentos disso foram as pesquisas que correlacio- nam, por exemplo, as questões de mulheres, homens e LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), com temáticas como populações camponesas, indígenas e ribeirinhas; territorialidades e movimentos sociais urbanos; manifestações religiosas e festivas; divisão sexual do trabalho; feminização da pobreza; meio ambiente e desenvolvimento; planejamento territorial e políticas públicas; dentre outros. Tudo isso foi acompanhado, igualmente, de diversos debates epistemológicos, que empreenderam tenta- tivas de ampliação dos principais conceitos, metodologias, fontes, escalas E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 48 de análise e sujeitos da pesquisa em Geografia, entendidos por grande parte das autoras e autores que produziram pesquisas nessa área como sendo his- toricamente carregados de uma visão masculina, ocidentalizada, cartesiana e colonialista de ciência e de mundo. Ao invés de apresentar os diferentes expoentes, principais temas e os centros de produção, pretendemos indicar as principais perguntas que esses trabalhos têm feito em relação às suas motivações. Em termos gerais, entendemos que a produção em Geografia, gênero e sexualidades tem se encaminhado no Brasil neste início de século XXI a partir de três principais questões ou perguntas, a saber: i) Em que podem contribuir as construções teóricas do pensamento feminista, diferenciando o pensamento de mulheres negras, na maneira de se conceber o espaço e a Geografia e, num sentido correlato, como pode a Geografia contribuir para a teoria femi- nista,?; ii) Compreendendo que as discussões sobre gênero e sexualidades ainda ocupam uma posição periférica na Geografia brasileira, como estudiosas e estudiosos dessa área no Brasil podem se apropriar dos conceitos gerados no mundo anglo-saxão, principal centro de produção na área, e como pode a reflexão brasileira tensionar com esses estudos?; iii) Quais tópicos geográficos podem ser reelaborados a partir de diferentes autorias feministas brasileiras, especialmente negras, que a partir de outras disciplinas das Ciências Sociais produziram reflexões sobre a dimensão espacial das diferenças de gênero e sexualidade desde o Brasil?22 Em relação às contribuições do pensamento feminista para o modo como o espaço é compreendido na Geografia e como esta ciência pode contribuir com o feminismo, vale destacar que a partir do início dos anos 2000 passou a se tornar frequente na Geografia brasileira o diálogo com autorias que já compunham mais fortemente os debates em outras Ciências Sociais. Simone de Beauvoir (1980a,b) e Thomas Laqueur (2001), com suas discussões sobre a construção social dos papéis sexuais e de gênero, Joan Scott (1990, 1999) e Pierre Bourdieu (1995), com seus debates sobre a estruturação do mundo a partir do binarismo de gênero, por exemplo, foram autores e autoras que passaram a frequentar o conjunto de referências nas pesquisas produzidas. Na Geografia brasileira, houve ainda bastante destaque para as autorias relacionadas com as vertentes do feminismo para as quais eram patentes as articulações do gênero com o marxismo. Pelo histórico da Geografia Humana brasileira, que muita aproximação possui com as questões relacionadas à produção capitalista do espaço e num país tão marcado pelas desigualdades relacionadas ao mundo do trabalho, foram comuns os diálogos com essa 22 Nos parágrafos seguintes desdobramos argumentos relacionados com as perguntas i e iii. Os percalços da questão ii, concernentes às articulações entre a Geografia brasileira e a anglo-saxônica nos estudos de gênero e das sexualidades, foram brevemente indicados nos parágrafos iniciais desta seção do texto. E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão UMA GEOGRAFIA DO SÉCULO XXI: temas e tensões 49 literatura, que permitiu pensar o desigual acesso e os efeitos diferenciados das questões econômicas e sociais sobre homense mulheres. Como tópicos de pesquisa, essa discussão gerou trabalhos sobre a precarização das atividades laborais e seus efeitos sobre grupos de mulheres, a feminização da pobreza, a divisão sexual do trabalho em contextos urbanos, industriais e rurais, além de análises em escalas até então pouco exploradas na Geografia do Trabalho, como a profissão docente e o espaço escolar, as indústrias domésticas rurais, as populações tradicionais e ribeirinhas, dentre outras. Outro conjunto de obras da teoria feminista que circulou pelas diferentes Ciências Sociais e que impactou de forma significativa as pesquisas produzidas na Geografia do gênero e das sexualidades no Brasil foi daqueles pensadores e pensadoras que buscaram discutir as performatividades de gênero e ques- tionar a perspectiva exclusivamente heterossexual na construção do mundo (BUTLER, 2003), indagar sobre as perspectivas universalizantes e totalizantes da realidade (HARAWAY, 1995, 2004), bem como, problematizar as formas modernas de produção dos corpos e desejos (FOUCAULT, 1979, 1984) e as relações raciais (HOOKS, 2000, 1995). Essas autoras e autor ganharam relevância nas mais diferentes temáticas e se constituíram como basilares principalmente nos trabalhos que trataram das sexualidades dissidentes e de suas formas de territorialização. Neste sentido, esses estudos fizeram uso dos argumentos das teorias feministas para defender que a virada espacial nas Ciências Sociais deve- ria ser acompanhada também de uma virada espacial para o feminismo, em que, além do tempo, também o espaço fosse considerado com um elemento importante para compreensão dos processos que produziram desigualmente oportunidades e representações para o feminino e o masculino. Mais uma questão enfrentada nos estudos brasileiros em Geografia sobre gênero e sexualidades tem sido sobre o modo de dialogar com intelectuais que, embora não tenham realizado suas formações em Geografia ou que não produziram suas obras tendo esta disciplina como horizonte, desenvolveram importantes tópicos para a reflexão sobre as diferenças e corporeidades de homens e mulheres a partir das espacialidades. Nessa direção, interlocuções importantes foram realizadas com autoras negras, em sua maioria reconhe- cidas como feministas, que trazem para a pauta a questão das articulações de gênero com outros marcadores socioespaciais da diferença, como raça, etnicidade e classe, a exemplo de Lélia Gonzalez e Beatriz do Nascimento (RATTS, 2012), assim como Sueli Carneiro e outras intelectuais que, embora não sejam brasileiras, estiveram afinadas com a perspectiva do feminismo negro brasileiro, como Bell Hooks (1995) e Gloria Anzaldúa (2000). Uma característica marcante dos trabalhos produzidos nessa direção foi o de indicar a perspectiva parcial operada por uma Geografia que não reconhece E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 50 as diferentes trajetórias de grupos de mulheres no país. Para além de uma geopolítica do conhecimento a níveis internacionais, através das reflexões dessas feministas negras é possível pensar os jogos de poder e os campos de representação que são responsáveis por delimitar alguns poucos sujeitos identitários como produtores de conhecimento e apenas uma certa direção de pensamento como constituidora de epistemologias. Para além de questionar as hegemonias dos centros de produção em países centrais ou em universidades hegemônicas no país, essas geografias contidas no pensamento de feministas negras têm ajudado a indicar a ausência de vozes do feminismo que contemplem pautas que articulem interseccio- nalmente gênero com outros marcadores da diferença e das corporeidades. Desse modo, podemos identificar que dois foram os caminhos de diálogo com o feminismo negro para a condução de estudos de gênero e sexualidades na Geografia brasileira. O primeiro esteve relacionado com a recuperação de con- ceitos relevantes produzidos por intelectuais brasileiras que, em termos gerais, emergiram de forma simultânea a conceitos semelhantes produzidos em outros contextos de produção acadêmica, vide o que Lélia Gonzalez (1983) discutia sobre os espaços públicos e privados e suas relações com raça e gênero desde a década de 1980. Outro aspecto foi a constituição de imaginários geográficos para trazer sujeitos identitários para a disciplina que ainda não haviam sido considerados, como empregadas domésticas, professoras negras e os corpos racializados que produzem outras relações com as espacialidades, como os presentes em festas e rituais. Estas três direções de questionamentos apontados não pretendem, no entanto, ser uma classificação ou catalogação das diferentes pesquisas rea- lizadas ou uma tentativa de localizar grupos de estudos. O que ocorre na elaboração de cada tese, dissertação, artigo, grupo de pesquisa ou mesmo nos grupos de trabalho em congressos, é uma articulação entre essas autorias ora difusas ora convergentes nas suas direções de pensamento. Dada a complexidade da realidade brasileira, as especificidades da geografia humana no Brasil, as necessidades de abertura interdisciplinar e a relativa novidade do tema no contexto nacional, essas diferentes autorias são colocadas em diálogos a fim de promover uma tentativa ainda de organização de um pensamento sobre as relações de gênero e sexualidade a partir do Bra- sil e para o Brasil, com conexões com outras áreas do conhecimento, outros países e outras perspectivas de mundo. Em todas elas ficam patentes uma direção minimamente comum: uma compreensão de que as corporeidades e as diferenças são produtoras de espaços e geografias23. 23 Como veremos na seção seguinte, vários estudos sobre corporeidade e espaço estavam sendo desenvolvidos no Brasil quando vem a público a coletânea As geografias culturais do corpo (AZEVEDO, PIMENTA, SARMENTO, 2009). O capítulo de João Sarmento (2009) interessa particularmente conquanto o autor coloca E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão UMA GEOGRAFIA DO SÉCULO XXI: temas e tensões 51 Geografias da corporeidade e das diferenças: alguns estudos Ao considerar o corpo e/ou a corporeidade como categoria de análise ao estudo do espaço em sua dimensão geográfica, estamos relacionando leituras interdisciplinares, sobretudo no campo das Ciências Sociais, inclusive para compreendermos que os estudos das relações entre corpo, espaço e poder não são exclusivos da Geografia. Como afirmam Azevedo, Pimenta e Sarmento (2009), a Geografia tem uma multiplicidade de estudos que levam em consi- deração o poder regulador do espaço na formação de subjetividades concre- tas e corporalizadas, em especial, os estudos que “contemplam fracções do todo social que estão especialmente dependentes das relações assimétricas do poder” (2009, p. 15). Os estudos das relações de poder ligadas às relações de gênero são impor- tantes elementos de investigação para a Geografia, na medida em que quem a faz se preocupa com a produção e reprodução das relações sociais no espaço, chamando a atenção para os efeitos do patriarcado, da diferenciação de gênero na divisão social do trabalho, na estrutura espacial da violência masculina, bem como sobre o papel do Estado promotor ou regulador de papéis sociais mediante a discriminação e desigualdade de gênero. No que se refere aos estudos realizados em laboratórios de cursos de Geografia no cenário nacional, o que visualizamos é um cenário que se pre- tende apresentar uma leitura interseccionada das relações de gênero, raça e sexualidade no espaço. Interceder para uma leitura dos marcadores da dife- rença, inclusive para se pensar a desigualdade socioespacial, a segregação, as territorialidades femininas, masculinas e diversas, as trajetórias que marcam tais grupos diante de uma mobilidade limitada ou condicionada a seus mar- cadores de gênero, raça, etnia, classe, sexualidade e/ou geração24.No horizonte temático em pauta, trazemos estudos que correlacionam cor- poreidade com negritude e/ou gênero e/ou mulheres e trabalhos no campo de gênero e sexualidade que interseccionam com raça. Optamos por dissertações em pauta a sua própria corporeidade (no caso de um deslocamento internacional para trabalho de saúde) e os corpos de jogadores portugueses e angolanos em que o mundo colonial/racial vem à tona numa partida de futebol. 24 Além das pesquisadoras e pesquisadores citados aqui com passagem pelo Laboratório de Estudos de Gênero, Étnico-raciais e Espacialidades (LaGENTE) coordenado por Alex Ratts na Universidade Federal de Goiás, destacamos também o Grupo de Estudos Territoriais (GETE) que tem à frente Joseli Maria Silva e Marcio José Ornat na Universidade Estadual de Ponta Grossa; o Grupo de Estudos e Pesquisas em Geografia, Mulher e Relações Sociais de Gênero (GEPGÊNERO) coordenado por Maria das Graças Silva do Nascimento Silva na Universidade Federal de Rondônia. Além destes laboratórios e suas atividades de estudos e pesquisas, também ressaltamos as contribuições de Carmen Lúcia da Costa da Universidade Federal de Catalão, Maria Franco García da Universidade Federal da Paraíba, Benhur Pinós da Costa da Universidade Federal de Santa Maria e Susana Maria Veleda da Silva na Universidade Federal do Rio Grande. E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 52 e teses, o que a possibilidade de pesquisa nos programas de pós-graduação, indicando um quadro a ser abordado. A pesquisa de Souza (2007) apresenta uma aproximação entre raça, gênero e espaço urbano ao buscar compreender as trajetórias socioespaciais de professoras negras em Goiânia e Região Metropolitana. Com o objetivo de analisar as histórias de vidas de mulheres negras no ofício de professoras, a pesquisadora procura chamar a atenção para a inserção das categorias raça e gênero nos estudos urbanos, ao retratar as limitações à mobilidade urbana para o lazer, para o trabalho e para a moradia, evidenciadas por mulheres negras, apresentadas aqui como moradoras de periferias da Região Metro- politana de Goiânia (RMG) e suas trajetórias socioespaciais. Baseando-se em Santos (1996), traz elementos para uma percepção do espaço a partir da corporeidade dos sujeitos. No mesmo sentido de apresentar a compreensão da trajetória socioes- pacial como um caminho teórico-metodológico para o estudo do espaço e grupos sociais, Lopes (2008) procura analisar as trajetórias socioespaciais de mulheres trabalhadoras domésticas na Região Metropolitana de Goiânia. A pesquisadora apresenta histórias de vida marcadas pela segregação e pela prevalência de um contexto marcado pelo passado escravista no emprego doméstico, por sua vez estruturado em relações de gênero, raça e classe, con- figurando as mulheres negras como principais representantes desta categoria, vivenciando situações de exclusão e subalternidade. Cirqueira (2010), inserindo-se nesse quadro coletivo de pesquisas, realiza uma investigação sobre a questão étnico-racial na obra e na trajetória socioes- pacial do geógrafo Milton Santos. A pesquisa evidencia como o intelectual experienciou o racismo e como estabeleceu formas teóricas para interpretar as relações étnico-raciais na sociedade brasileira. Constata-se, por exemplo, que há abordagens sobre as relações étnico-raciais na primeira fase de sua produção, quando buscou analisar os “elementos étnicos” na formação terri- torial da Bahia; no período do exílio, ao tratar dos processos de segregação étnico e racial em cidades africanas; e, quando do seu retorno para o Brasil, ao buscar compreender a cidadania por meio do conceito de corporeidade. A reflexão de Machado (2011) sobre as trajetórias socioespaciais de militantes do movimento negro em Goiânia, ampliando para o horizonte para a discussão das relações raciais no espaço urbano. A autora envereda pela abordagem da corporeidade negra e do corpo negro. Santana (2011) desenvolve um estudo singular que articula gênero, mulheres e negritude voltado para uma comunidade quilombola no sertão paraibano. O estudo traz a lume o cotidiano maçante das mulheres desde o tra- balho na roça (que coexiste com o trabalho dos homens fora da comunidade), E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão UMA GEOGRAFIA DO SÉCULO XXI: temas e tensões 53 ao trabalho doméstico, religioso e cultural. Para elas, o diferencial reside na participação em apresentações artísticas (de coco e ciranda) e em espa- ços associativos. Algumas pesquisas realizadas com grupos de Congadas (ou Congados) em Minas Gerais e articulam corporeidade e negritude. Rodrigues (2008) teve como foco a observação das corporeidades dos/as congadeiros/as nas ruas de Catalão, Goiás, e em locais como a Igreja e o Largo do Rosário. Há congadei- ros e congadeiras de vários pertencimentos étnico-raciais, mas a representação nas narrativas, nos cantos e nas imagens são de uma festa negra. A produção do trabalho de Sousa (2011) se insere nesta perspectiva. O pesquisador traz igualmente a questão do corpo e da corporeidade, na correlação com o espaço, para o centro de seu estudo. As pesquisas de Paula (2010) e Damascena (2012) também foram rea- lizadas com as Congadas de Goiás, respectivamente com Catalão e Goiânia, tratando-as como cultura negra, mas como foco em sujeitos distintos: mulheres e jovens. Metodologicamente o estudo com mulheres, a maior parte negra, trouxe à luz uma coletividade que não era vista e nem ouvida porque os diri- gentes são quase todos os homens. O trabalho que se volta para a juventude congadeira, também negra, mostra as diferenciações e desigualdades entre rapazes e moças na apropriação do espaço urbano e evidencia o apreço que têm pela manifestação cultural. Apontamos ainda a tese de Sousa (2018) que retorna aos congados mineiros, desta vez em Ouro Preto problematizando a imagem reiterada de “escrava” e “escravidão” na cidade patrimonializada e turística e a imagem colocada em cena de “negros” da Reinado de Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia, marcando lugares e paisagens. O autor também retorna à categoria corpo e corporeidade. As últimas pesquisas elencadas estabelecem diálogo com a produção bibliográfica de Ratts (2003a, 2003b, 2004) sobre a corporeidade e a diferença na geografia e compartilhar com ele suas experiências de trabalho de campo, apresentando como em algumas cidades de Goiás e Minas Gerais as festas de coroação de reis negros qualificam espaços como generificados e raciali- zados a partir dos deslocamentos rituais que os Congados realizam pelas ruas de cidades para as quais as relações étnico-raciais foram fundantes de suas dinâmicas sociais contemporâneas. Na pesquisa, tal demarcação de lugares na cidade a partir das corporeidades negras e emersas a partir das relações de gênero foi entendida como um modo de elaboração de narrativas espaciais que colocam em evidência pautas identitárias que se tornam mais destacadas a partir das políticas de visibilidade que as festas permitem realizar. Para o trabalho também se constituiu como questão fundamental a problematização E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 54 sobre os processos de reflexividade e posicionalidade do sujeito em relação à sua pesquisa. Numa tentativa de traçar o campo teórico para o estudo de trajetórias socioespaciais, tais autoras e autores começam a delinear, por meio da ampla possibilidade de análises geográficas a partir de categorias como espaço, lugar e território, a realidade de grupos sociais ainda pouco apresentados como sujeitos de uma realidade discriminatória e desigual, bem como, procuram fortalecer essa leitura do espaço urbano, da rua, da universidade e de outros espaços sociais a partir da perspectiva da raça, gênero e sexualidade. Uma parte das investigações parteda noção de trajetória socioespa- cial para compreender o movimento – que também pode ser a mobilidade socioespacial – de grupos sociais marcados pela diferença. Esta, por sua vez, se apresenta como um campo categórico que permeia a preocupação das teorias feministas e dos estudos culturais, com leituras de Audre Lorde (2003) e Avtar Brah (2006). Para estas autoras, trata-se de um marcador de hierarquia ou opressão, assim como também pode ser apresentada como rela- cional, contingente. No cerne da discussão sobre a diferença e seu uso nos estudos geográ- ficos, acrescentamos a importância e urgência do debate sobre a interseccio- nalidade como caminho teórico-metodológico para os estudos das trajetórias socioespaciais de grupos sociais negros. A interseccionalidade é, a partir da escrita de Akotirene (2018) uma “sensibilidade analítica pensada por feminis- tas negras”. Estas, desde o princípio, chamaram atenção ao marcador racial na superação dos estereótipos de gênero, classe e sexualidades, estimulando um pensamento complexo. Portanto, a interseccionalidade “nos permite partir da avenida estruturada pelo racismo, capitalismo e cisheteropatriarcado, em seus múltiplos trânsitos, para revelar quais são as pessoas realmente acidentadas pela matriz de opressões” (2018, p. 42). A tese desenvolvida por Souza (2014) propôs uma análise das migrações estudantis na contemporaneidade, discutindo a vinda de estudantes africa- nos/as de língua portuguesa para as universidades brasileiras, em particular, para universidades goianas. Além da crítica fundamentada na qualificação da força de trabalho como um elemento do fenômeno migratório, este trabalho procurou evidenciar a representação social dos/as migrantes africanos/as no contexto brasileiro e o racismo vivenciado por eles, tratados/as, muitas vezes, como “estrangeiros/as não-desejados/as” ou como africanos/as em um sentido generalizado, preconceituoso e discriminatório. Machado (2016) ressaltou a importância dos movimentos feministas na apropriação de espaços públicos de Goiânia. A intenção é mostrar como E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão UMA GEOGRAFIA DO SÉCULO XXI: temas e tensões 55 estas mulheres ativistas pensam o espaço da rua a partir das intersecciona- lidades, da leitura de seus corpos invisibilizados e da luta política como um caminho para a superação da desigualdade de gênero no âmbito da cidade e da ocupação de espaços públicos. Utilizando-se das proposições teóricas de Kimberlé Crenshaw, Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro e Cláudia Pons Cardoso (apud MACHADO, 2016), a autora procurou apresentar a construção do sentido de mulher através de uma rede de diferenças e semelhanças. A partir das relações entre as mulheres feministas na cidade de Goiânia, estabelece-se uma compreensão da experiência feminista a partir das interseccionalidades, evidenciando como mulheres negras e lésbicas reivindicam suas pautas e vivenciam a cidade de maneiras distintas de mulheres feministas cisgêneros. Santos (2016) estudou as trajetórias socioespaciais de estudantes negros(as) na Universidade Federal de Goiás que passaram por projetos e programas de Ações Afirmativas, enfatizando os locais de residência, migra- ção, estudo, lazer e militância. Ao traçar esses trajetos dos sujeitos em questão, a pesquisadora observou as mudanças relativas à sua percepção deles sobre as relações com o espaço e o lugar, a partir de suas interseccionalidades. A pesquisadora se direcionou para a compreensão da militância como um impor- tante elemento que ressignifica a vivência de estudantes em sua formação universitária, no entanto, uma ação pautada na formação política e acadêmica. A pesquisa de Queiroz (2017) conjuga várias das categorias aqui trata- das – corpo, gênero, raça e espaço – com foco em dois romances da escritora Conceição Evaristo. O estudo se diferencia e acrescenta ao campo de estudos que aproxima Geografia e Literatura em face de uma autoria que se identi- fica racialmente e racializa seus personagens, com protagonismo de pessoas negras das classes populares, sobretudo mulheres. A tese é um exercício de abordagem das categorias interseccionalidade e trajetória socioespacial. Esta última, foi traçada a partir de uma entrevista com a autora. O estudo recente de Silveira (2019) se constitui de um estudo de temas e categorias como feminilidades, feminismo negro, interseccionalidade e espaço paradoxal, mediado pela trajetória escolar e acadêmica da autora, como mulher negra oriunda da classe trabalhadora. Conclusão: proposições mais que nomeações Os estudos e pesquisas dos quais tratamos no Brasil, tem correlações, mais ou menos diretas, com trabalhos elaborados no mundo anglo-saxão e ibérico, a exemplo de alguns livros e artigos aqui referidos. No país obser- vamos uma aglutinação em grupos ou em torno de docentes que se situa fora dos chamados grandes centros. Parece haver um limite para a compreensão do E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão 56 corpo ou da corporeidade como uma categoria geográfica. Se esta perspectiva se amplia, os estudos podem adentrar mais os espaços das casas, das ruas, casas noturnas, das artes corporais, ou seja, temas que trazem outros lados da sociedade que não somente o do espaço público com seu predomínio de gênero e racial. Como um mosaico em movimento, os temas e os sujeitos – racializados, generificados e sexualizados – podem ser vistos em suas espacializações locais e na escala do corpo. Os sistemas de desumanização – racismo, sexismo, segregação – são combinados e podem ser abordados em conjunto. Para nós, o quadro exposto de um fazer geográfico que soma mais ou menos duas décadas com foco no corpo racializado e na diferença qualificada pelo gênero, a sexualidade, a raça, não cabe ser denominado de mais um campo ou subcampo da área do conhecimento. Para algumas e alguns são temas bastante circunscritos. Para várias e vários é uma concepção de que o sistema-mundo e, por extensão, os lugares, os territórios e as paisagens, desde pelo menos o século XVI, é marcado pela expansão do capitalismo, da colonização e da escravidão, com reconfiguração do patriarcado e do racismo. São questões estruturais. Seus desdobramentos, assim como a diferença, estão em toda parte. E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão UMA GEOGRAFIA DO SÉCULO XXI: temas e tensões 57 REFERÊNCIAS AKOTIRENE, Carla. O que é interseccionalidade. Belo Horizonte: Letra- mento, 2018. ANZALDÚA, Gloria. Falando em línguas: uma carta para as mulheres escri- toras do Terceiro Mundo. 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E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão Uma Geografia do século XXI Organizadoras Patrícia Francisca de Matos Carmem Lúcia Costa temas e tensões E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão Editora CRV Curitiba – Brasil 2020 Patrícia Francisca de Matos Carmem Lúcia Costa (Organizadoras) UMA GEOGRAFIA DO SÉCULO XXI: temas e tensões E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão Copyright © da Editora CRV Ltda. Editor-chefe: Railson Moura Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV Imagem da Capa: Shutterstock/109922291 Revisão: Analista de Escrita e Artes Editora CRV DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) CATALOGAÇÃO NA FONTE Bibliotecária responsável: Luzenira Alves dos Santos CRB9/1506 2020 Foi feito o depósito legal conf. 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Geografi a 918.1 E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc. Comitê Científico: Altair Alberto Fávero (UPF) Ana Chrystina Venancio Mignot (UERJ) Andréia N. Militão (UEMS) Anna Augusta Sampaio de Oliveira (UNESP) Barbara Coelho Neves (UFBA) Cesar Gerónimo Tello (Universidad Nacional de Três de Febrero – Argentina) Diosnel Centurion (Univ Americ. de Asunción – Py) Eliane Rose Maio (UEM) Elizeu Clementino de Souza (UNEB) Fauston Negreiros (UFPI) Francisco Ari de Andrade (UFC) Gláucia Maria dos Santos Jorge (UFOP) Helder Buenos Aires de Carvalho (UFPI) Ilma Passos A. Veiga (UNICEUB) Inês Bragança (UERJ) José de Ribamar Sousa Pereira (UCB) Jussara Fraga Portugal (UNEB) Kilwangy Kya Kapitango-a-Samba (Unemat) Lourdes Helena da Silva (UFV) Lucia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira (UNIVASF) Marcos Vinicius Francisco (UNOESTE) Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNOESC) Maria Eurácia Barreto de Andrade (UFRB) Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA) Mohammed Elhajji (UFRJ) Mônica Pereira dos Santos (UFRJ) Najela Tavares Ujiie (UTFPR) Nilson José Machado (USP) Sérgio Nunes de Jesus (IFRO) Silvia Regina Canan (URI) Sonia Maria Ferreira Koehler (UNISAL) Suzana dos Santos Gomes (UFMG) Vânia Alves Martins Chaigar (FURG) Vera Lucia Gaspar (UDESC) Conselho Editorial: Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB) Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN) Anselmo Alencar Colares (UFOPA) Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ) Carlos Alberto Vilar Estêvão (UMINHO – PT) Carlos Federico Dominguez Avila (Unieuro) Carmen Tereza Velanga (UNIR) Celso Conti (UFSCar) Cesar Gerónimo Tello (Univer .Nacional Três de Febrero – Argentina) Eduardo Fernandes Barbosa (UFMG) Elione Maria Nogueira Diogenes (UFAL) Elizeu Clementino de Souza (UNEB) Élsio José Corá (UFFS) Fernando Antônio Gonçalves Alcoforado (IPB) Francisco Carlos Duarte (PUC-PR) Gloria Fariñas León (Universidade de La Havana – Cuba) Guillermo Arias Beatón (Universidade de La Havana – Cuba) Helmuth Krüger (UCP) Jailson Alves dos Santos (UFRJ) João Adalberto Campato Junior (UNESP) Josania Portela (UFPI) Leonel Severo Rocha (UNISINOS) Lídia de Oliveira Xavier (UNIEURO) Lourdes Helena da Silva (UFV) Marcelo Paixão (UFRJ e UTexas – US) Maria Cristina dos Santos Bezerra (UFSCar) Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNOESC) Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA) Paulo Romualdo Hernandes (UNIFAL-MG) Renato Francisco dos Santos Paula (UFG) Rodrigo Pratte-Santos (UFES) Sérgio Nunes de Jesus (IFRO) Simone Rodrigues Pinto (UNB) Solange Helena Ximenes-Rocha (UFOPA) Sydione Santos (UEPG) Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA) Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA) E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA INSTITUTO DE GEOGRAFIA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS UNIVERSIDADE FEDERAL DE CATALÃO ANO 2020 Coordenação do Programa: Dr. Idelvone Mendes Ferreira (2019-2020) Diretor do Instituto de Geografi a: Dr. João Donizete Lima (2019-2022) Reitor da Universidade Federal de Goiás: Dr. Edward Madureira Brasil Reitora da Universidade Federal de Catalão: Dra. Roselma Lucches E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ������������������������������������������������������������������������������������������ 11 EFEITOS GEOPOLÍTICOS DA PANDEMIA (CORONAVÍRUS): o fortalecimento da China?������������������������������������������������������������������������������19 Ronaldo da Silva UMA GEOGRAFIA DAS CORPOREIDADES E DAS DIFERENÇAS �������� 41 Lorena Francisco de Souza Diogo Marçal Cirqueira Patrício Pereira Alves de Sousa Alex Ratts O PROJETO MODERNO NA GEOGRAFIA: do contexto colonial ao giro decolonial ��������������������������������������������������������������������������������������������63 Marcelo Venâncio Marcelo Cervo Chelotti CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DA MULHER E O PODER JUDICIÁRIO ����������������������������������������������������������������������������91 Fernando Rossetto Heitor Pagliaro TRABALHO E ESPAÇO GEOGRÁFICO: uma questão de gênero ����������� 113 Natália Soares Ferreira “E A PALAVRA SE FEZ CARNE”: travestilidades/transexualidades, corporalidades e vivência religiosa����������������������������������������������������������������131 Adriana Gelinski Márcio José Ornat MULHERES E ESPAÇOS DE PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO: um pouco do universo das camponesas em Catalão – Goiás ���������������������� 147 Carmem Lúcia Costa A EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A GESTÃO DAS ÁGUAS ������������������ 163 Maria Beatriz Junqueira Bernandes Maria de Lourdes Spazziani E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão TRANSVERSALIZANDO O SABER GEOGRÁFICO: a significação de conteúdos escolares pelo viés da vivência cotidiana ������������������������������������ 183 Marise Vicente de Paula Anderson Luiz Meireles A LATENTE QUESTÃO AGRÁRIA E A EDUCAÇÃO DO CAMPO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO ���������������������������������������������������������������������201 Heloisa Vitória de Castro Paula Marcelo Cervo Chelotti O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NA REPRODUÇÃO SOCIAL DA AGRICULTURA FAMILIAR ��������������������������������������������������������������������223 Juniele Martins Silva COMERCIALIZAÇÃO DE ALIMENTOS VIA MERCADOS INSTITUCIONAIS PELOS AGRICULTORESFAMILIARES DO ASSENTAMENTO DOM JOSÉ MAURO EM UBERLÂNDIA (MG) ������� 239 Alessandra Rodrigues Guimarães José Giacomo Baccarin AGROECOLOGIA: uma proposta para a soberania de produção alimentar em Quirinópolis/GO �����������������������������������������������������������������������259 Fillipe Mendes de Araújo Edevaldo Aparecido Souza Lorranne Gomes da Silva A EXPANSÃO CANAVIEIRA NO TRIÂNGULO MINEIRO E ALTO PARANAÍBA-MG ������������������������������������������������������������������������������������������279 Bruna Aparecida Silva Dias Jussara dos Santos Rosendo DA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS ÀS MONOCULTURAS VOLTADAS PARA EXPORTAÇÃO NO SÉCULO XXI ��������������������������������������������������� 293 Roberto Barboza Castanho Matheus Eduardo Souza Teixeira AVALIAÇÃO DOS ESTÁGIOS DE DEGRADAÇÃO DE PASTAGENS NA MICRORREGIÃO DE ITUIUTABA-MG, 2016 �������������������������������������� 311 Laíza Castro Brumano Viçoso Jussara dos Santos Rosendo E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão VARIÁVEIS METODOLÓGICAS PARA O ESTUDO DE PEQUENAS CIDADES: o caso Monte Carmelo (MG) ������������������������������������������������������ 325 Carlos Roberto Machado de Oliveira Magda Valéria da Silva ESTUDO DE CASO ACERCA DA QUESTÃO HABITACIONAL: módulo ecológico do residencial Campo Alegre na cidade de Uberlândia (MG) �������������������������������������������������������������������������������������������349 Raphaella Karla Portes Beserra Carmem Lúcia Costa Pedro Luiz Teixeira de Camargo CAPITAL E ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA VERSUS ACESSIBILIDADE URBANA E CIDADANIA: o caso dos bairros a sudeste da BR-050, em Catalão (GO) ������������������������������������������� 371 Lucas Francisco Souza de Lima Magda Valéria da Silva ÍNDICE REMISSIVO �����������������������������������������������������������������������������������389 SOBRE OS ORGANIZADORES �����������������������������������������������������������������395 SOBRE OS AUTORES ��������������������������������������������������������������������������������397 E di to ra C R V - Pr oi bi da a im pr es sã o e/ ou c om er ci al iz aç ão
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