Buscar

terra_sonambula_2680

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Prof. André de Freitas Barbosa
Análise literária
TERRA SONÂMBULA (1992)
Mia Couto
[António Emílio Leite Couto]
(1955-)
Entre os sonhos e a guerra
Após a Guerra Anticolonial (1965-1975) e a Guerra
Civil (1976-1992), o “miúdo” Muidinga e seu protetor, o
velho Tuahir, caminham para fugir da violência que
devasta Moçambique: “a miséria faz conta era o novo
patrão para quem trabalhávamos.”
O propósito imediato da viagem é
encontrar os verdadeiros pais do
menino, que fora recolhido pelo
velho num campo de refugiados.
O contexto histórico da obra
remete ao pós-colonialismo na África
portuguesa, levando em conta as
tradições orais, a diversidade étnica
e a identidade da nação.
Os provérbios são introduzidos nas epígrafes dos
capítulos ou no corpo do texto:
“(...) o volumoso Abacar me ofereceu um
espaço no balcão (...). Enquanto bebia,
desembolsava mais ditados: - No parar é que
está o ganho!”
“Você sabe: em terra de cego quem tem olho
fica sem ele”.
Os personagens proferem os provérbios em situações
de conflito:
“O sonho é o olho da vida. Nós estávamos
cegos.” (Kindzu lembrando a própria infância).
Foco narrativo – Intercalam-se um narrador em 3ª
pessoa onisciente e outro em 1ª pessoa (Kindzu
narrando a própria vida).
Tempo – Recorre-se ao tempo cronológico (fim da
Guerra Civil em Moçambique – 1992) e ao
psicológico. Há linearidade narrativa.
Espaço – Muidinga e Tuahir interagem num
ônibus incendiado; nos cadernos de Kindzu
(essencialmente um viajante) há a presença de
vários lugares, destacando-se Matimati, símbolo
da nação fragmentada.
Dados estruturais
ASPECTOS DO ENREDO
Terra sonâmbula compreende dois tempos e dois focos
narrativos: de início, temos a história do menino
Muidinga e do velho Tuahir, que andam por uma estrada
deserta fugindo da guerra. Em dado momento, encontram
uma mala contendo uma série de escritos que, quando
lidos pelo menino, introduzem o segundo foco narrativo,
concentrado na vida de Kindzu (autor das próprias
memórias) e sua vontade de tornar-se guerreiro naparama.
Muidinga e o “tio” Tuahir encontram um machimbombo
(ônibus) incendiado, com corpos carbonizados. Logo
descobrem ali perto o cadáver de alguém morto por tiros.
Numa mala próxima havia uma série de cadernos. Para
espantar a solidão, o menino inicia a leitura: são os
cadernos de Kindzu.
Kindzu era filho do pescador Taímo, conhecido por
sonhar com o futuro. Uma vez sonhou com a independência
de sua terra e batizou o filho mais novo com o nome de
“Vinticinco de Junho”, não tardando para que este se
tornasse conhecido como “Junhito”. Taímo previu, mais
tarde, a morte de Junhito, que, mesmo muito pequeno,
deveria se disfarçar no galinheiro...
O menino pouco a pouco foi deixando de ser gente e
cada vez mais parecia uma ave; certo dia simplesmente
desapareceu. Essa foi a primeira perda de Kindzu. Logo o
velho Taímo faleceu. A mãe passou a viver no passado,
cozinhando para o marido morto.
Kindzu tinha como ponto de refúgio a amizade do
comerciante indiano Surendra, vítima de racismo dos
habitantes locais. Foi na loja de Surendra que Kindzu viu
um guerreiro naparama.
Estimulado pelas histórias de Kindzu,
Muidinga deseja relembrar o passado e ter
uma história tão bela e profunda quanto a que
lia. Riscando o chão com um pedaço de pau,
Muidinga descobre que sabe escrever. Por fim,
teoriza ao velho Tuahir que acha ser Junhito.
Kindzu, após partir de seu vilarejo, não
seguiu rumo certo. Sentia a presença do
espírito do pai. Fantasmas lhe aparecem,
assim como seu pai, com quem conversa.
Desolado, não sabe se está diante da realidade
ou apenas alucinado pela fraqueza física.
Na estrada, Tuahir e Muidinga enfrentam a fome. Numa machamba
(roça), encontram mandiocas, mas Muidinga é impedido de comer,
pois o velho percebe que as raízes foram roídas por ratos. O fato traz à
memória de Tuahir o tempo em que conheceu o garoto. O velho conta
ao menino como, enquanto alguns homens jogavam corpos de crianças
numa vala, ele percebeu que uma ainda vivia. Não havendo quem
cuidasse dela, Tuahir apiedou-se: a criança era Muidinga.
Kindzu chega a Matimati, local miserável, onde conhece Assane,
antigo secretário do administrador. Assane conta que, certa vez, um
navio cheio de mantimentos se aproximava dali; os habitantes
esperaram ansiosos, mas um naufrágio despertou o interesse daqueles
que pensavam em saquear a embarcação. O administrador proibiu a
ação e o povo começou a insultá-lo. Assim estava Matimati, ainda na
ilusão da chegada dos mantimentos perdidos. Kindzu foi orientado a
deixar o local, não sem antes saber da existência de naparamas nas
proximidades. No mar encontrou um tchóti (um anão descido dos
céus) que também buscava o navio, alegando que o céu também
passava necessidades. Juntos eles alcançam o navio perdido, onde
Kindzu encontra uma misteriosa mulher: Farida.
Os dias se tornam entediantes para Tuahir e
Muidinga. Às vezes saem para caminhar, mas
sempre voltam ao machimbombo. O menino
nota mudanças na paisagem, sente como se a
estrada se movesse. Numa dessas caminhadas
os dois caem numa armadilha e conhecem o
solitário velho Siqueleto.
Os dois já estavam prestes a morrer quando,
ao riscar o nome de Siqueleto no chão,
Muidinga desperta neste uma inesperada
comoção. Siqueleto os liberta, segue até uma
árvore e escreve seu nome nela com um
punhal; depois se mata.
Farida carregava uma maldição: era irmã gêmea. Em sua
aldeia era costume eliminar um dos filhos para apaziguar a
natureza. Depois descobrira que sua irmã não tinha sido
morta, mas retirada da aldeia em segredo. Após matarem
sua mãe, Farida foi acolhida por um casal português,
Romão Pinto (que assediava a menina) e a bondosa Dona
Virgínia. O homem acabou por estuprar a garota, que,
assustada, fugiu para longe e descobriu estar grávida; ao
ter o bebê, Gaspar, que era branco como o pai, levou-o a
um orfanato.
Muidinga e Tuahir encontram um homem que tinha a
missão de cavar um rio que cruzasse todo o país. Os dois
resolvem ajudá-lo e permanecem dias cavando um absurdo
buraco. Logo depois chove, a vala se enche e carrega o
fazedor de rios.
Kindzu e Farida se amam e ele se vê, então, num
dilema: seguir o desejo pessoal de se tornar um naparama
ou procurar o filho da amada, como ela lhe pedira. Ao
voltar para Matimati, Kindzu reencontrou o velho amigo
Surendra, que pretendia abrir uma loja. Kindzu, então,
conheceu Carolinda, mulher do administrador de
Matimati. Com ela o rapaz teria uma ardente noite de
amor; ele seria, depois, preso pelo administrador, mas logo
voltaria à liberdade. Fica sabendo, então, que Romão Pinto
estava morto (devido à maldição de ter mantido relações
sexuais com uma mulher menstruada).
Na estrada, Tuahir e Muidinga se aproximam como pai e
filho. O menino, um dia, andando pelos arredores, é
surpreendido e atacado por algumas mulheres; é sua
primeira e violenta experiência sexual.
Kindzu encontrou Dona Virgínia e conseguiu informações
sobre o paradeiro de Gaspar; soube que o filho de Farida
estivera ali, porém já havia partido. Antes de se retirar,
Kindzu se encontrou novamente com Carolinda e percebeu
sua grande semelhança com Farida.
O velho Tuahir, com o menino, passa por um pântano,
quando adoece. Conta histórias a Muidinga, que percebe a
proximidade da morte do “tio”. Tuahir pede que façam a ele
como fizeram a Taímo, pai de Kindzu: que o ponham num
barco para perder-se no mar.
Kindzu partiu para um campo de refugiados, onde
encontrava-se Euzinha, idosa tia de Farida. Lá descobriu
que Carolinda era a irmã gêmea de Farida e localizou o
paradeiro de Gaspar, que se encontrava em um campo de
refugiados próximo dali. No dia seguinte tia Euzinha
morreu de velhice.
Muidinga leva Tuahir, moribundo, até o
litoral. Lá encontram um barco, certamente o
mesmo que levara o pai de Kindzu. Tuahir
então parte para a morte, deixando o menino
só no mundo.
Ao voltar a Matimati, Kindzu deparou-secom a mais triste notícia de sua vida: Farida
havia morrido no incêndio de um farol que ela
tentara acender, na tentativa de atrair resgate.
Desolado, Kindzu resolveu partir para longe,
num machimbombo. Sua história se encerra
com o sonho de se tornar um grande guerreiro
naparama.
Preconceito racial
O racismo é outra marca presente no romance: os
brancos desprezam os negros, e estes detestam os
imigrantes. Surendra era alvo constante de preconceitos e
ataques de bandos. Os pais de Kindzu reprovavam sua
amizade com o indiano e diziam que o estrangeiro não
tinha amigos “pretos”. No fim, Surendra tem a casa
incendiada e, consequentemente, perde a esposa.
COMENTÁRIOS – Relação entre personagens
Terra sonâmbula é um romance de dualidades. Muidinga
e Kindzu, Taímo e Tuahir, Farida e Carolinda – são pares
que se identificam. A vida e a cultura popular também são
duais: de um lado, temos, no presente, uma realidade
miserável e dolorosa; de outro, um imaginário atemporal,
fantástico e perene. Esse imaginário é composto por
crenças e costumes, uma forma peculiar de ver o mundo.
Em qualquer sociedade, mitos e lendas
existem devido a uma necessidade cultural,
pois nem sempre encontramos explicações
satisfatórias no terreno da razão: daí a
relação entre o concreto e o imaginário.
Ao cruzar narrativas, Terra sonâmbula
conta mais que a história de um velho e um
menino que perambulam, sem perspectivas,
entre escombros e cadáveres: a leitura dos
cadernos de Kindzu entrelaça o enredo de
maneira única e permite o renascimento do
sonho.

Outros materiais