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TERRA SONÂMBULA - MIA COUTO

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Renata Ap. Viana
Terra Sonâmbula - 
mia couto
Há uma terra que não descansa, que nela revolvem estórias, espantos, sonhos e memórias. Terra que, por sua história, não consegue dormir e “sonâmbula” busca , incessantemente, refazer-se lugar. Assim é Moçambique que Mia Couto apresenta em Terra sonâmbula e que este trabalho “revisita”.
Antônio Emílio Leite Couto;
Nascido em 1955 em Beira, Moçambique;
Publicou os seus primeiros poemas no jornal Notícias da Beira, com 14 anos; 
Iniciou o curso de Medicina, porém interrompeu-o, vindo a se formar em Biologia;
Atualmente é professor da cadeira de Ecologia em diversas faculdades da Universidade de Eduardo Mondlane; 
É o único escritor africano que é membro da Academia Brasileira de Letras, eleito em 1998, sendo o sexto ocupante da cadeira nº 5, que tem por patrono Dom Francisco de Sousa;
Em 1999, o autor recebeu o prêmio Vergílio Ferreira pelo conjunto de sua obra e, em 2007 o prêmio União Latina de Literaturas Românicas.
Quem é mia couto?
OBRAS
Nos meados dos anos 80, Mia Couto estreou-se nos contos:
Vozes Anoitecidas; 
Cada Homem é uma Raça;
Estórias Abensonhadas; 
Contos do Nascer da Terra; 
Na Berma de Nenhuma Estrada; 
O Fio das Missangas; 
Inundação
OBRAS:
CONTOS
“O que mais me dói na miséria é a ignorância que ela tem de si mesma. Confrontados com a ausência de tudo, os homens abstêm-se do sonho, desarmando-se do desejo de serem outros. Existe no nada essa ilusão de plenitude que faz parar a vida e
 anoitecer as vozes.”
Trecho de “vozes anoitecidas”
Para além disso, publicou em livros algumas das suas crônicas, que continuam a ser coluna num dos semanários publicados em Maputo:
Cronicando;
O País do Queixa Andar;
Pensatempos. Textos de Opinião;
E se Obama fosse Africano? e Outras Interinvenções.
OBRAS:
Crônicas
“Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.” 
Trecho de “e se obama fosse africano?”
Terra Sonâmbula;
A Varanda do Frangipani ;
Mar Me Quer; 
Vinte e Zinco;
O Último Voo do Flamingo;
O Gato e o Escuro;
Um Rio Chamado Tempo, uma Casa Chamada Terra;
A Chuva Pasmada;
O beijo da palavrinha;
Venenos de Deus, Remédios do Diabo;
Jesusalém;
Pensageiro frequente;
A Confissão da Leoa;
Mulheres de cinzas;
A Espada e a Azagaia.
OBRAS:
romances
1992
Terra sonâmbula
Em 1992, Mia Couto estreou no Romance com Terra Sonâmbula, que lhe valeu o Prêmio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), em 1995. 
Em toda obra, a linguagem chama a atenção do leitor, seja pelos termos comuns a Moçambique, seja pelos neologismos e criações poéticas do autor:
banjas = reuniões
Xipoco = fantasma
Timaca = confusão
Minhufas = medo
Terra sonâmbula
O cenário da obra em questão é a devastação de Moçambique por sucessivos conflitos armados. De 1965 a 1975, o confronto foi contra o domínio português e pela Independência do país; 
Após a conquista da liberdade de Portugal, em 1975, iniciam-se disputas internas pelo poder entre os partidos Renamo (Resistência Nacional de Moçambique) e Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique). Tais conflitos ocorreram de 1976 a 1992, fazendo milhares de vítimas e arrasando o país; 
Terra Sonâmbula retrata o último período dessa guerra civil;
O livro foi publicado no ano em que foi assinado o Acordo Geral de Paz entre os dois grupos.
Contextualização histórica
“Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada. Pelos caminhos só as hienas se arrastavam, focinhando entre cinzas e poeiras. A paisagem se mestiçara de tristezas nunca vistas, em cores que se pegavam à boca. Em cores sujas, tão sujas que tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de levantar asas pelo azul. Aqui o céu se tornara impossível. E os viventes se acostumaram ao chão. Em resignada aprendizagem da morte”. 
(COUTO, 2007, p.9)
Duas histórias se imbricam por conta da leitura dos cadernos de Kindzu feita por Muidinga todas as noites, ao pé da fogueira, bem ao estilo dos tradicionais contadores de histórias da África, entrelaçando-se assim oralidade e escrita dentro do romance;
Nesse sentido, a obra é dividida em onze duplos capítulos entrelaçados pela leitura realizada por Muidinga no final da primeira história, com a qual a segunda tem início.
Estrutura da obra
Personagens principais
 
Tuahir
Muidinga
Kindzu
A história
Dois personagens sem história – um menino (Muidinga) que não se lembra de seu passado e seu protetor (Tuahir), que somente em brincadeira aceita ser chamado de pai – vagam em território africano em busca de um lugar escondido, para não se tornarem alvo de bandos em guerra.
“Um velho e um miúdo vão seguindo pela estrada. Andam bambolentos como se caminhar fosse seu único serviço desde que nasceram. Vão para lá de nenhuma parte, dando o vindo por não ido, à espera do adiante. Fogem da guerra, dessa guerra que contaminara toda a sua terra. Vão na ilusão de, mais além, haver um refúgio tranquilo. Avançam descalços, suas vestes têm a mesma cor do caminho. O velho se chama Tuahir. É magro, parece ter perdido toda a substância. O jovem se chama Muidinga.” 
(Couto, 2007, p.9)
A história
Tuahir e Muidinga: machimbombo
Mala com comida e cadernos de Kindzu
Tuahir e Muidinga: encontro do machimbombo - cadáveres carbonizados e um outro cadáver, de Kindzu, só que este morto a tiro e próximo dele uma mala contendo roupas, comida e alguns cadernos escolares. 
Muidinga recupera a capacidade de leitura e passa a ler um caderno por noite, ao pé da fogueira, ao iletrado Tuahir. E aí começa a segunda história intitulada Cadernos de Kindzu: 
A história
“A lua parece ter sido chamada pela voz de Muidinga. Pratinhada, a estrada escuta a estória que desponta dos cadernos: 
‘Quero pôr os tempos em sua mansa ordem, conforme esperas e sofrências. Mas as lembranças desobedecem, entre a vontade de serem nada e o gosto de me roubarem do presente. Acendo a estória, me apago a mim. No fim destes escritos, serei de novo uma sobra sem voz. Sou chamado de Kindzu. É o nome que se dá às palmeiras mindinhas, essas que se curvam junto às praias. Quem não lhes conhece, arrependidas de terem crescido, saudosas do rente chão? Meu pai me escolheu para esse nome, homenagem à sua única preferência: beber sura, o vinho das palmeiras.’” (Couto, 2007, p. 15)
Em seu diário Kindzu relata a busca por sua identidade, seu desejo de ser uma guerreiro naparama e as dificuldades que a vida lhe impôs;
Família: o pai, velho Taímo, era pescador e, segundo Kindzu, “sofria de sonhos”, e a mãe que o ensinou a ser sombra. Dos irmãos, Kindzu fala de Junhito que havia ganhado o nome “Vinticinco de Junho” devido ao dia da independência de Moçambique. 
A história
Após a morte do pai, Kindzu parte da casa onde morava com a mãe, pois sentia-se perdido, insatisfeito, “qualquer que fosse minha escolha uma coisa era certa: eu tinha que sair dali, aquele mundo já me estava matando” (COUTO, 2007, p.29). 
O garoto parte para uma viagem, sem destino final, sendo diversas vezes perseguido e atormentado pelo espírito e pelas lembranças do pai morto.
A história
Em sua viagem, Kindzu se depara com a morte do amigo Surendra; 
com o amor de Farida; 
encontra a ganância em Assane; 
a fome e o sofrimento no campo de refugiados onde encontra tia Euzinha. 
A história
As mudanças presenciadas por Kindzu afetam a ele e a Muidinga, que lê seus cadernos; 
Tuahir e Muidinga fingem em um determinado momento ser Kindzu e Taímo; saem assim da realidade para viver a fantasia, chamando-se de pai e filho; 
É durante sua caminhada com o velho Tuahir, que Muidinga descobre que o “tio” havia lhe tirado da cova, pois seria enterrado vivo (havia ingerido um tipo de mandioca venenosa e foi tido comomorto). 
A história
A história 
Os sonhos de Kindzu guiam sua viagem;
Em uma de suas conversas com o pai, questionado sobre o que escrevia nos cadernos, Kindzu comenta que escreve conforme vai sonhando; Taímo responde que é bom ensinar alguém a sonhar; 
Assim, os sonhos e as fantasias aparecem de forma importante no livro.
TERRA SONÂMBULA: VOZES QUE RETRATAM A HISTÓRIA DO POVO MOÇAMBICANO
FIO CONDUTOR DO ROMANCE: perda da memória coletiva e da visão de mundo das comunidades tradicionais destruídas pela guerra após a independência de Moçambique;
Exploração pelo estrangeiro (abuso de poder e sexual);
Discriminação racial (Indiano Surendra: perda do negócio e morte da esposa);
Fome (material e psicológica) 
Desorganização; miséria. 
Análise da obra
“Agora, eu via o meu país como uma dessas baleias que vêm agonizar na praia. A morte nem sucedera e já as facas lhe roubavam pedaços, cada um tentando o mais para si. Como se aquele fosse o último animal, a derradeira oportunidade de ganhar uma porção” (2007, p. 23).
“Virgínia acorreu às traseiras e viu um corpo estendido entre os capins. Não estava morto. Apenas dormia, exausto. Ela confirmou que o menino ainda estava vivo mas não o apanhou nem amparou. Foi buscar uma pá e atirou-lhe com terra, enquanto dizia: - Morre, meu menino. É melhor morrer-se, enterradinho, que ficar aqui. É que esta vida não dá acesso aos meninos.” (COUTO, 2007, p.128)
“Fiquei a saber que havia mães que roubavam a comida dos filhos e, no meio da noite, lhes tiravam a manta que os protegia do frio.(...) Aquilo nem maldade não era. Simplesmente, as mães ensinavam aos filhos os modos da sobrevivência.” (COUTO, 2007, p.146)
trechos: realismo e guerra
As múltiplas vozes narradoras criadas pelo autor materializam a voz dos antepassados moçambicanos, objetivando a perpetuação dos costumes e das tradições e a busca de uma identidade cultural perdida no processo de colonização.
Análise da obra
Kindzu é uma das vozes que se destacam, pois a leitura de seus cadernos conta as histórias da tradição do povo moçambicano;
Esses cadernos descrevem o presente – a devastação causada pela guerra – mas, simultaneamente, recuperam o imaginário do povo moçambicano, resgatando as tradições, as cerimônias, as lendas, os rituais (transformação de Junhito em galinha para ser poupado da morte pelos bandos; a cerimônia para espantar os gafanhotos pelas idosas profanadoras; a transformação de Siqueleto em semente para reproduzir homens; a volta de um morto com o caixão nas costas, entre outros episódios). 
Análise da obra 
O narrador, mesmo com a devastação da guerra, por meio das histórias contadas nos cadernos de Kindzu, consegue resgatar as tradições, as lendas e os costumes dos moçambicanos, os quais vão dando origem à formação da identidade do povo. 
A África é um continente devastado pela miséria, pelo analfabetismo, pelos conflitos armados, pela precariedade da vida, mas isso não impede o lugar do sonho, que pode ser abrigado pela literatura. 
Análise da obra
“Se dizia daquela terra que era sonâmbula. Porque enquanto os homens dormiam, a terra se movia espaços afora. Quando despertavam, os habitantes olhavam o novo rosto da paisagem e sabiam que, naquela noite, eles tinham sido visitados pela fantasia do sonho.” 
(Crença dos habitantes de Matimati) 
Por que o título?
Aquela terra que não está nem dormindo e nem acordada, ela sonha em um ambiente onde o marasmo, a esperança do fim da guerra e a miséria própria da guerra se fazem presentes; 
A terra que se move para alcançar os sonhos dos homens, que quando acordam, encontram nova paisagem. Seria essa a vontade então dos personagens do livro, encontrar uma nova paisagem quando acordassem, e não os resquícios de uma guerra.
Título da obra: significado
Jornalista: (...) Terra Sonâmbula é um livro que parece responder a tudo quanto se poderia exigir de um romance nacional "fundador". Foi deliberado? 
Mia Couto: Não foi. Nenhum livro meu obedeceu a um plano ou sequer a uma intenção que fosse consciente. Até começar a escrever esse livro eu estava convicto que nunca escreveria sobre a guerra enquanto ela decorresse. Só em paz se escreve sobre a guerra: era assim que eu pensava. Mas aconteceu que fui sendo assaltado, quase visitado por vozes e histórias, e comecei a escrever em finais de 1991. O romance Terra Sonâmbula foi o meu único livro que me doeu escrever. Eu acordava a meio da noite e era conduzido, como se a mim mesmo me desconhecesse, para um quarto onde escrevia de forma quase sonâmbula. 
Trecho de uma Entrevista com 
mia couto
O título do livro tem também a ver com essa condição de delírio em que a trama foi surgindo. Havia mortos recentes, amigos meus que perderam a vida de forma dramática no decurso da violência que assaltou o país. Não posso dizer que houve premonição mas à medida que eu ia fechando o livro se anunciaram as conversações que conduziram à assinatura do Acordo de Paz. Quando finalizei o livro, eu entendi: a escrita daquela história era a minha busca de sobrevivência depois de 16 anos de uma guerra civil que nos sufocou até à exaustão. Quem vive uma história assim sabe que a guerra, enquanto memória ferida, nunca mais sai de dentro de nós.
Trecho de uma Entrevista com 
mia couto
O longa metragem “Terra Sonâmbula” foi lançado em 2007 e dirigido por Teresa Prata. 
FILME 
Para pensarmos...
“- Não gosto de pretos, Kindzu.
– Como? Então gosta de quem? Dos brancos?
– Também não.
– Já sei: gosta de indianos, gosta de sua raça.
– Não. Eu gosto de homens que não tem raça.”
“O que faz andar a estrada? É o sonho. 
Enquanto a gente sonhar, a estrada 
permanecerá viva.” 
“Afinal, em meio da vida sempre se faz as seguintes contas: temos mais ontens ou mais amanhãs?”
Nenhuma palavra alcança o mundo, eu sei. 
Ainda assim, escrevo.

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