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Questões étnicas na diversidade escolar_ o negro e a educação(1)

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DEFINIÇÃO
A trajetória da inserção da população negra na educação formal, os limites e barreiras à
ascensão dos negros no Brasil, os usos do conceito de raça na escola, o racismo na educação
formal, a legislação educacional antirracista no Brasil, raça, classe e gênero em perspectiva
interseccional na educação.
PROPÓSITO
Refletir sobre os avanços e retrocessos em torno do acesso da população negra à educação
formal durante a escravidão e no pós-abolição.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar as ações políticas e sociais que limitaram o acesso de escravos e libertos à
educação formal no Brasil
MÓDULO 2
Reconhecer o caráter histórico das políticas afirmativas instituídas no Brasil e o protagonismo
dos movimentos negros
MÓDULO 3
Analisar os debates sobre as desigualdades raciais no contexto escolar
 Identificar as ações políticas e sociais que limitaram o acesso de escravos e libertos à
educação formal no Brasil
INTRODUÇÃO
Assista ao vídeo de introdução do tema, realizado por Ricardo Fernandes – professor da
Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro.
BRASIL COLONIAL
A ESCOLA
No Brasil, a escola (enquanto instituição e, seu produto, a escolarização) sempre foi um espaço
privilegiado para grupos sociais bem definidos.
Criada em 1540 pelo padre ‒ posteriormente tornado santo ‒ Inácio de Loyola, a Companhia de
Jesus foi uma resposta da Igreja Católica à Reforma Protestante visando a defesa e a
propagação da fé que, segundo a ordem, abarcaria a catequese e a escolarização.
(Fonte: Wikimedia Commons)
 Inácio de Loyola.
SEGUNDO INÁCIO DE LOYOLA, O ESTUDO DAS
LETRAS NÃO TERIA OUTRO SENTIDO, SENÃO O DE
APROXIMAR A ALMA DO SEU CRIADOR.
Foi sob os auspícios de Dom João III, rei de Portugal, que a missão chefiada pelo padre Manoel
da Nóbrega desembarcou em Salvador acompanhando a expedição do recém-nomeado
governador-geral Tomé de Sousa.
Na Bahia, os jesuítas criaram um colégio que se tornaria o centro intelectual da Colônia por
mais de 200 anos.
AUSPÍCIOS
Proteção, favor, recomendação. Apoio financeiro, material, técnico etc., para que se realize uma
obra ou evento; patrocínio.
(Fonte: Victor Frond / Arquivo Nacional)
 Colégio dos Jesuítas.
Ainda na segunda metade do século XVI, os jesuítas se espalharam por outras partes da
América portuguesa, estabelecendo colégios em Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo,
além de residências em Ilhéus, Porto Seguro e em Vitória do Espírito Santo.
Os jesuítas se especializaram num modelo de ensino baseado na incorporação de símbolos e
rituais da cultura local de cada povo. Além disso, dedicavam-se à tradução e elaboração de
gramáticas específicas de cada língua local, servindo de recurso didático.
 IMPORTANTE
Em 1697, o jesuíta Pedro Dias, quando ainda estava na Bahia, escreveu o livro A Arte da Língua
de Angola que, como já dito anteriormente, serviria como recurso para o ensino dos jesuítas e,
ao mesmo tempo, uma tentativa de unificação dos falares bantu. Antes dele, o jesuíta angolano
Manuel de Lima escreveu, em 1580, os livros Catecismo na Língua dos Ardas e Doutrina Cristã,
traduzidos pelo padre jesuíta Baltazar Fernandes para a língua africana. Tudo isso serviria
como recurso para o ensino dos africanos que ingressassem no Brasil. No contexto em que a
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entrada de escravos ainda era incipiente (entre 1582 e 1690, foi estimado que 29.538 africanos
tenham desembarcado na Bahia), a pretensão dos jesuítas parecia ter alguma viabilidade.
A ARTE DA LÍNGUA DE ANGOLA
(Fonte: Amazon.com)
 Livro A Arte da Língua de Angola.
A ação dos jesuítas tinha como público-alvo as populações indígenas. Em relação à população
negra, a escolarização e a catequização se limitavam aos escravos das propriedades jesuíticas,
uma vez que, aos demais, o acesso à educação era extremamente difícil, como lembra o padre
Serafim Leite, historiador da Companhia de Jesus:
OS ESCRAVOS NEGROS NÃO ERAM LIVRES PARA
BUSCAREM A INSTRUÇÃO MÉDIA E SUPERIOR, E CLARO
ESTÁ QUE OS SENHORES NÃO OS COMPRAVAM PARA OS
MANDAR AOS ESTUDOS E FAZER DELES BACHARÉIS OU
SACERDOTES.
(LEITE, 1938-1950:144)
Dessa forma, não havendo um impedimento
legal para que a população negra escravizada
tivesse acesso à educação formal, na prática
era algo quase inacessível, considerando a
brutalidade do regime escravista e as
condições com que eles eram tratados e vistos
pela sociedade em geral como mão de obra
 Execução de punição por flagelo, por Jean-
Baptiste Debret.
para os serviços braçais que dispensavam o
uso do intelecto. Soma-se a isso as ideias
correntes na época sobre a incapacidade dos
negros para aprender e a inaptidão para as
ciências e as letras.
NÃO FOI PRECISO UMA LEI IMPEDINDO O ACESSO
DE ESCRAVOS AOS BANCOS ESCOLARES.
BASTAVA NÃO HAVER UM MECANISMO LEGAL QUE
ESTIMULASSE E CRIASSE TAL OPORTUNIDADE, OU
SEJA, O NÃO DITO ATRAVÉS DO SILÊNCIO DAS LEIS
GRITAVA E ERA BEM COMPREENDIDO POR TODOS.
No entanto, alguns escravos conseguiam acesso à educação formal e aprendiam a ler e a
escrever nas propriedades onde trabalhavam. Isso acontecia, às vezes, pela necessidade do
serviço que eles desempenhavam, por livre iniciativa dos proprietários, que contratavam os
professores régios para ensinar aos seus filhos e, naquele ambiente, o escravo passava a ter
contato com o mundo da escrita e da leitura, ainda que de forma precária.
PROFESSORES RÉGIOS
Com a expulsão dos jesuítas do Brasil em 1759, no âmbito das Reformas Ilustradas
promovidas pelo Marquês de Pombal, houve uma grande lacuna no processo de escolarização
da Colônia, uma vez que as escolas estavam praticamente restritas às dos jesuítas. Naquele
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mesmo ano, Pombal criou o cargo de professores régios, nomeados pela Coroa para suprir
esse espaço.
Outras vezes, a aprendizagem se dava por inciativa do próprio escravo, em contato com outras
pessoas livres que lhes ensinava rudimentos da leitura e da escrita. De todo modo, o que havia
era uma política que negava o acesso do cativo à educação através da completa ausência de
referência a essa situação na legislação da época.
Muitos africanos trazidos como escravos já falavam português e, em alguns casos, sabiam ler
e escrever. Da mesma forma, a maioria dos escravos muçulmanos que foram trazidos para o
Brasil sabiam ler e escrever em árabe e passaram não só a ensinar a língua para outros
escravos nascidos aqui, como também encontraram formas de aprender o português.
 SAIBA MAIS
Em 1469, os portugueses invadiram a região do golfo da Guiné. A partir daí, estenderam seus
domínios por um amplo território da África Ocidental e Oriental. Esse domínio favoreceu a
implantação da política de catequização a partir de ordens religiosas católicas, como os
franciscanos e os jesuítas, que procuravam ensinar os modos de vida europeus, como a língua,
a cultura e a religião.
REFLEXÃO
Veja a seguir um anúncio divulgando aulas de português, publicado em 1821.
Pense sobre as seguintes questões:
O que esse anúncio significava na época?
Para quem ele era direcionado?
Como uma pessoa negra poderia ter acesso a esse conhecimento naquele tempo?
(Fonte: Fundação Biblioteca Nacional, 2020)
 Diário do Rio de Janeiro (RJ) / Ano 1821/Edição 0900021.
BRASIL IMPÉRIO
(Fonte: Wikipedia)
 Independência ou morte, Pedro Américo, 1888.
A ESCOLARIZAÇÃO DO NEGRO APÓS A
INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
Após a Independência do Brasil (1822), a situação da escolarização para a população negra
pouco mudou. A Constituição de 1824, que vigorou por mais de 150 anos, indicava que a
instrução primária era gratuita para todos os cidadãos. O que parecia ser uma posição
igualitária e progressista era o endurecimento, a partir da carta magna, de um impeditivo para a
população escrava e para os africanos de maneira especial acessarem a educação escolar,
uma vez que não eram reconhecidos como detentores dos direitos de cidadão.
 SAIBA MAIS
Os escravos eram considerados instrumentum vocali, não eram humanos,eram instrumentos,
não poderiam ser considerados pessoas e, consequentemente, sujeitos de direitos. Assim
sendo, não tinham direitos de integridade física, à liberdade ou a qualquer outro direito civil
básico. (ALVES, 2005)
A primeira lei voltada para o setor educacional do país e que tratou sobre educação pública, foi
a Lei 15 de outubro de 1827. No entanto, ela se omitia à educação escolar da população negra.
Esta lei ficou em vigência por mais de cem anos, até 1946.
Ao longo de todo o período do Brasil Império, a proposta de ensino visava a construção de uma
comunidade imaginada a partir do modelo eurocêntrico de ensino, que desprezava as demais
formas de conhecimento, privilegiando tanto o acesso à escola quanto a representatividade
dos conteúdos às classes mais abastadas de maioria branca.
COMUNIDADE IMAGINADA
Comunidade Imaginada é um conceito criado pelo historiador e cientista político Benedict
Anderson (1936-2015) que define o descolamento do ensino da comunidade, apresentando
uma realidade nacional que deve ser amada, que é europeia e é hegemônica culturalmente.
Além do mais, o alcance da escolarização continuou bastante limitado por questões
estruturais. Num país com ampla maioria da população vivendo em áreas rurais e com grandes
distâncias a serem percorridas, as poucas escolas e os poucos professores eram insuficientes.
Esses aspectos são importantes para que entendamos as limitações de acesso das
populações pobres, majoritariamente formadas por negros livres e libertos.
SE AS DISTÂNCIAS GEOGRÁFICAS E O CARÁTER
ELITISTA DO MODELO EDUCACIONAL EM VOGA JÁ
LIMITAVAM O ACESSO À EDUCAÇÃO FORMAL,
OUTROS FATORES COMO O TIPO DE TRABALHO
DESTINADO À GRANDE PARCELA DA POPULAÇÃO
NEGRA, LIVRE OU ESCRAVA, COMPLICAVA AINDA
MAIS.
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O trabalho braçal, fosse nas áreas rurais ou nos centros urbanos, era quase que totalmente
exercido por essa parcela da população, numa rotina extenuante que, por si só, era um forte
impeditivo de acesso à educação formal. Isso não se restringe aos adultos. Meninos e meninas
recém-saídos da infância já serviam como domésticos, trabalhadores rurais ou em qualquer
serviço de rua.
CONCURSO DE COMPOSIÇÃO ENTRE ESCOLARES NO
DIA DE SANTO ALEXIS
A aquarela do pintor francês Jean-Baptiste Debret, com data provável de 1839, uma fina crítica
social à escravidão e seu legado no Brasil. Intitulada de Concurso de composição entre
escolares no dia de Santo Alexis, o tema principal que nomeia a pintura ocupa o fundo da tela,
onde se veem crianças brancas com papéis nas mãos apresentando-os a transeuntes.
Em primeiro plano, Debret mostra uma criança negra, descalça e maltrapilha que, com uma
outra escrava adulta (que tem nas mãos alguns livros), segue uma menina da elite,
provavelmente em direção à escola.
(Fonte: History Archive)
 Concurso de composição entre escolares no dia de Santo Alexis (DEBRET, 1839).
A PINTURA É UMA DENÚNCIA DO FOSSO QUE
SEPARAVA, NUM MESMO AMBIENTE, CRIANÇAS
EM SITUAÇÕES SOCIAIS DISTINTAS.
O PRINCÍPIO LENTO E RESISTENTE DA
ESCOLARIZAÇÃO DOS HOMENS NEGROS
(Fonte: Maquiladora / Shutterstock)
O Ato Adicional à Constituição, de agosto de 1834, determinava que as Províncias passariam a
ser as responsáveis por organizar, definir e prover o ensino primário em suas respectivas
localidades.
Esse ato contribuiu ainda mais para a desestruturação da educação formal no país, uma vez
que muitas províncias não estavam preparadas financeiramente nem tecnicamente para isso.
Especialmente aquelas mais afastadas da Corte, como as províncias do Norte (que incluía o
atual Nordeste), aumentando o fosso e limitando o acesso pela população negra.
Nesse contexto da descentralização, várias províncias agiram, efetivamente, no sentido de
segregar o acesso de escravos e libertos à escola: Minas Gerais foi a pioneira, ainda no ano de
1835, determinando que somente as pessoas livres poderiam frequentar as escolas públicas.
Seguem, com o mesmo teor, as províncias de Goiás (1835) e Espírito Santo (1835).
O decreto do Rio Grande do Norte (1836) repetia o mesmo tipo de impedimento sobre a
admissão de alunos que não fossem livres, porém destacava que as professoras poderiam
receber escravas, com a ressalva de que fosse apenas para ensinar as prendas domésticas.
Embora o decreto confirmasse a ideia em vigor na época, a de inaptidão dos negros para as
letras e predisposição para os trabalhos braçais, não deixa de ser um acanhado avanço que,
mesmo assim, pouco durou.
Em 1837, a permissão para aprender prendas domésticas foi revogada. Outras províncias
continuaram a criar seus estatutos de ensino com o mesmo perfil impeditivo aos escravos e,
quase sempre, aos libertos também.
A discussão sobre a importância do acesso à educação para a população escrava e liberta só
voltou à cena em meados da década de 1860, com as discussões em torno da construção da
Lei do Ventre Livre. Um dos principais responsáveis por provocar esse debate foi Aureliano
Cândido Tavares Bastos.
(Fonte: bluelela / Shutterstock)
EDUCAÇÃO
TAVARES BASTOS
Crítico da escravidão, Tavares Bastos associava a presença do regime no Brasil à ignorância da
população livre. Dizia ele:
AURELIANO CÂNDIDO TAVARES BASTOS (1839-
1875)
Foi um político, escritor e jornalista brasileiro. É considerado um precursor do federalismo, por
causa de sua luta contra a centralização administrativa durante o Segundo Reinado.
(Fonte: Academia Brasileira)
 Tavares Bastos.
O QUE HAVEIS DE OFERECER A ESSES ENTES DEGRADADOS
QUE VÃO SURGIR DA SENZALA PARA A LIBERDADE? O
BATISMO DA INSTRUÇÃO. O QUE RESERVAIS PARA SUSTER
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AS FORÇAS PRODUTORAS ESMORECIDAS PELA
EMANCIPAÇÃO? O ENSINO, ESSE AGENTE INVISÍVEL QUE,
CENTUPLICANDO A ENERGIA DO BRAÇO HUMANO, É SEM
DÚVIDA A MAIS PODEROSA DAS MÁQUINAS DE
TRABALHO.
(BASTOS, 1996, p. 254)
Ele via a educação como a chave de mudança para a população que, em breve, livrar-se-ia da
escravidão. Os debates em torno da Lei do Ventre Livre giravam sobre o que fazer com os
ingênuos. Na perspectiva antiescravista e emancipadora de Tavares Bastos, a população saída
do cativeiro deveria passar pela educação formal, oferecida pelo Estado, como forma de estar
apta para a vida em sociedade.
O jogo político em torno da construção da lei, no entanto, não foi favorável e seus resultados
foram pífios. A classe de proprietários escravistas, dos maiores aos menores, ainda se
agarrava aos fiapos da escravidão para defender a diferenciação social.
FOI NO CONTEXTO DE UMA JÁ ACENTUADA CRISE
DO ESCRAVISMO DA DÉCADA DE 1870 QUE MUITAS
PROVÍNCIAS, TALVEZ INFLUENCIADAS POR ESSE
DEBATE DE TAVARES BASTOS, APROVARAM A
CRIAÇÃO DOS PRIMEIROS CURSOS NOTURNOS, O
QUE É VISTO COMO A PRIMEIRA TENTATIVA,
AINDA QUE BASTANTE TÍMIDA ‒ POIS, EM MUITOS
LUGARES, CONTINUOU VALENDO A INTERDIÇÃO
PARA ESCRAVOS ‒ DE POSSIBILITAR O ACESSO DO
TRABALHADOR, MAJORITARIAMENTE NEGRO, NA
EDUCAÇÃO FORMAL. SOMENTE EM 1878, UM
DECRETO PERMITIU A MATRÍCULA DE NEGROS
LIBERTOS MAIORES DE QUATORZE ANOS NOS
CURSOS NOTURNOS.
REFLEXÃO
Veja a seguir o trecho de um documento do ano de 1872, que apresenta algumas informações
sobre o plano de ensino da Escola Noturna de Adultos:
(Fonte: Memória Biblioteca Nacional, 2020)
 Relatório do ano de 1872 apresentado à Assembleia Geral em aditamento ao 8 de maio de
1872.
Reflita sobre a frustração de ser impedido de adquirir esses conhecimentos que, apesar de
básicos, eram negados às pessoas simplesmente por causa da cor de sua pele.
PRINCIPAIS REFORMAS EDUCACIONAIS E SEUS
IMPACTOS NA EDUCAÇÃO DE ESCRAVOS, 
LIBERTOS E PESSOAS NEGRAS LIVRES
A REFORMA LEÔNCIO CARVALHO (1879)
Derrubou o veto sobre a frequência dos escravos nas escolas públicas, levando alguns
escravizados a frequentarem escolas profissionais e, a partir daí, multiplicar o que aprendiam
com outros negros em espaços informais, às vezes na própria senzala.
A REFORMA RIVADÁVIA CORREIA (1911)
Foi um ponto de inflexão nos pequenos avanços da reforma anterior,pois implantou a
realização de exames admissionais e a cobrança de taxas nas escolas, limitando o acesso da
maior parcela da população à educação formal.
CARLOS LEÔNCIO DA SILVA CARVALHO (1847-
1912)
Foi um advogado, professor e político brasileiro que defendia a educação de adultos, os cursos
noturnos e inserção de escravos nas escolas.
RIVADÁVIA DA CUNHA CORREIA (1866-1920)
Ministro da Justiça e dos Negócios Interiores, criou o vestibular em 1911.
O fim da escravidão legou àquela população recém-saída do cativeiro e, por consequência, aos
seus descendentes, um ocultamento. Incorporada no conjunto da sociedade brasileira, teve
suas necessidades específicas limitadas e seus direitos sociais silenciados, sendo posta à
margem da jovem República.
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POLÍTICOS E SENHORES DE ESCRAVOS, EM SUA
MAIORIA, SEMPRE SE POSICIONARAM
CONTRÁRIOS AO ACESSO DE ESCRAVOS E
LIBERTOS À EDUCAÇÃO FORMAL. PARA ELES ERA
INIMAGINÁVEL VER SEU ESCRAVO OU UM EX-
ESCRAVO (LIBERTO) DIVIDINDO OS MESMOS
ESPAÇOS FÍSICOS (ESCOLA) E SIMBÓLICOS
(CONHECIMENTO) COM SEUS FILHOS.
A alforria conquistada pelo escravo, na maioria das vezes, não era sinal para a mudança de
tratamento. Ser liberto ainda era ser considerado de segunda classe, o que levava muitos
senhores a conservarem o tratamento hierarquizado que consistia, entre outras coisas, em ter
privilégios sobre o acesso a determinados espaços.
Como veremos a seguir, foi com a insistente e longa luta dos movimentos negros que essa
população conseguiu avanços mais significativos no campo educacional brasileiro.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
 Reconhecer o caráter histórico das políticas afirmativas instituídas no Brasil e o
protagonismo dos movimentos negros
BRASIL REPÚBLICA: A ESCOLHA DO
PROTAGONISMO
Até o momento, o desenvolvimento deste estudo nos deu a mesma e tradicional impressão
trazida da escola: quem conta a história dos homens negros é o outro, são padres,
historiadores, políticos...
A voz afrodescendente esteve distante: não que não existisse, contudo era silenciada,
esbranquiçada, como pudemos ver com os Rebouças ou Machado de Assis. Ainda que
tenhamos apresentado homens negros que se valeram das oportunidades e espaços para se
manifestar, seus discursos ‒ mesmo o abolicionista ‒ não se posicionaram como uma luta
pessoal, mas como uma luta pelos outros.
Com a República, a ampliação das possibilidades de acesso permitiu a formação de
movimentos singulares, que nos deram a oportunidade de conhecer essa história através do
lugar correto de fala, ou seja, dos grupos que ali viveram!
VAMOS CONHECER UM POUCO MAIS SOBRE ISSO?
DEVEMOS LEMBRAR QUE A CONSTITUIÇÃO DE
1891 FOI PARTICULARMENTE CRUEL COM ESTA
POPULAÇÃO, UMA VEZ QUE CRIOU MECANISMOS
DE CONTROLE SOCIAL FORTEMENTE
DIRECIONADOS PARA O COMPORTAMENTO E AS
TRADIÇÕES DESSAS COMUNIDADES. OU SE VIVIA
COMO OS BRANCOS, COMO DETERMINAVA A
CIVILIZAÇÃO, OU ESTARIAM EXCLUÍDOS.
INTRODUÇÃO
Vejamos o que diz o jornal O Alfinete, trinta anos após a Abolição:
O MOVIMENTO NEGRO E A DITADURA
VARGAS
O Movimento Negro sofreu um duro golpe durante a ditadura Vargas. Ao dissolver os partidos
políticos existentes e proibir a criação de novos, o decreto de dezembro de 1937, baixado pelo
presidente Getúlio Vargas, impactou negativamente no ainda incipiente acesso de negros ao
ensino oficial ao proibir atividades de grupos como as do Movimento Negro, visto como
perigoso pelo regime.
(Fonte: Biblioteca Nacional, 2020)
 Grupo tirado em frente à sede da Delegação da F. N. B. [Frente Negra Brasileira].
ABDIAS DO NASCIMENTO
Em 1944, Abdias do Nascimento, militante e intelectual negro, criou no Rio de Janeiro o Teatro
Experimental do Negro, que buscava promover os valores da cultura negra e o combate ao
preconceito racial, mascarado pelo ideal de democracia racial.
(Fonte: Integralismo)
 Abdias do Nascimento.
Esse foi o primeiro movimento a defender a criação de uma legislação antirracista e a
denunciar escolas que não aceitavam alunos negros e livros infantis e didáticos que
alimentavam o preconceito racial em seus textos e imagens.
O grupo ainda teve profunda participação na elaboração de um manifesto com reivindicações
dos movimentos negros para serem incorporadas na Constituição de 1946.
AQUELE FOI O PRIMEIRO DOCUMENTO A TRATAR
SOBRE PROPOSTAS DE AÇÕES AFIRMATIVAS
COMO COMPENSAÇÃO DAS DESIGUALDADES
DERIVADAS DA ESCRAVIDÃO. ALI, TAMBÉM, SE
APRESENTAVA UMA PAUTA DE REIVINDICAÇÕES
DE NEGROS PARA NEGROS NA EDUCAÇÃO.
AÇÕES AFIRMATIVAS
Entende-se por ações afirmativas o conjunto de medidas especiais voltadas a grupos
discriminados e vitimados pela exclusão social ocorrida no passado ou no presente. As ações
afirmativas são preventivas e reparadoras no sentido de favorecer indivíduos que
historicamente são discriminados. (MEC, 2020)
A proposta acabou não recebendo o apoio dos constituintes que insistiam na defesa de que
havia democracia racial no país e esse tipo de lei provocaria divisões que, até então, segundo
eles, não existiam.
A LEI 10.639/03 E SEUS (DES)CAMINHOS
Apenas no ano de 2003 foi instituída a mais ampla legislação antirracista no sistema
educacional do Brasil, a lei 10.639/03. A ideia era de que o racismo precisava ser combatido a
partir da escola, curricularizando a história e a cultura da África e dos afrodescendentes.
Essa lei, no entanto, teve um longo caminho, vejamos mais sobre os principais marcos que
contribuíram para sua formação:
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1950
I Congresso do Negro Brasileiro, ainda em 1950, promovido pelo Teatro Experimental Negro, no
Rio de Janeiro. Ali se discutiu, entre outras coisas, a possibilidade de inclusão da História da
África e dos africanos, da luta dos negros no Brasil e da sua participação na formação da
sociedade e da cultura brasileiras nos programas escolares.
1961
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961 deu um passo nesse sentido ao
condenar qualquer tratamento desigual por motivo de convicção filosófica, política ou religiosa,
bem como a quaisquer preconceitos de classe ou de raça.
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1964
Com o golpe militar de 1964 e a instauração da ditadura no Brasil, o Movimento Negro teve
perdas em suas ações devido às constantes perseguições aos seus membros.
1970
Somente nos anos de 1970 o movimento negro conseguiu se rearticular, muito influenciado
pelas conquistas então obtidas pelo movimento negro nos Estados Unidos e na luta de Rosa
Parks, Martin Luther King, Malcom X e os Panteras Negras pelos direitos civis. Os anos 1970
também foram os mais duros no enfrentamento da ditadura no Brasil, quando os militares
chegaram a infiltrar pessoas dentro do recém-criado MNU (Movimento Negro Unificado) para
espionar as ações. Nesse período, os militares usaram o mito da democracia racial como
política de Estado e o ato de questionar o racismo no país era visto como subversivo.
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
1980
Quando começaram as manifestações em torno da redemocratização, no início dos anos 1980,
as manifestações antirracistas se confundiam com o movimento Diretas Já, apontando que a
democracia só poderia vigorar com a inclusão dos negros de fato na sociedade.
1986
Na convenção nacional O negro e a Constituinte, em 1986, foi aprovada a proposta para que a
Constituição Federal, em discussão naquele momento, definisse a educação como meio de
combate ao racismo e à discriminação, bem como tornasse obrigatório o ensino de história
das populações negras no Brasil.
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MANIFESTAÇÕES
Pode parecer atual, mas a fotografia abaixo é de 1981.
(Fonte: Biblioteca Virtual Consuelo Pondé, 2020)
 Revista MNU, n° 4, jul./ago. de 1981. p. 5.
MAIS UMA VEZ A PROPOSTA DO MOVIMENTO
NEGRO FICOU DE FORA. OS CONGRESSISTAS
ALEGARAM QUE SE TRATAVA DE UMA QUESTÃO
ESPECÍFICA E QUE POR ISSO DEVERIA SER
TRATADA NUMA LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR.
Porém, a Constituição Cidadã, aprovada em 1988, implementou algumas reivindicações do
Movimento Negro:
1. Reconheceu a Educação de Jovens e Adultoscomo direito para quem não teve acesso à
escolarização;
2. Classificou o racismo como crime inafiançável e imprescritível (posteriormente, a lei
7716/1989 definiu os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor);
3. Reconheceu a diversidade da composição da população brasileira, indicando a necessidade
de que o currículo escolar contemplasse tal discussão;
4. Legalizou o direito de posse da terra às comunidades quilombolas e definiu a criação da
Fundação Cultural Palmares.
Mesmo com os avanços e o respaldo constitucional, na prática, as mudanças na política
educacional da década de 1990 foram pequenas. A lei 9.394/96 das Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, não incorporou nenhum tratamento específico à questão racial nas
escolas.
JÁ OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS
TRATARAM A TEMÁTICA RACIAL DILUÍDA DENTRO
DE UMA GRANDE ÁREA DENOMINADA DE
PLURALIDADE CULTURAL, SEM CURRÍCULO
ESPECÍFICO E QUE DEVERIA SER ABORDADO DE
FORMA TRANSVERSAL NAS DIVERSAS
DISCIPLINAS, ESVAINDO ALGUMAS DAS
REIVINDICAÇÕES MAIS IMPORTANTES DO
MOVIMENTO NEGRO, COMO A CRIAÇÃO DE UMA
DISCIPLINA SOBRE A HISTÓRIA DA ÁFRICA E A
INCORPORAÇÃO DAS DISCUSSÕES RACIAIS DE
FORMA MAIS OBJETIVA.
No mesmo período, o Movimento Negro pautava suas lutas em torno do acesso do negro ao
Ensino Superior, estimulando a criação de cursos pré-vestibulares para esse público.
LEI DE COTAS
Outra frente encampada pelo movimento, ainda no final dos anos 1990, foi a luta pelas cotas
no Ensino Superior.
 IMPORTANTE
A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), durante a reitoria de Nilcea Freire, foi a
primeira universidade do país a criar um sistema de cotas em vestibulares por meio de uma lei
estadual que estabelecia 50% das vagas do processo seletivo para alunos egressos de escolas
públicas cariocas, mas foi a Universidade de Brasília (UnB) a pioneira em criar e implantar uma
política de ações afirmativas para negros em seu vestibular de 2004.
NILCEA FREIRE
(Fonte: Wikipedia)
 Nilcea Freire, 2007. Agência Brasil.
As ações que eram tomadas de forma individualizada pelas universidades federais e estaduais
fortaleceram-se com a lei 12.711/2012, conhecida como Lei de Cotas, a qual destina metade
das vagas das universidades, institutos e centros federais de educação para estudantes
oriundos de escolas públicas.
Sem a possibilidade de as instituições públicas absorverem a totalidade da secular demanda
da população negra por ensino superior, foi criado um mecanismo de concessão de bolsas de
estudo para afrodescendentes em faculdades privadas: o PROUNI. A distribuição das vagas,
tanto no sistema de cotas quanto no de bolsas, leva em conta critérios raciais e sociais.
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A APROVAÇÃO DAS COTAS RACIAIS NÃO
OCORREU SEM POLÊMICA. A AÇÃO FOI
JUDICIALIZADA DIVERSAS VEZES POR GRUPOS
POLÍTICOS E ENTIDADES QUE QUESTIONAVAM A
VALIDADE E A NECESSIDADE DA INICIATIVA, COM
ARGUMENTOS QUE RETOMAVAM PREMISSAS DO
MITO DA DEMOCRACIA RACIAL.
ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL
Num contexto mais amplo de políticas públicas antidiscriminatórias e reparadoras, inclui-se o
Estatuto da Igualdade Racial, aprovado em 2003, também após longa polêmica.
O estatuto abarca os diversos setores da sociedade e instrui procedimentos para atuar na
diminuição das desigualdades e na adoção de políticas afirmativas para a população negra.
Atualmente, tem sido rotineiro o recurso, por parte da Justiça, ao Capítulo III do Estatuto, que
versa sobre o direito à liberdade de consciência e de crença e ao livre exercício dos cultos
religiosos.
O racismo mal resolvido no país tem se manifestado em crimes de diversas formas contra
participantes, religiosos ou locais de culto de religiões de matriz africana.
No campo simbólico, é preciso destacar a Marcha Zumbi contra o Racismo, pela Cidadania e a
Vida, em 1995, marco do tricentenário da morte de Zumbi dos Palmares. A marcha, devido à
sua repercussão pública, foi uma das primeiras estratégias dos movimentos negros para
deslocar o foco das atenções da data da Abolição da Escravatura, 13 de maio, para o dia 20 de
novembro, em razão do Dia Nacional da Consciência Negra.
(Fonte: Rodrigo S Coelho / Shutterstock)
 Celebração do Dia da Consciência Negra, 2019. Rodrigo S Coelho.
A TEMÁTICA DA REPARAÇÃO PARA OS
DESCENDENTES DOS ESCRAVIZADOS SEMPRE
ESTEVE EM VOGA, MAS NUNCA FOI UNANIMIDADE,
NEM MESMO DENTRO DO MOVIMENTO NEGRO NO
BRASIL.
Sob inspiração dos debates sobre reparação que ocorrem nos Estados Unidos desde o fim da
segregação racial, alguns membros dos movimentos negros, na década de 1990, discutiram a
viabilidade de propor ações reparatórias de cunho financeiro para a população negra.
Outros, porém, foram contrários a essa pauta, alegando que o pagamento monetário provocaria
um posterior silenciamento e esquecimento sobre a escravidão e suas consequências, além de
que, ao contrário dos Estados Unidos que adotam a política de One-drop rule, no Brasil haveria
uma enorme dificuldade em estabelecer os critérios de identificação de cor, devido às múltiplas
formas com que as pessoas negras se reconhecem.
ONE-DROP RULE
O modelo americano é com base no fenótipo, uma gota de sangue negro garante os direitos de
cota.
 IMPORTANTE
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Ao final, prevaleceram como estratégia as reivindicações de medidas reparatórias de caráter
social e educacional, na forma de ações afirmativas.
RESUMINDO
A trajetória nos mostrou que a atuação dos movimentos negros foi fundamental para a
construção e implementação de políticas de ações afirmativas no Brasil, especialmente no
campo educacional.
Vimos, também, que o foco na educação não foi por acaso, mas historicamente sempre foi
visto pelos movimentos negros como o principal mecanismo que poderia favorecer a
diminuição das desigualdades econômicas e sociais entre brancos e negros no Brasil.
REFLEXÃO
Você, estudante que está acompanhando este tema, pode estar pensando:
Caro, conforme anunciado no início do módulo, a proposta é que você possa definir o caráter
histórico. Neste sentido, conforme aprendemos com a História, seu discurso não é uma
verdade, mas uma análise, a escolha de documentações, a investigação de um determinado
ponto de vista.
A História do Brasil Republicano foi vista e revista diversas vezes, trata-se do discurso político,
do conhecimento de dinâmicas gerais. A definição que pretendemos, que escolhemos, não é
essa. Definimos aqui investigar e entender a construção histórica do discurso do movimento
negro ao longo dos séculos XX e XXI no que tange à educação.
Que discurso é esse, que movimentos homens e mulheres negras organizaram e defenderam
no Brasil pós-abolição? A proposta é conhecermos os fundamentos de suas lutas e as ações
tomadas ao longo destes últimos 150 anos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
 Analisar os debates sobre as desigualdades raciais no contexto escolar
INTRODUÇÃO
Vimos a posição dos negros na história do Brasil, no que tange à educação, depois, buscamos
a voz dos movimentos negros e suas ações efetivas ao longo dos séculos XX e XXI.
Precisamos, a partir de agora, pensar como essas demandas se manifestam na escola hoje.
Neste vídeo você conhecerá um pouco da história de homens e mulheres negros, mostrando
suas lutas, dificuldades enfrentadas por conta da cor de sua pele e o processo de superação.
EDUCAÇÃO E DESIGUALDADES SOCIAIS E
RACIAIS
A primeira questão, a raça, já foi detectada como um fator de exclusão, identificação e luta.
Mas, será que a única definição do sujeito e as manifestações da exclusão na escola se dão
somente pela percepção de sua etnia? Claro que não.
NA ESCOLA, A DIFÍCIL QUESTÃO ÉTNICA VEM
ACOMPANHADA DAS QUESTÕES DE GÊNERO ‒ A
VIOLÊNCIA RACISTA É DIFERENTE NO QUE SE
REFERE A HOMENS E MULHERES ‒ E QUESTÕES
ECONÔMICAS.
Neste caldeirão é que identificaremos os locais e as vertentes desses debates, assim como,
principalmente, tentaremos entender a escola em meio a uma sociedade marcada por
conflitos.
Observe os gráficos abaixo:(Fonte: IBGE)
 IBGE, 2018.
O gráfico aponta para uma evidente desigualdade entre pessoas brancas e negras (pretos e
pardos) que se faz materializar pelos dados referentes ao analfabetismo no Brasil atual.
CENSO DE 1872
Tal situação não é nova. O Censo de 1872 foi o primeiro a ser realizado nacionalmente, um ano
após a Lei do Ventre Livre, mas ainda em plena vigência da escravidão, e mostra uma
sociedade com o marcador racial evidenciado nas desigualdades educacionais em que o
analfabetismo era a regra.
O Brasil tinha 81,43% da sua população livre (brancos e pessoas de cor) analfabeta. Em relação
à população escrava, a exclusão era ainda maior, uma vez que a condição de escravo
praticamente o impedia de ter acesso à escolarização: apenas 1.403 escravos sabiam ler e
escrever, em todo o Brasil, sendo:
(Fonte: tereza ferreira / Shutterstock)
 Mapa brasileiro dividido por região.
Num recorte específico para a Bahia, os números não se alteravam tanto em relação ao cenário
nacional: no censo de 1872, 79,44% da população livre era analfabeta. Excluindo os menores de
5 anos, o analfabetismo alcança 75,88%, ou seja, de cada dez pessoas, só duas sabiam ler e
escrever.
Nesse conjunto, pretos e pardos constituíam apenas 8,06%. Já os dados de 1890, dois anos
após a Abolição e com a República recém-implantada, mostram que pretos e pardos na Bahia
estavam alfabetizados em um percentual aproximado de 14,8%, e em 1940, o grupo alcançou
20,6%, ou seja, em 50 anos de implantação da República o número de alfabetizados entre
pretos e pardos cresceu apenas 5%.
(Fonte: Katarinanh / Shutterstock)
 Mapa dos estados brasileiros.
Pelo exposto até aqui, dois pontos ressaem da discussão:
1
O primeiro é que raça é um marcador importante para se entender o passado e o presente do
Brasil.
2
O segundo, mostra que não dá para refletir sobre educação sem considerar as desigualdades
sociais e raciais.
Antes de avançar, vejamos os principais conceitos que ajudam a interpretar as relações étnico-
raciais no Brasil:
RAÇA
RAÇA, GÊNERO E CLASSE
RACISMO
RAÇA
Diversos intelectuais e militantes dos movimentos negros, tanto no Brasil quanto nos Estados
Unidos, são contrários ao uso do termo raça. Defendem que, além de não haver raças
biológicas, o termo raça reifica uma categoria política abusiva.
REIFICA
Reifica vem do verbo reificar. O mesmo que: coisifica. (DICIO, 2020)
Outros tantos pesquisadores, porém, continuam utilizando o termo raça como uma categoria
social. Isso se deve a alguns fatores:
1. A existência de grupos que se identificam e são identificados a partir de marcadores
derivados da ideia de raça;
2. A sociedade brasileira ainda possui hierarquias e desigualdades que correspondem a esses
marcadores.
RAÇA, GÊNERO E CLASSE
De acordo com Guimarães (1999), o intelectual Thales de Azevedo, em 1955, já chamava
atenção para a Interseccionalidade, raça e classe, afirmando que, no Brasil, os pobres são
pretos e os ricos são brancos. Tal discrepância, segundo ele, era consequência do passado
escravista.
INTERSECCIONALIDADE
Interseccionalidade é o estudo da sobreposição ou intersecção de identidades sociais e
sistemas relacionados de opressão, dominação ou discriminação. (DE MORAES; DA SILVA,
2017, p. 58-75)
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EMBORA ESSE TIPO DE DISCURSO, QUE CULPA
EXCLUSIVAMENTE O PASSADO PELOS
PROBLEMAS DO PRESENTE, SEJA UM EQUÍVOCO
POR ISENTAR AS GERAÇÕES ATUAIS DA
REPONSABILIDADE PELA PERSISTÊNCIA DAS
DESIGUALDADES, NÃO DEIXA DE CONTRIBUIR
PARA AS REFLEXÕES SOBRE AS MAZELAS DA
ESCRAVIDÃO QUE NÃO SE ENCERRAM NO 13 DE
MAIO DE 1888.
Nesse contexto, as desigualdades apresentam um peso extremamente relevante quando se
inclui a questão de gênero na análise. Conquanto a questão da emancipação feminina esteja
em pauta, ela se torna mais viável de ser alcançada por mulheres brancas e de classe média e
alta do que por mulheres pobres, geralmente negras.
Dessa forma, raça, classe e gênero se sobrepõem numa miríade de situações que implicam de
forma concreta a vida dessas pessoas. A escola faz parte dessa vida concreta e é impactada
pelas questões apontadas.
RACISMO
A ideia de que a sociedade brasileira era formada por indivíduos multiétnicos em que não
haveria conflitos derivados da cor das pessoas, as quais viviam numa espécie de paraíso racial
nos trópicos, foi a base do mito da democracia racial. O próprio Gilberto Freyre não conseguiu
interpretar a sociedade de sua época e perceber que as múltiplas formas da população negra
se identificar ou ser identificada as aproximava ou distanciava do mundo da escravidão e de
suas consequências.
 EXEMPLO
As sutilezas da língua portuguesa, ainda hoje, são exploradas no processo formal ou informal
de autoidentificação racial, muitas vezes incluindo o sufixo inho ‒ moreninho, por exemplo, para
se referir a alguém da cor preta ‒, ou, como identificou o pesquisador Livio Sansone (2003),
utilizando-se de uma das mais de trinta formas do negro ser identificado ou se referir à própria
cor, eram tentativas de branqueamento para driblar as manifestações concretas do racismo no
dia a dia das pessoas. Assim, o uso de identificadores de cor, como cabo-verde, sarará, mulato,
pretinho etc., a depender da situação, pode tanto disfarçar um racismo quanto ser a tentativa de
se encaixar aos padrões de uma sociedade que enaltece a branquitude como valor e referência.
Para o pesquisador Silvio de Almeida (2018), há três concepções do racismo:
RACISMO INDIVIDUAL
Se apresenta como uma atitude pessoal do indivíduo.
RACISMO INSTITUCIONAL
Que considera o racismo apenas o resultado de um mau funcionamento das instituições.
RACISMO ESTRUTURAL
É parte da sociedade e está presente nos variados espaços em que naturaliza, deslegitima ou
banaliza as desigualdades de cunho racial.
ACRESCENTA-SE A ESTES UM QUARTO MODELO
DE RACISMO, QUE INTEGRA O COTIDIANO
BRASILEIRO DE FORMA BASTANTE AMPLA: O
RACISMO RECREATIVO.
Segundo Adilson Moreira (2019), trata-se de uma prática que utiliza o humor para hostilizar
minorias raciais. É um mecanismo de propagação de manifestações racistas sob o argumento
“É só uma piada”.
O racismo é a manifestação do ódio para com o outro. Um ódio que pode ser mais ou menos
disfarçado.
O racismo, enfim, por ter diversas faces e, muitas vezes, ser disfarçado, quase imperceptível,
mina todo o tecido social e se encarna nos diversos espaços. A escola, como parte desse
conjunto, não está imune a ele. É o que discutiremos a seguir.
Veja a seguir, este vídeo que aborda uma situação do cotidiano escolar, na qual o racismo e o
preconceito surgem disfarçados de piada e humor.
POBREZA E VIOLÊNCIA CONTRA NEGROS:
“VIDAS NEGRAS IMPORTAM!”
ASSASSINATOS
Segundo dados da Organização das Nações
Unidas (ONU), no Brasil, sete em cada dez
pessoas assassinadas são negras. Na faixa
etária de 15 a 29 anos, são cinco vidas
perdidas para a violência a cada duas horas.
De 2005 a 2015, enquanto a taxa de homicídios
por 100 mil habitantes teve queda de 12% para
os não negros, entre os negros houve aumento
de 18,2%.
Segundo pesquisa realizada em 2017 pela
Secretaria Especial de Políticas de Promoção
da Igualdade Racial (SEPPIR) e pelo Senado
Federal, 56% da população brasileira concorda
com a afirmação de que “A morte violenta de
um jovem negro choca menos a sociedade do
que a morte de um jovem branco”.
 ATENÇÃO
Conforme dados recentemente divulgados pelo UNICEF, de cada mil adolescentes brasileiros,
quatro vão ser assassinados antes de completar 19 anos. Se nada for feito, serão 43 mil
brasileiros entre os 12 e os 18 anos mortos de 2015 a 2021, três vezes mais negros do que
brancos. Entre os jovens, de 15 a 29, nos próximos 23 minutos, uma vida negra será perdida.
Esses dados revelam como o racismo está
presente na sociedade e como a população
negra está mais exposta à violência. Quando
tratada pela grande mídia e pelos governos, na
maioria das vezes, esconde-se o perfil racial
dasvítimas de violência, igualando todos sob
números que são representados na expressão
abstrata de violência urbana.
Da mesma forma, raramente, as notícias sobre
a violência associam o perfil racial ao problema
da desigualdade de renda. Tanto a ONU quanto
os movimentos negros no Brasil têm provocado
uma série de debates nos últimos anos em
relação ao que denominam de encarceramento
em massa da população negra.
Intelectuais e ativistas norte-americanos têm
discutido isso já há algum tempo, porém, mais
recentemente é que tem ganhado espaço nos
debates políticos e jurídicos no Brasil,
especialmente quando dados do sistema
carcerário nacional vêm à tona.
FILTRAGEM RACIAL
Homens jovens afrodescendentes correm maiores riscos de serem apreendidos na rua por
ocasião da filtragem racial, ou seja, a prática da abordagem de pessoas tidas como suspeitas
usando o critério racial.
Os índices apontam que a violência policial e as mortes são alarmantemente mais altas
quando homens negros se encontram com agentes de polícia, levando-os à detenção,
encarceramento e sujeitos a penas maiores com mais frequência, incluindo prisão perpétua e
pena de morte nos locais onde são adotadas.
A FILTRAGEM É AGRAVADA QUANDO SE TRATA DE
ALGUÉM QUE NÃO TEM BOA APARÊNCIA,
GERALMENTE UM NEGRO POBRE, COMPROVADA
PELAS ROUPAS, TIPO DE EMPREGO (OU SER
DESEMPREGADO), LOCAL ONDE MORA, GRAU DE
ESCOLARIDADE (OU TER UMA ESCOLARIZAÇÃO
PRECÁRIA).
Mulheres e meninas negras, por sua vez,
sofrem discriminações múltiplas com base na
condição socioeconômica e/ou de gênero. Em
muitos países, mulheres afrodescendentes têm
acesso limitado a educação, trabalho e
segurança. Além de enfrentar os problemas
dos homens negros, elas encontram-se mais
vulneráveis à violência de gênero, ao
rebaixamento intelectual e estão expostas ao
feminicídio.
Embora os negros e negras sejam 54% da população brasileira, são 64% das pessoas privadas
de liberdade. Os brancos e brancas, sendo 46% da população total, são 35% das pessoas no
sistema carcerário.
O perfil racial dos privados de liberdade é uma
consequência da filtragem racial, que implica na
abordagem, investigação e indiciamento de
mais pessoas negras que brancas
proporcionalmente, ou seja, o negro, pela sua
cor, já passa por um processo seletivo da boa
aparência durante as abordagens policiais. Mas
não só: essas abordagens normalmente são
direcionadas para os bairros periféricos, onde a
maioria dos moradores são negros, ou em
atividades em que predominem esse público,
como bailes funks, festas de hip-hop ou
pagode, as boates e bares dos subúrbios.
 IMPORTANTE
Os dados do IBGE para o ano de 2019 apontam que a população negra superou o número de
pessoas brancas nas universidades públicas, alcançando 50,3%. No entanto, a taxa de jovens
negros entre 18 e 24 anos cursando o ensino superior é de 56%, enquanto a de brancos é de
79%.
A violência que afeta de forma majoritária a população negra tem impactos negativos na
educação desse público de diversas formas, algumas delas invisibilizadas, por exemplo, o
aluno negro que mora na periferia e precisa estudar à noite nem sempre consegue manter uma
frequência na escola ou, mesmo, condições de se matricular.
Muitas vezes, ele teme ser confundido com um bandido e teme pela sua segurança na volta
para casa. Outras tantas vezes, suas condições econômicas são empecilhos, pois o custo do
transporte e o material escolar ultrapassam o parco orçamento. As condições de trabalho
sugam suas energias e ele dispõe de pouco tempo livre.
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PARCO
Característica do que é poupado ou econômico. (DICIO, 2020)
Não é possível desconsiderar os problemas estruturais de se ter escola funcionando nas
proximidades de casa ou que haja transporte público com regularidade e segurança. Esse
conjunto de dificuldades no acesso e na permanência na escola ou universidade se agrava
quando se considera a questão de gênero, na qual a mulher, muitas vezes, exerce o papel de
dona de casa e mãe, mesmo trabalhando fora.
NO MERCADO DE TRABALHO, OS DADOS SÃO MAIS
ALARMANTES. O IBGE CONSTATOU QUE,
INDEPENDENTEMENTE DO NÍVEL DE INSTRUÇÃO, O
SALÁRIO DE BRANCOS É SUPERIOR EM
OCUPAÇÕES FORMAIS E INFORMAIS. O
RENDIMENTO MÉDIO DE NEGROS E PARDOS É DE
R$1.608, CONTRA R$2.796 DE BRANCOS.
Entre os 10% da população com os maiores rendimentos, apenas 27,7% eram negros ou
pardos. Por outro lado, os negros ou pardos representavam 75,2% do grupo formado pelos 10%
da população com os menores rendimentos. O rendimento médio domiciliar per capita da
população branca (R$1.846) era quase duas vezes maior do que o da população negra ou
parda (R$934).
 ATENÇÃO
O IBGE ainda mostra que, enquanto 15,4% dos brancos do país estão na faixa da pobreza,
32,9% dos negros compõem a parcela de brasileiros que vivem com o equivalente a US$5,50
por dia. Na linha da extrema pobreza, com rendimento de até US$1,90 por dia, estão 3,6% dos
brancos e 8,8% dos negros e pardos.
Por fim, vale lembrar o que o importante sociólogo Florestan Fernandes (1978), disse sobre a
soma dessas desigualdades que afetam primordialmente a população negra:
HÁ UM GENOCÍDIO INSTITUCIONALIZADO, SISTEMÁTICO,
EMBORA SILENCIOSO. AÍ NÃO ENTRA NEM UMA FIGURA
DE RETÓRICA NEM UM JOGO POLÍTICO. (...) A ABOLIÇÃO,
POR SI MESMA, NÃO PÔS FIM, MAS AGRAVOU O
GENOCÍDIO; ELA PRÓPRIA AGRAVOU O GENOCÍDIO; ELA
PRÓPRIA INTENSIFICOU-O NAS ÁREAS DE VITALIDADE
ECONÔMICA, ONDE A MÃO DE OBRA ESCRAVA AINDA
POSSUÍA UTILIDADE. E, POSTERIORMENTE, O NEGRO FOI
CONDENADO À PERIFERIA DA SOCIEDADE DE CLASSES,
COMO SE NÃO PERTENCESSE À ORDEM LEGAL. O QUE O
EXPÔS A UM EXTERMÍNIO MORAL E CULTURAL, QUE
TEVE SEQUELAS ECONÔMICAS E DEMOGRÁFICAS.
(FERNANDES, 1978)
POBREZA E RACISMO EM PERSPECTIVA
DIDÁTICA NA ESCOLA
Diversas pesquisas sobre relações raciais na escola apontam problemas de relacionamento
das crianças negras no espaço escolar. Esses problemas se originam muito mais cedo do que
comumente se discute.
Uma pesquisa apontou que crianças negras de 4 a 6 anos, na etapa da Educação Infantil,
portanto, já apresentam na escola uma identidade negativa sobre si mesmas, enquanto que na
mesma pesquisa foi observado que crianças brancas, na mesma idade, manifestaram um
sentimento de superioridade e, não raro, posturas preconceituosas.
Sem a intervenção dos professores, as atitudes preconceituosas entre crianças nessa idade
acabavam sendo recorrentes nas escolas pesquisadas (CAVALLEIRO, 2000).
Para além das práticas educativas ou da ação direta de professores, crianças brancas e negras
trazem para a escola um amplo repertório de comportamentos e experiências de vida do lugar
em que moram e da relação que possuem com sua família.
Crianças negras, pobres e periféricas tendem a se ver com um olhar negativo, diante da
experiência de vida dos seus colegas de classe brancos e de classes mais privilegiadas. É o
sentimento de inferiorização pelo tipo de roupa que vestem, pela merenda e material escolar
que carregam e pelo relato de suas vivências cotidianas.
A DIFERENÇA E O DIFERENTE, QUANDO NÃO
RECEBEM O DEVIDO TRATAMENTO PEDAGÓGICO,
DEIXAM DE SER VISTOS COMO VALORES E
PASSAM A SER ENCARADOS COM
ESTRANHAMENTO, PRODUZINDO
DISTANCIAMENTO E, MUITAS VEZES, EXCLUSÃO.
Da mesma forma, há um forte impacto das condições de trabalho dos pais em relação à
afetividade das crianças. Crianças cujos pais possuem um regime de trabalho precário e que
ocupa longas horas do dia tendem a internalizar mais o sentimento de inferioridade.
Considerando que no Brasil a grande massa de trabalhadores precarizados são negros, é
possível somar mais esse item na lista de condições externas que produzem a inferiorização
dessa população a partir da autoimagem.
Embora as questões raciais apareçam muito cedo nas escolas, há uma dificuldade desse tema
receber o devido tratamento. Muitas vezes, limita-se à abordagem da cultura e da religiosidade
negras em datas específicas que, não raro, descambam para a folclorização, incrementandoo
preconceito.
 ATENÇÃO
Há uma tendência em encarar o comportamento discriminatório ou mesmo racista da criança
como bullying ou, tão grave quanto, desvalorizar as dificuldades de autoaceitação,
empoderamento e construção da autoestima da criança negra. Com mais de quinze anos, a lei
10.639/03, tem alcançado poucos avanços.
Outro elemento didático que cria estereótipos e ainda contribui para o estabelecimento de
atitudes racistas é o livro didático. Durante muito tempo, a população negra foi representada
nos livros didáticos e paradidáticos de forma estereotipada (o exotismo das danças e comidas
típicas; os músculos do capoeirista; a sensualidade da sambista; a preguiça do trabalhador,
entre tantos outros exemplos encontrados nas representações do negro em músicas, imagens
e na literatura) e, muitas vezes, inferiorizada.
 EXEMPLO
Nos livros de História, por exemplo, resumia-se a presença do negro na escravidão,
estigmatizando a sua história a um contexto de violência e humilhação, no qual muitas
crianças e jovens periféricos convivem diariamente e que não lhes serve de referência numa
perspectiva de alternativa de vida.
Conforme Silva (2005), os estereótipos não só afetam a autoestima como produzem
preconceitos. A deficiência do material didático pode fazer do professor um reprodutor
inconsciente de estereótipos. Os movimentos negros, como vimos, principalmente a partir dos
anos 1980, reivindicaram mudanças que, mesmo com a lei 10.639/03, ainda são insuficientes.
Há um processo de resistência e insurgência
de alunos negros diante do desconforto
provocado pelo material didático, pelo currículo
e pela didática da escola: a evasão.
Muitas vezes tratada como uma consequência
das condições materiais de vida ou de trabalho,
a evasão também é uma forte reação de alunos
negros diante de um modelo de educação que
não lhe enxerga enquanto sujeito e que, quando
o inclui, é de forma estereotipada.
Nem todo aluno negro sabe e quer se ver como
o capoeirista, jogador de futebol ou cantor de
pagode. Da mesma forma, muitas meninas
negras se incomodam por serem lembradas
como dançarinas para as datas comemorativas
do folclore e do Dia da Consciência Negra.
A sexualização do corpo negro é histórica e
ainda hoje é possível de se notar, mesmo
dentro do contexto escolar.
A formação de estereótipos e, consequentemente, a discriminação, materializada na piada, nos
risos e apelidos, muitas vezes se dá a partir das melhores intenções da escola, porém sem uma
reflexão e um entendimento mais profundo das questões raciais.
Aliás, há uma negação, em muitos estabelecimentos educacionais, da existência de racismo
em seus espaços. Quando muito, tratam casos desse tipo como brincadeira de mau gosto ou,
mais na moda, bullying.
POR FIM, HERANÇA DE UM PASSADO ESCRAVISTA,
MAS QUE AS GERAÇÕES POSTERIORES ATUARAM
NO SENTIDO DE EVITAR GRANDES MUDANÇAS, A
MANUTENÇÃO DE PRIVILÉGIOS COM BASE NA COR
ESTÁ NAS RAÍZES DAS DESIGUALDADES QUE SE
ESPALHAM NO CONTEXTO SOCIAL E ECONÔMICO
ENTRE BRANCOS E NEGROS NO BRASIL.
Os limitados investimentos na educação, bem como o desigual acesso à estrutura de
oportunidades, mantêm essa desigualdade. Nos últimos vinte anos se ampliaram as
discussões em torno da construção e implantação de políticas sociais para, ao menos, mitigar
as diferenças no país. Foi nesse contexto que as políticas afirmativas ganharam corpo,
agregando vozes vindas de diversos segmentos sociais, da militância à academia, e se
consolidaram no país.
O ESTADO BRASILEIRO, NO ENTANTO, AINDA TEM
DESAFIOS ENORMES PARA ENFRENTAR NO
PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE POLÍTICAS DE
IGUALDADE RACIAL, ESPECIALMENTE NO QUE
TANGE À MULHER NEGRA PERIFÉRICA. ESSES
MARCADORES AINDA LIMITAM A ASCENSÃO
ECONÔMICA E SOCIAL DESSE GRUPO A PARTIR DA
EDUCAÇÃO.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escravização, a exploração dos sujeitos, as violências associadas ao racismo e os processos
de exclusão têm marcas profundas em nossa história. A maior parte da população brasileira é
negra ou descendente, mas sua história, seu posicionamento nas escolas, seus papéis sociais
ainda são vistos como se estivéssemos nos referindo a uma minoria. Negros não são uma
minoria, são uma população historicamente excluída, sem direito à educação ou à sua escola.
Qual é o primeiro passo para ajudar na mudança desse cenário? Saber como aconteceu, e isso
você aprendeu no primeiro módulo. Depois, permitir que sua voz possa ser ouvida, ela existe, só
não aprendemos a ouvi-la e, no segundo módulo, nós tivemos a experiência de conhecer suas
lutas e perspectivas. Por fim, ver que esse problema não foi superado, está vivo, presente, e se
quisermos uma solução, precisamos tratar disso, e foi o que fizemos no terceiro módulo.
 PODCAST
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Superando o racismo na escola. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.
EXPLORE+
Para saber mais sobre como as questões étnico-raciais afetam a vida das pessoas no Brasil e
no mundo, acesse na internet:
Campanha Vidas Negras ‒ Pelo fim da violência contra a juventude negra no Brasil. In:
Nacoesunidas, 2017. Publicado em: mai. 2017.
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o
Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. In: Portal.inep.gov.br, 2020.
Publicado em: out. 2004.
Imprensa Negra, coleção de jornais disponibilizada no Portal da Imprensa Negra Paulista
da Universidade de São Paulo. O portal reúne periódicos produzidos no período de 1903 a
1963. O jornal mais antigo é O Baluarte, editado em Campinas. In: Uspnet. Consultado em
meio eletrônico em: 05 mai. 2020.
Interfaces do Racismo ‒ Racismo Estrutural. In: YouTube. Publicado em: 20 nov. 2018.
Leia:
A cor e a raça nos censos demográficos nacionais. SENKEVICS, Adriano. In: LADEM, UFJF.
Publicado em: 20 nov. 2015.
Década Internacional de Afrodescendentes, 2015-2024, Reconhecimento, Justiça,
Desenvolvimento. In: Nacoesunidas, 2016. Consultado em meio eletrônico em: 05 mai.
2020.
Mulheres e meninas afrodescendentes ‒ Conquistas e Desafios de Direitos Humanos. In:
Nacoesunidas, 2018. Consultado em meio eletrônico em: 05 mai. 2020.
Negros são maioria entre desocupados e trabalhadores informais no país, NITAHARA,
Akemi. In: Agenciabrasil.ebc. Publicado em: 13 nov. 2019.
CONTEUDISTA
Alex Andrade Costa
 CURRÍCULO LATTES
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