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Estudo do vento Prof. Dr. Eduardo Verri Liberado 1Engenharia de Energia Turbinas eólicas em Niedervisse, na região de Lorena, França. Fonte: Kapipelmo, 2008, Creative Commons Nesta aula • Vento – Forças atuantes – Circulação do vento – Influência das condições locais – Medição do vento 2Engenharia de Energia Bibliografia • Milton Oliveira Pinto, Fundamentos de energia eólica, LTC, 2013. (Milton, 2013) • Eliane A. Fadigas, Energia Eólica, Manole, 2011. • Ricardo Dutra (CRESESB), Energia Eólica: Princípios e Tecnologias, 2008 (Tutorial, 2008). 3Engenharia de Energia Vento Engenharia de Energia 4 Retirado de: Tutorial, 2008. Ar em movimento Orientação dos raios solares e movimentos da Terra Aquecimento desigual do planeta Circulação de camadas de ar Obs.: O termo “eólico” provém da denominação do deus grego dos ventos chamado Éolo. Vento Engenharia de Energia 5 Retirado de: Milton, 2013. • Apenas cerca de 3 a 5% da radiação solar incidente sobre a Terra é convertida em energia cinética para movimentar as massas de ar por diferença de temperatura e, consequentemente, formar a base da energia eólica Vento Engenharia de Energia 6 Retirado de: Milton, 2013. • No entanto, a radiação solar atinge o solo com pouco efeito sobre o ar. Assim, o aquecimento do ar próximo à superfície se dá a partir do solo (condução, convecção e radiação infravermelha) Vento Engenharia de Energia 7 Retirado de: Milton, 2013. • No entanto, a radiação solar atinge o solo com pouco efeito sobre o ar. Assim, o aquecimento do ar próximo à superfície se dá a partir do solo (condução, convecção e radiação infravermelha) Forças atuantes • Vento: grandeza vetorial • Discretização do ar em parcelas – Força do gradiente de pressão – Força de Coriolis – Força centrífuga – Força de atrito – Força da gravidade Engenharia de Energia 8 Forças atuantes Engenharia de Energia 9 • Força do gradiente de pressão – As parcelas de ar tendem a se mover das regiões de maior pressão para as de menor pressão – Sendo ∆𝑝 = 𝛿𝑝/𝛿𝑥 ∆𝑥, a força resultante é: • 𝑝∆𝑦∆𝑧 − 𝑝 + ∆𝑝 ∆𝑦∆𝑧 = − 𝛿𝑝/𝛿𝑥 ∆𝑥∆𝑦∆𝑧 – A força por unidade de massa na direção 𝑥 vale: 𝐹𝑔𝑝𝑥 = − 1 𝜌 𝛿𝑝 𝛿𝑥 – Se ∆𝑥∆𝑦 = 1 m², o gradiente de pressão (e a força) vertical sobre a parcela de ar é: ∆𝑝𝑧 = −𝜌𝑔∆𝑧 Obs.: 𝜌: densidade do ar Retirado de: Milton, 2013. Forças atuantes • Força de Coriolis – Considerando um referencial fixo na superfície da Terra (e que gira com ela), esta força está relacionada a uma aceleração aparente que, devido à rotação da Terra, tende a desviar um objeto que se movimenta livremente – Para estudos em energia eólica, a componente da Força de Coriolis considerada é: 𝐹𝑐𝑜 = 2Ω𝑉𝑠𝑒𝑛Φ, na qual Ω é a velocidade angular da Terra (7,29x10-5 rad/s), 𝑉 é a velocidade da parcela de ar (m/s) e Φ é a latitude em graus – Esta força é relevante somente em movimentos com escalas de tempo superiores ao período de rotação da Terra. No caso do vento, ela é responsável por movimentos circulares ou em espiral ao redor dos centros de pressão, provocando deslocamento de massas de ar entre os polos e o Equador – Exemplo: no Hemisfério Sul, ventos vindo do sul mudam de direção para o oeste, e ventos vindo do norte mudam de direção para o leste Engenharia de Energia 10 Forças atuantes • Vento geostrófico: ocorre quando as parcelas de ar se movimentam paralelamente a linhas de mesma pressão (isóbaras). Em baixas altitudes, isto ocorre quando, desprezando-se a força de atrito, a força de gradiente de pressão se iguala à força de Coriolis Engenharia de Energia 11Retirado de: Milton, 2013. Forças atuantes • Vento gradiente: escoa em uma trajetória curva, paralelo às linhas isóbaras. Ocorre o balanço de três forças: a de gradiente de pressão (FGP), a de Coriolis (FCO) e a força centrífuga (FC = V2/R, R é o raio da trajetória): FCO = FGP + FC Engenharia de Energia 12 Forças atuantes no vento gradiente em regiões de alta pressão (esquerda) e baixa pressão (direita). Retirado de: Milton, 2013. Forças atuantes • Influência do atrito: alturas próximas à superfície Engenharia de Energia 13 Retirado de: Milton, 2013. Forças atuantes • Ciclones e anti-ciclones: são formados pela ação da força de Coriolis (desvio de trajetória). Os tornados e furacões são exemplos de ciclones. Engenharia de Energia 14 Retirado de: Milton, 2013. Engenharia de Energia 15 R et ir ad o d e: M ilt o n , 2 0 1 3 . Circulação do vento • Geral: modelo de Ferrel (século XIX) Engenharia de Energia 16 Obs.: Hadley (1685- 1768) desenvolveu um modelo que serviu de base para Ferrel. Retirado de: Milton, 2013. Circulação do vento • Secundária: ocorre quando há aquecimento ou resfriamento da atmosfera inferior. Exemplos: furacões, monções e ciclones extratropicais • Circulação terciária: ventos locais → geração eólica. Exemplos: brisas marítimas e terrestres, ventos em vales e montanhas, temporais e tornados Engenharia de Energia 17 Retirado de: Milton, 2013. Influência das condições locais • Camada-limite – altura a partir da qual a influência do atrito e da rugosidade (irregularidade) do solo não têm influência no vento – Varia durante o dia e com as condições atmosféricas entre 600 e 2000 m de altitude – Camada de Prandtl: área da camada limite mais próxima do solo. Também varia ao longo do dia, atingindo alturas entre 10 e 150 m Engenharia de Energia 18 Região de maior interesse para a energia eólica atualmente Retirado de: Milton, 2013. Influência das condições locais • Altura – A direção do vento praticamente não varia próximo ao solo – Lei logarítmica do perfil vertical do vento 𝑉 = 𝑣𝑎 𝑘 ln ℎ 𝑍0 – Na qual: • 𝑉: magnitude da velocidade do vento [m/s] • 𝑘: constante de von Kármán (0,4) • ℎ: altura [m] • 𝑍0: comprimento da rugosidade do solo [m] • 𝑣𝑎 : velocidade associada à força de atrito, calculada em função da tensão de cisalhamento (𝜏, [Pa]) e a densidade do ar (𝜌, [kg/m³]) como: 𝑣𝑎 = 𝜏 𝜌 1/2 Engenharia de Energia 19 Influência das condições locais • Altura – Para alturas acima de 50 metros, é recomendável considerar o fluxo de calor na superfície, do que resulta a expressão: 𝑉 = 𝑣𝑎 𝑘 ln ℎ 𝑍0 −Ψ ℎ 𝐿 – Na qual: • Ψ = −4,7 Τℎ 𝐿 , para condições estáveis; e Ψ = 1 − 16 Τℎ 𝐿 1/4 , para condições estáveis • 𝐿 : fator de correlação do fluxo de calor → 𝐿 = 𝑇 𝑘𝑔 ∙ 𝑐𝑒𝑣𝑎 3 ℎ𝑔 • Na qual: 𝑇 é a temperatura [K]; 𝑔 é a aceleração da gravidade [m/s²]; 𝑐𝑒 é o calor específico do ar a pressão constante [J/(Kg.K)]; ℎ𝑔 é o fluxo de calor na superfície [J/s] Engenharia de Energia 20 Influência das condições locais • Rugosidade e orografia do solo – Orografia: estudo das características do relevo terrestre – Rugosidade: medida da variação do relevo (quanto menor, mais adequada) – Classificação indicativa da rugosidade: Engenharia de Energia 21 Turbulência a 10 metros de altura de Z0 Influência das condições locais • Rugosidade e orografia do solo – Lei exponencial do perfil vertical do vento: 𝑉 𝑉0 = 𝐻 𝐻0 𝛼 – Na qual • 𝑉: velocidade (medida) na altura de referência 𝐻 • 𝐻0: altura da velocidade 𝑉0 • 𝛼: coeficiente de atrito (expoente de Hellman) Engenharia de Energia 22Retirado de: Milton, 2013. Influência das condições locais • Rugosidade e orografia do solo – Na prática, o coeficiente de atrito é bastante variável, assumindo diferentes valores estimados por diferentes fontes – Ao correlacionar o coeficiente de atrito e a rugosidade através de: 𝛼 = 1 ln Τ𝐻0 𝑍0 – Obtém-se uma forma logarítmica para a lei exponencial: 𝑉 𝑉0 = ln Τ𝐻 𝑍0 ln Τ𝐻0 𝑍0 Engenharia de Energia 23 Influência das condições locais • Turbulência – Flutuações na velocidade do vento em um curto intervalo de tempo (menos de 10 minutos). Causa diminuição do potencial energético e impõe cargas de fadiga à turbina –De modelagem complexa, é descrita em termos de suas propriedades estatísticas (as variações na velocidade são consideradas como aproximadamente gaussianas) Engenharia de Energia 24Retirado de: Milton, 2013. Influência das condições locais • Turbulência – Intensidade da turbulência: razão entre o desvio padrão da flutuação da velocidade (𝜎) e o valor médio da velocidade (𝑣𝑚𝑒𝑑𝑖𝑎): 𝐼 = Τ𝜎 𝑣𝑚𝑒𝑑𝑖𝑎 𝜎 = 1 𝑇 න 𝑡0− ൗ 𝑇 2 𝑡0+ ൗ 𝑇 2 𝑣 𝑡 − 𝑣𝑚𝑒𝑑𝑖𝑎 2𝑑𝑡 – Quanto maior a altura ou a rugosidade do terreno, maior a intensidade – A velocidade média é calculada considerando um período de tempo 𝑇 geralmente igual a 10 minutos. Engenharia de Energia 25Retirado de: Milton, 2013. Influência das condições locais • Indicadores biológicos das características locais do vento – A deformação de árvores e arbustos dependem da intensidade do vento. O nível com que as coníferas se deformam pode ser usado como uma estimativa grosseira da velocidade média anual do vento. – Método adequado para se analisar o vento nos vales, costas e terrenos montanhosos Engenharia de Energia 26Retirado de: Milton, 2013. Influência das condições locais • Indicadores biológicos das características locais do vento Engenharia de Energia 27Retirado de: Milton, 2013. Influência das condições locais • Obstáculos: naturais ou construções – Exemplo: construções: bloco retangular e fluxo bidimensional, formação de uma camada de cisalhamento que separa o fluxo em uma região interna e outra externa – Redução da velocidade Engenharia de Energia 28Retirado de: Milton, 2013. Medição do vento • Instrumentos básicos – Anemômetro (do grego anemus = vento): magnitude da velocidade do vento – Biruta (inglês = windvane): direção do vento – Datalogger: aquisição e armazenamento de dados de medição • Estação de medição de vento – Além dos instrumentos básicos, possui ainda: – Torre – Medidores de temperatura e umidade do ar Engenharia de Energia 29 Fonte: Aeroind comercial, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=79646947 Medição do vento • Anemômetros de pressão – O primeiro anemômetro (1450): – Tubo de Pitot: baseado na equação de energia de Bernoulli (massa específica do ar = constante). Usado em aviões e túneis de vento – Tubo de pressão: • Pressão no tubo paralelo ao vento: 𝑃1 = 𝑃𝐴 + 𝐶1 𝜌𝐴𝑉 2 2 • Pressão no tubo perpendicular ao vento: 𝑃2 = 𝑃𝐴 − 𝐶2 𝜌𝐴𝑉 2 2 • Velocidade: 𝑉 = 2 𝑃1+𝑃2 𝜌𝐴 𝐶1+𝐶2 0,5 Engenharia de Energia 30Retirado de: Milton, 2013. Medição do vento • Anemômetros rotacionais – De copo: mais utilizado no setor eólico • Inventado por J. T. R. Robinson (1846) • Funcionamento baseado na força de arrasto: paralela à direção do vento 𝐹𝐷 = 𝐶𝐷 𝐴𝜌𝑎𝑉 2 2 • Coeficiente de arrasto (𝐶𝐷) é maior na superfície côncava de cada copo • A intensidade da rotação é diretamente proporcional à velocidade do vento • Precisão de cerca de 2%, resposta dinâmica lenta (inércia) – De hélice: funcionamento similar a uma turbina eólica de eixo horizontal • Resposta dinâmica mais rápida • Pode medir a componente vertical do vento, caso seu eixo seja montado na vertical Engenharia de Energia 31 R et ir ad o d e: M ilt o n , 2 0 1 3 . Fo n te : i m p ac .c o m .b r Medição do vento • Anemômetros termoelétricos – Fio quente: medição de velocidade através da troca de calor entre o ar e uma resistência (resfriada pelo vento). Aplicação extremamente limitada no meio ambiente – Filme quente: funcionamento similar ao de fio quente, porém mais resistente contra impurezas e até líquidos Engenharia de Energia 32Retirado de: Milton, 2013. Medição do vento • Anemômetro a laser – Baseado no efeito Doppler (mudança na percepção da frequência de uma onda quando o emissor está em movimento → frequência relativa) – A frequência da radiação espalhada por uma partícula em movimento em relação à fonte de radiação é alterada por uma quantidade que depende da velocidade e da geometria do espalhamento Engenharia de Energia 33 Fonte: dantecdynamics.com Medição do vento • Anemômetro sônico ou de fase – Detecta mudanças na velocidade do som no ar em movimento em relação à velocidade do som na ausência de vento – Transdutores emitem sinais acústicos • Se o som se propaga na mesma direção do vento: 𝑉1 = 𝑉𝑆 + 𝑉 • Se o som se propaga na direção oposta ao vento: 𝑉2 = 𝑉𝑆 − 𝑉 • Velocidade resultante: 𝑉 = 𝑉1 + 𝑉2 /2 – Precisos para velocidades de até 65 m/s – Não possuem partes móveis – Sensíveis a condições atmosféricas Engenharia de Energia 34Retirado de: Milton, 2013. Velocidade de referência Medição do vento • Sensoriamento remoto – Sodar (sound detection and ranging): “radar” acústico • Pode efetuar uma medida sem colocar um sensor no local • Espalhamento acústico: pulsos são emitidos verticalmente e captados por microfones no solo • A velocidade é calculada considerando a frequência de desvio Doppler (𝑓𝑑), a frequência do pulso (𝑓0) e a velocidade do som (𝑐𝑠): 𝑉 = 𝑐𝑠 2 𝑓𝑑 𝑓0 Engenharia de Energia 35Retirado de: Milton, 2013. Medição do vento • Sensoriamento remoto – Sodar Engenharia de Energia 36Retirado de: Milton, 2013. Medição do vento • Sensoriamento remoto – Lidar (light detection and ranging): emissão e recepção de raios laser – Laser: espalhamento menor que o som (mais preciso que o Sodar) – Influência das condições atmosféricas (Ex.: ar rarefeito, neblina) Engenharia de Energia 37Retirado de: Milton, 2013. Medição do vento • Datalogger Engenharia de Energia 38Retirado de: Milton, 2013. Medição do vento • Campanha de medição – Embora existam dados de medição disponíveis, o ideal na concepção de um parque eólico é realizar medições apropriadas no local – A legislação brasileira adota um período de medição de três anos – Além disso, a EPE (Empresa de Pesquisa Elétrica) solicita certificação dos dados de medição para habilitação técnica de empreendimentos eólicos. Ela também fornece instruções para a realização das medições – Os custos com os sistemas de medição giram em torno de 0,1 % do custo total do parque eólico Engenharia de Energia 39 Medição do vento • Campanha de medição – São utilizadas estações de medição com torres com alturas de 50, 80 e 100 metros – A partir dos dados medidos, são calculadas as velocidades máxima, média, mínima, desvio padrão, intensidade de turbulência e distribuição de velocidade – Calcula-se também a densidade de potência [W/m²] do local Engenharia de Energia 40 Quanto maior a incerteza, maior é a variação do potencial energético! O ideal é que a incerteza não ultrapasse 0,2 m/s R etirad o d e: M ilto n , 2 0 1 3 . Medição do vento • Calibração dos anemômetros – IEC 61400-12-1, Anexo E – MEASNET (The International Measuring Network of Wind Energy Institutes): • Calibração de anemômetros: Cup Anemometer Calibration Procedure • Curva de potência de turbinas eólicas • Nível de ruído de turbinas eólicas • Qualidade de energia de turbinas eólicas Engenharia de Energia 41 Medição do vento • Método MCP (medir – correlacionar – predizer) – Usa relacionamento estatístico entre dados meteorológicos de estações vizinhas para fazer uma predição de velocidade do vento no local pretendido da instalação, com base num período de longo prazo de registros – Em eólica, visa estimar a produção de energia a longo prazo de um parque eólico com base em um período mais curto de monitoração – Embora a precisão da estimativa de longo prazo seja boa, este método pode introduzir distorções ou erros aleatórios na avaliação Engenharia de Energia 42 Medição do vento Engenharia de Energia 43 R etirad o d e: M ilto n , 2 0 1 3 . Medição do vento • Método MCP – Técnicas de correlação • Regressão linear simples: é definida uma função linear entre a velocidade estimada e as velocidades medidas em estações vizinhas • Razão de variância: considera-sena função linear os valores médios e desvios-padrão das velocidades estimadas e das velocidades medidas • Redes neurais artificiais Engenharia de Energia 44 Próxima aula • Avaliação local do potencial eólico (energia, potência e forças aerodinâmicas) 45Engenharia de Energia
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