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Universidade do Vale do Itajaí Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar Curso de Engenharia Civil F u n d aç õ es Modelo Estrutura - Fundação Prof. Luis Fernando Pedroso Sales, Engenheiro Civil, Mestre em Geotecnia 2 Fundações Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Mário César dos Santos Reitor Cássia Ferri Vice-Reitora de Graduação Valdir Cechinel Filho Vice-Reitor de Pós-graduação, Pesquisa, Extensão e Cultura Carlos Alberto Tomelin Vice-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento Institucional CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR João Luiz Baptista de Carvalho Diretor CURSO DE ENGENHARIA CIVIL Sônia Iara Portaluppi Ramos Coordenadora Fundações 3 Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Apresentação 1.1 Ementa Investigação geotécnica. Fundações Superficiais. Fundações profundas. Projeto geotécnico de fundações. 1.2 Carga Horária A disciplina de Fundações está no 6º Período da matriz curricular do curso de Graduação em Engenharia Civil da UNIVALI, com 72 horas-aula. 1.3 Objetivos Analisar os tipos de fundação para cada terreno e obra, e projetar as fundações de edificações. Ao final da disciplina, o aluno deverá estar capacitado a interpretar laudos de sondagens, calcular a capacidade de suporte do terreno, calcular a capacidade de suporte de fundações profundas, elaborar previsões de recalques para fundações, analisar ensaios de desempenho de fundações, como provas de carga. 1.4 Metodologia A ementa da disciplina é vista por meio de aulas expositivas, com a realização de exercícios práticos e consulta à bibliografia indicada. Poderão ocorrer vistas técnicas a obras, conforme planejamento de cada semestre letivo. 1.5 Critérios de avaliação O aluno deverá ter frequência e participação mínima de 75% das aulas expositivas, além de alcançar a média final mínima estabelecida pela Instituição no conjunto das Avaliações. 1.6 Curriculum resumido Luis Fernando Pedroso Sales é Graduado em Engenharia Civil pela UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina em 1994, Mestre em Engenharia Civil, Área de Geotecnia, pela UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1998. Em 1998 iniciou as atividades de Engenheiro de Projeto da empresa ENGEVIX Engenharia S/A, com destaque: Trasvase Manabi - Equador; Projeto de reabilitação e duplicação da BR 470, trecho Indaial - Blumenau; Projeto de reabilitação e duplicação da BR 101, trecho Contorno de Florianópolis; Projeto de fundação das estações elevatórias e obras estruturais dos Sistemas de Esgotos Sanitários de Itajaí, Penha, Piçarras, Criciúma, Florianópolis e Chapecó. Entre 2006 e 2011 foi Consultor Geotécnico da ELETROSUL – Centrais Elétricas, atuando em projetos e fiscalização de obras, com destaque: UHE São Domingos; PCH João Borges; PCH Barra do Rio Chapéu; Parques Eólicos Cerro Chato I, II, III; Chuí; Geribatu. É Sócio-Diretor da BORNSALES Engenharia Ltda., empresa especializada em Projetos e Consultoria Geotécnica, com destaque para Projetos de Fundação de Edifícios Altos, Projetos de Contenção em Escavações Urbanas e Análise de Estabilidade de Taludes, com mais de 200mil m2 de área em projetos. Desde 1999 atua como Professor do curso de Engenharia Civil da UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí, ministrando as disciplinas de Mecânica dos Solos, Fundações, Taludes e Contenções e Sistemas de Drenagem. Coordenou o curso de graduação em Engenharia Civil da UNIVALI entre 2002 e 2006. É membro representativo da ABMS - Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, que lhe conferiu o título de Engenheiro Geotécnico. 4 Fundações Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Do Autor Esta apostila foi elaborada com o intuito de abordar, de forma sintetizada, os assuntos tratados na disciplina de Fundações, do curso de graduação em Engenharia Civil. Deve ser utilizada pelos alunos, como material de consulta e de apoio ao estudo diário. Recomenda-se buscar informações complementares nas referências bibliográficas listadas ao longo desta apostila, pois estas abordam os conteúdos de forma mais detalhada, permitindo ampliar o conhecimento em cada tema, possibilitando o estudo extraclasse consistente. O aluno de graduação deve encarar o Ensino de Engenharia com a responsabilidade de quem, em breve, estará exercendo a profissão de Engenheiro Civil. A sociedade exige de nós profissionais, o conhecimento técnico, o domínio das ferramentas e dos materiais, atuando com uma conduta ética e responsável. A Geotecnia tem um papel importante no processo social e ambiental que envolve a Engenharia Civil. Através dos assuntos vistos nas disciplinas do eixo norteador desta área de conhecimento, que o profissional se defrontará com situações de ocupação de áreas de risco, contaminação do solo e do lençol freático, obras de infraestrutura, tais como estradas, barragens e túneis, projetos e execução de estruturas de contenção e de fundação. Resolver estas questões é um desafio enorme. Estão todos convidados a estudar Fundações, seus conceitos, métodos de cálculos e verificações de desempenho. Bons estudos! Fundações 5 Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Conteúdo 1- PROJETO DE FUNDAÇÕES ................................................................................................................................ 2- INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO ........................................................................................................................... 3- PARÂMETROS GEOTÉCNICOS DOS SOLOS ........................................................................................................ 4- FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS .............................................................................................................................. 5- FUNDAÇÕES PROFUNDAS ............................................................................................................................... 6 Fundações Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Capítulo 1 – Introdução 1.1 Engenharia de Fundações Velloso e Lopes (2004) destacam a importância do conhecimento de Geotecnia e Estruturas para que o profissional possa projetar e executar fundações com qualidade e segurança, denominando esta área de Engenharia de Fundações. Em geral, a superestrutura da edificação é projetada (calculada e detalhada) por um engenheiro estrutural que supõe os apoios indeslocáveis, resultando em diversas combinações de esforços (forças verticais, forças horizontais e momentos fletores), que são repassadas ao projetista de fundações. Aplicando os conhecimentos dos métodos de previsão de capacidade de suporte geotécnico e estrutural dos elementos de fundação, associado às análises de deslocamentos, efeito de grupo, entre outros, é detalhada a solução de fundação mais adequada à superestrutura e ao terreno de fundação. É importante destacar que as fundações, quaisquer que sejam, transferem os esforços oriundos da superestrutura ao terreno de fundação. Portanto, atuam como elo de ligação entre ambos. O entendimento do comportamento da estrutura de uma edificação e do solo ou rocha de apoio são fundamentais. A transferência de esforços da superestrutura ao terreno de fundação resulta em deslocamento vertical (recalque), horizontal e rotação. Com isso, a hipótese de apoio indeslocável fica prejudicada e, nas estruturas hiperestáticas, que são a grande maioria, as cargas inicialmente calculadas são modificadas (Velloso e Lopes, 2004). Os elementos estruturais responsáveis pela ligação das fundações à superestrutura são fundamentais para a transferência de esforços iniciais e por suas modificações. Os blocos de coroamento de estacas, por exemplo, devem gerar esforços nas estacas, compatíveiscom as reações limitadas pelo engenheiro de fundações, bem como a parcela de esforço transmitida diretamente ao terreno de fundação. Percebe-se, portanto, que a solução de fundação de uma edificação deve ser compreendida e analisada pelo engenheiro de fundações, juntamente com o engenheiro estrutural. U.S.ACE (1991) destaca que os projetos de fundação devem partir de um esforço totalmente coordenado entre engenheiros geotécnicos, estruturais e geólogos, os quais devem assegurar que os resultados das análises estão integrados na solução adotada. Esta coordenação estende-se através de planos e especificações, reuniões de projeto e de construção. Alguns dos aspectos críticos do processo de projeto que requerem coordenação são: - Seleção preliminar e final do tipo de fundação; - Definição dos deslocamentos admissíveis; - Avaliação preliminar de dados geotécnicos; - Seleção de condições de carga, efeitos de carga e falha potencial; - Disposição preliminar dos elementos de fundação; - Capacidade de suporte do terreno de fundação; - Tensão máxima atuante nos elementos de fundação, nos estados de limite último e de serviço; - Elaboração de programas de testes de carga e monitoramento. Fundações 7 Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Segundo Poulos e Davis (1981), é muito conveniente dividir o projeto de grandes edifícios em dois componentes: o projeto da estrutura e o projeto das fundações. Considera-se que a estrutura, por suas próprias razões, produz certas cargas, e as fundações são meramente necessárias para transportar essas cargas predeterminadas ao terreno de fundação (solo ou rocha). Na verdade, as cargas sobre as fundações determinam o seu movimento, que, por sua vez, afeta as cargas impostas pela estrutura. Há inevitavelmente interação entre estrutura e fundação. Em uma abordagem de estrutura global, para ser bem sucedida, há necessidade de saber muito mais do que o comportamento de um elemento isolado de fundação. Precisa-se saber o seu comportamento de carga- deslocamento até a ruptura, possivelmente o seu comportamento sob carga lateral e momento fletor, e como o seu comportamento é modificado por elementos de fundação adjacentes (efeito de grupo). Isso é análogo ao dizer que precisamos das características completas de carga-deformação de vigas e pilares, não apenas as suas capacidades de carga, antes que possamos analisar quadros estruturais completos. A forma antiga e superada de analisar o comportamento de estruturas com apoios indeslocáveis; analisar as fundações a partir de uma planta de cargas, sem a interação entre ambas, resulta, em geral, em soluções mais onerosas ao cliente. O entendimento do comportamento global da estrutura e fundação, trabalhando num modelo único completo, inserindo as características do terreno de fundação, resulta numa análise mais próxima ao comportamento real da edificação. Isto permite, aos engenheiros geotécnicos e estruturais tomar decisões importantes, ainda na fase de projeto, na busca melhorar o comportamento da edificação durante a construção e pós-construção, além do seu impacto na vizinhança. Born e Sales (2016) destacam a importância da implementação de modelos numéricos na solução de problemas de fundação e na interação estrutura-fundação. Os programas de modelagem numérica permitem implementar um modelo único da superestrutura, fundação, terreno, de forma a simular o comportamento carga-deformação completo, redistribuição de esforços, influência no entorno, entre outras análises. A engenharia de fundações é vista na graduação ainda no modelo antigo. O aluno de engenharia civil tem contato com os métodos de previsão de capacidade de suporte, métodos de estimativa de recalques, análises simplificadas de efeito de grupo, ensaios de carga e monitoramento das fundações. A disciplina de Fundações é vista separadamente das disciplinas de Estruturas. Isto tem dificultado a aplicação de modelos únicos na resolução de problemas, uma vez que os próprios profissionais acabam não vendo esta interação nos cursos de graduação. A própria ABNT NBR 6122:2010 - Projeto e execução de fundações é omissa às questões de interação estrutura-fundação. Isto deve ser revisto, adequando às principais normas internacionais e a boa prática de engenharia mundial. A partir da implementação da ABNT NBR 15.757:2013 – Edificações habitacionais - Desempenho, que institui nível de desempenho mínimo de uma vida útil para os elementos principais de toda e qualquer edificação habitacional, incluindo a estrutura e fundação, observou-se uma melhora no processo de contratação dos projetos de engenharia. Cabe aos profissionais de engenharia buscarem uma formação mais aprofundada em programas de pós- graduação Stricto-senso (mestrado e doutorado), onde terão acesso ao conhecimento mais detalhado do comportamento das estruturas e das fundações. No caso de Geotecnia, o comportamento dos solos e rochas, representado pelos seus modelos constitutivos e parâmetros geotécnicos. 1.2 Tipos de Fundações As fundações são separadas em dois grandes grupos: - Fundações superficiais (ou diretas ou rasas); - Fundações profundas. 8 Fundações Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Segundo Velloso e Lopes (2004), a distinção entre esses dois tipos é feita segundo critério arbitrário de que uma fundação profunda é aquela cujo mecanismo de ruptura da base não surgisse na superfície do terreno (ver Figura 1.1). Na ABNT NBR 6122:2010, a definição de fundação superficial é: “elementos de fundação em que a carga é transmitida ao terreno, predominantemente pelas pressões sob a base da fundação, e em que a profundidade de assentamento em relação ao terreno adjacente é inferior a duas vezes a menor dimensão da fundação...”. A norma brasileira ainda define fundação profunda como: “elemento de fundação que transmite ao terreno pela base (resistência de ponta), por sua superfície lateral (resistência de fuste) ou por uma combinação das duas, e que está assente em profundidade superior ao dobro da sua menor dimensão em planta, e no mínimo 3m, salvo justificativa”. Neste tipo de fundação incluem-se as estacas e os tubulões. Figura 1.1 – Mecanismo de ruptura de fundação superficial e profunda. Berberian (2003) apresenta a definição de fundações superficiais cuja profundidade de assentamento é menor ou igual a duas vezes a sua menor dimensão e não são capazes de transferir carga por atrito lateral. O autor questiona esta definição, pois entende que há sapatas assentadas a profundidade de até 4xB. A partir desta profundidade, a fundação é capaz de transferir carga por atrito lateral. A grandeza fundamental para o projeto de fundação direta é a determinação da tensão admissível do terreno de fundação, se o projeto for feito considerando coeficiente de segurança global; ou a determinação Da tensão resistente de projeto quando se consideram fatores parciais. Estas tensões devem obedecer simultaneamente aos estados limites últimos (ELU) e de serviço (ELS), para cada elemento de fundação isolado e para o conjunto. Par o caso de fundações profundas, a grandeza fundamental para o projeto por estacas é a carga admissível, se o projeto for feito em termos de valores característicos, ou carga resistente de projeto, quando for feito em termos de valore de projeto. Igualmente ao caso das fundações diretas, essas grandezas devem atender ao estado limite último (ELU) e de serviço (ELS), para cada elemento isolado e para o conjunto. Conforme descrito anteriormente, a tendência atual e futura é projetar fundações obedecendo critérios de comportamento carga-deslocamento, onde os recalques admissíveis para cada elemento isolado e para o conjunto norteiam as decisões de projeto. Quanto aos tipos de fundações superficiais, tem-se: - Bloco: elemento de fundação de concreto simples, dimensionado de maneira que as tensões de tração nele produzidas possam ser resistidaspelo concreto, sem necessidade de armadura. - Sapata: elemento de fundação superficial de concreto armado, dimensionado de tal modo que as tensões de tração sejam resistidas por armaduras. - Sapata corrida: sapata sujeita a carga distribuída (às vezes chamada de baldrame). Fundações 9 Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI - Viga de fundação: elemento de fundação superficial comum a vários pilares, cujos centros, em planta, estão situados num mesmo alinhamento. - Grelha: elemento de fundação constituído por um conjunto de vigas que se cruzam nos pilares. - Sapata associada: elemento de fundação que recebe parte dos pilares da obra, o que a difere do radier, sendo estes pilares não alinhados, o que a difere da viga de fundação. - Radier: elemento de fundação que recebe todos os pilares da obra. Figura 1.2 – Principais tipos de fundações superficiais. As fundações profundas são subdivididas em três grupos: - Estacas: elementos esbeltos de fundação profunda com a finalidade de transferir cargas para os substratos resistentes mais profundos. Requer emprego de equipamentos especiais para sua execução. A ABNT NBR 6122:2010 define estacas como elemento de fundação profunda executado inteiramente por equipamentos ou ferramentas, sem que, em qualquer fase de sua execução, haja descida de operário. Os materiais empregados põem ser: madeira, aço, concreto pré-moldado, concreto moldado in situ ou mistos. - Estacas Cravadas: são aquelas onde, durante o processo executivo, o solo é deslocado conforme ocorre a penetração da estaca. Exemplos: madeira, metálica, pré-moldada de concreto, franki. - Estacas Escavadas: é realizado um pré-furo ou quando o solo é retirado do terreno durante o processo de execução da estaca. Exemplos: estaca escavada, hélice contínua, strauss. - Estacas Injetadas: são estacas perfuradas por processos rotativos e revestidas, com fuste concretado por meio de injeção de cimento. Exemplos: raiz, jet grouting. - Tubulão: elemento de fundação profunda de forma cilíndrica que, pelo menos em sua fase final de execução, tem-se a descida de operário para o alargamento da base. O tubulão não difere da estaca escavada por suas dimensões, mas seu processo executivo. Bloco Sapata isolada 10 Fundações Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Figura 1.3 – Principais tipos de fundações profundas. Existem ainda as fundações mistas, que combinam soluções de fundação superficial com profunda. Alguns exemplos são ilustrados na Figura 1.4. As fundações mistas são empregadas nos casos onde a solução de fundação superficial é pouco viável e a solução de fundação profunda acaba sendo muito onerosa ou superdimensionada. Na prática, alguns projetistas dimensionam como fundações superficiais, cabendo ao elemento de fundação profunda promover o reforço na camada de solo portante ou terreno de fundação. Figura 1.4 – Exemplos de fundações mistas. 1.3 Procedimentos para Elaboração do Projeto de Fundação Born e Sales (2016) apresentam uma proposta de procedimentos instrutivos para a realização de projetos de fundações para edificações. A experiência dos autores em projetos de fundação, corroborada com a prática internacional de projetos de fundação de edifícios altos [Randolph, M.F. and Wroth, C.P. (1981); Poulos, H.G. (1989); Poulos, H.G., Small, J.C. and Chow, H. (2011)] nortearam a elaboração desta proposta. - Montagem da equipe de projetistas: recomenda-se que o início das atividades de consultoria geotécnica ocorre em uma reunião de apresentação entre o cliente e a equipe técnica (arquitetura, instalações, estruturas e Geotecnia). O objetivo é apresentar o projeto do empreendimento, de forma que cada profissional, na sua respectiva área de atuação, possa intervir com as suas experiências. A troca de informação é importante na identificação de erros e vícios. - Elaboração do plano de investigação geotécnica: para melhor compreensão do local, deve ser elaborado um plano de investigação geotécnica de campo, complementada com ensaios de laboratório (no caso de solos compressíveis), cujos ensaios são: SPT (sondagem a percussão); CPT (ensaio de cone); SDMT (ensaio dilatômetro sísmico); PMT (ensaio pressiométrico). As sondagens Estacas Tubulão Sapata associada à estaca (Estaca T) Radier estaqueado Fundações 11 Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI poderão ser executadas em diferentes etapas, mediante a necessidade de informações complementares. O plano de investigação serve como forma de identificação do terreno de fundação e determinação dos parâmetros geotécnicos das diferentes camadas. - Anteprojeto de fundação: na elaboração do anteprojeto de fundação são analisados os laudos de sondagem SPT e/ou CPT, a planta de cargas dos pilares (prévia) e o projeto arquitetônico. Nesta etapa, permite-se estimar os tipos de fundações viáveis, no caso de fundações profundas, estimar os diâmetros e comprimentos médios. - Projeto da prova de carga: buscando maximizar a utilização da capacidade portante dos elementos de fundação, indica-se, inclusive como recomendação da ABNT NBR 6122:2010, a realização de prova de carga estática ou ensaio de placa, em fase prévia à execução do projeto de fundações. A prova de carga resume-se na obtenção do comportamento carga-deslocamento do elemento de fundação isolado ou do terreno de fundação. - Projeto geotécnico básico de fundação: no projeto básico tem-se o exercício de lançamento de diferentes composições dos elementos de fundação, buscando a melhor relação comportamento- benefício. Define-se a solução mais eficiente e faz-se a reunião com o cliente e projetista estrutural. - Interação solo-estrutura: utilizando os resultados do projeto básico, são geradas análise numéricas através da teoria dos elementos finitos, com o uso de programas computacionais. Estes modelos são realizados em plataformas que permitem a interação entre o modelo estrutural e o modelo de fundações completo. Os resultados permitem avaliar o recalque total e diferencial, carga axial e momento atuantes em cada elemento de fundação, percentual de carga transferida pelo bloco ao solo, e interação com edificações vizinhas. São implementadas mudanças na posição, quantidade e comprimento dos elementos de fundação, para equilibrar os recalques, bem como otimizar o projeto de fundações. O projetista de fundação encaminha ao projetista estrutural os valores dos coeficientes de mola (recalque/carga) estimados, para que o mesmo possa implementar apoios deslocáveis no seu modelo. - Projeto geotécnico final de fundação: havendo concordância entre os modelos geotécnico e estrutural, tem-se o modelo numérico final. É então gerado o detalhamento do Projeto Geotécnico de Fundações. - Projeto de monitoramento da edificação: buscando acompanhar o desempenho da edificação durante a estado de serviço, frente aos recalques e distribuição de cargas entre os elementos de fundação, recomenda-se a realização de monitoramento dos recalques (pinos de leituras) e das cargas (células de pressão). 1.4 Documentos de Consulta do Projeto de Fundação Para a elaboração do projeto de fundação de uma edificação, faz-se necessária a consulta aos seguintes documentos: - Topografia da área: levantamento planialtimétrico, com dados sobre quaisquer variações altimétricas do terreno, edificações existentes, cavidades erosivas ou evoluções preocupantes na geomorfologia. - Projeto de terraplenagem: desenho em planta georreferenciado e perfis transversais, que demonstrem as modificações no terreno original (cortes e aterros). - Sondagens: resultados do plano de investigação geotécnica, outros dados geológicos e geotécnicos (mapas, fotos aéreas, artigos sobre experiências na área), que permitam identificar o perfil estratigráfico do terreno e determinar os valores dosparâmetros geotécnicos. - Projeto arquitetônico: dados da estrutura a ser construída, com a definição do tipo e uso, sistema construtivo, áreas de projeção, existência de pavimentos em subsolo. - Projeto estrutural: modelo estrutural completo, com a definição das combinações de esforços atuantes, sistema estrutural. 12 Fundações Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI - Dados sobre construções vizinhas: percepção da locação da obra com as edificações vizinhas, de forma que se permita avaliar as consequências de escavações, rebaixamento temporário ou permanente do lençol freático, vibrações, entre outros. 1.5 Requisitos de um projeto de fundações Tradicionalmente, os requisitos básicos a que um projeto de fundações deverá atender são: - Deformações aceitáveis, sob as condições de trabalho; - Segurança adequada ao colapso do solo de fundações ou estabilidade externa; - Segurança adequada ao colapso os elementos estruturais ou estabilidade interna. Velloso e Lopes (2004) apresentam as consequências do não-atendimento a esses requisitos, conforme Figura 1.5. Figura 1.5 – Consequências danosas às fundações (Velloso e Lopes, 2004). 1.6 Cargas e Segurança nas Fundações A ABNT NBR 6122:2010 apresenta as diretrizes para considerações de cargas e fatores de segurança em projetos de fundações. Alguns itens da Norma que tratam deste assunto são apresentados a seguir, na forma de parágrafos: Empuxos: O empuxo hidrostático desfavorável deve ser considerado integralmente, enquanto que o empuxo de terra (ativo, em repouso ou passivo) deve ser compatível com a deslocabilidade da estrutura. Fica vetada, em obras urbanas, a redução de cargas em decorrência de efeitos de subpressão. Cargas dinâmicas: Devem ser consideradas: Amplitude das vibrações e possibilidade de ressonância no sistema estrutura-solo-fundação; Acomodação de solos arenosos; Transmissão dos efeitos a estrutura ou outros equipamentos próximos. Deformações excessivas Colapso do solo Tombamento ou deslizamento da estrutura Colapso estrutural, resultantes de projetos deficientes Fundações 13 Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Fator de segurança global: As cargas admissíveis em elementos de fundação são obtidas pela aplicação de fatores de segurança, conforme a Tabela 1.1, sobre os valores de capacidade de carga obtidos por cálculo ou experimentalmente. Tabela 1.1 — Fatores de segurança globais mínimos (NBR 6122:2010). CONDIÇÃO FATORES DE SEGURANÇA Capacidade de carga de fundações superficiais 3,0 Capacidade de carga de estacas ou tubulões, sem prova de carga 2,0 Capacidade de carga de estacas ou tubulões, com prova de carga 1,6 No caso de fundações profundas, só é permitido reduzir o fator de segurança quando se dispõe do resultado de um número adequado de provas de carga estática e quando os elementos ensaiados são representativos do conjunto da fundação, ou a critério do projetista. Análise de ruptura do solo: os valores de cálculo da resistência do solo são determinados dividindo-se os valores característicos dos parâmetros de resistência da coesão (C) e do ângulo de atrito interno () pelos coeficientes de ponderação da Tabela 1.2. Tabela 1.2 — Coeficientes de ponderação das resistências (NBR 6122:2010). PARÂMETRO In Situ Laboratório Correlações Tangente do ângulo de atrito interno do solo 1,2 1,3 1,4 Coesão (estabilidade e empuxo de terra) 1,3 1,4 1,5 Coesão (capacidade de carga de fundações) 1,4 1,5 1,6 O valor de cálculo da resistência (ou capacidade de carga) de um elemento de fundação pode ser determinado de três maneiras: - A partir de provas de carga; - A partir de métodos semi-empíricos ou empíricos; - Emprego de métodos teóricos. No primeiro caso, deve-se aplicar o terceiro coeficiente de ponderação, conforme Tabela 1.3. No segundo caso, deve-se aplicar em dos primeiros coeficientes de ponderação, conforme Tabela 1.3, dependendo do tipo de fundação. No terceiro caso, uma vez que os parâmetros de resistência do solo foram reduzidos por coeficientes de ponderação, o resultado obtido já é o valor de cálculo da resistência (ou capacidade de carga) do elemento de fundação. Tabela 1.3 — Coeficientes de ponderação da capacidade de carga de fundações (NBR 6122:2010). CONDIÇÃO COEFICIENTE Fundação superficial (sem prova de carga) 2,2 Fundação profunda (sem prova de carga) 1,5 Fundação com prova de carga 1,2 1.7 Limites de Utilização É importante distinguir entre danos causados aos elementos estruturais e os danos causados à alvenaria, divisórias e acabamentos. Os movimentos das fundações afetam a aparência visual, a função e a utilização, mas é essencial reconhecer que prejuízos de natureza puramente estética não são muito importantes. Essa importância depende do tipo e utilização da estrutura. Na Tabela 1.4 é apresentada uma classificação de danos às paredes de edifícios, de acordo com o seu uso. 14 Fundações Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Tabela 1.4 — Relação entre abertura de fissuras e danos em edifícios (Thornburn e Hutchinson, 1985). ABERTURA DA FISSURA (mm) INTENSIDADE DOS DANOS EFEITO NA ESTRUTURA E USO DO EDIFÍCIO RESIDENCIAL COMERCIAL INDUSTRIAL < 0,1 Insignificante Insignificante Insignificante Nenhum 0,1 a 0,3 Muito leve Muito leve Insignificante Nenhum 0,3 a 1 Leve Leve Muito leve Apenas estética. Deterioração acelerada do aspecto externo. 1 a 2 Leve a moderada Leve a moderada Muito leve 2 a 5 Moderada Moderada Leve 5 a 15 Moderada à severa Moderada à severa Moderada Utilização do edifício será afetada e, no estado limite superior, a estabilidade pode estar em risco. 15 a 25 Severa à muito severa Severa à muito severa Moderada à severa > 25 Muito severa à perigosa Severa à perigosa Severa à perigosa Cresce o risco de a estrutura tornar-se perigosa. O aparecimento de fissuras é, sempre, indício de que algo está acontecendo. Embora elas, nem sempre, decorram de deslocamentos da estrutura. A ABNT NBR 6122:2010 sugere que se faça um acompanhamento das fissuras, medindo-se, periodicamente, as diagonais de um retângulo traçado, de sorte a ser cortado pela fissura, ou por meio de um “fissurômetro” ou outro qualquer instrumento de medida de precisão. 1.7.1 Deformações limites Uma estrutura ou edificação pode deformar de três maneiras, conforme apresentado na Figura 1.6. - No primeiro modo, chamado de recalque uniforme, ocorrem danos estéticos e funcionais. Caso a magnitude dos recalques seja elevada, pode haver danos às ligações da estrutura com o exterior (tubulações de água, esgoto, rampas, escadas, passarelas, etc.). - No segundo caso ocorrem danos estéticos devido ao desaprumo (mais visível em edifícios altos) e danos funcionais decorrentes do desnivelamento de pisos, etc. - No terceiro caso, além dos danos estéticos e funcionais mencionados anteriormente, há também danos dessa mesma natureza, decorrentes da fissuração, além dos danos estruturais. Figura 1.6 – Principais modos de deformação de uma estrutura (Velloso e Lopes, 2004). (a) Recalques uniformes (b) Recalques desuniformes sem distorção (c) Recalques desuniformes com distorção Fundações 15 Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI O I.S.E. (1989) classifica as consequências dos deslocamentos das construções segundo critérios de aparência visual, utilização e função da edificação e estabilidade e danos estruturais: - Aparência visual: Os primeiros movimentos relativos que provocam desaprumos e inclinações perceptíveis e antiestéticos. Na sequência, vêm os Danos visíveis. Para eliminar a influência de fatores subjetivos, sugere-se a classificação de danos segundo um dado critério, conforme Tabela 1.5 (esta tabela indicas apenas aspectos estéticos, onde não há fissuras). - Utilização efunção: fissuras aceitas em um prédio industrial não são aceitas em um hospital ou escola. Outros exemplos: máquinas de precisão, elevadores, pontes rolantes, etc. - Estabilidade e danos estruturais: limitações de deformações para atender os aspectos abordados anteriormente, em geral, garantem a estabilidade da obra e a ausência de danos estruturais que possam comprometer a segurança da obra. Salvo casos de estruturas muito rígidas, que podem tombar sem apresentar, previamente, fissuração apreciável. Tabela 1.5 — Classificação de danos em paredes tendo em vista a facilidade de reparação (I.S.E., 1989). CATEGORIA DO DANO DANOS TÍPICOS LARGURA DA FISSURA (mm) 0 Fissuras capilares com largura menor que 0,1mm são desprezíveis. < 0,1 1 Fissuras finas, que podem ser tratadas facilmente durante o acabamento normal. < 1,0 2 Fissuras facilmente preenchidas. Um novo acabamento é, provavelmente, necessário. Externamente, pode haver infiltrações. Portas e janelas podem empenar. < 5,0 3 As fissuras precisam ser tornadas acessíveis e podem ser reparadas por um pedreiro. Fissuras que reabrem podem ser mascaradas por um revestimento adequado. Portas e janelas podem empenar. Tubulações podem quebrar. A estanqueidade é prejudicada. 5 a 15 ou No de fissuras > 3 4 Trabalho de reparação extensivo, envolvendo a substituição de panos de parede, especialmente sobre portas e janelas. Esquadrias distorcidas. Pisos e paredes inclinados visivelmente. Tubulações rompidas. 15 a 25 5 Esta categoria requer um serviço de reparação mais importante, envolvendo reconstrução parcial ou completa. Vigas perdem suporte. Paredes inclinam-se perigosamente e exigem escoramento. Janelas quebram com a distorção. Perigo de instabilidade. > 25 1.7.2 Deformações limites Diante dos problemas decorrentes de movimentos exagerados de fundações, seria de todo interesse prático que se estabelecesse limites aceitáveis. No entanto, fixar limites de movimentos de uma fundação esbarra com enormes dificuldades, diante da gama de materiais envolvidos nas construções, como também na dificuldade de se avaliar a interação fundação-estrutura de um dado problema (TEIXEIRA e GODOY, 1998). Para determinação da distorção angular entre elementos de fundação, adota-se o critério apresentado na Figura 1.7, a seguir: Figura 1.7 – Distorção angular em fundações. A quantificação das deformações admissíveis (Figura 1.8) é feita, em geral, em termos de distorções angulares e danos associados, sugeridos por Bjerrum (1963) e complementados por [Vargas e Silva (1973) apud. Teixeira e Godoy (1998)]. s1 s2 s3 L1;2 L2;3 s = recalques absolutos = recalques diferenciais L = distância entre eixos de pilares 16 Fundações Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Figura 1.8 – Distorções angulares e danos associados. A fixação de recalques absolutos limites é mais difícil que a fixação de recalques diferenciais (distorções angulares) limites. A orientação dada é seguir o tratamento dado por Terzaghi e Peck (1967), separando as fundações em areias das fundações em argilas. Areias: máx = 25 mm (recalque diferencial máximo) smáx = 40 mm para sapatas isoladas smáx = 65 mm para radier Argilas: máx = 40 mm (recalque diferencial máximo) smáx = 65 mm para sapatas isoladas smáx = 65 a 100 mm para radier Os valores ao lado se aplicam a estruturas convencionais de aço ou concreto. Não se aplicam aos casos de prédios em alvenaria portante, para os quais os critérios são mais rigorosos, dependendo da relação L/H (comprimento/altura) da construção e do modo de deformação prevista. Fundações 17 Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Capítulo 2 – Investigação do Subsolo 2.1 Programa de investigação O Projetista de Fundações deve se envolver com o processo de investigação do subsolo desde o início. Infelizmente, na prática, isso frequentemente não acontece. Ao projetista é entregue, junto com as informações sobre a estrutura para a qual deve projetar as fundações, um conjunto de sondagens. Havendo dúvidas sobre as informações do subsolo, o projetista pode solicitar sondagens complementares. Para uma investigação adequada do subsolo, deve-se inicialmente definir um programa com base nos objetivos a serem alcançados. As etapas são: - Investigação preliminar: conhecer as principais características do subsolo; - Investigação complementar ou de projeto: esclarecer feições relevantes do subsolo e caracterizar as propriedades das camadas de solos mais importantes; - Investigação para a fase de execução: visa confirmar as condições de projeto em áreas críticas da obra. A ABNT NBR 8036:1983 fixa condições exigíveis na programação das sondagens de simples reconhecimento dos solos destinada à elaboração de projetos geotécnicos para construção de edifícios. Esta programação abrange o número, a localização e a profundidade das sondagens. A seguir, são apresentados alguns itens da NBR 8036 que devem ser atendidos na análise de investigação geotécnica do subsolo: Número e locação das sondagens: dependem do tipo da estrutura, suas características especiais e das condições geotécnicas do subsolo. Deve ser suficiente para fornecer informações da provável variação das camadas do subsolo do local em estudo. O número mínimo de furos deve atender as especificações apresentadas no quadro 2.1, em função da área de projeção da edificação: Quadro 2.1 - Número mínimo de furos de sondagens (ABNT NBR 8036:1983). ÁREA DE PROJEÇÃO DO EDIFÍCIO No DE FUROS Até 1200 m2 1 furo para cada 200 m2 1200 a 2400 m2 1 furo para cada 400 m2 que excederem de 1200 m2 Acima de 2400 m2 Fixado de acordo com o plano particular da construção Obs.: Nos casos em que não houver ainda disposição em planta dos edifícios, o número de sondagens deve ser fixado de forma que a distância máxima entre elas seja de 100 m, com um mínimo de 3 (três) furos. Quanto à locação dos furos, os mesmos devem estar posicionados na região de interesse, tais como locais de maior carga na estrutura, maior escavação ou movimentação de solo. Deve-se evitar furos alinhados, dando preferência para uma distribuição espacial, conforme apresentado na figura 2.1. Alguns casos, a locação dos furos de sondagem é feita para atender especificidades de projeto, como alinhamento de cortinas de contenção ou poço de elevador. 18 Fundações Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Figura 2.1 – Locação dos furos de sondagem. Profundidade das sondagens: a exploração deve ser levada a profundidades tais que incluam todas as camadas impróprias ou que sejam questionáveis como apoio de fundações, de tal forma que não venham a prejudicar a estabilidade e o comportamento estrutural ou funcional do edifício. A especificação do tipo de sondagem, a quantidade de furos, a locação e a profundidade de execução devem atender aos critérios de projeto, de forma que o Projetista de Fundação possa interpretar corretamente o perfil estratigráfico do terreno de fundação. Milititsky, Consoli e Schnaid (2015) apontam uma série de equívocos devido à falha no processo de investigação geotécnica, levando o projetista a tomar decisões equivocadas e trazendo riscos e danos à edificação. Comentam sobre a quantidade de furos insuficientes, profundidades limitadas na contratação do serviço, tipo de sondagem inapropriado, empresa inidônea, entre outros. Os autores destacam que, por mais que a NBR 8036:1983 estabeleça critérios para a definição da quantidade de furos de sondagem, a visita ao terreno, inspeção às estruturas vizinhas, a experiência e o bom senso devem servir de guia para evitar problemas desta natureza. Portanto, é fundamental que o Projetista de Fundação seja o responsável pela definição do plano de investigação geotécnica. 2.2 Tipos de investigação do subsolo O objetivo da geotecniaé exatamente o de determinar, tanto quanto possível sob fundamentação científica, a interação terreno-fundação-estrutura, com o fim de prever e adotar medidas que evitem recalques prejudiciais ou ruptura do terreno, como o consequente colapso da obra (CAPUTO, 1988). Em outras palavras, o objetivo é alcançar maior estabilidade e menor custo da obra, além da proteção de obras vizinhas. A elaboração de projetos geotécnicos em geral e de fundações exige um conhecimento adequado dos solos. É necessário identificar, classificar e analisar as diversas camadas que compõem o subsolo, assim como a avaliação das suas propriedades referentes à engenharia (QUARESMA, et al, 1999). A obtenção de amostras para identificação e classificação dos solos exige a execução de ensaios de campo, no entanto, a determinação das propriedades de engenharia, em princípio, pode ser feita através de ensaios laboratoriais ou de ensaios de campo. Entretanto, há predominância dos ensaios in situ, ficando a investigação laboratorial restrita a alguns poucos casos de solos coesivos. Os principais processos de investigação geotécnica de campo, para fins de projeto de fundações, são: 2.2.1 Poços e sondagens a trado Os poços e trincheiras de inspeção e o trado são escavações manuais ou mecanizadas, geralmente não escoradas, que avançam até que se encontre o nível do lençol freático ou até onde for estável. Os poços e trincheiras permitem em exame do solo nas paredes e fundo da escavação e a retirada de amostras indeformadas tipo bloco (Figura 2.2). F1 F2 F3 F1 F2 F3 F1 F2 F3 F4 Evitar alinhamentos Furos espacializados Furos em locais importantes Fundações 19 Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Figura 2.2 – Poço ou trincheira de inspeção (adaptado de IPT, 1971). As sondagens a trado são perfurações executadas com um dos tipos de trado mostrados na Figura 2.3. a profundidade também está limitada à profundidade do nível do lençol freático e as amostras retiradas são deformadas. Este tipo de investigação é normalizado pela ABNT NBR 9603:2015. A norma especifica dois tipos de trado, o cavadeira e helicoidal. Figura 2.3 – Trado manual (adaptado de IPT, 1971). A sondagem a trado é dada como terminada nos seguintes casos: Quando atingir a profundidade especificada dos serviços; Quando ocorrerem desmoronamentos da parede do furo; Quando o avanço do trado for inferior a 50 mm em 10 minutos de operação contínua; Quando for atingido o nível do lençol freático. 2.2.2 Sondagem a percussão (SPT) O ensaio de penetração dinâmica (SPT), normalizado pela ABNT NBR 6484:2001 Solo – Sondagem de simples reconhecimento com SPT – Método de ensaio, que prescreve o método de execução da sondagem SPT, bem como os equipamentos utilizados e análises a serem efetuadas. O ensaio consiste na cravação de um amostrador padrão, chamado originalmente de Raymond-Terzagui, por meio de golpes de um peso de 65 kgf, caindo a uma altura de 75 cm. Anota-se o número de golpes necessários para cravar o 45 cm do amostrador em três conjuntos de golpes para cada 15 cm. O resultado do ensaio SPT é o número de golpes necessário para cravar os 30 cm finais do amostrador, denominado de Nspt. A sondagem a percussão consiste em perfurar o solo, de forma a ultrapassar o nível do lençol freático e atravessar solos relativamente compactos ou duros. O furo é revestido se apresentar parede instável. A perfuração avança na medida em que o solo, desagregado com o auxílio do trépano, é removido por circulação de água (lavagem). O ensaio tem como limitações quando encontra matacões, conglomerados ou profundidades maiores que 40 m. 20 Fundações Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Procedimentos de ensaio: a) Para iniciar uma sondagem, monta-se sobre o terreno, na posição de cada perfuração, um cavalete de quatro pernas erroneamente chamado de “tripé”. Um equipamento para sondagem SPT é apresentado na Figura 2.3. b) No topo do tripé é montado um conjunto de roldanas por onde passa uma corda, usualmente chamada de cisal. Este conjunto de tripé e roldanas tem função de auxiliar o levantamento do “martelo”. Na maioria das vezes o início do furo coincide com a superfície do terreno. c) Com auxílio de um “trado cavadeira”, perfura-se até 1m de profundidade. Recolhe-se e acondiciona- se uma amostra representativa de solo, que é identificada como amostra zero. d) Em uma das extremidades de uma composição de haste de 1”, acopla-se o amostrador padrão (1 3/8” e 2”, de diâmetro interno e externo respectivamente). Este é apoiado no fundo do furo aberto com o trado cavadeira. e) Ergue-se o martelo com auxílio do conjunto de roldanas e corda, até uma altura de 75 cm acima do topo da composição de haste e deixa-se que caia sobre esta em queda livre. Este procedimento é realizado até a penetração de 45 cm do amostrador padrão no solo. f) Quando retirado o amostrador do furo é recolhida e acondicionada a amostra contida em seu “bico”. Quando observadas mudanças de tipo de solo que as caracteriza deve, também, ser armazenada e identificada. g) Prossegue-se a abertura de mais um metro de furo até alcançar a cota seguinte, para tal utiliza-se um “trado helicoidal” que remove o material quando se tem determinada coesão e não está abaixo do nível do lençol freático. Caso não seja possível o “avanço a trado”, devido a resistência exagerada do solo ou pela presença de água no lençol freático, prossegue-se a perfuração com auxílio da “circulação de água”. Neste caso, a água é injetada na composição da haste que leva na sua extremidade inferior não o amostrador, mas sim o “trepano”. Esta água é injetada no solo sob pressão fazendo com que a água injetada rompa a estrutura do solo. h) Os dados coletados e medidos em campo são preenchidos em planilha, de forma a se cadastrar todas as informações pertinentes à identificação das camadas de solo e suas características geotécnicas (profundidade, cor, textura, resistência à penetração do amostrador). Figura 2.3 – Etapas de execução da sondagem SPT (VELLOSO & LOPES, 2004). Fundações 21 Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Fatores determinantes na medida do Nspt: Existem diferentes técnicas de perfuração, equipamentos e procedimentos de ensaio nos diversos países. Isto resulta em desuniformidade nos resultados do ensaio, cujas principais diferenças referem-se a fatores como métodos de perfuração, uso de fluídos estabilizantes, diâmetro do furo, mecanismo de levantamento e liberação da queda do martelo, atrito na corda com a roldana, rigidez das hastes, geometria do amostrador e método de cravação. Tais variações resultam em energias diferentes nos golpes, refletindo diretamente no resultado do ensaio e na contagem do Nspt. A tendência moderna recomenda a medida de energia do golpe para cada prática, sendo a ABNT NBR 6484:2001 indicada para tal finalidade. Schnaid e Odebrecht (2012) destacam que além da influência do equipamento e procedimentos de ensaios, devem-se reconhecer os efeitos da influência das condições do solo na resistência à penetração Nspt. Quando o amostrador é impelido para dentro do solo, sua penetração é resistida pelo atrito nas paredes externas e internas e na sua base. Como resultado, a massa de solo nas proximidades do amostrador é afetada por solicitação decorrente da energia de choque do martelo, transmitida por meio das hastes. Gera- se um excesso de poropressão, cuja dissipação é devido à permeabilidade do solo. Como o comportamento dos solos depende da trajetória de tensões e do nível de deformação a que são submetidos, teoricamente o ensaio de campo ideal deveria impor um caminho de tensões e nível de deformações uniforme em toda a massa envolvida no processo, complementando por condição perfeitamente não drenada ou de total dissipação da poropressão. Nem o SPT, nem outros ensaios de campo satisfazem completamenteessas condições, afirmam os autores. É importante que o engenheiro entenda os fatores que afetam os resultados de uma sondagem SPT, o que justifica a diferença de resultados entre duas sondagens muito próximas entre si. Quadro 2.2 – Influência das propriedades de solos granulares no valor do Nspt (Schnaid e Odebrecht, 2012). FATOR INFLUÊNCIA Índices de vazios Redução do índice de vazios aumenta a resistência à penetração Nspt Tamanho médio das partículas Aumento do tamanho do grão aumenta o Nspt Coeficiente de Uniformidade Solos uniformes apresentam menor Nspt Poropressão (pressão neutra) Solos finos densos dilatam e aumentam o Nspt Solos finos muito fofos podem se liquefazer no ensaio, reduzindo Nspt Angulosidade dos grãos Aumento da angulosidade aumenta o Nspt Cimentação A cimentação do solo aumenta a coesão e o Nspt Níveis de tensões O aumento da tensão vertical ou horizontal aumenta o Nspt Informações obtidas: O ensaio SPT tem uma primeira utilidade na indicação da compacidade dos solos granulares (areias e siltes arenosos) e da consistência dos solos coesivos (argilas e siltes argilosos). A ABNT NBR 6484:2001 prevê que o boletim de sondagem forneça, junto com a classificação do solo, sua compacidade ou consistência de acordo com as Tabelas 2.1 e 2.2. Tabela 2.1 - Classificação dos solos granulares (NBR 6484:2001). SOLO Nspt COMPACIDADE Areias e siltes arenosos ≤ 4 Fofa(o) 5 a 8 Pouco compacta(o) 9 a 18 Medianamente compacta(o) 19 a 40 Compacta(o) > 40 Muito compacta(o) 22 Fundações Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Tabela 2.2 - Classificação dos solos coesivos (NBR 6484:2001). SOLO Nspt CONSISTÊNCIA Argilas e siltes argiloso ≤ 2 Muito mole 3 a 5 Mole 6 a 10 Média(o) 11 a 19 Rija(o) > 19 Dura(o) O sistema de classificação do material apresentado nas tabelas anteriores, amplamente utilizado no Brasil, é baseado em medidas de resistência à penetração Nspt sem qualquer correção quanto à energia de cravação e ao nível de tensões. Uma proposta alternativa é apresentada por Clayton (1993) na tabela 2.3. Tabela 2.3 - Classificação dos solos e rochas (Clayton, 1993). SOLO N60 DESIGNAÇÃO Areias* ≤ 2 Muito fofa 3 a 8 Fofa 9 a 25 Média 26 a 42 Densa 43 a 58 Muito densa Argilas** ≤ 3 Muito mole 4 a 8 Mole 9 a 15 Firme 16 a 30 Rija 31 a 60 Muito rija > 60 Dura Rochas brandas*** ≤ 80 Muito brandas 81 a 200 Brandas > 200 Moderadamente brandas *Valor de N60 corrigido para uma tensão de referência de 100 kPa. **Valor de N60 corrigido para 60% da energia teórica de queda livre. ***Valor de N60 corrigido para energia e nível de tensões. Observa-se no quadro apresentado por Clayton (1993) que a resistência à penetração Nspt é descrito como N60. Uma questão importante, quando o projetista se propõe a utilizar ábacos, equações, tabelas, baseados na experiência estrangeira, deve estar atento à energia aplicada no ensaio SPT, que varia em cada país, conforme descrito anteriormente. No Brasil, o sistema de aplicação de golpes é manual e a energia aplicada é da ordem de 72% (N72) da energia nominal. Nos EUA, por exemplo, o sistema de aplicação de golpes é mecanizado e a energia é da ordem de 60% (N60). Assim, antes de se utilizar uma correlação baseada na experiência americana, o número de golpes obtido com uma sondagem brasileira pode ser majorado de 10% a 20%. 2,1 60 72 USAN BrasilN Eq. 2.1 Fundações 23 Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Além da contagem do número de golpes para cravar os 30 cm finais do amostrador (Nspt), a sondagem SPT permite a coleta de amostras de solos, permitindo ao operador e ao profissional responsável, identificar corretamente cada camada do terreno investigado. A nomenclatura a ser adotada nos boletins de sondagem deve conter: Granulometria: tamanho dos grãos predominantes. Cor: definição da coloração do solo, com possíveis variações devido à mineralogia e processos de decomposição e desgastes. Compacidade ou Consistência: depende se o solo é granular (compacidade) ou coesivo (consistência). Por fim, 12 ou 24 horas após o término da perfuração, deve-se medir o nível do lençol freático no terreno. O tempo de espera para medir o lençol freático se deve ao uso de água na etapa de avanço com trépano, o que pode alterar a profundidade de água dentro do furo, principalmente nos casos de camadas de solos finos. Na figura 2,4 é apresentado um exemplo de resultado da sondagem à percussão SPT, onde pode-se constatar as partes de identificação da profundidade da perfuração, contagem do número de golpes Nspt e classificação do material. Os Engenheiros Civis, de forma geral, devem saber analisar e interpretar os resultados das sondagens, de forma a evitar tomadas de decisão equivocadas. Figura 2.4 – Modelo de laudo de sondagem SPT (Fonte: Solo Sondagem). 24 Fundações Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI 2.2.3 Sondagem rotativa ou mista Na ocorrência de fragmentos de rocha (blocos ou matacões) ou mesmo do próprio maciço rochoso, que precisam ser ultrapassados e/ou caracterizados no processo de investigação, deve-se utilizar as sondagens rotativas ou mista. A sondagem rotativa ou mista tem por finalidade obter testemunhos (amostras da rocha) e identificar descontinuidades do maciço rochoso. Sondagem rotativa: perfuração contínua no solo e coleta de testemunhos na rocha. Sondagem mista: ensaio de SPT no solo e coleta de testemunhos na rocha, no mesmo furo. Na Figura 2.5 é apresentado um desenho esquemático do processo executivo de perfuração, que consiste basicamente em fazer girar as hastes (pelo cabeçote de perfuração) e em forçá-lo para baixo (sistema hidráulico). No topo das hastes, há acoplamento que permite a ligação da mangueira de água com as hastes que estão girando. O conjunto de perfuração é formado por hastes, barrilete, coroa diamantada e sistema de injeção de água para o resfriamento. Os testemunhos de rocha são acomodados em caixas de plástico ou madeira, denominada de caixa de testemunhos. Figura 2.5 – Esquema de funcionamento da sendo rotativa (VELLOSO & LOPES, 2004). A coleta dos testemunhos da rocha permite ao profissional responsável, Geólogo ou Engenheiro Civil com formação de Geotecnia, ampliar a classificação do maciço rochoso. São feitas as seguintes análises dos testemunhos: Grau de Alteração (A): destina-se a avaliar a alteração mineralógica e o decréscimo da resistência mecânica devido ao intemperismo ou efeitos hidrotermais. Os graus de alteração são definidos a partir da comparação com a rocha sã, tendo-se os seguintes graus: Fundações 25 Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI (A1) Rocha sã: não apresenta vestígios de alterações físicas e químicas dos minerais primários. Quando pouco fraturada, só pode ser escavada a fogo. (A2) Pouco alterada: a rocha é predominantemente sã, mas apresenta sinais de alterações incipientes dos minerais primários, em geral é descolorida. Quando pouco fraturada, só pode ser escavada a fogo. (A3) Medianamente alterada: apresenta minerais medianamente alterado, é bastante descolorida e suas propriedades físicas e mecânicas são inferiores às da rocha sã, sendo, entretanto, ainda uma rocha bastante resistente, quebrando-se com relativa dificuldade sob o golpe do martelo. (A4) Muito alterada: apresenta minerais muito alterados, às vezes pulverulentos e friáveis, possuindo coloração bastante modificada. Suas propriedades físicas e mecânicas são acentuadamente inferiores às da rocha sã. Quebra-se com facilidade com as mãos, sendo escavável por meios mecânicos convencionais. (A5) Totalmente alterada: rocha decomposta ou solo de alteração, neste caso, o solo mantém a estrutura da rocha original. Escavável com enxadão. Grau de Fraturamento (F): este parâmetro indica o númerode descontinuidades por trecho de fraturamento homogêneo, independente das manobras. Os graus de fraturamento são definidos em cinco categorias: (F1) Rocha ocasionalmente fraturada: 0 a 1 o número de fraturas por metro. (F2) Pouco fraturada: 2 a 5 o número de fraturas por metro. (F3) Medianamente fraturada: 6 a 10 o número de fraturas por metro. (F4) Muito fraturada: 11 a 20 o número de fraturas por metro. (F5) Extremamente fraturada: mais que 20 o número de fraturas por metro. Grau de Coerência (C): destina-se a avaliar, de forma indireta, as características de resistência da rocha. Foram estabelecidos quatro graus de coerência, descritos a seguir: (C1) Muito coerente: quebra com dificuldade ao golpe do martelo, produzindo poucos fragmentos de borda cortante. Superfície dificilmente riscável com aço. Somente escavável ao fogo. (C2) Coerente: quebra facilmente ao golpe do martelo, produzindo vários fragmentos de bordas quebradiças por pressão dos dedos. Superfície riscável com aço. Escavável ao fogo. (C3) Pouco coerente: quebra com muita facilidade ao golpe do martelo, esfarelando-se e produzindo fragmentos que podem ser partidos manualmente. Superfície facilmente riscável com aço, deixando sulcos profundos. É escarificável. (C4) Friável: Quebra facilmente com a pressão dos dedos, desagregando-se. Pode ser cortado com o aço. Escavável com lâmina. A melhor indicação da qualidade de uma rocha é o RDQ (Rock Quality Designation), que consiste num cálculo de percentagem de recuperação em que apenas os fragmentos maiores que 10 cm são considerados. Na determinação do RDQ, apenas barriletes duplos podem ser utilizados. A classificação da rocha de acordo com o RDQ está apresentada na Tabela 2.4. Tabela 2.4 – Índice de qualidade da rocha - RDQ. RDQ QUALIDADE DO MACIÇO ROCHOSO 0 a 25% Muito fraco 26 a 50% Fraco 51 a 75% Regular 76 a 90% Bom 91 a 100% Excelente 26 Fundações Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Para exemplificar o cálculo do RQD, é apresentado na figura 2.6 um desenho esquemático do testemunho de uma rocha coletada na sondagem rotativa, com os comprimentos de cada pedaço. A partir dos comprimentos medidos faz-se o cálculo do RQD. Figura 2.6 – Exemplo de cálculo do RQD. Na figura 2.7 é apresentado um desenho esquemático do equipamento para execução da sondagem rotativa. Observa-se que o sistema mecanizado é montado sob o tripé da sondagem SPT, permitindo a continuidade da perfuração ao atravessar fragmentos de rocha e solo. Figura 2.7 – Desenho esquemático da sonda rotativa. Na figura 2,8 é apresentado um exemplo de resultado da sondagem mista (SPT em solo; Rotativa em rocha), onde pode-se constatar as partes de identificação da profundidade da perfuração, contagem do número de golpes Nspt no solo, RQD e porcentagem de recuperação da rocha, classificação do maciço rochoso. Fundações 27 Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI É fundamental vir junto com o laudo da sondagem rotativa, a fotografia dos testemunhos coletados. Isto permite que o profissional possa comparar a classificação do maciço rochoso com a imagem dos testemunhos, bem como analisar os cálculos de RQD. Figura 2.8 – Laudo de sondagem mista (Fonte: Marcon Sondagens). 2.2.4 Ensaio de Cone (CPT) e Piezocone (CPTu) Originalmente desenvolvido na Holanda na década de 30, para investigar solos moles, o ensaio de cone (CPT) se difundiu no mundo todo graças à qualidade de suas informações VELLOSO & LOPES, (2004). Schnaid e Odebrecht (2012) destacam que os ensaios de cone e piezocone caracterizam-se internacionalmente como uma das ferramentas mais importantes de prospecção geotécnica. Os resultados podem ser utilizados para a determinação estratigráfica de perfis de solos, a determinação de propriedades dos materiais prospectados, particularmente em depósitos de solos moles, e a previsão da capacidade de suporte de elementos de fundação, principalmente profundas. Procedimentos de ensaio: O ensaio consiste basicamente na cravação, a velocidade lenta e constante (2 cm/s ± 0,5cm/s), de uma haste com ponta cônica (60º de ápice), cuja seção transversal tem uma área de 10cm2, medindo-se a resistência que o material prospectado oferece na ponta do cone e, por atrito, na parede lateral do cone. 28 Fundações Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Os procedimentos de ensaio são padronizados. Os equipamentos, porém, podem ser classificados em três categorias: Cone mecânico: caracterizado pela medida, na superfície, via transferência mecânica das hastes, dos esforços necessários para cravar a ponta cônica (qc) e do atrito lateral (fs); Cone elétrico: a adaptação e células de carga instrumentadas eletricamente permite a medida de qc e fs diretamente na ponteira; Piezocone: além das medidas elétricas de qc e fs, permite a contínua monitoração das poropressões (u) durante o processo de cravação. Segundo Schnaid e Odebrecht (2012), os principais atrativos do ensaio são o registro contínua da resistência à penetração, fornecendo uma descrição detalhada da estratigrafia do terreno, informação essencial à composição de custos de um projeto de fundação, e a eliminação da influência do operador nas medidas de ensaio (qc, fs, u). O grande potencial do ensaio consiste na determinação da resistência de camadas de solos moles, cujo ensaio de SPT, muitas vezes, não tem precisão para tal. Um exemplo típico são as argilas orgânicas com Nspt inferior a 1 golpe. Neste caso, qualquer correlação com parâmetro geotécnico ou capacidade de carga fica comprometida, pois não se tem medição de resistência do solo. Por mais mole que seja, não se trata de água, cuja resistência é zero. Os ensaios de cone e piezocone, conseguem determinar um perfil contínuo da resistência do solo mole. No caso do piezocone, inclusive com a dissipação da poropressão, permitindo a análise de tensões totais e efetivas. Quando se está atravessando uma camada de argila mole, pode-se parar a cravação e observar a velocidade de dissipação do excesso de poro-pressão. Operação esta, conhecida como Ensaio de Dissipação. Equipamentos de ensaio: O equipamento de cravação consiste de uma estruturas de reação sobre a qual é montado um sistema de aplicação de cargas. Em geral, utilizam-se sistemas hidráulicos para esse fim, sendo o pistão acionado por uma bomba hidráulica acoplada a um motor a combustão ou elétrico. Uma válvula reguladora de vazão possibilita o controle preciso da velocidade de cravação durante o ensaio. A penetração é obtida por meio da cravação contínua de hastes de comprimento de 1m, seguida da retração do pistão hidráulico para o posicionamento de uma nova haste. A reação aos esforços de cravação é obtida pelo peso próprio do equipamento e/ou pela fixação ao solo, por meio de hélices de ancoragem. Schnaid e Odebrecht (2012) apresentam diversos modelos de equipamentos de cravação e destacam que os mesmos podem ser utilizados tanto em terra como em água, neste segundo caso, sobre plataformas flutuantes ou submergíveis. A – Sistema pesado (200 kN) sobre pneus (Geoforma). B – Sistema pesado (200 kN) sobre esteira (Solo Sondagem). C – Sistema submergível (CBPO). D – Sistema pesado (200 kN) sobre esteira (Damasco Penna). Figura 2.9 – Modelos de equipamento de cravação da sondagem CPT, em operação no Brasil (Schnaid e Odebrecht, 2012). A B C D Fundações 29 Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI No que se refere à ponteira cônica, há no mercado uma vasta gama de opções (ver fig. 2.10). Embora pareçam idênticas, apresentam configurações diferentes quanto a sua dimensão, configuração interna (tipo de célula de carga) e externa (posição da pedra porosa). Figura 2.10 – Modelos de ponteira para o ensaio CPT e CPTu. Resultados do ensaio: Os ensaios de CPT eCPTu resultam num laudo de identificação, ao longo da profundidade investigada, da resistência de ponta (qc), atrito lateral (fs), razão de atrito (Rf) e, no caso do piezocone, poropressão (u). O comportamento de “qc e fs x profundidade”, permite avaliar a resistência do solo ao longo da profundidade. O comportamento “u x profundidade”, permite avaliar a capacidade drenante das camadas de solo. Em geral, as leituras de resistência de ponta (qc) e de atrito lateral (fs) são realizadas a cada 20cm de cravação, permitindo obter-se um perfil quase contínuo da resistência das camadas de solo investigadas, conforme apresentado na fig. 2.11. Especificamente, no ensaio de piezocone (CPTu), tem-se ainda a medição da poropressão (u). Solos com baixa capacidade drenante, por exemplo argilas saturadas, apresentam medições de poropressão com valores acima da pressão hidrostática. A penetração da ponteira cônica no solo, gera o deslocamento dos grãos e da água. No caso da água, a pressão necessária para gerar este deslocamento, é denominado de poropressão (u), conforme vê-se na fig. 2.12. Os gráficos resultantes dos ensaios CPT e CPTu devem ser utilizados pelos engenheiros como consulta na definição do perfil estratigráfico do terreno e na determinação dos parâmetros geotécnicos dos materiais. A correta interpretação do laudo de sondagem é fundamental para a definição correta do comportamento esperado do solo, para quaisquer aplicações na prática de engenharia geotécnica. O gráfico “Rf x profundidade” é utilizado para auxiliar na classificação das camadas de solo, neste caso, utilizando-se de ábacos, conforme os apresentados na fig. 2.13. 30 Fundações Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Figura 2.11 – Laudo de sondagem CPT (Fonte: Solo Sondagens). Figura 2.12 – Laudo de sondagem piezocone CPTu (Fonte: Solo Sondagens). Fundações 31 Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI A – Ábaco de Olsen e Malone (1988), com base nos registros de cone elétrico. B – Ábaco de Schmertmann (1969), com base nos registros de cone mecânico. C – Ábaco de Beggemann (1965), com base nos registros de qc e fs em kg/cm2, utilizando cone mecânico. D – Ábaco de Robertson e Campanella (1983), com base nos registros de qc e fs em kPa. Figura 2.13 – Ábacos de classificação dos solos, para sondagem CPT. 2.2.5 Correlação entre SPT e CPT A existência de uma quantidade significativa de dados, não só no exterior como também no Brasil, dos resultados de sondagens SPT e CPT ou CPTu, para caracterizar os terrenos para fundações, é interessante que se disponha de correlações entre os valores de Nspt e qc. Tais correlações permitem, mesmo de que forma criteriosa, aplicar métodos de cálculo de tensão admissível ou capacidade de suporte, baseados nos dois tipos de sondagem. No Brasil, existem correlações baseadas em um número grande de dados tanto para os solos do Rio de Janeiro como para solos de São Paulo. No RJ os valores são sugeridos por Danziger e Velloso (1986, 1995), enquanto para SP são propostos por Alonso (1980). Vale salientar que os valores da Tabela 2.5 correspondem ao Nspt sem qualquer correlação, ou seja, para as condições de energia usualmente empregadas no Brasil. Ver em Danziger e Velloso (1995) os valores relativos a N60. 32 Fundações Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Tabela 2.5 – Valores sugeridos de K (Danziger e Velloso, 1986, 1995). TIPO DE SOLO qc = K.Nspt (MPa/golpes/0,3m) Areia 0,60 Areia siltosa Areia argilosa Areia com argila e silte 0,53 Silte Silte arenoso Argila arenosa 0,48 Silte com areia e argila Argila com silte e areia 0,38 Silte argiloso 0,30 Argila Argila siltosa 0,25 Kenig (2016), após realizar o tratamento estatístico dos dados de sondagens SPT e CPT, realizadas na área central do município de Balneário Camboriú-SC, aplicou a equação da correlação geral, separando conforme a compacidade (solos granulares) e a consistência (solos argilosos). Dessa forma, foram criados intervalos de valores e um valor absoluto da resistência de ponta do cone (qc), e do coeficiente de correlação entre Nspt e qc, denominado de “k = qc/Nspt”. Os resultados estão apresentados nas tabelas 2.6 e 2.7. Tabela 2.6 – Valores sugeridos de K para bancos de areia em Balneário Camboriú, SC (Kenig, 2016). Compacidade das Areias Intervalo de qc (MPa) qc mediana (MPa) Intervalo de k (qc/NSPT) k mediano (qc/NSPT) Fofa < 10,11 9,77 2,53 a 9,53 4,06 Pouco compacta 10,34 a 11,02 10,68 1,38 a 2,07 1,65 Medianamente compacta 11,25 a 13,29 12,27 0,74 a 1,25 0,91 Compacta 13,52 a 18,30 15,91 0,46 a 0,71 0,54 Muito compacta > 18,53 20,69 0,38 a 0,45 0,41 Tabela 2.7 – Valores sugeridos de K para bancos de argila em Balneário Camboriú, SC (Kenig, 2016). Consistência das Argilas Intervalo de qc (MPa) qc mediana (MPa) Intervalo de k (qc/NSPT) k mediano (qc/NSPT) Muito Mole < 1,56 1,44 0,78 a 1,33 1,05 Mole 1,79 a 2,25 2,02 0,45 a 0,60 0,50 Média 2,48 a 3,40 2,94 0,34 a 0,41 0,37 Rija 3,63 a 5,48 4,55 0,29 a 0,33 0,30 Dura > 5,71 10,32 0,25 a 0,29 0,26 Fundações 33 Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Kenig (2016) apresenta, na forma de gráficos, o conjunto de dados utilizados no seu trabalho, correlacionando os valores entre o número de golpes da sondagem à percussão (Nspt) e a resistência de ponta do cone (qc), obtida na sondagem CPT. Os valores brutos foram analisados e tratados estatisticamente, de forma a eliminar pontos extremos, utilizando o modelo Teste de Wilcoxon. Os resultados estão apresentados nas figuras 2.14 para areias e 2.15 para argilas, onde estão descritas as equações de tendência e R-quadrado. Figura 2.14 – Correlação entre Nspt x qc para solos arenosos (Kenig, 2016). Figura 2.15 – Correlação entre Nspt x qc para solos argilosos (Kenig, 2016). y = 0,2275x + 9,1999 R² = 0,3728 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 0 20 40 60 80 100 120 140 160 q c (M P a) NSPT (Número de Golpes) Teste de Wilcoxon - Areias e Siltes Arenosos y = 0,2305x + 1,0956 R² = 0,5364 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 0 10 20 30 40 50 60 70 q c (M P a) NSPT (Número de Golpes) Teste de Wilcoxon - Argilas 34 Fundações Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI 2.2.6 Ensaio de Palheta (Vane Test) O ensaio de palheta ou Vane Test é tradicionalmente empregado para a determinação da resistência ao cisalhamento não-drenada (Su), de depósitos de argilas moles. Este ensaio assume a hipótese de ruptura cilíndrica do solo, a partir do torque necessário para cisalhar o solo por rotação, em condições não drenadas. No ensaio é utilizada uma palheta de seção cruciforme, dotada de quatro aletas em aço de alta resistência, cravada no solo por meio de um sistema hidráulico, similar ao utilizado no ensaio de cone. O equipamento é dotado de um torquímetro, para medir o torque necessário para girar a palheta em profundidades preestabelecidas, cisalhando o solo por rotação. A palheta tem um diâmetro de 65mm e altura de 130mm. Após a cravação da palheta no solo, na profundidade de ensaio, posiciona-se a unidade de torque e medição, zeram-se os instrumentos e aplica-se imediatamente o torque com velocidade de 6o/min. O intervalo de tempo máximo admitido entre o fim da cravação da palheta e o início da rotação é de cinco minutos. Na figura 2.16 é apresentado um desenho esquemático da palheta e do torquímetro utilizado. Figura 2.16 – Equipamento para ensaio de palheta (Ortigão e Collet, 1987). Schnaid e Odebrecht (2012) apresentam diversas equações aplicadas para a determinação da resistência ao cisalhamento não-drenado do solo (Su), a partir dos valores de torque medidos no ensaio de palheta. 𝑆𝑢 = 0,86 . 𝑇𝑚á𝑥 𝜋. 𝐷3 Onde:Tmáx = torque máximo medido (kN.m); D = diâmetro da palheta (m). Fundações 35 Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI O valor da resistência não-drenada amolgada (Sur) é obtido pela mesma equação, utilizando-se, porém, o valor do torque correspondente à condição amolgada. Para determinar a resistência amolgada (Sur), imediatamente após a aplicação do torque máximo, são realizadas revoluções completas na palheta e refeito o ensaio. O intervalo de tempo entre os dois ensaios deve ser inferior a cinco minutos. A resistência das argilas depende do arranjo entre os grãos e do índice de vazios em que se encontra. Foi observado que, quando submetem certas argilas ao manuseio (estado amolgado), a sua resistência diminui, ainda que o índice de vazios se mantenha constante. Esta perda de resistência amolgada é denominada de sensitividade da argila. O valor da sensibilidade (St) das argilas é obtido pela equação: 𝑆𝑡 = 𝑆𝑢 𝑆𝑢𝑟 Su = resistência não drenada do solo; Sur = resistência não drenada do solo amolgado. Tabela 2.7 – Sensibilidade das argilas (Skempton e Northey, apud Schnaid e Odebrecht, 2012). Sensibilidade St Argilas Não Sensitivas 1,0 Sensitividade Baixa 1,0 a 2,0 Sensitividade Média 2,0 a 4,0 Argilas Sensitivas 4,0 a 8,0 Sensitividade Alta >8,0 Sensitividade Ultra >16,0 Ortigão e Collet (1987) apresentam dados de resultados de ensaios de palheta para argila mole de Sarapui- RJ (ver figura 2.17). Observa-se a diferente da resistência não-drenada (Su), obtida pelo valor do torque máximo, e a resistência não-drenada do solo amolgado (Sur). Figura 2.17 – Resistência não-drenada obtida pelo ensaio de palheta (Ortigão e Collet, 1987). 36 Fundações Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI 2.2.7 Ensaio Dilatométrico O ensaio consiste na cravação da lâmina dilatométrica no terreno, medindo-se o esforço necessário à penetração, para em seguida usar a pressão de gás para expandir a membrana de aço (diafragma) no interior da massa de solo. O equipamento é portátil e de fácil manuseio e operação. O ensaio dilatométrico foi desenvolvido na Itália, pelo Professor Silvano Marchetti, pesquisador responsável pela concepção e construção do equipamento, como também pela formulação dos conceitos básicos associados a sua interpretação. O equipamento consiste em uma lâmina dilatométrica, uma unidade de controle de pressões (dotada de sinal acústico), um cabe elétrico/pneumático, um sistema de calibração e uma unidade de pressão, além do sistema de cravação, onde normalmente, utiliza-se o mesmo do ensaio de cone. A cravação da lâmina no terreno, a uma velocidade próxima de 2 cm/s, é interrompida a cada 20 cm, quando se procede imediatamente a expansão da membrana, registrando-se as pressões necessárias para o deslocamento horizontal do centro da membrana de 0,05mm (± 0,02mm) - A; e o deslocamento radial da membrana de 1,10mm (± 0,03mm) - B. A pressão interna no diafragma, durante a despressurização do sistema, quando a membrana retorna ao deslocamento, corresponde à pressão A - C. Na figura 2.18 tem-se um desenho esquemático do equipamento dilatométrico, desenvolvido por Marchetti. Figura 2.18 – Equipamento para ensaio dilatométrico de Marchetti (Schnaid e Odebrecht, 2012). Obtidos os valores das pressões medidas A, B e C, calcula-se as pressões corrigidas, através das seguintes formulações: 𝑃0 = 1,05 . (𝐴 − 𝑍𝑚 − ∆𝐴) − 0,05 . (𝐵 − 𝑍𝑚 − ∆𝐵) 𝑃1 = 𝐵 − 𝑍𝑚 − ∆𝐵 𝑃2 = 𝐶 − 𝑍𝑚 + ∆𝐴 Onde: Zm = desvio de zero do manômetro Fundações 37 Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI A = pressão de gás relativa à leitura A, em calibração ao ar (correção da rigidez da membrana) B = pressão de gás relativa à leitura B, em calibração ao ar (correção da rigidez da membrana) Conhecidos os valores de P0 e P1, a diferença entre estas pressões pode ser utilizada na determinação do módulo de elasticidade do solo (ED). 𝐸𝐷 = 34,7. (𝑃1 − 𝑃0) O índice de tensão horizontal do solo (kD) é definido de forma análoga ao coeficiente de empuxo no repouso (k0), conforme a equação a seguir: 𝑘𝐷 = 𝑃0 − 𝑢0 𝜎′𝑣 Marchetti (1980) utiliza o índice de tensão horizontal kD para estimar o k0, segundo a expressão: 𝑘0 = ( 𝑘𝐷 1,5 ) 0,47 − 0,6 O índice de material (ID) é definido como a razão entre (P1 – P0) e a pressão horizontal efetiva (P0 – u0), sendo u0 a pressão hidrostática no solo: 𝐼𝐷 = 𝑃1 − 𝑃0 𝑃0 − 𝑢0 Figura 2.19 – Classificação dos solos (Schnaid e Odebrecht, 2012). 38 Fundações Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI A razão de sobreadensamento (OCR) é definida como a razão entre a máxima tensão efetiva a que o solo já foi submetido e a tensão vertical efetiva atual. Este parâmetro controle as deformações do solo durante o carregamento, conforme o comportamento de solos normalmente e pré adensados. Para ID < 1,2 𝑂𝐶𝑅 = (0,5. 𝑘𝐷) 1,56 Para 1,2< ID < 2,0 𝑂𝐶𝑅 = (0,67. 𝑘𝐷) 1,91 Para ID > 2,0 𝑂𝐶𝑅 = (𝑚. 𝑘𝐷) 𝑛 Onde: m = 0,5 + 0,17 . P n = 1,56 + 0,35 . P P = (ID – 1,2) / 0,8 Figura 2.20 – Estimativa de OCR com base nas medidas de kD (Schnaid e Odebrecht, 2012). Fundações 39 Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Capítulo 3 – Parâmetros Geotécnicos dos Solos 3.1 Resistência ao cisalhamento dos solos Num projeto de fundação superficial, cabe ao projetista avaliar a capacidade de suporte do terreno, assegurando que este não sofra ruptura por excesso de carga, ou mesmo por deformações excessivas. Os solos oferecem resistência ao cisalhamento devido à parcela de atrito interno entre grãos () e coesão entre grãos e água (c), sendo estes parâmetros típicos de solos granulares e coesivos, respectivamente. Por meio a ação do atrito interno, ou da coesão, ou ainda da combinação de ambos, é possível avaliar a resistência ao cisalhamento de um solo e, por conseqüência, a estabilidade do elemento de fundação apoiado sobre este. Na Figura 3.1 são apresentados desenhos esquemáticos da estrutura dos solos granulares e coesivos. Percebe- se que os solos granulares possuem maior espaço de vazios entre grãos, o que lhes garante uma maior permissividade hidráulica. Sua resistência se deve ao contato físico entre grãos. Já os solos coesivos apresentam menor espaço de vazios, sendo menos permeável, e sua resistência se deve à adesão molecular entre a água e o grão lamelar. Figura 3.1 – Efeito de atrito interno e coesão nos solos. Na Figura 3.2 é possível identificar o mecanismo de ruptura de solos compressíveis, submetidos a esforços de compressão pelo carregamento de uma sapata. Percebe-se que a formação da superfície de ruptura ocorre na interface entre grãos, onde imperam os efeitos de atrito interno (em solos granulares) ou coesão (solos coesivos). A ruptura ocorre por cisalhamento e não por compressão ou esmagamento dos grãos. Como resistência ao carregamento, o solo possui uma tensão cisalhante máxima (resist), decorrente da ação conjunta dos parâmetros geotécnicos (atrito e coesão) e esforço normal oriundo da densidade (). Solo granular fofo (mais vazios e menor atrito) Solo granular compacto (menos espaços de vazios e maior atrito) H O H Solo coesivo mole (mais vazios e menor coesão) Solo coesivo duro (menos vazios e maior coesão) 40 Fundações Prof. Luis Fernando P. Sales Engenharia Civil - UNIVALI Figura 3.2 – Mecanismo de ruptura em solos compressíveis. tgc resist resist = tensão cisalhante de resistência do solo = tensão normal ao plano cisalhante c = coesão do solo = atrito interno do solo 3.1.1 Determinação dos parâmetros geotécnicos do solo a) Ensaios de laboratório: Como forma de determinar a resistência
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