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POLÍTICAS PÚBLICAS DE PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER WÂNIA PASINATO BRUNO AMARAL MACHADO THIAGO PIEROBOM DE ÁVILA Coordenadores Políticas públicas de prevenção à violência contra a m ulher COLEÇÃO da FESMPDFT Direito, Transdisciplinaridade & Pesquisas Sociojurídicas A complexidade do conhecimento científico e a espe- cialização levaram à diferenciação interna da ciência em distintos subsistemas científicos. Nesse processo, como marco da modernidade, o senso comum, inva- riavelmente, foi relegado à categoria de conhecimento menor, não contemplado pelos cânones do rigor epis- temológico. A diferenciação da ciência levou a dois fenômenos distintos: por um lado, a verticalização da produção do saber, nicho ocupado por especialistas, marcado pela escassa ou nula interlocução entre as áreas. Por outro, a natureza disciplinar do conhecimento ensejou o estudo simultâneo de um determinado objeto sob a perspectiva de diferentes tradições. Como resultado, observa-se, inicialmente, a transferência de categorias e métodos entre disciplinas, fenômeno descrito como interdisciplinaridade, marcado pela linearidade e redu- ção a um nível simplificado da realidade observada. A transdisciplinaridade, de outro ângulo, focaliza as virtualidades da interlocução entre as áreas e inves- te nas soluções que superam a cegueira seletiva que não raramente leva à verticalização epistemológica em compartimentos estanques. Inspirada por esse último enfoque, a coleção Direito, Transdisciplinaridade & Pes- quisas Sociojurídicas investe nas pesquisas que privile- giam a interlocução do direito com diferentes áreas do conhecimento. Não se nega a relevância da especiali- zação no direito e há um inequívoco ganho em escala na interlocução. As obras selecionadas pela Coleção evidenciam ressonâncias entre distintos subsistemas científicos, sem a negação a priori do senso comum e de outros saberes (literatura, cinema e demais manifes- tações artísticas – sistema arte). Ao promover a aber- tura cognitiva às diferentes abordagens, a transdisci- plinaridade privilegia a interseção entre as linguagens e questiona as fronteiras demarcadas historicamente. Ciente da complexidade e policontextualidade da reali- dade contemporânea, a Coleção estimula as pesquisas inspiradas pela reconstrução de novos horizontes entre as diferentes áreas do conhecimento. BRUNO AMARAL MACHADO Coordenador da Coleção – FESMPDFT Outros títulos desta Coleção Violência x Cidade O papel do Direito Urbanístico na violência urbana Paulo Afonso Cavichioli Carmona Justiça Criminal e Democracia II Bruno Amaral Machado (coord.) Criminologia e cinema Narrativas sobre a violência Bruno Amaral Machado | Cristina Zackseski Evandro Piza Duarte (coords.) Justiça Juvenil Paradigmas e experiências comparadas Anderson Pereira de Andrade Bruno Amaral Machado (coords.) Criminologia e cinema Semânticas do castigo Bruno Amaral Machado | Cristina Zackseski Evandro Piza Duarte (coords.) Direito, Transdisciplinaridade & Pesquisas Sociojurídicas – vol. 6 ISBN 978-85-45572-01-5 Fundação Escola A presente coletânea visa fornecer visão panorâmica sobre as políticas públicas de prevenção à violência doméstica e familiar contra as mulheres no Brasil, indicando algumas das experiências em curso. Para contornar as lacunas de pesquisas independentes sobre a efetividade das políticas públicas de prevenção, neste livro buscamos reunir pesquisas científicas produzidas por pesquisadores e pesquisadoras na área de violência e gênero atuantes em universidades situadas em diferentes estados brasileiros. Coleção Direito, Transdisciplinaridade & Pesquisas Sociojurídicas Coordenador: Bruno Amaral Machado Conselho Científico Editorial da Coleção (FESMPDFT) Adilson Abreu Dallari (PUC-SP) Fabio Roberto D’Ávila (PUC-RS) Gabriel Ignacio Anitua (Universidade de Buenos Aires) Iñaki Rivera Beiras (Universidade de Barcelona) Ingo Wolfgang Sarlet (PUC-RS) Jefferson Carús Guedes (Uniceub) Julio Zino Torrazza (Universidade de Barcelona) Luis Manuel Fonseca Pires (PUC-SP) Márcio Pugliesi (PUC-SP) Máximo Sozzo (Universidade Del Litoral) Miguel Etinger de Araújo Júnior (UEL) Paulo Gustavo Branco Gonet (IDP/FESMPDFT) Roberto Bergalli (Universidade de Barcelona) POLÍTICAS PÚBLICAS DE PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER POLÍTICAS PÚBLICAS DE PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER Wânia Pasinato Bruno amaral machado thiago PieroBom de Ávila Coordenadores MADRI | BARCELONA | BUENOS AIRES | SÃO PAULO Autores BRASÍLIA-DF Adriano Beiras n Ana Paula Portella n Bruno Amaral Machado Caio Henrique de Mendonça Chaves Incrocci n Ingrid Viana Leão Ivonete Pinheiro n Jacqueline Pitanguy n José Raimundo Carvalho Leila Linhares Barsted n Luanna Tomaz de Souza n Marcos Nascimento Marlene Inês Spaniol n Marlene Neves Strey n Milene Maria Xavier Veloso Patrícia Krieger Grossi n Paula Martins n Renata Teixeira Jardim n Suelaine Carneiro Suely Ferreira Deslandes n Thiago Pierobom de Ávila n Tiago Ferreira de Assis Valeska Zanello n Victor Hugo de Oliveira n Wânia Pasinato Coleção Direito, Transdisciplinaridade & Pesquisas Sociojurídicas – vol. 6 Políticas públicas de prevenção à violência contra a mulher Coordenadores Wânia Pasinato / Bruno Amaral Machado / Thiago Pierobom de Ávila Autores Adriano Beiras / Ana Paula Portella / Bruno Amaral Machado / Caio Henrique de Mendonça Chaves Incrocci / Ingrid Viana Leão / Ivonete Pinheiro / Jacqueline Pitanguy / José Raimundo Carvalho / Leila Linhares Barsted / Luanna Tomaz de Souza / Marcos Nascimento / Marlene Inês Spaniol / Marlene Neves Strey / Milene Maria Xavier Veloso / Patrícia Krieger Grossi / Paula Martins / Renata Teixeira Jardim / Suelaine Carneiro / Suely Ferreira Deslandes / Thiago Pierobom de Ávila / Tiago Ferreira de Assis / Valeska Zanello / Victor Hugo de Oliveira / Wânia Pasinato Produção e Editoração eletrônica Ida Gouveia / HBLYZ / Oficina das Letras® Imagem da Capa Obra de Luiz Costa, “O pintor dos Candangos”, Brasília/DF – Candangos I, acrílico sobre tela, 60x90 cm, 2015 (detalhes). Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo – Lei 9.610/1998. © MARCIAL PONS BRASIL Av. Brigadeiro Faria Lima, 1461 Torre Sul, 17/8, Jardim Paulistano CEP 01452-002 São Paulo-SP ( 55+ (11) 3192.3733 www.marcialpons.com.br – contato@marcialpons.com.br © Wânia Pasinato / Bruno Amaral Machado / Thiago Pierobom de Ávila, Coords., 2019. Fomento: FESMPDFT – Fundação Escola Superior do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Colaboração: ALPEC – Associação Latino-Americana de Direito Penal e Criminologia, Grupo de Pesquisa Política Criminal (Uniceub-UnB), Programas de Pós-Graduação em Direito do Uniceub e da UnB. © EDIÇÕES DA FUNDAÇÃO ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS SCRS Quadra 502, Bloco A, Loja 55, Asa Sul, CEP 70330-510 Brasília-DF ( 55+ (61) 3226.4643 www.escolamp.org.br – escolamp@escolamp.org.br Conselho Administrativo FESMPDFT: Diretora-Geral: Procuradora de Justiça Eunice Pereira Amorim Carvalhido / Diretor Administrativo-Financeiro: Promotor de Justiça Sérgio Eduardo Correia Costa Gomide / Diretor de Ensino: Promotor de Justiça Roberto Carlos Silva / Diretora Cultural: Promotora de Justiça Ana Luíza Lobo Leão Osório / Diretor Editorial: Promotor de Justiça Rodolfo Cunha Salles. Impresso no Brasil A512c Políticas públicas de prevenção à violência contra a mulher / Adriano Beiras... [et alii]; coordenadores Wânia Pasinato, Bruno Amaral Machado, Thiago Pierobom de Ávila. – 1. ed. – São Paulo: Marcial Pons ; Brasília [DF}: Fundação Escola, 2019. (Direito, Transdisciplinaridade & Pesquisas Sociojurídicas – vol. 6) Inclui bibliografia ISBN 978-85-45572-01-5 1. Direitos das mulheres - Brasil. 2. Violência contra as mulheres. 3. Violência - Prevenção - Política governamental. I. Pasinato, Wânia.II. Machado, Bruno Amaral. III. Ávila, Thiago Pierobom de. IV. Título. 19-54897 CDU: 347.156(81) CIP-Brasil. Catalogação na Publicação. Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ SUMÁRIO 1. As políticas públicas de prevenção à violência contra a mulher ...... 13 Wânia PaSinaTo Bruno aMaral MachaDo Thiago PiEroBoM DE Ávila Parte 1 Eixo Prevenção Primária 2. O direito de acesso a informações sobre violência contra a mulher no Brasil ........................................................................................... 27 Paula MarTinS 3. Igualdade de gênero no currículo escolar: os significados na Lei Maria da Penha até a Judicialização da política educacional ........... 47 ingriD viana lEão 4. Violência doméstica, mercado de trabalho feminino e o papel do setor privado no enfrentamento à violência contra a mulher ........... 73 JoSé raiMunDo carvalho vicTor hugo DE olivEira 5. Para além da violência doméstica: o reconhecimento das situações de feminicídio como imperativo para a eficácia das políticas de prevenção .......................................................................................... 109 ana Paula PorTElla 10 POLÍTICAS PÚBLICAS DE PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER Parte 2 Eixo Prevenção Secundária 6. Violência de gênero contra as mulheres e saúde mental: psiquiatri- zação, silenciamento e invisibilidades .............................................. 135 valESka ZanEllo 7. A percepção dos agentes institucionais sobre a rede especializada de atendimento às mulheres que sofrem violência por parceiro íntimo ................................................................................................ 159 Tiago FErrEira DE aSSiS SuEly FErrEira DESlanDES 8. Avaliação e gestão de risco para mulheres em situação de violência doméstica e familiar: a experiência da rede de enfrentamento a violência de Canoas/RS .................................................................... 181 MarlEnE nEvES STrEy rEnaTa TEixEira JarDiM 9. Mulheres negras e violência doméstica: decodificando os números 205 SuElainE carnEiro Parte 3 Eixo Prevenção Terciária 10. A experiência do Pro Paz mulher: reflexões acerca dos limites e potencialidades dos centros integrados ............................................ 227 luanna ToMaZ DE SouZa MilEnE Maria xaviEr vEloSo ivonETE PinhEiro 11SUMÁRIO 11. Violência contra as mulheres e homens autores de violência: os serviços de responsabilização .......................................................... 253 JacquElinE PiTanguy lEila linharES BarSTED 12. Grupos reflexivos: notas sobre os desafios para a construção de responsabilização, redução de violência e efetividade de programas para homens autores de violência contra as mulheres ...................... 275 aDriano BEiraS MarcoS naSciMEnTo caio hEnriquE DE MEnDonça chavES incrocci 13. Patrulhas Maria da Penha no Estado do Rio Grande do Sul: análise dos avanços e desafios dos cinco anos da experiência pioneira desta política pública de prevenção à violência de gênero ............... 298 PaTrícia kriEgEr groSSi MarlEnE inêS SPaniol 1 POLÍTICAS PÚBLICAS DE PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA AS MULHERES Wânia PaSinaTo1 Bruno aMaral MachaDo2 Thiago PiEroBoM DE Ávila3 1. Doutora em Sociologia pela Universidade de São Paulo, com Pós-doutorado no Núcleo de Estudos de Gênero – PAGU/UNICAMP. Consultora especializada em políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres e gênero com experiência em projetos para governos, ONGs e Agências Internacionais. 2. Doutor em Direito (Especialidade Sociologia Jurídico-penal) pela Universidade de Barcelona, com estágio pós-doutoral em Sociologia (UnB e John Jay-Nova Iorque). Pesquisador Associado do NEVIS (Núcleo de Estudos sobre a Violência) da UnB. Professor da FESMPDFT. Professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Direito e Políticas Públicas (Uniceub). Promotor de Justiça do MPDFT. 3. Doutor em Ciências Jurídico-Criminais pela Universidade de Lisboa, com estágio de Pós-Doutorado em Criminologia pela Universidade Monash da Austrália. Professor do programa de pós-graduação lato sensu da FESMPDFT, Professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Direito e Políticas Públicas (Uniceub), Pesquisador associado ao Instituto de Direito Penal e Ciências Criminais da Universidade de Lisboa, Research Fellow do programa de pesquisa Gender and Family Violence – new frameworks on prevention da Universidade Monash. Promotor de Justiça do MPDFT. 14 POLÍTICAS PÚBLICAS DE PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER As políticas públicas para as mulheres: um campo de pesquisa A violência contra as mulheres é uma grave violação de direitos humanos, com consequências de longo prazo para o bem-estar, saúde, segurança, independência econômica e formação educacional das mulheres, bem como no desenvolvimento de sociedades e países (ONU, 2006a). No Brasil, pesquisa do DaTaSEnaDo (2018) sobre a opinião e percepção sobre violência doméstica documentou que, em 2017, 29% das mulheres entrevistadas declararam já ter sofrido algum tipo de violência doméstica ou familiar provocada por um homem. No mesmo sentido, pesquisa realizada com 10.000 mulheres na região Nordeste documentou que 27% das entrevistadas já sofreram ao menos um ato de violência psicológica, física ou sexual ao longo da vida, sendo que 11,9% do total teriam sofrido um ato de violência doméstica no último ano (CARVALHO e OLIVEIRA, 2016). Diplomas internacionais de direitos humanos têm reconhecido a centralidade do desenvolvimento de políticas públicas de prevenção à violência contra as mulheres como uma responsabilidade estatal. Partindo da Recomendação n. 19 do Comitê CEDAW (ONU, 1992) e passando pela Declaração e Plataforma de Ação de Pequim (ONU, 1995), as diretrizes internacionais destacam a preocupação com o estudo das causas e consequências da violência contra as mulheres, bem como a avaliação da efetividade das medidas de prevenção. Tais diretrizes têm apontado para a absoluta prioridade de que “o Estado deve construir e sustentar estratégias sólidas e multi-setoriais, coordenadas em nível nacional e local”, “Estados devem alocar recursos e orçamento para programas destinados a enfrentar e reparar a violência contra as mulheres” e “deve-se fortalecer a base de conhecimentos relacionada a todas as formas de violências contra as mulheres, para que informem as políticas públicas e as estratégias de desenvolvimento” (ONU, 2006b, p. 3-4). No Brasil, a Lei Maria da Penha é reconhecida como marco político na luta pelos direitos humanos das mulheres no Brasil. Fruto de intensa atividade de advocacy de movimentos feministas, esta legislação vai além da perspectiva punitiva, incorporando relevantes aspectos relacionados às políticas públicas de prevenção à violência doméstica e familiar contra a mulher. A concretização destes aspectos preventivos na lei exige a intervenção articulada dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), nos três níveis de governo (federal, estadual e municipal), numa abordagem integral da violência doméstica e familiar contra as mulheres (PASINATO, 2015). A partir das diretrizes constantes da Convenção de Belém do Pará (OEA, 1994), do artigo 8º da Lei Maria da Penha e dos Planos Nacionais de Políticas para as Mulheres, relacionadas à transversalidade, universalidade e integralidade das políticas públicas de atenção às mulheres, diversas experiências de prevenção à violência doméstica e familiar contra as mulheres passaram a ser realizadas no Brasil, nas áreas de educação, saúde, assistência social, trabalho, habitação, 15APRESENTAÇÃO previdenciária, bem como no âmbito dos sistemas policial e de justiça. Ainda que se reconheça avanço na institucionalização das políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres no Brasilapós o advento da Lei Maria da Penha (MARTINS et alii, 2014), diversos problemas foram detectados, como a “fragmentação das políticas e programas, a dispersão ou a sobreposição de projetos e ações” (PASINATO, 2015, p. 541). A transversalidade de gênero nas políticas, a intersetorialidade dos programas e o objetivo de integralidade e universalidade são metas ainda longe de estarem cumpridas. Se o avanço já era penoso, nos últimos anos, tais programas têm sofrido com a falta de investimentos e o próprio desmantelamento da política a partir da desestruturação da Secretaria de Políticas para as Mulheres no nível federal. O atual contexto é especialmente preocupante quando se constata que, apesar de haver um aumento do conhecimento sobre a Lei Maria da Penha e da consciência do que é a violência doméstica e familiar contra mulheres, cresceu de 15% (em 2013) para 27% (em 2017) o percentual de mulheres que afirmam que “não fez nada” ao ser indagada sobre “qual foi sua atitude em relação à última agressão” (DaTaSEnaDo, 2018, p. 13). A frustração de expectativas das mulheres quanto às suas necessidades e o que elas efetivamente obtêm a partir das políticas públicas oferecidas pode explicar tais números. Há poucos estudos sobre a efetividade de tais políticas. Relatórios elaborados pelos próprios executores das políticas usualmente se limitam a exaltar seus aspectos positivos, sem incorporar críticas independentes destinadas à sua monitoração e ao seu aperfeiçoamento. É necessário avaliar se as políticas projetadas estão sendo efetivamente implementadas e, quando efetivamente implementadas, a efetividade de tais intervenções. Para isso, as metodologias de avaliação de impacto permitem mensurar resultados e propor aperfeiçoamento das políticas, projetos e ações. A presente coletânea visa fornecer visão panorâmica sobre as políticas públicas de prevenção à violência doméstica e familiar contra as mulheres no Brasil, indicando algumas das experiências em curso. Para contornar as lacunas de pesquisas independentes sobre a efetividade das políticas públicas de prevenção, neste livro buscamos reunir pesquisas científicas produzidas por pesquisadores e pesquisadoras na área de violência e gênero atuantes em universidades situadas em diferentes estados brasileiros. Políticas públicas de prevenção para a violência doméstica e familiar contra as mulheres Estudos internacionais dividem a atividade de prevenção da violência em três níveis: prevenção primária, secundária e terciária (OMS, 2002; HEISE, 2011; OUR WACHT et alii, 2015). Atividades de prevenção primária, ou de prevenção em sentido estrito, são destinadas à população como um todo, tendo como foco as causas primárias (ou subjacentes) da violência doméstica, 16 POLÍTICAS PÚBLICAS DE PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER relacionadas à visão estereotipada de papéis sociais entre homens e mulheres, que normalizam a violência como aceitável ou tolerável (v. ÁVILA, 2017a). A prevenção secundária, também denominada de intervenção precoce, visa alcançar indivíduos que estão numa situação de risco acima da média de sofrerem ou praticarem a violência doméstica, ou ainda se relaciona a intervenções imediatas após a violência, usualmente pelos serviços de saúde, a fim de se evitar a escalada da violência. A prevenção terciária, também chamada de resposta, envolve intervenções de longo prazo para mitigar os impactos negativos da violência, como os programas de apoio à vítima e de responsabilização do agressor, bem como as respostas pelo sistema de justiça, igualmente com a finalidade de prevenir em longo prazo a reiteração da violência, ante seu caráter usualmente cíclico. A divisão das políticas públicas nesta classificação nem sempre é questão fácil. A presente coleção é dividida em três partes, relacionadas ao tipo da atividade de prevenção. A primeira seção é dedicada à prevenção primária e se inicia com o tema do acesso à informação pública sobre a violência contra a mulher (cap. 2), por se referir a todas as formas de prevenção, enquanto mecanismo de monitoramento e pressuposto de eventual revisão das políticas; este tema foi incluído neste primeiro tópico por ser uma preocupação comum aos demais estudos. Seguem os artigos relacionados à promoção da igualdade de gênero no âmbito escolar (cap. 3), no mercado de trabalho (cap. 4) e o fomento à maior efetividade das políticas públicas de segurança em geral (cap. 5). Na segunda seção, sobre prevenção secundária, foram incluídos estudos sobre o diagnóstico precoce da violência doméstica contra a mulher no âmbito dos serviços de saúde (cap. 6), a articulação da rede especializada de atendimento (cap. 7), o uso de instrumentais de avaliação e gestão do risco pela rede de atendimento (cap. 8) e o reconhecimento das mulheres negras como um especial grupo de risco no âmbito das políticas públicas (cap. 9). Finalmente, na seção sobre prevenção terciária, foram incluídos estudos sobre a experiência de atendimento integrado e intersetorial (cap. 10), sobre os grupos reflexivos para homens autores de violência (cap. 11 e 12) e sobre a atuação da polícia militar na prevenção da violência doméstica e familiar (cap. 13). Assim, o cap. 2, por Paula Martins, analisa o direito ao acesso a informações públicas sobre violência contra as mulheres no Brasil e seu caráter instrumental em relação à construção das políticas públicas. A autora analisa diretrizes internacionais e nacionais sobre a transparência estatal e o dever de produzir informações, propondo recomendações para o aprimoramento no tema da violência contra a mulher. O cap. 3, por Ingrid Viana Leão, analisa a promoção da igualdade de gênero no âmbito da política educacional, especialmente no âmbito do currículo escolar, após a votação do Plano Nacional de Educação em 2014. Ela analisa o embate entre o grupo “escola sem partido” e sua crítica à suposta “ideologia de 17APRESENTAÇÃO gênero”. A autora conclui que a discussão sobre as relações de gênero na escola é um aspecto central do cumprimento de tratados internacionais subscritos pelo Brasil, e da própria Lei Maria da Penha, analisando o impacto de legislações estaduais restritivas no âmbito das impugnações perante o Poder Judiciário. O cap. 4, por José Raimundo Carvalho e Victor Hugo de Oliveira, analisa a contribuição do setor privado na prevenção da violência doméstica, a partir das evidências trazidas pela Pesquisa de Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (PCSVDF-Mulher). O trabalho argumenta que o mercado de trabalho possui um papel central na prevenção desta violência, não apenas em como a autonomia econômica das mulheres atua como um fator de proteção, ou como a igualdade salarial e a maior representação de mulheres nos espaços de decisão contribui para a alteração dos estereótipos de gênero, mas especialmente correlacionando o quanto a violência doméstica e familiar impacta na redução da produtividade, correspondendo, portanto, a um prejuízo para a empresa e o mercado. Ao analisar o custo econômico da violência doméstica contra a mulher, os autores abordam a prevenção da violência como fenômeno social e não apenas problema que afeta individualmente as mulheres e suas vidas familiares. Exemplificam ações nesse campo a partir da experiência de três empresas nacionais (Amêndoas do Brasil, Avon do Brasil e Magazine Luiza) na promoção de programas de apoio às empregadas e empregados em situação de violência doméstica. O cap. 5, por Ana Paula Portella, analisa os cenários de homicídios de homens e mulheres no estado de Pernambuco, e suas decorrências para as políticas de segurança pública. A autora conclui que a violência interpessoal atinge homens, a violência decorrente da criminalidade atinge homens e mulheres (em contextos relativamente distintos), enquanto a violência familiar e a violência cometida por parceiro íntimo atingem apenas mulheres. O trabalho analisaa intersecção existente entre injustiça social, desigualdades de gênero e a expansão do crime e da violência na sociedade brasileira, concluindo pela necessidade de consideração de tais mortes de mulheres como um fenômeno complexo que não admite um único modelo de ação, exigindo a individualização das respostas às especificidades dos territórios. Este artigo sinaliza a necessária correlação das políticas públicas em geral, e em especial as políticas de segurança pública, com a prevenção das mortes de mulheres, e a relevância da incorporação da perspectiva de gênero para outros cenários além da violência doméstica e familiar, já que diversos homicídios de mulheres em contexto de criminalidade em geral ocorrem por colateralidade, pelo simples fato de tais mulheres terem uma relação afetiva com um homem envolvido na criminalidade. O cap. 6, por Tiago Ferreira de Assis e Suely Deslandes, analisa a percepção dos profissionais da rede especializada de atendimento às mulheres em situação de violência doméstica no município do Rio de Janeiro. A 18 POLÍTICAS PÚBLICAS DE PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER partir de um histórico da implementação das ações do Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres no município do Rio de Janeiro, e do fortalecimento das políticas públicas para enfrentamento da violência doméstica e familiar contra as mulheres através da criação de equipamentos públicos e capacitação de profissionais, o retrato atual elaborado pelos autores mostra o impacto da redução dos investimentos públicos nas esferas federal, estadual e municipal e descrevem com base em entrevistas realizadas com profissionais que atuam nos serviços de atendimento especializado às mulheres em situação de violência, uma rede fragilizada, deficiente na articulação entre os seus diversos integrantes, portanto distanciando-se do ideal de atuação intersetorial e integrada. No cap. 7, Valeska Zanello discute o tema da intervenção de profissionais de saúde mental no atendimento a mulheres em situação de violência doméstica. A autora problematiza os impactos desta violência na saúde mental das mulheres e, a partir da análise de estudos específicos, denuncia a invisibilidade destes transtornos mentais perante os profissionais de saúde, que passam a apenas tratar os sintomas e não investigar a verdadeira causa do problema. Para enfrentar esta psiquiatrização da violência doméstica, a autora aponta estratégias de elevação da efetividade da intervenção dos profissionais de saúde, bem como de estratégias de prevenção nos territórios. Dentre tais estratégias estão o protocolo de triagem, o treinamento continuado para permitir o reconhecimento, a notificação compulsória e a integração em rede das intervenções, bem como a criação de grupos de intervenções com mulheres. O cap. 8 expõe estudo realizado por Marlene Neves Strey e Renata Teixeira Jardim sobre a experiência da rede de atendimento especializado para mulheres em situação de violência doméstica e familiar de Canoas/RS na construção de um modelo de avaliação e gestão de risco. As autoras reconstroem o processo de articulação local da rede de enfrentamento à violência doméstica e familiar e narram o processo de construção dos fluxos de atendimento e como a construção de um protocolo de avaliação e gestão de risco colaborou positivamente para a rearticulação da rede local, para a partilha de informações e para fomentar uma resposta mais individualizada pelo Estado para se evitar as “mortes anunciadas” de mulheres. No cap. 9, Suelaine Carneiro discute a interseccionalidade entre gênero e raça, a partir de uma revisão das pesquisas que documentam uma elevação da violência doméstica em relação às mulheres negras, em contraposição à uma diminuição com as mulheres brancas, bem como através de entrevistas com vítimas de violência doméstica e com profissionais da rede de atendimento. A autora analisa como a intersecção entre gênero e raça deve ser tratada como um fator de risco, cuja análise deve ser incorporada às políticas públicas de enfrentamento à violência doméstica contra a mulher. 19APRESENTAÇÃO No cap. 10, Luanna Tomaz de Souza, Milene Maria Xavier Veloso e Ivonete Pinheiro discutem o quanto o modelo do Pro Paz Mulher, criado no Pará em 2014, se aproxima ou distancia dos marcos legais relacionados aos centros de referência de atendimento à mulher em situação de violência doméstica. Trata-se de uma política pública estadual que busca articular os serviços relacionados à polícia, perícia, atendimento psicossocial e outros serviços às mulheres em situação de violência doméstica e familiar, como assistência jurídica, de saúde e social. As autoras apresentam os desafios de uma política que se pretende integrada, como a eventual frustração das mulheres, a ausência de monitoramento dos casos, e os dilemas da integração dos setores psicossociais deste serviço com as expectativas probatórias do sistema de justiça. Destacam ainda a falta de abertura democrática para a participação dos movimentos de mulheres na gestão desta política pública, a necessária visão interseccional de raça que deveria estar presente, bem como as limitações deste espaço enquanto polo de articulação intersetorial das políticas públicas. Jacqueliny Pitanguy e Leila Linhares Barsted apresentam, no cap. 11, os resultados de uma pesquisa realizada pela CEPIA sobre os serviços de responsabilização de homens autores de violência. Para tanto realizaram o mapeamento de tais serviços em todas as capitais brasileiras, bem como aprofundaram a análise mediante estudo de caso em cinco cidades. Após analisarem as diretrizes internacionais e nacionais quanto à promoção da “responsabilização” dos autores de violência, as autoras apontam o potencial de tais intervenções com homens fomentarem a prevenção da violência para além das respostas tradicionais da justiça. Todavia, reconheceram uma disparidade de experiências locais, tanto na perspectiva de institucionalidade e financiamento da política, os desafios da capacitação das equipes, a inexistência de um projeto nacional sobre o tema, com diferentes metodologias de intervenção, bem como a ausência de instrumentos de monitoramento e avaliação sobre a efetividade das intervenções. No cap. 12, Adriano Beiras, Marcos Nascimento e Caio Incrocci discutem os desafios dos grupos reflexivos com homens para a construção da responsabilização e fomento da redução da violência doméstica e familiar contra as mulheres. Os autores analisam a literatura especializada e apresentam caminhos para a ampliação da efetividade de tais intervenções, no sentido de diminuir a reincidência e elevar a conscientização e responsabilização dos participantes. Discutem especialmente os referenciais teóricos de tais intervenções, as dificuldades práticas enfrentadas pelos diversos grupos e o árduo tema da metodologia de intervenção com os grupos, indicando pontos mínimos que devem ser incluídos no programa para se fomentar sua maior efetividade. Defendem a relevância de processos de monitoramento e avaliação continuada e a produção de informações para subsidiar o aperfeiçoamento da equipe e das políticas públicas, da integração destes serviços numa perspectiva de rede, bem como apontam a relevância da criação de uma rede nacional de 20 POLÍTICAS PÚBLICAS DE PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER programas, que deveria ser estruturada a partir de uma política nacional de intervenção com homens autores de violência. Finalmente, no cap. 13, Patrícia Krieger Grossi e Marlene Inês Spaniol analisam a experiência da Patrulha Maria da Penha no Estado do Rio Grande do Sul. Segundo as autoras, esta experiência pioneira de política de segurança pública envolvendo a Brigada Militar no enfrentamento à violência doméstica e familiar contra as mulheres tem se mostrado positiva na fiscalização do cumprimento das medidas protetivas de urgência e na prevenção da reiteração de novas violências.Todavia, sinalizam pontos que exigem o seu aperfeiçoamento, como a transparência de dados, o fortalecimento e integração desta política com a rede de prevenção intersetorial, a falta de protocolos de atendimento que independam das volatilidades dos governos, a necessidade de acompanhamento também dos autores da violência, bem como a capacitação dos profissionais das patrulhas e da rede. Uma pauta de pesquisa adiante As iniciativas abordadas na presente coleção não exaurem o tema das políticas de prevenção à violência doméstica e familiar contra a mulher. No Brasil, apesar de haver várias campanhas sobre a não aceitabilidade da violência contra as mulheres, pouco se tem investido no âmbito da prevenção primária em campanhas sociais destinadas à alteração de papeis sociais tradicionais entre homens e mulheres, a causa mais profunda da violência de gênero. Outros países têm investido recursos significativos em programas de longo prazo destinados a alterar tais visões sociais (ÁVILA, 2017a). Na prevenção secundária, ainda há um grave déficit na notificação compulsória de casos de violência doméstica (CERQUEIRA et alii, 2017, p. 14), faltando políticas mais sólidas de capacitação dos profissionais de saúde e assistência social para reconhecerem os sinais da violência doméstica e familiar contra as mulheres em estágios precoces, bem como sua articulação em protocolos de intervenção claros que permitam a intervenção na situação de violência em seus estágios menos agravados, para evitar sua posterior escalada. Ainda que existam pesquisas sobre a percepção dos atores da rede quanto a quais seriam os fatores de risco (MEDEIROS, 2015), há poucas experiências de utilização de instrumentos de avaliação de risco pela rede de atendimento e que carecem de validação cultural e científica de tais instrumentais (CAMPBELL, 2003). Também faltam pesquisas que apontem rumos para suprir a necessidade de maior institucionalidade das redes de enfrentamento e de atendimento às mulheres (PASINATO, 2015). No âmbito da prevenção terciária, há elevada quantidade de temas a descoberto nas pesquisas. Além dos estudos que monitoram a (ausência de) efetividade do sistema de justiça em conceder as medidas protetivas de urgência e em se articular no trabalho em rede após a comunicação da 21APRESENTAÇÃO violência pela vítima (PASINATO et alii, 2016), cumpre avaliar as novas metodologias de monitoramento das medidas protetivas de urgência, como o monitoramento eletrônico para agressores e vítimas. Embora existam trabalhos sobre as tornozeleiras eletrônicas (MACIEL, 2014) e o “botão do pânico”, é importante que outros estudos sejam realizados considerando a variação das experiências em diferentes estados brasileiros. Mesmo no âmbito das rondas de monitoramento pela polícia militar, há que se avançar nas pesquisas sobre a efetividade dos planos de segurança às mulheres e as melhores estratégias de acompanhamento dos casos. A Casa da Mulher Brasileira, enquanto espaço de articulação da intersetorialidade do sistema de proteção e responsabilização, necessita de mais tempo para sua consolidação e, em seguida, as pesquisas sobre a efetividade de sua implementação hão de ser realizadas. No âmbito da atuação criminal, cumpre avançar em pesquisas que esclareçam as práticas mais ajustadas à intervenção adequada, tanto preventivas quanto repressivas (MACHADO, 2014; VILLA e MACHADO, 2018a). Em especial, deve-se repensar em experiências comparadas que permitam avaliar a atuação dos atores envolvidos (VILLA e MACHADO, 2018b), mediante uma política de segurança pública com perspectiva de gênero (ÁVILA, 2017b), definir estratégias processuais que possibilitem antecipar intervenções protetivas com os supostos autores da agressão (ÁVILA, 2014), bem como incluir disposições de proteção à mulher no âmbito da sentença penal condenatória (TOLMIE, 2018). Cumpre avançar em pesquisas centradas nas mulheres, para esclarecer as suas necessidades e expectativas ao pedirem ajuda através das distintas portas de acesso à rede de atendimento especializado e para avaliar o quanto tais necessidades e expectativas são efetivamente atingidas, de forma a se viabilizar um debate mais sólido quanto aos rumos das políticas públicas de proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar (PASINATO, 2012; AMARAL, 2018). Esta apresentação apenas anuncia a diversidade dos temas abordados e os distintos percursos e enfoques dos(as) autores(as). A obra foi viabilizada graças à parceria entre a editora Marcial Pons e a Fundação Escola Superior do MPDFT, integra a Coleção Direito, Transdisciplinaridade e Pesquisas Sociojurídicas e, particularmente este volume, insere-se na linha de pesquisa “Políticas públicas e prevenção à violência”, do grupo Política Criminal, vinculado ao Programa de pós-graduação em Direito e Políticas Públicas do UniCeub. Este projeto editorial contou com o envolvimento de pesquisadores de diferentes instituições de ensino superior e de distintos programas de pós-graduação em Direito e Ciências Sociais. Agradecemos ao conselho editorial da editora Marcial Pons e aos colaboradores que participaram do presente volume. 22 POLÍTICAS PÚBLICAS DE PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER Bibliografia AMARAL, Alberto Carvalho. A violência doméstica a partir do olhar das vítimas: reflexões sobre a Lei Maria da Penha em juízo. Belo Horizonte: D’Plácido, 2017. ÁVILA, Thiago André Pierobom de (Org.) Modelos europeus de enfrentamento à violência de gênero: experiências e representações sociais. Brasília: ESMPU, 2014. ÁVILA, Thiago André Pierobom de. Políticas públicas de prevenção primária à violência contra a mulher: lições da experiência australiana. Revista Gênero, Niterói, v. 17, n. 2, p. 95-125, 2017a. ÁVILA, Thiago André Pierobom de. Violência contra a mulher: consequências da perspectiva de gênero para as políticas de segurança pública. Revista da Faculdade de Direito – UFPR, Curitiba, v. 62, n. 3, p. 103-132, 2017b. CAMPBELL, Jacquelyn et alii Risk factors for femicide in abuse relationships: Results of a multisite case control study. American Journal of Public Health, n. v. 93, n. 7, p. 1.089-1.097, 2003. CARVALHO, José Raimundo; OLIVEIRA, Victor Hugo de. 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POLÍTICAS PÚBLICAS DE PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER WÂNIA PASINATO BRUNO AMARAL MACHADO THIAGO PIEROBOM DE ÁVILA Coordenadores Políticas públicas de prevenção à violência contra a m ulher COLEÇÃO da FESMPDFT Direito, Transdisciplinaridade & Pesquisas Sociojurídicas A complexidade do conhecimento científi co e a espe- cialização levaram à diferenciação interna da ciência em distintos subsistemas científi cos. Nesse processo, como marco da modernidade, o senso comum, inva- riavelmente, foi relegado à categoria de conhecimento menor, não contemplado pelos cânones do rigor epis- temológico. A diferenciação da ciência levou a dois fenômenos distintos: por um lado, a verticalização da produção do saber, nicho ocupado por especialistas, marcado pela escassa ou nula interlocução entre as áreas. Por outro, a natureza disciplinar do conhecimento ensejou o estudo simultâneo de um determinado objeto sob a perspectiva de diferentes tradições. Como resultado, observa-se, inicialmente, a transferência de categorias e métodos entre disciplinas, fenômeno descrito como interdisciplinaridade, marcado pela linearidade e redu- ção a um nível simplifi cado da realidade observada. A transdisciplinaridade, de outro ângulo, focaliza as virtualidades da interlocução entre as áreas e inves- te nas soluções que superam a cegueira seletiva que não raramente leva à verticalização epistemológica em compartimentos estanques. Inspirada por esse último enfoque, a coleção Direito, Transdisciplinaridade & Pes- quisas Sociojurídicas investe nas pesquisas que privile- giam a interlocução do direito com diferentes áreas do conhecimento. Não se nega a relevância da especiali- zação no direito e há um inequívoco ganho em escala na interlocução. As obras selecionadas pela Coleção evidenciam ressonâncias entre distintos subsistemas científi cos, sem a negação a priori do senso comum e de outros saberes (literatura, cinema e demais manifes- tações artísticas – sistema arte). Ao promover a aber- tura cognitiva às diferentes abordagens, a transdisci- plinaridade privilegia a interseção entre as linguagens e questiona as fronteiras demarcadas historicamente. Ciente da complexidade e policontextualidade da reali- dade contemporânea, a Coleção estimula as pesquisas inspiradas pela reconstrução de novos horizontes entre as diferentes áreas do conhecimento. BRUNO AMARAL MACHADO Coordenador da Coleção – FESMPDFT Outros títulos desta Coleção Violência x Cidade O papel do Direito Urbanístico na violência urbana Paulo Afonso Cavichioli Carmona Justiça Criminal e Democracia II Bruno Amaral Machado (coord.) Criminologia e cinema Narrativas sobre a violência Bruno Amaral Machado | Cristina Zackseski Evandro Piza Duarte (coords.) Justiça Juvenil Paradigmas e experiências comparadas Anderson Pereira de Andrade Bruno Amaral Machado (coords.) Criminologia e cinema Semânticas do castigo Bruno Amaral Machado | Cristina Zackseski Evandro Piza Duarte (coords.) Direito, Transdisciplinaridade & Pesquisas Sociojurídicas – vol. 6 ISBN 978-85-45572-01-5 Fundação Escola A presente coletânea visa fornecer visão panorâmica sobre as políticas públicas de prevenção à violência doméstica e familiar contra as mulheres no Brasil, indicando algumas das experiências em curso. Para contornar as lacunas de pesquisas independentes sobre a efetividade das políticas públicas de prevenção, neste livro buscamos reunir pesquisas científi cas produzidas por pesquisadores e pesquisadoras na área de violência e gênero atuantes em universidades situadas em diferentes estados brasileiros.
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