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Análise e Produção de Textos Aula 04 - A Sociologia no Brasil: História, Evolução e Principais Representantes Sociologia Geral2 Introdução da Aula As primeiras tentativas de análise científica sobre a realidade brasileira contaram com alguns fatores importantes que marcaram o início do século XX no país. Podemos dizer que um dos principais motivos que impulsionou a construção de um pensamento social acerca da realidade brasileira foi a necessidade crescente que a elite nacional tinha de conhecer as especificidades do povo, da cultura brasileira, rompendo com o pensamento colonizado, no qual permitia entender o Brasil somente à luz das interpretações europeias. A partir da década de 30 há um grande interesse dos intelectuais brasileiros em compreen- der a realidade nacional. Podia se observar a emergência de uma elite urbana que defendia a necessidade de transformação da sociedade que se industrializava. Tal transformação só poderia ocorrer por duas vias: investimento na educação da população trabalhadora e apoio das classes populares, que iriam garantir às elites a permanência no poder. Reflexão É importante perceber que já nesta época a educação era vista como a principal ferramenta de mudança social. No entanto, não podemos esquecer que, nesse caso, mudar não significa necessariamente melhorar a condição de vida das pessoas. Que tipo de mudança então viria a acontecer? A mudança que se pretendia era somente aquela que iria promover a adaptação dos trabalhadores a uma nova ordem social, às exigências de um sistema capitalista que se estruturava aqui no Brasil, mas que já se encontrava em pleno desenvolvimento nos Estados Unidos e na Europa. Sociologia Geral3 Reflexão Se alguém perguntasse para você: o que é o Brasil? Ou ain- da: o que é ser brasileiro? Como você responderia? Quais os aspectos da realidade você consideraria como sendo os mais importantes para compreender a sociedade brasileira? Sobre a ascensão do capitalismo no Brasil, é preciso entender que não houve um aconteci- mento que possa ser considerado um marco que a defina, como aconteceu na Europa, por exemplo, com as Revoluções Industrial e Francesa. No Brasil, a elite urbana que se desenvolveu foi aquela que resultou do processo de indus- trialização, que se deu em substituição à oligarquia rural existente. Essa fase, que demarca as transformações sociais do sistema capitalista no Brasil, por volta da década de 30 do século XX, foi marcada por movimentos nacionalistas que ressaltavam a importância do desenvolvimento econômico do país, que iriam garantir a expansão dos valores burgueses e o fortalecimento do poder político e econômico de uma elite que his- toricamente se mantinha inabalada. Vamos entender um pouco como se deu o processo de construção do pensamento social brasileiro na sua origem e quais as mudanças de paradigmas sociais foram mais marcantes para o pensamento contemporâneo. As perguntas que fazemos ainda hoje sobre a identidade social brasileira também inquie- tavam vários estudiosos no início do século passado no Brasil, que pretendiam entender a sociedade. Podemos apontar como início do pensamento social no Brasil a obra de Euclides da Cunha (1866 – 1909), ainda no final do século XIX, que procurou demonstrar como se Sociologia Geral4 davam as relações de dominação na sociedade brasileira, por meio do apadrinhamento e favorecimento, amparados pelas oligarquias rurais. Pode-se dizer que ali já se encontrava, em germe, o nascimento de uma reflexão crítica e sistematizada sobre o Brasil. Saiba mais A obra de Euclides da Cunha, Os Sertões é um misto de literatura com relato histórico e jornalístico. Relata o con- flito armado da Guerra de Canudos (1886 – 1887), que é tida como um dos principais conflitos que marcam o período entre a queda da monarquia e a instalação do regime re- publicano no Brasil. É a primeira obra significativa que se contrapõe à visão ufanista e ingênua do país. Aprenda mais sobre o assunto acessando “Guerra de Canudos” no Youtube. Os principais representantes do pensamento social brasileiro e também considerados os precursores da Sociologia no Brasil, iniciaram seus estudos voltados para a explicação re- alista para a formação do povo brasileiro. Por volta da década de 30 importantes obras foram produzidas, buscando interpretar as relações que se estabeleciam no país. Neste período autores como Sérgio Buarque de Holanda, com Raízes do Brasil, e Caio Prado Júnior, com História econômica do Brasil, iniciaram o processo de consolidação Sociologia Geral5 teórica e metodológica da Sociologia no Brasil. Além desses, destaca-se também as obras de Gilberto Freyre, com Casa Grande e Senzala, que procurou explicar o nacionalismo através da fusão de raças e culturas, de onde surgiu também a importante tese sobre o “mito da democracia racial no Brasil”. Ao final da aula você será capaz de: • Compreender a sociologia no Brasil através da sua história, evolução e principais representantes. Sociologia Geral6 Tópico 1 - O Desenvolvimento da Sociologia no Brasil Conforme você aprendeu no item anterior, até o início do século XX, havia no Brasil uma predominância europeia sobre a forma de se pensar a realidade brasileira. Os estudos que vinham sendo produzidos por intelectuais da época, eram muitas vezes apenas ensaios literários e não propriamente estudos científicos. Nessa fase, os intelectuais refletem nossa realidade com base em escolas e teorias estrangeiras. O enfoque centrava-se em questões de ordem moral, filosófica ou mesmo questões de ordem jurídica, mas não se debruçaram cientificamente na análise dos fenômenos sociais. Ainda que temas como catolicismo, evolucionismo, liberalismo e positivismo estivessem presentes em alguns estudos (Ianni, 1989:86), não havia se constituído ainda uma corrente de pensamento sobre a realidade brasileira. As influências do positivismo científico começavam a penetrar com mais força na ideologia nacionalista, porque essa corrente de pensamento ligava o desenvolvimento do país às ideias de ordem e de progresso. O processo de modernização em pleno curso na sociedade brasileira, favoreceu o aparecimento de no- vas elites, originárias da classe média urbana. Nesse período houve um sentimento de renovação das velhas concepções políticas, econômicas e sociais, que passam a ser questionadas, dando origem a uma nova perspectiva de mudança e de uma nova realidade brasileira. A inquietação que se observa é proveniente de vários acontecimentos que marcam o início do século e que trouxeram inspiração para buscar mudanças naquela estrutura ainda colonialista, marcada pelos privilégios e desigualdades. Estudar Estudar o Brasil sob uma nova ótica, uma perspectiva nacional que deixa de lado a centralidade dos estudos europeus. Sociologia Geral7 Unir Unir as camadas sociais em torno de um projeto único para o país, com o objetivo de priorizar políticas de proteção à indústria e ao comércio nacional, incentivando o nacionalismo. Explicar Explicar a realidade brasileira, visando encontrar os elementos necessários para tor- nar o Brasil um país moderno e desenvolvido. A partir de então, a sociologia ganha importância científica, passando a ser uma das fer- ramentas explicativas da realidade, usadas pelos intelectuais para compreender a nação e explicar as transformações geradas pelo processo de industrialização, que traria desenvol- vimento e modernidade. O fenômeno da industrialização no Brasil provocou o aparecimento dos estudos sociológi- cos que procuraram entender as consequências e os conflitos gerados por esse fenômeno, trazendo para o campo das análises cien tíficas problemas como desigualdade social, ex- clusão e conflitos de classe. No Brasil, a partir da década de 40, ocorreu um fenômeno semelhante àquele observado no processo de industrialização na Europa do século XIX. O crescimento das cidades, decor- rente da migração em massa do campo para as cidades, provocou mudanças significativas no modo de vida da população no Brasil. As cidades mais industrializadas, principalmente as do eixo Rio-São Paulo, aumentaram significativamente sua população, enquanto as regiões agrícolas entraram em decadência. O trabalho industrial ganhava importância e status, enquanto o trabalho agrícola era cada vez mais deixado de lado. Data dessa época o confronto da transição entre o Brasil “Novo”, industrial e o “Antigo”, rural. Sociologia Geral8 Tópico 2 - Principais Representantes de Sociologia Brasileira Contemporânea A sociologia no Brasil possui grandes contribuições de intelectuais que se propõem a estudar a sociedade brasileira, abordando vários temas e sob as mais variadas perspectivas de análise. Desde a sua consolidação como disciplina científica até os dias de hoje. Dentre os vários sociólogos de destaca no Brasil, podemos destacar três importantes autores, que contribuíram sobremaneira para consolidação desta ciência no pais, são eles Florestan Fernandes (1920 – 1995), Fernando Henrique Cardoso e Otavio Ianni. Florestan Fernandes (1920-1995) foi político e sociólogo brasileiro, considerado funda- dor da sociologia crítica no Brasil. De origem humilde, teve dificuldades em seus estudos iniciais. Em 1941 ingressou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Uni- versidade de São Paulo, concluindo o curso de Ciências Sociais. Em 1945 trabalhou como assistente do professor Fernando de Azevedo, na cadeira de Sociologia II. Na Escola Livre de Sociologia e Política, com a dissertação "A organização social dos Tupinambá", obteve o título de mestre. Em 1951 defendeu, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, a tese de doutoramento "A função social da guerra na sociedade tupinambá", posteriormente consagrado como clássico da etnologia brasileira. Em 1969, foi afastado das atividades acadêmicas por que foi perseguido pela ditadura militar brasileira. Defensor da Escola Pública, sempre foi ligado aos movimentos sociais e reivindicatórios e às organizações políticas de esquerda. Preso político no presídio do Exército em São Paulo (1964), ao ser libertado tornou- -se Professor Catedrático na USP, efetivado por concurso de Títulos e provas (1965). Novamente preso (1965), foi solto no ano seguinte através de um Habeas Corpus. Afastado de suas atividades na USP através do Ato Institucional nº 5 da Ditadura Militar (1969), ficou asilado no Canadá (1969-1970). Florestan Fernandes é sem dúvida um dos principais representantes da Sociologia no Bra- sil. Entendeu a sociologia brasileira como uma forma particular de pensamento social. In- Sociologia Geral9 fluenciado pelas concepções marxistas sobre a sociedade, teve uma contribuição social para além das análises teóricas. Foi eleito duas vezes deputado federal, defendendo as causas que achava importantes, como a campanha em defesa da escola pública entre as décadas de 50 e 60. A Sociologia, do ponto de vista de Florestan Fernandes, buscava resgatar a realidade histó- rica do Brasil, analisando a forma de pensar dos grupos e classes sociais que compunham a maior parte da população brasileira. Estudou as relações de dominação, política e econômica, que constituem a sociedade brasi- leira. Entre suas preocupações estava a compreensão histórica da organização da sociedade, que só poderia ser entendida pelos acontecimentos concretos. Nesse sentido, estavam pre- sentes nos seus estudos as relações e a organização de classe, o capitalismo dependente e a função do intelectual na sociedade. Estudou também temas que possibilitavam uma melhor com- preensão das relações específicas da sociedade brasileira, tais como a escravidão e a revolução burguesa no Brasil. Ques- tionou mitos profundos da cultura brasileira, como a tese da “democracia racial”, de Gilberto Freyre. Florestan contrapôs a tese de Freyre, de que no país havia uma harmonia entre as raças e que negros e brancos viviam uma relação de cordialidade, demonstrando por meio de pesquisas, a situação de descriminação e exclusão social em que vivem os negros no Brasil. Afirmo que iniciei a minha aprendizagem sociológica aos seis anos, quando precisei ganhar a vida como se fosse um adulto e penetrei, pelas vias da experi- ência concreta, no conhecimento do que é a convivência humana e a sociedade. Florestan Fernandes Sociologia Geral10 Encerramento da Aula Nesta aula procuramos apresentar as principais correntes da Sociologia clássica e contem- porânea, a partir da análise do pensamento de autores consagrados e que são referências teóricas fundamentais para a compreensão da sociologia como ciência. A Sociologia possui um importante referencial de análise no mundo e possui, no Brasil, representantes que possibilitaram a consolidação dessa ciência como forma de promover a reflexão crítica sobre as questões sociais. Destacamos neste contexto o papel de Florestan Fernandes como um dos principais representantes da Sociologia no Brasil.
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