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ECOLOGIA URBANA 6

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ECOLOGIA URBANA 
AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Mariane Félix da Rocha 
 
 
2 
 CONVERSA INICIAL 
Chegamos à última aula de Ecologia Urbana. Até aqui, aprendemos sobre 
o funcionamento de um ecossistema urbano, as formas como ele se manifesta, 
como altera o ambiente onde se insere, a importância da natureza dentro das 
cidades e as desigualdades de acesso da população aos espaços naturais no 
meio urbano. Essa desigualdade de acesso pode ser explicada pela falta de 
planejamento que atribui aos aspectos naturais e socioeconômicos a mesma 
importância. Este é o foco do planejamento ambiental, que veremos no Tema 1. 
No Tema 2, será apresentado um tipo de planejamento ambiental que é 
aplicado na Alemanha e tem como pressuposto a conservação das paisagens e a 
compatibilização entre os usos humanos e as características naturais do 
ecossistema, o Planejamento da Paisagem. No Tema 3, abordaremos algumas 
formas de planejar com a natureza, aproveitando seu potencial em vez de 
subjugá-la. 
Há quem acredite, no entanto, que esse planejamento que incorpora as 
questões ambientais gera um custo desnecessário frente às demandas sociais, 
que seriam mais urgentes. Porém, nos dois últimos temas da aula, aprenderemos 
como a natureza pode gerar renda e contribuir com a economia, dentro e fora das 
cidades. 
TEMA 1 – O PLANEJAMENTO AMBIENTAL 
Os precursores do planejamento ambiental já no início do século XIX 
vislumbraram a escassez de recursos e sublinharam a importância de preservar 
a natureza. Tiveram suas ideias rechaçadas e foram taxados de românticos e 
utópicos, pois na época, sob a égide do crescimento econômico e com o 
desenvolvimento da industrialização, ainda se acreditava na inesgotabilidade dos 
recursos naturais (Franco, 2001). 
A autora explica que essa ideia de recursos naturais infinitos se iniciou com 
as grandes navegações, com a ilusão de que a descoberta de novas terras 
sempre supriria as demandas. Esse pensamento se intensificou com a Revolução 
Industrial e foi embasado por um paradigma que colocava a natureza à serviço da 
humanidade, subjugada a esta. Coerente com esse contexto, a maioria dos 
planejamentos territoriais ao longo do século XX priorizou a esfera econômica 
guiado pela euforia do crescimento ilimitado. A partir dos anos 1960, no entanto, 
 
 
3 
podemos observar o avanço da preocupação ambiental frente aos frequentes 
desastres ambientais causados pela sociedade industrial (Franco, 2001). 
Então, inicia-se o reconhecimento da importância da conservação da 
natureza também nas paisagens antropizadas, tais como as cidades, 
impulsionado também pela perda de espécies animais e vegetais. Os estudos 
sobre a natureza das cidades, ao trazerem à luz a vasta biodiversidade 
encontrada nesses ambientes, contribuiu para essa mudança de pensamento 
(Sukopp; Werner, 1991). 
Segundo Franco (2001), a partir dos anos 1980 surge uma nova 
modalidade de planejamento, orientado pela capacidade de suporte dos 
ecossistemas às atividades humanas. Em outras palavras, foi estabelecido um 
limite ao crescimento econômico: as fragilidades dos ecossistemas ditariam quais 
atividades humanas poderiam se desenvolver ali. A esse planejamento, pautado 
na conservação ambiental, deu-se o nome de Planejamento Ambiental, que é 
definido por Franco (2001, p. 35-37) como aquele que 
parte do princípio da valoração e conservação das bases naturais de um 
dado território como base de autossustentação da vida e das interações 
que a mantém, ou seja, das relações ecossistêmicas. [...] Atualmente 
entende-se por Planejamento Ambiental o planejamento das ações 
humanas (da antropização) no território, levando em conta a capacidade 
de sustentação dos ecossistemas a nível local e regional, sem perder de 
vista as questões de equilíbrio das escalas maiores, tais como a 
continental e a planetária, visando à melhora da qualidade de vida 
humana, dentro de uma ética ecológica. 
A autora continua pontuando que planejamento diz respeito a um projeto 
ou a uma intenção de transformar dada situação em uma determinada direção. 
Esse ato carrega os valores de quem o cria ou o aplica, os quais comumente 
refletem os valores predominantes da época. 
O processo de planejamento pode se estruturar, segundo Gómez Orea 
(1978 apud Nucci, 2009), por duas linhas: uma da demanda, cujo foco são as 
necessidades econômicas e sociais da população, e outra da oferta, que zela 
pelas possibilidades atuais e potenciais do ecossistema em satisfazer a demanda 
social. 
Hough (1998) discute ainda que as preocupações ambientais não se 
refletiram no ambiente onde habita a maior parte das pessoas: as cidades. Para 
ele, as disciplinas que planejam o meio urbano têm pouquíssima relação com as 
ciências naturais e os valores ecológicos e acabam por negligenciá-los. Para o 
autor, isso é reflexo da dicotomia sociedade/natureza, que coloca de um lado a 
 
 
4 
cidade como ambiente humano, e de outro os ambientes naturais, fora dos limites 
desta. As disciplinas que ordenam o uso do solo urbano, como engenharias e 
arquitetura, derivam dessa divisão, gerando um excessivo controle sobre os 
aspectos naturais, como vimos na Aula 2. 
Franco (2001) corrobora essa afirmação ao trazer a dificuldade de ecólogos 
e ambientalistas de pensarem o ambiente construído, encontrando resistências 
tanto dos especialistas das ciências sociais como os das ciências ecológicas. 
Assim, mantém-se a dicotomia entre as especificidades, restringindo-se os 
objetos de estudo de ambas as ciências. 
TEMA 2 – CONCEITUANDO PLANEJAMENTO DA PAISAGEM 
Uma tentativa de romper com essa dicotomia entre questões 
socioeconômicas e ambientais no planejamento das cidades é o Planejamento da 
Paisagem, uma vertente do Planejamento Ambiental que, de acordo com Nucci 
(2010, p.20) consiste em um “instrumento de proteção e desenvolvimento da 
natureza com o objetivo de salvaguardar a capacidade dos ecossistemas e o 
potencial recreativo da paisagem como partes fundamentais para a vida humana”. 
O autor acrescenta que esse instrumento de planejamento busca a 
conservação da natureza dentro e fora dos assentamentos humanos, o que inclui 
os espaços livres em áreas urbanas por cumprirem importantes funções 
ecológicas e recreativas; as superfícies que foram impermeabilizadas 
desnecessariamente e deveriam ser restauradas ao estado natural; e as áreas 
propícias à recreação que deveriam ser planejadas, protegidas e dispostas 
espacialmente de maneira adequada. Isso amenizaria a injustiça de distribuição 
dos espaços livres, que estudamos na Aula 5. 
Surgiu em meados do século XIX, a princípio como fator de embelezamento 
das paisagens e, após a Revolução Industrial e o consequente aumento da 
preocupação com as questões ambientais, passou a se dedicar ao crescimento 
caótico das cidades e destruição dos ecossistemas (Nucci, 2009). 
Segundo Haaren; Galler; Ott (2008), o Planejamento da Paisagem tem uma 
longa tradição na Alemanha, onde é lei federal desde 1976 e é considerado 
instrumento central de planejamento e conservação da natureza; é composto por 
planos regionais, estaduais e locais, cobrindo praticamente todos os cantos do 
país. Esses planos são, segundo os autores, ferramentas confiáveis para embasar 
 
 
5 
tomadas de decisões rápidas e eficazes por parte dos governos e da população, 
com base na condição e no desenvolvimento da paisagem. 
Assim, contribuem também ao manter a população informada sobre as 
condições da paisagem local, favorecendo sua participação nas decisões e 
fomentando a educação ambiental. Para isso, os autores frisam a necessidade de 
essas informações estarem acessíveis à população, em termos de linguagem e 
de ferramentas. A comunicação, no entanto, não pode se restringir a um 
comunicado sobre as condições da paisagem; a população em geral pode ser 
uma fonte de informações paraos planos, se essa participação for estimulada. 
Os planos locais e regionais de paisagem fornecem então, informações 
sobre as potencialidades e fragilidades das paisagens, indicando os conflitos de 
uso. Dessa forma, busca-se trabalhar com a prevenção, combinando os usos que 
são suportados pela paisagem, a fim de evitar os custos com medidas 
compensatórias ou correção dos conflitos (Haaren; Galler; Ott, 2008). 
Grohé (1988 apud Del Picchia, 2010) reforça essa afirmação, 
denominando-a princípio da prevenção, na qual devem ser evitadas intervenções 
no equilíbrio natural. O autor cita também o princípio do causador, que trata não 
somente as consequências, mas também as causas dos problemas ambientais e 
o princípio da coordenação, que integra a atuação de governos e da sociedade 
em geral. 
No estudo das paisagens estão, confome Haaren; Galler; Ott (2008), o 
desempenho e a avaliação das funções das paisagens (condições atuais e 
potencial de desenvolvimento) e a identificação de subpaisagens sensíveis a 
determinados impactos, como inclusão de rotas de tráfego e fragmentação de 
hábitats. Os autores apontam que com o conhecimento das paisagens 
proporcionado por esses planos, a incorporação dos aspectos naturais no 
planejamento das cidades se torna mais fácil. Ademais, garante o uso sustentável 
e a permanente renovação dos recursos naturais, como solos, água, clima e ar. 
Além da preservação dos recursos, outro objetivo do Planejamento da 
Paisagem é a preservação das paisagens para recreação humana, garantindo o 
bem-estar físico e psíquico dos habitantes. A ideia é mesclar paisagens naturais 
e aptas ao lazer que, para isso, também devem estar acessíveis à população 
(Haaren; Galler; Ott, 2008). 
 
 
 
6 
TEMA 3 – PLANEJANDO COM A NATUREZA: EXEMPLOS 
Um exemplo de aplicação dos pressupostos do Planejamento da Paisagem 
citado por vários autores dessa base teórica, diz respeito às medidas 
compensatórias às impermeabilizações, de modo a tentar renaturalizar o 
ambiente construído. 
Um dos princípios do planejamento da paisagem é a integração dos 
edifícios aos ecossistemas (Sukopp; Werner, 1991). Del Picchia (2010) cita a 
possibilidade dos telhados e das fachadas verdes (Figuras 1a e 1b) como forma 
de compensar e substituir as intervenções inevitáveis, às quais acrescento a 
possibilidade do uso de pavimentos permeáveis à água da chuva e à vegetação 
herbácea (Figura 1c) no lugar dos pavimentos totalmente impermeáveis, bem 
como o uso de pergolados e plantas trepadeiras em locais a serem sombreados 
em substituição aos telhados convencionais (Figura 1d). 
Figura 1 – Formas de aumentar a vegetação sobre as construções nas cidades 
A) B) 
C) D) 
Legenda: (a) Telhado verde; (b) jardim vertical; (c) paralelepípedo (piso permeável); (d) 
pergolado com trepadeira. 
 
Créditos: Shutternelke/Shutterstock; Zyankarlo Re/Shutterstock; Gurezende/Shutterstock; 
Whiteaster/Shutterstock. 
 
 
7 
Além do reverdecimento das edificações como forma de compensar a construção 
e impermeabilização do solo, também os espaços que contém vegetação em 
estágio avançado de sucessão, como alguns terrenos baldios e até cemitérios, 
deveriam ser protegidos e integrados aos sistemas de áreas verdes da cidade 
que, por sua vez, deveriam ser adequadamente distribuídos por toda a área da 
cidade (Sukopp; Werner, 1991). 
Outro princípio do Planejamento da Paisagem é a valorização da 
biodiversidade e dos elementos locais. A esse respeito, Gouvêa (2002) ressalta 
que o uso de vegetação nativa representa uma economia de água e de 
manutenção, haja vista a adaptação das plantas ao clima local, além de constituir-
se em um elemento de preservação do patrimônio ecológico local. 
Outra questão a ser considerada ao se planejar com a natureza é a 
adequação das construções às condições naturais do local. Gouvêa (2002) 
exemplifica que no Brasil a transposição direta do tipo de construção 
predominante na Europa, com ruas tortuosas que dificultam a circulação dos 
ventos, tratou-se de um equívoco, uma vez que os ventos aqui exercem um papel 
fundamental no conforto térmico dos habitantes. 
Mascaró (1996) ratifica essa ideia, ao afirmar que muitas vezes o 
desconforto ambiental não se deve às condições climáticas, mas aos projetos 
arquitetônicos incompatíveis com o meio em que se inserem, o que demandam 
ações para melhorar o conforto térmico, a exemplo do uso do ar-condicionado. 
O planejamento que se baseia na ecologia e adapta a cidade às condições 
ambientais locais, demanda menor esforço e gastos (Hough, 1998). O autor 
aponta que, no futuro, outro elemento das cidades que planejam com a natureza 
será a capacidade de gerar e consumir seus próprios recursos, por meio da 
reciclagem dos produtos anteriormente indesejados. Folhas de árvores e resíduos 
orgânicos serão utilizados como fertilizantes do solo; a coleta seletiva de materiais 
recicláveis (papel, metal, vidro etc.) permitirá sua reutilização; o excesso da 
energia térmica produzida na cidade será utilizado para aquecer edifícios; a água 
da chuva será reutilizada. Tudo isso, de acordo com o autor, a um custo ambiental 
e econômico mais baixos que os mecanismos utilizados até então. 
O autor conclui afirmando que é preciso ir além das questões sobre como 
reduzir os impactos negativos da ação humana sobre o ambiente, os quais 
supõem que alguma perda ambiental sempre será inevitável. Devemos começar 
a nos perguntar como podemos contribuir com o ambiente que habitamos. 
 
 
8 
Atualmente, os processos que sustentam as atividades humanas são lineares: a 
água sai do reservatório de abastecimento de água para a torneira, desta para o 
ralo e do ralo para o sistema de esgoto. Precisamos pensar em formas de 
transformar em cíclicos esse e outros processos, em que os rejeitos de um 
processo se tornem o combustível de outro, contribuindo positivamente com o 
ambiente. 
TEMA 4 – NATUREZA E ECONOMIA 
Dentre os objetivos do Planejamento Ambiental e da Paisagem está a 
economia de recursos e consequentemente de dinheiro, que se dá a partir da 
utilização das potencialidades ambientais. Isso inclui deixar as paisagens, 
inclusive as urbanas, o mais próximo possível de seu ambiente natural, resultando 
em ganhos não somente relativos à qualidade ambiental urbana e ao bem-estar 
dos habitantes – que por si só já seriam suficientes para garantir a conservação 
desses espaços –, mas também em vários benefícios econômicos. 
Esses benefícios incluem valorização imobiliária, geração de emprego e 
fomento ao turismo, e fornecem mais um incentivo à manutenção e ao aumento 
das áreas com vegetação nas cidades. 
4.1 Valorização imobiliária 
Uma das vantagens econômicas da vegetação mais citadas na literatura 
especializada é a valorização imobiliária. Woolley (2003) aponta que propriedades 
localizadas próximas a áreas verdes apresentam valor de mercado superior 
àquelas afastadas. O autor traz o exemplo de um levantamento realizado na 
cidade de Worcester, nos EUA, na qual os valores das propriedades inseridas em 
até 4 mil pés (cerca de 1.200 metros) da entrada de quatro parques foram 
monitorados por cinco anos. Ao final do período, constatou-se que entre 
propriedades semelhantes, as que estavam mais próximas dos parques (2 pés ou 
pouco mais de 6 metros) custavam em média 2,7 mil dólares a mais do que as 
mais afastadas (200 pés ou 60 metros). A diferença entre os valores não ocorreu 
em propriedades que estavam distantes, a mais de 2 mil pés (600 metros), de um 
parque. 
Mascaró; Mascaró (2010) reforçam essa informação e complementam que 
edificações próximas a parques e outros espaços abertos têm valor de 8 a 20% 
 
 
9 
superior em relação às propriedades comparáveis em locais sem esses espaços. 
O valor dessas propriedades também se mantém mais estável desde que o 
parque seja arborizado, bem-conservado e com segurança, ou seja,tenha 
qualidade. Ressaltam ainda que esse valor extra também beneficia o município 
pela cobrança dos impostos sobre a propriedade. 
Todavia, não é apenas a proximidade com áreas verdes que traz essa 
valorização; a arborização dentro do próprio lote também pode contribuir. Um 
estudo que relacionou jardim frontal, tamanho da casa, número de banheiros e 
outras comodidades, constatou que as propriedades com árvores valorizaram 3,5 
a 4,5% em relação àquelas sem árvores. E mais: árvores de madeira dura e/ou 
maiores apresentaram melhores resultados sobre árvores de madeira macia e de 
porte menor (Woolley, 2003). 
4.2 Outras formas de geração de renda 
 Podemos observar que também há a criação de empregos relacionados ao 
cuidado e planejamento nas cidades. Jardineiros e guardas florestais são os 
primeiros que surgem à mente, mas não podemos esquecer dos responsáveis 
pelo planejamento e pela implementação dessas áreas, como arquitetos 
paisagistas, engenheiros florestais, geógrafos, biólogos e outros profissionais 
ligados ao meio ambiente e às cidades (Woolley, 2003). 
O turismo também é afetado pela existência de áreas verdes, uma vez que 
esses espaços podem ter potencial de atrair não apenas os habitantes locais, mas 
também visitantes regionais ou nacionais (Woolley, 2003). Curitiba, a capital do 
Paraná, é um exemplo de cidade cujos parques são amplamente visitados por 
turistas, fazendo parte inclusive do itinerário de uma linha de ônibus que leva aos 
principais pontos turísticos da cidade. 
As hortas urbanas, além de possibilitarem o contato com a terra e as 
plantas, também têm despontado como forma de gerar renda, alimentação e 
qualidade de vida à população das cidades. A esse respeito, Monteiro; Monteiro 
(2006) apontam que nos anos 1980 as hortas comunitárias urbanas de Teresina 
(PI) receberam incentivo com a criação de um programa da prefeitura municipal 
que almejava gerar trabalho e renda e melhorar o padrão alimentar da população 
mais carente. Outro objetivo foi coibir a marginalidade de crianças e adolescentes, 
entretanto, depois o projeto teve a adesão de outras faixas etárias devido ao alto 
desemprego na época. As hortas foram implantadas sob as linhas de alta tensão, 
 
 
10 
evitando a proliferação de casebres nessa área, de risco à ocupação. Dos 
horticultores que cultivam essas hortas, 80% têm rendimentos de até um salário 
mínimo, já somado com a renda que vem da horta comunitária. 
Essas informações endossam o que dizem Branco; Alcântara (2011), que 
nos anos 1980 as hortas urbanas se popularizaram na América Latina, Ásia e 
África como uma estratégia de sobrevivência da população mais pobre. A partir 
do início do século XXI, no Brasil, as hortas urbanas surgiram como uma política 
nacional de redução de pobreza e segurança alimentar. 
No que tange ao perfil socioeconômico dos agricultores urbanos, esses 
autores, pela compilação de várias pesquisas sobre o tema realizadas no Brasil, 
encontraram informações de que a maioria recebe menos de dois salários 
mínimos e que estudaram no máximo até o nível fundamental. São também 
predominantemente mulheres. 
Dentre os benefícios econômicos e sociais dessa prática estão a 
comercialização e o consumo da produção; a mudança dos hábitos alimentares e 
a garantia de segurança alimentar; e a geração de emprego e a capacitação 
(Branco; Alcântara, 2011). Do ponto de vista ambiental, os autores descrevem a 
recuperação de áreas degradas, a conservação do solo, a diversificação da fauna 
(atraída pelos cultivos) e a reciclagem de resíduos orgânicos (compostagem), 
dentre outros. 
TEMA 5 – SERVIÇOS AMBIENTAIS 
Os serviços ambientais dizem respeito aos benefícios diretos e indiretos 
que os ecossistemas fornecem às pessoas. Incluem serviços de provimento, 
como a água, os alimentos e a madeira; serviços de regulação, como o controle 
de enchentes e de doenças; serviços culturais, como a recreação e a estética; e 
serviços de apoio, como a ciclagem de nutrientes e a fotossíntese (Millennium 
Ecosystem Assessment, 2003). 
Um exemplo de serviços ambientais, sobretudo de regulação, prestados 
pelas árvores nas cidades foi descrito no estudo de McPherson; van Doorn; Goede 
(2016). Os autores constataram que as árvores removem da atmosfera mais de 
375 mil toneladas de CO2 por ano, o que equivale a retirar 120 mil carros de 
circulação. Isso corresponde a um rendimento de cerca de 10 mil dólares em 
armazenamento de carbono. 
 
 
11 
Além disso, as árvores também representam economias em outros 
segmentos. Em termos energéticos, a cobertura vegetal reduz a temperatura do 
ambiente (como vimos na Aula 4) e, consequentemente, a necessidade do uso do 
ar-condicionado. Segundo o estudo, as árvores nas ruas economizaram o 
equivalente a 101 milhões em energia gasta com ar-condicionado. 
No tocante à remoção de poluentes do ar, as árvores prestam um serviço 
que equivale a 18 milhões de dólares de economia aos cofres públicos. Pela 
interceptação da água da chuva e redução das enchentes, as árvores prestam um 
serviço estimado em 41 milhões de dólares. Cada árvore, segundo o estudo, 
rende 110,63 dólares em serviços ambientais e custa 19 dólares para ser mantida, 
gerando um retorno de mais de cinco vezes o valor investido. 
Outro exemplo de serviço ambiental prestado pela conservação dos 
ecossistemas diz respeito à disponibilidade de água para abastecimento público. 
Segundo Jardim; Bursztyn (2015), a preservação dos mananciais de água 
depende da conservação da floresta, uma vez que o desmatamento impacta a 
qualidade e quantidade de água disponíveis. De acordo com as autoras, manter 
a cobertura vegetal ao longo dos rios e das nascentes conserva a qualidade da 
água e reduz os processos erosivos das margens e a consequente sedimentação 
nos corpos-d’ água. Ademais, regula o ciclo hidrológico, evitando tanto as 
enchentes nos períodos de chuva intensa como a probabilidade de escassez nos 
períodos de seca. 
Jardim; Bursztyn (2015) descrevem um programa municipal de Extrema, 
em Minas Gerais, denominado Projeto Conservador de Águas, que incentiva os 
pequenos proprietários rurais a manterem bem conservada a vegetação em torno 
dos mananciais para garantir o abastecimento público em quantidade e qualidade. 
Entre os objetivos do projeto estão: aumentar a cobertura vegetal e a formação 
de microcorredores ecológicos nas bacias hidrográficas em que foi implantado; 
reduzir a poluição difusa rural, causada pela sedimentação e eutrofização e falta 
de saneamento; garantir o manejo integrado da vegetação, do solo e da água e a 
sustentabilidade ecológica e socioeconômica das práticas adotadas. 
Porém, como os benefícios dessa conservação ultrapassam os limites da 
propriedade e se estendem a toda a população que consumirá água de qualidade 
enquanto o ônus da conservação fica a cargo do proprietário, o município paga 
um valor a eles para manter a vegetação em suas propriedades. É uma forma de 
 
 
12 
dividir os custos entre os beneficiários também, prática denominada pagamento 
por serviços ambientais (PSA). 
O PSA pode ser conceituado, segundo Wunder (2006 apud Jardim e 
Bursztyn, 2015), como transferência financeira voluntária ou pagamento dos 
beneficiários dos serviços ambientais para as pessoas que, conservando a 
natureza, fornecem esses serviços. Trata-se de uma compensação pelos custos 
com a conservação das águas (plantio de árvores, por exemplo) e pela 
impossibilidade de utilizar as partes da propriedade para outras atividades 
econômicas (como a agropecuária). 
No caso do município de Extrema (MG), o pagamento é realizado pela 
prefeitura municipal, por meio do projeto Conservador das Águas. O objetivo é 
prevenir o dano ambiental, o que é economicamente mais vantajoso que remediá-
lo (Jardim; Bursztyn, 2015). Ainda segundo as autoras, a conservação das águas 
em Extrema (MG) não garante apenas o abastecimentodeste recurso no 
município. As bacias hidrográficas da região fazem parte do sistema Cantareira, 
responsável pelo suprimento de água de 50% da região metropolitana de São 
Paulo (SP). Por isso há outros parceiros no projeto, como a Companhia de 
Saneamento e Abastecimento Público de São Paulo (Sabesp). 
Esse exemplo ilustra o que vimos na Aula 1, que por não serem 
autossuficientes em termos de recursos naturais as cidades dependem dos 
ambientes de entrada, externos aos ecossistemas urbanos. Nesse caso, a água 
das cidades paulistas vem parcialmente de outro estado. 
NA PRÁTICA 
Conforme estudamos no Tema 2, um dos pressupostos do Planejamento 
da Paisagem é a participação popular opinando sobre os rumos da área. Para que 
isso ocorra, no entanto, a população precisa estar adequadamente informada 
sobre os aspectos sociais e ambientais da área. 
A atividade prática de hoje consistirá em verificar se a gestão atual ou se 
as gestões passadas têm ou tiveram esse hábito. Para isso, consulte a prefeitura 
municipal (via site, telefone, e-mail etc.) e verifique se é usual que se façam 
audiência públicas, se as informações relativas ao município e ao planejamento 
municipal são acessíveis e fáceis de entender ou se há outras formas de incentivo 
à participação popular no planejamento. 
Se possível, pesquise também: 
 
 
13 
 Informações sobre o meio ambiente (condições dos rios e da cobertura 
vegetal ou uso do solo do município, por exemplo) e aspectos sociais do 
município (atividades econômicas, distribuição de renda etc.), verificando 
se são informações completas e acessíveis. 
 Se há um plano diretor ou outro documento a respeito do planejamento 
sobre os rumos do município para os próximos anos e se ele é fácil de ser 
encontrado e de ser compreendido. Caso haja esse documento, analise se 
ele contempla questões ambientais ou se é voltado às questões puramente 
socioeconômicas. 
 Se há formas de incentivo à participação popular, tais como audiências 
públicas, reuniões, pesquisas de opinião, canais de comunicação com a 
prefeitura, e se elas funcionam efetivamente. 
O objetivo desta atividade é averiguar a inserção dos princípios do 
Planejamento da Paisagem em seu município ou, ao menos, a importância da 
conservação do meio ambiente e da participação popular no futuro do município. 
FINALIZANDO 
Nesta aula que encerra a disciplina de Ecologia Urbana aprendemos sobre 
a importância da inclusão dos aspectos relativos ao meio ambiente no 
planejamento urbano. 
Ao longo dos nossos estudos, vimos que as cidades são ecossistemas 
altamente dependentes do ambiente externo e, de certa maneira, tóxicas a si e ao 
seu entorno. O retorno às dinâmicas naturais nesse ambiente, todavia, mostrou-
se como uma alternativa de evolução dessas relações predatórias com o entorno, 
aproveitando o solo urbano de foram produtiva (fornecendo oxigênio, alimentos, 
reciclando os nutrientes e reduzindo a poluição, por exemplo) ao mesmo tempo 
que melhora a qualidade de vida de seus próprios habitantes. 
Para que a natureza faça parte das cidades, primeiramente devemos 
romper com a mentalidade de que não há natureza nas cidades e de que há uma 
rígida separação entre homem e meio ambiente. A visão holística que 
aprendemos na Aula 1, versa sobre essa necessidade de ver a cidade a partir de 
todas as suas relações. 
Com essa mudança de pensamento, é possível integrar os aspectos 
ambientais no planejamento das cidades, garantindo avanços na qualidade 
 
 
14 
ambiental e mantendo a exploração humana dentro dos limites de cada 
ecossistema, sob a égide da sustentabilidade. 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
BRANCO, M. C.; ALCÂNTARA, F. A. Hortas urbanas e periurbanas: o que nos diz 
a literatura brasileira? Horticultura Brasileira, v. 29, n. 3, jul.-set./2011. 
DEL PICCHIA, P. C. D. O Planejamento da Paisagem na cidade. In: NUCCI, J. C. 
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