Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Tratamento paisagístico de área urbana APRESENTAÇÃO Quando se fala da percepção do espaço, o que vem à mente do grande público, em um primeiro momento, são os locais com edificações. Todavia, os espaços abertos também configuram os lugares de interação humana e são tão importantes quanto os maciços construídos. É muitas vezes no espaço aberto urbano que as pessoas terão a possibilidade de contato com a natureza em meio à selva de pedra. Conviver com espaços verdes é necessário para a saúde e o bem-estar das pessoas. Nesta Unidade de Aprendizagem, você aprenderá sobre a importância dos espaços verdes em meio à área urbana por meio de ambientes que promovam o uso de vegetações. Para isso, você identificará formas de trabalhar as paisagens urbanas, melhorando a vida das pessoas nos centros urbanos. Além disso, entenderá conceitos de preservação, conservação e recuperação. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a preservação, a conservação e a recuperação do meio ambiente no meio urbano. • Listar as formas de projetar espaços que promovam a qualidade de vida dos usuários com o uso de vegetações. • Descrever as maneiras de garantir a dignidade urbana e o bem-estar da sociedade.• DESAFIO Os profissionais do paisagismo pensam muito além de jardins esteticamente atrativos. Afinal, seu trabalho contribui para o bem-estar das pessoas, visto que pode envolver também a preservação de áreas verdes, mananciais, etc. Imagine que você trabalha na prefeitura de sua cidade, que está realizando uma série de ações em busca da melhoria da qualidade de vida. Como paisagista, sua missão é fazer uma ação específica junto à associação de moradores de uma região que está crescendo sem planejamento e comprometendo as áreas verdes, cuja importância não é percebida pela população. Sendo assim: a) Defina Área de Preservação Permanente (APP). b) Cite pelo menos 3 situações em que a área pode ser caracterizada como APP. INFOGRÁFICO Os espaços verdes de uma cidade trazem bem-estar e qualidade de vida aos moradores. Arborização é o termo usado para os elementos vegetais que estão dentro de uma cidade e que tenham o porte de árvores. As árvores são de essencial importância, especialmente nas grandes metrópoles. No Infográfico, você vai conhecer alguns dos benefícios que as árvores podem trazer aos centros urbanos. CONTEÚDO DO LIVRO A atuação do paisagista é muito diversificada, pois ele trabalha com a arte e a técnica nos projetos paisagísticos, atuando desde a concepção até a gestão da paisagem. Nesse escopo, inclui-se a importante tarefa de preservar e recuperar o meio ambiente urbano. Existem maneiras variadas de tratamento da paisagem urbana, que buscam, de maneira geral, garantir o contato do homem com a natureza. Esse contato é primordial para promover a qualidade de vida nos centros urbanos. O bem-estar de uma cidade é conectado com sua aproximação do verde na paisagem e a existência de espaços livres. No capítulo Tratamento paisagístico de área urbana, da obra Projeto de paisagismo II, que é a base metodológica desta Unidade de Aprendizagem, você vai saber mais sobre o assunto. Boa leitura. PROJETO DE PAISAGISMO II Marina Otte Tratamento paisagístico de área urbana Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a preservação, a conservação e a recuperação do meio ambiente no meio urbano. Listar as formas de projetar espaços que promovam a qualidade de vida dos usuários com o uso de vegetações. Descrever as maneiras de garantir a dignidade urbana e o bem-estar da sociedade. Introdução O homem precisa ter contato com a natureza, e essa interação gera diversos benefícios. Assim, preservar, conservar e recuperar a natureza é de suma importância para os centros urbanos. Dessa forma, além de garantir a qualidade de vida, as ações do paisagismo podem contribuir para a busca pela dignidade humana. Neste capítulo, você vai entender que o paisagismo contribui para o bem-estar físico e mental das pessoas. Nesse sentido, vai estudar concei- tos como preservação, conservação e recuperação de espaços urbanos. Além disso, vai aprender também sobre formas de projetar espaços voltados à qualidade de vida do ser humano. Preservando e conservando o meio ambiente Os centros urbanos experimentaram um grande desenvolvimento a par- tir da Revolução Industrial, e o seu crescimento foi, em sua maioria, desordenado e sem levar em conta questões de sustentabilidade — esse termo sequer era discutido na época. Somente décadas após a Revolução Industrial, começou a surgir, aos poucos, o pensamento do desenvolvi- mento sustentável. A definição mais conhecida de desenvolvimento sustentável é a se- guinte: “[...] é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, garantindo a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro [...]” (WWF, 2019, documento on-line). Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1972, a qual foi criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: a conservação ambiental e o desenvolvimento econômico. Diante disso, é possível começar a entender a importância da conservação do meio ambiente e a sua relação com a sustentabilidade da vida na Terra. Nesse sentido, além de conservar e preservar, é preciso recuperar áreas já degradadas. A Figura 1 mostra um exemplo de conservação de uma área de manancial próxima ao espaço urbano. Para compreender a importância desses termos e as suas sutilezas, você deve conhecer o significado de cada um. Primeiramente, vale ressaltar que conservação e preservação são sinônimos. Assim, veja o signifi- cado de preservação, conforme o Dicionário Online de Português (2019, documento on-line): Conservação de algo exatamente no seu estado original; ação de manter em ótimas condições: preservação do monumento. [Ecologia] Procedimentos que visam proteger as populações e espécies: preservação ambiental. Certeza de que algo será mantido, preservado; precaução: medidas de preservação dos direitos humanos. Estado do que não se altera por influência do tempo, das intempéries. Ação ou efeito de preservar, de conservar, de manter em estado original. Tratamento paisagístico de área urbana2 Figura 1. Parque com o intuito de preservar um manancial de águas pluviais na cidade de Haerbin, na China. Projeto de Turenscape. Fonte: Archdaily (2014a, documento on-line). O projeto em Haerbin, na China, mostrado na Figura 1, deixa bem clara a importância de preservar. A China é o maior país do mundo, com a maior população, e as áreas nos grandes centros estão cada vez mais escassas. Se essa área do parque não fosse preservada, em pouco tempo a especulação imobiliária tomaria conta e, no lugar do verde, haveria prédios comprometendo a imagem urbana paisagística. Imagine o quão difícil seria recuperar essa área após as edificações já estarem consolidadas. Assim, por meio da preservação, criam-se espaços livres naturalmente, os quais tornam-se verdadeiros respiros urbanos. No caso do exemplo, ainda é frisada a importância da proteção às águas. A recuperação de áreas degradadas, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2012, documento on-line), [...]está intimamente ligada à ciência da restauração ecológica. Restauração ecológica é o processo de auxílio ao restabelecimento de um ecossistema que foi degradado, danificado ou destruído. Um ecossistema é conside- rado recuperado — e restaurado — quando contém recursos bióticos e abióticos suficientes para continuar seu desenvolvimento sem auxílio ou subsídios adicionais. 3Tratamento paisagístico de área urbana Conforme a Lei nº 9.985, Art. 2º, diferenciam-se ainda os termos “recu- peração” e “restauração”.O primeiro é definido da seguinte forma: “XIII – recuperação: restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua con- dição original”. Já o segundo recebe a definição a seguir: “XIV – restauração: restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição original [...]” (BRASIL, 2019, documento on-line). A Figura 2 traz um exemplo de recuperação de um rio por meio de um projeto executado na Espanha. Figura 2. Exemplo de recuperação do rio Llobregat, na Espanha. Parque projetado por Battle I Roig Arquitectes. Fonte: Archdaily (2014b, documento on-line). Outro conceito importante de ser elucidado é o de áreas de preservação permanente (APPs). O termo foi criado pelo Código Florestal, na forma da Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. O texto dessa Lei afirma que as APP “consistem em espaços territoriais legalmente protegidos, ambientalmente frágeis e vulneráveis, podendo ser públicas ou privadas, urbanas ou rurais, cobertas ou não por vegetação nativa” (BRASIL, 2019, documento on-line). A APP pode ter diversas funções ou promover diferentes serviços ambien- tais. Alguns deles merecem destaque: proteção do solo e dos corpos d'água; manutenção da permeabilidade do solo; função ecológica de refúgio da fauna e flora, corredores ecológicos; atenuação de desiquilíbrios climáticos, entre outros. As áreas verdes dentro dos centros urbanos são de suma importância, tanto emocional quanto prática, pois ajudam a diminuir os efeitos nocivos de Tratamento paisagístico de área urbana4 aquecimento, poluição, entre outros. Assim, a recuperação dessas áreas dentro das cidades tem mais sucesso quando cria um vínculo com os moradores, que passam a ter pertencimento ao lugar. No exemplo do rio Llobregat que você viu na Figura 2, isso fica bem claro: antes do projeto, a população não valorizava a área do rio e sequer tinha acesso a ele. A recuperação consistiu tanto em restituir o ecossistema, com despolui- ção, recuperação da mata ciliar e criação de sinuosidades, simulando o curso original, como em criar acessos para a população, com pistas de caminhadas e locais de descanso, transformando o rio em área de lazer. O trabalho do paisagista, especialmente nos meios urbanos, vai permear esses conceitos de preservação, recuperação e restauração. Somado a eles, é imprescindível atentar ao país e, no caso do Brasil, à região na qual o projeto está sendo desenvolvido. As soluções precisam ser adequadas à especificidade local, tanto em termos de características vegetais como de costumes locais. No espaço urbano, a investigação do entorno fornece importantes indicações das diretrizes de projeto. “A disponibilidade de plantas, o conhecimento e as experiências locais variam de país para país — verifique o projeto de paisagismo dos prédios públicos para ter uma noção dos costumes e das possibilidades [...]” (BUXTON, 2017, p. 744). Qualidade de vida e projeto de paisagismo Por meio das áreas verdes projetadas pelo paisagista, é possível melhorar a qualidade de vida de toda uma comunidade. De acordo com o Art. 8º, § 1º, da Resolução Conama nº 369, de 28 de março de 2006, considera-se área verde de domínio público o espaço que "[...] desempenhe função ecológica, paisagística e recreativa, propiciando a melhoria da qualidade estética, funcional e ambiental da cidade, sendo dotado de vegetação e espaços livres de impermeabilização [...]" (BRASIL, 2019, documento on-line). Exemplos de áreas verdes urbanas são praças, parques urbanos, parques fluviais, parques balneários e esportivos, jardins botânicos, jardins zoológicos, alguns tipos de cemitérios, faixas de ligação entre áreas verdes. Os projetos de cada uma dessas áreas verdes são formas de inserir os respiros necessários para promover o contato do homem com a natureza nos centros urbanos. Esses espaços podem estar inseridos na malha urbana, tradicionalmente no “solo”, ou em locais inusitados, como paredes e tetos. As paredes ficaram caracterizadas pelo termo “parede verde” ou “jardins verticais”. Esses elementos podem ser feitos de diversas formas, a partir de 5Tratamento paisagístico de área urbana sistemas pré-fabricados, como os sistemas canguru de encaixes, ou até mesmo com soluções mais simples, utilizando telas ou vasos. O sistema promove uma série de benefícios, segundo Pereira (2017, documento on-line) “[...] na melhoria ambiental, como a reciclagem de resíduos sólidos, redução térmica interna dos edifícios, parcial despoluição do ar pela captura de CO2 e reuso de água coletada da chuva, utilizando-a para a rega das espécies vegetais [...]”. A Figura 3 traz um exemplo de projeto de jardim vertical. Figura 3. O Bosco Verticale, em Milão, na Itália, virou um ícone de jardim vertical. Fonte: Walsh (2003, documento on-line). Porém, vale ressaltar que esse tipo de espaço precisa de manutenção cons- tante, especialmente num país tropical. A parede verde também precisa de irrigação periódica, o que virou um problema nas paredes verdes implantadas em edifícios de São Paulo. Os telhados verdes também são uma alternativa para a criação de espaços verdes. É importante salientar que os tetos com placas fotovoltaicas para a produção de energia a partir da radiação solar e os tetos pintados de branco para diminuir a absorção e o calor proveniente dessa mesma radiação também são tetos verdes no sentido de sustentabilidade. Os tetos dos quais vamos falar aqui são os tetos verdes com vegetação. A vegetação contribui para a absorção da radiação direta e indireta, dimi- nuindo o calor nos centros urbanos. “O maior componente da radiação solar é a radiação direta, mas a radiação refletida pode ser significativa em locais onde há superfícies duras refletivas de cores claras e adjacentes à edificação, Tratamento paisagístico de área urbana6 seja da forma construída em si ou de outras edificações e dos elementos de paisagismo existentes [...]” (BUXTON, 2017, p. 137). Outros benefícios dos telhados verdes, conforme Boni (2015), são os seguintes: diminuem as ilhas de calor; regulam a drenagem de águas pluviais, mais do que diversos outros sistemas de captação; sequestram o gás carbônico e produzem oxigênio; criam e preservam hábitats; oferecem isolamento térmico e resfriamento por evaporação. Novamente, você deverá atentar para a escolha correta das espécies a serem utilizadas, de acordo com o clima e a manutenção dos espaços. Veja na Figura 4 o telhado verde do aeroporto de Pequim. Figura 4. Telhado verde no aeroporto de Pequim, na China. Fonte: Centre for Aviation e OAG (2018, documento on-line). Além dessas soluções que conectam o homem à natureza, os espaços verdes podem incorporar outras funções. Podem, por exemplo, ajudar a amenizar consequências de diversas situações, como as intempéries: “[...] estamos, pois, diante de um novo sistema da natureza. Hoje, o homem não comanda as intempéries, mas tem conhecimento prévio de sua eclosão [...]” (SANTOS, 1988, p. 27). 7Tratamento paisagístico de área urbana Essas soluções podem inclusive ser incentivadas ou exigidas por um Plano Diretor. Segundo Buxton (2017, p. 232), “[...] um plano diretor resiliente à ameaça de uma enchente e coerente pode consistir em uma combinação des- sas estratégias, organizadas ao redor de uma paisagem urbana que use áreas de paisagismo tratadas com vegetação e pavimentação, cumulativamente mitigando o risco de enchentes por todo o terreno [...]”. Algumas dessas soluções são descritas por Cormier e Pellegrino (2008), como jardim de chuva, canteiro pluvial, biovaleta, lagoa pluvial, cisterna, grade verde e conexões. Na Figura 5, você pode ver uma delas: o canteiro drenante em estacionamentos. Figura 5. O canteiro drenante em estacionamento ainda propicia sombras com as árvores. Fonte: Lindy Klales/Shutterstock.com. Outra forma de projetar o espaço em busca dessaqualidade urbana é utilizando o conceito de infraestrutura verde, que vem sendo abordado em conferências em todo o mundo. Segundo Herzog e Rosa (2010, p. 94), “[...] o planejamento de uma infraestrutura verde propicia a integração da natureza na cidade, de modo que venha ser mais sustentável [...]”. Essa estratégia busca intervenções de baixo impacto, mas com alto desempenho e adaptáveis às necessidades futuras, bem como a conservação de áreas naturais e a recupe- ração da fauna e da flora. Tratamento paisagístico de área urbana8 Vale destacar que as várias formas de projetar espaços com áreas verdes aqui citadas podem ser aprofundadas em estudos mais específicos, até mesmo em função do trabalho interdisciplinar do paisagista. Os telhados verdes, por exemplo, merecem estudos quanto à engenharia e ao cálculo estrutural para a resistência das edificações. Da mesma forma, a manutenção dos espaços requer tanto conhecimentos em jardinagem como de biologia. Assim, cabe ao paisagista ser o gestor dessas várias áreas e conhecedor das alternativas paisagísticas. Bem-estar social e a paisagem urbana Garantir a dignidade urbana é essencial para o sentimento de bem-estar social e a qualidade de vida. É tão importante que existem meios legais na busca desse equilíbrio, conforme é descrito pelo Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2019, documento on-line): No âmbito do meio ambiente urbano, os principais instrumentos de planejamen- to ambiental são o Zoneamento Ecológico-Econômico - ZEE, o Plano Diretor Municipal, o Plano de Bacia Hidrográfica, o Plano Ambiental Municipal, a Agenda 21 Local, e o Plano de Gestão Integrada da Orla. No entanto, todos os planos setoriais ligados à qualidade de vida no processo de urbanização, como saneamento básico, moradia, transporte e mobilidade, também constituem instrumentos de planejamento ambiental. Além dos meios legais, existe toda uma ligação semiótica com a paisagem e a natureza nela contida. Essa ligação é explicada pela biofilia (termo criado pelo psicólogo Erich Fromm), atestando que existe uma necessidade do contato do homem com a natureza, e que há um elo instintivo entre ambos. Segundo Rose (2019), o desejo do ser humano de estar próximo à natureza parece estar entranhado em cada um de nós. Dessa forma, mais uma vez se reforça a necessidade dos espaços verdes nos centros urbanos, assim como a forma como eles contribuem para o equilíbrio das cidades. A restauração da natureza nos centros urbanos e é crucial para o bem-estar social, injeta vigor no metabolismo citadino e gera benefícios ambientais, econômicos, sociais e sanitários (ROSE, 2019). Entre os vários benefícios, pode-se destacar os físicos, biológicos, territoriais, sociais, eco- nômicos e institucionais, conforme o Quadro 1. 9Tratamento paisagístico de área urbana Fonte: Adaptado de Ambiente Brasil (2019). Fatores urbanos Principais formas de degradação Principais benefícios das áreas verdes urbanas Físicos Clima/ar Alterações microclimáticas Deterioração da qualidade do ar; polui- ção sonora Conforto microcli- mático; controle da poluição atmosférica; controle da poluição sonora Água Alterações da quanti- dade de água Deterioração da qualidade hídrica Regularização hídrica; controle da poluição Solo/ subsolo Alterações físicas do solo Alterações químicas e biológicas do solo Estabilidade do solo; controle da poluição Biológicos Flora Redução da cober- tura vegetal Redução da biodiversidade Controle da redução da biodiversidade Fauna Proliferação de vetores Destruição de hábitats Controle de vetores Territoriais Uso/ocupa- ção do solo Desconforto ambien- tal das edificações; poluição visual Alterações microclimá- ticas Conforto ambiental nas edificações; con- trole da poluição visual Infraes- trutura/ serviços Dificuldade no des- locamento; aumento da necessidade de saneamento; redu- ção da sociabilidade Desperdício de energia Racionalização do transporte; sanea- mento ambiental; con- servação de energia Sociais Demografia; equipamen- tos e serviço social Concentração populacional Crescimento das necessi- dades sociais Conscientização am- biental; atendimento das necessidades sociais Econômicos Setores produtivos; renda/ ocupação Valor e desvaloriza- ção da atividade/ propriedade X Valorização das ativi- dades e propriedades; amenizações dos bolsões da pobreza Institucionais Setor público; ins- trumentos normativos Redução da capa- cidade de gestão urbana Instrumental insuficiente X Apoio à capacidade de gestão urbana; instrumento de regulamentação Quadro 1. Organograma dos principais benefícios das áreas verdes urbanas Tratamento paisagístico de área urbana10 Essas áreas verdes cobertas de vegetação ganham protagonismo com as árvores inseridas nelas. A arborização, segundo estudos, pode amenizar níveis de estresse das pessoas, reforçando a sua sensação de bem-estar (ROGERS, 2017). Além do benefício mais subjetivo relacionado à psique humana, há benefícios tangíveis no uso das árvores, conforme destaca o Instituto Brasileiro de Florestas, especialmente para os centros urbanos. Entre esses benefícios, estão os seguintes: função paisagística; redução da velocidade dos ventos; diminuição da poluição sonora e acústica; absorção de parte dos raios solares; formação de sombra e aumento da umidade atmosférica, refrescando o ar das cidades; fornecimento do hábitat, de comida e proteção a plantas e animais, aumentando a biodiversidade urbana; absorção da poluição atmosférica, neutralizando os seus efeitos na população; proteção do solo contra erosão. Além desses aspectos, as cidades precisam ser projetadas para as pessoas que interagem no espaço urbano. Esses locais de encontro se dão exatamente nos vazios urbanos: os espaços que podem ser destinados aos projetos pai- sagísticos. Esse aspecto de local de encontro contribui para os objetivos da sustentabilidade social, conforme destaca Gehl (2014). Os espaços verdes deixam os centros urbanos mais humanizados e dignos. A humanização vem de diversos princípios, além das áreas verdes, que ajudam a conectar as pessoas e deixar os espaços mais democráticos. Em seu artigo, Rogers (2017) destaca alguns: usos diversificados no espaço, misturando comércio, residência e lazer; estabelecimento do espaço público como realmente público, sem res- trições de acesso; fachadas permeáveis e ruas atrativas; espaços que promovam atividades ao ar livre; trabalho em escala humana — as pessoas percebem quando o espaço foi desenvolvido para elas; iluminação eficaz e voltada para as pessoas, gerando segurança e pos- sibilidade de usos noturnos do espaço; 11Tratamento paisagístico de área urbana incentivo ao comércio local e de menor escala, fomentando a movi- mentação a pé das pessoas nesses espaços; ruas com espaços compartilhados, não priorizando o carro; engajamento do público no desenho dos espaços, gerando pertencimento; espaços público verdes. Os paisagistas criam a paisagem urbana não apenas esteticamente inte- ressante: eles projetam espaços que serão habitados. Por isso, esses espaços devem suprir as necessidades humanas. Esse pensamento que considera tanto os aspectos sensoriais da paisagem como a adequação às necessidades é es- sencial na busca pela dignidade urbana e pelo bem-estar da sociedade. Nesse sentido, um espaço urbano é composto pela união de elementos construídos, áreas verdes, infraestrutura urbana, elementos morfológicos — “os cheios e os vazios”. Logo, cabe ao paisagista integrar todos eles em harmonia. AMBIENTE BRASIL. A paisagem urbana. 2019. Disponível em: https://ambientes.am- bientebrasil.com.br/urbano/arborizacao_urbana/a_paisagem_urbana.html. Acesso em: 01 nov. 2019. ARCHDAILY. Parque Manancial de Águas Pluviais / Turenscape. 2014a. Disponível em: https:// www.archdaily.com.br/br/620385/recuperacao-do-rio-llobregat-slash-battle-i-roig-arqui-tectes?ad_source=search&ad_medium=search_result_projects. Acesso em: 01 nov. 2019. ARCHDAILY. Recuperação do Rio Llobregat / Battle I Roig Arquitectes. 2014b. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/620385/recuperacao-do-rio-llobregat-slash- -battle-i-roig-arquitectes?ad_source=search&ad_medium=search_result_projects. Acesso em: 01 nov. 2019. BONI, F. Telhado verde: uma estratégia com vantagens diversas. 2015. Disponível em: https://www.ugreen.com.br/telhado-verde/. Acesso em: 01 nov. 2019. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Áreas de preservação permanente urbanas. [2019]. Dispo- nível em: https://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/areas-verdes-urbanas/%C3%A1reas- -de-prote%C3%A7%C3%A3o-permanente.html. Acesso em: 01 nov. 2019. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Recuperação de áreas degradas. [2012]. Disponível em: https://www.mma.gov.br/informma/item/8705-recupera%C3%A7%C3%A3o-de- -%C3%A1reas-degradadas. Acesso em: 01 nov. 2019. BUXTON, P. Manual do arquiteto: planejamento, dimensionamento e projeto. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2017. Tratamento paisagístico de área urbana12 CENTRE FOR AVIATION; OAG. New Beijing airport is now within just 17 months of opening. 2018. Disponível em: https://blueswandaily.com/new-beijing-airport-is-now-within- -just-17-months-of-opening/. Acesso em: 01 nov. 2019. CORMIER, N. S.; PELLEGRINO, P. R. M. Infraestrutura verde: uma estratégia paisagística para a água urbana. Paisagem e Ambiente, São Paulo, n. 25, p. 127–142, 2008. DICIONARIO ONLINE DE PORTUGUÊS. Preservação. [2019]. Disponível em: https://www. dicio.com.br/preservacao/. Acesso em: 01 nov. 2019. GEHL, J. Cidades para pessoas. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2014. HERZOG, C. P., & ROSA, L. Z. Infraestrutura verde: sustentabilidade e resiliência para a paisagem urbana. Revista Labverde, São Paulo, n. 1, p. 92–115, 2010. Disponível em: http:// dx.doi.org/10.11606/issn.2179-2275.v0i1p92-115. Acesso em: 01 nov. 2019. PEREIRA, M. Como são montados os jardins verticais? 2017. Disponível em: https:// www.archdaily.com.br/br/880962/como-sao-montados-os-jardins-verticais?ad_ source=search&ad_medium=search_result_all. Acesso em: 01 nov. 2019. ROSE, J. F. P. A cidade em harmonia: o que a ciência moderna, civilizações antigas e a natu- reza humana nos ensinam sobre o futuro da vida urbana. Porto Alegre: Bookman, 2019. ROGERS, B. In defence of the realm: 10 principles for public space. In: BROWN, R.; HANNA, K.; HOLDSWORTH, R. Making good: shaping places for people. London: [s. n.], 2017. p. 23–29. Disponível em: https://www.centreforlondon.org/wp-content/uploads/2017/02/ CFLJ5081_collection_essay_placemaking_0217_WEB.pdf. Acesso em: 01 nov. 2019. SANTOS, M. Metamorfoses do espaço habitado, fundamento teórico e metodológico da geografia. São Paulo: Hucitec, 1988. WALSH, N. P. Stefano Boeri: As cidades têm o potencial de se tornarem protagonistas de uma mudança radical. 2003. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/908879/ stefano-boeri-as-cidades-tem-o-potencial-de-se-tornarem-protagonistas-de-uma-mu- danca-radical?ad_source=search&ad_medium=search_result_all. Acesso em: 01 nov. 2019. WWF. Da teoria à prática. [2019]. Disponível em: https://www.wwf.org.br/participe/ porque_participar/sustentabilidade/. Acesso em: 01 nov. 2019. Leituras recomendadas ARCHDAILY. Jardins verticais do Minhocão secam e viram transtorno para moradores. 2019. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/921434/jardins-verticais-do-minhocao- -secam-e-viram-transtorno-para-moradores?ad_source=search&ad_medium=search_ result_all. Acesso em: 01 nov. 2019. IBF. Paisagem urbana: os benefícios da arborização urbana. [2019]. Disponível em: https:// www.ibflorestas.org.br/a-paisagem-urbana. Acesso em: 01 nov. 2019. SOLUÇÕES PARA CIDADES. Revitalização de ruas em Portland – EUA. [2019]. Disponível em: http://solucoesparacidades.com.br/saneamento/revitalizacao-de-ruas-em-portland- -eua/. Acesso em: 01 nov. 2019. 13Tratamento paisagístico de área urbana DICA DO PROFESSOR Existem diversas maneiras de garantir a dignidade urbana e promover a qualidade de vida nos centros urbanos. As alternativas são muitas, e até mesmo superfícies inusitadas podem receber espaços verdes, como coberturas e paredes, não somente o solo. Na Dica do Professor, você vai saber um pouco mais sobre os telhados verdes: tipos, dicas e formas de trabalhá-los nas edificações. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) O bem-estar de uma comunidade urbana está diretamente ligado à paisagem com que ela convive diariamente, sendo que o paisagista é responsável pelo projeto dessas áreas. Por isso, além de conhecimentos técnicos, o paisagista deve constantemente pesquisar estudos sobre a relação do homem com o espaço em que ele vive. Um desses estudos aponta que a relação entre o homem e a natureza é considerada uma necessidade. Qual é o nome desse conceito? A) Biomimética. B) Biologia. C) Biofilia. D) Biodiversidade. E) Biodesign. 2) O paisagismo vai muito além da criação de praças e jardins: ele pode assumir importantes papéis na manutenção da biodiversidade, inclusive nos centros urbanos. Um rio que estava poluído, onde a mata ciliar havia sido suprimida e a biodiversidade estava comprometida, recebe um projeto de paisagismo para retomar seu aspecto original. Qual o nome desse ato? A) Preservação. B) Conservação. C) Preservação permanente. D) Recuperação. E) Restauração. 3) Existem diversas formas de dispor áreas verdes dentro dos centros, o que é um fator positivo, pois as cidades são diversas. Os jardins verticais são uma dessas alternativas. Eles trazem uma série de benefícios, mas existem pontos negativos a serem considerados. Marque a alternativa que aponta um dos principais problemas nos jardins verticais. A) Impossibilidade de uso de árvores. B) Somente podem ser executados com sistemas pré-moldados. C) Retenção de águas pluviais. D) Aumento da temperatura, pela cor escura das plantas. E) Manutenção periódica, para que não sequem. 4) A vegetação contribui para a absorção da radiação direta e indireta, diminuindo o calor nos centros urbanos. Um dos locais possíveis de dispor a área verde é sobre as edificações: esse tipo de espaço é conhecido como telhado verde. O teto verde também pode designar outras soluções sustentáveis. Marque a alternativa que apresenta uma dessas soluções. A) Cobertura com placas fotovoltaicas. B) Cobertura eólica. C) Cobertura com pintura verde. D) Telhados intensivos. E) Telhados extensivos. 5) Na busca da dignidade urbana e do bem-estar da sociedade, vários artifícios podem ser utilizados. Alguns são mais sensoriais; outros, práticos e diretamente ligados às necessidades humanas. Assinale a alternativa que apresenta um elemento capaz de amenizar níveis de estresse. A) Dispor iluminação. B) Uso de áreas verdes. C) Espaços multifuncionais. D) Engajamento comunitário. E) Uso da escala humana. NA PRÁTICA Existem paisagens urbanas tão modificadas pela ação do homem que fica difícil imaginar o que foram um dia. Mais difícil ainda é pensar que é possível recuperar essa área para que volte a ter interesse urbano como área verde. Todavia, com trabalho árduo, multidisciplinar e, precisa- se dizer, oneroso, é possível transformar locais hostis da paisagem urbana em espaços que tragam novamente qualidade de vida aos centros urbanos. Confira, neste Na Prática, um estudo de caso em Seul, na Coreia do Sul, onde um rio antes escondido e canalizado foi recuperado, trazendo de volta a conexão do espaço natural com as pessoas. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: 15 melhores flores que resistem ao sol para usar no paisagismo Neste link, você conhecerá um pouco mais sobre flores resistentes ao sol. É essencial ter essa informação para projetos paisagísticos em áreas externas, especialmente nos grandescentros urbanos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Por dentro da cidade de Masdar Neste link, você vai saber um pouco mais sobre essa cidade que busca ser sustentável. O projeto do escritório Foster + Partners pensa na paisagem como um todo, onde o verde permeia os espaços de forma planejada. O artigo ainda discorre sobre as críticas ao projeto, fazendo um contraponto. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
Compartilhar