Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Sílvia Matsuoka de Oliveira Sílvia Matsuoka de Oliveira : desenvolvimento e Professores Formadores do Cefapro-MT: desenvolvimento e A formação de Professores identidade profissional DOUTORADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃODOUTORADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO DOUTORADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO SÃO PAULO 2015 ii PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Sílvia Matsuoka de Oliveira A formação de Professores Formadores do Cefapro-MT: desenvolvimento e identidade profissional DOUTORADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Educação: Psicologia da Educação sob a orientação da Professora Doutora Marli Eliza Dalmazo Afonso de André. SÃO PAULO 2015 iii BANCA EXAMINADORA ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ iv Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem achei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que segue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei, que senti. Releio e digo: "Fui eu ?" Deus sabe, porque o escreveu. (Fernando Pessoa) v DEDICATÓRIA À minha família, pela compreensão de minhas ausências: Carlos, meu esposo. Caio, meu filho mais velho. Renam, meu filho caçula. Minha mãe e meu pai (in memoriam) vi AGRADECIMENTO ESPECIAL À minha orientadora Marli Eliza Dalmazo Afonso de André, a quem admiro e por quem tenho um profundo respeito, pela generosidade em compartilhar seus conhecimentos, pela dedicação ao ato de ensinar e por ter me recebido com tanto carinho. vii AGRADECIMENTOS À banca examinadora, por aceitar realizar as leituras deste trabalho e por contribuir para encontrar novos caminhos de pesquisa. Às professoras do programa de pós-graduação “Educação: psicologia da educação” da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC-SP, por todos os momentos de estudos e descobertas. Aos professores formadores dos Cefapros, em especial, aos formadores do Cefapro de Rondonópolis-MT, por colaborarem com informações e entrevistas. À idealizadora do projeto inicial do Cefapro, Drª Simone de Albuquerque da Rocha, pelas valiosas informações. À ex-diretora do Cefapro, Profª Mª Luciane Aporta, pela entrevista acerca da re estruturação do Cefapro de Rondonópolis-MT. Aos meus irmãos, Sandra e Fernando, pelo estímulo e pelo apoio incondicional à realização dos meus sonhos. Às minhas tias, Tereza e Elza, e, em especial, à minha tia Margarete, por ter me acolhido com carinho em sua casa sempre que precisei. Ao meu primo, Jaime, pelas caronas diárias até a linha do metrô. À minha querida amiga, Gláucia Signorelli, por compartilhar minhas angústias e minhas conquistas, pelas ideias trocadas, pelas viagens de estudos, transformando o meu caminhar mais prazeroso. Aos meus colegas de curso, com os quais passei momentos de intensos debates e com os quais aprendi muito sobre as diversas temáticas. Às colegas do grupo de pesquisa, pelo constante incentivo. Aos professores das escolas que participaram da pesquisa, pela contribuição no grupo focal. Ao Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPQ, pelo apoio no financiamento da pesquisa. viii RESUMO O objetivo desta pesquisa foi investigar o processo de desenvolvimento profissional e a construção identitária do Professor Formador (PF), devido à importância do papel que desempenha como implementador da Política Pública de Formação Continuada de Professores do estado de Mato Grosso, em Centros de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica - Cefapro. Nesse contexto da política de formação, o professor formador é o responsável pelo acompanhamento e assessoramento do projeto de formação continuada de escolas da rede pública de ensino, denominado Sala do Educador (SE). A concepção de formação continuada é compreendida pela perspectiva colaborativa, que valoriza a escola como lócus de formação docente, o espaço formativo para a reflexão coletiva da prática pedagógica. A investigação utilizou-se de uma abordagem qualitativa, com diversos procedimentos metodológicos para coleta de dados como: documentos da política pública de formação de Mato Grosso, survey com questionários para os professores formadores dos quinze Cefapros, memoriais de formação de PFs, grupo focal com PFs e com professores da escola e entrevista com gestores de formação da SUFP. Os sujeitos da pesquisa foram PFs do Cefapro do polo de Rondonópolis-MT. Os principais autores que subsidiaram os estudos foram: Carlos Marcelo Garcia (1999), Denise Vaillant e Carlos Marcelo (2012), Francisco Imbernón (2009) e António Nóvoa (2009) sobre o desenvolvimento profissional, formação continuada de professores e formação do formador; Bernadete Angelina Gatti (2007) e Claude Dubar (2005) quanto à construção identitária do PF. Para o tratamento dos dados foi utilizada a análise de prosa (ANDRÉ, 1983) e os conceitos de exotopia e de alteridade de Mikhail Bakthin. A pesquisa considerou as dimensões da formação dos formadores vinculadas às da formação de professores, por ambos trabalharem no mesmo contexto formativo, a formação continuada desenvolvida na escola, pelo Projeto da Sala do Educador. Dessa forma, foi possível analisar que o desenvolvimento profissional do PF do Cefapro acontece, principalmente, nas relações dialógicas entre formador e professor da escola, quando o formador desempenha sua função mediadora no acompanhamento da Sala do Educador, e ainda, entre o formador e seus pares, na Sala do Formador, quando reflete coletivamente sobre o seu papel. Os dados evidenciaram que a constituição identitária do PF se dá em meio às contradições de sua função, uma vez que, ora deve implementar a cultura colaborativa na formação continuada de professores, obedecendo à política de formação, ora deve realizar os programas externos oferecidos pela SEDUC-MT, em parceria com o MEC. Tais programas são capacitações pontuais, contrárias à concepção de formação continuada proposta pela própria SEDUC-MT. É imprescindívelum olhar mais atento à constituição identitária do PF voltada ao seu desenvolvimento profissional, dada a importância de suas funções. Palavras-chave: Desenvolvimento Profissional; Identidade; Professor Formador ix ABSTRACT The objective of this research was to investigate the process of professional development and the construction of identity of the Trainer-professor (TP), because his important role as the implementer of the Public Policy of Continued Education of Teachers of the State of Mato Grosso, in the Centres for the Education and Updating of Basic Education Professionals (Cefapro). In this context the training policy, the trainer-professors is responsible for monitoring and advising the project of continuing education for schools in the public school system, named Educator's Room (ER). The conception of continuous formation is understood by the collaborative perspective, valuing the school as locus of teacher education, the formative space for collective reflection of pedagogical practice. The research used a qualitative approach, with various methodological procedures for data collection as: public policy documents of formation of Mato Grosso, survey with questionnaires for teachers trainers of 15 Cefapros, memorials of formation of PFs, focus group with PFs and with school teachers and interview with training managers of SUFP. The subjects of the research were the Cefapro polo TPs of Rondonópolis-MT. The top authors who subsidized the studies were: Carlos Marcelo Garcia (1999), Denise Vaillant and Carlos Marcelo (2012), Francisco Imbernón (2009) and Antonio Nóvoa (2009) about the professional development, continuing education of teachers, training of trainer; Bernadette Angelina Gatti (2007) and Claude Dubar (2005) about the identity construction of TP. For the treatment of the data was used to analysis of prose (ANDRÉ, 1983) and the concepts of exotopia and otherness of Mikhail Bakthin. The research considered the training of TP, intrinsically linked to the training of teachers, both work in the same context formation, continuous formation developed at school, by the Educator's Room design. It was possible to analyze that the professional development of the TP the Cefapro happens, mainly, dialogical relations between TP and teacher at the school, when the trainer plays its mediator role in the monitoring of the ER, and yet, between the trainer and his peers, in the Trainer's Room, when reflected collectively on their role. The data showed that the Constitution of identity of TP in the midst of the contradictions of its function, since, now must implement the collaborative culture in continuous formation of teachers, according to education policy, now must perform the external programs offered by SEDUC-MT, in partnership with the Ministry of Education. Such programs are specific trainings, contrary to the concept of continuing education offered by own SEDUC-MT. It´s indispensable closer look at its Constitution of identity of the TP and for his professional development, given the importance for his role. Keywords: Professional development; Identity; Trainer-professor x SUMÁRIO CAPÍTULO 1: Trajetória Profissional: possibilidades e escolhas ................... 16 CAPÍTULO 2: A formação do formador e a formação de professores em diálogo – bases teóricas .................................................................. .................. 24 2.1. A formação de professores: concepções e mudanças .......................... 25 2.2. As políticas públicas de formação continuada de professores: iniciativas de reformas na formação de professores .................................. 30 2.3. A formação do formador de formador: um campo de estudos a construir ...................................................................................................... 34 2.4. O formador de formador na formação continuada de professores....... 37 2.4.1. Formação do formador: delineamentos da profissionalidade e da profissionalização .................................................................................... 38 2.5. Desenvolvimento profissional e construção da identidade do formador de formador ................................................................................ 49 2.6. Uma política de inovação para a formação de professores: a escola como espaço formativo do formador de formador...................................... 58 CAPÍTULO 3: A cada passo, uma descoberta: o percurso da investigação..... 62 3.1. Primeiro passo: escolhas metodológicas.............................................. 62 3.2. Segundo passo: articulação entre ideias e indicadores........................ 64 CAPÍTULO 4: A Política Pública de Formação Continuada de Mato Grosso: estrutura, funcionamento e regulamentações para o Professor Formador do Cefapro – mudanças e inovações...................................................................... 73 4.1. A Política de Educação do Estado de Mato Grosso: a organização curricular das escolas estaduais e as orientações curriculares..................... 75 4.2. Os Centros de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica – Cefapro: instrumento de inovação................................ 78 4.3. O Projeto Sala do Educador: a ação da mudança................................ 93 4.4. A Sala do Formador: o projeto de formação continuada do Professor xi Formador .................................................................................................... 96 CAPÍTULO 5: A formação do formador sob o olhar do professor formador: perfil e identificação.......................................................................................... 99 5.1. Professores Formadores do Cefapro: diferentes perfis........................ 99 5.2. Professores Formadores do Cefapro: identificações .......................... 100 CAPÍTULO 6: Um olhar diferente: articulações entre dados e sentidos.......... 105 6.1. O Professor Formador do Cefapro como agente de mudança............,, 106 6.2. O Professor Formador do Cefapro como (trans)formador................... 119 6.2.1. Orientação para a elaboração do Projeto Sala do Educador........... 121 6.2.2. Acompanhar, assessorar, avaliar o desenvolvimento do Projeto Sala do Educador...................................................................................... 126 6.3. O Professor do Cefapro como autor de seus saberes profissionais...... 138 6.3.1. A reflexividade para além do espelho do Professor Formador: o primeiro mecanismo................................................................................. 141 6.3.2. A imagem o Professor Formador ultrapassa o espelho original: o segundo mecanismo ................................................................................. 148 6.3.3. O Outro é o meu espelho principal: o terceiro mecanismo............. 153 Considerações Finais ........................................................................................ 166 Referências....................................................................................................... 174 Apêndices ......................................................................................................... 184 xii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AERA - Associação Americana de Investimento Educacional CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CEFAPRO - Centro de Atualização dos Profissionais da Educação Básica CBA - Ciclo Básico de Aprendizagem CEFOR - Centro de Formação Permanente de Professores CF - Coordenador de Formação do Cefapro CTC/EB – Conselho Técnico da Educação Básica DC - Diretor do Cefapro EaD- Ensino a Distância FCC – Fundação Carlos Chagas FUNDEF – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação IES - Instituições de Ensino Superior ICHS - Instituto de Ciências Humanas e Sociais IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica LC – Lei Complementar LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação LOPEB –Lei Orgânica dos Profissionais da Educação Básica M - Memorial MEC - Ministério da Educação NTE - Núcleo de Tecnologia Educacional OCs/MT - Orientações Curriculares do Estado de Mato Grosso OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico PARFOR - Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica xiii PAR – Plano de Ações Articuladas PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais PDI - Plano de Desenvolvimento Institucional PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação PF - Professor Formador do Cefapro PNAIC – Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa PNFEM – Programa Nacional de Formação do Ensino Médio PPP Projeto Político-Pedagógico PPDC – Projeto Político do Cefapro PROFORMAÇÃO Programa de Formação de Professores em exercício PSE – Projeto Sala do Educador ROO – Rondonópolis-MT RCN – Referenciais Curriculares para a Educação Infantil SAEB - Sistema de Avaliação da Educação Básica SE – Sala do Educador SF – Sala do Formador SEDUC/MT - Secretaria de Estado de Educação do Mato Grosso SIGA - Sistema Integrado de Gestão da Aprendizagem SINTEP – Sindicato dos Profissionais da Educação SUFP - Superintendência de Formação dos Profissionais da Educação Básica SUEB – Superintendência da Educação Básica SUGT – Superintendência de Gestão Escolar SUDE – Superintendência de Diversidade Educacional SUEE – Superintendência de Acompanhamento e Monitoramento da Estrutura Escolar UFMT Universidade Federal do Estado de Mato Grosso UNEMAT – Universidade do Estado de Mato Grosso UNESP – Universidade Estadual Paulista xiv USP – Universidade de São Paulo UAB – Universidade Aberta do Brasil UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul xv LISTA DE QUADROS E FIGURAS Quadro 1. Habilidade para o formador de formador........................................... 44 Quadro 2. Etapas da relação formador de formador e escola.............................. 45 Quadro 3. Mudanças no desenvolvimento profissional....................................... 50 Figura 1. Mapa da localização dos Cefapros no estado de Mato Grosso com seus respectivos municípios................................................................................. 79 Figura 2. Lista de municípios atendidos pelo Cefapro de Rondonópolis e as distâncias (Km) entre eles e o centro................................................................... 80 Figura 3. Papel estratégico dos Cefapros na constituição de uma rede estadual de formação dos profissionais da educação em Mato Grosso............ 82 CAPÍTULO 1: A TRAJETÓRIA PROFISSIONAL: POSSIBILIDADES E ESCOLHAS Ao escolher mudar de caminho profissional, porque mudar significa seguir em frente, você precisa abandonar aquele em que está e se permitir trilhar as múltiplas variáveis que se entrecruzam, consciente das diferentes possibilidades de encontrar novos caminhos, em um continuum. Foi assim que tudo começou, quando adentrei no universo da formação de professores. Escolher mudar da docência para a formação de professores me permitiu trilhar espaços educacionais e educativos que mais pareciam universos paralelos àquele onde me encontrava como professora da educação básica e da rede pública. Como professora, atuei em diferentes níveis educacionais desde o Ensino Fundamental, os cursos preparatórios para vestibular e para a Escola de Sargentos (ESA), até o Ensino Superior e as Especializações, o que me proporcionou o conhecimento de diversos fatores que determinam as condições do ensino e da aprendizagem de crianças, de adolescentes e de adultos. No entanto, foi somente ao trilhar os caminhos para conhecer os fatores que determinam a formação do formador com o meu trabalho na Superintendência Regional de Educação (SRE-02), em 1992, quando fui responsável pela formação dos professores das disciplinas de Língua Portuguesa e Inglês da rede estadual de ensino do polo da cidade de Rondonópolis, que pude perceber que havia outra dimensão daquilo que chamavam educação. Lembro-me da resistência e rejeições que sofri por parte dos professores de Língua Portuguesa, por ser muito nova na profissão, praticamente recém-saída de meu estágio probatório, sem saber que estava vivenciando o que todo iniciante dessa profissão experimenta, principalmente, por trazer uma abordagem da prática linguística considerada, na época, uma revolução da Linguística, ensinar a partir de textos, quando a prática comum era “rezar” a Gramática da Língua Portuguesa. Ao contrário dos professores de Inglês, que me acolheram muito bem justamente porque não tinham orientação alguma sobre como trabalhar uma língua estrangeira, somente tinham o conhecimento de como os cursos de idiomas trabalhavam suas propostas, que não eram unificadas. Nem mesmo eu tinha ideia de como deveriam trabalhar, mas a minha experiência em cursos de idiomas e de um curso de graduação com habilitação em tradução, possibilitou-me uma intuição de que seria necessário implantar uma orientação curricular sobre a aquisição de uma segunda língua, sem mesmo saber se eu possuía direito ou poder para tanto. 17 Implantei uma proposta com materiais lúdicos a serem construídos junto com os alunos e considerei, para o momento, muito produtivo. Todavia, sentia-me uma fraude, não sabia ao certo o que estava fazendo, não havia autorização ou apoio para a formação. Pensei em formar uma associação dos professores de LP para discutirmos a prática pedagógica no ensino da língua portuguesa, de como poderíamos trabalhar a Linguística e outros segmentos como a Linguística Textual e a Semiótica, que despontavam com estudos transformadores. Imaginava que a minha graduação na Universidade Estadual Paulista (UNESP) de São José do Rio Preto-SP, garantiria o conhecimento para essa iniciativa, mas fui vencidapelo medo dos professores de que a mudança poderia revelar fragilidades da formação e da prática que preferiam ocultar, ou simplesmente por eles acreditarem que a forma como tinham sido educados cumpria o seu papel e, por isso, deveriam reproduzi-la. Após essa experiência, em 1995, passei no seletivo para atuar no Departamento de Letras da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) como professora substituta, e desde então tenho sido convidada para cursos de especialização, de capacitação de professores pelo interior de Mato Grosso e Goiás. Essas experiências me mostravam as dificuldades dos professores em desempenharem suas funções, muitos sem segurança de quais seriam suas reais funções, do processo de interlocução entre conteúdos e didática, entre professor e aluno, entre professor e comunidade, entre professor e gestão pedagógico-administrativa. Certa vez, tive a oportunidade de elaborar um curso de especialização em Produção de Textos, por acreditar que a especialização poderia contribuir na formação de professores que buscavam certificados, mas também, procuravam suprir as lacunas de sua formação inicial. Elaborei e participei do meu próprio curso, o que foi bastante interessante por vivenciar o que havia idealizado e aproveitar para conhecer os doutores das áreas de linguagens. Esses contatos abriram meu caminho ao mestrado, pelo incentivo dos professores e por mostrarem como concretizar essa iniciativa. Esses conhecimentos me motivaram a buscar o mestrado e foi um momento decisivo em minha carreira, deveria decidir continuar na área de minha habilitação em Letras ou mudar para a Educação. Decidi fazer o mestrado em Educação, em Formação de Professores, porque algo me inquietava e porque acreditava que a formação dos professores era a resposta para o que eu buscava. Sinto até hoje que fiz a escolha certa, quanto mais adquiro conhecimento sobre essa área, mais tenho a certeza de que me encontrei, tal a afinidade com esse universo. Atuei como professora da Pedagogia em uma instituição privada de 2005 a 2008, quando trabalhei com metodologias de ensino, coordenação de estágios e de trabalhos de conclusão de curso. Esse período foi um dos mais enriquecedores como formadora de 18 professores, uma vez que pude vivenciar a formação inicial dos alunos que hoje exercem a profissão em diferentes setores da educação. Participei de muitas ações dentro da faculdade, como representante dos professores no Conselho Superior de Ensino, como integrante da comissão responsável pela migração do curso Normal Superior para Pedagogia, como mentora e coordenadora de cursos de especialização e capacitação para a faculdade, como membro do Núcleo de Apoio ao Discente e Docente e como colaboradora do Núcleo de publicação. Todas essas vivências me possibilitaram conhecer fatores pedagógicos, administrativos e políticos de uma instituição superior que me asseguram hoje conhecimentos de como essas “engrenagens” funcionam, mas que ainda há muito mais a aprender. Com esse desafio de aprender mais sobre a formação de professores, ainda em 2008, resolvi aceitar um convite da então diretora do Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica (Cefapro) para ser coordenadora de um dos programas do convênio da Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (SEDUC-MT) com o Instituto Ayrton Senna - o Circuito Campeão. Acompanhei as turmas dos anos iniciais (o Primeiro Ciclo e as duas primeiras fases do Segundo Ciclo) de 32 escolas do município de Rondonópolis, quatro escolas de Pedra Preta, duas de Alto Garças, três de Alto Araguaia e uma de Alto Taquari, quanto à alfabetização, leitura e escrita dos alunos. Esse foi o meu primeiro contato com o órgão, embora soubesse de sua existência desde 1992, quando o estado implantou a escola por ciclos. Como coordenadora do programa Circuito Campeão, além do levantamento de dados da aprendizagem dos alunos, identificava os principais problemas do ensino, por meio de análise mensal dos dados fornecidos pelas professoras e por entrevistas com alunos e com professores e, a partir dessa análise, preparava e ministrava formações para os coordenadores, considerados os principais multiplicadores nas escolas. A partir dessa experiência com o Instituto Ayrton Senna, a SEDUC-MT implantou o seu próprio sistema de gerenciamento educacional, o Sistema Integrado de Gestão da Aprendizagem (SIGA) que lhe possibilita hoje uma rede de informações por mídia eletrônica como relatórios do processo de ensino e de aprendizagem (por município, por escola, por turma e por aluno), os diários, a prestação de contas, a avaliação do desempenho do professor, da equipe gestora e o projeto político pedagógico de cada escola. Ao final de 2008, resolvi prestar o seletivo para formadora do Cefapro, uma vez que o o programa Circuito Campeão chegara ao final, assim como o convênio com o Instituto Ayrton Senna. O processo seletivo compreendia uma prova escrita e uma prova didática todas 19 de responsabilidade da Universidade Estadual de Mato Grosso (UNEMAT). A única exigência era que fosse funcionária efetiva da rede estadual e possuísse dois anos de experiência. Para esses requisitos contava com o concurso desde 1990. Em 2009, iniciei meu trabalho como formadora de professores da área de Linguagens do Cefapro de Rondonópolis, considerado um centro de grande porte pela quantidade de escolas que atende (cerca de 80). Embora tenha assumido a função de formadora da área de Linguagens, logo pude perceber que havia uma dimensão de temas e conteúdos em outras áreas que os formadores não dominavam, como temas relacionados à própria profissionalidade, à formação continuada, à política educacional do estado, ao processo de ensino e de aprendizagem, à avaliação da aprendizagem e do ensino, à gestão educacional, aos projetos e programas educacionais propostos pela SEDUC-MT e pelo Ministério da Educação (MEC), às técnicas e estratégias de ensino e de aprendizagem e de formação docente, enfim, estávamos, os formadores, limitados pelas áreas e conteúdos específicos de nossa formação inicial. Nessa situação inicial, valeram-me as vivências anteriores, as quais justificavam minha convocação, pela coordenação do centro, para atender as demandas de alguns dessestemas, principalmente sobre a política educacional por ciclos de formação humana, processos e práticas de ensino e de aprendizagem e também de avaliação diagnóstica. Além dessas áreas, atuei como formadora de professores da área de Linguagens, especialmente nas práticas de leitura de diferentes gêneros textuais, com foco na Prova Brasil, e na formação de todos os professores e funcionários administrativos e de apoio com temas voltados para a prática educativa. Essas novas responsabilidades exigiram um redimensionamento da função que exercia, percebi que ser formadora do Cefapro não se limitava a trabalhar conteúdos teórico metodológicos da disciplina da minha graduação, mas exigia que trabalhasse os conteúdos pedagógicos comuns à formação de professores, como a elaboração do Projeto Político Pedagógico ou o desenvolvimento da avalição diagnóstica, entre outras temáticas solicitadas pela escola. Não havia outra escolha senão buscar os conhecimentos exigidos para desempenhar a função de formadora do Cefapro. Entretanto, observei que havia um grande descontentamento por parte dos demais formadores, pois se sentiam enganados, diziam que o processo seletivo não mencionava funções didático-pedagógicas fora de sua área de conhecimento, mencionava apenas a “formação de professores”, formação que deduziram ser a dos professores da disciplina em que atuavam. 20 Penso hoje que o descontentamento advinha do pouco conhecimento, por parte dos professores, do trabalho do Cefapro e da Política Pública de Formação de Profissionais da Educação. Assim, os novos formadores dos centros precisavam de uma formação que os subsidiasse para o trabalho de Professor Formador do Cefapro. Percebi que ninguém sabia dizer realmente qual era o papel do formador de professor para atuar na formação continuada. Em uma manifestação desse descontentamento, um dos professores formadores expressou que estavam exigindo muito dele, pois era somente professor e não se sentia apto a formar seus antigos pares professores. Compreendi, nesse momento, que havia um conflito de identidade, pois esse formador era um professor da escola até pouco tempo, agora como professor formador precisava responder a questões-problemas que também ainda eram suas. Não havia sofrido transformação alguma que o fizesse se sentir diferente do que era, ou seja, não passara por nenhum processo transformador de sua identidade. A contradição se torna um elemento de conflito identitário do professor formador, uma vez que este é antes um professor da educação básica e não há como deixar de sê-lo apenas por um processo seletivo, ou pelo fato de a função estar determinada em portaria regulamentar. Ao vivenciar o mesmo conflito que meus colegas professores formadores do Cefapro de Rondonópolis-MT, isso permitiu delinear meu objeto de estudos para esse doutoramento: o desenvolvimento profissional e identitário do formador de professor dos Cefapros. O problema da pesquisa se constituiu a partir desta contradição, quando um novo personagem surge na esfera educacional para exercer uma função cujo cargo ainda não existe, pois o professor formador do Cefapro é um personagem que surgiu mediante uma iniciativa da Secretaria de Estado de educação-SEDUC-MT, em investir na formação de professores, por meio de uma política pública de formação continuada. O problema se concentra no fato de que o professor da educação básica precisa desempenhar o papel de formador de professor e passa a exercer essa função sobre a qual pouco ou quase nada conhece, sendo ainda o responsável pela implantação e implementação da Política de Formação dos profissionais da educação. Ao me deparar com o problema, iniciei a fase dos questionamentos para o delineamento do objeto da pesquisa: ∙ Quem é o Professor Formador dos Cefapros de acordo com a Política Pública de Formação Continuada dos Profissionais da Educação de Mato Grosso? 21 ∙ Como a Política Pública de Formação concebe a formação do Professor Formador dos Cefapros? De que forma a SUFP/SEDUC-MT desenvolve a formação do Professor Formador dos Cefapros? ∙ Como ocorre o desenvolvimento profissional do Professor Formador de professor na formação continuada? De que forma se constitui a profissionalidade do Professor Formador? A formação do Professor Formador dos Cefapros e o seu desenvolvimento profissional confirmaram-se, dessa forma, como a delimitação do objeto de pesquisa. Assim, temos: OBJETIVO GERAL Investigar o processo de desenvolvimento profissional dos Professores Formadores do Cefapro e sua constituição identitária, no contexto de implementação da Política Pública de Formação Continuada dos Profissionais da Educação Básica de Mato Grosso. A complexidade desse objeto de pesquisa fica latente, uma vez que não há essa figura no cenário educacional, mas que a ela se configuram diversos aspectos da formação do formador e do professor da escola que se intermedeiam, os quais especificam os objetivos a serem atingidos pela pesquisa, como: OBJETIVOS ESPECÍFICOS ∙ Entender como a concepção de formação de professores adotada pela Política Pública de Formação Continuada de professores de Mato Grosso influencia o desenvolvimento profissional e a constituição identitária do Professor Formador do Cefapro; ∙ Compreender de que maneira a Política Pública de Formação define o perfil do Professor Formador; ∙ Analisar como os Professores Formadores se definem como formadores de professores e de que forma trabalham para o seu desenvolvimento profissional. A abordagem para essa pesquisa não podia ser outra senão a qualitativa, pela condição que se impõe da valorização do sujeito, o professor formador, como elemento central da investigação, cujos princípios se concentram nas significações construídas por esses sujeitos, seus contextos histórico-sociais, culturais, políticos, econômicos e também tecnológicos, bem como por suas interações, seus conhecimentos tácitos, suas práticas cotidianas. Essa abordagem permitiu um enfoque multidisciplinar e, por consequinte, procedimentos metodológicos diversificados. Iniciei pela pesquisa em documentos acerca da implantação da política pública de formação de professores do estado de Mato Grosso e 22 entrevistas com personagens que fizeram parte dessa história que ajudaram a compreender como o professor formador surgiu e como é reconhecido por essa política. Os autores que subsidiaram o empreendimento desse estudo foram António Nóvoa (2009, 2011), Francisco Imbernón (2011); Carlos Marcelo Garcia (2009, 2010), Denise Vaillant (2003), Rui Canário (1998; 2000); Claude Dubar (2005), Vera Placco e Vera Souza (2010); Bernadete Gatti e Marli André (2010) e Mikhail Bakhtin (2003). Conforme o desenvolvimento da investigação, outros autores foram chamados a dialogar e reforçar as bases teóricas que sustentaram a pesquisa. As seções foram dispostas na seguinte ordem: o capítulo 1 expõe a trajetória profissional da autora, em que descreve as experiências que a constituíram pesquisadora e quea fizeram se interessar pela formação do formador de professor. No capítulo 2, a seção se inicia pelo levantamento dos trabalhos científicos acerca da “formação de formador” publicados no período de 2005 a 2012, período em que houve a re-estruturação dos Cefapros, a fim de verificar as pesquisas correlatas sobre a formação do formador. Ainda nessa seção, o arcabouço teórico se manteve nos estudos acerca da formação de professores, uma vez que a respeito da formação do formador ainda as publicações são incipientes. A constituição de conhecimentos acerca da formação do formador de professor na formação continuada estabeleceu-se por meio das intermediações entre os diversos aspectos da investigação, como: os modelos de formação continuada existentes, os estudos já publicados acerca da formação do formador de professores, o desenvolvimento profissional docente, entre outros aspectos. No capítulo 3, relatei os procedimentos metodológicos e suas variáveis utilizados para melhor apreensão do objeto, quanto à escolha do tratamento dado à análise dos dados. O Capítulo 4 trata da descrição do contexto da pesquisa, informação importante, tendo em vista a singularidade da Política Pública de Formação Continuada dos Profissionais da Educação de Mato Grosso, constituída em centros de formação, com professores formadores responsáveis pela implementação da concepção de formação continuada de professores na perspectiva colaborativa. Os Capítulos 5 e 6 mostram, na sequência, os dados analisados a partir da “análise de prosa” como concebe André (1983) com que demonstrei as inter-relações entre os dados obtidos por múltiplos procedimentos e instrumentos de coleta de dados, a fim de capturar a complexidade desse processo de profissionalização e de profissionalidade do Professor Formador de Professor dos Cefapros. 23 Os procedimentos de coleta de dados foram o levantamento do tipo survey, análise dos documentos publicados sobre a Política Pública de Formação dos Profissionais da Educação de Mato Grosso, entrevistas com gestores da Superintendência de Formação dos Profissionais da Educação Básica – SUFP e com formadores dos Cefapros, análise de relatórios produzidos pelos professores formadores (PF), realização de grupo focal com os PFs, observação da Sala do Formador e da Sala do Educador e análise de memorial de formação de PFs. A integridade dos sujeitos foi mantida quando a pesquisa optou por não expor suas identidades e todos os dados foram coletados dentro do princípio ético do livre consentimento, sendo todos os atos devidamente documentados em Ata do Conselho Deliberativo do Cefapro de Rondonópolis-MT, local da pesquisa. Esse percurso investigativo assim se organiza pelos meus passos, entretanto, nada impede que a meus passos se juntem outros e esse percurso seja revisitado e transformado. 24 CAPÍTULO 2 – A FORMAÇÃO DO FORMADOR E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM DIÁLOGO – BASES TEÓRICAS A evolução tecnológica dos últimos tempos ampliou as redes de comunicação, provocando diversas mudanças nas relações interpressoais, nos grupos familiares, enfim, na socialização de um modo geral. Essas mudanças trouxeram novas exigências ao trabalho docente, fazendo surgir reformas educativas para a formação do professor que compreendem o desenvolvimento profissional docente em diversas instâncias, inclusive a LDB 9394/96, no seu Artigo 13, define a responsabilidade do professor pelo seu desenvolvimento profissional. Pela LDB vigente, o desenvolvimento profissional do professor impõe, pelo menos, duas prerrogativas: que as instituições formadoras ou os órgãos de gestão pública ofereçam formação aos professores em serviço e que a participação do profissional não seja uma opção. No campo da formação de professores, segundo Vaillant e Marcelo (s/d), está o desafio de desenvolver propostas educativas que orientem os profissionais da educação a lidar com a renovação da maneira de ensinar, empreendendo-lhes um posicionamento de assumir como “profissionais que também aprendem, que se dipõem a um permanente aprender a aprender e aprender a ensinar” (p.06) Com esse olhar para o professor que se dispõe a aprender permanentemente, Vaillant e Marcelo (id.) argumentam que a formação de professores deve ser concebida pelos docentes como um desenvolvimento contínuo, um processo que incorpora o ato de aprender ao longo da vida. Aprender a ensinar mediante as mudanças provenientes, principalmente, das descobertas tecnológicas. Devido a essa concepção de formação de professores como desenvolvimento contínuo, as políticas de formação continuada de professores surgem com a preocupação de redefinir o papel do professor, de sua profissionalização, do seu desenvolvimento profissional. Consequentemente, a formação do professor passa a ser o alvo das atenções ao ser vista como a promessa de uma inovação segura para o campo educacional. O formador de formador, por conseguinte, surge nesse momento de mudanças no campo da formação de professores como um mediador entre objetivos almejados pelas políticas de formação e as necessidades formativas dos professores da escola. Portanto, é preciso conhecer as mudanças que incidiram na concepção da formação de professores, principalmente acerca da formação continuada para compreender quem é esse novo profissional. 25 2.1. A formação de professores: concepções e mudanças As reformas no campo da formação de professores trouxeram, em seu bojo, o esclarecimento de que a formação, o desenvolvimento profissional e a identidade tornaram-se conceitos que se aglutinam, que se movimentam em sintonia, não há como se referir a uma temática, sem se reportar às demais. Essa afirmação se baseia em Marcelo (2009, p.11) ao assumir a posição do “desenvolvimento profissional como um processo que vai se construindo à medida que os docentes ganham experiência, sabedoria e consciência profissional” e que se aprofunda pela constituição da identidade. Imbernón (2011, p.46) “parte da hipótese de que o desenvolvimento profissional é um conjunto de fatores que possibilitam ou impedem que o professor progrida em sua vida profissional”. De acordo com o autor, existem eixos que englobam a atuação do professor e esclarecem a concepção de formação de professores que essa pesquisa destaca, sendo eles: 1. A reflexão dos sujeitos sobre sua prática docente é a base para que estes consigam gerar conhecimentos que lhes possibilitem intervir na prática educativa. 2. Para a reflexão sobre a prática, é imprescindível a troca de experiência entre os professores. 3. A formação se constitui a partir de um projeto de trabalho. 4. A reflexão deve estimular a criticidade nas práticas profissionais. 5. O trabalho coletivo deve transformar o desenvolvimento profissional em experiências de inovação institucional. Com relação às transformações no trabalhodocente, Imbernón (2009a) explica que a “mundialização”, como prefere se referir à globalização, provocou muitos desconcertos e até a ignorância de alguns ao se depararem com tamanha rapidez das informações por meio das novas tecnologias da informação (TI). Essa situação obrigou uma “reconceitualização constante” daquilo que denominou de “zonas intermediárias da prática”, as singularidades, as incertezas, os conflitos de valores e pode-se acrescentar, as contradições. Imbernón (id.) esclarece que a educação permanente surge dessa nova necessidade, cujos estudos passaram de uma fase descritiva para uma experimental, com o surgimento de “centros de professores, mestres ou similares e o interesse político (ou intervencionista) sobre o tema, refletindo-se nas políticas institucionais, nas pesquisas e nas publicações” (IMBERNÓN, id., p.12) 26 As mudanças significaram avanços na educação permanente, segundo o referido autor, porque ao romperem com os sistemas educacionais anteriores – uma forma hegemônica de ver a educação – provocaram uma crise institucional da formação, e, como consequência, novos modelos de formação foram propostos, como aquele que busca analisar o que se aprendeu e o que é possível aprender pela experiência. Com os novos modelos de formação, surgem propostas de estabelecer também novos modelos relacionais e participativos na prática da formação. Day (2005, p.29) afirma que “apesar dos esforços de muitos diretores para promover culturas escolares, estas se mantêm quase sempre em nível de planejamento ou de conversação e não na análise da prática”, e que os professores permanecem com trabalhos isolados a maior parte do tempo. Outros autores também apresentam uma discussão acerca do desdobramento orientado para as mudanças na formação de professores, como Nóvoa (2009), Canário (2000), Jacky Beillerot (1996), quando explicam o deslocamento do contexto da formação docente para a escola, a partir de uma perspectiva colaborativa. Para Nóvoa (2009), ao final do século XX, estudos internacionais chamam a atenção para as questões de aprendizagens, o que também inclui professores, desencadeando ações como a da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) (2005) que passa a mobilizar como prioridade da política pública as questões relacionadas à profissão docente. Nóvoa (id.) argumenta que a responsabilidade pelas mudanças na formação profissional docente pode ser atribuída às questões da diversidade e à utilização das novas tecnologias, as quais exigiram a inserção de novas práticas pedagógicas na escola. O autor ainda declara que, no século XXI, os professores aparecem como únicos profissionais capazes de promover a aprendizagem e de responder aos desafios da diversidade e da utilização das novas teconologias. Segundo Nóvoa (id.), há um consenso sobre princípios de formação de professores com alguns aspectos bem definidos: Parece que estamos todos de acordo quanto aos grandes princípios e até quanto às medidas que é necessário tomar para assegurar a aprendizagem docente e o desenvolvimento profissional dos professores: articulação da formação inicial, indução e formação em serviço numa perspectiva de aprendizagem ao longo da vida; atenção aos primeiros anos de exercício profissional e à inserção dos jovens professores nas escolas; valorização do professor reflexivo e de uma formação de professor baseada na investigação; 27 importância das culturas colaborativas, do trabalho em equipe, do acompanhamento, da supervisão e da avaliação dos professores; etc. (NÓVOA, 2009, p.13) Nóvoa (id.) critica a maneira como essa concepção de formação de professores se propagou discursivamente mais pelos especialistas e pela “indústria do ensino”, como denomina as editoras, do que pelos próprios professores. Denuncia que houve uma “inflação discursiva sobre os professores” (p.15) e agora é necessário passar a “formação de professores para dentro da profissão”. Outro autor que discute a concepção de formação de professores é Canário (2000), que analisa a formação profissional de professores sob uma perspectiva histórico-dialética, relacionando-a ao mundo do trabalho. De acordo com esse autor, a relação entre a formação profissional e o mundo do trabalho sofreu mutações como a passagem de uma relação de previsibilidade para a de incertezas. Com essa mutação, emergem as relações vigentes marcadas pela adequação ou pela adaptação funcional, ou seja, adequação às necessidades do mercado de trabalho e adaptação funcional de cursos que acreditam que conseguirão formar o profissional de maneira linear e cumulativa para o desempenho das funções. A crítica de Canário (id.) a esses modelos de formação profissional, principalmente no ensino superior, se justifica ao explicar que “a relação formação-trabalho é alimentada por três grandes fenômenos: são eles a mobilidade profissional, a rápida obsolescência da informação e as mutações das organizações do trabalho” (p.7); segundo ele, o sujeito não aprende uma profissão, mas uma diversidade de atividades exigidas em constante transformação ao longo de sua trajetória profissional, vale dizer, portanto, que a formação desse sujeito só poderá ser concebida no decorrer de sua vida profissional, ressaltando-se que muitos conhecimentos exigidos e adquiridos pouco ou quase nada lembram a formação inicial. Diante dessas argumentações, Canário (id.) afirma que para estudar a formação ou o desenvolvimento profissional, ambos devem ser entendidos como processo, nos quais cada profissional é responsável pela sua própria formação. A concepção de formação profissional como processo, seja inicial, seja continuada, remete-nos a colocar como foco de nossas investigações acerca de ações formativas não mais o ensino, mas, sobretudo, as aprendizagens. A obsolescência da informação, a que o autor se referiu, remete-nos à necessidade de transformar uma formação fundada em saberes cumulativos para outra lógica, a da construção 28 de saberes, uma vez que existe uma mudança acelerada das organizações de trabalho para um sistema em rede, com uma característica global, exigindo trabalhos em equipe. Por esses três fenômenos, Canário conclui que há uma transformação de uma “cultura de dependência e de execução” para uma “cultura de interação e de resolução de problemas”, assim, justifica-se considerar as dimensões coletivas no contexto organizacional da formação. A concepção de formação profissional de professor ao longo da vida, em contexto, coletiva, prático-reflexiva, também pode ser encontrada em Carlos Marcelo (2009) que além decitar o relatório da OCDE (op.cit.), apresenta outros documentos nessa direção como a II Reunião Intergovernamental do Projeto Regional de Educação da América Latina e Caribe (2007) e o relatório da Associação Americana de Investigação Educacional (AERA), todos ratificam a importância dos professores nas aprendizagens dos alunos e o aspecto fundamental da formação de professores centrada nos processos usados pelos professores nas suas aprendizagens a fim de melhorarem suas competências. Daí, para esse autor, há a necessidade de formular a pergunta “como se aprende a ensinar?” Marcelo (2010) argumenta que a profissão docente se caracteriza por uma desprofissionalização, pois, com os intensos avanços da tecnologia da informação, criou-se “uma sociedade de aprendizagem, onde todo mundo ensina e aprende e ninguém é ‘experto’ 1 ”(p.19). Diante desse fato, a profissão docente exigirá uma reformulação do currículo para “um ensino em equipe, planejamento colaborativo, coaching entre companheiros, aconselhamento, pesquisa-ação colaborativa” (p.23) O consenso sobre a formação profissional de professores nesse novo século, movimentou uma transformação na política pública educacional em diversos países, com o compromisso de uma “re-estruturação moral, intelectual e profissional” (IMBERNÓN, 2009a, p.36) do professor, devolvendo-lhe o controle sobre sua profissionalidade. No entanto, Imbernón (2009a) pondera que há obstáculos que podem se transformar em resistências na formação de professores como a falta de uma coordenação, acompanhamento e avaliação na formação permanente, a valorização da quantidade ao invés da qualidade do que se executa, a falta de formadores ou assessores de processo, a falta de orçamento para atividades de formação, horários inadequados que sobrecarregam a tarefa do docente, formação individualizada, formação como incentivo salarial sem compromisso com a melhoria da profissão, entre outros fatores 1 Professores “expertos” são aqueles que mantêm sua capacidade de autoconsciência com respeito ao seu exercício docente e são sempre conscientes das possibilidades de aprendizagens inerentes a cada episódio docente e a cada interação individual. (DAY, 2005, p.76) 29 Esses obstáculos estão sendo observados em alguns estados do Brasil, principalmente no que tange à formação continuada de professores, conforme relatam Davis, Nunes e Almeida (2011) em relatório de pesquisa da Fundação Carlos Chagas. As autoras comentam que a maioria das secretarias de educação investigadas possui formação considerada “clássica”, “instrumentalista”, criticada por estudiosos como Candau (1997), Fullan (1992), Imbernón (2010) por não provocar mudanças direcionadas ao ambiente de trabalho, uma vez que não levam em conta as necessidades formativas dos professores. Um aspecto importante que se aloja na discussão sobre concepções de formação de professores é o de vinculá-las a um enfoque de Déficit ou a de Desenvolvimento Profissional. De acordo com Avalos (2008), o primeiro se mostra em uma visão de capacitação de professores os quais carecem de algumas competências, o que, para a autora, recai na perspectiva da incompetência do sujeito em formação e suas incapacidades. O segundo busca uma visão mais progressiva, que considera o professor um sujeito que aprende a aprender e que aprende a ensinar ao longo da vida, que possui experiências valorizadas como conhecimentos, capacidades e saberes. Conceber a formação como desenvolvimento profissional, para Imbernón (2009b), depende diretamente do enfoque que se tem sobre as funções do professor. Caso tenhamos um professor que trabalha isolado, o desenvolvimento profissional dele se centrará nas atividades de aula; se observamos um professor técnico, seu desenvolvimento profissional se baseará na disciplina, nos métodos e técnicas de ensino; e se temos um profissional reflexivo-crítico, seu desenvolvimento profissional se orientará para processamentos de informações, de análises e reflexões crítica, diagnósticos e avaliações. A formação definida por autores como Nóvoa (2009), Imbernón (2009a, 2009b) e Marcelo (2009), vem, segundo André (2010, p.175) “centrando suas discussões no conceito de desenvolvimento profissional docente (em substituição ao de formação inicial e continuada)”: O que podemos concluir das leituras dos autores mais recentes é que a formação docente tem que ser pensada como um aprendizado profissional ao longo da vida, o que implica envolvimento dos professores em processos intencionais e planejados, que possibilitem mudanças em direção a uma prática efetiva em sala de aula. (ANDRÉ, 2010, p.176) As mudanças para uma prática efetiva em sala de aula como pretende André (id.) passam pelos paradoxos da formação docente que Bernard Charlot (2008) considera como 30 contingências para o desenvolvimento profissional de professores, denominando-as de injunções da sociedade contemporânea com a vivência do professor que está na escola. Charlot (id.) confere às injuções o grau de contradição, que, segundo ele, entra na escola quando a escola vira espaço de concorrência diante da exigência do nível de escolaridade para a inserção profissional e ascensão social e quando os alunos de camadas sociais menos privilegiadas ingressam na escola e não conseguem atender às exigências. Para ele, “a sociedade tende a imputar aos próprios professores a responsabilidade dessas contradições” (p.19). O autor define o professor como “trabalhador da contradição”, “[...] ele consta daqueles cuja função é manter um mínimo de coerência, por mais tensa que seja, em uma sociedade rasgada por múltiplas contradições. São trabalhadores cujo profissionalismo inclui uma postura ética. E, se possível for, o senso de humor” (CHARLOT, 2008, p.31). As injunções e inovações na formação continuada ou no desenvolvimento profissional do professor trouxeram para o cenário educacional a figura do formador de formador. Imbernón (2011, p.92) confirma que a figura desse novo formador surgiu por volta dos anos 70 e explica que essa função de “assessor de formação permanente” já é comum em outros campos de atuação como a medicina, a sociologia ou a psicologia organizacional, com os quais é possível apreender conhecimentos sobre o trabalho de assessoria. Essa forma de conceber a formação, explica a criação, no Brasil, da Política de Educação Permanente em Saúde, em 2003. Dentro dessa perspectiva de assessoria profissional, a política pública de formação continuada do estado de Mato Grosso é uma dessas iniciativas que constitui o desenvolvimento profissional docente a partir de centros de formação, com um profissional desua própria rede de ensino para atuar nas escolas como o responsável por acompanhar e assessorar a formação continuada de professores, com a função de auxiliar os professores a diagnosticar seus problemas e refletir sobre possíveis intervenções, denominado pela política pública de Professor Formador (PF). (MATO GROSSO, 1998a) O PF surge com as mudanças ocorridas na formação de professores, fato que marca a sua figura no contexto educacional intrinsecamente relacionada ao do docente. 2.2. As políticas públicas de formação continuada de professores: iniciativas de reformas na formação de professores 31 O formador de formador a que se refere esta pesquisa surge a partir de iniciativas políticas de formação continuada com o objetivo de atender às novas exigências ao trabalho docente, portanto, é pelo contexto de transformação das políticas de formação continuada de professores que se consegue compreender quem é esse profissional. No Brasil, a pesquisa coordenada por Gatti, Barreto e André (2011) destacou ações em prol da formação continuada e do desenvolvimento da profissão docente como a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº. 9.394/96 que regula os recursos destinados aos docentes da educação básica pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) e dez anos depois, pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). A pesquisa divulga ainda o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), de 2007, que foi desdobrado com o Plano de Ações Articuladas (PAR) que se divide em quatro dimensões: gestão, formação de professores e de profissionais de serviço e apoio escolar, práticas pedagógicas e avaliação, infraestrutura física e recursos pedagógicos. Desse livro é importante salientar que desde 1998, o MEC estabeleceu referenciais curriculares a fim de consolidar as concepções da educação básica como os Referenciais Curriculares para a Educação Infantil (RCN) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Em 2007, ampliaram-se as responsabilidades da CAPES na estruturação de um sistema nacional de formação de professores, e, devido às novas funções, foi criado o Conselho Técnico Científico da Educação Básica (CTC/EB), que, por seu turno, em 2009, contribuiu na elaboração da Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica e na criação dos Fóruns Estaduais de Apoio à Formação dos Profissionais da Educação Básica. Instituiu-se ainda o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR). No mesmo ano, 2009, foi criado o sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) que oferece formação de nível superior em EaD. Ainda cabe destacar que, em 2003, foi criada a Rede Nacional de Formação Continuada de Professores sob a responsabilidade das secretarias de Educação Básica e da secretaria de Educação a Distância do MEC, sendo redimensionada para Rede Nacional de Formação Continuada dos Profissionais da Educação Básica que passa a coordenar a atuação entre diferentes Secretarias do MEC, da CAPES e do FNDE com as IES. Cabe enfatizar que a Política Pública de Formação dos Profissionais da Educação Básica do estado de Mato Grosso se iniciou em 1997, antes da criação da Rede Nacional de Formação Continuada de Professores pelo MEC, em 2003. A política pública de Mato Grosso 32 veio descrita, no capítulo 8 da obra coordenada por Gatti, Barreto e André (2011), como uma iniciativa capaz de possibilitar aos docentes uma formação continuada em consonância com a concepção atual de formação de professores, ou seja, a de uma formação ao longo da vida, em serviço, valorizando o professor como protagonista de sua própria formação, dentro de uma perspectiva colaborativa. O desenvolvimento profissional contextualizado no local de trabalho é defendido por autores como Carlos Marcelo (2009) e Francisco Imbérnon (2011) quando declaram ser imprescindível a valorização da escola como lócus de formação continuada. Marcelo (id.) destaca a importância da escola como espaço em que a formação do professor se desenvolve de maneira a levar em consideração sua realidade profissional, por meio do compartilhamento de diferentes competências; enquanto Imbérnon (id.) reforça a ação do professor como o movimento gerador de conhecimento pedagógico que lhe possibilita transformar o seu desenvolvimento profissional de uma condição particular para uma institucional. O Relatório Final da Fundação Victor Civita (2011), elaborado por pesquisadores da Fundação Carlos Chagas sob a coordenação de Cláudia Leme Davis, Marina Muniz Rossa Nunes e Patrícia Cristina Albieri de Almeida, divulgou um retrato da formação continuada de professores no Brasil, no qual foram discutidas as diferentes concepções de formação continuada, as políticas públicas empreendidas desde 1990 e o trabalho de formação continuada desenvolvido por secretarias, estaduais e municipais, distribuídas pelas cinco regiões do país, a fim de mostrar como esse trabalho tem contribuído para o desenvolvimento profissional dos docentes e para a qualidade dos processos educativos no Brasil. De acordo com essa publicação, diferentes políticas de formação surgiram em vários países da Europa e da América, principalmente na década de 1990, destacando-se mediante diagnósticos de baixo desempenho dos alunos, resultado atribuído, em grande parte, aos professores e sua formação. Segundo Davis, Nunes e Almeida (2011, p.09), “os professores estão no centro das preocupações e das políticas educacionais, que conferem um papel central aos processos de educação e formação, bem como uma responsabilidade acrescida a professores e formadores”. A necessidade de estudos acerca da formação continuada se ampliou concomitantemente com o aparecimento de iniciativas políticas educacionais que se divergiram em diversos aspectos, e que o relatório declara sendo serem propostas “umas colidindo com outras”, os autores as reunem em dois grandes grupos: 33 1. O primeiro grupo centra a atenção no professor com relação à sua qualificação, por acreditar que uma maior qualificação pode ajudar o professor a atribuir novos sentidos à profissão, levando em consideração os ciclos de vida profissional na formação continuada. 2. O segundo grupo destaca o desenvolvimento do professor a partir do coletivo das escolas, a formação que ocorre no interior delas, sendo dividido em dois subgrupos:o que entende ser o coordenador pedagógico o principal responsável pelas ações formativas na escola e o outro que busca “fortalecer e legitimar a escola como lócus de formação continuada e permanente, possibilitando o estabelecimento, nela, de uma comunidade colaborativa de aprendizagem”. (DAVIS, NUNES e ALMEIDA, 2011, p.16) A formação continuada dos professores no estado de Mato Grosso, com acompanhamento do Cefapro, pode ser incluída como pertencente ao segundo grupo, precisamente, no grupo que busca “fortalecer e legitimar a escola como um lócus de formação contínua”. Como representante desse grupo, a Secretaria de Estado de Educação do Mato Grosso recebeu destaque no relatório sobre a formação continuada (2011), pela implantação de uma política de formação continuada que respeita o contexto da formação e considera o caráter coletivo, fortalecendo a escola como lócus de formação. Esse destaque vem assim descrito Dentre as secretarias que compõem o presente estudo, essa [SECO]2 é a que tem a política de formação mais inovadora, de acordo com a literatura: a escola é vista como o lócus por excelência da Formação Continuada. A atual política de formação do estado estruturou uma organização que busca favorecer: a) um clima de colaboração entre os professores na escola; b) a participação dos professores no processo de planejamento, realização e avaliação dos resultados da escola; c) a valorização dos saberes e da experiência dos professores (DAVIS, NUNES, ALMEIDA, 2011, p.77) O Relatório (id.) descreve a tendência das várias redes de ensino e secretarias de educação de ampliar as ações de formação docente para todos os profissionais dos diferentes segmentos educacionais, como uma forma de “reforçar a responsabilidade conjunta em relação à aprendizagem dos alunos e fortalecer as competências necessárias para tanto” (p.223). Além disso, há também iniciativas no sentido de mudar o modelo tradicional de cursos ofertados em parceria com universidades, ou outros árgãos, ou especialistas, para 2 SECO, abreviação de Secretaria de Educação do Centro Oeste. 34 formação centrada na escola, a fim de minimizar a falta de acompanhamento após esses cursos. Essas iniciativas provocaram ações como a de recuperar o papel do coordenador pedagógico como “agente catalisador da formação in loco” (p.224) e a de criar centros de formação. A nova forma de conceber a formação docente, como a do estado de Mato Grosso, ocorre no processo de formação de um novo currículo ou de um enriquecimento do currículo escolar com implantação de sistemas de acompanhamento de professores e alunos, com “implementação de ações de formação de professores com perfil mais integrado” (p.225), e a constante utilização da comunicação em rede. Para o relatório, Tal medida, a um só tempo, valoriza e abre espaço para a divulgação de experiências centradas nas escolas, assim como incentiva o desenvolvimento profissional dos professores, com base na interação do saber da experiência e do saber acadêmico, para enfrentar os desafios dos cambiantes contextos locais. (DAVIS, NUNES e ALMEIDA, id., p.226) As experiências dos professores divulgadas em espaços de formação centrados na escola permitem que o desenvolvimento profissional aconteça de maneira contextualizada, ou seja, que os saberes profissionais se constituam a partir da atuação do sujeito no seu local de trabalho. A formação de professores centrada na escola é estabelecida por políticas de formação em serviço, que, segundo o Relatório (id.), é de responsabilidade do poder público, orientadas pela Política Nacional de Formação de Professores em serviço do Ministério de Educação. O fato de a formação continuada em serviço estabelecer a escola como espaço de desenvolvimento profissional, não exclui a colaboração de universidades ou outras instituições de formação, porque prevalece a ideia de comunidade de aprendizagem colaborativa nesse grupo de formação. As iniciativas de reformas por meio da instituição de políticas públicas de formação continuada evidenciaram um campo de pesquisa a ser explorado, o da formação do formador de professores. 2.3. A formação do formador de formador: um campo de estudos a construir A formação de professores tem sido alvo de muitas pesquisas, como indica André (1999) desde a década de 1990, principalmente, no que diz respeito à formação do professor 35 da educação básica. Entretanto, estudos correlatos sobre a formação do formador de professor mostram um campo a ser explorado. Um levantamento dos trabalhos científicos publicados pelo site da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, no período de 2005 a 2010, com as palavras-chave “formação de formador”, mostrou um total de 176 publicações, sendo os anos de 2007, 2009 e 2010 os que mais apresentaram trabalhos desenvolvidos em programas de pós-graduação, principalmente, nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Rio Grande do Norte. Os temas mais abordados nesses trabalhos foram: a prática reflexiva necessária à formação continuada, os saberes construídos pelos professores na formação continuada, o percurso de professores formadores de professores de inglês em programas de parcerias entre secretarias municipais de educação e as universidades e de tutores de programas de formação à distância. Somente dois estudos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte revelaram a existência de professores que desempenham a função de formador na formação continuada em órgão denominados Regionais, e apenas um deles tratava da subjetividade dos formadores. Outra consulta realizada no site da Scientific Eletronic Library Online (Scielo) pelo mesmo indicador, formação de formador, entre os anos de 2004 a 2012, somente 2 artigos, dos 87 publicados, abordavam o tema formação do formador e somente 1 deles abordava a questão do formador na formação continuada. Na biblioteca virtual da Universidade de São Paulo (USP), encontraram-se 173 trabalhos que tratavam o tema supracitado, todavia, dentre eles, somente 8 tratavam da formação do formador, e 5 da formação continuada. Na biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), no ano de 2009, houve uma concentração de trabalhos sobre formação de professores, contudo, versavam sobre a formação de professores da educação básica e do ensino superior. Com resultados escassos de pesquisas sobre a formação de formadores de professores que atuam na formação continuada, havia uma chance de encontrar estudos correlatos no site da Universidade Federal de Mato Grosso, estudos relacionados aos formadores dos Cefapros,
Compartilhar