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HISTÓRIA DO MOVIMENTO ANARQUISTA NO BRASIL
Edgar Rodrigues
Ateneu Diego Giménez 
2010
Edição original:
História do Movimento Anarquista no Brasil 
In: Universo Ácrata
Editora Insular 
Florianópolis, 1999
Diagramação:
Ateneu Diego Giménez
FOSP/COB­AIT
Piracicaba, 2010
http://fosppiracicaba.wordpress.com/ateneu-diego-gimenez
http://cob­ait.net
http://www.iwa­ait.org
HISTÓRIA DO MOVIMENTO ANARQUISTA NO BRASIL
Com 8.511.965 km²  e uma população de cerca de 160 milhões de habitantes, 
"encontrado pelos navegadores portugueses em 1500", colonizado à força de chicotadas 
e da decepação de pares de orelhas com as mãos dos capitães do mato", cresceu pela 
força   do   trabalho   escravo,   como   os   demais   países   "descobertos"   por   espanhóis, 
italianos, holandeses, franceses, ingleses e outros.
A questão social começou quando uns poucos figurões alugaram e compraram 
braços humanos para desbravar a terra, abrir estradas, construir pontes, moradias, 
carruagens   e   tudo   o   mais   capaz   de   proporcionar   uma   vida   confortável   aos 
comandantes da miséria e do progresso do Brasil.
Nos quase 500 anos de história aconteceu de tudo um pouco: compra e venda de 
gente como nós nos leilões em praça pública, uso de escravos novos para reproduzir 
filhos (mão­de­obra com pouco custo e nenhum risco) com escravas sadias, trabalho 
pela comida, trapaças para tomar terras férteis aos nativos, prisões, espancamentos a 
gosto dos patrões e   tudo o  mais  que o  cérebro  humano é   capaz de  imaginar para 
dominar seus semelhantes. E eram todos boas almas tementes a Deus...
A opressão seguiu­se às fugas e à formação dos quilombos, o mais importante foi 
instalado em Palmares (1602­1695), resistiu quase um século, teve 20 mil habitantes 
vivendo em comunidade sem leis nem amos. Zumbi e seus companheiros anteciparam­
se a Tiradentes dois séculos tentando formar uma nação dentro do Brasil.
Independente em 1822, no grito do português Pedro I (4º de Portugal), o Brasil 
foi palco de muitas fugas e revoltas populares: a Setembrada e a Novembrada (1831); 
Levante de Ouro Preto (1833); a Sabinada (1837); a Balaiada (1838); a Cabanagem 
(1835­1840);   a   Guerra   dos   Farrapos   (1835­1845);   a   Revolução   Liberal   (1842);   a 
Revolução Praieira e a Proclamação da República em 1889. Pouco antes (13 de maio de 
1888) havia sido promulgada a Lei Áurea acabando com a prática de comprar e vender 
gente.
A rebeldia iniciada na contramão pretendia mudar a prática patronal, surrada, 
vergonhosa, anti­humana!
Do   velho   mundo   chegavam   as   idéias   revolucionárias   de   navio,   em   livros 
publicados   na   Europa.   Entravam   pelos   portos   do   Rio   de   Janeiro,   de   Santos, 
atravessavam as fronteiras invadindo o Brasil um pouco na cabeça de cada imigrante 
que vinha em busca de liberdade e de terra fértil para semear o anarquismo.
Nas duas últimas décadas do século 19 alguns jovens brasileiros foram estudar 
na França e em Portugal e lá souberam das idéias libertárias. Outros estudaram no 
Brasil mesmo e encontraram livros de Kropotkine nas livrarias e na leitura respostas 
para suas inquietações.
É dessa época Manuel de Mendonça, autor da novela social "Regeneração". O 
médico  e  higienista  Fábio  Luz  encontrou na  Bahia  Palavras  de  um Revoltado,  de 
Kropotkine, leu essa revolucionária obra e tornou­se anarquista. Escreveu e publicou 
Ideólogos e Os Emancipados, duas obras libertárias do início do século 20, sendo desde 
então considerados os primeiros escritores brasileiros a tratar da questão social no 
romance.
Aos dois intelectuais anarquistas juntaram­se Elísio de Carvalho, o estudante 
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de medicina J. Martins Fontes, Pedro do Couto, Rocha Pombo, Pausilipode da Fonseca, 
João Gonçalves da Silva e Maximino Maciel, formando o grupo que publicou, no Rio de 
Janeiro, mais adiante, a revista Kurtur, e fundaram a Universidade Popular, em 1904, 
duas iniciativas anarquistas.
Avelino Foscolo, começou em Minas Gerais, Reinaldo Frederico Greyer, no Rio 
Grande   do   Sul,   Ricardo   Gonçalves   (tem   uma   rua   com   seu   nome   em   São   Paulo), 
Benjamin Mota, Edgard Leuenroth e João Penteado, em São Paulo; Orlando Corrêa 
Lopes, Francisco Viotti, Domingos Ribeiro Filho, Lima Barreto e José Oiticica, no Rio 
de  Janeiro.  De Portugal  chegou Neno Vasco,  um ilustre  advogado,   fez  escola  como 
anarquista   em   São   Paulo   (1901­1911),   entre   outros   responsáveis   pela   sementeira 
anarquista no território brasileiro.
Em 1890 chegaram da Itália Giovani Rossi e seus companheiros para fundar a 
Colônia Cecília no Paraná.
A São Paulo, Guararema, chegou o italiano Artur Campagnoli e aos poucos Gigi 
Damiani,   Alexandre   Cherchiai,   Oresti   Ristori,   Frederico   Kniestedt,   valorosos 
militantes italianos e de outros países que, depois de dar um salto no escuro para se 
ajustar ao clima tropical, às formas de trabalho, aos costumes, à alimentação, ainda 
tiveram que aprender  o   idioma português.  A única  coisa  que pouco  diferenciava o 
Brasil da Europa era a questão social, a exploração do homem pelo homem.
Lícito é destacar que o motor de propulsão do movimento anarquista no Brasil 
veio da Itália, foram os imigrantes deste país que sacudiram e agitaram com maior 
intensidade   a   questão   social,   as   reivindicações   e   começaram   uma   propaganda 
sistemática   do   anarquismo   e   do   anarco­sindicalismo.   Em   idioma   italiano   ou   em 
português, publicaram dezenas de jornais, fizeram centenas de palestras, realizaram 
espetáculos   teatrais   com   peças   revolucionárias   e   por   isso   muitos   foram   presos, 
expulsos e outros tiveram de mudar de atividades para se esconder, embora uns poucos 
também tenham melhorado de vida e abandonado as idéias.
Dessa   sementeira   que   envolveu   em   primeiro   plano   os   italianos,   seguidos   e 
apoiados por portugueses, brasileiros, espanhóis e outros, circularam pelo Brasil mais 
de   uma   centena   de   jornais   e   revistas   (entenda­se   títulos)   anarquistas   e   anarco­
sindicalistas,   sendo   quatro   diários;   fundaram   e   dirigiram   escolas   de   ensino 
racionalista,   formaram grupos de teatro e representaram mais de uma centena de 
peças libertárias e anticlericais, fizeram comícios públicos contra a guerra, o serviço 
militar obrigatório, reduziram a jornada de trabalho (quando chegaram oscilava entre 
16 e 10 horas diárias),  bateram­se pela higiene e segurança no trabalho,  por uma 
infinidade de melhorias  tornando o  trabalho menos penoso  para o proletariado do 
Brasil.   Mais   de   um   milhar   foram   expulsos   com   a   roupa   do   corpo   acusados   de 
agitadores estrangeiros, umas dezenas morreram lutando com a polícia. O primeiro 
anarquista assassinado  foi  o   italiano Polenice Mattei,  em São Paulo,  no  dia 20 de 
setembro de 1898.
Para   se   entender   a   trajetória   do   anarquismo   no   Brasil,   confundido   com   o 
movimento sindicalista revolucionário ou anarco­sindicalista, é preciso definir ainda 
resumidamente o que os distingue e por que se confundem.
Movimento   Anarquista:   ação   de   grupos   anarquistas,   em   conjunto   ou 
separadamente, composto por células orgânicas, comunas, grupos, centros de estudos, 
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uniões e federações.
O movimento anarquista não é exclusivamente uma organização de operários 
para  operários,  é  ação  de   indivíduos  que  se  opõem e  dão  combate  ao  capitalismo, 
almejando   a   derrocada   do   Estado   e   a   reconstrução   de   uma   Nova   Ordem   Social, 
descentralizada horizontalmente, autogestionária. Não é a revolta dos estômagos, é a 
revolução das consciências! O Movimento Anarquista não se firma na luta de classes 
ou pretende instalar os governados no lugar dos governantes, seus fins são de acabar 
com as classes, tornar o homem irmão do homem, independente de cor, idade ou sexo. 
Não   visualiza   a   igualdade   metafísica   ou   de   tamanho,força,  necessidades,   quer   a 
igualdade de possibilidades, de direito e deveres para todos.
Anarco­Sindicalismo:   corrente   sindicalista,  assim  chamada  a  partir  da   cisão 
provocada no 5º  Congresso da AIT (Primeira Internacional dos Trabalhadores),  em 
Haia, no ano de 1872, adotada pela maioria dos operários do Brasil até a implantação 
dos sindicatos fascistas pelo Estado Novo de Vargas, em 1930.
O anarco­sindicalismo é ao mesmo tempo uma doutrina e um método de luta.
Como   doutrina,   parte   do   trabalhador,   célula   componente   da   sociedade   que 
pretende  aperfeiçoar  e  desenvolver.  Como método  de   luta,  pretende  a  anulação  do 
sistema capitalista pela ação direta, pela greve geral revolucionária e a substituição 
por   uma   sociedade   gerida   por   trabalhadores   em   autogestão.   Sua   força   reside   no 
conjunto   de   organizações   operárias   (sindicatos,   uniões   e   federações)   voluntárias, 
livremente associadas.
A diferença entre sindicalismo e anarquismo consiste nos métodos e alcance. O 
movimento   anarquista   é   de   indivíduos,   pretende   torná­los   unidades   ativas, 
independentes,   capazes   de   produzir   e   gerenciar   em   autogestão,   sem   as   muletas 
políticas, religiosas, sem chefes: vai até onde a liberdade e a inteligência o possa levar. 
O sindicalismo é um movimento de operários (inclusive de ofícios vários), voltado mais 
para a gerência da produção e do consumo. Seu espaço é limitado, materialista, sem a 
dimensão e o alcance de filosofia de vida do anarquismo.
Bolchevismo: Variedade de socialismo. Doutrina política dos democratas russos 
que desejavam a aplicação integral do programa máximo de Lenin e Plekhanov. É 
empregado também como sinônimo do comunismo e do marxismo. Nasceu em agosto 
de  1903,  durante  o  2º  Congresso  do  Partido  Social  Democrata  Russo,   iniciado  em 
Bruxelas e terminado em Londres. Chegou ao Brasil depois da Revolução Russa de 
1917,  ganhando  corpo com a  formação  do  PCB em 1922.  Disputou com os  anarco­
sindicalistas a supremacia dos sindicatos,  transformando­se desde então num sério 
opositor aos movimentos anarquista e sindicalista.
Revendo a caminhada histórica do movimento libertário brasileiro, descobre­se 
que andaram pelo Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Pernambuco, Rio de 
Janeiro e São Paulo socialistas da escola de Fourier, Garibaldines, Maria Baderna da 
escola de Mazini; anarquistas adeptos de Proudhon e Bakunin e revolucionários da 
Comuna de Paris chegados clandestinamente ao Brasil em busca de asilo político.
Para  o  autor  a  história  do  anarquismo em terras  brasileiras  começou a  ser 
escrita efetivamente em 1888 com a chegada de Artur Campagnoli.  Foi  este bravo 
militante   italiano,  artista   joalheiro,   falecido  em 1944  em São  Paulo,  quem teve  o 
mérito de fincar o mais visível e incontestável marco anarquista no Brasil. Chegou a 
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São Paulo em 1888, comprou uma área de terra considerada improdutiva e fundou a 
Colônia   Anarquista   de   Guararema,   com   ajuda   de   libertários   russos,   franceses, 
espanhóis,   italianos   (a   maioria)   e   nas   décadas   de   20   e   30   teve   a   colaboração   de 
brasileiros. Dois anos mais tarde veio o engenheiro agrônomo Giovani Rossi e cerca de 
200 imigrantes da Itália, em duas levas, para fundar a Colônia Cecília no Paraná. Esta 
experiência ácrata resistiu de 1890 a 1894 às investidas do governo da República, que 
acabava de  implantar­se no  Brasil.  Asfixiada por cobranças de  impostos   indevidos, 
pelas invasões militares, os mais resistentes esperaram a expulsão, radicando­se nas 
imediações para olhar de longe a palmeira onde por quatro anos tremulou a bandeira 
preta e vermelha do Anarquismo.
São desta mesma época os periódicos ácratas: Ghi Schiavi Bianchi, São Paulo, 
1892, em idioma italiano e tendo como diretor Gallileu Botti; L'Avenire, São Paulo, 
1893, em italiano e português; Il Risveglio, São Paulo, 1893, em italiano.
O Libertário,  em português,   saiu  em 1898,  em São  Paulo,   sob  a  direção  de 
Benjamim   Mota;   O   Despertar,   Rio   de   Janeiro,   em   1898,   sob   a   direção   de   José 
Sarmento   Marques,   e   em   janeiro   do   mesmo   ano   de   1898   realizou­se   o   Primeiro 
Congresso   Operário   no   Rio   Grande   do   Sul   com   a   participação   de   dois   centros 
anarquistas. Em 20 de setembro foi assassinado Polenice Mattei, o primeiro mártir do 
anarquismo, em São Paulo, Brasil.
Em   mais   de   cem   anos,   o   movimento   anarquista   do   Brasil   sofreu   inúmeros 
revezes.   Chegou   a   contar   com   o  apoio   de  quatro   diários,   dezenas   de   semanários, 
mensários, bimensários e periódicos. Atravessou fases dificílimas sem nenhum porta­
voz nem poder reunir seus militantes.
Nesse mesmo período foram publicados alguns livros e folhetos, a maioria por 
iniciativa de grupos libertários que se cotizavam para angariar recursos com os quais 
custeavam edições. As obras clássicas foram lançadas por editoras comerciais. Somado 
o  esforço  dos   libertários  às   iniciativas  dos   livreiros,  o  número  de   títulos  de   livros 
publicados em terras brasileiras pouco excede as duas dezenas até 1960.
Em 1964 chegou a ditadura militar e com ela um frutífero período de grande 
efervescência editorial  de obras libertárias.  Paralelamente à  repressão, escritores e 
editoras afrontaram a ditadura na década de maior repressão (1970­1980), prosseguiu 
durante   a   varrida   do   entulho   autoritário,   entrando   na   "nova­velha   república" 
pesquisando e publicando livros ácratas.
O   anarco­sindicalismo   e   o   anarquismo   caminharam   no   Brasil   muito 
entrelaçados enquanto movimento. Sua distinção era notada na imprensa.
Mais preocupados com a ideologia, os anarquistas desenvolviam um trabalho 
educativo. Viam no elemento humano a "peça" mais importante a preparar, tanto no 
terreno profissional quanto no cultural, a fim de que cada militante fosse capaz de se 
autogerir sem muletas religiosas, patronais ou policiais. Colocava sempre os cérebros 
acima dos estômagos.
Com   estes   objetivos   os   anarquistas   fundaram   escolas   livres,   universidades 
populares,   grupos   de   teatro   social,   desenvolveram   intensa   propaganda   educativa, 
sociológica, de cultura geral, libertária.
Nas   duas   primeiras   décadas   do   século   20   promoveram   manifestações 
estrondosas na defesa do fundador da Escola Moderna, Francisco Ferrer y Guardia, e 
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de companheiros  presos,   torturados e expulsos do Brasil.  Apoiaram e ajudaram os 
trabalhadores russos quando da revolta de 1905, os mexicanos em 1910, os russos em 
1917, reverenciavam os Mártires de Chicago, no dia 1º de maio, e não esqueciam as 
vítimas do capitalismo selvagem no Brasil e no mundo.
Durante a guerra de 1914­1918, os libertários brasileiros atuavam em diversas 
frentes,   em nível   de  Brasil:   contra   o  desemprego,   o   aumento  do   custo  de   vida,  a 
escassez   de   alimentos   de   primeira   necessidade,   combatiam   a   burguesia 
açambarcadora, o clero corruptor das mentes, o Estado "pai de todos", que garantia 
inclusive a carnificina humana nos campos de batalha.
Para minimizar a fome, o governo, pressionado pelo proletariado libertário que 
fazia comícios nas portas das fábricas, autorizou a venda de gêneros diretamente do 
produtor ao consumidor (processo hoje conhecido como feiras livres, um pouco mudado) 
sem taxação de impostos.
Em nível internacional realizaram o Congresso Pró Paz, no Rio de Janeiro, e 
enviaram três delegados ao Congresso realizado no Ateneu Sindicalista do Ferrol, em 
1915, dissolvido aos tiros pelo governo espanhol.
O  que  aconteceu  com os   representantes  do  movimento  anarquista  brasileiro 
aparece no seguinte texto:
"Realizou­se   na   quarta­feira   à   tarde,   no   largo   de   S.   Francisco,   um   comício 
convocado   pela   Comissão   Popularde   Agitação   Contra   a   Guerra   formado   de 
representantes de várias agremiações operárias daquela cidade.
Abriu o meeting às 5 horas e pouco João Gonçalves da Silva, que explicou os fins 
do  mesmo,  que  era  protestar  principalmente   contra  a  proibição   feita  pelo  governo 
espanhol à reunião do Congresso Internacional Pró Paz de Ferrol.
Seguiram­se com a palavra José  Elias da Silva e Dr.  Orlando Corrêa Lopes, 
atacando os governos da Europa e mostrando que o proletariado é o único a sofrer com 
a conflagração, devendo ele, portanto, rebelar­se contra e esforçar­se por lhe pôr um 
paradeiro.
Falou   depois   a   operária   Juana   Buela,   companheira   de   João   Castanheira,   o 
operário vítima da sanha da polícia de Espanha. Profundamente emocionada Juana 
Buela,   que   leu   o   seu   discurso,   proclamou   bem   alto   e   bem   firme   os   seus   ideais 
revolucionários, que não esmoreceram com a morte daquele que foi o seu companheiro 
de vida, antes mais se arraigam e mais se acentuam."
Por   fim,  Leal  Júnior,  usou da  palavra  encerrando  o   comício   com a  seguinte 
moção de protesto:
Considerando que o direito de reunião e livre manifestação 
do pensamento é um direito primordial conquistado, adquirido e  
reconhecido em todo o mundo civilizado e;
Considerando   que   o   Congresso   Internacional   Pró   Paz 
convocado pelos elementos proletários e revolucionários de Ferrol,  
Espanha,   e   tendo   por   fim   combinar   uma   ação   conjunta   dos  
proletários da Europa e da América no sentido de uma afirmação 
positiva   e   concreta   contrária   à   guerra   e   favorável   ao  
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estabelecimento de uma paz real baseada na solidariedade efetiva  
desse proletariado, colimava um escopo altamente humanitário e  
de verdadeira defesa da civilização;
A   massa   popular   reunida   em   comício   organizado   pela  
Comissão  Popular  de  Agitação  Contra a  Guerra e  realizado no 
Largo de S. Francisco de Paula, às 5 horas da tarde de hoje, deixa 
firmadas   nesta   moção   as   expressões  de   seu   indignado   protesto  
contra   o  ato  do   governo   espanhol,   proibindo   aquele  Congresso,  
perseguindo e deportando os delegados ao mesmo idos de outros  
países e assassinando, pelo instrumento da sua política, um dos  
delegados   enviados   por   associações   proletárias   e   libertárias   do  
Brasil, o operário João Castanheira, como consta dos telegramas 
publicados pela imprensa desta cidade.
Rio de Janeiro, 12 de maio de 1915
O   comício   do   Rio   de   Janeiro   terminou   com   grande   passeata   na   frente   da 
Federação  Operária,  no  antigo  Largo  do  Capim.  Sucederam­lhe  manifestações  dos 
libertários do Paraná, Rio Grande do Sul e de diversas cidades do Estado de São Paulo. 
Os jornais operários e anarquistas também atacaram de rijo os beligerantes, inclusive 
distribuindo postais com alegorias de repulsa à guerra, produzindo grande impacto ao 
longo dos quatro anos em todo o Brasil.
São Paulo foi palco de greves insurrecionais em 1906 e 1907 pela conquista da 
jornada de oito horas diárias; em Santos as greves para conseguir as oito horas só 
terminaram em 1921.
O   proletariado   de   tendência   libertária   procurava   abrir   caminho   na   selva 
capitalista deflagrando greves que vieram a desembocar na insurrecional de 1917, nos 
estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, por solidariedade.
Em 1918, movimento insurrecional explodiu no Rio de Janeiro com um saldo de 
três operários assassinados pela polícia carioca e cerca de meia centena de presos e 
deportados. Em 1919, Epitácio Pessoa aproveitou para expulsar do país três dezenas 
de anarquistas. Contrariando as expectativas do governo, que acreditava que com as 
expulsões e deportações reduzia a pujança do movimento libertário, ainda em 1919, 
formou­se   o   Partido   Comunista   do   Brasil,   de   que   logo   se   arrependeriam   seus 
organizadores ao saber que o governo soviético prendia, torturava, matava e expulsava 
anarquistas que haviam ajudado a derrubar a dinastia dos Romanov.
A burguesia vivia apavorada, exigia respostas imediatas aos "desordeiros..."
Uma   onda   nacionalista   começava   a   formar­se   no   Brasil   em   oposição   às 
"esquerdas". Em 1920 são expulsos do Rio de Janeiro mais de dois mil portugueses, 
pescadores de Matosinhos e da Póvoa de Varzim, vítimas desse patriotismo brasileiro. 
Muitos haviam chegado ao Brasil adolescentes, casados e já tinham filhos nascidos no 
Rio   de   Janeiro.   O   único   pecado   desses   trabalhadores   do   mar   era   não   quererem 
naturalizar­se brasileiros.
Uma  lei  vesga proibia­os  de  exercer  suas  profissões,  acabando por  servir  ao 
integralista capitão Frederico Vilar, para mandar de volta gente honrada, com o aval 
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do presidente Epitácio Pessoa.
Neste  mesmo ano  foram expulsos  também anarquistas e  anarco­sindicalistas 
italianos, portugueses, espanhóis,  precipitando protestos de operários e intelectuais 
em todo o país e na Europa.
No sul, alemães e russos anarquistas marcavam suas presenças em oposição aos 
seus patrícios que pretendiam ficar ricos e aos brasileiros xenófobos exploradores.
Greve na indústria têxtil  de Santa Catarina é  o pretexto para expulsar dois 
anarquistas nascidos na Alemanha.
Em Porto Alegre o anarquista alemão Frederico Kniestedt abre espaço com os 
jornais Der Freie Arbeiter, Aktion, Alarm e o Sindicalista, os três primeiros publicados 
em seu idioma e o último em português.
Ainda   no   Sul,   mais   exatamente   em   Erebango,   (Getúlio   Vargas),   fixaram 
residência e formaram uma comunidade várias famílias de russos da Ucrânia. Sua 
atuação anarquista é­nos contada por um dos seus componentes, Elias Iltchenco que 
visitamos já muito doente.
No   ano   de   1920   os   emigrantes   de   Getúlio   Vargas   ­   ex­
Erechim   ­   já   tinham   condições   emocionais   e   de   locomoção   e  
começaram a formar grupos coesos, a reunir­se uma vez por mês.  
Nosso grupo tinha mais de 40 membros espalhados numa área de  
40 a 50 km, englobando grupos de Floresta, Erechim, Erebango e  
outros lugares.
São dessa época:
União dos Trabalhadores Rurais Russos, de Getúlio Vargas 
(antigo Erechim).  Seu presidente chamava­se Sérgio Iltchenco, o  
secretário Paulo Uchacoff e o tesoureiro Simão Poluboiarinoff;
União   dos   Trabalhadores   Russos,   de   Porto   Alegre.   Esta  
tinha como presidente Niquista Jacobchenco;
União   dos   Trabalhadores   Rurais   Russos   de   Guaraní,  
Campinas   e   Santo   Ângelo.   Componentes:   João   Tatarchenco,  
Gregório Tatarchenco e outros.
União dos Trabalhadores Russos de Porto Lucena.
Um dos mais ativos militantes russos no Rio Grande do Sul,  
distribuidor   do   jornal   Golos   Truda,   publicado   na   América   do  
Norte de 1911 a 1963, e de toda a propaganda escrita que chegava  
da Argentina,  chamava­se Demétrio  Cirotenco.  Durante mais de  
duas dezenas de anos foi o mais importante elemento de ligação, o  
aglutinador das Uniões de Trabalhadores em Erechim e Erebango 
principalmente. Depois sofreu um acidente e morreu, deixando um 
vazio   entre   os   camponeses   russos,   que   só   em  1925  perderam  a 
esperança de ver implantada em seu país uma sociedade de fundo  
e forma libertária.
O   mais   eminente   elemento   anarquista   russo   no   Brasil,   escritor,   jornalista, 
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teatrólogo, professor e conferencista carregava uma barba semelhante a de Kropotkine 
e chamava­se Ossef Stepanovetchi. Era natural da Ucrânia e marcou a sua presença 
no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba­Paraná, onde faleceu.
Os jornais mais lidos entre os emigrantes chegavam da Argentina, Canadá e dos 
Estados Unidos (Golos Truda) de 1918­1930; Golos Trujnica, de Detroit, de Nevada, 
Chicago e Nova Iorque, Dielo Trouda Probuzdenia.
Na segunda e na terceira décadas do século 20 o movimento anarco­sindicalista 
e  anarquista  chegou ao  seu pontomais  alto.  Além, dos   jornais   libertários,  alguns 
militantes dispunham de espaços diários na imprensa comercial. Um deles nascido em 
Portugal, José Marques da Costa, tinha uma coluna diária no jornal A Pátria, do Rio 
de Janeiro, e publicou a seguinte nota:
Camilo   Berneri   na   reunião   do   grupo   Os   Emancipados.  
Sexta­feira próxima, na sua sede à rua Buenos Aires, 265, às 20  
horas em ponto, os anarquistas, simpatizantes e trabalhadores em 
geral terão oportunidade de ouvir uma brilhante Conferência de  
Camilo   Berneri,   sobre   Giordano   Bruno   na   Philosofia   e   na  
Renascença­Vida e Pensamento do grande filósofo da liberdade.
Entrada franca, tribuna livre
Os Emancipados
Da Rússia e da Itália chegavam também ao Brasil e fizeram grandes estragos no 
movimento libertário duas correntes políticas na época batizadas de Bolchevista e de 
Integralista.
A primeira  orientada  pela  Terceira   Internacional   e  a   Internacional  Sindical 
Vermelha, com sede em Moscou, agia em nome da Ditadura do Proletariado, no seio do 
Partido Comunista Brasileiro, criado em março de 1922 por 11 egressos do movimento 
ácrata e um socialista. Começaram disputando a direção dos sindicatos e acabaram 
por  ajudar  os   governos  de  Artur  Bernardes,  Washington  Luiz   e  Getúlio  Vargas  a 
reduzir   sensivelmente   o   movimento   libertário   e   os   sindicatos   livres.   Em   1927 
assassinaram os anarquistas Antonino Dominguez e Damião da Silva e feriram mais 
de 10 militantes no Sindicato dos Gráficos,  à   rua Frei  Caneca,  4,  sobrado,  Rio de 
Janeiro.   Assaltaram   e   roubaram   o   acervo   do   Sindicato   dos   Trabalhadores   em 
Calçados, à rua José Maurício, 41. Ajudaram assim a encher o Campo de Concentração 
do  Oiapoque e  a   implantar  a ditadura nazi­fascista  no  Brasil  com seus  sindicatos 
verticais, controlados pelo Ministério do Trabalho.
A segunda corrente política veio dos porões do Vaticano com o nome de fascismo. 
No Brasil, por muitos anos, apelidado de Integralismo. O projeto foi elaborado por D. 
Annunzio,   Bertolotti,   Papini   e   outros   e   tinha   como   "filosofia":   "Poder   tudo, 
absolutamente tudo! O único amor é o poder; o único fim é o poder; extremo sonho o 
poder!"
No Brasil, o chefe, Plínio Salgado, e seu alto comando reuniam a fina­flor dos 
desordeiros dispostos a tudo fazer para derrubar o governo e chegar ao poder: era o 
candidato a ditador Plínio lutando contra o ditador Getúlio.
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Para Plínio, os decretos nº 19.433 de 26 de novembro de 1930; 19.770 de 19 de 
março de 1931 e 22.969 de 11 de abril de 1933 obrigando os trabalhadores a aderirem 
às   fileiras   "sindicais   do   Ministério   do   Trabalho,   tornando­os   eleitores   com 
representantes profissionais na Assembléia Nacional Constituinte, num total de 40 
membros,   sendo   18   representantes   dos   empregados,   17   dos   empregadores,   dois 
funcionários   públicos   e   três   profissionais   liberais".   Queriam   copiar   Mussolini 
totalmente.
Vargas   contava,   para   convencer   os   recalcitrantes,   com   a   polícia   política   de 
Batista Luzardo, Felinto Müller, Emílio Romano, Serafim Braga e outros profissionais 
do argumento do cassetete.
No Rio de Janeiro, o jornal O Primeiro de Maio, de 1933, denunciava: "Em um só 
xadrez da polícia acham­se presos 50 proletários,  sem nota de culpa.  Muitos deles 
sofreram   castigos   corporais   por   terem   protestado   com   a   greve   de   fome   contra   a 
alimentação que nem para os cães prestava."
Em Porto Alegre, sob a orientação do anarquista Frederico Kniestedt, Aktion, 
de 1º de maio, fala das pretensões nazistas sobre o Brasil em idioma alemão. E no dia 
19 de maio de 1933 um grupo armado invade a Federação Operária de São Paulo, 
arromba as  portas  das   secretarias  do  Sindicato  dos  M.  de  Pão,  Liga  Operária  da 
Construção  Civil,   Trabalhadores   em Moinhos   e  Armazéns,   União   dos  Canteiros   e 
União dos Empregados em Cafés, destrói seus acervos e leva os detidos para a Central 
de   Polícia,   onde   permanecem   24   horas.   Quando   chegaram   o   chefe   de   polícia   e   o 
delegado da "ordem política e social" determinaram que fossem em liberdade, que a 
ordem de prisão não partiu daquele departamento policial.
Em   1933,   os   jornais   A   Lanterna,   A   Plebe   e   O   Trabalhador,   a   Federação 
Operária, o Centro de Cultura Social e as Ligas Anticlericais viviam de prontidão para 
não serem surpreendidos pelas marchas integralistas.
Em   alguns   bairros   de   São   Paulo,   os   mensageiros   do   "Duce"   trabalhavam 
desesperadamente no recrutamento dos "squadristi", que deviam envergar a camisa 
verde oliva e iniciar a matança, o incêndio e a destruição, fazendo reviver, em pleno 
século 20, a invasão dos bárbaros inimigos da ciência e da civilização. O alerta vinha 
do Comitê Antifascista Libertário e tinha a data de agosto de 1933.
Os comandantes do Integralismo Brasileiro formavam pela seguinte ordem nos 
anos  de  1933­1934:   "Plínio  Salgado   (comandante  nacional);  Gustavo  Barroso   (vice­
comandante   e   presidente   da   Academia   Brasileira   de   Letras);   Ribeiro   Couto;   130 
jornalistas   do   Distrito   Federal   que   "assinaram   o   manifesto   fascista   dirigido   aos 
intelectuais do Brasil". Ei­los: D. João Becker; Oswaldo Aranha (um dos comandantes 
da   revolução   getulista   de   1930);   Oliveira   Viana   (escritor);   Madureira   de   Freitas, 
Osvaldo  Chateaubriand  (diretor  do  Diário  da  Noite);  Tristão  de  Atayde  (escritor  e 
jornalista); Cláudio Ganns; Lourival Fontes; Hélio Viana; Américo Lacombe; Câmara 
Cascudo (escritor); os sacerdotes inscritos na Ação Integralista Don Nicolau de Flue 
Gut, os cônegos Matias Freire, Valfredo Gurgel, Helder Câmara, etc.; os professores da 
Faculdade de Direito Miguel Reale, Alpinolo Lopes Casali, Damião Neto, Domingos 
Cantola,   Ângelo   Simões   de   Arruda,   Loureiro   Júnior,   Rolando   Corbusier,   Manuel 
Ferraz de Campos Salles Neto, Walter Moreira Sales, Homero de Sousa e Silva, Paulo 
Azevedo Barroso, Manuel Tavares da Silva, Guilherme Luis Riberio, Osvaldo de Sousa 
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Shreiner,  Antonio  Arruda,  Sebastião  Martins  de  Macedo,  Ziegler  de  Paula  Bueno, 
Alcebíades Blanco,  Ruiz  de Arruda Camargo,  Alfredo Buzaid,  Ernani  Silva  Bruno, 
Epaminondas Albuquerque, Vicente Laporta, Sinval Gonçalves de Oliveira, Antonio 
Dourado,  Alberto  Zirondi  Neto,  Nicolino  Amato,  José  de  Barros  Bernardes,  Carlos 
Schmidt de Barros Júnior, Milton de Sousa Meireles, Agostinho Lúcio Correa, Arual 
Antonio  dos  Santos,  Waldemiro  Dalboni,  Augusto  de  Oliveira  Filho,   Ítalo  Záccaro, 
Vitório Nascimento, Cândido de Oliveira Barbosa, Francisco Luis de Almeida Sales, 
Francisco   Gottardi,   João   José   Pimenta   de   Castro,   João   Edson   de   Melo,   José   de 
Camargo   Rocha,   Rio   Branco   Paranhos,   Júnio   de   Carvalho,   José   Cândido   Silveira 
Lienert, Antenor Santini, Alceu Cordeiro Fernandes, Antonio Barbosa de Lima, José 
Vila do Conde e Ranulfo Oliveira Lima.
Com   objetivos   bem   definidos   e   sem   tutores   políticos,   formava­se   no   Rio   de 
Janeiro   a   Aliança   Estudantil   Pró­Liberdade   de   Pensamento,   cujo   manifesto   de 
fundação, A Lanterna, semanário anticlerical e libertário, São Paulo, 9 de novembro 
de 1933, resume:
Companheiros.   O   clero   romano   que   sempre   tem   vivido 
aliado  aos  governantes,   embora o  artigo  72  da  Constituição  de 
1891 e seus parágrafos estabeleçam em nosso território a liberdade 
de   pensamento,   neste   instante   prepara   novos   golpes   contra   o  
direito de pensar, agir e de orar.
O A Plebe, quase ao findar do ano de 1933, alertava os antifascistas:
O   Integralismo   pretende,   como   o   fascismo,   escravizar   e 
acorrentar   o   povo.   Para   não   termos   que   chorar   depois   como 
energúmenos, defendamos agora a nossaliberdade como homens.
Já soou o clarim da redenção humana! Unamo­nos contra  
todas   as   guerras,   contra   todas   as   tiranias,   contra   todos   os  
paliativos que nos apresentam. A nossa felicidade, a fraternidade,  
a  liberdade,  residem em nós  mesmos,  na força coesa que há­de  
triunfar.
Em homenagem aos arruaceiros  integralistas, o escritor Menotti  del  Picchia, 
candidato a "Duce", lança as bases do Fáscio Paulista com os Camisas Brancas.
Em Niterói   (A Plebe, de 2 de dezembro de 1933),  o presidente da Academia 
Brasileira  de   Letras,  Gustavo   Barroso,   chefe   integralista,   atacou   às   bengaladas   e 
quebrou um braço  à   jovem operária  Nair  Coelho,  16 anos,  quando esta  discursava 
contra os desordeiros fascistas, em cima de um banco de jardim e em Belo Horizonte; 
quem precisou fugir do Teatro Municipal foi o professor de línguas Casale. O povo, que 
assistia   ao   discurso   do   arruaceiro   integralista,   resolveu   interrompê­lo,   expulsar   o 
vendilhão do palco.
Em São Paulo, depois da derrota que tiveram no Salão Celso Garcia, o "bando de 
Plínio   Salgado   marcou   para   o   dia   24   de   dezembro   uma   demonstração   de   força 
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destinada a depredar os sindicatos e assassinar os sindicalistas mais ativos" (Nossa 
Voz, de 1º de dezembro de 1933): "Marchariam no centro de São Paulo 18 Centúrias 
(companhias)   dispostas   a   exterminar   canibalescamente   os   anarquistas   e   outros 
esquerdistas que se opusessem à sua passagem."
O   trabalhador   anarco­sindicalista   resistia   às   exigências   do   Ministério   do 
Trabalho.   Contra   ele   tinha   os   bolchevistas   aderentes   desde   a   primeira   hora,   os 
patrões,   a   polícia,   os   integralistas   invasores   de   sindicatos   operários,   que   segundo 
substancioso  manifesto  do  Sindicato  dos  O.   em Fábricas  de  Vidros  de  São  Paulo, 
fevereiro de 1934, "naquele momento pleiteavam na Assembléia Constituinte a pena de 
morte para o Brasil!"
Em   março   de   1934   a   Federação   Operária   de   São   Paulo,   com   sede   na   rua 
Quintino Bocaiúva, 80, lançava três manifestos de grande significado. Um contra a Lei 
Monstro,   outro  contra  a  guerra  e  o   terceiro  em  formato  de  encarte,   enfocando  as 
"organizações operárias, a legislação trabalhista, a lei de sindicalização, a caderneta 
profissional, a nova lei de férias, a nova Constituição e comunica as conferências de 
Edgard Leuenroth, Germinal Soler e Hermínio Marcos".
Do Rio de Janeiro, sob o comando do acadêmico Gustavo Barroso, chegavam à 
Praça da Sé   "500 guardas verdes de segurança",  tropas de choque,   treinados para 
imobilizar opositores. A polícia também montou metralhadoras em pontos estratégicos 
para coibir possíveis ataques aos integralistas, ainda "bem­vistos" pelo governo. Além 
do grande contigente policial, o coronel Arlindo de Oliveira tinha 400 homens do 1º, 2º 
e 6º Batalhões de Infantaria, do Corpo de Bombeiros e Regimento de Cavalaria no 
local.
A parade de integralistas contava com a presença de 10 mil soldados do Sigma 
dentro de suas camisas verdes novinhas em folha empunhando grandes estandartes 
com o símbolo do integralismo.
Nas imediações da Sé haviam começado a formar­se grandes agrupamentos de 
curiosos  de  todas  as   ideologias.  E mal  a  coluna alcançou a  escadaria  da Catedral 
ouviram­se gritos de "morte ao fascismo", "Abaixo os Camisas Verdes" e em seguida 
tiros. Diz­se que foi uma metralhadora da Guarda Civil  Montada, em frente à  rua 
Senador, que ao ser movimentada disparou acidentalmente. Outros garantiam que os 
tiros foram disparados por comunistas que estariam no meio da multidão aguardando 
o desfile. O certo é que começou o tiroteio antes da hora marcada pelos libertários para 
atacar   os   integralistas,   desencadeando­se   uma   correria   infernal.   Gente   fugindo   e 
gritando, outros caindo feridos mortalmente e a parada e o juramento de fidelidade ao 
comandante integralista, Dr. Plínio Salgado, Fuhrer brasileiro, não aconteceu.
Correndo   nas   "estradas"   abertas   pelos   integralistas   com   a   colaboração   dos 
"comunistas"   do   PCB   e   dos   dirigentes   do   Partido   Católico   Brasileiro   do   Cardeal 
Sebastião   Leme,   assessorados   por   "50   juristas",   Getúlio   Vargas   não   teve   maiores 
dificuldades em implantar o Estado Novo, que durou até 1945.
Em síntese, os anarco­sindicalistas e anarquistas do Brasil realizaram:
Primeiro Congresso Operário Brasileiro ­ Centro Galego, rua da Constituição, 
30­32, Rio de Janeiro, de 15 a 20 de abril de 1906. Ao todo 12 sessões. Discutiram 23 
temas   previamente   acertados   e   um   acessório.   Compareceram   delegados   de   23 
entidades de cinco estados do Brasil. Esteve presente o engenheiro italiano fundador 
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da Colônia Cecília, Giovani Rossi.
Segundo Congresso Operário Brasileiro ­ Centro Cosmopolita, rua do Senado, 
215,   Rio   de   Janeiro,   de   8   a   13   de   setembro   de   1913.   Ao   todo   os   trabalhadores 
anarquistas e anarco­sindicalistas realizaram 12 sessões, debateram 24 temas com a 
presença   de   117   delegados   de   8   estados,   sendo   dois   federações   estaduais,   cinco 
federações locais, 52 sindicatos e quatro jornais libertários.
Terceiro Congresso Operário Brasileiro ­ Sede da União dos Trabalhadores em 
Fábricas de Tecidos, rua do Acre, 19, Rio de Janeiro, de 23 a 30 de abril de 1920. 
Efetuaram 23 sessões com a presença de 39 organismos de 11 estados do Brasil.
Primeiro Congresso Estadual de São Paulo ­ Teve lugar no Salão Excelsior, rua 
Florêncio de Abreu, 29. Ao todo foram discutidos três temas principais, de 6 a 8 de 
dezembro de 1906. Objetivo: Pôr em prática as resoluções do 1º Congresso Nacional do 
Rio de Janeiro.
Primeira   Conferência   Estadual   de   São   Paulo   ­   Realizada   em   1907   com   o 
propósito  de   elaborar   e  aprovar   os   temas  para   o   2º  Congresso  Estadual.  Ao   todo 
discutiram 22 temas.
Segundo Congresso Estadual de São Paulo ­ Realizado nos dias 7 e 8 de abril de 
1908.   Dele   participaram   22   organizações   operárias   comprometidas   com   o   anarco­
sindicalismo.
Primeiro Congresso Estadual do Rio Grande do Sul ­ Teve lugar nos dias 1º e 2 
de janeiro de 1898 com a presença de delegados de 10 associações, um jornal e um 
grupo  anarquista.  Foi   o  primeiro  encontro  de   trabalhadores  com  idéias   sociais  no 
Brasil.
Segundo   Congresso   Operário   Estadual   do   Rio   Grande   do   Sul   ­   Na   rua 
Comendador   Azevedo,   30,   dias   21   a   25   de   março   de   1920.   Estiveram   presentes 
delegados de 30 associações todas comprometidas com o sindicalismo revolucionário.
Terceiro Congresso Operário do Rio Grande do Sul ­ De 27 de setembro a 2 de 
outubro   de   1925.   No   total   foram   12   sessões   com   a   presença   de   delegados   de   23 
entidades operárias e do Comitê  Pró­Presos Sociais e de dois jornais. Foi aprovada 
uma   Declaração   de   Princípios   da   AIT   e   criado   um   Pacto   de   Solidariedade 
Internacional Anarquista.
Quarto Congresso Operário do Rio Grande do Sul ­ clandestino em data que não 
ficou  registrada.  Realizaram três  sessões  durante  dois  dias   com a  presença de  16 
entidades operárias, dois jornais,  sies grupos anarquistas, vários militantes de São 
Paulo refugiados naquele estado do sul do Brasil (Florentino de Carvalho, Domingos 
Passos e outros) e delegados do Uruguai, Paraguai e Argentina.
Primeiro  Congresso da Federação  de Trabalho do Estado de Minas  Gerais   ­ 
Realizou­se em Belo Horizonte em junho de 1912. Ao todo foram debatidos e aprovados 
sete temas.
Congresso  Operário  do  Paraná   ­  Realizou­se  no  ano de  1907.  Contou com a 
presença  da  Federação  Operária,   fundada  por   italianos   remanescentes  da  Colônia 
Cecília, com o Grupo Filo­Dramático, 12 associações operárias e o delegado do jornal O 
Despertar, fundado e dirigidopelo anarquista italiano, expulso do Brasil em 1919, Gigi 
Damiani.
Outros   Congressos   ­   Os   trabalhadores   anarco­sindicalistas   brasileiros 
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participaram ou marcaram presença no Congresso  dos  Operários  Chapeleiros  Sul­
Americano, realizado na Argentina e Uruguai, em julho de 1920. As pesquisas deixam 
perceber  que   os   anarquistas   estiveram  na   linha  de   frente  de   todos   os   congressos 
anarco­sindicalistas e ainda realizaram os seus.
Conferência Libertária de São Paulo ­ Rua José Bonifácio, 39­2º andar. Ao todo 
realizaram sessões nos domingos 14, 21 e 28 de junho, 5, 12 e 26 de julho de 1914. O 
objetivo principal era preparar e indicar dois delegados para representar o Brasil no 
congresso anarquista de Londres que não chegou a acontecer por causa da guerra.
Congresso Anarquista Sul­Americano ­ Realizou­se no Rio de Janeiro de 18 a 20 
de outubro de 1915 na sede da Federação Operária, praça Tiradentes, 71, sobrado. 
Estiveram presentes delegados do Brasil, da Argentina e do Uruguai.
Congresso Internacional da Paz ­ Realizado de 14 a 16 de outubro de 1915. Seu 
ponto de debates foi a sede da Federação Operária, na praça Tiradentes, 71, Rio de 
Janeiro,   com   a   presença   de   delegados   da   Federación   Obrera   Regional   Argentina, 
delegados do Chile e do Uruguai.
Congresso Anarquista do Brasil   ­  Realizado na Nossa Chácara,  no bairro de 
Itaim, São Paulo, de 17 a 19 de dezembro de 1948. Este marca o ressurgimento do 
movimento anarquista no Brasil  após  a derrubada da ditadura de Getúlio  Vargas. 
Contou com a presença de anarquistas de vários pontos do Brasil e diversos militantes 
italianos, espanhóis e portugueses residentes no Brasil ou de passagem.
Encontro Anarquista na Urca ­ De âmbito nacional. Teve lugar nos dias 9 a 11 
de fevereiro de 1953 na rua Osório de Almeida, 67, no Rio de Janeiro, com a presença 
de mais de três dezenas de anarquistas. Foi um encontro muito proveitoso.
Congresso Anarquista do Brasil ­ Realizado de 26 a 29 de março de 1959 em 
Nossa Chácara, no Itaim, São Paulo, com grande presença de militantes de todo o país, 
exilados   espanhóis   e   alguns   italianos.   Foi   aprovada   a   reativação   dos   Centros   de 
Cultura Social e fundada a Editora Mundo Livre, do Rio de Janeiro. Ao todo foram 
debatidos e aprovados 10 temas.
Encontro dos Libertários Espanhóis Exilados ­ Foi na sede do Centro de Cultura 
Social, na rua Rubino de Oliveira, 85, São Paulo, nos dias 7 e 8 de outubro de 1961. 
Estiveram presentes anarquistas brasileiros e exilados da CNT e da FFLL.
Encontro Anarquista ­ São Paulo de 20 a 22 de abril de 1962. Reuniram­se em 
Nossa   Chácara   100   militantes   anarquistas   de   todo   o   Brasil,   incluindo   alguns 
companheiros estrangeiros. Foram realizadas cinco sessões muito proveitosas.
Décimo Encontro Anarquista ­  Realizou­se nos dias 15 a 17 de novembro de 
1963. Reuniram­se para tratar do rumo do movimento anarquista no Brasil mais de 
100 militantes, Os assuntos foram divididos em seis temas principais.
Maio   de   1964   ­   Em   Nosso   Sítio.   Encontro   clandestino   de   avaliação   dos 
anarquistas   do   Rio   de   Janeiro   e   de   São   Paulo   para   acertar   os   rumos   diante   da 
ditadura militar  implantada em 1º  de abril  do mesmo ano.  Saíram desse encontro 
algumas resoluções para resguardar o acervo dos anarquistas.
Encontro em Nosso Sítio ­ Realizado em 1968, em Mogi das Cruzes, São Paulo. 
Clandestino.
Encontro dos Grupos Pró COB ­ Realizado em maio de 1986 na rua Rubino de 
Oliveira, 85.
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O movimento libertário do Brasil participou também do Congresso de Ferrol, 
Espanha em 1915, com três delegados. Em 1928 com um delegado indireto e depois de 
1945   enviou   como   delegado   à   França   Joseph   Tibogue,   e   mensagens   de  apoio   aos 
demais congressos.
A trajetória do anarquismo no Brasil teve a participação de uma confederação, 
várias federações, mais de 100 grupos especificamente libertários, seis editoras, três 
livrarias, mais de uma dezena de escolas racionalistas, duas universidades populares, 
uma intensa propaganda através do teatro ácrata, possui uma propriedade comprada 
pelos anarquistas, desde 1939, com moradias modestas e arquivo em prédio próprio. 
Foi uma sementeira que germinou, e hoje alimenta pesquisas, teses de doutoramento e 
sensibiliza várias editoras comerciais para publicá­las.
No Rio de Janeiro, com o falecimento de José Oiticica em 1957, três militantes 
libertários tiveram a idéia de formar o Centro de Estudos Professor José Oiticica, na 
sala   onde   o   mestre   dava   aulas,   à   Av.   Almirante   Barroso,   6­sala   1.101.   Nos   dias 
seguintes os   três  realizaram uma reunião na Avenida 13 de Maio,  23,  sala 922,  e 
resolveram   procurar   companheiros   afastados   do   movimento   por   razões   diversas   e 
convidá­los para fazer parte do centro e subscrever sua ata de legalização em 22 de 
julho de 1960. (O centro começou suas atividades em 1958)
Em 1969, um "punhado" de militares da aeronáutica rebentaram a porta aos 
coices, carregaram parte do acervo cultural, máquina de escrever, mimiógrafo e outros 
objetos "subversivos", depois foram nas moradias dos diretores do centro, "confiscaram 
livros, etc.", prenderam­nos e formaram um processo contra 16, impernunciando um. 
Torturaram alguns detidos e finalmente levaram­nos a um julgamento que durou até 
1972.
O Centro  de  Estudos  do  Professor  José  Oiticica,  durante   sua  existência   (12 
anos), fundou a Editora Mundo Livre por cotas, editou cinco livros, promoveu curso 
sobre Anarquismo no Teatro Carioca, recebeu anarquistas da América e da Europa, 
conduziu várias  campanhas de protesto  e  apoio,  realizou mais  de  uma centena de 
cursos e conferências, e parte de suas atividades foram anunciadas pela  imprensa. 
Acabou por força da ditadura militar.
Não se pode ignorar também os diários: A Plebe, São Paulo, 1919; A Hora Social, 
Recife, 1919; Voz do Povo, Rio de Janeiro, 1920; Vanguarda, São Paulo, 1921­1923; A 
Lanterna, São Paulo, 1901­1934. Os semanários: O Amigo do Povo, São Paulo, 1903; A 
Terra Livre, São Paulo­Rio de Janeiro, 1907­1910; La Bataglia, São Paulo, 1904­1913; 
Remodelações, Rio de Janeiro, 1945­1947; Ação Direta, Rio de Janeiro, 1946­1959. As 
revistas: Remodelações, Rio de Janeiro, 1921­1922; Renascença, São Paulo, 1923; A 
Vida,  Rio  de  Janeiro,  1914­1915;  Revista Liberal,  Porto  Alegre,  1921­1924;  e  umas 
centenas de periódicos.
Um grupo  de  professores  estudiosos  do  anarquismo promoveu curso  na ABI 
(Associação Brasileira de Imprensa). O Grupo Anarquista José Oiticica, formado por 
novos militantes libertários, realizaram, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da 
Universidade Federal do Rio de Janeiro, nos dias 9, 16, 23 e 30 de julho de 1987, um 
curso de anarquismo envolvendo Problemas Atuais do Socialismo; Anarquismo Hoje e 
Movimentos   Alternativos;   Movimento   Sindical   e   Anarco­Sindicalismo;   e   O   Estado 
Hoje.  Teve o apoio do Centro  de Cultura Social  de São Paulo,  a  Sub­Reitoria 5,  a 
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Comissão  de  Organização  Estudantil,  Comissão  Cultural  do   IFCS,  e  mesmo sendo 
pago, a freqüência foi boa, o salão ficou literalmente cheio.
No Rio  Grande  do  Sul,  grupos  de   libertários  e   simpatizantes   comemoram o 
Centenário dos Mártires de Chicago e meio século da Revolução Espanhola, os 67 anos 
do fuzilamento de Francisco Ferrer e outros eventos.
Na   capital   do   Brasil   os   anarquistas   realizaram   um   Simpósio   Libertário   e 
fundaram a Editora Novos Tempos, que já produziu várias obras de real valor literário 
e cultura anarquista. Em São Paulo as Universidades de Campinas, São Carlos e da 
Capital formaram valiosas bibliotecas de História Social, predominando publicações 
anarquistas   e   anarco­sindicalistas,   e   periodicamente   promovem   cursos   sobre 
anarquismo, sempre com a participação de membros do Centro de Cultura Socialque 
têm uma longa experiência militante e mantêm permanentemente em sua sede, na 
rua Rubino de Oliveira, 85­2º, no Brás, círculos de conferências libertárias. E apoiado 
pelos  núcleos  Pró  COB  (Confederação  Operária  Brasileira)   e  pela  AIT  (Associação 
Internacional dos Trabalhadores), com sede na Espanha, o Centro de Cultura Social de 
São Paulo continua promovendo sessões comemorativas em defesa da natureza, contra 
a Bomba Atômica (no aniversário da explosão de Hiroshima), pela passagem dos 70 
anos da Greve Insurrecional Libertária de 1917, na cidade de São Paulo, e debatendo a 
autogestão na luta social e as estratégias da luta sindical.
Em seus   ciclos  de  palestras,   temas   como   "Feminismo  e  a  Reapropriação  do 
Corpo", "Feminismo, Reinventando o Feminino e o Masculino"; "Feminismo, Questões 
que se Levantam"; "Recuperando a Memória" e "Cavernas do Estado de São Paulo". E 
nos cursos de Extensão Universitária tratam "O que é o Anarquismo"; "As Origens: Da 
Revolução   Francesa   a   Proudhon";   "A   Primeira   Internacional:   Marx,   Bakunin   e   a 
Comuna de Paris";  "Anarco­Sindicalismo, Kropotkine e Malatesta"; "Anarquismo no 
Brasil"; e "Anarquismo Hoje, Liberdade e Autogestão". Estas iniciativas contaram com 
o apoio da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Em sua produtiva trajetória, o 
Centro de Cultura Social de São Paulo realizou recentemente um Ciclo de Educação 
Libertária   enfeixando   os   seguintes   temas:   "O   Movimento   Anarquista   e   o   Ensino 
Racionalista em São Paulo, 1912­1919"; "Escola e Trabalho no Brasil Hoje"; "Educação 
Popular:   da   Educação   Libertária   à   Educação   Libertadora";   "Organização   e   Poder: 
Estado, Escola, Empresa"; "A Educação pelo Trabalho, pela Pedagogia Freinet"; "Lutas 
Autônomas e Autogestão Pedagógica"; e "Uma Terapia Anarquista".
Este movimento ideológico vem sendo divulgado pela revista Autogestão, pelo 
próprio  Boletim do Centro  de  Estudos  Sociais,  prospectos  avulsos,   cartazes  e  pela 
imprensa comercial que noticia alguns cursos.
Hoje,   o   anarquismo   não   assusta   mais   ninguém   no   Brasil.   Palavra   temida, 
ridicularizada,   esta   filosofia   de   vida   resiste   ao   tempo   e   virou   tema   de   teses   de 
doutoramento, peças de teatro, novelas exibidas na televisão e filmes de curta e longa 
metragem.
Os   anarquistas   do   Brasil   –   salvo   os   que   se   dizem   e   não   se   encontraram 
ideologicamente – continuam com Kropotkine:  "Quem acha que uma instituição de 
formação histórica pode servir para devolver privilégios que ela mesmo desenvolveu 
mostra   com   isso   a   incapacidade   de   compreender   o   que   significa   a   vida   de   uma 
sociedade,   uma   formação   histórica.   Deixa   de   aprender   a   lei   básica   de   todo   o 
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desenvolvimento orgânico, isto é, que novas funções requerem novos órgãos e que estes 
se devem criar por si mesmos."
Colaboraram para tornar possível a trajetória anarquista no Brasil: Fábio Luz, 
João Gonçalves da Silva, Avelino Foscolo, Ricardo Gonçalves, Benjamim Mota, José 
Martins Fontes, Ricardo Cipola, Rozendo dos Santos, Reinaldo Frederico Greyer, Pedro 
Augusto   Mota,   Moacir   Caminha,   José   Ramón,   Domingos   Passos,   João   Perdigão 
Gutierrez, Florentino de Carvalho, Domingos Ribeiro Filho, Lima Barreto, Orlando 
Corrêa  Lopes,  Manuel  Marques  Bastos,   José  Puicegur,  Diamantino   Augusto,   José 
Oiticica, José Romero, Edgard Leuenroth, Felipe Gil Sousa Passos, Pedro Catalo, João 
Penteado, Neno Vasco, Adelino Pinho, Giovani Rossi, Gigi Damiani, Artur Campagnoli, 
José   Marques   da   Costa,   Rodolfo   Felipe,   Isabel   Cerrutti,   João   Perez,   Antonino 
Dominguez, Manuel Perez, Romualdo de Figueiredo, Juan Puig Elias, Maria Lacerda 
de   Moura,   Rafael   Fernandes,   Angelina   Soares,   Paula   Soares,   Elias   Iltchenco, 
Frederico Kniestedt, Jesus Ribas, Cecílio Vilar, Oresti Ristori, Maria Lopes, Manuel 
Moscoso,   Polidoro   Santos,   Amilcar   dos   Santos,   Pedro   Carneiro,   Atílio   Peçagna, 
Rudosindo Colmenero, Maria Silva, Maria Rodrigues, Pietro Ferrua, Pedro Ferreira da 
Silva, Câmara Pires, Ramiro de Nóbrega, Maria Valverde, José Simões, Manuel Lopes, 
Vitorino Trigo, Mariano Ferrer, Luisi Magrassi, Sofia Garrido, Joaquim Leal Junior, 
Lírio de Resende, Jaime Cubero e tantos outros intelectuais e operários a quem se 
homenageia, mesmo ausentes...
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