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Política Educacional e a BNCC

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POLÍTICA 
EDUCACIONAL 
Caroline Costa Nunes 
Lima
Política educacional 
contemporânea: debates 
sobre a Base Nacional 
Comum Curricular
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Localizar o debate sobre o currículo nacional no campo da política 
educacional curricular.
 � Identificar pontos positivos e negativos da implementação de um 
currículo nacional.
 � Esclarecer a trajetória da política educacional nos últimos anos. 
Introdução
Neste capítulo, você estudará sobre a construção da Base Nacional Co-
mum Curricular (BNCC), que vem sendo pensada, discutida e formulada 
desde 2013. Já em 1988, com a promulgação da Constituição Federal, 
um referencial curricular nacional foi indicado como uma das políticas 
educacionais a serem construídas. Você conhecerá o debate sobre a 
existência de um currículo nacional no campo da política educacional 
curricular, fazendo um levantamento dos pontos positivos e negativos que 
esse referencial pode trazer para os processos de ensino e aprendizagem 
das unidades escolares da rede básica de ensino. Por fim, você verá como 
se deu a trajetória da política nos últimos anos.
O debate sobre o currículo nacional no campo 
da política educacional curricular
Ao observarmos as movimentações políticas e sociais no Brasil, identificamos 
que, desde meados da década de 1980, com o processo de redemocratização, 
as formulações e execuções de políticas públicas têm avançado significativa-
mente, despertando o interesse de muitos pesquisadores. O resultado dessas 
investigações são discussões, debates, problematizações e reflexões, por meio 
de diferentes aportes teóricos que abrangem enfoques nacionais e internacionais 
(MAINARDES, 2009).
A presença de influências internacionais em nossas políticas educacionais 
está em ascensão. O advento da globalização, as novas configurações dos 
papéis do Estado e as novas tendências econômicas fomentam um discurso 
de que é necessária a adaptação educacional às transformações ocasionadas 
por essas circunstâncias (KRAWCZYK, 2005). A América Latina, incluindo 
o Brasil, é uma das regiões mais influenciadas por essas tendências globais. 
Todas essas redes de informações, conhecimentos e tendências que carac-
terizam as políticas educacionais envolvem relações de poder e disputas de 
interesse. Com isso, a força da influência das políticas neoliberais impacta, 
em nível global, as políticas educacionais, trazendo como consequência mais 
desigualdade no País (AZEVEDO, 2004). 
Trazendo essas relações para os debates sobre o currículo nacional, anali-
saremos, a seguir, como pesquisadores e especialistas que têm essa temática 
como objeto de estudo têm se manifestado a respeito da BNCC. Veja abaixo, 
a partir da plataforma do Ministério da Educação (MEC), as informações a 
respeito do que trata esse documento: 
[...] é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e 
progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desen-
volver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. Conforme 
definido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 
9.394/1996), a Base deve nortear os currículos dos sistemas e redes de ensino 
das Unidades Federativas, como também as propostas pedagógicas de todas as 
escolas públicas e privadas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino 
Médio, em todo o Brasil. A Base estabelece conhecimentos, competências e 
habilidades que se espera que todos os estudantes desenvolvam ao longo da 
escolaridade básica. Orientada pelos princípios éticos, políticos e estéticos 
traçados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, a Base 
soma-se aos propósitos que direcionam a educação brasileira para a formação 
humana integral e para a construção de uma sociedade justa, democrática e 
inclusiva (BRASIL, 2018, p. 7).
Política educacional contemporânea: debates sobre a Base Nacional Comum Curricular2
Como você pode observar pela descrição acima, esse marco regulatório, 
organizado pelo Ministério da Educação, está voltado para o currículo da rede 
básica e tem como objetivo o delineamento de conhecimentos considerados 
fundamentais aos educandos em seu percurso escolar, desde o ingresso na 
rede de ensino até a conclusão do ensino médio. Cabe lembrar que a formação 
básica comum já estava demarcada em documentos tais quais a Constituição 
Federal de 1988 (BRASIL, 1988), a LDB (Lei nº. 9.394/1996, apresentando-se 
como “base nacional comum”, no artigo 26)(BRASIL, 1996) e também no 
Plano Nacional de Educação (Lei nº. 13.005/2014, como “proposta de direitos 
e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento”) (BRASIL, 2014).
A partir de ações articuladas, versões da BNCC foram e estão sendo cons-
truídas (a BNCC do Ensino Médio ainda se encontra em debate e construção), 
trazendo novas especificações para as políticas educacionais. Como exemplo, 
temos a “Política Nacional de Formação de Professores, a Política Nacional 
de Materiais e Tecnologias Educacionais, a Política Nacional de Avaliação da 
Educação Básica e a Política Nacional de Infraestrutura Escolar” (TRICHES; 
ARANDA, 2016, p. 85).
Em investigações sobre o currículo, pesquisadores apontam que essas 
reformas buscam favorecer à economia, articulando o ensino ao mercado 
de trabalho e à produtividade (AZEVEDO, 2004). Assim, observa-se que as 
políticas públicas educacionais voltadas para o currículo estabelecem relações 
estreitas entre aspectos sociais e econômicos, como afirma Pacheco (2009, 
p. 397):
Ao eleger a educação como alavanca da economia do conhecimento, a glo-
balização, na busca de uma identidade de legitimação, institui a lógica da 
competitividade na base do pressuposto de que o mundo pode se tornar uma 
imensa planície, fazendo com que a educação deixe em segundo plano sua 
missão de formação pública e cívica.
Assim, notamos na construção curricular a presença de características 
neoliberais sendo incorporadas na apresentação de habilidades e competências 
voltadas para a produção e para o mercado. E essa tendência, que vem se 
consolidando a partir da década de 1990, ocorre por meio de sujeitos: 
[...] individuais e coletivos que estão cada vez mais organizados, em redes do 
local ao global, com diferentes graus de influência e que falam de diferentes 
lugares: setor financeiro, organismos internacionais e setor governamental 
(TRICHES; ARANDA, 2016, p. 85).
3Política educacional contemporânea: debates sobre a Base Nacional Comum Curricular
Ainda nas pesquisas bibliográficas de Triches e Aranda (2016), eviden-
ciaram-se indagações sobre quais as reais necessidades da existência de uma 
base nacional comum curricular, assim como perguntas sobre foram feitas 
as escolhas do que se precisa ser ensinado ou mesmo quais os critérios de 
seleção desses conteúdos. 
Quando são analisados os discursos de forças de interesses públicos e 
privados a respeito da BNCC e o modo como estão interligadas, enxergamos 
como esse documento concebe o sujeito a ser formado por meio dos conhe-
cimentos selecionados para a educação básica. No centro dessas discussões, 
encontramos, nos aportes teóricos destinados ao tema, a caracterização da 
base como:
[...] arma social, proposição curricular, projeto de educação nacional, descritivo 
de saberes e conteúdos a serem ensinados e apreendidos, forte amarração 
ideológica contaminada por um caráter tecnicista e empresarial, pretensão 
centralizadora (TRICHES; ARANDA, 2016, p. 92). 
Desse modo, vemos que a educação brasileira está traçando caminhos 
baseados em modelos internacionais, a partir da formulação e execução de 
políticas públicas de seleção curricular com a presença marcante de forças 
de interesse econômico, que se manifestam por meio de debates e discussões 
globais. Como ficam as instituições de ensino diante das mudanças resultan-
tes dessas transformações e quais as consequências diretas para as práticas 
pedagógicas docentes?
A escola é, historicamente,um espaço de resistência que se esforça, por meio 
de todos os atores envolvidos, para preservar um ambiente de desenvolvimento 
da cidadania, demarcado por diversidade, pluralidade, democracia, participação 
e diálogo, em um mundo cada vez mais competitivo e globalizado. Concomi-
tantemente, lida também com reformas curriculares e suas consequências nos 
processos de ensino, aprendizagem e formação de educandos.
Pontos positivos e negativos da implementação 
de um currículo nacional
Pensar na seleção e organização de conteúdos curriculares é levar em consi-
deração que essas escolhas não partem de uma posição de neutralidade. Em 
um país de dimensões continentais como o Brasil, marcado historicamente 
Política educacional contemporânea: debates sobre a Base Nacional Comum Curricular4
por lutas sociais e políticas e contando com a presença de tantas culturas e 
identidades, como pensar o que deve ser ensinado a grupos tão distintos?
Por considerar a diversidade, a BNCC se posiciona como um instrumento 
pedagógico ao qual deve ser acrescentado uma seção diversificada, a partir 
do contexto de cada comunidade escolar (BRASIL, 2018). Pesquisadores 
como Michael Young (2013) ratificam essa necessidade ao considerar que ao 
currículo nacional comum cabe assegurar uma base de saberes para todos os 
alunos, juntamente com a oferta de garantia de que cada instituição de ensino 
possa ter a autonomia para se articular com sua realidade escolar. 
Feita essa breve apresentação sobre a complexidade que envolve o processo 
de construção de um currículo nacional, iremos trazer problematizações a 
respeito do conceito de “currículo”, presente na BNCC, por meio dos estudos 
de Contreras Domingo (1990). O autor nos propõe quatro reflexões:
– O currículo deve propor o que se deve ensinar ou o que os alunos devem 
aprender? A partir da ideia originada de currículo como o conjunto de saberes 
que se deve transmitir aos alunos, nesta disjuntiva está enraizada outra con-
cepção de currículo que diz respeito a tudo o que os alunos devem aprender 
na escola. A definição de currículo não se faria a partir do que se pensa que 
os alunos devem aprender para viver em seu mundo. 
– O currículo é o que se deve ensinar e aprender, ou é o que realmente se 
ensina e se aprende? O que está em questão aqui é qual deve ser o grau de 
cumprimento na prática para que um currículo possa ser chamado como tal. 
– O currículo é o que se deve ensinar e aprender, ou inclui também o como, 
as estratégias, métodos e processos de ensino? Há duas formas de ver esta 
disjuntiva. Uma é considerar se o currículo faz somente menção aos resul-
tados de aprendizagem que se deseja obter, dizendo respeito ao conjunto de 
conteúdos culturais e de objetivos de aprendizagem. Outra forma deixa à 
margem do conceito toda referência a processos instrutivos, e o currículo 
inclui assim a especificação das estratégias metodológicas que serão seguidas 
para se alcançar as aprendizagens pretendidas. 
– O currículo é algo especificado, delimitado e acabado, que logo se apli-
ca, ou é algo aberto, que se delimita no próprio processo de aplicação? A 
alternativa aqui é se considera que o currículo é algo estático, previamente 
definido, ou se deve entendê-lo como algo dinâmico, que evolui no transcurso 
de sua aplicação. Neste sentido, esta perspectiva supera a polêmica suscitada 
pela segunda disjuntiva, para propor uma visão de currículo que engloba o 
trânsito e a evolução que se produza desde as intenções à realidade da aula 
(CONTRERAS DOMINGO, 1990, p. 177-178).
Assim, a definição de currículo pode ser pensada a partir das reflexões 
de Contreras Domingo, e a escolha de uma dessas concepções refletirá a 
organização de saberes e o que se pensa sobre os fins da educação.
5Política educacional contemporânea: debates sobre a Base Nacional Comum Curricular
Em 2015, foi publicizada a primeira versão da BNCC, que foi homologada 
em 2017, em sua terceira versão — conforme previsto no trâmite legal. A Base 
Nacional Comum Curricular é um referencial obrigatório que define o que 
qualquer educando, em todo o Brasil, deve aprender nas instituições escolares. 
Estruturalmente, conta com objetivos de aprendizagem nas seguintes áreas 
do conhecimento: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências 
Humanas. Além disso, determina o grupo de conhecimentos e habilidades 
essenciais para todos os estudantes, em cada período letivo da educação bá-
sica, também dispondo sobre os 12 direitos de aprendizagem necessários aos 
estudantes ao longo da educação básica (GONÇALVES; KOEPSEL, 2017).
Dentre os aspectos favoráveis e desfavoráveis analisados por especialistas, 
encontramos, nos estudos de Duarte (2006), a observação de que, nas discussões 
educacionais, prevalecem, desde as últimas décadas, a defesa do princípio do 
“aprender a aprender” e de uma práxis pedagógica que demande uma formação 
de professores reflexivos. Na BNCC, até o momento, não foi inserida nenhuma 
seção que discuta o papel do docente no que tange aos processos de ensino.
Um ponto positivo que merece destaque é que a Base se esforça para superar 
o ensino tradicional, restrito à transmissão e à reprodução de conteúdos. O 
referencial curricular apresenta objetivos de desenvolvimento de competências 
cognitivas, colocando o aluno em uma posição de protagonista, quando dispõe 
que o educando precisa:
[...] exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das 
ciências, incluindo a investigação, a análise crítica, a imaginação e a criati-
vidade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver 
problemas e inventar soluções com base nos conhecimentos das diferentes 
áreas (BRASIL, 2018, p. 9).
Outro aporte teórico importante para nossos estudos, apresentando diferen-
tes pontos de vista sobre a previsão da implementação da BNCC, é a pesquisa 
organizada pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação 
Comunitária (CENPEC), solicitada pela Fundação Lemann e realizada com a 
finalidade de identificar diferentes óticas de entes representativos das institui-
ções educacionais. Vejamos, no Quadro 1, alguns destaques dos argumentos 
apresentados pelos entrevistados.
A pesquisa sintetizou o pensamento de diferentes grupos favoráveis e des-
favoráveis à implementação da BNCC, incluindo acadêmicos, pesquisadores, 
representantes de sindicatos e docentes. Você já refletiu sobre esses diferentes 
apontamentos? Formou sua opinião sobre esse documento referencial?
Política educacional contemporânea: debates sobre a Base Nacional Comum Curricular6
Fonte: Adaptado de Cenpec (2015, p. 34-36).
Pontos de vista positivos favoráveis à BNCC
 � A educação básica é direito de todos.
 � Há forte desigualdade social e escolar no País.
 � O acesso de todos a conhecimentos universais é um meio de enfrentar as 
desigualdades.
 � A escola tem como papel distribuir entre todos o conhecimento que se 
julga essencial para a integração social, para a vida social e para o mundo do 
trabalho.
 � As desigualdades culturais estão relacionadas às desigualdades sociais e 
escolares.
 � A escola não é o único lócus de produção de identidades e cultura, mas uma 
parte da vivência dos alunos, um espaço de aprendizagem de conteúdos 
relevantes para a vida social e para o trabalho.
 � A escola favorece a inclusão social dos setores historicamente excluídos.
 � A padronização curricular aumenta o controle social sobre a escola, gerando 
cumprimento do currículo e favorecendo o acompanhamento das famílias.
 � A padronização curricular organiza a formação dos professores e orienta o 
seu trabalho.
Pontos de vista negativos desfavoráveis à BNCC
 � Considera-se a escola como reprodutora da dominação de determinados 
grupos sociais sobre outros, razão pela qual seria necessário focalizar, nas 
definições curriculares, o conhecimento local e as experiências comunitárias. 
 � A compreensão de escola como um local de emancipação e de construção 
de sentido paraas experiências dos alunos, e menos como lócus de 
aquisição de conhecimentos necessários para a inserção na vida social e no 
mundo do trabalho.
 � A compreensão de escola como lócus de construção de identidades.
 � As desigualdades no País são produzidas ou corroboradas pela escola.
 � A preocupação em preservar a cultura local e a diversidade regional e o 
receio de que se rompa com o pacto federativo.
 � A noção de que há uma tradição docente de trabalho que estrutura o 
currículo das escolas e que precisar ser respeitada.
 � A visão de que já existem no País documentos curriculares nacionais.
 � A concepção de que qualquer tipo de padronização não respeita diferenças.
 � Qualquer padronização curricular guiará as avaliações baseadas em teste 
sem larga escala, que terminam necessariamente por produzir hierarquias 
escolares e educacionais.
 � Sem zelo pelas condições materiais e salários dos professores não há 
possibilidade da implementação de BNCC.
Quadro 1. Pontos de vista acerca da implementação da BNCC
7Política educacional contemporânea: debates sobre a Base Nacional Comum Curricular
O próprio Movimento Pela Base Nacional Comum afirma que a BNCC 
não se trata de um documento que apresenta uma única solução para educação 
brasileira, colocando-se como um auxílio para diminuir as desigualdades 
educacionais e buscando a melhoria da qualidade educacional. Para nós, 
profissionais da educação em formação, ou já formados, é fundamental nos 
apropriarmos das movimentações que as políticas educacionais estão realizando 
em formulações e implementações construídas por meio de tantas influências 
globais, nacionais e políticas. Devemos identificar quais consequências elas 
podem trazer aos processos de ensino e aprendizagem e refletir qual sobre 
nosso papel e responsabilidade nesse cenário educacional. 
A trajetória da política educacional 
nos últimos anos
A educação é um tema recorrente em diferentes âmbitos — políticos, sociais 
e econômicos, por exemplo — com diferentes interesses, projetos e finalida-
des. Houve reformulações em nossas leis, por meio da Constituição de 1988 
(BRASIL, 1988) e da LDB de 1996 (BRASIL, 1996), visando ao acesso a uma 
educação de qualidade para todos os cidadãos, para que tenham condições 
iguais no meio social e no mercado de trabalho. Mas, se observar atualmente 
como anda a qualidade do ensino público e as condições de acesso à suposta 
educação democrática, participativa e autônoma, você acreditaria que essas 
leis estão sendo cumpridas?
Encontramos, no livro Escola, estado e sociedade (FREITAG, 1980), que a divisão de nossa 
história educacional está diretamente relacionada com os três períodos a seguir:
a) 1º período — de 1500 a 1930, abrangendo a Colônia, o Império e a 
Primeira República;
b) 2º período — de 1930 a 1960, aproximadamente;
c) 3º período — de 1960 em diante (FREITAG, 1980, p. 46).
Essas divisões correspondem a períodos marcados por tendências econômicas, tais 
como aponta Freitag (1980): o agroexportador, o de substituição de importações e o 
de internacionalização do mercado interno.
Política educacional contemporânea: debates sobre a Base Nacional Comum Curricular8
Para que possamos fazer uma análise aprofundada das mais recentes 
políticas educacionais voltadas para a reforma curricular, é fundamental 
observarmos, também, a trajetória de nossa história político-educacional 
dos últimos anos. Em especial, devemos atentar para os desenvolvimentos a 
partir da década de 1990, que trouxe tantas mudanças para os mais variados 
contextos nacionais e internacionais.
Além do advento da globalização, que alterou as relações de tempo e espaço 
mundiais, contamos também com as influências das políticas econômicas, 
que passaram por um processo de transformação, formando a base para uma 
tendência denominada “neoliberalismo”. O neoliberalismo ressignificou os 
papéis do “Estado, do mercado e da sociedade civil, alterando a forma como 
esse novo modelo age para avançar no objetivo de acúmulo do capital [...]” 
(SOUSA; ARAGÃO, 2018, p. 4).
A partir desse novo cenário econômico, a democracia e a cidadania passa-
ram a abarcar novas configurações, com tendências voltadas para a competição, 
para as lógicas de mercado, de produção e de capital. O mercado assume um 
papel junto ao Estado, participando de decisões, influenciando na criação de 
políticas públicas e incentivando um campo educacional competitivo com 
metas, bonificação, concorrências, avaliações em larga escala e conteúdos 
que preparam o indivíduo para o ambiente produtivo. De acordo com Michael 
Apple (2001, p. 17), temos a seguinte definição das configurações resultantes 
da trajetória política global dos últimos anos:
Actualmente (sic), debaixo da influência do neoliberalismo, o verdadeiro 
significado de cidadania foi radicalmente transformado. Nos dias de hoje, em 
muitos países, o cidadão é simplesmente um consumidor. O mundo é visto 
como um vasto supermercado. As escolas e inclusive os nossos alunos (...) 
tornam-se mercadorias que são compradas e vendidas do mesmo modo como 
se compram e vendem outro género de mercadorias. Isto é uma transformação 
importante no modo como nós pensamos. Pensar na cidadania como um con-
ceito político significa que ser cidadão implica a participação na construção 
e reconstrução das nossas instituições. Ser consumidor é a apologia ao indi-
vidualismo possessivo que é conhecido pelos seus produtos. Defines-te pelo 
que compras e não pelo que fazes. Assim, o movimento geral sociológico e 
económico que redefine a democracia e a cidadania num conjunto de práticas 
de consumo, e no qual o mundo é visto como um vasto supermercado, tem 
vindo a ter um grande impacto na educação.
Desse modo, essas novas articulações políticas, presentes em diferentes 
países, tais como os países da América, África e Ásia, passam a valer-se da 
“[...] disseminação de soluções ‘privadas’ para os ‘problemas’ da educação 
9Política educacional contemporânea: debates sobre a Base Nacional Comum Curricular
pública” (BALL, 2014, p. 25). Como efeitos dos resultados dessas políticas, 
a partir do âmbito educacional, vimos a formação de uma arena de disputas 
entre diferentes setores, defendendo seus interesses, influenciando as deci-
sões públicas e pregando a responsabilidade coletiva para o desenvolvimento 
mundial e o progresso das nações. O Estado, assim, perde a centralidade das 
decisões políticas, que passam a ser regidas por “redes políticas” formadas por:
[...] pessoas com forte influência política que defendem os interesses dos gru-
pos aos quais representam; organismos multilaterais que atuam em diversos 
países; instituições do setor privado; sindicatos; associações científicas, dentre 
outros grupos (SOUSA; ARAGÃO, 2018, p. 5).
Essa descentralização ocupa diferentes segmentos, que defendem diferentes 
posições ideológicas a respeito das políticas educacionais e sociais do governo. 
Luck (2000) aponta que o ensino público passa por grandes mudanças, resul-
tado das reformas e das diferentes ações de diversas esferas governamentais. 
Estados e municípios modificam suas práticas pedagógicas e suas formas de 
organização escolar, tentando tornar mais eficientes os processos de ensino 
e buscando universalizar e padronizar seus meios de atendimento e acesso 
escolar. Essas transformações ampliam o foco da educação, que passa a estar 
no centro das atenções políticas e da mídia como instrumento essencial de 
desenvolvimento nacional.
Outro aspecto transformador, ocasionado pela descentralização, está 
relacionado às formas de gestão, que passam a ter uma inserção maior da 
comunidade escolar, financeira e pedagógica, contando com a formação de 
entes representativos em Conselhos Escolares. Esse tipo de órgão colegiado 
está garantido na Lei nº. 9394/96, sendo uma política pública importante por 
assegurar “[...] a participação da comunidade escolar e local em conselhos 
escolares ou equivalentes [...]” (BRASIL, 1996, documento on-line), fortale-cendo decisões coletivas e democratizando o ensino. Na prática, atuam em 
conjunto com os gestores escolares. É importante ressaltar a trajetória das 
políticas públicas dos últimos anos, já que a LDB está articulada com outros 
documentos legislativos, tais como a Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), 
as emendas posteriores anexadas e o estabelecimento do Plano Nacional de 
Educação 2014-2024, relatados a seguir:
[...] a Constituição Federal define a competência da União, dos Estados e 
Municípios e estabelece a necessidade da organização de seus sistemas de 
ensino em regime de colaboração (Art. 211). A Constituição prevê também 
Política educacional contemporânea: debates sobre a Base Nacional Comum Curricular10
o sistema nacional de educação, a ser articulado por um plano decenal (Art. 
214, alterado pela Emenda Constitucional 59/2009). O Plano Nacional de 
Educação (PNE) e, consequentemente, os planos estaduais, distrital, e mu-
nicipais ultrapassam os planos plurianuais de governo. Exigem articulações 
institucionais e participação social para sua elaboração ou adequação, seu 
acompanhamento e avaliação. Para o cumprimento do dispositivo legal, foi 
publicado o Plano Nacional de Educação, aprovado pela lei n° 13.005/2014 
(FERREIRA; NOGUEIRA, 2015, p. 236-237). 
Assim, com a implementação do PNE 2014–2024, juntamente com as pro-
postas de metas, objetivos e índices de desempenho, novas políticas públicas 
formuladas pelas esferas estaduais e municipais devem se articular com os 
documentos legislativos norteadores vigentes.
APPLE, M. W. Reestruturação educativa e curricular e as agendas neoliberal e neo-
conservadora: entrevista com Michael Apple. Currículo sem Fronteiras, v. 1, n. 1, p. 5-33, 
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ponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13005.
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Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF, 1996. Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 01 fev. 2019.
11Política educacional contemporânea: debates sobre a Base Nacional Comum Curricular
CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCAÇÃO, CULTURA E AÇÃO COMUNITÁRIA 
(CENPEC). Consensos e dissensos em torno de uma Base Nacional Comum Curricular no 
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13Política educacional contemporânea: debates sobre a Base Nacional Comum Curricular
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