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PROCESSOS QUÍMICOS INDUSTRIAIS AULA 01 Prof.ª Thaís Helena Curi Braga 2 CONVERSA INICIAL São numerosas as opções de trabalho que o Engenheiro de Produção pode vir a assumir. Dentro da indústria de processamento químico, é importante o conhecimento da terminologia usada nas conversas de “chão de fábrica” e reuniões de diretoria. Economia, tendências de produção e alternativas de processo só podem ser avaliadas com uma boa fundamentação sobre fluxogramas de processo e suas variáveis, tipos de equipamentos industriais e para que são usados, como operam e como são controlados. Otimização de energia, conversões químicas e impactos ambientais estarão presentes neste estudo. Figura 1 – Vista de indústria petroquímica Toda linha de processamento químico industrial tem início no papel. Essa linguagem simbólica escrita precisa ser conhecida pelo Engenheiro de Produção. Ele não irá projetar a unidade industrial, mas deverá estar apto a dialogar com os colegas debruçados sobre uma planta industrial. Começaremos apresentando essa linguagem simbólica, devidamente acompanhada do vocabulário técnico. Há o fluxograma de processo, no qual equipamentos são ligados em uma linha de produção recebendo matérias-primas e fornecendo produtos intermediários e finais. Além disso, veremos também a matemática que acompanha o processo em termos de massa e energia, denominada balanço de massa e energia. 3 Figura 2 – Representação isométrica de uma refinaria de óleo Essa mesma linguagem simbólica estará estampada em um monitor de controle de processo. Em uma segunda fase de estudo, serão apresentadas as operações unitárias, termo que define os processos de transformação física, tais como moagem, evaporação, destilação e secagem. Para a realização das operações unitárias, existem muitos tipos de equipamentos que possibilitam escolhas mais assertivas e rentáveis. Para o controle do processo, será apresentada uma introdução à instrumentação industrial e sistemas de controle. Figura 3 – Engenheiros na sala de controle TEMA 1 – FLUXOGRAMA DE PROCESSO E OUTRAS REPRESENTAÇÕES A seguir, você pode ver novamente o monitor de controle de uma indústria. Ele é muito similar ao fluxograma de processo, em que equipamentos (ou operações unitárias) são desenhados de forma padronizada e as tubulações aparecem como linhas de processo unindo os equipamentos. Os fluxogramas fazem parte do projeto básico e são acompanhados de planilhas contendo os resultados dos balanços de massa e de energia. 4 Figura 4 – Monitor de controle de uma planta industrial Repare que o esquema visualizado no monitor é muito similar ao fluxograma básico de projeto de uma unidade de extração de óleo apresentado a seguir, no qual foi utilizada a mesma linguagem simbólica para representar equipamentos e tubulações de processo. As tubulações recebem uma diferenciação de cores para identificar mais facilmente o material que está sendo transportado. Figura 5 – Fluxograma de processo de uma unidade de extração de óleo A representação isométrica é uma forma mais detalhada de fluxograma, na qual equipamentos e tubulações aparecem em perspectiva. 5 Figura 6 – Vista aérea de uma indústria petroquímica Figura 7 – Modelo 3D de uma refinaria O diagrama de blocos é uma forma simplificada do fluxograma de processo, no qual os equipamentos são representados por retângulos e as tubulações são substituídas por setas indicando o sentido do fluxo. O diagrama de blocos é suficiente para o desenvolvimento e a análise dos balanços de massa e de energia e será a linguagem simbólica usada para desenvolver os próximos temas. Acompanhe no Anexo 1 do material on-line mais exemplos de fluxogramas de processo, representações isométricas e diagramas de blocos. Para visualizar melhor uma planta isométrica, assista ao vídeo no link: https://youtu.be/T8G1SG3WNRs TEMA 2 – FUNDAMENTOS 6 Lei da conservação da massa Em qualquer processo físico ou químico, não é possível criar ou destruir matéria, apenas transformá-la. Conhecida como a Lei de Lavoisier, essa afirmação fundamenta desde o estudo das proporções entre reagentes e produtos em reações químicas até a conservação de energia expressa pela Primeira Lei da Termodinâmica. Classificação dos processos ● A maneira como matérias-primas e produtos entram e saem de uma unidade industrial em relação ao tempo de processamento classifica os processos como batelada, semibatelada e contínuo. ● A maneira como as variáveis de processo (vazão, temperatura, composição, pressão) se comportam em relação ao tempo de processamento classifica os processos como estacionários ou transientes. A equação geral de balanço de massa A equação geral de balanço, fundamentada na lei de conservação da massa, expressa matematicamente o que acontece com a quantidade de matéria que atravessa uma unidade de processamento industrial. ENTRADA – SAÍDA + GERAÇÃO – CONSUMO = ACÚMULO Acompanhe esse assunto mais detalhadamente no Anexo 2 do material on-line. TEMA 3 – METODOLOGIA DE CÁLCULO Limites do sistema e correntes de entrada e saída A fim de aplicar a equação geral de balanço de massa em uma unidade de processamento industrial, é necessário primeiro definir a parte do processo que será escolhida para estudo. O chamado “sistema” é um conceito da 7 Termodinâmica usado para estabelecer a parte ou o todo de um processo a ser analisado em termos de quantidade de matéria e energia. Ele é delimitado por uma linha imaginária chamada “fronteira” do sistema, e os fluxos que atravessam essa linha imaginária, conduzindo massa e energia para dentro ou para fora do sistema, são as “correntes” de processo. Figura 8 – Diagrama de blocos genérico O diagrama de blocos genérico apresentado representa 4 equipamentos ligados em sequência por meio de correntes de processo. Podem ser reatores, filtros, evaporadores, secadores, bombas de processo etc. Cada um desses equipamentos pode ser escolhido para estudo, definido pela linha imaginária envolvendo-o e demarcando quais as correntes de processo que pertencem a esse sistema, nomeadas por uma letra maiúscula. O conjunto sistema/correntes de entrada e saída constitui o chamado “volume de controle”. Assim, para o processo ilustrado, temos: Volume de controle Equipamento Correntes de entrada Correntes de saída Azul 1 A, B C Vermelho 2 C D Verde 3 D E, F Amarelo 4 F G, H, I Roxo 1 e 2 A, B D A escolha do sistema mais adequado para a resolução de determinado cálculo de balanço de massa é muito importante e depende basicamente das informações conhecidas acerca do sistema e de suas correntes e da possibilidade de prever boas estimativas para as variáveis não conhecidas. I 8 Metodologia para resolução de balanço de massa As etapas para a elaboração de um balanço de material podem ser organizadas na seguinte sequência: a. Desenhe um esquema ou diagrama ilustrativo representando o processo e todas as correntes entrando e saindo dele. b. Nomeie as correntes de entrada e saída com letras maiúsculas e as respectivas composições. c. Mostre o volume de controle tomado para estudo pelos limites do sistema, usando uma linha tracejada. d. Defina as correntes e composições conhecidas e desconhecidas. e. Escreva as relaçõesde balanços de material global e por componente. f. Selecione uma base de cálculo apropriada. g. Resolva as equações algébricas resultantes para as quantidades desconhecidas. Em várias ocasiões, a solução de várias equações simultâneas se torna necessária. Deve ser ressaltado que muitas vezes poderá haver mais de uma escolha adequada do sistema e da base de cálculo para um problema em particular. Acompanhe no Anexo 3 do material on-line como chamar as correntes de processo e suas respectivas composições, além de como escolher uma base de cálculo. TEMA 4 – BALANÇO DE MASSA EM ESTADO ESTACIONÁRIO SEM E COM REAÇÃO QUÍMICA Simplificações na equação geral de balanço de massa No estado estacionário ou permanente, as variáveis de processo, como vazão mássica e composição em fração mássica, são constantes com o tempo, e o processo não apresenta acúmulo. ACÚMULO = 0 9 ENTRADA – SAÍDA + GERAÇÃO – CONSUMO = 0 Quando não há reação química, os termos GERAÇÃO e CONSUMO são cancelados. ENTRADA – SAÍDA = 0 ENTRADA = SAÍDA Esse é o caso mais simples de balanço de massa. Aplica-se a todos os processos contínuos que já passaram da fase de inicialização ou startup e atingiram o estado estacionário de operação. Quando um equipamento ou processo industrial inicia sua operação, leva certo tempo até que as vazões de alimentação e retirada de produto e suas composições estabilizem em um valor constante. Esse intervalo de tempo é chamado inicialização ou startup. Vencida essa etapa, pode-se considerar que o processo opera em regime estacionário ou permanente. TEMA 5 – DESVIO, RECICLO E PURGA São três tipos de correntes de processo comumente encontrados na indústria. Desvio ou by-pass É uma corrente que “pula” um ou mais estágios de processo e segue diretamente para um estágio posterior. Figura 9 – Diagrama de blocos com corrente de desvio 10 Reciclo ou feedback Corrente frequentemente encontrada na indústria química. Por exemplo, em algumas operações de secagem, a umidade do ar é controlada por recirculação de parte do ar úmido que deixa o secador. Em reações químicas, o material que não reagiu completamente é separado do produto e reciclado a fim de reduzir os custos com matéria-prima e aumentar o rendimento. Na coluna de destilação, parte do destilado obtido no topo da coluna retorna como corrente de refluxo a fim de manter a coluna sempre com uma fase líquida no seu interior. Figura 10 – Diagrama de blocos de produção de biodiesel O óleo de cozinha usado é a matéria-prima para a reação de transesterificação com etanol ou metanol para produção de biodiesel. Repare no fluxograma acima como o álcool é recuperado por separação, nas unidades de processo denominadas remoção do álcool e destilação e desidratação do álcool, e reciclado de volta ao reator, para a unidade de processo transesterificação multietapas. Purga Corrente descartada com o objetivo de remover acúmulo de inertes em processos com reação química ou material não desejado. Como exemplo, pode- se citar a produção de amônia, que inclui quatro etapas químicas principais: reforma, deslocamento, metanação e síntese. 11 Na quarta reação, existe uma corrente de gás de síntese que é uma mistura de hidrogênio/nitrogênio. A corrente de alimentação é misturada com uma corrente de reciclo e alimenta o reator, resultando a amônia da reação catalítica. No entanto, parte do gás de síntese deve ser purgada para evitar acúmulo dos gases inertes argônio e metano. Em contrapartida, porém, essa purga causa perda de hidrogênio, objeto de estudo e tentativas de otimização de muitos engenheiros de processo. As correntes de desvio, reciclo e purga não necessitam de conceitos ou técnicas novas na análise de um problema de balanço de massa. São consideradas correntes de entrada ou saída e seguem a mesma metodologia de balanço vista aqui. Figura 11 – Processo com corrente de reciclo e purga Fonte: Himmelblau, 2006. Acompanhe esse assunto mais detalhadamente no Anexo 4 do material on-line. NA PRÁTICA Exemplo numérico de aplicação da metodologia de cálculo de balanço para o evaporador: 12 Um evaporador de simples efeito operando em regime permanente é usado para concentrar uma solução aquosa de hidróxido de sódio de 10% até 50% de sólidos, por meio da evaporação do solvente. Para uma alimentação de 100 kg/h de solução de NaOH a 10%, desenvolva o balanço de massa, calculando as correntes de saída do evaporador. Os dados do enunciado foram acrescentados ao diagrama ilustrativo. É conhecida uma vazão de corrente, sendo as outras duas incógnitas, justamente o objetivo do cálculo de balanço. Quanto às composições, note que foi dada a porcentagem de sólidos na alimentação e no produto concentrado. A solução aquosa de hidróxido de sódio será descrita em termos de composição como constituída de sólidos, neste caso o hidróxido de sódio, e água. Assim, se na alimentação 10% são sólidos, os 90% restantes são água, para fechar 100% da composição dessa corrente que, expressa em fração mássica, corresponde a 0,10 e 0,90 respectivamente. O mesmo raciocínio é válido para a solução concentrada de saída. Já a corrente de evaporado é constituída unicamente de água – xa, AE = 1,00 –, visto que durante a concentração é o solvente que irá evaporar. Substituindo os valores numéricos nas equações de balanço de massa global e balanço de massa para sólidos, tem-se: (1) Balanço de massa global 𝑆𝐷 = 𝐴𝐸 + 𝑆𝐶 100 = 𝐴𝐸 + 𝑆𝐶 (2) Balanço de massa para sólidos 𝑆𝐷. 𝑥𝑠,𝑆𝐷 = 𝐴𝐸. 𝑥𝑠,𝐴𝐸 + 𝑆𝐶. 𝑥𝑠,𝑆𝐶 13 100.0,10 = 𝑆𝐶. 0,50 𝑆𝐶 = 20 𝑘𝑔/ℎ Voltando no balanço global: 𝐴𝐸 = 80 𝑘𝑔/ℎ Ou seja, a fim de concentrar a solução de NaOH de 10% até 50%, é necessário evaporar 80 kg/h de água e serão obtidos 20 kg/h de solução de NaOH a 50%. Note que não foi necessário utilizar o balanço de massa para a água. Contudo, essa equação de balanço pode ser usada para verificar os cálculos efetuados. (3) Balanço de massa para água 𝑆𝐷. 𝑥𝑎,𝑆𝐷 = 𝐴𝐸. 𝑥𝑎,𝐴𝐸 + 𝑆𝐶. 𝑥𝑎,𝑆𝐶 100.0,90 = 80.1 + 20.0,50 90 = 90 confere! Em processos envolvendo muitas correntes e componentes, é usual verificar se o número de incógnitas é igual ao número de equações independentes. Os balanços de massa por componente correspondem às equações ditas independentes. Observe que, nesse exemplo, há duas incógnitas, AE e SC, e duas equações de balanço por componente, sólidos e água. Duas incógnitas Dois componentes Solução única A base de cálculo é a alimentação de 100 kg/h.. Nesse caso, ela era conhecida. Em alguns casos, haverá a necessidade de se estabelecer uma base de cálculo. 100 é um valor muito usual, porque pode ser modificado com facilidade em caso de necessidade. Imagine se, para esse exemplo numérico, a base for mudada para 1000 kg/h, as correntes de saída serão multiplicadas pelo fator 10 igualmente. Acompanhe no Anexo 5, disponível no material on-line, um exemplo numérico de balanço de massa em uma coluna de destilação. Fique atento à simbologia adotada e como a equação de balanço resulta em uma equação 14 algébrica de resolução simples que permite determinar valores de vazões e composições de correntes desconhecidas a partir de dados conhecidos. SÍNTESE A primeira aula de Processos Químicos Industriais introduziu você ao universo dosprocessos químicos industriais. Agora, já está familiarizado com a terminologia e a simbologia usadas na análise de processos. Sabe o que é um sistema e como é definido, para que é usado e como se aplica a equação geral de balanço de massa, com as simplificações possíveis, a um volume de controle. Sabe nomear uma corrente de processo e descrevê-la em termos de composição. Sabe o que é um fluxograma de processo e um diagrama de blocos, e que pode “fatiá-los” em pequenas unidades de processo a fim de realizar balanços de massa. Expanda seus conhecimentos lendo os anexos das rotas de aprendizagem e pesquisando o assunto na bibliografia. REFERÊNCIAS BRASIL, N. I. Introdução à engenharia química. 3. ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2013. FELDER, R. M.; ROUSSEAU, R. W. Princípios elementares dos processos químicos. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC Livros Técnicos e Científicos Editora Ltda., 2005. FOUST, A. S. et al. Princípios das operações unitárias. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1982. HIMMELBLAU, D. M.; RIGGS, J. B. Engenharia química. Princípios e cálculos. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
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