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Sistemas de Energia II Samuel Tavares Anselmo Eletrotécnica Samuel Tavares Anselmo Sistemas de Energia II Criciúma Eletrotécnica SATC — Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de Santa Catarina Presidente de Honra Ruy Hülse Diretor Executivo Fernando Luiz Zancan Diretor Administrativo Financeiro Marcio Zanuz Diretor Carlos Antônio Ferreira Coordenação Geral da Faculdade Jovani Castelan Coordenação do Colégio SATC Izes Ester Machado Belolli Coordenação do Centro Tecnológico SATC Luciano Dagostin Biléssimo Secretária Acadêmica Hilda Maria Furlan Ghisi Cruz Pesquisadora Institucional Kelli Savi da Silva Coordenador EaD Jaqueline Marcos Garcia de Godoi Coordenador do Curso Gilberto Fernandes da Silva Produção do Material Didático Equipe EaD SUMÁRIO APRESENTAÇÃO .................................................................................................... 05 UNIDADE 1: CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA .... 07 TÓPICO 1: EFICIÊNCIA ENERGÉTICA: INTERESSES COMUNS ......................... 08 TÓPICO 2: A INDÚSTRIA ELÉTRICA NO BRASIL E O INGRESSO DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA ........................................................................................................... 13 TÓPICO 3: ENERGIA ................................................................................................ 17 TÓPICO 4: AS LEIS DAS CONVERSÕES ENERGÉTICAS ..................................... 22 TÓPICO 5: CONSERVAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA.......................................... 29 EXERCÍCIOS ............................................................................................................ 39 CHECK LIST ............................................................................................................. 40 UNIDADE 2: TARIFAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA ................................................41 TÓPICO 1: HISTÓRICO ............................................................................................ 42 TÓPICO 2: NOÇÕES GERAIS SOBRE FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA .................................................................................................................................. 45 TÓPICO 3: FATOR DE CARGA (FC) ....................................................................... 54 EXERCÍCIO ............................................................................................................... 62 CHECK LIST ............................................................................................................. 63 UNIDADE 3: FATOR DE POTÊNCIA ....................................................................... 64 TÓPICO 1: FATOR DE POTÊNCIA OU ENERGIA REATIVA EXCEDENTE NA FATURA DE ENERGIA............................................................................................. 65 TÓPICO 2: ENTENDA O FATOR DE POTÊNCIA .................................................... 66 TÓPICO 3: VANTAGENS DA CORREÇÃO DO FATOR DE POTÊNCIA ................ 73 TÓPICO 4: COMO CORRIGIR O FATOR DE POTÊNCIA EM BAIXA ..................... 75 TÓPICO 5: HARMÔNICA .......................................................................................... 80 EXERCÍCIOS ............................................................................................................ 88 CHECK LIST ............................................................................................................. 89 GABARITO COMENTADO ....................................................................................... 90 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 92 5 APRESENTAÇÃO Bem-vindo(a) ao componente curricular Sistemas de Energia II, do curso Técnico de Eletrotécnica na modalidade a distância da SATC. Na Unidade 1 você irá aprender sobre os conceitos fundamentais da Eficiência Energética. Na sequência, a Unidade 2 já mostra como funciona a tarifação de energia e como podemos melhorar quanto ao uso eficiente a partir da nossa conta de energia elétrica. Na Unidade 3 você estudará que para a qualidade da energia junto ao sistema elétrico deve ser considerado o Fator de Potência e as Harmônicas. A carga horária dessa disciplina é de 70 horas/aula, mas você poderá organizar seus momentos de estudos com autonomia, conforme os horários de sua preferência. No entanto, não esqueça que há um prazo limite para a conclusão desse processo. Então fique atento as datas para realizar as avaliações presenciais, as on line, publicadas pelos professores no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), e possíveis trabalhos solicitados pelo professor. Para o estudo dessa apostila você terá auxílio de alguns recursos pedagógicos que facilitarão o seu processo de aprendizagem. Perceba que a margem externa das páginas dos conteúdos são maiores. Elas servem tanto para você fazer anotações durante os seus estudos quanto para o professor incluir informações adicionais importantes. Esse material também dispõe de vários ícones de aprendizagem, os quais destacarão informações relevantes sobre os assuntos que você está estudando. Vejamos quais são eles e os seus respectivos significados: 6 ÍCONES DE APRENDIZAGEM Indica a proposta de aprendizagem para cada unidade da apostila. Mostra quais conteúdos serão estudados em cada unidade da apostila. Apresenta exercícios sobre cada unidade. Apresenta os conteúdos mais relevantes que você deve ter aprendido em cada unidade. Se houver alguma dúvida sobre algum deles, você deve estudar mais antes de entrar nas outras unidades. Apresenta a fonte de pesquisa das figuras e as citações presentes na apostila. Traz perguntas que auxiliam você na reflexão sobre os conteúdos e no sequenciamento dos mesmos. Apresenta curiosidades e informações complementares sobre um conteúdo. Traz endereços da internet ou indicações de livros que possam complementar o seu estudo sobre os conteúdos. Lembre-se também de verificar diariamente se há publicações de aulas no Portal. É por meio delas que os professores passarão a você todas as orientações sobre a disciplina. Ainda é bom lembrar que além do auxílio do professor, você também poderá contar com o acompanhamento de nosso sistema de Tutoria. Você poderá entrar em contato sempre que sentir necessidade seja pelo e-mail tutoria.ead@satc.edu.br ou pelo telefone (48) 3431 – 7590/ 3431 – 7596. Bom estudo! 7 UNIDADE 1 CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Objetivos de Aprendizagem Ao final desta unidade você deverá: explicar qual o significado da eficiência energética; explicar como aplicá-la. Plano de Estudos Esta unidade está dividida em cinco tópicos, organizados de modo a facilitar sua compreensão dos conteúdos. TÓPICO 1: EFICIÊNCIA ENERGÉTICA: INTERESSES COMUNS TÓPICO 2: A INDÚSTRIA ELÉTRICA NO BRASIL E O INGRESSO DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA TÓPICO 3: ENERGIA TÓPICO 4: AS LEIS DAS CONVERSÕES ENERGÉTICAS TÓPICO 5: CONSERVAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA 8 TÓPICO 1 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA: INTERESSES COMUNS Por intermédio do protocolo de Kyoto, os países industrializados aceitaram o acordo de reduzir as suas emissões de gases com efeito estufa em 5,2% até 2012, tendo por base o nível de emissões em 1990. Atualmente, a eletricidade é o fator que mais contribui para a emissão de gases com efeito estufa. Mais de 50% das emissões de CO2 são atribuídas ao consumo de eletricidade no meio residencial eedifícios de serviços. Além disso, com o aumento no consumo de eletrodomésticos, computadores, sistemas de entretenimento e condicionadores de ar o consumo de eletricidade cresce desfreadamente em relação à utilização de outras formas de energia. Essa tendência continuará, a não ser que façamos algo! O racionamento de energia elétrica em 2001, quando veio a público a crise do setor elétrico, fez crescer em todo o país o sentimento de economia dessa fonte. A necessidade de um sistema elétrico confiável e o aumento nas perdas de energia e pressões ambientais intensificaram as ações de eficiência energética na geração, distribuição e no consumo final. Medidas como as privatizações de parte das empresas do setor elétrico, imprimindo um caráter mais competitivo, mudaram o perfil do mercado. Uma empresa, cujo objetivo é vender energia elétrica, não tem nenhum interesse em trabalhar para reduzir o consumo. As ações de eficiência energética visam à redução de perdas e consequentemente o consumo de energia. Atividades de Projeto e Desenvolvimento (P&D) para o planejamento energético e o desenvolvimento científico e tecnológico apresentam retorno financeiro em longo prazo e não atraem empresas privadas. O parágrafo ao lado foi retirado do site: http://www.abepro. org.br/biblioteca/EN EGEP2004_Enege p0702_1061.pdf 9 As recentes medidas governamentais – como as novas regras do setor elétrico e o Plano do Governo Federal – trazem novas perspectivas. O objetivo é avaliar os impactos dessas medidas no âmbito industrial e levantar oportunidades para novos mercados. Esse estudo pode contribuir para o planejamento estratégico das organizações. O crescimento econômico, principalmente por meio de exportações, deve gerar trabalho e renda ao país. O Governo Federal, por meio da Política Pública de Eficiência Energética, mostra-se consciente dos seus desafios quanto às questões sociais, ambientais e investimentos em infraestrutura. Ele reconhece também que a crise que levou ao racionamento de energia elétrica, em 2001, trouxe perdas para o país, tanto para empresas como para a população em geral. Mas também encara como uma oportunidade para o desenvolvimento de ações de conservação, uma vez que a crise energética foi um alerta para o uso racional de energia. Veja a seguir as intenções governamentais com algumas ações já encaminhadas: trabalhar junto à população – por meio de cursos, marketing, campanhas, prêmios – visando a mudança de hábitos para gerar uma cultura de combate ao desperdício. Nesse sentido já existem alguns programas em escolas e junto a algumas empresas, por meio do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (PROCEL); ampliar a legislação e as orientações regulatórias sobre eficiência energética. Atualmente, a Lei 10295/2001 estabelece níveis máximos de consumo de energia ou mínimo de eficiência energética para aparelhos e máquinas fabricados ou comercializados no país. A novidade é a definição de mecanismos de 10 eficiência energética para edificações, a exemplo do que ocorre em alguns países. Outro aspecto a destacar é a exigência de níveis de eficiência energética em contratos de desempenho para empresas públicas, bem como no uso do poder de compra do Governo; aumentar a produtividade energética nos principais setores econômicos do país, por meio de capacitação, informação, marketing e principalmente financiamentos. Pretende-se agir no sentido de incentivar a substituição de equipamentos e de processos obsoletos. Aumentar a penetração do gás natural em substituição aos derivados do petróleo, reduzir a emissão de poluentes e inserir eficiência energética nas estratégias empresariais de controle da qualidade e produtividade; promover o desenvolvimento e a difusão de tecnologias inovadoras relacionadas ao uso racional de energia. As principais ações previstas são a expansão de laboratórios, o desenvolvimento de equipamentos energeticamente eficientes, o desenvolvimento de materiais e técnicas construtivas para edificações e a utilização do gás natural em veículos, residências, no comércio e em serviços; promover investimentos em eficiência energética no uso final, por meio de legislação e contratos de concessão de concessionárias, com aplicação de investimentos, aprimoramento de instrumentos de avaliação e melhoria do processo de fiscalização. Essas ações visam evitar algumas distorções quanto à aplicação de recursos em programas de eficiência energética, conforme a Lei 9991/2000. Algumas concessionárias, visando benefícios próprios, 11 priorizaram investimentos em iluminação pública, compartilhando investimentos com prefeituras ou investiram em melhoria de suas próprias instalações (JANNUZZI, 2000, p. 90); criar condições para relações comerciais sustentáveis, por meio de incentivos fiscais e tributários, preços e orientações. Pretende-se criar um modelo financeiro, inclusive, obrigando a análise da eficiência energética nos projetos candidatos a financiamento. Os profissionais, as Empresas de Serviços de Conservação de Energia (ESCO) e Empresas de Serviços de Energia (ESSE) serão certificados e terão qualificação técnica de projetos; trabalhar a eficiência energética no planejamento energético por intermédio de modelos e softwares. Cenários serão analisados e metodologias de conservação de energia serão desenvolvidas, comparando-se custos de geração com custos de programas de eficiência energética. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), criada a partir da Lei 10857/2004, deve trabalhar também nesse sentido. Os estudos da EPE devem subsidiar o planejamento e a política energética nacional; incentivar a participação de empresas em projetos de eficiência energética enquadrados no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, para obtenção de Reduções Certificadas de Emissões (RCE). Deve ser trabalhado na divulgação do mercado de RCE e proposição de mecanismos de financiamento com a contrapartida dessa certificação. O Brasil, a exemplo de outros países, também é signatário do protocolo de Kyoto, firmado no Japão em 1997. Em função disso, tem compromisso de reduzir emissões de 12 carbono, visando minimizar o efeito estufa e suas consequências danosas ao clima do planeta; otimizar o uso de insumos energéticos por meio de geração distribuída, com informações, regulamentação, incentivos fiscais e financiamentos. Devem ser feitos estudos para regulamentação da geração distribuída – como energia eólica, fotovoltaica, pequenas hidroelétricas ou uso de biomassa para gerar energia elétrica. A cogeração – geração própria de eletricidade – também deve ser incentivada. A cogeração e a geração distribuída são localizadas próximas aos consumidores, evitando custos com transmissão. O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA), instituído pela Lei 10438/2002 e modificado pela Lei 10762/2003, visa à diversificação da matriz energética brasileira. O Programa busca incentivar o investimento em soluções em energias renováveis, como eólica, biomassa e pequenas centrais hidroelétricas; promover o uso racional de energia nos programas sociais do Governo Federal, por meio de articulação, informação e projetos pilotos. Deve ser trabalhada a sensibilização, bem como a melhoria de equipamentos utilizados em zonas carentes. São previstos também critérios de eficiência energética em programas nacionais de saneamento e habitação; estabelecer alianças estratégicas entre os diversos agentes, por meio de uma rede de agentes: setor público, concessionárias, consumidores, fabricantes de equipamentos, ESCO e ESE. 13 Conforme dispõe a Lei 9.991 de 24 de julho de 2000, as empresas concessionárias ou permissionárias de energia elétricadevem aplicar o percentual de 0,5% da sua receita operacional líquida anual em Programas de Eficiência Energética, segundo regulamento da Agencia Nacional de Energia Elétrica – ANEEL. TÓPICO 2 A INDÚSTRIA ELÉTRICA NO BRASIL E O INGRESSO DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Breve Histórico da Indústria do Setor Elétrico Desde primórdios, quando o homem aprendeu a usar o fogo como fonte de calor e luz, a ciência evoluiu muito até chegar na energia elétrica. Durante o século XIX surgiram as lamparinas de azeite e de óleo, que evoluíram para lampiões de acetileno. Já em 1831, tanto Michael Faraday, no Reino Unido, como Joseph Henry, nos Estados Unidos, demonstraram, cada um a seu modo, mas ao mesmo tempo, a possibilidade de transformar energia mecânica em energia elétrica. O gerador de Faraday produzia corrente contínua a partir de um disco de cobre, que girava no campo magnético formado pelos polos de um imã de ferradura. Henry obteve corrente alternada valendo-se de um gerador com imãs e enrolamento de fio numa armadura de ferro. Somente cerca de 50 anos depois das experiências de Faraday e Henry foram obtidos geradores comercialmente aproveitáveis. Tais conquistas devem-se às contribuições de Thomas Edison, Edward Weston, Nikola Tesla, John Hopkinson e Charles Francis Brush. O Trabalho conjunto desses inventores e processos conduziram à invenção da lâmpada elétrica (1870) e a construção da primeira central de energia elétrica com sistema de distribuição (1872), contribuindo para a instalação da Indústria do Setor Elétrico (ISE), no fim do século XIX. 14 A fase inicial da ISE foi marcada por debates quanto à alternativa tecnológica a ser adotada, a de corrente contínua ou a de corrente alternada. Thomas Edison defendia a geração em plantas de pequeno porte, voltadas a atender mercados locais, enquanto Westinghouse propunha a construção de centrais de grande porte e o transporte da energia gerada até os mercados locais, utilizando redes de distribuição. O transporte da energia elétrica desse período se dava em baixa voltagem, o que provocava elevadas perdas de energia, encarecendo o custo do transporte em função da distância. A utilização da corrente alternada ofereceu a alternativa tecnológica de elevação da tensão para o transporte e sua posterior redução para o consumo, reduzindo, consequentemente, as perdas no transporte, bem como maior cobertura geográfica do fornecimento de energia elétrica, incrementando sua demanda e possibilitando economias de escala na geração de energia. Em termos tecnológicos, a geração de energia a dínamo, que produzia corrente contínua, foi substituída pela corrente alternada gerada a partir de turbinas a vapor, cujas inovações nas áreas de caldeiraria resultaram na elevação da temperatura e da pressão do vapor utilizados nas turbinas, o que gerou ampliação de escala e melhoria no rendimento térmico das centrais elétricas, reduzindo custos de geração. Desde as primeiras centrais de geração até hoje, muito se evoluiu em termos tecnológicos, adotando-se diversas alternativas de geração de energia: geração térmica a vapor, a gás, a carvão, a óleo combustível, geração hidráulica, geração nuclear, geração eólica, entre outras. É importante que todo o mercado de energia elétrica esteja interconectado em face dos benefícios econômicos que proporciona, tais como redução da demanda de ponta agregada do sistema, redução nos custos de construção das centrais, economias de escala, redução dos custos operacionais, maior eficiência no consumo de combustível (usinas térmicas), 15 otimização do despacho de energia (conforme as diferentes tecnologias empregadas na geração), melhoria na qualidade do sistema, maior confiabilidade e estabilidade do sistema e uniformização de normas técnicas. A trajetória brasileira decorre de iniciativas do meio do século XIX, com o carvão mineral importado se constituindo como fonte de energia para transportes, algumas indústrias e iluminação. Até a década de 30, a presença do Estado no setor elétrico foi bastante limitada, se resumindo a algumas medidas isoladas de regulamentação. Em 1934, foi promulgado o Código de Águas, que atribuiu à União o poder de autorizar ou conceder o aproveitamento de energia hidráulica e estabeleceu a distinção entre a propriedade do solo e a propriedade das quedas d’água e outras fontes de energia hidráulica para efeito de aproveitamento industrial. Todos os recursos hídricos foram incorporados ao patrimônio da União. A década de 40 se caracterizou pelo choque entre as correntes favoráveis à nacionalização do setor elétrico e aquelas mais liberais, que defendiam o capital estrangeiro. Após a Segunda Guerra Mundial, a demanda começou a ultrapassar a oferta de energia elétrica, em decorrência do crescimento da população urbana e do consequente avanço da indústria, do comércio e dos serviços, iniciando um período de racionamento de energia nas principais capitais brasileiras. Nesse período, os governos federal e estaduais se aliaram na reorganização do sistema elétrico em bases estatais. Foram criadas a Comissão Estadual de Energia Elétrica (CEEE), no Rio Grande do Sul em 1943, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF), em Pernambuco, no ano de 1946 e as Centrais Elétricas de Minas Gerais (CEMIG), em Minas Gerais, em 1952, marcando o início de um novo estágio no desenvolvimento do setor elétrico brasileiro. 16 Ao longo da década de 50, praticamente todos os estados da federação constituíram empresas estatais de energia elétrica a partir da absorção das empresas estrangeiras. Com a constituição da Centrais Elétricas Brasileiras (S.A – ELETROBRÁS), em 1961, foi delineada a estrutura do setor elétrico brasileiro, que vigorou até meados da década de 90, quando se deu início à reestruturação do setor. Fruto dessa longa construção, o parque gerador do setor elétrico brasileiro, hoje é composto por 91% de geração hidrelétrica e 9% de geração térmica. Cenário Elétrico Brasileiro O consumo de energia elétrica no país deve cair 1,5% em 2015, em comparação com o ano passado, segundo novas projeções divulgadas no dia 17 de julho de 2015, pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e pelo Operador Nacional do Sistema (ONS). Espera-se ainda uma queda de 1,8% na carga (consumo + perdas) movimentada pelo Sistema Interligado Nacional (SIN). A projeção anterior do ONS, divulgada em maio de 2015, era de alta de 0,2% no consumo, mas o órgão já havia adiantado que poderia rever os números antes de setembro. A projeção para o consumo industrial é de uma retração de 4,3% e no consumo residencial uma queda de 0,1%. Para o consumo comercial, a estimativa é de alta de 1,4%. Em termos absolutos, a nova projeção da carga em 2015 é inferior em 1.185 MW médios à registrada em 2014. Para o período entre 2015 - 2019, a previsão é de uma taxa média de crescimento de 3,6%. 17 A alta no consumo também leva em consideração a crise que diminuiu a demanda da indústria por energia elétrica em 2009. Com o crescimento econômico esperado para o próximo ano, essa demanda também deve voltar a subir. Ainda segundo a EPE, se o crescimento brasileiro mantiver a média de 5% ao ano a partir de 2011, o consumo de energia deverá crescer 5,2% ao ano até 2018. TÓPICO 3 ENERGIA No século IV AC, Aristóteles em sua obra Metafísica identificava energia como uma realidade em movimento. Na acepção moderna, energia corresponde essencialmente a um conceito desenvolvido a partir de meados do século XIX, tendo sido criado juntamente com a termodinâmica e utilizado atualmente para descrever uma ampla variedade de fenômenos físicos. A definição mais usual, que quase corresponde ao senso comum e é encontrada em muitos livros, afirma que “energia é a medida dacapacidade de efetuar trabalho” . Entretanto, a rigor, esta definição não é totalmente correta e aplica-se apenas a alguns tipos de energia, como a mecânica e a elétrica, que, em princípio, são totalmente conversíveis em outras formas de energia. Esse modo de se definir energia perde o sentido ao ser aplicado ao calor, pois essa forma de energia é apenas parcialmente conversível em trabalho, como se verá adiante. De fato, quando está a temperaturas próximas à do ambiente, o calor pouco vale como trabalho. E, portanto, a definição anterior não é completa. Leia mais sobre este assunto no site: http://g1.globo.com/econo mia/noticia/2015/07/epe- e-ons-projetam-queda- de-15-no-consumo-de- energia-em-2015.html 18 Em 1872, Maxwell propôs uma definição que: “energia é aquilo que permite uma mudança na configuração de um sistema, em oposição a uma força que resiste a esta mudança”. Esta definição refere-se as mudanças de condições, a alterações do estado de um sistema e inclui duas ideias importantes: as modificações de estado implicam em vencer resistências e é justamente a energia que permite obter essas modificações de estado. Assim, para elevar uma massa até uma determinada altura, aquecer ou esfriar um volume de gás, transformar uma semente em planta, converter minério em ferramentas, jogar futebol, ler este texto, sorrir, enfim, qualquer processo que se associe a alguma mudança implica em se ter fluxos energéticos. Cabe observar que na terminologia termodinâmica denomina-se sistema à região de interesse, delimitada por uma fronteira, que pode existir fisicamente ou ser uma superfície idealizada, que a separa do ambiente, que nesse caso significa tudo aquilo que está fora da região de interesse. Dessa forma, o universo, o todo, resulta da soma do sistema com o ambiente. Por ser um conceito tão fundamental, definir energia é sem dúvida mais difícil e menos importante do que sentir e perceber sua existência, como a causa e a origem primeira de todas as mudanças. Não obstante, depois que aprendemos sua definição Esta figura foi retirada do site: http://www.bbc.co. uk/arts/yourpaintin gs/paintings/james -clerk-maxwell- 18311879-fellow- physicist-134688 Este texto teve com base o site: https://www.passe idireto.com/arquiv o/6318444/conser vacao_de_energi a/8 http://ichef.bbci.co.uk/arts/yourpaintings/images/paintings/tric/large/cu_tric_p_38_large.jpg 19 mais abrangente e rigorosa, como visto acima, passa a ser um pouco mais simples entender as permanentes mudanças que acontecem em nosso mundo e suas regras. Boa parte das leis físicas que governam o mundo natural são no fundo variáveis das leis básicas dos fluxos energéticos, as eternas e inescapáveis leis de conservação e dissipação, que estruturam todo o Universo, desde o micro ao macrocosmo. Um conceito frequentemente associado à energia é o da potência, que corresponde ao fluxo de energia no tempo, de enorme importância ao se tratar de processos humanos e econômicos, no qual o tempo é essencial. Por exemplo, a taxa na qual um material é oxidado pode levar a uma grande diferença, desde representar a possibilidade de sua utilização como combustível ou apenas a formação lenta de um resíduo, como é o caso, respectivamente, da queima de madeira e da formação da ferrugem. Ambos são processos energéticos, mas de sentido totalmente diverso devido às distintas taxas ou velocidades nas quais ocorrem. Em geral, estamos preocupados em atender uma dada demanda energética, medida em kWh, kJ ou kcal, mas sob uma imposição de tempo, ou seja, com dado requerimento de potência, avaliada em kW. Em princípio, qualquer capacidade instalada poderia atender qualquer necessidade de energia, desde que lhe seja dado tempo suficiente, o que evidentemente não atende às necessidades impostas pela realidade. Ambiente É compreendido como todo e qualquer espaço, seja ele natural ou construído pelo homem, no qual ocorrem as interações que permitem a vida. Essas interações estabelecem uma interdependência entre os seres vivos e também destes com os elementos abióticos, como, por exemplo, o ar, o clima, etc. Como consequência dessa interdependência, qualquer prejuízo ao ambiente compromete as formas de vida nele 20 existentes. Educação Ambiental É o processo educativo voltado para desenvolver conhecimentos e hábitos que levem em conta o respeito ao ambiente. É a forma de garantir uma boa qualidade de vida, tanto para as atuais, como para as futuras gerações. Tendo-se a clareza de que os recursos naturais não são inesgotáveis, o combate ao desperdício passa a ser um de seus objetivos fundamentais. Qualidade de Vida Conjunto de parâmetros que determina as condições de vida de uma pessoa, proporcionando-lhe bem estar físico e mental e satisfação pessoal. Ar puro, saneamento básico, consumo de energia, moradia, segurança, trabalho, lazer e acesso aos bens de consumo são, entre outros, parâmetros que nos permitem avaliar a qualidade de vida de um indivíduo. A qualidade de vida está diretamente ligada à qualidade do ambiente. Cuidar do ambiente pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida de muitos. Energia É a capacidade de realizar trabalho. Para a realização de qualquer tarefa é necessário fazer uso de uma capacidade interna ou externa ao homem, que chamamos de energia. Ou, ainda, “aquilo que permite a mudança na configuração de um sistema, vencendo a força que se opõe a essa mudança” (Maxwell – 1872). 21 Uso Eficiente de Energia Elétrica Conceito de conteúdo tecnológico voltado para a utilização de processos e equipamentos que tenham o melhor desempenho na produção dos serviços com um menor consumo de eletricidade. Utilizando-se, por exemplo, equipamentos eficientes, estaremos contribuindo para o combate ao desperdício de eletricidade. Racionamento de Energia O conceito mutilador da qualidade de vida tem duração determinada e é implantado em situações emergenciais quando há crise de abastecimento de energia, por algum motivo qualquer. Conservação de Energia O PROCEL, sendo um programa de conservação de energia, nada tem a ver com racionamento de energia. Ao PROCEL interessa combater o desperdício de energia por meio da mudança de hábitos e do uso eficiente de energia. Vale a pena tecer mais reflexões sobre esta palavra que traduzida do inglês, tem significado dúbio: conceito socioeconômico que traduz a necessidade de se retirar do planejamento da expansão do sistema elétrico a componente referente ao desperdício. Isso permite a redução dos investimentos no setor elétrico, sem comprometer o fornecimento de energia e a qualidade de vida. Como Conservar a Energia? Dois caminhos: 1) vertente humana: o cidadão recebe informações Este texto teve com base o site: http://www.ebah.com .br/content/ABAAAA bisAF/conservacao- energia?part=4 22 compatíveis, que o auxiliam a se inserir no contexto da nova situação, induzindo-o à mudança de hábitos, atitudes e futura mudança de comportamento; 2) vertente tecnológica: através de treinamento específico, o técnico é inserido nas questões da eficiência energética, entrosando-se com novas técnicas e tecnologias, tanto de equipamentos como de processos, reduzindo significativamente o consumo de energia de uma instalação, sem comprometer o produto final. TÓPICO 4 AS LEIS DAS CONVERSÕES ENERGÉTICAS Conversão de Energia A figura abaixo tem como objetivo ilustrar as possíveis conversões das diversas formas de energia existentes em nosso planeta. Nota-se pela figura, que as energias principais são a térmica, a elétrica e mecânica e cada uma se relaciona e permite a conversão de uma para a outra. Nas linhas pontilhadas é possível a conversão,mas este processo com o tempo não é viável economicamente. Observe: 23 Eficiência Energética De acordo com a Primeira Lei da Termodinâmica, a energia total num sistema isolado é constante e, conforme a Segunda Lei, a entropia de um sistema isolado tende a um máximo. A eficiência energética de um processo pode ser medida em termos da Primeira ou da Segunda Lei. Pela Primeira Lei, a eficiência é a razão entre a energia que sai do processo e a energia que entra nele. Já pela Segunda Lei, o quadro é diferente e a eficiência pode ser definida como a razão entre a energia mínima teoricamente necessária para a realização de um processo e a energia efetivamente usada no processo. A figura ao lado foi retirada do livro Fundamentos de Eficiência Energética. Este assunto deve ser lido com muita atenção! 24 Nem sempre uma disponibilidade energética está na forma como se necessita, mas, felizmente, a energia pode ser convertida e armazenada. Na acepção mais geral, os sistemas energéticos constituem-se de uma sequência de processos, por meio dos quais progressivamente obtém-se, converte-se e, eventualmente, armazena-se energia da natureza, visando sua adequação em termos de tempo e disponibilidade para atender aos diversos usos na sociedade. Conforme sua posição nesta sequência de processos, podem ser definidos alguns tipos de energia, como os tópicos: energia primária: é fornecida pela natureza, como a energia hidráulica, petróleo ou lenha, podendo ser usada diretamente ou convertida em outra forma energética antes de uso; energia secundária: corresponde à energia resultante de processos de conversão, no âmbito do setor energético, visando aumentar sua densidade energética, facilitar o transporte e armazenamento e adequação ao uso, como a eletricidade, derivados de petróleo, álcool, carvão vegetal, etc. Eventualmente a energia secundária pode ser ainda convertida novamente em outras formas de energia secundária, como é o caso do óleo diesel utilizado em centrais elétricas; energia útil: corresponde à forma energética efetivamente demandada pelo usuário, devendo ser algum fluxo energético simples, como calor de alta e baixa temperatura, iluminação, potência mecânica, etc. A relação entre a energia útil e a demanda correspondente de energia secundária depende da eficiência do equipamento de uso final, como uma lâmpada ou um motor. 25 Vantagens da Eficiência Energética O uso de programação de eficiência energética traz diversos benefícios, destacando-se: geração de empregos; aumento da produtividade e competitividade nas empresas; impacto positivo na economia e macroeconomia; diminui emissões e impactos ao meio ambiente; melhoria em processos e equipamentos; diminui a ponta do sistema para as concessionárias. Barreiras para a Eficiência Energética Infelizmente, existem diversas barreiras a serem ultrapassadas antes de se implantar um programa de eficiência energética, que são: nas ameaças de racionamentos, algumas empresas temem em reduzir a sua ficando com uma parcela reduzida de energia que lhes permitem continuar a produção; os preços de equipamentos mais eficientes tendem a serem maiores; muitas empresas querem o retorno em curto prazo de seus investimentos em eficiência energética (de 6 a 8 meses), o que as vezes não acontece; o mito da energia farta e barata; falta de pessoal capacitado para operar nesse mercado; falta de normalização em alguns seguimentos. 26 Auditoria Energética Podemos expressar que é o exame detalhado das condições de utilização de energia nas instalações, permitindo conhecer: onde; quando e; como a energia é utilizada. Como estão as condições dos equipamentos e onde se encontram os desperdícios de energia, propondo igualmente soluções para as anomalias registradas. Embora a palavra auditoria nos lembre de imediato a auditoria contábil e financeira, a auditoria energética difere destas por ser mais ampla e ter por objetivo a identificação e solução de possíveis problemas e a busca da racionalização do uso dos energéticos. Como ponto de partida, a auditoria inicia-se pelo conhecimento da atual realidade energética de um estabelecimento industrial ou comercial com relação aos gastos diretos via concessionária de energia elétrica. Quando deparado com tal situação, é necessário estabelecer as prioridades e implementar as melhorias minimizando as perdas acompanhando os resultados de forma contínua, levando os custos de investimentos nas mudanças propostas e apresentando o tempo de retorno dos investimentos. Etapas de uma Auditoria Energética 1. Levantamento das informações necessárias em relação às instalações (idade do prédio, temperatura ambiente); 2. Levantamento da matriz energética da instalação; 27 3. Estudo de viabilidade econômica das modificações propostas; 4. Verificação dos resultados esperados. Relatório de Auditoria Energética Empresa (localização, indicação básica dos processos); Estudos energéticos (diagrama, características, estudo das perdas); Sistemas elétricos: a) levantamento da carga elétrica instalada; b) análise das condições de suprimento (qualidade do suprimento, fator de potência, sistema de transformação); c) estudo do sistema de distribuição de energia elétrica (desequilíbrio de corrente, variações de tensão, estado das conexões elétricas); d) estudo do sistema de iluminação (luminotécnica, análise do sistema de iluminação, condições de manutenção); e) estudos dos motores elétricos e outros usos finais. Sistemas térmicos e mecânicos: a) estudo do sistema de ar condicionado e exaustão (tipo de sistema, nível de temperatura medidos e de projeto, distribuição de ar); b) estudo do sistema de geração e distribuição de vapor (desempenho de caldeira, perdas térmicas, condições de manutenção e isolamento); c) estudo do sistema de bombeamento e tratamento de água; 28 d) estudo do sistema de refrigeração (resfriamento e congelados, tipos de sistema, nível de temperatura medidos e de projeto); e) estudos de fornos (perdas térmicas, isolamento, fonte de energia utilizada). Balanços energéticos; Análise de racionalização de energia; Levantamento dos índices energéticos da edificação; Recomendações; Conclusões; Anexos (figuras, esquemas, tabelas de dados). Condições Básicas para uma Auditoria Energética Para se iniciar uma auditoria energética, é necessário primeiramente conhecer as necessidades e as características da edificação onde se situa a empresa. Para isso é recomendável possuir as seguintes informações: consumos mensais de água, energia elétrica e combustível, no período mínimo de um ano; plantas, desenhos e esquemas detalhados da edificação; temperaturas e pressão nos principais pontos, valores medidos e de projetos; características elétricas dos equipamentos e valores medidos associados; instrumentação necessária recomendada para cada caso; perspectivas de alterações no processo. 29 TÓPICO 5 CONSERVAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA Introdução A aprovação da “Lei de Eficiência Energética” (Lei nº 10.295 de 17.out.2001 – BRASIL, 2001b), cuja tramitação no Congresso Nacional iniciou em 1990, vem instituir a etiquetagem obrigatória no Brasil, mecanismo de reconhecida eficácia para melhorar o uso eficiente de energia. O primeiro equipamento a ser regulamentado foi o motor elétrico trifásico, por meio do Decreto 4.508, de 11.dez.2002 (BRASIL, 2002). Programas de Etiquetagem (como o Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) e Padronização (agora aqui introduzido com a Lei de Eficiência Energética) são técnicas consagradas e hoje adotadas emmais de 25 países. Ance to Save Energy (the Alliance) e o International Institute for Energy Conservation (IIEC), com apoio da USAID e UNF, possuem o fim de ajudar os países em desenvolvimento a estabelecer programas de etiquetagem e padronização, incluindo o seu projeto, implementação e cumprimento. Os programas de etiquetagem obrigatória foram desenvolvidos paralelamente aos padrões. Em 1976, a França introduziu uma etiquetagem comparativa obrigatória para aparelhos de aquecimento, boilers, aquecedores de água, refrigeradores, máquinas de lavar, televisões e máquinas de lavar louça. Japão, Canadá e EUA logo seguiram essa tendência, com programas para esses e outros produtos. O programa de etiquetagem americano, promulgado em 1975, tornou-se efetivo em 1980, para os principais equipa- mentos residenciais, com o nome de EnergyGuide. Não houve outros programas de etiquetagem obrigatória até que a Austrália adotou o seu em 1987. O programa australiano, como os outros oito maiores que foram criados na década de 1990 em todo o Este tópico teve como base o livro Eficiência Energética: Fundamentos e Aplicações. 30 mundo, também cobria os principais equipamentos residenciais (Duffy 1996), (CLASP, 2001, p. 16). A eficiência energética é, hoje, uma questão crucial para a humanidade. Geller (2003, p.2), em seu último livro Energy Revolution, afirma que “as atuais fontes de energia e padrões de uso são insustentáveis. O consumo cada vez maior de combustíveis fósseis causará enorme dano ao meio ambiente, riscos sem precedentes à mudança do clima e esgotará rapidamente as reservas de petróleo”. Não é uma mensagem pessimista, pois logo adiante acrescenta que uma “revolução energética” é possível e desejável. Enfatizando-se uma eficiência energética muito maior e ganhando-se confiança nas energias renováveis, todos os problemas relativos aos atuais padrões de uso de energia e suas tendências podem ser mitigados (GELLER, 2003). A tabela abaixo aponta questões sobre racionalização e racionamento, observe: Os Programas de Etiquetagem e Padronização Etiquetas visam dar ao consumidor informações sobre o desempenho energético do produto, como as já tão conhecidas do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), mostradas na tabela acima. Observe a figura abaixo: 31 As etiquetas podem ser: endosso: são apenas “selos de confirmação”, assegurando a conformidade frente a determinado critério; comparação: como as do PBE, nas quais o consumidor compara o desempenho energético do produto em questão com outros disponíveis no mercado; informação: na qual apenas informações de consumo são apresentadas. Esta figura foi retirada do site do Inmetro. 32 Programas de padronização são métodos que estabelecem o desempenho energético de um equipamento, podendo proibir a venda dos que estão abaixo de determinado índice. Há também três tipos de padronização: padrões prescritos: exigem a instalação de determinado dispositivo ou característica no equipamento; padrões de índices mínimos de desempenho: exigem um índice mínimo de eficiência energética (ou máximo de consumo) em cada equipamento comercializado, sem se ater à tecnologia ou dispositivos usados – este é o caso da nossa Lei de Eficiência Energética; padrões médios: estabelecem índices médios de eficiência energética por tipo de produto fabricado, cabendo ao fabricante escolher os modelos e respectivas performances, desde que a média seja atingida. Essa abordagem dá margem ao fabricante de se adaptar gradativamente. Os primeiros programas de etiquetagem e padronização apareceram nos anos 60, mas somente no fim dos anos 70 s se tornaram efetivos, com fortes impactos na fabricação de equipamentos e consumo de energia. Hoje, mais de 25 países adotam programas para algum equipamento. Pode ser considerado um instrumento de boa eficácia para se melhorar o índice de eficiência energética, desde que bem aplicado – o que exige certos cuidados. O que se espera é que os custos com o programa sejam bem menores que o custo da energia evitada – um bom exemplo de sucesso é a implementação de padrões de eficiência energética nos EUA no setor residencial, que resultou em 2010, numa economia de mais de 5% do consumo, com uma relação custo-benefício de 3,5 a 4,4%. 33 Isoladamente, a experiência mostra que os programas obrigatórios conseguem melhores resultados, já que o consumidor pode comprar um equipamento ineficiente inadvertidamente. O estabelecimento dos índices mínimos pode ser feito com duas abordagens básicas: a. estatística: na qual apenas se analisam os modelos existentes e respectivas performances, buscando um ponto ideal que remova os menos eficientes; b. engenharia: neste caso, buscam-se as melhorias técnicas que podem ser feitas nos modelos menos eficientes e sua relação custo-benefício. O sucesso de um programa de etiquetagem ou padronização requer a combinação de vários fatores. Observe os passos abaixo: a. decisão: devem ser considerados fatores culturais, institucionais e políticos para garantir credibilidade ao programa. Culturais, porque o programa deve ter respaldo perante o consumidor; institucionais, porque tem que haver uma estrutura que garanta os testes de conformidade e políticos, porque há interesses diversos envolvidos (interessa ao país maximizar a eficiência energética; aos laboratórios, conseguir ter o máximo de acesso à fabricação; aos fabricantes, investir o mínimo possível e gastar o mínimo com a certificação; ao comércio, ter um preço acessível aos consumidores). É preciso, também, estimar-se o impacto do programa no consumo de energia, nos preços, nos fabricantes e importadores e no desenvolvimento de tecnologias a serem incorporadas aos equipamentos. Observe o fluxograma que segue: 34 b. teste: é fundamental que se possam comprovar os índices estabelecidos e fabricados, o que requer uma estrutura de laboratórios de teste confiável. No Brasil, o INMETRO mostra-se à altura desta tarefa; c. etiquetas e padrões: existem, como já comentado, vários tipos de etiquetas e padrões que devem ser cuidadosamente selecionados, de acordo com o universo de fabricantes, instituições, hábitos do consumidor, credibilidade e ganhos a obter; d. manutenção: uma vez levado a campo, é preciso que o programa seja obedecido para não perder credibilidade; e. avaliação: é preciso avaliar constantemente o impacto do programa junto ao público, aos fabricantes e às instituições participantes, de modo O fluxograma ao lado foi adaptado a partir de Clasp, 2001, p. 19. 35 que seja constantemente atualizado para produzir o ganho que dele se espera. Metas do Procel O Procel define como 11% a meta de conservação de energia elétrica no uso final até 2015, em função do aumento da eficiência energética nos aparelhos elétricos utilizados. Recomendações para a Eficiência Energética Um livro que se tornou básico na literatura de eficiência energética no Brasil, resultado de um trabalho que começou em 1983-4 e terminou em 1989-90, tendo sido a primeira edição, em inglês, publicada em 1991, foi “O Uso Eficiente da Eletricidade: Uma Estratégia de Desenvolvimento para o Brasil”, de Howard Geller (1994). As principais recomendações incluíam: a. medidas de baixo custo: assim consideradas as com retorno médio de dois anos, embora de aplicação dubitável. Destacam-se: o uso de lâmpadas ou luminárias mais eficientes: no entanto, raramente esta medida tem retorno abaixo de dois anos, normalmente na indústria, onde o custo da energia é mais baixo; a substituição de motores superdimensionados: uma das medidas mais comuns cerca de 35% dos motores operavam com carregamentoabaixo de 60%, o que reduzia bastante sua eficiência. Não se cogita, estranhamente, de, ao substituir, o fazer por motor de alto rendimento; Leia mais sobre este assunto no site: http://www.procelinfo.co m.br/main.asp 36 a substituição de linhas sobrecarregadas: Esta medida se justifica pelo aspecto da segurança, dificilmente sendo viável apenas pela economia de energia; o ajuste ou a substituição de transformadores sobrecarregados: provavelmente o termo correto seja subcarregado, situação mais comum na indústria. Em quaisquer das situações, também uma medida, em geral, não viável economicamente; a correção do fator de potência baixo: não representa economia de energia ativa significativa, embora economicamente viável, com retorno, em geral, abaixo de um ano; a correção da corrente irregular em diferentes fases: isto é devido, em geral, à diferença da reatância indutiva para circuitos com cabos unipolares cuja correção, em circuitos com longo tempo de instalação, não é trivial, embora cause perdas significativas; a redução dos picos de carga: esta medida tem mais efeito na redução da demanda, mas não economiza energia propriamente; o fornecimento de sistemas adequados de proteção: medida de segurança; o aperfeiçoamento dos sistemas de transmissão entre motores e os equipamentos acionados. b. motores eficientes: à época do primeiro estudo de Geller, no final da década de 80, os motores de alto rendimento tinham sido lançados há pouco tempo. Os cálculos realizados indicavam um potencial de economia de 3% da eletricidade consumida no setor 37 industrial com uma suposição que os motores trifásicos abaixo de 200 cv seriam responsáveis por 80% do consumo do setor; c. controle de velocidade em motores: embora reconhecendo a dificuldade da estimativa, chegou- se a cerca de 8% do consumo industrial; d. fornos e caldeiras elétricas: com grande incerteza, estimou-se em 10% a redução de energia possível. e. iluminação: o potencial estimado foi de 50%; f. processo eletrolítico: o setor de alumínio estima uma redução possível de 6,5%, e o setor de soda- cloro estava fazendo bastante progressos; g. cogeração: a utilização conjunta de calor e geração de eletricidade pode levar a uma economia global de energia, além do aproveitamento de resíduos do processo, como bagaço de cana. Não é, entretanto, uma economia de eletricidade. Baseado neste estudo, Geller projetou três cenários de consumo do setor industrial (cuja discussão não cabe neste estudo) e estima a economia de energia possível. Recursos Energéticos Denominam-se recursos energéticos as reservas ou fluxos de energia dispo níveis na natureza e que podem ser usados para atender às necessidades humanas, podendo ser classificadas essencialmente como recursos fósseis ou como recursos renováveis. No primeiro caso, referem-se aos estoques de materiais que armazenam energia química, acumulada primariamente a partir da radiação solar em épocas geológicas, como é o caso do petróleo, carvão mineral, turfa, gás natural, xisto betuminoso, bem como podendo acumular energia atômica na forma de material físsil, por exemplo o urânio e o tório. 38 Recursos Naturais Renováveis Origem em fontes inesgotáveis (sol, ventos), em grandes ciclos físicos (água) ou em sistemas biológicos (animais e plantas). Renovam-se sem a intervenção humana. Recursos Naturais Não Renováveis Porção finita do ambiente natural; Não se renovam em escala de tempo humana ou histórica; Levam milhões de anos para se formar; Minerais, carvão, petróleo, gás natural; Distribuem-se desigualmente pelo Brasil. Fontes de Energia São substâncias que podem ser transformadas em outras formas de energia: não-renováveis: carvão mineral, petróleo, energia nuclear (urânio, tório e plutônio); renováveis: hidrelétrica, eólica, solar, maremotriz (marés), biomassa (bagaço da cana, casca de arroz, licor negro, lenha), geotérmica (gêiseres). 39 EXERCÍCIOS 1. Hoje nos deparamos com efeitos climáticos que ocorrem por culpa do homem. Para que a situação não piore, estão sendo discutidas várias práticas saudáveis para amenizar a situação atual e uma delas é a eficiência energética. Partindo dessa realidade, quais as vantagens quando implantado um sistema de eficiência energética? ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 2. Qual a função do PROCEL junto à eficiência energética no Brasil e o que significa a palavra PROCEL? _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ 40 CHECK LIST Nessa unidade você pôde aprender: qual o significado de utilizar de forma correta os recursos energéticos; identificar melhorias que poderão ser aplicadas em nosso dia a dia; saber que existem programas destinados a combater o desperdício de energia. 41 UNIDADE 2 TARIFAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA Objetivos de Aprendizagem Ao final desta unidade você deverá: explicar o sistema de tarifação; saber o que está sendo pago numa fatura de energia elétrica; aplicar as melhorias previstas na unidade consumidora. Plano de Estudos Esta unidade está dividida em três tópicos, organizados de modo a facilitar sua compreensão dos conteúdos. TÓPICO 1: HISTÓRICO TÓPICO 2: NOÇÕES GERAIS SOBRE FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA TÓPICO 3: FATOR DE CARGA (FC) 42 TÓPICO 1 HISTÓRICO Várias medidas de eficientização e otimização energética não são implantadas pelos consumidores responsáveis devido aos elevados custos envolvidos quando comparados aos possíveis decréscimos nas faturas de energia elétrica. Estas apresentam a quantia total que deve ser paga pela prestação do serviço público de energia elétrica, referente a um período especificado, discriminando as parcelas correspondentes. Assim, compreender a estrutura tarifária e como são calculados os valores expressos nas notas fiscais de energia elétrica é um parâmetro importante para a correta tomada de decisão em projetos envolvendo conservação de energia. A análise dos elementos que compõem essa estrutura, seja convencional ou horosazonal, é indispensável para uma tomada de decisão quanto ao uso eficiente da energia. A conta de energia é uma síntese dos parâmetros de consumo, refletindo a forma como a mesma é utilizada. Uma análise histórica, com no mínimo 12 meses, apresenta um quadro rico de informações e torna-se a base de comparação para futuras mudanças, visando mensurar potenciais de economia. Nesse sentido, o estudo e o acompanhamento das contas de energia elétrica tornam-se ferramentas importantes para a execução de um gerenciamento energético em instalações. Além disso, o resultado da análise permite que o instrumento contratual entre a concessionária e o consumidor torne-se adequado às necessidades deste, podendo implicar em redução de despesas com a eletricidade. O sistema tarifário de energia elétrica é um conjunto de normas e regulamentos que tem por finalidade estabelecer o valor monetário da eletricidade para as diferentes classes e subclasses de unidades consumidoras. O órgão regulamentador do sistema tarifário vigente é a Agência Nacional de Energia Elétrica Este título foi baseado no site: https://www.elektro.com.br/Med ia/Default/DocGalleries/Eficienti za%C3%A7%C3%A3o%20Energ%C3%A9tica/Livro_Eficiencia _Energetica.pdf 43 (ANEEL), autarquia sob regime especial, vinculada ao Ministério das Minas e Energia (MME). Ao longo da história do setor elétrico brasileiro as questões tarifárias, por um motivo ou outro, sempre estiveram presentes, quer seja do lado do consumidor, preocupado com os pagamentos de suas contas mensais, quer seja do lado das empresas concessionárias de energia elétrica, preocupadas com o fluxo de caixa, equilíbrio econômico-financeiro e rentabilidade dos seus negócios. Para os consumidores a tarifa pode servir como um sinal econômico, motivando-o a economizar energia. Com o Decreto-lei nº 1.383, de 1974, tem-se o estabelecimento da política nacional de equalização tarifária. Nesse mesmo ano de 1974, foi instituída a Reserva Global de Garantia (RGG), instrumento que serviu para transferir recursos gerados por empresas rentáveis para outras menos rentáveis. Curiosidade da Área: no início do século passado, a entrada da Light canadense no Rio de Janeiro e em São Paulo foi protegida pela inclusão, nos contratos da época, de cláusulas prevendo a necessidade de atualizações tarifárias em decorrência de uma futura desvalorização da moeda brasileira. As empresas de capital externo precisavam adquirir divisas para honrarem seus compromissos financeiros externos e também remeterem os dividendos. Um caminho encontrado foi a introdução da chamada cláusula ouro, onde as tarifas eram definidas parcialmente em papel-moeda e em ouro, atualizada esta última pelo câmbio médio mensal. 44 Ao longo dos anos, a fixação das tarifas serviu, ora como um instrumento econômico considerado por muitos como inadequado, caso da equalização tarifária, ora de política anti-inflacionária, como ocorreu no período de 1975 até 1986. Como consequência desta política e de um crescente endividamento externo de algumas empresas, instalou-se forte crise financeira no setor elétrico. Neste período de tarifas equalizadas, os reajustes tarifários se baseavam na evolução do “custo do serviço” das empresas concessionárias de energia elétrica, composto basicamente pelos custos de operação e manutenção, mais uma remuneração garantida sobre o capital investido. Uma importante mudança no sistema tarifário brasileiro ocorreu com a implantação da tarifa horosazonal. O Decreto no 86.463, de 1981, já determinava que o então existente Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE), passaria a estabelecer diferenciações nas tarifas, tendo em vista os períodos do ano e os horários de utilização da energia. Optou- se, então, pelo emprego da teoria dos custos marginais, na qual o custo marginal de fornecimento reflete o custo incorrido pelo sistema elétrico para atender o crescimento da carga. Esse sistema tarifário permitiu a implantação de um sinal econômico para os consumidores, incentivando-os à maior utilização de energia durante os períodos de menor demanda ou de maior disponibilidade de oferta pelo sistema elétrico. A THS, como é também conhecida a tarifa horosazonal, teve suas primeiras portarias publicadas em 1982, sendo que a portaria DNAEE no 33, de 11 de fevereiro de 1988, consolidava todas as anteriores. A modalidade THS também prevê contemplar os consumidores de baixa tensão, notadamente os residenciais, por meio da tarifa amarela. Algumas concessionárias realizaram projetos pilotos de tarifa amarela, autorizadas na época pelo DNAEE, por intermédio da Portaria no 740, de 07de novembro de 1994. 45 TÓPICO 2 NOÇÕES GERAIS SOBRE FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA Os investimentos em conservação de energia elétrica poderão ser viabilizados em função da adequada utilização de energia elétrica, tendo em vista as condições gerais de fornecimento em vigência - Resolução ANEEL nº 456 de 29/11/2000. A seguir apresentamos algumas definições adotadas na Resolução ANEEL nº 456 de 29/11/2000. Tensões de Fornecimento A Agência Nacional de Energia Elétrica ANEEL estabelece qual é o nível de tensão de fornecimento para a unidade consumidora, observando os seguintes limites: tensão secundária de distribuição: quando a carga instalada na unidade consumidora for igual ou inferior a 75 kW; tensão primária de distribuição inferior a 69.000 V: quando a carga instalada na unidade consumidora for superior a 75 kW e a demanda contratada ou estimada pelo interessado para o fornecimento for igual ou inferior a 2.500 kW; tensão primária de distribuição igual ou superior a 69.000 V: quando a demanda contratada ou estimada pelo interessado para o fornecimento for superior a 2.500 kW. Em determinadas condições, previstas na legislação, a concessionária poderá adotar outros limites para estabelecimento da tensão de fornecimento. Este texto foi baseado no site: http://www.copel .com/hpcopel/ro ot/sitearquivos2. nsf/arquivos/ma nual/$FILE/man ual_eficiencia_e nerg.pdf 46 Grupos Tarifários Para efeito de faturamento da energia elétrica, distinguem-se dois grupos tarifários: A e B. Grupo A Grupamento composto de unidades consumidoras com fornecimento em tensão igual ou superior a 2.300 V, ou, ainda, atendidas em tensão inferior a 2.300 V a partir de sistema subterrâneo de distribuição, caracterizado pela estruturação tarifária binômia e subdividido nos seguintes subgrupos: a) subgrupo A1 - tensão de fornecimento igual ou superior a 230.000 V; b) subgrupo A2 - tensão de fornecimento de 88.000 V a 138.000 V; c) subgrupo A3 - tensão de fornecimento de 69.000 V; d) Subgrupo A3a - tensão de fornecimento de 30.000 V a 44.000 V; e) subgrupo A4 - tensão de fornecimento de 2.300 V a 25.000 V; f) subgrupo AS - tensão de fornecimento inferior a 2.300 V, atendidas a partir de sistema subterrâneo de distribuição e faturadas neste Grupo em caráter opcional. Grupo B Grupamento composto de unidades consumidoras com fornecimento em tensão inferior a 2.300 V, ou, ainda, atendidas em tensão superior a 2.300 V, caracterizado pela estruturação tarifária monômia e subdividido nos seguintes subgrupos: 47 a) subgrupo B1 - residencial; b) subgrupo B1 - residencial baixa renda; c) subgrupo B2 - rural; d) subgrupo B2 - cooperativa de eletrificação rural; e) subgrupo B2 - serviço público de irrigação; f) subgrupo B3 - demais classes; g)sSubgrupo B4 - iluminação pública. Definições e Conceitos Para facilitar a compreensão dos conceitos e definições que virão a seguir, suponha a curva de carga apresentada na figura a baixo. Esta curva representa as potencias médias medidas em intervalo de 15 em 15 minutos de uma unidade consumidora: Energia Elétrica Ativa É o uso da potência ativa durante qualquer intervalo de tempo, sua unidade usual é o quilowatt-hora (kWh). Outra definição é “energia elétrica que pode ser convertida em outra forma de energia” ou ainda, conforme visto anteriormente, “é A figura ao lado foi retirada do site da Procel. 48 aquilo que permite uma mudança na configuração de um sistema, em oposição a uma força que resiste à esta mudança” . Demanda (kW) Média das potências elétricas ativas ou reativas, solicitadas ao sistema elétrico pela parcela da carga instalada em operação na unidade consumidora, durante um intervalo de tempo especificado. Demanda Contratada Demanda de potência ativa a ser obrigatória e continuamente disponibilizada pela concessionária, no ponto de entrega, conforme valor e período de vigência fixados no contrato de fornecimento e que deverá ser integralmente paga, seja ou não utilizada durante o período de faturamento, expressa em quilowatts (kW). Demanda de Ultrapassagem Parcela da demanda medida que excede o valor da demanda contratada, expressa em quilowatts(kW). Demanda Faturável Valor da demanda de potência ativa, identificado de acordo com os critérios estabelecidos e considerado para fins de faturamento, com aplicação da respectiva tarifa, expressa em quilowatts (kW). 49 Demanda Medida Maior demanda de potência ativa, verificada por medição, integralizada no intervalo de 15 (quinze) minutos durante o período de faturamento, expressa em quilowatts (kW). Consumo kWh O consumo de energia faturado é o efetivamente medido no período (geralmente mensal). Tarifas de Energia Elétrica Conjunto de tarifas aplicáveis às componentes de consumo de energia elétrica e/ou demanda de potência ativas de acordo com a modalidade de fornecimento. Sistema Tarifário Convencional Estrutura caracterizada pela aplicação de tarifas de consumo de energia elétrica e/ou demanda de potência independentemente das horas de utilização do dia e dos períodos do ano. Sistema Tarifário Horosazonal Estrutura caracterizada pela aplicação de tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica e de demanda de potência de acordo com as horas de utilização do dia e dos períodos do ano, conforme especificação a seguir. 50 Tarifa Azul Modalidade estruturada para aplicação de tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica de acordo com as horas de utilização do dia e os períodos do ano, bem como de tarifas diferenciadas de demanda de potência de acordo com as horas de utilização do dia. Tarifa Verde Modalidade estruturada para aplicação de tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica de acordo com as horas de utilização do dia e os períodos do ano, bem como de uma única tarifa de demanda de potência. Horário de Ponta (P) Período definido pela concessionária e composto por 3 (três) horas diárias consecutivas, exceção feita aos sábados, domingos e feriados nacionais, considerando as características do seu sistema elétrico. Horário Fora de Ponta (F) Período composto pelo conjunto das horas diárias consecutivas e complementares àquelas definidas no horário de ponta. Período Úmido (U) Período de 5 (cinco) meses consecutivos, compreendendo os fornecimentos abrangidos pelas leituras de dezembro de um ano a abril do ano seguinte. 51 Período Seco (S) Período de 7 (sete) meses consecutivos, compreendendo os fornecimentos abrangidos pelas leituras de maio a novembro. Critérios de Enquadramento Os critérios de enquadramento na modalidade de tarifa convencional ou horosazonal aplicam-se às unidades consumidoras atendidas pelo Sistema Interligado Nacional (SIN), conforme as condições apresentadas a seguir, estabelecidas na Resolução ANEEL nº 414. I – na modalidade tarifária horosazonal azul, aquelas com tensão de fornecimento igual ou superior a 69 kV; II - na modalidade tarifária horosazonal azul ou verde, de acordo com a opção do consumidor, aquelas com tensão de fornecimento inferior a 69 kV e demanda contratada igual ou superior a 300 kW; e III - na modalidade tarifária convencional, ou horossazonal azul ou verde, de acordo com a opção do consumidor, aquelas com tensão de fornecimento inferior a 69 kV e demanda contratada inferior a 300 kW. Ajuste de Fator de Potência Em ambos os sistemas tarifários, tanto Convencionais como Horosazonal, o ajuste é cobrado quando o fator de potência da unidade consumidora no período de faturamento resulta inferior a 0,92 (zero vírgula noventa e dois). 52 No caso da Tarifa Azul, o fator de potência é calculado separadamente para os dois segmentos, ponta e fora de ponta. Faturamento A Fatura de energia elétrica é a nota fiscal que apresenta a quantia total que deve ser paga pela prestação do serviço público de energia elétrica, referente a um período especificado, discriminando as parcelas correspondentes. O valor líquido da fatura é o valor em moeda corrente, resultante da aplicação das respectivas tarifas de fornecimento, sem incidência de imposto, sobre os componentes de consumo de energia elétrica ativa, de demanda de potência ativa, de uso do sistema, de consumo de energia elétrica e demanda de potência reativas excedentes. Para as unidades consumidoras do Grupo B, tem-se um valor mínimo faturável referente ao custo de disponibilidade do sistema elétrico, de acordo com os limites fixados por tipo de ligação. Segundo a Resolução ANEEL nº 414, a distribuidora deve efetuar as leituras em intervalos de aproximadamente 30 (trinta) dias, observados o mínimo de 27 (vinte e sete) e o máximo de 33 (trinta e três) dias, de acordo com o calendário de leitura. A distribuidora é obrigada a instalar equipamentos de medição nas unidades consumidoras, exceto em casos especiais, definidos na legislação, como por exemplo, para fornecimento destinado para iluminação pública. O fator de potência da unidade consumidora, para efeito de faturamento, deverá ser verificado pela distribuidora por meio de medição permanente, de forma obrigatória para o grupo A e facultativa para o Grupo B. Faturamento de Unidade Consumidora do Grupo B O faturamento de unidade consumidora do Grupo B realiza-se com base no consumo de energia elétrica ativa e, 53 quando aplicável, no consumo de energia elétrica reativa excedente. Os valores mínimos faturáveis, referentes ao custo de disponibilidade do sistema elétrico, aplicáveis ao faturamento mensal de unidades consumidoras do Grupo B, serão os seguintes: I - monofásico e bifásico a 02 (dois) condutores: valor em moeda corrente equivalentea 30 kWh; II - bifásico a 03 (três) condutores: valor em moeda corrente equivalente a 50 kWh; III - trifásico: valor em moeda corrente equivalente a 100 kWh. Os valores mínimos serão aplicados sempre que o consumo, medido ou estimado, for inferior aos referidos acima, não sendo a diferença resultante não será objeto de futura compensação. Faturamento de Unidade Consumidora do Grupo A O faturamento de unidade consumidora do grupo A, observadas as respectivas modalidades quando da aplicação de tarifa horo sazonal, deve ser realizado com base nos valores identificados por meio dos critérios descritos a seguir: demanda faturável: um único valor, correspondente ao maior valor dentre os definidos a seguir: a. demanda contratada ou demanda medida, exceto para unidade consumidora da classe rural ou reconhecida como sazonal; b. demanda medida no ciclo de faturamento ou 10% (dez por cento) da maior demanda medida em qualquer dos 11 (onze) ciclos completos de faturamento anteriores, no caso de unidade 54 consumidora incluída na tarifa convencional, da classe rural ou reconhecida como sazonal; ou c. demanda medida no ciclo de faturamento ou 10% (dez por cento) da maior demanda contratada, no caso de unidade consumidora incluída na tarifa horosazonal da classe rural ou reconhecida como sazonal. TÓPICO 3 FATOR DE CARGA (FC) O Fator de Carga (FC) é um índice que demonstra se a energia consumida está sendo utilizada de maneira racional e econômica. Este índice varia entre zero a um, e é obtido pela relação entre a demanda média e a demanda máxima, durante um período definido. O fator de carga é expresso pela relação entre a energia ativa consumida num determinado período de tempo e a energia ativa total que poderia ser consumida, caso a demanda medida do período (demanda máxima) fosse utilizada durante todo o tempo. O FC pode ser calculado de acordo com o seu enquadramento: fator de carga médio: Em que: kWh = consumo de energia ativa; kW = demanda de potência ativa medida; t = nº de horas ocorridas no intervalo. 55 o fator de carga também pode ser expresso em percentual, calculado com a aplicação da expressão: no caso de consumidores enquadrados no Sistema Tarifário horosazonal, o fator de carga é definido por segmento horosazonal (ponta e fora de ponta), conforme as seguintes expressões: Em que: FC = fator de carga; kWh = consumo em kWh, ocorrido no segmento; kW = demanda medida em kW, ocorrida no segmento; p = segmento de ponta; fp = segmento de fora de ponta; t = tempo em horas, ocorrido no segmento. Considerando valores apurados no mesmo período de tempo. Vantagens em Melhor do Fator de Carga (FC) A melhoria (aumento) do fator de carga, além de diminuir o preço médio pago pela energia consumida, conduz a um melhor aproveitamento da instalação elétrica, inclusive de 56 motores e equipamentos e à otimização dos investimentos nas instalações. O fator de carga da unidade consumidora depende, entre outras coisas, das características dos equipamentos elétricos e do regime de operação dos mesmos, que por sua vez tem relação com a atividade executada no local. Formas simples de avaliar se é possível melhorar o FC de sua unidade consumidora: acompanhar o FC de diversos períodos (faturamentos), identificando o regime de operação dos equipamentos (forma de utilização, processo de produção) para fatores de carga diferentes. Avaliar se é possível implementar o regime de operação do período de maior eficiência (maior FC) para os demais períodos; comparar seu índice com o FC de outras unidades consumidoras que realizem a mesma atividade. Se o FC de outra unidade for maior, verificar o regime de operação dos equipamentos e avaliar a possibilidade de implementá-lo em sua unidade; comparar seu índice com o fator de carga típico do seu ramo de atividade. Curva de Carga de uma Instalação Em uma instalação consumidora de energia elétrica existem normalmente várias cargas e, como seu funcionamento nem sempre é simultâneo, a cada instante pode ser solicitada uma demanda diferente, dando origem à "curva de carga" da instalação, que é a representação gráfica das demandas nos seus horários de ocorrência. 57 No gráfico a seguir, representativo da curva de carga da instalação no intervalo de tempo "t"; a demanda média corresponde ao consumo dividido pelo tempo "t" e a demanda máxima corresponde à maior potência demandada no intervalo de tempo. Observe: Preço Médio da Energia A determinação do preço médio da energia elétrica (relação entre o valor faturado relativo aos itens que compõem o fornecimento de energia elétrica e o consumo físico (kWh) do período) possibilita: determinação do custo da energia/produção; acompanhamento simplificado do preço da energia ao longo do período; comparação com o custo de outros energéticos ou fornecedores. O preço médio da energia consumida varia mensalmente com o fator de carga: para fatores de carga Esta temática foi baseada no site: http://portal.celesc .com.br/portal/ho me/index.php?opti on=com_content& task=view&id=120 &Itemid= Esta figura foi retirada do site: https://www.elek tro.com.br/Medi a/Default/DocG alleries/Eficienti za%C3%A7%C 3%A3o%20Ene rg%C3%A9tica/ Livro_Eficiencia _Energetica.pdf. 58 crescentes, temos preços médios decrescentes e vice-versa, conforme demonstrado nas expressões a seguir: 1 - Tarifa convencional: 2 - Tarifa horosazonal azul: 3 - Tarifa horo-sazonal verde: A fim de demonstrar a influência do FC no preço médio do kWh consumidor, apresentamos um exemplo comparativo mostrando duas situações. Considerando duas empresas que executam a mesma atividade, mas com fatores de carga diferentes. 1ª - FC = 0,5 59 2ª - FC = 0,75 Conclusões A empresa com o melhor (maior) FC possui um custo médio da energia inferior aproximadamente 8%; A melhoria (aumento) do FC otimiza a utilização da energia elétrica e reduz os custos com esse insumo, aumentando a competitividade. Observação: tarifas de consumo e demanda ilustrativas. 60 Medidas para Aumentar o Fator de Carga a) Alternativa funcional: visa especialmente corrigir distorções existentes, quanto às instalações elétricas e o funcionamento dos equipamentos elétrico. A correção dessas distorções é importante porque além de reduzir o preço médio da energia, aumenta a segurança das instalações. Para tanto devem ser tomadas as seguintes providências: evitar a "partida" (ligação) de motores com carga e/ou a partida simultânea; instalar chaves especiais de partida dos motores, para redução da corrente elétrica; dimensionar corretamente as instalações e equipamentos de proteção; e efetuar manutenção preventiva, tanto das instalações quanto dos equipamentos. b) Alternativa operacional: a ser aplicada depois da correção das distorções funcionais: b.1) redução da demanda conservando o mesmo consumo, por meio da reprogramação do funcionamento dos equipamentos, evitando-se que funcionem ao mesmo tempo. Procedimentos: fazer um cronograma de utilização dos equipamentos elétricos, anotando a potência e o período de trabalho de cada um (levantamento das cargas e do seu horário de funcionamento); selecionar os equipamentos que possam operar fora do período de demanda máxima, reduzindo assim a demanda medida; reprogramar o período de funcionamento das cargas passíveis de deslocamento; 61 b.2) aumento do consumo mensal do kWh, sem aumentar a demanda, com consequente aumento de produção, utilizando-se os equipamentos por um número maior de horas. Procedimentos: verificar se existe colocação no mercado, do incremento na produção; verificar máquinas e horários ociosos; e adicionar mais turnos de trabalho, se a análise econômico-financeira for viável. Conscientizando-se referente a fatura de energia, sobram recursos para o investimentos em melhorias. 62 EXERCÍCIOS 1. Para efeito de aplicação de tarifas, a Resolução ANEEL nº 414 apresenta a classificação das unidades consumidoras com as respectivas classes e subclasses, agrupamento composto de unidades consumidoras com fornecimento em tensão inferior a 2,3 kV ou, ainda, caracterizado pela tarifa monômia. Informe para qual classe está sendo referenciada e quais suas subdivisões. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ 2. Qual a importância de saber o FC de uma instalação, justifique? _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ 63 CHECK LIST Nessa unidade você pôde aprender: a política de cobrança de energia elétrica; a qual grupo de fornecimento de energia pertencemos; quais melhorias podemos fazer nessa área. 64 UNIDADE 3 FATOR DE POTÊNCIA Objetivos de Aprendizagem Ao final desta unidade você deverá: explicar os principais conceitos sobre fator de potência; saber como melhorar o fator de potência em uma instalação. Plano de Estudos Esta unidade está dividida em cinco tópicos, organizados de modo a facilitar sua compreensão dos conteúdos. TÓPICO 1: FATOR DE POTÊNCIA OU ENERGIA REATIVA EXCEDENTE NA FATURA DE ENERGIA TÓPICO 2: ENTENDA O FATOR DE POTÊNCIA TÓPICO 3: VANTAGENS DA CORREÇÃO DO FATOR DE POTÊNCIA TÓPICO 4: COMO CORRIGIR O FATOR
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