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41 SAÚDE AMBIENTAL Unidade II 5 RECURSOS NATURAIS: CONSEQUÊNCIA DO USO INDEVIDO E AÇÕES QUE FAVORECEM O MEIO AMBIENTE E A SAÚDE HUMANA 5.1 Principais recursos naturais existentes para a vida: água, energia, ar e solo Iniciaremos esta unidade abordando as características dos principais recursos naturais existentes no planeta, essenciais para a vida de qualquer ser que habita a Terra, incluindo nós, humanos. Os principais recursos são: água, energia, ar e solo. 5.1.1 Água O homem, durante a sua evolução social, passou a utilizar os recursos naturais sem pensar nas gerações futuras ou nas consequências de um uso abusivo. Na era primitiva, esses recursos não custavam nada (financeiramente) e ainda estavam disponíveis com certa abundância a todos que necessitavam deles. A sociedade evoluiu e o crescimento populacional favoreceu a escassez dos recursos, comprometendo a sua utilização. Assim, o homem passou a pagar por eles, procurando tornar o uso cada vez mais racional. Por exemplo, para que tenhamos água potável (água própria para o consumo) em nossa residência, temos que pagar por ela, assim como a energia e o solo. No entanto, o pagamento do recurso não quer dizer que devemos desperdiçá‑lo, pelo contrário. O pagamento deve estar associado à escassez: o consumo precisa acontecer com maior critério, evitando o desperdício. Entretanto, antes de descrevermos todos os problemas que temos com água, energia, ar e solo, gostaria de convidar você, aluno, a entender melhor cada em desses elementos. Afinal, para que possamos corrigir nossos hábitos e também os dos outros, precisamos compreender onde estamos errando e, para isso, entender tudo desde o princípio. Primeiramente é necessário entender a composição e a estrutura da água, para depois discutirmos sua distribuição no país e todas as doenças que podem estar associadas a ela, caso seja contaminada. E por que a água é um recurso natural tão importante para a vida, principalmente dos seres humanos? Você sabia que em um adulto com 70 kg, cerca de 70% do peso corpóreo dele é composto por água? E você também sabia que essa porcentagem pode atingir 95% em alguns seres marinhos, como as medusas? Assim, podemos afirmar com propriedade que a água é um recurso natural de extrema importância para a manutenção da vida. E qual a estrutura da água? Esse elemento possui determinadas propriedades e características. Convido você, caro aluno, a dar um volta comigo rapidamente ao mundo da química e da física, para que possamos compreender um pouco mais sobre a estrutura da água. 42 Unidade II A água quimicamente pode ser representada e reconhecida pela fórmula molecular H2O, que demonstra que cada molécula de água é composta por dois átomos de hidrogênio (H) e um átomo de oxigênio (O), formando um ângulo de 104,5º, como esquematizado na figura a seguir. Essa conformação permite que as moléculas de água tenham atração uma pelas outras, formando ligações químicas altamente fortes entre as moléculas de hidrogênio, denominadas pontes de hidrogênio. A) B) H HH H O O Figura 7 – (A e B) Representação química da molécula de água (H2O), composta por dois átomos de hidrogênio (H) e um de oxigênio (O) O planeta Terra é o terceiro planeta em relação a distância do Sol, determinado pela ação da gravidade entre a massa do Sol e a massa da Terra. Um distanciamento estratégico que determinou uma temperatura amena para o planeta e possibilitou o surgimento de água nos três estados físicos: sólido, líquido e gasoso. Esses três estados podem ser encontrados na superfície terrestre, dependendo da temperatura e das pressões atmosféricas. Basicamente, a água possui quatro propriedades, incluindo térmica, densidade, viscosidade e dissolução. A partir de agora, comentaremos cada uma dessas propriedades em detalhes. Propriedade térmica da água: está relacionada ao seu calor específico. Como a temperatura da água muda lentamente, é necessário que grandes quantidades de calor sejam empregadas para que uma massa de água tenha pequenas alterações de temperatura. Para que serve a regulação térmica da água, ou melhor, onde podemos aplicar essa propriedade? Para seres que estão embaixo de grandes massas de água, como rios e oceanos, isso ameniza a temperatura da água por absorver o calor que provém dos raios solares. Propriedade de densidade da água: a densidade da água é maior no estado líquido do que no estado sólido e maior que a do ar. Onde podemos aplicar a propriedade de densidade da água no meio ambiente? Como a densidade da água é maior no estado líquido, quando a água congela o gelo flutua sobre a água líquida. Por isso que a superfície de um lago pode congelar, mas o seu interior não, favorecendo a vida dos seres do ambiente aquático. Propriedade de viscosidade da água: a água possui alta viscosidade. Em qual situação a viscosidade da água é importante? Como a água tem uma viscosidade alta, os movimentos que realizamos dentro de uma piscina se tornam lentos, pois a viscosidade alta diminui 43 SAÚDE AMBIENTAL a velocidade dos movimentos. Outra situação interessante é a tensão superficial, que ainda podemos discutir dentro do tópico de viscosidade. Quem nunca observou um inseto flutuando sobre a superfície de um lago? A tensão superficial da água nada mais é do que a ligação das moléculas de água, formando uma película na superfície de um lago. A única substância que consegue romper a rigidez da ligação entre as moléculas de água (que forma a tensão superficial) é o detergente. Propriedade de dissolução da água: a água é um solvente e diluente universal. E qual a finalidade da propriedade de dissolução da água? A água como solvente tem capacidade de dissolver substâncias inorgânicas, como minerais, e orgânicas, como de origem animal ou vegetal, sólidos e gases, tornando‑os acessíveis aos sistemas vivos e proporcionando um meio no qual podem reagir e formar novos compostos. Quadro 4 – Propriedades da água Propriedade da água Significado Térmica Relacionada ao calor específico da água. Densidade A densidade da água é maior no estado líquido do que no estado sólido e maior que a do ar. Viscosidade A água possui alta viscosidade. Dissolução A água é um solvente e diluente universal. Exemplo de aplicação Exemplo de aplicação Sugerimos que você faça um exercício de reflexão: descreva quais as quatro propriedades da água. Depois de relembrá‑las, descreva quais situações poderiam alterar cada uma delas. E em relação às características da água? Você sabia que as características podem ser físicas, químicas ou biológicas? Você já ouviu dizer que a água deve ser incolor, insípida e inodora? É importante saber que o Ministério da Saúde avalia a qualidade de um copo de água para consumo de forma integrada, considerando o conjunto de informações de caráter físico, químico e biológico. Então, para entendermos melhor esses aspectos, vamos discutir a partir de agora sobre todas as características da água. Começaremos falando sobre as características físicas, que refletem na aparência da água; bem como as suas propriedades. Temperatura: as temperaturas da água variam, mas para o consumo humano temperaturas elevadas não são aceitas. Como o Brasil é um país tropical, os ambientes aquáticos possuem temperaturas entre 20ºC e 30ºC, mas na região sul do país, durante o inverno, essa temperatura pode chegar a 5ºC, podendo congelar a água. No entanto, para o consumo humano, as temperaturas elevadas são rejeitadas. Devido a esse fator, 44 Unidade II as águas subterrâneas, captadas em grandes profundidades, necessitam de unidades de resfriamento para adequar às condições de abastecimento, pois o centro do planeta é muito quente. Cor, sabor e odor: a água deve ser incolor, inodora e sem sabor. Mas como determinar todos esses parâmetros? Em relação à cor, a análise é feita por meio de uma comparação com uma amostra de cobalto‑platina e o resultado é fornecido em unidades uH (unidade Hazen). As águas naturaistêm um padrão de cor na escala entre 0 e 200 uH e, para que a água seja considerada potável, deve apresentar cor inferior a 5 uH. Portanto, a determinação da cor reflete a existência de materiais dissolvidos nela. Já em relação ao sabor e ao odor, eles estão correlacionados com a presença de substâncias químicas, gases dissolvidos e microrganismos, como algas. Turbidez: para ser potável, a água deve ser límpida. Você sabe como é medida a turbidez da água? Basicamente, para determinar turbidez de qualquer líquido é necessário medir o grau de interferência à passagem da luz através do líquido. Essa medida é feita em unidades Jackson e, quando existem materiais em suspensão, essa medida pode indicar alteração. Para ser considerada potável, a água deve apresentar uma turbidez com taxa inferior a 1 unidade de Jackson. Já o padrão de potabilidade é referido ao limite de 1000 mg/L (miligramas de sólidos em suspensão por litro de água). Você já observou a água de um rio? Saberia me dizer se ela é potável? Grande parte dos rios brasileiros possui águas turvas devido às características geológicas do terreno, portanto, a turbidez da água encontrada nesses locais está em torno de 3 a 500 unidades de Jackson. Assim, a água de um rio não é considerada potável, portanto, imprópria para consumo. Já em represas e lagos, onde a velocidade de escoamento é menor, as partículas que estavam suspensas acabam sedimentando e a turbidez da água fica menor. É normal que a água tenha partículas sólidas? A presença de sólidos pode ocorrer de forma natural, por meio de processos erosivos ou detritos orgânicos, mas também podem ocorrer pela ação do homem (antropogênica) que lança lixo e esgotos em fontes de água, diminuindo sua potabilidade. Condutividade elétrica: a água é capaz de transmitir corrente elétrica. Como é medida a condutividade elétrica da água? A condutividade é medida por unidades de resistência S (Siemens) e os teores de condutividade das águas naturais estão entre 10 e 100 µS/cm. Quando a água recebe esgotos domésticos e industriais, a condutividade aumenta consideravelmente até 1000 µS/cm. Quadro 5 – Características físicas da água Característica física da água Significado Temperatura As temperaturas da água variam, mas para o consumo humano, temperaturas elevadas não são aceitas. Cor, sabor e odor A água deve ser incolor, inodora e sem sabor. Turbidez Para ser potável a água deve ser límpida. Condutividade A água é capaz de transmitir corrente elétrica. 45 SAÚDE AMBIENTAL Quanto às características químicas da água que refletem na sua composição, podemos considerar ao menos cinco: Potencial hidrogeniônico (pH): o Ministério da Saúde (MS), por meio da portaria n. 1469/2000, estabelece que o pH para águas de consumo estejam entre 6,5 e 9,5. Mas o que isso significa? O pH está relacionado com a concentração do íon hidrogênio (H+) em solução, nesse caso é a água e varia de 0 até 14. O pH neutro é 7,0, mas como o H+ possui um potencial ácido, quanto maior a sua quantidade na água, mais ácida ela será e menor será o pH (abaixo de 7,0), sendo o contrário verdadeiro, tornando a água alcalina, com pH maior (acima de 7,0). Como o pH da água pode se tornar mais ácido? Por exemplo, a acidificação pode ser uma consequência da poluição atmosférica e formação de complexos entre os vapores de água e gases poluentes (chuvas ácidas). Quando o pH está baixo, a água pode provocar corrosão nas redes de distribuição da água, impossibilitando que elas sejam utilizadas adequadamente para o consumo humano. Já quando os valores de pH da água estão aumentados, pode favorecer incrustações nas mesmas redes, também impossibilitando o consumo da água pelo ser humano. Em construção civil, a água acida pode se infiltrar em paredes e colunas, podendo reagir com os elementos químicos presentes no concreto e causar problemas estruturais (patológicos). Alcalinidade: indicador da capacidade de neutralização de íons H+ ou capacidade de tamponamento desses íons, resistindo às mudanças de pH. Em que situação isso pode acontecer? O tamponamento do íon H+ e, consequentemente, aumento do pH acontece principalmente pela presença de bicarbonato (HCO3 ‑), considerado um tampão. Geralmente, quando existe um aumento da alcalinidade da água, isso está associado às altas taxas de decomposição de matéria orgânica, inviabilizando o consumo. Dureza: indicador da presença de cátions, como cálcio (Ca2+) e magnésio (Mg2+). Em que situação podemos encontrar esse tipo água? Águas duras naturais são aquelas encontradas em decorrência de dissolução de rochas calcárias. Outra situação são as águas subterrâneas brasileiras que possuem maior dureza do que as superficiais. No entanto, a dureza da água também pode estar associada ao despejo de efluentes industriais, mas nesse caso a dureza é de origem antropogênica. Oxigênio dissolvido: a quantidade de oxigênio (O2) reflete a qualidade da água. Os valores mínimos são considerados de 2 a 5 mg/L de O2 dissolvido. Por que o O2 é importante? A maioria dos peixes necessita de um ambiente com cerca de 4 mg/L de O2. Mas o que diminui a quantidade de O2 na água? A concentração de O2 pode ser reduzida pela presença de matéria orgânica. Assim, podemos inferir a presença e deduzir a quantidade de material orgânico 46 Unidade II pelo consumo de O2 presente na água, por exemplo, a proliferação de algas, processo conhecido como eutrofização de rios e lagos. Considerando a importância de O2 para a água e os seres que dependem dela, foram criados parâmetros como DBO (demanda bioquímica de oxigênio) e DQO (demanda química de oxigênio), os quais mostram o consumo de oxigênio necessário para estabilizar a matéria orgânica de uma amostra. A DBO é responsável por demonstrar a estabilização por atividade biológica de microrganismos e a DQO por demonstrar a estabilização do material quando dependente da adição de agentes químicos. O valor da DQO sempre será maior que a DBO, mas essas medidas devem ser realizadas em um período de cinco dias com a amostra a uma temperatura de 20 ºC. Tanto o DBO e o DBQ são parâmetros indispensáveis nos estudos de caracterização e identificação de esgotos sanitários e de efluentes industriais, em especial, o DBQ avalia a quantidade de oxigênio dissolvido (OD), consumido em meio ácido que leva à degradação de matéria orgânica. Micronutrientes: são elementos ou compostos químicos que podem ter efeito tóxico à saúde por se acumularem no organismo ao longo da cadeia alimentar. Quais são esses elementos ou compostos químicos? Arsênio, cromo, chumbo, cobre, mercúrio, entre outros. E como eles podem aparecer e contaminar a água? Geralmente, são derivados de despejos industriais. Quadro 6 – Características químicas da água Característica química da água Significado Potencial hidrogênico (pH) O pH para águas de consumo deve estar ao redor de 6,5 e 9,5. Alcalinidade Indicador da capacidade de neutralização de íons H + ou capacidade de tamponamento desses íons, resistindo às mudanças de pH. Dureza Indicador da presença de cátions, como cálcio (Ca2+) e magnésio (Mg2+). Oxigênio A quantidade de oxigênio (O2) reflete a qualidade da água. Os valores mínimos são considerados de 2 a 5 mg/L de O2 dissolvido. Micronutrientes São elementos ou compostos químicos que podem ter efeito tóxico à saúde por se acumularem no organismo ao longo da cadeia alimentar. Conhecemos as características físicas e químicas, resta saber sobre as características biológicas, que são basicamente duas e estão diretamente relacionadas à presença dos seres que habitam o meio aquático. Micro‑organismos de importância sanitária: estes são micro‑organismos que promovem a decomposição da matéria orgânica, como as bactérias. Vale ressaltar que os coliformes fecais são considerados micro‑organismos patogênicos, presentes em grande quantidade em fontes de água que são receptoras de esgoto doméstico. Comunidades hidrobiológicas: são organismos com movimentaçãoprópria, como o fitoplancton (algas e bactérias) e o zooplancton (protozoários, crustáceos), habitantes de fundos de rios e lagos, os 47 SAÚDE AMBIENTAL bentos (larvas de insetos e anelídeos) e os organismos maiores, classificados como nécton, onde se enquadram os peixes. Quadro 7 – Características biológicas da água Característica biológica da água Significado Micro‑organismo de importância sanitária Esses são microorganismos que promovem a decomposição da matéria orgânica, como as bactérias. Comunidades hidrobiológicas São organismos com movimentação própria, como fitoplancton (algas e bactérias) e zooplancton (protozoários, crustáceos) ‑ habitantes de fundos de rios e lagos, os bentos (larvas de insetos e anelídeos) e organismos maiores, classificados como nécton, onde se enquadram os peixes. Lembrete A água possui tanto propriedades quanto características, sendo que estas últimas podem ser divididas em físicas, químicas e biológicas. De modo complementar, faz‑se importante conhecer o contexto histórico dos usos da água ao longo do tempo e do espaço. Desde a Antiguidade, as grandes cidades se desenvolveram em torno de mananciais, por exemplo, o antigo Egito que se encontra próximo ao Rio Nilo (figura 8A) ou a Mesopotâmia entre os rios Tigre e Eufrates (figura 8B), dando uma atenção especial aos romanos, que desenvolveram até sistemas de captação (aquedutos) para a água (figura 9). Você pode imaginar como funcionava essa captação de água? Com base na ação natural da gravidade, o abastecimento de água era feito “águas acima ou à montante” e a liberação dos dejetos era realizada “águas abaixo ou à jusante” do mesmo rio. Infelizmente, desde essa época, existia uma falta de cuidado com a água e, ainda nos dias atuais, observamos que a fonte de coleta de água ainda é a mesma fonte de despejos, fato também observado na Antiguidade. Esse fato demonstra que mesmo com toda a nossa tecnologia, muito pouco se evoluiu acerca desse tema. A) B) Figura 8 – Figura ilustrativa a respeito das civilizações criadas ao redor de grandes rios: A) Rio Nilo e B) Rio Eufrates. 48 Unidade II Figura 9 – Aquedutos de Roma Saiba mais Recentemente, a ciência descobriu a conscientização romana quanto à higienização, além da formação dos aquedutos. Para conhecer melhor o assunto, sugerimos a leitura da seguinte reportagem: KENNEDY, D. Esgoto de cidade soterrada revela segredos sobre Roma antiga. BBC News, Roma, 16 jun. 2011. Disponível em: http://www.bbc. co.uk/portuguese/cultura/2011/06/110616_esgoto_roma_mv.shtml. Convidamos você, aluno, a refletir um pouco: qual a importância da água? A água para consumo é infinita? Qual o grau de conscientização que possuímos a respeito dessa substância essencial à vida? Importante ressaltar que a água para o abastecimento público é uma crescente preocupação para a humanidade, tanto no quesito qualidade como quantidade. O estilo de vida e o desenvolvimento das atividades humanas vêm durante séculos causando alterações significativas no meio ambiente, influenciando a disponibilidade de uma diversidade de recursos naturais, inclusive a água. No entanto, de onde vem a água para o abastecimento humano nos dias atuais? O abastecimento de água para a crescente taxa populacional e o desenvolvimento de atividades econômicas somente são possíveis pela coleta de recursos hídricos de mananciais. E o que são mananciais? Mananciais nada mais são do que reservas hídricas, fontes de água doce para o abastecimento público, doméstico, industrial e comercial que podem ser encontrados na superfície (córregos, rios, lagoas, ribeirões, reservatórios, represas) ou em camadas subterrâneas (lençóis freáticos, poços rasos ou profundos, galerias, aproveitamento de nascentes). Vale ressaltar que a água não está inerte na natureza, mas em contínuo movimento, denominado ciclo da água na natureza. 49 SAÚDE AMBIENTAL Basicamente, o ciclo da água depende dos raios solares que aquecem os oceanos e os continentes. Com o aquecimento do Sol, a vegetação transpira e, concomitantemente, ocorre evaporação da água dos oceanos, rios e lagos. O vapor d’água se condensa, formando nuvens. Nas nuvens (carregadas de vapor d’água) ocorre precipitação, formando gotas de água, que caem em forma de chuva, granizo ou até mesmo neve e, dessa forma, atingem o solo, rios e oceanos. Conforme a água da chuva atinge o solo, se infiltra nele formando os aquíferos subterrâneos, mas outra parte acaba escoando pela superfície do solo e chega aos rios, lagos e oceanos, finalizando o ciclo, que começará novamente. Todas essas etapas descritas podem ser mais bem compreendidas na figura a seguir. 1 2 3 4 5 Figura 10 – Ciclo hidrobiológico: 1) Aquecimento dos oceanos e continentes; 2) Transpiração da vegetação e evaporação dos oceanos, rios e lagos; 3) O vapor d’água se condensa nas nuvens; 4) Precipitação nas nuvens que estão carregadas de vapor d’água e há formação de gotas d’água que caem em forma de chuva, granizo ou neve; 5) Infiltração da água da chuva no solo (retida entre os poros existentes na composição dos solos e de algumas rochas especificas como arenito) formando os aquíferos subterrâneos, outra parte escoa pela superfície e chega aos rios, lagos e oceano. Basicamente, o planeta é composto por ¾ de água e ¼ de continente, sendo que a maior quantidade dessa água se encontra nos mares e oceanos (97,5%), ou seja, são águas salobras. A pequena porcentagem restante (2,5%) é de água doce, considerada apropriada ao consumo humano. Em relação à água doce, ela está distribuída diferencialmente no planeta em geleiras e icebergs (68,9%), em leitos subterrâneos (29,9%), em rios e lagos e em outros locais como reservatórios ou açudes (1,2%). 50 Unidade II Todas essas divisões podem ser mais bem compreendidas na figura a seguir, que mostra as divisões de água salubre e doce e, ainda, dentro da água doce, as divisões descritas anteriormente. BA Água doce (2,5%) Leitos subterrâneos (29,9%) Rios, lagos e outros locais (1,2%) Geleiras e icebergs (68,9%) Oceanos (97,5%) Figura 11 – Distribuição de água no planeta: A) Divisão de água doce e salgada. B) Divisão da água doce Uma pesquisa nacional de saneamento básico no Brasil, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2008, apontou que 99,4% dos 5.531 municípios brasileiros apresentam abastecimento de água por rede geral, sendo que a Região Sudeste, desde o ano 2000, é a única região do país que possui, em todos os seus municípios, rede de abastecimento de água. Saiba mais Para obter maiores detalhes sobre a pesquisa nacional realizada pelo IBGE em 2008, sugerimos acessar: IBGE. Pesquisa nacional de saneamento básico 2008. Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/ condicaodevida/pnsb2008/PNSB_2008.pdf. Até aqui, já discutimos a respeito das propriedades e características gerais da água e como ela está distribuída no planeta. Considerando que a água doce é a que mais serve para o consumo humano e que seu percentual é baixo, vamos compreender um pouco mais sobre ela. A Lei n. 9.433 de 8 de janeiro de 1997, instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SNGRH), que em seu artigo 1º determina que a água é um bem de domínio público e um recurso natural limitado, dotado de valor econômico. 51 SAÚDE AMBIENTAL O artigo 9º estabelece que os corpos d’água devem ser enquadrados em classes segundo seus usos preponderantes e, essas classes de corpos de água serão estabelecidas pela legislação ambiental. Nesse sentido, a resolução CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) número 357 de 17 de março de 2005 dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Basicamente, aságuas doces são divididas em cinco classes, denominadas especial, classe 1, classe 2, classe 3 e classe 4. Essa divisão considera o grau de tratamento necessário para utilização da água de forma prioritária ao abastecimento humano. No entanto, a água que não pode ser utilizada pelo homem (para seu consumo) pode ter outra destinação, como proteção das comunidades aquáticas, recreação de contato primário como natação e mergulho, irrigação de hortaliças, culturas arbóreas, frutíferas e cerealistas, atividade pesqueira, atividade pecuária e navegação. Dessa forma, convidamos você, aluno, a compreender cada uma dessas classes: Quadro 8 – Classificação de água doce de acordo com a resolução CONAMA 357/2005 Classes de água doce Significado Classe especial A água necessita apenas de tratamento de desinfecção. Classe 1 A água necessita de um tratamento simplificado. Classe 2 A água necessita de um tratamento convencional. Classe 3 A água necessita de tratamento convencional ou avançado para consumo humano, mas sem tratamento também pode ser destinada à recreação de contato secundário. Classe 4 Essa água não serve para consumo, mas pode ser destinada à navegação. Como o crescimento populacional demanda quantidades cada vez maiores de água potável, atrelado a esse crescimento está o comprometimento/degradação dos mananciais. Embora exista tecnologia para o tratamento da água destinada ao consumo humano, ele se torna mais dispendioso à medida que a população cresce sem planejamento e infraestrutura urbana, pois na maioria dos casos a taxa de implantação de rede de coleta e tratamento de esgotos não acompanha a taxa de crescimento urbano. Então, como acontece a captação de água para o consumo e abastecimento? Antes de a água chegar aos estabelecimentos, é necessário que ela seja tratada em uma estação de tratamento de água (ETA). Assim, a água que chega às casas é utilizada para consumo e outras atividades como banhos, limpeza da casa, lavagem de carros e calçadas, piscinas e caixas‑d’água, entre outras atividades. Todas as etapas do tratamento estão esquematizadas na figura a seguir. 52 Unidade II Fonte de abastecimento (manancial) Estações de tratamento de água (ETA) Abastecimento de água Cidades Esgoto doméstico Indústrias Esgoto industrial Chuvas Esgoto pluvial Estação de tratamento de esgoto (ETE) Coleta de esgoto Figura 12 – Dinâmica de captação e distribuição de água potável e coleta de esgoto Quando existem redes de coleta de esgoto, elas recebem o esgoto doméstico, as águas que foram destinadas às atividades diversas, a água da chuva e o esgoto industrial, conforme a região. As águas coletadas contendo esgotos, lixo, substâncias poluentes ou contaminantes são destinadas a outra estação de tratamento, denominada estação de tratamento de esgoto (ETE). A figura 12 esquematiza todos os processos de tratamento do esgoto e, ao final desse tratamento, o material tratado retorna para a natureza. Contudo, o seu retorno nem sempre acontece no mesmo manancial onde foi captado, pois essa ação dependerá da sua capacidade de assimilação. Considerando que toda água provém de mananciais, a disponibilidade diminui cada vez mais. Processos crescentes de desmatamento, assoreamento, produção agrícola, ocupação humana desordenada com lançamento de detritos industriais e domésticos e falta de planejamento para construção de barreiras e hidroelétricas em toda a bacia hidrográfica colaboram com a diminuição da qualidade da água para o consumo humano, se tornando uma complicação de ordem pública para a saúde humana. Assim, não é por acaso que autoridades buscam a preservação de seus mananciais para favorecer a saúde humana. Exemplo de aplicaçãoExemplo de aplicação Queremos convidá‑lo, caro aluno, a refletir sobre quais são as funções da água para além daquela Queremos convidá‑lo, caro aluno, a refletir sobre quais são as funções da água para além daquela do consumo.do consumo. 5.1.2 Energia Outra função da água, sem ser aquela voltada para o consumo, é a formação de energia. No Brasil, o estudo da hidrometria está relacionado com a geração de energia pela construção de usinas hidrelétricas, utilizando bacias hidrográficas e volumosos rios. Contudo, o principal problema dessa ação é a presença de sedimentos nessas águas, o que diminui a vida útil das barragens. Outro fator importante é o sofrimento dos mananciais que subsidiam o abastecimento de água como consequência da falta de 53 SAÚDE AMBIENTAL estudos científicos que melhorem a utilização dessas fontes, pois as pequenas bacias drenam as águas das cidades e recebem todos os tipos de dejetos provenientes de vários tipos de locais. A utilização de usinas hidrelétricas não é a única fonte de energia que temos em nosso planeta. Como neste item discutiremos sobre os principais recursos do planeta, estudaremos primeiramente todos os tipos de energia que temos e, depois, falaremos do ar e do solo. Para que exista um ecossistema equilibrado e, consequentemente, saúde para os seres humanos, é extremamente importante que todos os recursos sejam utilizados e preservados de forma adequada. Existem dois tipos de energia em nosso planeta: renováveis e não renováveis. A energia renovável é aquela utilizada sem esgotamento da fonte, como a solar, eólica, hídrica, mares, ondas, biomassa e geotérmica. Já a energia não renovável é a energia que possui um esgotamento, ou seja, o recurso natural pode acabar. Este último é o caso dos combustíveis fósseis, como o petróleo. Outras fontes de energia não renovável são: gás natural, carvão, urânio e radiação no geral. A figura a seguir esquematiza esses tipos de energias. Vale destacar que a definição de renovável e não renovável tem como referência o tempo de vivencia humano, uma vez que, os ciclos da natureza tentem a se repetir por milhões ou bilhões de anos, escala de tempo que a humanidade desconhece. A B 4 Geométrica 2 Petróleo 4 Urânio 3 Gás natural 1 Carvão mineral 7 Biomassa 1 Hídrica 2 Eólica 5 Marés 6 Ondas 3 Solar Figura 13 – Tipos de fonte de energia. A) Renováveis; B) Não renováveis A próxima figura relaciona os tipos de energia, os locais de produção, o tipo de condução e a forma de utilização. 54 Unidade II A B C D Petróleo Refinaria Gasolina Calor Transportes Residencial Carvão Central térmica Eletricidade Indústria Serviços Gás natural Biomassa Eólica Hídrica Ondas Solar Geotérmica Figura 14 – Interação entre os tipos de energia (A), locais de produção (B), condução (C) e utilização (D) Em relação à outra fonte de energia não renovável, a radiação, diversos fatores podem ser considerados. Normalmente, essa fonte de energia é utilizada em países que não possuem estrutura geofísica para abstrair energia de outras fontes, como a hidráulica. Por exemplo, o Japão. Contudo, a energia nuclear está associada a diversos custos, como o enriquecimento de urânio, a manutenção dos reatores nucleares e a criação de processos de reprocessamento e de despejo dos resíduos radioativos, tudo para evitar a falha do sistema e, consequentemente, grandes desastres. Em 2011, o Japão foi acometido por um tsunami (Tohoku) que devastou o país e danificou diversos reatores nucleares, causando a liberação de material radioativo para o meio ambiente. Esse desastre fez os japoneses repensarem novas formas de energia que não a nuclear. 55 SAÚDE AMBIENTAL Saiba mais Para saber mais a respeito dos danos causados pelo tsunami no Japão, sugerimos a leitura da seguinte notícia: JAPÃO inicia racionamento de energia para evitar apagão pós‑tsunami. Agência Brasil, Brasília, 1 jul. 2011. Disponível em: http:// memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2011‑07‑01/japao‑inicia ‑racionamento‑de‑energia‑para‑evitar‑apagao‑pos‑tsunami. Exemplo de aplicaçãoExemplo de aplicação Caro aluno, convidamos você a responder: o que é radiação e o que ela causa ao ser humano? Radiação é uma forma de energia transmitida através doespaço e propagada por meio de partículas ou ondas. Pensando em radiação, reflita sobre quais são as fontes de radiação existentes na sua vida cotidiana Pensando em radiação, reflita sobre quais são as fontes de radiação existentes na sua vida cotidiana e descreva se elas são danosas a sua saúde.e descreva se elas são danosas a sua saúde. Basicamente, as principais fontes de radiação são: equipamentos (aparelhos de raios‑X, acelerador linear, micro‑ondas, TV, antenas de celulares etc.), solar (luz visível, luz ultravioleta e infravermelho) e urânio (que é um elemento naturalmente radioativo). As ondas eletromagnéticas são ondas de radiação que se propagam com a velocidade da luz. Quanto mais curta a onda, mais energia ela tem e mais nociva é. As ondas eletromagnéticas são divididas em ionizantes e não ionizantes. Lembrete A energia renovável é aquela utilizada de forma renovável sem esgotamento dessa fonte. Exemplos: solar, eólica, hídrica, mares, ondas, biomassa e geotérmica. A energia não renovável é aquela que a fonte possui um esgotamento, ou seja, o recurso natural pode acabar. Exemplos: petróleo, gás natural, carvão, urânio e radiação no geral. As radiações ionizantes são as ondas eletromagnéticas mais rápidas, com alta frequência e que causam efeitos deletérios à saúde humana, por exemplo: radiação ultravioleta, raios‑X e radiação gama. Já as radiações não ionizantes são ondas eletromagnéticas de propagação mais lentas e com baixa frequência, como: ondas de rádio, micro‑ondas, entre outras. Todavia, não podemos confundir radiação com radioatividade. Para discutirmos essa diferença, temos que relembrar rapidamente que toda a matéria é formada por átomos. As principais características 56 Unidade II dos átomos são: um núcleo central com prótons (cargas positivas) e nêutrons (sem carga, que dão estabilidade ao átomo) que é rodeado por elétrons (cargas negativas), estes presos em órbitas. Nêutron Elétron Próton Orbitais Figura 15 – Esquema de um átomo estável Quando os núcleos dos átomos instáveis ficam com excesso de energia, eles acabam liberando essa energia em forma de radiação ionizante, do tipo α (alfa), β (beta) ou γ (gama). As radiações do tipo α são pouco penetrantes e grandemente energéticas, mas podem ser barradas por uma folha de papel, enquanto as β são mais penetrantes e menos energéticas que as α, mas um pedaço de madeira já seria o suficiente para barrar essa radiação. Já a radiação do tipo γ não é muito energética, mas é extremamente penetrante, sendo barrada somente por uma parede grossa de concreto ou por algum tipo de metal – é, portanto, altamente penetrantes no corpo humano, como esquematizado na figura 16. Um exemplo de radiação γ é aquela gerada por uma explosão de bomba atômica. No Brasil, a história da energia nuclear se iniciou em 1930 com o intuito único e exclusivo de pesquisar a respeito do tema. Em 1956, foi criado o Instituto de Energia Atômica. Em 1979, esse instituto passou a se chamar Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), que é gerido pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Em 1966, foi criado o Centro de Energia Nuclear na Agricultura, em Piracicaba (SP). No Rio de Janeiro foi criado o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, o Conselho Nacional de Pesquisas, a Comissão Nacional de Energia Nuclear, o Instituto de Radioproteção e Dosimetria e o Instituto de Energia Nuclear, nas décadas de 1940, 1950 e 1960. Em Belo Horizonte, em 1953, foi criado o Instituto de Pesquisas Radiológicas e foi formado, em 1965, o Grupo do Tório, para desenvolver o projeto de um reator de potência moderado. Raio α Raio β Raio X Raio γ Papel Madeira Chumbo Parede de concreto Figura 16 – Graus de penetração das radiações ionizantes: raio γ (gama); raio β (beta); raio α (alfa) 57 SAÚDE AMBIENTAL A primeira vez que a energia nuclear foi utilizada no Brasil foi para o uso biomédico, com a criação e utilização de radioisótopos para exames clínicos; em 1950 e em 1959 foram produzidos os radiofármacos. Além disso, os radioativos também são utilizados na agricultura, favorecendo estudos na área de fertilizantes e metabolismo de plantas. Outra aplicação brasileira para a energia nuclear é na indústria metalúrgica para o controle de qualidade e produção dos produtos. A Marinha também conta com um centro experimental avançado com o intuito de desenvolver experiências na área de combustível nuclear. Contudo, ainda nos dias atuais, existe resistência por parte da população na criação de usinas radioativas como uma possível fonte de energia, uma vez que nosso país possui outras fontes mais atrativas de energia, como a hidrelétrica. Lembrete As radiações ionizantes são as ondas eletromagnéticas mais rápidas, com alta frequência e que causam efeitos deletérios à saúde humana, por exemplo: radiação ultravioleta, raios‐X e radiação gama. As radiações não ionizantes são ondas eletromagnéticas de propagação mais lenta e com baixa frequência, como: ondas de rádio, micro‐ondas, dentre outras. 5.1.3 Ar Do mesmo jeito que existe uma ligação entre a formação de energia pela água (hidrelétrica) com a contaminação da água, será que existe alguma ligação entre o uso de energia com a qualidade do ar que respiramos? Para responder a essa pergunta, vamos compreender melhor o processo histórico da utilização de energia. Na década de 1930, o processo industrial crescente que utilizava energia não renovável, além do aumento da frota automobilística, favoreceu a liberação de algumas substâncias para atmosfera, como os clorofluocarbonos (CFCs), os halons, os tetracloretos de carbono (CTCs) e os hidroclorofluocarbonos (HCFCs). Apesar do crescimento e desenvolvimento industrial e comercial gerado pelo uso dos CFCs, foi observado que esses compostos eram fortemente danosos para o meio ambiente e para os seres vivos, pois comprometiam seriamente a camada de ozônio e a qualidade do ar. Para compreender o que esses componentes fazem à camada de ozônio, temos que compreender o que é essa camada. Isso porque a qualidade do ar se enquadra como outro fator importante para a saúde humana, além da qualidade da água e do tratamento de esgoto. A atmosfera terrestre é uma fina camada de gases que envolve o planeta Terra, que é mantida em seu lugar pela gravidade e é considerada o principal fator de sustentação do ecossistema planetário. O ar seco da atmosfera é constituído de nitrogênio, oxigênio, argônio, dióxido de carbono e outros gases inertes. Os gases restantes incluem aqueles do efeito estufa, como dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e ozônio, além do vapor d’água. 58 Unidade II A camada de ozônio é formada pelo gás ozônio e é uma parte importante da atmosfera, pois é uma proteção poderosa contra os raios ultravioletas (UV) provenientes do Sol, permitindo que não aconteçam maiores danos à vida desses seres vivos. 5.1.4 Solo Até o momento, falamos da água, do ar e da energia e está faltando somente comentarmos sobre o solo. Contudo, precisamos antes discutir a respeito do planejamento urbano, para que, enfim, possamos enxergar os problemas e buscar as soluções. O solo também é considerado um recurso natural, pois é dele que produzimos alimentos, extraímos recursos e levantamos casas, grandes construções e infraestrutura necessária para o crescimento das cidades. De acordo com estudos geológicos, o solo tem origem no intemperismo das rochas, para formar cerca de 20 a 50 metros de solo (em profundidade) é necessário aproximadamente 1 milhão. Essa velocidade de formação está diretamente relacionada ao tipo de relevo e de clima, a exemplo do Brasil, um país de grandes extensões territoriais e de clima tropical, cujo solo é um dos recursos naturais mais abundantes. No que se refere ao uso do solo urbano, em âmbito nacional, a Lei n. 6.766, de 19 de dezembro de 1979, em seu artigo 3º estabeleceu, pela primeira vez, o parcelamento do solo para fins urbanos, em zonas urbanas, de expansão urbanaou de urbanização específica, assim definidas pelo plano diretor ou aprovadas por lei municipal. Entende‑se por plano diretor, um instrumento básico de um processo de planejamento municipal para a implantação da política de desenvolvimento urbano, norteando a ação dos agentes públicos e privados (ABNT NBR 12267, 1992, não mais utilizada pelo setor). Com a promulgação da Constituição Federal do Brasil, em 1988, compete aos municípios promover, no que couber, adequado ordenamento territorial mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano (BRASIL, 1988). Em 2001, a lei denominada Estatuto da Cidade, n. 10.257 estabeleceu normas de ordem pública e interesse social que regulamentou o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem‑estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental. O planejamento urbano é importante não somente para evitar o comprometimento do solo, mas também para garantir a qualidade de vida das pessoas que residem dentro de uma área urbana (cidades ou grandes bairros), pois ele permite tanto a criação quanto o desenvolvimento de programas que melhoram diversos aspectos, como educação, saneamento básico e destinação dos resíduos sólidos, entre outros. Claro que esse processo é mais efetivo quando as ações são executadas antes do aumento da população local, mas isso não impede que o planejamento seja executado mesmo quando a população já habita os grandes centros urbanos. 59 SAÚDE AMBIENTAL A preocupação com a desordem do crescimento populacional e o planejamento urbano acontece desde o começo do século XX, pois em dez anos houve um rápido aumento da população brasileira nos grandes centros urbanos, sendo que no ano 2000 cerca de 80% da população total habitavam as grandes cidades. Ao longo da história da humanidade, o conceito de ocupação da terra tem sido atrelado ao usufruto, mas atualmente essa ocupação está além desse aspecto, ou seja, tem características de habitações irregulares ou informais. A forma como acontecem as ocupações caracterizam o planejamento urbano, desde a ocupação da terra até a aquisição de infraestrutura e de serviços. Os primeiros relatos sobre o planejamento urbano surgiram cerca de 3.500 anos antes de Cristo (a.C.), sendo que a Grécia foi um dos cenários iniciais do planejamento urbano. Os historiadores contemplam o grego Hippodamus (498–408 a.C.) como o “pai” do planejamento urbano. Além disso, Aristóteles comentou que Hippodamus foi quem criou a divisão das cidades, a construção de casas privadas e arranjos de cidade com ruas retangulares e retilíneas, aplicados nas ruas de Pireu (Grécia). Diversas outras civilizações são apontadas como iniciantes do planejamento urbano, como as civilizações pré‑colombianas e a civilização do Vale do Indo. Entretanto, o destaque vai para a civilização romana que utilizou estratégias de planejamento urbano voltadas para defesa militar. O plano de construção das cidades era: uma praça quadrada central com serviços urbanos cercados por ruas, onde tudo era cercado por muro com o intuito de garantir a defesa do povo. Pelo menos duas ruas em diagonal cruzam a praça quadrada, diminuindo o tempo necessário para a locomoção do povo e um rio corre dentro da cidade para o fornecimento de água, despejo de esgoto e meio de transporte. Curiosamente, essa estrutura de cidade ainda pode ser observada nos dias atuais em algumas cidades europeias, como Roma e Turim (figura 17). A) B) Figura 17 – Modelos de cidades planejadas desde a Antiguidade. A) Turim – Itália B) Roma – Itália Na Idade Média, o crescimento populacional estava vinculado à religião, portanto, as cidades se desenvolviam ao redor das igrejas, pois a religião era parte da vida política, social e cultural das pessoas. Com o crescimento populacional, pequenas vilas foram se formando ao redor dos grandes muros que protegiam as cidades. A revolução industrial (séculos XVII–XIX) trouxe, juntamente com a criação de fábricas nas grandes cidades, um aumento populacional considerável, pois as pessoas buscavam outras oportunidades de vida e de trabalho, além daquelas encontradas no campo. Dessa forma, instalou‑se a necessidade de melhorias nas condições de vida dessas pessoas, reivindicações dos reformistas sociais, que batalhavam por melhores condições de vida, zoneamento e criação de áreas verdes comuns. Além disso, a industrialização proporcionou a separação das áreas comerciais e residenciais e favoreceu a criação de municipalidades e governos para melhoria da condição de vida da população. 60 Unidade II Algumas cidades modernas podem servir de modelo de planejamento urbano, como Brasília (Brasil) e Chicago (Estados Unidos) – esta última pode ser observada na figura 18. Afinal, quem é responsável pelo planejamento urbano no Brasil? A partir do século XIX, o planejamento urbano é de responsabilidade do governo, que tem como função a contratação de arquitetos especializados. Assim, a Constituição prevê que o Estado (país) deve garantir o desenvolvimento urbano, incluindo habitação, saneamento básico e transportes urbanos, estabelecendo as normas gerais de direito urbanístico. Figura 18 – Cidade de Chicago: modelo de cidade moderna planejada A institucionalização do planejamento urbano nas administrações municipais aconteceu a partir da década de 1970, com o intuito de promover o equilíbrio das cidades no processo de urbanização. O zoneamento é um dos instrumentos do planejamento urbano que visa à divisão do conjunto do território urbanizado em zonas diferenciadas, como as comerciais e residenciais. Assim, quando uma cidade é preparada para receber a população com um planejamento urbano adequado, favorece a preservação do solo e, consequentemente, a saúde humana. No final da década de 1970 e início de 1980, no Canadá, em 1980, foi criado o termo “cidade saudável”, que norteia, ainda nos dias atuais, todas as ações de saúde realizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Para que uma cidade seja considerada saudável, necessita: ser uma comunidade forte, solidária e constituída sobre bases de justiça social, tendo grande participação da população nas ações e decisões no âmbito da saúde; ser um ambiente favorável à qualidade de vida e saúde, limpo e seguro; satisfazer as necessidades básicas dos cidadãos (alimentação, moradia, trabalho, acesso a serviços de qualidade em saúde, educação e assistência social); e ter uma vida cultural ativa e uma economia forte, diversificada e inovadora. Dessa forma, considerando todos esses aspectos, quando pensamos em saúde e comunidade saudável, temos que pensar em: qualidade da água, do ar e do consumo, fontes de energia e estilo de vida. Uma vez que a água, a energia e o ar são fatores determinantes da vida, a manutenção adequada desses recursos é essencial para a qualidade de vida do indivíduo e da comunidade. 61 SAÚDE AMBIENTAL 6 PROBLEMAS ASSOCIADOS AO USO INCONSCIENTE DA ÁGUA, DA ENERGIA, DO AR E DO SOLO 6.1 Considerações gerais Por melhor que seja a condição de vida das pessoas, faz parte do cotidiano delas conviverem com saúde, doença e morte. Mesmo com todo o avanço e desenvolvimento tecnológicos, a fim de aumentar a qualidade de vida das pessoas, ainda existem fatores que são responsáveis por causar doenças. Agora que você já conhece os principais recursos naturais, é importante ter em mente que água, ar, energia e solo estão interligados. O território vai além das propriedades geofísicas e diversos fatores como mudanças climáticas, uso abusivo de recursos naturais, forma de organização das grandes cidades, produção e consumo de energia, descarte de resíduos de forma inadequada, má utilização do solo, uso de agrotóxicos, falta de planejamento dos grandes centros das cidades, poluição visual, sonora e do ar e falta de processos de reciclagem dos resíduos, entre outros, contribuem para o desencadeamento de doenças. Por exemplo, o efeito do aquecimento global sobre o meio ambientee a saúde humana estão esquematizados na figura a seguir: Elevação da temperatura planetária Alterações nos regimes das chuvas Ondas de frio e ondas de calor Descongelamento de micro‑organismos Enchentes/ enfermidades de veiculação hídrica Maior aglomeração/ doenças de transmissão respiratória Novas doenças Figura 19 – Inter‑relações entre ambiente e saúde Assim, o objetivo deste item é demonstrar os principais problemas associados aos recursos naturais, citados anteriormente. 6.2 Desenvolvimento urbano: implicações para os recursos naturais Será que conseguimos separar o desenvolvimento urbano dos quatro recursos naturais que já discutimos? É pouco provável. Portanto, caro aluno, vamos começar falando sobre o desenvolvimento urbano e fazendo conexão com cada um dos recursos naturais. Você perceberá no decorrer da discussão 62 Unidade II o impacto que o desenvolvimento urbano tem sobre todos os esses recursos. Especialmente no Brasil, onde os principais centros urbanos expandiram sem um planejamento inicial, tampouco um controle de ações. Há uma relação direta entre o desenvolvimento urbano e a água. Quando temos um desenvolvimento urbano desordenado, ele não respeita a preservação do ciclo hidrológico natural e favorece a ocupação populacional próximo aos leitos dos rios, locais de ligação com os mananciais, que são o berço de água potável. Exemplo de aplicaçãoExemplo de aplicação Em sua opinião, existe a possibilidade de uma comunidade conviver próximo a um rio sem poluí‑lo Em sua opinião, existe a possibilidade de uma comunidade conviver próximo a um rio sem poluí‑lo ou contaminá‑lo?ou contaminá‑lo? O aumento da pavimentação de ruas e estradas altera a permeabilidade do solo, favorecendo as inundações durante as épocas de maior pluviosidade (chuva). Lembrando que as enchentes dos rios são fenômenos naturais e de frequência variável, podemos inferir com clareza que a ocupação humana em torno dessas áreas é a principal culpada pela transformação da enchente em inundação, o que resulta em perdas humanas e materiais, além da disseminação de doenças graves de veiculação hídrica. Lembrete Mudanças climáticas, uso abusivo de recursos naturais, forma de organização das grandes cidades, produção e consumo de energia, descarte de resíduos de forma inadequada, má utilização do solo, uso de agrotóxicos, falta de planejamento dos grandes centros das cidades, poluição visual, sonora e do ar e falta de processos de reciclagem dos resíduos contribuem para o desencadeamento da doença. Somente as chuvas, pavimentação em excesso e ocupação desordenada de áreas ao redor de rios é que favorecem as inundações? O assoreamento também contribui para os episódios de inundação. Mas o que é assoreamento? É a diminuição da profundidade dos rios, interferindo drasticamente no leito hidrográfico. E como isso acontece? O assoreamento acontece pelo excesso de manipulação do solo, como em construções, na prática agrícola e/ou nos desmatamentos. Essas áreas modificadas favorecem o aumento das áreas sujeitas à erosão e aumentam a quantidade de argila, areia e folhas em áreas próximas às bacias de drenagem. Dessa forma, com a ocorrência das chuvas, todo esse material é drenado para os rios e lagos e se sedimentam no fundo do leito, diminuindo a profundidade do rio (o que contribui com enchente) e, além disso, contaminam a água. Vale a pena ressaltar que o crescimento populacional não demanda apenas água, mas também fornecimento dos alimentos, envolvendo as áreas de agricultura e pecuária predatórias. Já que o Brasil tem um amplo território destinado a essas culturas de subsistência, é natural que exista uma preocupação 63 SAÚDE AMBIENTAL em relação à qualidade da água dos mananciais, pois eles recebem águas de drenagem da agricultura e pecuária, ricas em adubos, pesticidas, herbicidas e aditivos químicos que acabam contaminando o solo e, consequentemente, a água. Os primeiros defensivos agrícolas utilizados indiscriminadamente surgiram por volta de 1900 e eram formados por DDT (diclorodifenil tricloroetano), o produto mais conhecido, resistente à biodegradação por até 30 anos. Esse composto foi utilizado por muitos anos em inseticidas domésticos e praguicidas de moléstias endêmicas. Os DDTs, em contato com a pele, vias respiratórias e aparelho digestivo afetam o sistema nervoso e causam tremores, convulsões, vômitos, insônia e dermatites, além de alterações no DNA das células. No Brasil, a proibição do uso de DDT aconteceu somente em meados de 2009. 6.3 Contaminação da água e doenças associadas Em relação à água, podemos contaminar os mananciais com produtos agrícolas ou pesticidas, que por incidência da chuva lixivia o solo contaminado e carrega os contaminantes para os rios e mananciais. Contudo, essa não é a única forma de contaminação da água e de causar doenças ao ser humano. Existem as doenças de veiculação hídrica. Mas o que são essas elas? As doenças de veiculação hídrica têm a água como a principal fonte de agentes infecciosos, sendo que alguns patógenos têm seu ciclo de vida total na água; existem ainda aqueles que desenvolvem seu ciclo de vida em um hospedeiro (um inseto) que necessita de água em seu ciclo biológico. Em humanos, essas doenças comprometem principalmente o aparelho digestório e os agentes causadores mais comuns são bactérias, fungos, vírus, helmintos e protozoários. Importante ainda ressaltar que algumas doenças podem ter origem hídrica, mas podem ser derivadas da alta concentração de algum componente químico, como o saturnismo, provocado pelo excesso de chumbo na água. Lembrete As doenças de veiculação hídrica são extremamente preocupantes e consideradas problemas de saúde pública, pois têm a água como principal fonte de agentes infecciosos. Como observado, as doenças de veiculação hídrica têm a água como fonte de agentes infecciosos e, para tal, o indivíduo precisa ingerir a água. Entretanto, as doenças são determinadas por um tempo de incubação da doença que acontece por dias ou semanas. Essas doenças também podem se propagar por contato indireto, como aquelas que ocorrem em casos de alimentos lavados com água contaminada. Basicamente, as doenças de veiculação hídrica podem ser agrupadas pela forma de transmissão: pela água, pela falta de limpeza e higienização e por vetores que se relacionam com a água e associadas a ela. Assim, são quatro grupos principais, descritos em detalhes a seguir: 64 Unidade II O primeiro grupo constitui as doenças transmitidas pela ingestão de água contaminada. Seguem as principais doenças: • Cólera (agente etilógico: bactéria Vibrio cholerae): incubação de aproximadamente três dias, com sintomas de diarreia com fezes semelhantes à água de arroz, sede, dores abdominais. • Febre tifoide (agente etiológico: bactéria Salmonella typhi): incubação de até duas semanas, com sintomas de infecção geral, febre contínua, manchas rosadas e diarreia. • Hepatite A (agente etiológico: Hepatite vírus): incubação de 20 a 40 dias, com sintomas de febre, perda de apetite, fadiga, icterícia com possível dano ao fígado. • Amebíase (agente etiológico: protozoário Entamoeba histolytica): incubação de duas a quatro semanas podendo ultrapassar, com sintomas de diarreia aguda de caráter sanguinolenta, febre e calafrios, podendo levar ao óbito. Nesse primeiro grupo estão ainda: Giardíase (agente etiológico: Giardia lamblia) e as diarreias que podem ter diferentes agentes etiológicos (E. coli, Rotavirus A e B, Balantidium coli, Cryptosporidium, entre outros). O segundo grupo de doenças abrange aquelas transmitidas pela falta de limpeza e higienização, associadas ao abastecimento insuficiente de água. Entre elas estão as doenças infecciosas na pele e olhos (tracoma) e as verminoses, causadas por parasitas intestinais. Seguem alguns tipos de doenças parasitárias: • Ascaridíase (agente etiológico: Ascaris lumbricoides): popularmente conhecido como lombriga. • Ancilostomíase(agente etiológico: Ancylostoma duodenale): popularmente conhecido como amarelão. • Enterobíase (agente etiológico: Enterobius vermicularis). • Tricuríase (agente etiológico: Trichuris trichiura). • Salmonelose (agente etiológico: Salmonella typhimurium). • Conjuntivite bacteriana (agente etiológico: Haemophilus aegyptius). • Tracoma (agente etiológico: Clamydia trachomatis). • Pediculose (agente etiológico: Pediculus humanus): conhecido popularmente como piolho. • Escabiose (agente etiológico: Sarcoptes scabiei): conhecida popularmente como sarna. 65 SAÚDE AMBIENTAL No terceiro grupo estão as doenças associadas à água quando uma parte do ciclo de vida do agente etiológico depende de um vetor aquático. Dessa forma, o transmissor da doença penetra na pele ou é ingerido pelo indivíduo. São as principais doenças do terceiro grupo: • Malária (agentes etiológicos: Plasmodium vivax, P. malarie e P. falciparum). • Dengue (agentes etiológicos: Aedes aegypti e Aedes albopictus). • Febre amarela (agentes etiológicos: Aedes aegypti e Haemagogus janthinomis). • Filariose (agente etiológico: Wuchereria bancrofti): conhecida popularmente como elefantíase. O quarto grupo é formado por doenças associadas à água, mas transmitidas por insetos (vetores) que se relacionam com a água. São elas: • Esquistossomose (agente etiológico: Schistossoma mansoni). • Leptospirose (agente etiológico: Leptospira interrogans). Quadro 9 – Grupos de doenças veiculadas pela água Grupo de doenças veiculadas pela água Tipos de doenças Grupo 1 ‑ Doenças transmitidas pela ingesta de água contaminada Cólera; febre tifoide; hepatite a; amebíase; giardíase; E. coli; rotavirus A e B; Balantidium coli; Cryptosporidium. Grupo 2 ‑ Doenças transmitidas pela falta de limpeza e higienização, associadas ao abastecimento insuficiente de água. Ascaridíase; ancilostomíase; enterobíase; tricuríase; salmonelose; conjuntivite bacteriana; tracoma; pediculose; escabiose. Grupo 3 ‑ Doenças associadas à água quando uma parte do ciclo de vida do agente etiológico depende de um vetor aquático. Malária; dengue; febre amarela; filariose. Grupo 4 ‑ Doenças associadas à água, as quais são transmitidas por insetos (vetores) que se relacionam com a água. Esquistossomose; leptospirose. Vale ressaltar que, paralelo ao tratamento de água, a oferta de saneamento básico para a população também pode ser considerada como um índice de desenvolvimento, bem como um marcador da qualidade de vida. Isso se deve ao fato de que sua ausência é capaz de gerar inúmeras desordens à saúde, como a mortalidade infantil, além de que, em relação à sustentabilidade, compromete os recursos hídricos às gerações futuras. Considerando que existem relações estreitas entre alguns fenômenos observados nas grandes metrópoles (enchentes, poluição de mananciais, falta de tratamento de água, alta produção e armazenamento inadequado de resíduos sólidos) com a doença, o levantamento de questões sobre saneamento básico e descarte adequado de resíduos é tão importante quanto aquelas relacionadas à distribuição de água adequada à população, pois elas podem ser consideradas responsáveis por impactos profundos na saúde dos indivíduos, bem como nos serviços de saúde utilizados por eles. 66 Unidade II Dados do IBGE (2008) demonstram que cerca de 55,2% da população brasileira possuem rede de coleta e tratamento de esgoto. Quando esse estudo relacionou o serviço de esgotamento sanitário com os de distribuição de água, manejo de resíduos sólidos e de águas pluviais foi observado que, em relação ao esgoto, os índices foram bem inferiores aos demais, indicando que o setor de saneamento é o que tem pior índice de desenvolvimento. O termo “poluição” é comumente definido como qualquer alteração da composição ou das características do meio, fato que causa perturbações no ecossistema. Observação A oferta de saneamento básico para a população também pode ser considerada como um índice de desenvolvimento, bem como um marcador da qualidade de vida da população. Caro aluno, gostaria que você respondesse: o que significa a poluição da água? A poluição das águas é baseada na alteração das qualidades originais das águas das nascentes dos rios. Os agentes poluidores não são apenas de natureza química, específica e tóxica e a ação nociva dos agentes pode englobar a quantidade ou, ainda, o seu caráter biodegradável. Além disso, o grau de dispersão, de diluição e de proporção entre volume de despejos e volume da fonte receptora também são importantes para caracterizar a ação nociva dos agentes poluidores. Por exemplo, o excesso de matéria orgânica vinda dos esgotos domésticos pode provocar a superpopulação de microrganismos, como bactérias e fungos e, ao mesmo tempo, estabelecer uma concorrência pela disponibilidade de oxigênio entre seres aeróbios presentes na água. A contaminação é diferente da poluição da água. Contaminação quer dizer introdução de substâncias nocivas que podem causar alterações no meio aquático, como a matéria orgânica em excesso, organismos patogênicos e metais pesados, além de despejos industriais ou da prática agrícola, como os defensivos agrícolas, conhecidos como “não biodegradáveis”. A consequência disso é o acúmulo dessas substâncias no organismo do ser humano. Por exemplo, a água contaminada pode não estar poluída, ela pode conter elementos maléficos à saúde, mas ainda assim ser consumida, pois suas qualidades iniciais como cheiro, gosto e turbidez não foram afetadas. Já a água poluída, além de ter todas as características originais alteradas, pode também estar contaminada, como nos rios Tietê e Pinheiros, na cidade de São Paulo, ou nos rios Doce e Paraopeba, em Minas Gerais, após o rompimento das barragens de mineração. Lembrete Poluição da água depende do volume de despejos e volume da fonte receptora. Contaminação da água depende da introdução de substâncias nocivas e/ou resistentes à degradação. 67 SAÚDE AMBIENTAL 6.4 Esgoto e doenças associadas Ainda que exista no Brasil uma Política Nacional de Saneamento Básico, Lei n. 11.445/2007, nem sempre estados e municípios investem massivamente em saneamento básico, especialmente no interior do país e nas regiões periféricas dos grandes centros urbanos o esgoto liberado a céu aberto, demostra um déficit entre crescimento urbano e o tratamento de esgoto. O esgoto despejado em um leito de rio pode ser estabilizado (decomposto) por um processo natural. Vamos imaginar que todo o esgoto gerado pelos estados abastecidos pela bacia hidrográfica do Rio Amazonas fosse despejado diretamente nele, seria fácil de entender que essa bacia teria condições de estabilizar todo esse esgoto, pois o volume de água suportaria tal condição. Mas, se considerarmos uma região populosa, como a Região Sudeste, que despeja todo seu esgoto diretamente sobre um rio, como esse rio ficaria? Você pode imaginar a situação: é só observar na região de São Paulo os rios Tietê e Pinheiros, que estão poluídos e contaminados. O grande desafio às autoridades para a preservação dos mananciais está na própria preservação do meio ambiente, com a restituição da fauna e flora de áreas em seus arredores. Contudo, não se deve deixar de lado melhorias no saneamento básico, pois é primordial o tratamento do esgoto antes de sua devolução aos corpos de água, uma vez que existe uma correlação entre os poluentes encontrados no esgoto e algumas consequências ao meio ambiente e na saúde. Quanto às doenças relacionadas ao esgoto, elas derivam do inadequado acondicionamento dos dejetos nos corpos de água. Um exemplo disso é a presença de coliformes fecais, o que indica contaminação fecal do corpo de água. Esses coliformes também podem ser encontrados no solo (pela defecação de animais) e nos alimentos (pela higienização deficitária). As fezes de um homem/animal doente podem conter ovos de parasitas, que, no solo, podem eclodir e, consequentemente, liberar as larvas que penetram facilmente pelapele de outra pessoa/animal que se encontra saudável. A penetração pela pele favorece a instalação dessas larvas no intestino, comprometendo diversos órgãos. Lembrete O grande desafio às autoridades para a preservação dos mananciais vai desde a preservação do meio ambiente, restituição da fauna até a flora de áreas aos seus arredores, sem nos esquecer das melhorias à oferta de saneamento básico. Já os alimentos se tornam veículos de transmissão e disseminação de doenças quando, em alguma fase do processo, entram em contato com solo contaminado, são mal lavados ou higienizados com água contaminada. Outro exemplo é a ingestão de carne mal cozida de um animal infectado, além da procriação de insetos em locais infectados, favorecendo a disseminação de doenças. Todos esses elementos são identificáveis e estão resumidos na figura a seguir. 68 Unidade II Interessante ressaltar que muitas doenças de veiculação hídrica se enquadram naquelas relacionadas ao esgoto, principalmente as verminoses. Entre essas doenças estão a cólera, a febre tifoide, a hepatite A e E, a ascaridíase, a tricuríase, a ancilostomíase, a esquistossomose, a teníase, a cisticercose, a toxoplasmose e as diarreias agudas. Como prevenção, podemos citar algumas medidas: uso de vasos sanitários evitando a contaminação do solo; lavagem das mãos após o uso do banheiro e antes de manipular alimentos; evitar banhos em córregos; lavar frutas e legumes utilizando água potável, filtrada ou fervida; cozinhar muito bem carnes que venham de locais de abate desconhecidos; melhorar instalações sanitárias; tratar o esgoto antes de disponibilizá‑lo ao solo e controlar a proliferação de vetores. Vetores (insetos, mosquitos, caramujos) Solo (evacuaçãoes) Mãos (má higienização) Água (mananciais) Alimentos Doença Boca (ingestão) Pele (absorção) Excrementos Figura 20 – Esquema de geração de doenças de origem fecal Lembrete As doenças relacionadas ao esgoto estão vinculadas ao inadequado acondicionamento dos dejetos nos corpos de água, como os coliformes fecais, e os encontrados no solo (pela defecação de animais) e nos alimentos (pela higienização deficitária). Por outro lado, considerando também que a degradação dos mananciais ocorre pela poluição da água (relacionada à proporção entre o volume de despejos e o volume da fonte receptora), bem como pela contaminação (introdução de substâncias nocivas e/ou resistentes à degradação no meio), todas as substâncias despejadas na água ou no solo podem ser prejudiciais ao meio ambiente e à saúde humana. Vale ressaltar que quando despejamos nutrientes na água derivados de esgoto, fertilizantes ou medicamentos, ocorre a eutrofização de ambientes hídricos. Basicamente, a eutrofização é um processo crescente e preocupante que ocorre devido ao excesso de minerais e matéria orgânica, principalmente nitrogênio e fósforo, favorecendo o crescimento desordenado de várias espécies de algas, como as azuis, fenômeno denominado floração. As algas azuis são cianobactérias, ou seja, micro‑organismos 69 SAÚDE AMBIENTAL componentes do fitoplâncton que acabam formando uma camada espessa e opaca sobre a superfície de qualquer corpo de água. Essa camada dificulta a entrada de luz e impede que camadas internas realizem fotossíntese, diminuindo a concentração de oxigênio disponível e, consequentemente, a vida aquática. Além disso, as algas azuis liberam toxinas que causam efeitos tóxicos aos seres humanos e a qualquer organismo do ambiente aquático. 6.5 Uso de energia não renovável e contaminação do ar O desenvolvimento humano favorece a utilização de energia não renovável, como o petróleo. Se lembrarmos do que discutimos anteriormente em relação à energia, o desenvolvimento urbano pode comprometer o ar que respiramos quando usamos energia não renovável. No entanto, outras substâncias nocivas podem ser produzidas pelo desenvolvimento industrial e lançadas para a atmosfera terrestre. Você se lembra dos clorofluocarbonos (CFCs), os halons, os tetracloretos de carbono (CTCs) e os hidroclorofluocarbonos (HCFCs)? Foi constatado que esses compostos são fortemente danosos para o meio ambiente e para os seres vivos, pois danificam seriamente a camada de ozônio e comprometem a qualidade do ar. Quando essa camada é danificada pelo aumento da liberação de gases do efeito estufa, gera consequências irreversíveis para a vida, como o aquecimento global. Este, por sua vez, afeta o clima da Terra e é responsável pelo surgimento de diversas doenças. As doenças de ordem respiratória, como rinite, bronquite, asma, pneumonia e processos alérgicos, entre outros, são influenciadas pela má qualidade do ar que respiramos. Esse processo, resultado do desenvolvimento e da ação humana, se grava pela falta de áreas verdes, principalmente nas grandes metrópoles, e pelo aumento da produção de substâncias químicas (como o monóxido de carbono) despejadas na atmosfera (de veículos ou atividades industriais). Saiba mais Para conhecer mais a respeito da consequência da má qualidade do ar para saúde humana, sugiro a leitura do artigo: GIODA, A.; GIODA, F. R. A influência da qualidade do ar nas doenças respiratórias. Health and Environment Journal, v. 7, n. 1, 2006. A radiação é outra fonte de energia não renovável que traz várias consequências para a saúde humana. Os efeitos da exposição humana aos raios γ podem ser classificados como agudos (quando a pessoa tem contato direto com o material radioativo e o aparecimento dos sintomas é imediato) ou crônicos (quando há exposição indireta da pessoa ao material radioativo e o aparecimento dos sintomas acontece ao longo de anos). As principais consequências da exposição do corpo ao material radioativo estão associadas às modificações na estrutura do DNA celular, fato que causa mutações genéticas e, consequentemente, o câncer. Já os efeitos agudos variam desde uma queimadura até o rompimento de plaquetas. 70 Unidade II A grande preocupação com o evento ocorrido no Japão, discutido previamente, foi a contaminação do ambiente pelo vazamento do conteúdo radioativo das usinas, contaminando a população de forma indireta, ou seja, por meio da água e dos alimentos. Essa contaminação pode também durar por várias gerações, como o ocorrido com a explosão da bomba de Hiroshima, causando infertilidade em massa. Assim, atitudes de gerenciamento de rejeitos radioativos são extremamente importantes para a diminuição da contaminação dos seres humanos por radiação. 6.6 Contaminação do solo Quando as cidades são construídas de forma desordenada, as consequências desse crescimento se propagam para o ambiente e para a saúde da população, como descrito anteriormente. A impermeabilização dos solos pode representar grandes riscos para eventos de erosão, assoreamentos, alagamentos, inundações e proliferação de problemas de saúde pública. Dados do IBGE (2008) demonstraram que somente cerca de 40% dos municípios são pavimentados no Brasil. Além disso, o uso do solo urbano de forma inadequada colabora para a ocorrência de alagamentos e inundações. A poluição do solo vai além da disposição dos resíduos sólidos em aterros inadequados ou falta de pavimentação das vias públicas. Esse tipo de poluição é dividido em urbana e rural. Com certeza a disposição inadequada dos resíduos sólidos é uma das formas mais comuns de poluição do solo em áreas urbanas. Já em relação à poluição rural, podemos destacar o uso de agrotóxicos, queimadas, desmatamentos e má utilização do solo, que podem gerar danos irreversíveis, como a falta de fertilidade e contaminação da água. Em relação aos agrotóxicos, os principais são os herbicidas e os pesticidas que possuem em sua fórmula dioxina, responsável pelo surgimento de câncer, defeitos congênitos e doenças de pele. Além disso, os fertilizantes também contribuem com a poluição do solo, pois possuem em sua composição nitratos e fosfatos que, em excesso podem se tornar um problema ambiental. A erosão consiste naação de diversos fatores que provocam a desagregação do solo. Esses acontecimentos são causados pelo uso de solos desprotegidos, como desmatamento e retirada completa da vegetação, deixando o solo descoberto; plantio de forma incorreta; plantio de culturas não adaptadas às características da terra; pisoteio excessivo do gado em pastagens; queimadas; compactação do solo pelo movimento de máquinas e veículos e urbanização/impermeabilização do solo. Assim, diversos eventos podem contribuir para a contaminação do solo e, consequentemente, para a geração de danos ao meio ambiente e saúde. 6.7 Transgênicos Sabendo de todos os riscos que produtos usados no meio agrícola causam ao meio ambiente e saúde, pela contaminação do solo e, consequentemente, da água, pesquisadores criaram alternativas para diminuir esses impactos, como os alimentos transgênicos. A Lei n. 11.105 de 24 de maço de 2005, define transgênicos como Organismos Geneticamente Modificado (OMG), ou seja, organismo cujo material genético (DNA/RNA) tenham sido modificados por qualquer técnica de engenharia genética. Na agricultara, tal modificação busca maior resistência a 71 SAÚDE AMBIENTAL pragas e adaptação a diferentes climas e períodos, diminuindo assim o uso de agrotóxicos bem como, aumentando a produção. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Ministério da Saúde (MS), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) foram contrários à liberação de transgênicos de algumas empresas, mas o Conselho de Ministros do país desconsiderou o pedido desses órgãos e liberou alguns transgênicos como milho e soja para o consumo. Se as pessoas quiserem evitar o consumo desses alimentos, precisam ficar atentas aos rótulos. O art. 40 da lei dos transgênicos diz que os alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de OGM ou derivados deverão conter informação nesse sentido em seus rótulos, conforme regulamento. O Decreto n. 4.680/ 2003 e a Portaria n. 2.658/2003 do Ministério da Agricultura e Pecuária e Abastecimento ‑ MAPA definiram como símbolo de produtos transgênicos para fins de rotulagem, o símbolo a seguir: Figura 21 ‑ Representação gráfica para rotulagem de produtos transgênicos Exemplo de aplicaçãoExemplo de aplicação Convidamos você, caro aluno, a refletir sobre o impacto do uso dos transgênicos à saúde humana e Convidamos você, caro aluno, a refletir sobre o impacto do uso dos transgênicos à saúde humana e ao meio ambiente.ao meio ambiente. Pesquisas indicam que alimentos transgênicos podem causar alergias, resistências aos antibióticos e toxicidade. As alergias são causadas pelas modificações nos alimentos derivadas do processo de transformação. A resistência aos antibióticos é devido ao uso de genes de bactérias. Já a toxicidade está relacionada ao aumento da quantidade de substâncias tóxicas naturais de algumas plantas e micro‑organismos, pois estes, quando unidos no processo, podem aumentar consideravelmente a quantidade das toxinas. Além disso, a maioria dos transgênicos é resistente aos agrotóxicos, favorecendo o aumento da quantidade de produtos químicos nos alimentos. Lembrete Transgênicos são seres vivos criados em laboratório através de cruzamentos que nunca aconteceriam naturalmente no meio ambiente. 72 Unidade II 6.8 Resíduos sólidos: doenças associadas O desenvolvimento urbano implica em situações que comprometem a água com o aumento do despejo de esgotos a céu aberto. O lixo acaba se tornando fonte de alimento para diversos vetores que causam doenças. Ainda em relação às doenças, os vetores podem transferir um agente infeccioso de uma população animal portadora de doença aos seres humanos. Geralmente, isso ocorre quando insetos picam pessoas contaminadas e, em seguida, picam uma pessoa sadia. O consumismo humano favorece o acúmulo de resíduos e lixo. Importante ressaltar que a prevalência das doenças é maior na população carente que, por falta de recursos, instala sua moradia em locais de risco, sem abastecimento de água, sem coleta de esgoto e, na maioria dos casos, em locais que deveriam ser destinados à preservação ambiental. Contudo, pessoas de renda superior contribuem para o consumismo e produção de resíduos, cuja destinação também constitui um grande problema ambiental. De acordo com normas e legislações vigentes resíduos sólidos podem ser definidos como “resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição” (ABNT/NBR 10004, 2004). Já a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), em seu artigo 3º, inciso XVI diz que: resíduo sólido é definido como material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido (BRASIL, 2010). Ainda no artigo 3º, o inciso XV define rejeito como, resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada. Neste sentido, nem todo lixo pode ser resumido como um produto final a ser descartado, uma vez que o lixo pode ter certo valor, ou ser reutilizado e/ou reaproveitado por outras pessoas (exemplo: latas de alumínio ou roupas). Ainda assim, popularmente o termo lixo é utilizando para definir algo que não tenham mais utilidade e deve ser descartado. A falta de coleta e a disposição inadequada transformam o lixo em fonte de alimento, abrigo e proliferação de macrovetores de doenças. Ratos, baratas, suínos e aves são considerados os macrovetores mais comuns em ambientes urbanos com pouca estrutura de saneamento básico e contribuem para a proliferação de diferentes doenças, como observado no quadro a seguir. Saiba mais Para compreender um pouco mais sobre as doenças relacionadas aos vetores e à água, sugiro a leitura: CRISTINO, L. G. Bahia inicia uso de inseto transgênico contra a dengue. Folha de S. Paulo, São Paulo, 24 fev. 2011. Disponível em: https://www1. folha.uol.com.br/ciencia/2011/02/880408‑bahia‑inicia‑uso‑de‑inseto‑ transgenico‑contra‑dengue.shtml. Acesso em: 17 jun. 2020. 73 SAÚDE AMBIENTAL Ainda sobre os macrovetores, é interessante salientar que, para serem contaminados, eles entraram em contato com o agente infeccioso e, portanto, transportaram esse agente em seu corpo, asas, patas e penas. Além disso, os macrovetores podem ter ingerido material contaminado e, da mesma forma, transmitem o agente infeccioso por meio de sua saliva, picada, urina e fezes. Lembrete Resíduo pode ser considerado qualquer material que sobra após uma ação ou processo produtivo. Somente quando esgotamos todas as possibilidades com o resíduo é que podemos defini‑lo como lixo. Dos mosquitos (pernilongos), apenas as fêmeas são hematófagas (se alimentam de sangue) e, assim, transmitem a doença por meio da picada, enquanto os machos se alimentam de néctar de flores e sucos de vegetais. Quadro 10 – Grupos de doenças veiculadas por vetores Doença Vetor Transmissão Leptospirose, peste bubônica e tifo murinho Ratos e pulgas que vivem no corpo do rato Mordida, pela urina e pelas fezes desses roedores Febre tifoide, cólera, amebíase, disenteria, giardíase, ascaridíase, amebíase, salmonelose Moscas, insetos Via mecânica, através de asas, patas e corpo, e pelas fezes e saliva desses insetos Malária, febre amarela, leishmaniose, dengue e filariose Mosquitos Picada das fêmeas Febre tifoide, giardíase e cólera Baratas, insetos Por via mecânica, através das asas, patas, corpo e pelas fezes desses insetos Cisticercose, toxoplasmose, triquinelose, teníase Suínos e gado Ingestão de carne contaminada Toxoplasmose Cão, gato e aves Urina e fezes
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