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TRISTEZA PARASITÁRIA BOVINA

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TRISTEZA PARASITÁRIA BOVINA - ZOOTECNIA
A partir da determinação da presença de anticorpos pelo diagnóstico sorológico, as áreas de estudo foram classificadas de acordo com Sacco (2002), que caracterizam as regiões como áreas livres - aquelas onde o carrapato não ocorre devido às condições climáticas que impedem o desenvolvimento do parasito; áreas de instabilidade enzoótica - onde a ocorrência de uma estação seca ou fria impede o desenvolvimento da fase de vida livre do carrapato durante parte do ano, de forma que os bovinos passem uma época do ano sem contato com o parasita ou com poucos carrapatos, não desenvolvendo imunidade duradoura contra a doença, e apresentam prevalência de animais sorologicamente positivos entre 20% e 75% (Mahoney & Ross 1972, Araújo et al. 1997, Guimarães et al. 2011); e áreas de estabilidade enzoótica - onde a presença do carrapato ocorre durante todo o ano, fazendo com que os bovinos sejam expostos a carrapatos infectados, permanecendo imunizados.
Nas áreas de instabilidade enzoótica é importante o conhecimento da condição imunológica dos animais do rebanho, considerando-se a necessidade de adotar medidas de controle como adoção de manejo adequado, controle de vetores, vacinação e os riscos no transporte dos animais. Deve-se considerar que nestas áreas, a TPB pode causar grandes prejuízos aos produtores da região, devido à possibilidade da ocorrência de um grande número de casos clínicos com alta taxa de mortalidade.
Estudos referentes à ocorrência da TPB realizados em diversas regiões semiáridas do Brasil têm encontrado situações epidemiológicas diferentes. Os dados obtidos neste estudo estão de acordo com Costa et al. (2009, 2011) que verificaram no sertão paraibano áreas de instabilidade enzoótica, constatando a ocorrência de surtos de TPB no final da época de chuvas nas áreas de planaltos e serras, em áreas úmidas e também em áreas irrigadas, como no município de Patos, PB. Entretanto, áreas de estabilidade enzoótica para B. bovis e B. bigemina têm sido encontradas no município de Paudalho, PE (Berto et al. 2008), em diferentes microrregiões do Estado da Bahia (Araújo et al. 1997; Barros et al. 2005) assim como em outras regiões do Brasil (Barci et al. 1994, Soares et al. 2000, Madruga et al. 2000, Trindade et al. 2010).
A susceptibilidade dos animais aos agentes da TPB é influenciada por vários fatores, destacando a idade, raça, estresse ambiental, e, nos primeiros meses de vida pela imunidade passiva (Costa et al. 2011). Geralmente, os casos clínicos são mais graves em bovinos adultos, uma vez que os animais jovens, até os seis meses de idade, apresentam maior resistência natural à infecção (Furlong et al. 2002, 2005). Em áreas de instabilidade, a ausência de vetores em determinada época do ano suspende a transmissão contínua dos agentes da TPB aos bovinos, principalmente em animais jovens, fazendo com que a soroconversão ocorra em faixas etárias elevadas. Animais adultos apresentam maior prevalência de anticorpos para babesiose e anaplasmose.
A maior parte do território brasileiro encontra-se na situação de estabilidade enzoótica, porém, deve-se considerar que estas situações epidemiológicas não são absolutas. Mesmo em áreas de estabilidade, o tratamento intensivo com carrapaticida ou o uso de práticas de manejo que favoreçam a erradicação do carrapato, como, por exemplo, a interação lavoura-pecuária, podem gerar situações de instabilidade e não imunização adequada dos animais por falta de desafio. Além disso, no sertão nordestino, situações de instabilidade enzoótica também podem ocorrer (Santos et al., 2017). Diferentemente do que acontece no Rio Grande do Sul, o Nordeste não se encontra em uma zona marginal, mas períodos prolongados de seca também interferem no desenvolvimento do carrapato e podem levar à interrupção do ciclo de transmissão dos agentes de TPB deixando os animais mais susceptíveis.
Animais criados em áreas livres, quando vendidos já adultos para propriedades com ocorrência de carrapatos, provavelmente adoecerão, com elevado risco de morte.
Para que um animal se torne imune sem apresentar sintomatologia clínica é necessário que tenha tido contato com o parasita antes dos nove meses de idade. Considerando o rebanho como um todo, isso se dá quando o carrapato é encontrado mais ou menos constantemente ao longo do ano, conforme ocorre nas situações de estabilidade enzoótica. Já nas áreas de instabilidade, o número de carrapatos é flutuante, a inoculação não é constante e muitos animais só se infectam tardiamente, quando a infecção pode ser letal (Mahoney, 1969).
Além das condições meteorológicas, ao se fazer um diagnóstico do problema com carrapatos na propriedade, deve-se levar em consideração as raças criadas e aspectos do manejo dos animais, tais como, número de tratamentos carrapaticidas, ciclo de produção na propriedade (cria, recria, engorda), tipo de pastagem utilizada, rotação com outras culturas, uso de diferimento7 de pastagem, entre outros.
Além da temperatura, a umidade também é bastante importante no desenvolvimento do carrapato, sendo o carrapato-do-boi bastante sensível ao dessecamento (Davey et al., 1991). Esta é a razão pela qual algumas áreas do sertão do Nordeste também sejam consideradas como de instabilidade enzoótica. Neste caso, também se deve primar por permitir uma leve infestação dos bezerros, embora as épocas do ano variem em relação ao que acontece no Sul.
O Brasil é reconhecido como um país enzoótico para TPB. No entanto, existem regiões que em função de suas condições edafoclimáticas não favorecem o desenvolvimento do carrapato durante todo o ano. Este leva ao desenvolvimento de áreas de instabilidade enzoótica para TPB de acordo com conceitos de Mahoney & Ross (1972). É conhecido que as maiores perdas econômicas referentes à TPB ocorrem em áreas de instabilidade enzoótica ou por ocasião da transferência de animais destas, ou de áreas livres, para outras cuja situação epidemiológica seja de estabilidade.
As áreas de estabilidade enzoótica são aquelas em que existe equilíbrio entre imunidade e doença, onde 75% dos animais com idade acima de 09 meses são portadores de hemoparasitos. Isso significa que a maioria desses animais estão adquirindo a infecção ainda como bezerros (primoinfecção precoce durante a fase mais resistente às plasmoses). Essa infecção vem sendo mantida assintomaticamente nos animais mais velhos através das reinfecções pela manutenção da população de B. microplus, infestando os animais durante todo ano e acarretando baixa mortalidade pelas hemoparasitoses em animais adultos.
Para evitar o aparecimento de animais doentes em uma área, em função de altas infestações de carrapatos e, conseqüentemente, doses infectantes de Babesia maiores, recomenda-se que os rebanhos recebam de 10 a 20 larvas de carrapato/animal/dia (LIMA, comunicação pessoal). Esse número de carrapatos é necessário para inoculação das Babesias na manutenção da estabilidade enzoótica em um rebanho. No país, a taxa de infecção dos carrapatos e, conseqüentemente, a taxa de inoculação, é obtida em inúmeras propriedades em que se realiza o controle estratégico. Pode-se considerar também estabilidade enzoótica aquela em que a porcentagem de animais infectados é menor que 20%, onde a população de carrapatos está possivelmente em níveis muito baixos, estando próximo de sua erradicação. Nessas áreas, ocorrem baixas taxas de inoculação, não propiciando a surtos.
Alguns fatores influenciam a susceptibilidade dos animais às hemoparasitoses, destacando-se: os animais Bos taurus são mais sensíveis aos carrapatos e assim às hemoparasitoses, enquanto o gado zebu é naturalmente mais resistente; os bovinos jovens são mais resistentes do que os adultos. Essa resistência decorre da presença de anticorpos colostrais, rápida resposta da imunidade celular, maior eritropoese da medula óssea e da presença de hemoglobina fetal nos eritrócitos. Sendo assim, a infecção precoce é importante devido a menor susceptibilidade dos animais jovens que apresentam quadrosclínicos menos severos (RISTIC, 1960). A primoinfecção ocorre geralmente entre quatro a seis semanas de vida, sendo que o pique de parasitemia coincide com a queda do volume globular (MADRUGA et al., 1986). Pode ocorrer instabilidade pela presença de fatores imunossupressivos em associação à alta carga parasitária pelo vetor no período. Como causas da diminuição do “status” imune, podem-se assinalar a imunidade passiva insatisfatória, o estresse, o estado nutricional, a época do ano, o manejo instituído, periparto e tipo de pastagens. 
Numa população de animais susceptíveis, principalmente aqueles em processo de premunição ou transportados de áreas indenes e/ou de instabilidade enzoótica, a mortalidade em decorrência da anaplasmose é maior em animais mais velhos (HUNGERFORD & SMITH, 1997). Os animais mais novos adquirem a infecção e, quando manifestam sintomas clínicos, são mais resistentes do que os adultos. A explicação para isso deve-se ao fato de que animais mais jovens ainda apresentam soro e hemoglobina fetal, o que prejudica parcialmente a multiplicação do agente no sangue e determina uma maior atividade eritropoiética da medula óssea (RISTIC, 1960). Também a presença de anticorpos maternos adquiridos pelo colostro (CORRIER & GUZMAN, 1977) confere uma imunidade parcial. Dessa forma, animais mais velhos, susceptíveis, tendem a apresentar maiores parasitemias e uma anemia mais severa. Nos animais adultos, a doença apresenta-se de forma aguda ou hiperaguda.
No Brasil, são endêmicas na maior parte do território onde se criam bovinos. No Nordeste, devido à seca, criam-se áreas de instabilidade no sertão da Bahia, Pernambuco e Ceará. Nas demais áreas, devido às condições climáticas favoráveis para o desenvolvimento do carrapato, durante todo o ano, a situação é de estabilidade endêmica . Esta estabilidade, porém, pode ser quebrada por programas de controle intensivo do vetor. Assim, no Brasil tem-se três situações epidemiológicas distintas, com relação ao carrapato e à TPB: situação livre, onde as 52 condições climáticas, na maior parte do ano, não são favoráveis ao desenvolvimento do carrapato; situação de instabilidade endêmica, em que o carrapato interrompe seu ciclo por um período de 2 a 3 meses, devido a condições climáticas desfavoráveis e situação de estabilidade endêmica, em que as condições climáticas são favoráveis ao desenvolvimento do carrapato durante todo o ano. Os bovinos nascidos em regiões livres do carrapato são sensíveis à TPB. Em regiões de instabilidade endêmica, muitos bezerros nascem no período em que não há carrapatos, assim, ao perderem a proteção dos anticorpos colostrais, tornam-se totalmente sensíveis à doença. Nas regiões de estabilidade endêmica, os bezerros são infectados pelos agentes da TPB durante os primeiros dias de vida quando possuem imunidade passiva, transmitida pelas vacas através do colostro.
O elevado percentual de animais zebuínos ou com elevado grau de sangue zebuíno destinado a produção de carne faz com que os rebanhos apresentem considerável resistência genética à infestação por R.(B.) microplus. As manifestações clínicas de TPB são mais raras em animais zebuínos, como o Nelore e seus cruzamentos (BOCK et al., 1997). A resistência é ainda mais evidente quando os animais nascem em áreas endêmicas para a TPB e não compartilham pastagens com animais de origem européia (MADRUGA et al., 1984; SOARES et al., 2000; SOUZA et al., 2000), o que é compatível com os sistemas de produção de bovinos prevalecentes nesses estados.
Ao se fazer a anamnese, têm-se informações da origem, raça e idade dos animais doentes. Se os animais forem importados de áreas livres ou de instabilidade endêmica há grande probabilidade de tratar-se de TPB, caso os sintomas sejam sugestivos. Estes animais irão apresentar os primeiros sintomas 7 a 14 dias após serem expostos à infestação pelos carrapatos. Bovinos das raças européias, são mais sensíveis que os zebuínos. Tratando-se de animais nativos, sabe-se que os bezerros, obrigatoriamente, passam por períodos críticos até a consolidação da imunidade ativa. Além disto, animais submetidos a condições estressantes, como viagens longas, desmama, castração, podem sofrer recidiva, principalmente, de anaplasmose.
CONTROLE
Em áreas de estabilidade endêmica, o controle é baseado na manutenção do equilíbrio endêmico. Sabe-se que o carrapato, por si só, é um parasito que causa grandes prejuízos ao hospedeiro. Entretanto, seu controle deve ser feito de modo a permitir um certo nível de parasitismo que permita que todos os bezerros sejam 55 inoculados com os agentes da TPB, antes do desaparecimento da imunidade passiva . O excesso de carrapatos, além de causar anemia, pode causar imunossupressão, levando a recidivas, principalmente, de anaplasmose. Em situações de instabilidade endêmica ou na importação de bovinos de áreas livres, o controle deve ser baseado na vacinação da população em risco. Neste caso, os animais a serem vacinados devem ser mantidos livres de carrapato durante o período de reação vacinal. O controle da TPB deve ser priorizado para os rebanhos leiteiros criados, uma vez que, a maioria dos animais utilizados para produção de leite são produtos de cruzamento de animais zebuínos com raças especializadas européias, logo a presença de sangue taurino torna os animais mais predispostos à infestação por carrapatos, portanto, mais susceptíveis à TPB.
PREMUNIÇÃO
Premunição é um termo introduzido por Sergent et aI. (1924) que significa imunidade concomitante. Este método de vacinação teve início com os trabalhos publicados por Pound (1897) na Austrália e Connaway & Francis (1899), nos EUA, citados por Callow (1977). Os primeiros trabalhos de premunição iniciaram-se, no Brasil, no início deste século, conforme revisão apresentada por Freire (1979). Desde sua introdução no País sofreu várias modificações. Resumidamente, o método consiste em colher sangue, desfibrinado ou com anticoagulante, de bovinos adultos, portadores crônicos, geralmente mantidos no campo, e inocular, por via subcutânea, quantidades que variam de 3 a 5 ml, nos animais a serem imunizados. Estes animais devem ser examinados diariamente, durante os períodos de reação às Babesia spp.ao Anaplasma marginale, sendo medicados sempre que apresentarem a doença em sua forma aguda. Após o término dos períodos de reação, os animais são reinoculados. Os animais que reagirem clinicamente e tiverem que ser medicados durante esta segunda infecção, deverão ser inoculados novamente, para a confirmação do desenvolvimento da imunidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/709139/1/cot329tristezaparasitaria.pdf
https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/1107099/1/Tristezaparasitariabovina.pdf
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-736X2017000100001&script=sci_arttext&tlng=pt
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-84782000000100030&script=sci_arttext&tlng=pt
https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/196071/1/Carrapato-tristeza-parasitaria.pdf#page=52

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