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Livro do professorLivro do professor Livro de atividades Produção de texto 8o. ano Volume 3 1 Proposta 5: Gente feita de prosa 21 Proposta 6: Guerra dentro da gente 28 Proposta 7: “A função do escritor? Ser testemunha do seu tempo e da sua sociedade.” 33 Proposta 8: O imenso Graça, um escritor cuja fome sempre foi de justiça 35 2 Histórias de vida e sobrevida: biografia e autobiografia 21 A liberdade de expressão em textos de opinião 2 Proposta 1: Para que existe a liberdade de expressão 2 Proposta 2: Por que o discurso do ódio não é liberdade de expressão? 9 Proposta 3: Redação no Enem: liberdade de expressão versus discurso de ódio 14 Proposta 4: Falar demais não é o mesmo que argumentar 18 © Sh ut te rs to ck /R ed sh in es tu di o A liberdade de expressão em textos de opinião Para que existe a liberdade de expressão A LIBERDADE DE EXPRESSÃO ESTÁ RELACIONADA À GARANTIA QUE OS INDIVÍDUOS TÊM DE MANIFESTAR LIVREMENTE IDEIAS E INFORMAÇÕES SEM QUE SEJAM PUNIDOS POR ISSO. TEXTO 1 • Registre, nas linhas a seguir, sua interpretação do texto não verbal apresentado. Deixe claro em que sentido a imagem pode se relacio- nar à liberdade de expressão. Esperamos que os alunos percebam que o homem está sendo tolhido de sua liberdade de expressão. Veja-se o X na boca do personagem, que apenas pensa, mas não pode “falar o que pensa”. A proposta deste capítulo é orientar e incentivar uma breve, porém responsável, reflexão sobre a liberdade de expressão. Convém recuperar os conceitos de direito, ética, política, relativismo e termos afins, necessários para a compreensão de teorias e conceitos presentes em diversos textos, com vistas a instigar a reflexão do leitor para que fale, escute e escreva usando o bom senso. Sua mediação é importante para que as atividades de leitura, compreensão e produção de textos orais e escritos sejam, de fato, produtivas. Além de artigos, utilizamos charges, notícias e tirinhas. Recomendamos a leitura do texto Liberdade de expressão: uma análise entre direito, ética e relativismo, de Renan Peruzzolo (Disponível em: <https://f ilosofiadocotidiano.org/ liberdade-de-expressao-uma-analise- entre-direito-etica-e-relativismo/>. Acesso em: 28 jan. 2019.). Sugerimos também a leitura da obra A revolução dos bichos, de George Orwell. © Sh ut te rs to ck /S tu di os to ks Para que existe a liberdade de expressão A LIBERDADE DE EXPRESSÃO ESTÁ RELACIONADA À GARANTIA QUE OS INDIVÍDUOS TÊM DE MANIFESTAR LIVREMENTE IDEIAS E INFORMAÇÕES SEM QUE SEJAM Q Pr op os ta 1 Pr op os ta 1 Pr op os ta 1 2 Livro de atividades 1 33 Produção de texto – 8o. ano – Volume 3 – Proposta 1 PARA DEFINIR LIBERDADE DE EXPRESSÃO, RENATO JANINE UTILIZA UM TERMO MARCADO SOCIALMENTE – É UMA FORMA TABU, MAS QUE, INDISCUTIVELMENTE, PERTENCE À LINGUA. NA SEQUÊNCIA, O AUTOR EXPLICA PARA QUE ESSA LIBERDADE FUNDAMENTAL EXISTE E QUAIS SÃO SEUS LIMITES. TEXTO 2 O uso da expressão tabu “falar merda” – forma popular, gíria, para definir liberdade de expressão – é uma maneira de aproximar o leitor do texto, em uma tentativa de não deixar dúvida sobre o sentido amplo dessa liberdade fundamental. E por que “fundamental”? Porque a liberdade de expressão é o fundamento, a base, de todas as demais liberdades, especialmente a de organização, a de liberdade de voto e a de expressão científica. Para que existe a liberdade de expressão Por Renato Janine Ribeiro* | Adaptação web Caroline Svitras Faz pouco tempo, li alguém que prezo dizer que liberdade de expressão é a liberdade de “falar merda”. Essa é uma ideia difundida: que a liberdade consiste em aceitar o direito de dizer mesmo aquilo que desaprovamos. Não está errado, mas o problema é que essa defini- ção avançou tanto que veio a abranger a ideia inteira do que é a liberdade de expressão. E assim a perdeu de vista. Qual é o eixo da liberdade de expressão? É a ideia de que, dialogando, discutindo, recu- sando a ideia de que haja uma verdade única, descobrimos e inventamos coisas boas. Uma delas, a democracia. Outras, os avanços tecnológicos. Tanto valores éticos e políticos quanto desenvolvimentos práticos podem resultar da discussão livre. Mas atenção: tudo isso supõe uma discussão com certo nível. Os lados podem se digladiar, até mesmo se desprezar, mas o fruto melhor da liberdade de expressão é melhorar o mundo. Evidentemente, como não temos certeza do que é melhor ou mesmo do que é certo, deve-se sim admitir o discurso tolo, errado, o “falar merda” que mencionei. Mas admitir isso significa apenas reconhecer que nenhum de nós é dono da verdade. Não significa amparar como liberdade de expressão a incitação ao crime ou a pregação do ódio. Assim é que democracias praticamente impecáveis punem como crimes, práticas que, no Brasil, alguns justificam como “liberdade de expressão”. Volta e meia, leio algum colunista de jornal dizendo que você não pode tolher ou limitar sequer a pregação de ódio, porque ela deve ser vencida no debate racional e público de ideias. Só que, enquanto esses colunistas pairam num universo platônico de ideias, quem sai vitorioso são os pregadores do ódio. Escrevo isso sob o impacto da morte do menino de 13 anos diante de uma unidade da rede de fast-food Habib’s, em São Paulo – só que o que mais me choca não é só a sua morte, é a reação de muitos leitores de jornal dizendo que ele devia mesmo morrer, que seus pais são interesseiros, que agora querem ganhar uma grana de indenização etc. O que são esses comentários, tão frequentes na esfera pública, senão a vitória acachapante do ódio sobre a compaixão, das paixões negativas sobre as positivas, da guerra civil (ainda que verbal) sobre a paz política? É uma guerra civil verbal que passa ao ato, quando, por exemplo, homosse- xuais são atacados ou mesmo assassinados. © Sh ut te rs to ck /In am ar Pesquise na internet informações sobre o caso do menino de 13 anos citado por Renato Janine. A notícia Harvard cancela a admissão de futuros alunos por compartilharem memes ofensivos no Facebook (Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/06/06/ internacional/1496743519_040682.html>. Acesso em: 22 mar. 2019.) pode ajudar na contextualização dos exemplos citados por Renato Janine em seu artigo. 4 Livro de atividades4 RIBEIRO, Renato J. Para que existe a liberdade de expressão. Disponível em: <http://filosofiacienciaevida.com. br/para-que-existe-a-liberdade-de-expressao/>. Acesso em: 25 jan. 2019. 1. Em grupos, comentem as ideias do artigo Para que existe a liberdade de expressão, parafraseando-as. Um dos integrantes do grupo pode atuar como escriba e registrar a nova apresentação do texto. Esperamos que os alunos apresentem as principais ideias do texto de Janine utilizando as próprias palavras, já que a atividade solicita a elaboração de uma paráfrase. 2. Qual é a função sociocomunicativa do texto? Esperamos que os alunos deduzam que a principal função desse texto é a exposição do ponto de vista do articulista sobre a necessidade de existir liberdade de expressão. 3. A que público o texto se destina? Platão (427-347 a.C.) foi um dos mais importantes filósofos da Grécia Antiga. Ele defendia que o mundo como o perce- bemos é ilusório. Daí o termo platônico. Platão acreditava que o mundo espiritual é mais elevado e é onde existe a verdade da razão e das ideias. O artigo de opinião é um gênero de texto verbal em que um articulista, na posição de formador de opinião, dis- cute os mais variados temas de inte- resse geral e atual (políticos, sociais, comportamentais, culturais, científi- cos, socioambientais, entre outros), apresentando seu ponto de vista (posi- cionamento/tese) e sustentando-o com argumentos (evidências, provas, dados, exemplos e outros elementos) para justificar sua posição diante de uma questão polêmica. O articulista normalmente discute assuntos rela- cionados a sua área de formação, o que torna suasideias e opiniões respeitáveis para a maioria dos leitores. A argumentação por raciocínio lógico demonstra que existe embasamento, ou seja, o argumento apresentado não é “achismo”, fruto apenas de interpre- tação pessoal dos fatos. O autor busca uma relação de causa (motivo) e efeito (consequência). A argumentação de senso comum representa consenso geral, incontestá- vel, conhecido e aceito universalmente. A argumentação de exemplificação consiste no uso de pequenos relatos de fatos. Vejam bem. Nos Estados Unidos, muitos Estados penalizam forte- mente crimes de ódio, assim entendidos os que visam um grupo pelo que ele é (e não pelo que algum membro seu fez) – podem ser negros, judeus, homossexuais, mas é crime o discurso ou a ação contra eles. Na França, alegar que não houve o massacre de judeus é crime. Na Alemanha, a saudação nazista leva a pessoa direto para a cadeia. No começo de março, um juiz canadense que ofendeu uma moça estupra- da, culpando-a pela violação que sofreu, foi destituído do cargo. E não são democracias mais sólidas que a nossa? A liberdade de expressão inclui, claro, o direito de falar bobagem – por exemplo, alegar que toda a física está errada e o mundo foi criado em sete dias (tese que nenhum cientista cristão ou judeu sustenta…). Mas não inclui pregar o ódio. E isso porque o fruto admirável de poucos séculos de liberdade de expressão é aquela coisa dificílima chamada diálogo, que levou nossa sociedade a ir, na democracia e na qualidade de vida, bem mais longe do que qualquer outra. Então, não vamos reduzir esse eixo central da liberdade de expressão a seus aspectos secundários nem deixemos a pregação do crime sob o seu manto. *Renato Janine Ribeiro é professor titular de Ética e Filosofia Política na Uni- versidade de São Paulo (USP). É esperado que os alunos concluam que o texto parece ser dirigido a um público jovem, for- mado por estudantes acostumados com a informalidade e o apelo popular que, de modo geral, caracterizam os textos da web. Outra possibilidade é que os alunos deduzam que se trata de leitores que procuram acompanhar as ideias e os artigos de opinião de Renato Janine. Cabe lembrar que o articulista tem coluna em jornal há alguns anos. © Sh ut te rs to ck /ls nm rc h 5 Produção de texto – 8o. ano – Volume 3 – Proposta 1 555 © Sh ut te rs to ck /M ac ro ve ct or 4. Logo no início do texto, o autor usa uma expressão popular para defi- nir “liberdade de expressão”. Que efeito o emprego dessa expressão teve sobre você? Compartilhe sua resposta com alguns colegas. Pessoal. É provável que alguns alunos estranhem o uso da expressão e não o considerem comum nesse tipo de texto. 5. Por que o texto Para que existe a liberdade de expressão pode ser cate- gorizado como artigo de opinião? É esperado que os alunos concluam que o texto é um artigo de opinião por alguns fatores: contextualização para situar o leitor sobre o assunto tratado; posicionamento do autor com relação ao tema (embora só fique explícito no final do artigo); argumentação ou justificativas ao longo do texto para sustentar a tese; entre outros. 6. Qual é a tese defendida pelo articulista? O articulista defende a tese da ampla liberdade de expressão, incluindo-se aí o falar bobagens, bem como a aceitação do direito de alguém dizer algo que desaprovamos, desde que existam diálogo e discussão com certo nível de civilidade. 7. Qual é o posicionamento do articulista com relação ao tema? Com o objetivo de melhorar o mundo, o autor defende o diálogo franco, aberto, não impregnado do discurso de ódio ou de pregação ao crime, livre da ideia de que existe uma verdade única, indiscutível e imutável. 8. Que tipos de argumentação o articulista usa para defender sua tese? Localize alguns argumentos no texto e transcreva-os nas linhas a seguir. Compartilhe suas conclusões com alguns colegas. O autor usa, especialmente, três tipos de argumentação: 1. por raciocínio lógico – “a liberdade consiste em aceitar o direito de dizer mesmo aquilo que desaprovamos. Não está errado, mas o problema é que essa definição avançou tanto que veio a abranger a ideia inteira do que é a liberdade de expressão. E assim a perdeu de vista”. 2. de senso comum – “Os lados podem se digladiar, até mesmo se desprezar, mas o fruto melhor da liberdade de expressão é melhorar o mundo”. 3. de exemplificação ou ilustração – “Escrevo isso sob o impacto da morte do menino de 13 anos diante de uma unidade da rede de fast-food Habib’s, em São Paulo [...]. Nos Estados Unidos, muitos Estados penalizam fortemente crimes de ódio [...]. Na França, alegar que não houve o massacre de judeus é crime. Na Alemanha, a saudação nazista leva a pessoa direto para a cadeia”. Os artigos de opinião se carac- terizam pela intertextualidade explícita ou declarada (citações, referências, menções, resumos, resenhas, traduções, recursos à autoridade, etc.) ou pela inter- textualidade implícita (o leitor pressupõe pelo contexto). 55 6 Livro de atividades6 9. Entre os argumentos apresentados no artigo, qual lhe parece ter maior poder de convencimento? Por quê? Pessoal. 10. Releia a primeira frase do texto observando a intertextualidade nela explícita. Artigos de opinião são textos argumentativos que pertencem à esfera jornalística, uma vez que são produzidos para circular nas diversas mídias. Retome com os alunos os conheci- mentos sobre o emprego de artigos definidos e indefinidos, especialmente o uso expressivo/estilístico dessa classe de palavras. Ajude os alunos a observar que, sem o artigo, a expressão perde força. Já no título, a função determinativa do artigo indica uma opinião subjetiva de Renato Janine, porque, nessa posição, “entoa” certos matizes expressivos, como familiaridade e afetividade. Faz pouco tempo, li alguém que prezo dizer que liberdade de ex- pressão é a liberdade de “falar merda”. • O articulista cita a fala de alguém que ele preza, mas não informa quem é essa pessoa. Mencione alguns possíveis motivos dessa omissão. Sugestões: 1. Renato Janine quis preservar o autor da definição, não revelando sua identidade, já que se trata de alguém que ele preza, respeita. 2. Talvez não exista uma pessoa em particular para citar, apenas o senso comum. 3. O articulista quis criar um “suspense” ao não revelar a fonte do comentário. 11. No trecho “Só que, enquanto esses colunistas pairam num universo platônico de ideias, quem sai vitorioso são os pregadores do ódio”, a expressão sublinhada significa ( ) concreto. ( ) possível. ( ) existente. ( ) realista. ( X ) utópico. 12. Releia o trecho a seguir com atenção. a) A que aspectos secundários da liberdade de expressão o autor se refere? O autor se refere ao discurso de ódio e à incitação ao crime como aspectos secundários da liberdade de expressão. Os aspectos principais seriam os avanços democráticos e os científicos, que propiciam uma melhora na qualidade de vida. b) O que o articulista quer dizer com a expressão “sob o seu manto”? Trata-se de uma metáfora na qual a liberdade de expressão usaria um “manto” e, com ele, cobriria absurdos como o discurso de ódio e a pregação de crimes. E isso porque o fruto admirável de poucos séculos de liberdade de expressão é aquela coisa dificílima chamada diálogo, que levou nossa sociedade a ir, na democracia e na qualidade de vida, bem mais longe do que qualquer outra. Então, não vamos reduzir esse eixo central da liberdade de expressão a seus aspectos secundários nem deixemos a pregação do crime sob o seu manto. 13. Releia o título do texto, detendo-se no artigo que antecede o termo “liberdade de expressão”. Para que existe a liberdade de expressão Títulos precisam ser atrativos para despertar a curiosidade do leitor, convencendo-o a ler o texto. Práticas de reflexão sobre a língua a) Sabendo que os títulos jornalísticos exigem o uso do artigo zero, qual seria o possível motivo para o articulista empregaro artigo definido “a” antes de “liberdade de expres- são”? Compartilhe sua conclusão com um colega. b) Reescreva o título do texto sem o artigo “a” e analise o efeito de sentido dessa omissão. Ajude os alunos a observar que a omissão do artigo “a” generaliza o termo “liberdade de expressão”; por outro lado, dá ao título maior concisão, energia e até certa dramaticidade. c) Em sua opinião, o título Para que existe a liberdade de expressão é atrativo? Registre no caderno a explicação de sua resposta. d) Proponha outro título para o texto, comentando sua sugestão com um colega. Pessoal. 14. O texto Para que existe a liberdade de expressão foi escrito em linguagem padrão. Porém, em alguns momentos, o autor adotou uma linguagem coloquial. Quais são os momentos mais informais do texto? Esperamos que os alunos citem a expressão “falar merda”, gíria que significa “falar bobagem, asneira, algo negativo ou depreciativo”, numa espécie de catarse, de desabafo, para demonstrar descontentamento, e também a expressão “Vejam bem” no início do penúltimo parágrafo. 15. Se a expressão “pouco tempo”, no primeiro parágrafo, fosse trocada por “alguns meses”, o verbo fazer seria flexionado? Justifique sua resposta. Esperamos que os alunos concluam que o verbo fazer não seria flexionado, porque é impessoal quando tem o sentido de “haver”. 16. Em “Mas atenção: tudo isso supõe uma discussão com certo nível”, os dois-pontos são usados para introduzir ( ) uma enumeração. ( X ) um esclarecimento. ( ) uma citação. ( ) um exemplo. ( ) um vocativo. Produção de texto – 8o. ano – Volume 3 – Proposta 1 77 8 Livro de atividades8 17. Para que existe a liberdade de expressão? Com base no roteiro a seguir, escreva um artigo de opinião sobre esse assunto, parafraseando o texto de Renato Janine. Paráfrase Texto que apresenta as mesmas ideias do original. a) Comece o texto reproduzindo a tese do artigo. Exponha também a ideia popular sobre liberdade de expressão. Observe que essa ideia se expandiu tanto que perdeu o sentido. b) No segundo parágrafo, escreva sobre o eixo que sustenta a liberdade de expressão, citando como exemplos a democracia e os valores éticos e políticos. Ressalte a necessidade de as pessoas dialogarem. c) No terceiro parágrafo, aborde a pregação ao discurso de ódio e a incitação à violência, discutindo-as como formas de manifestação da liberdade de expressão. Discorra sobre as mais sólidas democracias do mundo, que reprimem o discurso de ódio e a incitação ao crime. d) Na conclusão, retome a tese do texto – a liberdade de expressão inclui até mesmo o direito de falar bobagem, mas não o discurso de ódio e a incitação ao crime. Escreva sobre o “fruto admirável” da liberdade de expressão, ou seja, sobre o diálogo, que é a marca da civilização. © Sh ut te rs to ck /h ob bi t Produção de texto 1 Fique por dentro Conheça os objetivos dessa proposta de produção de texto: a) Desenvolver a habilidade de argumentar. b) Refletir sobre a liberdade de expressão. Dica: artigo de opinião 1. Releia atentamente o artigo de Renato Janine. 2. Elabore um rascunho do texto, conforme as orientações presentes no quadro. 3. Escreva um texto de 15 a 20 linhas. 4. Observe a coesão dos parágrafos. 5. Revise seu texto. Ao parafrasearem o texto lido, os alunos, além de apropriarem-se do exercício da argumentação, adquirem repertório sobre o tema, que tem uma complexi- dade significativa. Artigos de opinião, por serem textos da esfera jornalística, de- vem apresentar linguagem de acordo com a norma-padrão, ou seja, o registro formal da língua. Por que o discurso do ódio não é liberdade de expressão? GEORGE LAKOFF EXPLICA, NO ARTIGO DE OPINIÃO A SEGUIR, POR QUE O DISCURSO DO ÓDIO NÃO É LIBERDADE DE EXPRESSÃO. TEXTO 3 George Lakoff É professor de Linguística na Universidade Berkeley, na Califórnia, Estados Unidos. Foi um dos fundadores da linguística gerativa, nos anos 1960, e da linguísitca cogni- tiva, na década de 1980. Por que o discurso do ódio não é liberdade de expressão? Por George Lakoff A liberdade em uma sociedade livre é para todos. Portanto, a liberdade exclui a imposição à liberdade dos outros. Você é livre para andar na rua, mas não para impedir que outros o façam. A imposição à liberdade de outros pode vir de forma física imediata e evidente – bandidos vindo atacar com armas. A violência pode ser uma espécie de expressão, mas certamente não é “liberdade de expressão”. Como a violência, o discurso de ódio também pode ser uma imposição física à liberdade dos outros. Isso porque a linguagem tem um efeito psicológico imposto fisicamente – no sistema neural, com efeitos incapacitantes a longo prazo. Aqui está o motivo: Todo pensamento é realizado por circuitos neurais – não flutua no ar. A linguagem ativa neuralmente o pensamento. A linguagem pode, assim, mudar o cérebro, tanto para o melhor quanto para o pior. O discurso de ódio muda o cérebro dos odiados para o pior, criando estresse tóxico, medo e desconfiança – tudo de forma física, tudo presente na atividade dos circuitos neurais de uma pessoa todos os dias. Este dano interno pode ser ainda mais grave do que uma punhalada. Ele se impõe à liberdade de pensamento e, portanto, age livre de medo, ameaças e desconfiança. Ele se impõe à capacidade do indivíduo de pensar e agir como um cidadão totalmente livre por muito tempo. É por isso que o discurso de ódio se impõe à liberdade daqueles que são alvo do ódio. Uma vez que ser livre em uma sociedade livre não requer se impor à liberdade dos outros, o discurso de ódio não se enquadra na categoria da liberdade de expressão. Discurso de ódio também pode mudar o cérebro daqueles com preconceito leve, movendo-se para o ódio e a ação ameaçadora. Quando o ódio está fisicamente em seu cérebro, então você pensa que odeia e sente ódio, e você é movido a agir para realizar o que você, fisicamente, em seu sistema neural, pensa e sente. Produção de texto – 8o. ano – Volume 3 – Proposta 2 9 Pr op os ta 2 É por isso que o discurso de ódio não é “mero” discurso. E uma vez que se impõe à li- berdade dos outros, não é um exemplo de liberdade. Os efeitos físicos de longo prazo, muitas vezes incapacitantes, do discurso de ódio sobre os sistemas neurais dos odiados não têm status na lei, já que nossos sistemas neurais não têm status em nosso sistema legal – pelo menos não ainda. Essa é uma lacuna entre a lei e a verdade. LAKOFF, George. Por que o discurso do ódio não é liberdade de expressão? Tradução de Letícia Sallorenzo. Disponível em: <https://jornalggn. com.br/noticia/por-que-o-discurso-do-odio-nao-e-liberdade-de-expressao-por-george-lakoff>. Acesso em: 19 dez. 2018. 1. Em grupos, leiam o artigo Por que o discurso do ódio não é liberdade de expressão?. Sinte- tizem, em uma frase, as ideias apresentadas em cada parágrafo. Primeiro parágrafo: Faça a mediação da leitura do texto, ajudando os alunos a observar a tese do artigo: “A liberdade em uma sociedade livre é para todos”. Na sequência, o autor argumenta que “a liberdade exclui a imposição à liberdade dos outros”, dando um exemplo: “Você é livre para andar na rua, mas não para impedir que outros o façam.”. Segundo parágrafo: A imposição à liberdade (o cerceamento) de outros pode vir de forma física imediata e evi- dente. Terceiro parágrafo: O discurso de ódio também pode ser uma imposição física à liberdade dos outros, assim como é a violência. Quarto e quinto parágrafos: A linguagem pode mudar o cérebro, tanto para o melhor quanto para o pior. Sexto parágrafo: Ser livre em uma sociedade livre não requer se impor à liberdade dos outros. Sétimo parágrafo: O discurso de ódio também pode mudar o cérebro daqueles com preconceito leve, movendo-se para o ódio e a ação ameaçadora. Oitavo parágrafo: O discurso de ódio não é “mero” discurso. Nono parágrafo: O discurso de ódio tem efeitos muitasvezes incapacitantes sobre os sistemas neurais dos odiados, mas as leis ainda não protegem esses sistemas. Livro de atividades10 2. Reúna-se com alguns colegas e troquem ideias sobre a tirinha. a) A crítica da tirinha está no fato de a sociedade, representada pelo grupo de manifes- tantes pró-liberdade de expressão, revelar-se ( ) respeitosa diante de um posicionamento contrário. ( ) tolerante diante de um posicionamento diverso. ( ) capaz de aceitar a liberdade de expressão. ( X ) incapaz de exercer a liberdade de expressão. ( ) civilizada no exercício de sua cidadania. b) Que parte do artigo a tirinha poderia ilustrar? Justifique sua resposta. Pessoal. Várias partes do artigo poderiam ser ilustradas pela tirinha. Disponível em: <http://www.quadrinhosalacarte.com/2016/03/tirinha-316-liberdade-de-expressao. html>. Acesso em: 24 jan. 2019. Um texto se desenvolve em torno de um tema, ou de um tópico, ou, ainda, daquilo que, convencionalmente, se costuma chamar de ideia central. Essa unidade funciona com um fio, um eixo, que faz cada parte, cada segmento, convergir para um centro. Essa unidade é que permite a elaboração de uma síntese ou de um resumo, o entendimento dos títulos e subtítulos, a localização dos subtópicos, o discernimento entre as ideias principais e aquelas secundárias. Em princípio, é essa unidade temática que deixa o texto como um conjunto demarcado, como um terreno delimitado. É ela, ainda, que nos leva a procurar saber: a que pergunta o texto constitui uma espécie de resposta. ANTUNES, Irandé. Análise de textos: fundamentos e prática. São Paulo: Parábola Editorial, 2010. p. 67-68. (Estratégias de ensino, 21). 3. Em sua opinião, o artigo escrito pelo linguista George Lakoff responde à pergunta “Por que o discurso do ódio não é liberdade de expressão?”. A que outras perguntas esse artigo poderia responder? Elabore três questões e peça a um colega que escreva um parágrafo respondendo a elas. Sugestões: Para que serve a liberdade de expressão em uma sociedade livre? Existe liberdade de expressão onde há restrição à liberdade dos outros? O discurso de ódio pode ser considerado uma imposição física? Quais são os efeitos, a longo prazo, do discurso de ódio? © Ju lio V et t Produção de texto – 8o. ano – Volume 3 – Proposta 2 1111 4. Identifique, no quadro a seguir, os termos que completam adequadamente a explicação sobre progressão do tema. Práticas de reflexão sobre a língua convergência expectativa acrescentado encadeado tema previsibilidade competência ideias unidade progredindo ANTUNES, Irandé. Análise de textos: fundamentos e prática. São Paulo: Parábola Editorial, 2010. p. 68-69. (Estratégias de ensino, 21). 5. São várias as pistas para o reconhecimento do tema do artigo Por que o discurso do ódio não é liberdade de expressão?. A mais óbvia delas é o título. No início do texto, especialmente no segundo parágrafo, Lakoff sintetiza o tema, cuja progressão se dá por meio do encadeamento de ideias, perpassando o artigo do início ao fim, parágrafo a parágrafo. Releia o texto e, com base nele, complete as afirmativas. Compartilhe suas conclusões com um colega. a) À ideia de que alguém é livre para andar na rua, mas não para impedir que outros o façam, o autor faz o tema progredir, afirmando que a privação da liberdade de ir e vir pode se dar de forma física imediata e evidente, por exemplo, com bandidos atacando com armas. A progressão do tema A concentração do texto em determinado tema lhe dá unidade . Evidentemente, em seu percurso, esse tema vai se desenvolvendo, ou melhor, vai progredindo , o que implica admitir que, acerca do mesmo tema, algo diferente vai sendo acrescentado . Faz parte da nossa competência discursiva alimentar a expectativa de que nosso parceiro de interlocução não vai ficar, indefinidamente, dizendo o mesmo, ou seja, fixado no mesmo ponto. Esperamos que a fila das ideias ande, no sentido de que coisas novas vão sendo acrescentadas, embora acerca do mesmo tema. Ou seja, con- tamos com a previsibilidade de identificar o que se diz do tema. Ocorre que, no texto, tudo precisa estar em convergência : tudo precisa es- tar encadeado . Livro de atividades12 13 Produção de texto – 8o. ano – Volume 3 – Proposta 2 13 b) À ideia de que o discurso de ódio, assim como a violência urbana, pode ser uma imposição física à liberdade dos outros, o autor escla- rece que o discurso de ódio também se impõe à liberdade daqueles que são alvo do ódio. c) À ideia de que a linguagem ativa neuralmente o pensamento, o autor argumenta explicando que a linguagem pode mudar o cérebro, tanto para o melhor quanto para o pior. 6. Por que o discurso do ódio não é liberdade de expressão? Escreva um artigo de opinião sobre esse tema. Produção de texto 2 Caso a turma tenha um blog, os textos podem ser compartilhados nesse meio. A temática aqui proposta é complexa, o que justifica o fato de os alunos se basearem no texto de George Lakoff. Porém, nada o impede de sugerir a eles outros textos, para que ampliem ainda mais o repertório sobre o tema. Há um provérbio indiano que afirma: Dentro de mim, existem dois lobos: o lobo do ódio e o lobo do amor. Ambos disputam o poder sobre mim. E, quando me perguntam qual lobo é vencedor, respondo: o que eu alimento. Disponível em: <https://www.pensador.com/ frase/OTQ4Mjg5/>. Acesso em: 24 jan. 2019. Fique por dentro Conheça os objetivos dessa proposta de produção de texto: a) Ampliar o repertório a respeito do tema em discussão. b) Desenvolver a habilidade de argumentação. Dica: artigo de opinião 1. Releia atentamente o texto Por que o discurso do ódio não é liberdade de expressão?, de George Lakoff. 2. Elabore um artigo, de 15 a 20 linhas, com base nas ideias desse autor. 3. Para concluir seu texto, aproveite a ideia contida no provérbio indiano. 4. Revise seu texto, observando a coesão entre os parágrafos. 5. Escolha um local para divulgá-lo (mural da sala de aula, da escola, etc.) Redação no Enem: liberdade de expressão versus discurso de ódio O TEXTO A SEGUIR COMEÇA COM DEPOIMENTOS DE TRÊS ALUNOS PARTICIPANTES DO EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO (ENEM) DE 2016. ELES AFIRMAM QUE, NA PROVA DE REDAÇÃO, SENTIRAM A NECESSIDADE DE OMITIR O QUE DE FATO PENSAM PARA NÃO SEREM EXCLUÍDOS DO PROCESSO. TEXTO 4 A liberdade de expressão é o coração da humanidade. (Salman Rushdie) Redação no Enem: liberdade de expressão vs discurso de ódio Por Camila Dalla Pozza “Nas redações dos vestibulares eles pedem a nossa opinião, mas não podemos opinar de verdade; temos de escrever o que eles querem ler”. “A condição de respeitar os Direitos Humanos é um tipo de censura na proposta de redação do Enem”. “Tenho amigos preconceituosos que foram bem na redação do Enem; eles mentiram”. Estas e outras afirmações podem ser ouvidas em qualquer aula de produção de texto do Ensino Médio ou de um cursinho e podem ser lidas em comentários em redes sociais, blogs e sites diversos; eu mesma já ouvi de meus alunos, mais de uma vez. [...] Em tempos de polarização, muitas pessoas têm confundido liberdade de expressão com discurso de ódio, e não só em propostas de redação como a do Enem 2016 (Como combater a intolerância religiosa no Brasil?), na qual 4.798 candidatos feriram os Direitos Humanos e tiveram seus textos anulados. A liberdade de expressão é um direito constitucional, ou seja, é garantido pela Constituição Federal de 1988 e deve ser mantido, pois vivemos em um regime democrático, no qual a troca de ideias é essencial, porém, de uns tempos para cá, parece que os brasileiros não sabem mais debater um assunto sem rotular ou enquadrar o outro. Amizades estão sendo desfeitas, laços familiares estão sendo cortados, porque ninguém mais ouve ninguém. O discurso pautado na liberdade de expressão não ofende, não fere, não rotula, pois,assim que rótulos são postos, o debate acaba. O discurso baseado na liberdade de expressão pode questionar e discordar, mas sem desrespeitar o alvo da discórdia. Nesse sentido, as duas propostas de redação do Enem 2016, pois houve duas edições oficiais do exame, abordaram questões delicadas, mas importantes: intolerância religiosa e racismo. Um cristão, por exemplo, pode não concordar com algum aspecto de uma religião não cristã, [...] mas isso não significa que ele possa atacar um praticante de outra religião.©Shutterstock/Lorelyn Medina 14 Livro de atividades14 Livro de atividades Pr op os ta 3 15 Produção de texto – 8o. ano – Volume 3 – Proposta 3 15 1. O artigo de opinião Redação no Enem: liberdade de expressão vs dis- curso de ódio é introduzido por três depoimentos. Também são enunciados extremistas o neonazismo, a pedofilia, a intolerân- cia religiosa, o preconceito linguístico, a incitação de crimes contra a vida, os maus-tratos a animais e à natureza, os crimes cibernéticos em geral, entre outros. Talvez alguns alunos citem o feminismo como discurso de ódio. Explique-lhes que feminismo é dife- rente de femismo ou misandria (ódio aos homens). Essas duas formas de enunciados, como táticas feministas, propõem-se a criticar, muitas vezes com violência ou com ódio, discursos machistas e patriarcais. Elas normalmente surgem como práticas de defesa e de empoderamento de vítimas de abuso. Por sua vez, o feminismo, o qual tem muitas vertentes de pensa- mento, engloba movimentos políticos, ideológicos, sociais e filosóficos na busca do empoderamento feminino e da igualdade de gêneros. Misandria Aversão ou ódio aos homens. Misoginia Aversão ou ódio às mulheres. A liberdade de expressão permite o debate das diferenças e das discordâncias, mas não permite a ofensa e a exaltação da violência ou o seu incentivo. A ofensa e a violência estão presentes nos discursos de ódio, enunciados extremistas baseados, justamente, no ódio. É o caso do racismo, da homofobia, da misoginia, [da] misandria, do machismo, dentre outros; é quando palavras de baixo calão são usadas para ofender ou inferiorizar outra pessoa por conta de sua etnia, orientação sexual, identidade de gênero, religião, nacionalidade, etc. Deste modo, não há como confundir liberdade de expressão com discurso de ódio. Por isso que o respeito aos Direitos Humanos, na redação do Enem, não é, nem de longe, censura, pois a liberdade de expressão respeita a dignidade humana e, assim, respeita os Direitos Humanos. O discurso de ódio não respeita ninguém, a não ser o seu enunciador. Não concordar com uma relação homoafetiva não dá o direito de atacar um casal homossexual com uma lâmpada em plena Avenida Paulista, em São Paulo; não concordar com o candomblé não significa apedrejar uma jovem menina nas ruas do Rio de Janeiro. Ao apoiar o respeito aos Direitos Humanos, pautado na liberdade de expressão, o Enem não censura nenhum candidato, e sim toma frente ao combate aos discursos de ódio no exame, o que também é papel na escola ao objetivar formar cidadãos críticos e livres de preconceito, juntamente com as famílias dos alunos. Trata-se de um trabalho a longo prazo, de formiguinha, mas o passo foi dado. Infelizmente, se 4.798 candidatos feriram os Direitos Humanos no Enem 2016, muito trabalho ainda há de ser feito, pois esse número, num ideal, deveria ser zero. Seja no Enem, no Twitter, no Facebook, no Instagram ou na mesa de jantar, vamos parar, refletir e respeitar a dignidade humana ao proferirmos nossas opiniões, que, aliás, devem estar baseadas em argumentos que não desrespeitem os Direitos Humanos, a fim de que possamos conviver na maior paz possível. Até mais! *CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada em Letras/Português e mestra em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação em importantes universidades públicas e do Curso Online do infoEnem. Além disso, [...] participou de avaliações e produções de vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC). POZZA, Camila D. Redação no Enem: liberdade de expressão vs discurso de ódio. Disponível em: <https:// www.infoenem.com.br/redacao-no-enem-liberdade-de-expressao-vs-discurso-de-odio/>. Acesso em: 19 dez. 2018. a) Por que a autora apresentou esses depoimentos ao iniciar o artigo? A autora usou os depoimentos como argumento, mostrando a percepção dos estudantes sobre o discurso politicamente correto, a ponto de omitirem sua opinião pessoal ou mentirem sobre temas que ferem os direitos humanos em vez de, efetivamente, convencerem-se da necessidade de respeitar os direitos humanos. Os depoimentos contribuem também para chamar a atenção dos leitores para a argumentação feita no decorrer do artigo. b) Com base nos depoimentos, o que é possível concluir sobre o encaminhamento que aqueles estudantes deram a seus textos no Enem? Compartilhe sua conclusão com um colega. 2. Explique o significado da expressão “Em tempos de polarização”, no terceiro parágrafo do artigo. A que tipo de polarização a autora se refere? Ajude os alunos a concluir que essa expressão foi emprestada da física – polarização é uma medida da variação do vetor do campo elétrico de ondas tridimensionais em relação ao tempo. Nesse artigo, ela se refere à polarização política, à concentração de grupos, interesses, atividades, etc. em extremos opostos. 3. Conforme o texto, a “liberdade de expressão é um direito constitucional”. Pesquise esse assunto e explique o que é um direito constitucional, citando alguns exemplos. Esperamos que os alunos respondam que é um direito garantido pela Constituição Federal de 1988, por exemplo, os direitos à alimentação, à moradia, à educação, à juventude, ao trabalho, à segurança e à diferença. 4. Releia o trecho a seguir. A liberdade de expressão permite o debate das diferenças e das discordâncias, mas não permite a ofensa e a exaltação da violência ou o seu incentivo. A ofensa e a violência estão presentes nos discursos de ódio, enunciados extremistas baseados, justamente, no ódio. É o caso do racismo, da homofobia, da misoginia, [da] misandria, do machismo, dentre outros; é quando palavras de baixo calão são usadas para ofender ou inferiorizar outra pessoa por conta de sua etnia, orientação sexual, identidade de gênero, religião, nacionalidade, etc. • Nesse trecho, a autora cita o racismo, a homofobia, a misoginia, a misandria, o machismo, etc. Você conhece outras palavras ou expressões com caráter extremista relacionadas ao discurso de ódio? Quais? Pessoal. Livro de atividades16 17 Produção de texto – 8o. ano – Volume 3 – Proposta 3 17 5. Releia o trecho a seguir e responda às questões propostas. Trata-se de um trabalho a longo prazo, de formiguinha, mas o passo foi dado. “Nas redações dos vestibulares eles pedem a nossa opinião, mas não podemos opinar de verdade; temos de escrever o que eles querem ler”. “A condição de respeitar os Direitos Humanos é um tipo de censura na proposta de redação do Enem”. “Tenho amigos preconceituosos que foram bem na redação do Enem; eles mentiram”. Produção de texto 3 a) A que trabalho a autora se refere? Ao trabalho da escola de combater os discursos de ódio, o qual foi representado pelo Enem em 2016, anulando os textos que desrespeitavam os direitos humanos. b) Por que esse trabalho é classificado como “de formiguinha”? Porque formar cidadãos livres de preconceito e críticos é um trabalho feito aos poucos, sistematicamente, que envolve também a família dos alunos. c) Que passo foi dado? Sinalizar aos estudantes que feriram os direitos humanos no Enem que discurso de ódio não é liberdade de expressão, porque não contribui para tornar o mundo melhor e mais justo para todos. 6. Releia os depoimentos abaixo paraelaborar seu artigo de opinião. • Escreva um artigo de opinião, mas, antes, escolha um desses depoimentos para dialogar com as ideias que apresentará. Você pode concordar ou não com o depoimento selecionado, apresentando argumentos para sustentar seu ponto de vista. Conclua seu artigo mantendo a coerência entre a tese defendida por você e os argumentos apresentados. Fique por dentro Conheça os objetivos dessa proposta de produção de texto: a) Desenvolver a habilidade de argumentação. b) Construir um texto argumentativo com base em depoimentos. Dica: artigo de opinião 1. Releia atentamente o texto de Camila Dalla Pozza. 2. Reflita sobre o conteúdo de cada depoimento. 3. Selecione um dos depoimentos para abordar em sua produção. 4. Busque outros textos para ampliar seu repertório. 5. Organize os parágrafos de forma coesa. 6. Revise seu texto. Para ampliar o repertório dos alunos sobre o tema, apresente-lhes outros tex- tos sobre o discurso de ódio. Sua produção provavelmente refletirá o quanto você sabe dialogar, de forma crítica e consciente e livre do discurso de ódio, mostrando-se capaz de respeitar verdadeiramente os direitos humanos. Depois de concluídos e editados, os textos podem ser lidos em pequenos grupos e rediscutidos. Falar demais não é o mesmo que argumentar FALAR BASTANTE É O MESMO QUE EXERCER A LIBERDADE DE EXPRESSÃO? O MUNDO DA TAGARELICE PRODUZ MAIS RUÍDO OU MAIS SENTIDO? ESSA É A REFLEXÃO PROPOSTA NO TEXTO A SEGUIR. TEXTO 5 18 Livro de atividades18 Livro de atividades Pr op os ta 4 Mundo tagarela Por Paulo Nogueira O silêncio não causa sede. E é um traço de nobreza Como se expressar, seja escrevendo, seja falando? Essa é uma das questões presentes des- de sempre para a humanidade. Na vida profissional ou amorosa, numa apresentação de tra- balho a seus chefes na empresa ou numa mera conversa de bar, comunicar-se bem faz toda a diferença. Muitos sábios se detiveram nesse tema. Quase todos condenaram a verborragia, a eloquência desmedida, a suntuosidade verbal. A opção é pela simplicidade e pela brevidade. Uma pessoa afetada na maneira de falar ou escrever é afetada em outras esferas. “A verdade precisa falar uma linguagem simples, sem artifícios”, escreveu um filósofo da Antiguidade. O filósofo Montaigne (1533-1592) dedicou linhas brilhantes ao assunto em seus Ensaios (coleção Os Pensadores, da editora Nova Cultural). Montaigne conta duas histórias instru- tivas e divertidas. Numa delas, os embaixadores de uma cidade grega tentavam convencer o rei de Esparta a aderir a um esforço de guerra. O espartano deixou-os falar longamente. Depois disse: “Não me lembro do começo nem do meio da argumentação de vocês. Quanto à conclusão, simplesmente não me interessa”. Na outra história, dois arquitetos atenienses disputavam a honra de construir um grande edifício. A plateia à qual cabia a escolha ouviu um extenso discurso do primeiro arquiteto. As pessoas já se inclinavam quando o segundo disse apenas: “Senhores atenienses, o que esse acaba de dizer eu vou fazer”. Montaigne cita seu pensador predileto, o romano Sêneca, segundo o qual, nos grandes arroubos de eloquência, “há mais ruído que sentido”. Escreveu Montaigne: “Gosto de uma linguagem simples e pura, a escrita como a falada, e suculenta, e nervosa, breve e concisa, não delicada e louçã, mas veemente e brusca. Uma linguagem sem afetação, expressiva em todos os seus aspectos, não uma linguagem pedante, fradesca, ou de advogado, mas de pre- ferência soldadesca como Suetônio”. Os espartanos eram admirados por Montaigne pela simplicidade com que viviam e se expressavam. Ele conta que uma vez perguntaram a uma autoridade de Esparta por que não colocavam por escrito as regras de valentia para que os jovens pudessem lê-las. A resposta foi que os espartanos queriam acostumar os jovens antes aos feitos que às palavras. “O mun- do é apenas tagarelice e nunca vi homem que não dissesse antes mais do que menos do que devia”, disse Montaigne. Outro mestre de Montaigne, Plutarco, autor de Vidas Paralelas (Paumape), mostrou que falar demais pode ser perigoso. “A palavra expõe-nos, como nos ensina o divino Platão, aos mais pesados castigos que deuses e homens podem infligir”, disse Plutarco. “Mas o silêncio NOGUEIRA, Paulo. Mundo tagarela. Vida Simples, São Paulo, Abril, ed. 23, p. 78, dez. 2004. 1. Em grupos, leiam e comentem o artigo Mundo tagarela. Na sequência, sintetizem as ideias contidas no primeiro parágrafo. Pessoal. Essa atividade objetiva desenvolver a habilidade de concisão. Comente algumas respostas elaboradas pelos alunos. 2. O título do artigo permite ao leitor antecipar o assunto tratado no texto? Justifique sua resposta. Pessoal. É esperado que os alunos respondam que sim, porque o adjetivo “tagarela” tem, de certa forma, uma conotação negativa (aquele que fala muito, sem parar, sobre assuntos frívolos, cometendo indiscrições, sendo inconveniente, etc.), qualificando a palavra “mundo”, o que leva à conclusão de que o texto trata, provavelmente, de um mundo em que se fala demais. 3. Os artigos de opinião, em geral, apresentam um plano, uma estrutura básica formada por: contextualização, questão polêmica, tese (posição defendida pelo articulista), contraposição (posição oposta à tese), argumentos, contra-argumentos e conclusão (síntese ou convite à reflexão). Identifique, no artigo Mundo tagarela, os seguintes elementos: a) Contextualização. A questão da melhor forma de comunicar-se é discutida desde sempre. b) Questão polêmica. Como se expressar, seja escrevendo, seja falando? c) Tese ou posição adotada pelo articulista. Comunicar-se bem faz toda a diferença. • Você aderiu à tese apresentada no texto? Registre, no caderno, a justificativa de sua resposta. d) Tipos de argumentos. Os argumentos usados são, principalmente, citação de autoridade e exemplificação. • Você concorda com os argumentos apresentados para sustentar a tese do texto? Registre, no caderno, a justificativa de sua resposta. e) Conclusão (síntese ou convite à reflexão). Estamos condenados a produzir mais ruído que sentido, porque uma força irresistível parece nos impelir para o “mundo da tagarelice”. jamais tem contas a dar. Não só não causa sede como confere um traço de nobreza”. Não falar nada é, não raro, a melhor coisa que temos a dizer, mas uma força irresistível parece sempre nos empurrar para o “mundo da tagarelice”, tão bem definido por Montaigne. E, então, estamos condenados a produzir “mais ruído que sentido”, para lembrar a grande tirada de Sêneca. Produção de texto – 8o. ano – Volume 3 – Proposta 4 1919 20 Livro de atividades20 4. No primeiro parágrafo, o articulista contextualiza o assunto, iniciando o texto com uma pergunta: “Como se expressar, seja escrevendo, seja falando?”. Essa resposta é ampliada mais adiante, quando o autor passa a falar dos sábios que se detiveram no tema da boa comunicação. • Qual é o efeito de sentido da contextualização? Por que o autor não entrou diretamente no assunto? Ajude os alunos a observar que a contextualização adia a entrada no assunto com o objetivo de justificá-lo, traçando uma linha de desenvolvimento, um caminho lógico. 5. Elabore um artigo de opinião sobre a tagarelice do mundo, confundida, muitas vezes, com liberdade de expressão. Escolha um dos pensamentos apresentados por Paulo Nogueira para usar como tese do artigo. Produção de texto 4 Fique por dentro Conheça os objetivos dessa proposta de produção de texto: a) Desenvolver a habilidade de elaboração de tese. b) Compreender, de forma mais aprofun- dada, o que é liberdade de expressão. Realize uma pesquisa sobre os sábios citados no artigo Mundo tagarela. Um artigo de opinião é consti- tuído por uma tese – um po- sicionamento claro –, a qual é sustentada por argumentos convincentes, com o objetivo de levar o leitor a refletir sobre o assunto, ajudando-o a formar a própria opinião. Dica:artigo de opinião 1. Contextualize o tema. 2. Proponha uma questão polêmica para “esquentar” a discussão. 3. Deixe clara sua tese e utilize argumentos para sustentá-la. 5. Organize seu texto de forma coesa. 6. Revise seu texto. 21 Produção de texto – 8o. ano – Volume 3 – Proposta 5 21 Pr op os ta 5 st a 5 st a 5 Histórias de vida e sobrevida: biografia e autobiografia Gente feita de prosa CONHEÇA HISTÓRIAS DA VIDA EXTRAORDINÁRIA DE QUATRO ESCRITORES: JONATHAN SWIFT, AUTOR DE AS VIAGENS DE GULLIVER; PAULO LEMINSKI, AUTOR DE GUERRA DENTRO DA GENTE; LYGIA FAGUNDES TELLES, AUTORA DE A DISCIPLINA DO AMOR; E GRACILIANO RAMOS, AUTOR DE VIDAS SECAS. Escolher textos para um capítulo de trabalho escolar é uma tarefa complexa, principalmente quando se trata de bio- grafia, autobiografia ou perfil. Para essa seleção, consideramos, além da vida extraordinária dos biografados (critério subjetivo, porque os biógrafos divergem bastante), a qualidade da biografia, da autobiografia ou do perfil; sua originali- dade; e o grau de interesse que poderia suscitar nos leitores do 8.º ano. No quiz, apresentamos breves biografias dos quatro escritores e uma informação sobre a vida deles. Dessa forma, rompe- mos com o formato tradicional de apre- sentação de biografias e autobiografias. No decorrer da sequência didática, trabalhamos mais detalhadamente as biografias de Jonathan Swift, Paulo Leminski, Lygia Fagundes Telles e Gra- ciliano Ramos. Na biografia de Paulo Leminski, foi inserido um trecho da biografia do poeta Cruz e Sousa. Além disso, ampliando a biografia de Graci- liano Ramos, apresentamos uma análise sobre linguagem literária e vida socio- cultural, em virtude da comemoração dos 80 anos da obra mais conhecida desse autor: Vidas secas. Vidas extraordinárias acabam naturalmente em biografias, mas a tradição cuida de dar um tratamento óbvio, fazendo o mais fácil, quando o valioso material exige, além do empenho, a antena com que só os poetas captam a vida verdade, superficialmente inenarrável. LEMINSKI, Paulo. Vida: Cruz e Sousa, Bashô, Jesus, Trótski. Porto Alegre: Sulina, 1990. 1. O estudo de biografias começa com um quiz para você verificar quanto já sabe sobre esse gênero e também sobre algumas obras-primas dos biografados. Em cada questão, assinale a alternativa correta. Depois de concluir todas as atividades da proposta 5, refaça o quiz e, só então, confira o resultado. As obras a) As viagens de Gulliver, de Jonathan Swift, é um romance ( ) fantástico. ( ) histórico. ( X ) de aventura, com “pitadas” de ficção científica e relato de viagem. b) Guerra dentro da gente, de Paulo Leminski, é um romance ( ) histórico. ( X ) de formação ou iniciação. ( ) regionalista. c) Vidas secas, de Graciliano Ramos, é um romance ( X ) regionalista. ( ) urbano. ( ) de ficção científica. 2 22 Livro de atividades22 d) O conto A disciplina do amor, de Lygia Fagundes Telles, fala de ( ) determinação para realizar os sonhos e vencer as mais duras provas. ( X ) amor e fidelidade de um cão a seu dono. ( ) pânico a bordo de um veleiro em alto-mar. e) Vida: Cruz e Sousa, Bashô, Jesus, Trótski, de Paulo Leminski, é uma obra ( ) poética. ( ) autobiográfica. ( X ) biográfica. Os autores f) Jonathan Swift nasceu em Dublin, na Irlanda, em 1667. Ele não foi um bom aluno e era considerado um estorvo pelo tio que o criou. Aos 21 anos, foi para a Inglaterra morar com sua mãe, que vivia em situação de miséria. Porém, um acontecimento transformou a vida de Jonathan: ( ) Ele descobriu que, na guerra, não existem vencedores nem vencidos. ( X ) Ele decidiu estudar muito – cerca de oito horas por dia – e, em pouco tempo, tornou-se o orgulho do tio, o embaixador William Temple. ( ) Ele resolveu voltar para Dublin e estudar literatura. g) Paulo Leminski nasceu em Curitiba, no Paraná, em 1944. Era filho e neto de militares. Cresceu com a ideia de que a guerra era a mais nobre atividade a que o ser humano podia dedicar-se. Entretanto, aos 16 anos, seu grande medo era ( ) escrever por aqueles que não podiam escrever. ( ) conviver com a própria família, por receio das “rugas, olhos raivosos, bocas irritadas e sem lábios, mãos grossas e calosas, finas e leves, transparentes”. ( X ) vivenciar uma confrontação nuclear: a guerra total, sem ven- cidos nem vencedores. h) Lygia de Azevedo Fagundes (depois, Telles, ao se casar, em 1950) nasceu na capital paulista, em 19 de abril de 1923. Passou a infân- cia mudando-se com a família para vários lugares, sempre ouvindo as histórias fantásticas contadas por outras crianças. Em pouco tempo, ela mesma começou a inventar suas narrativas. O pai de Lygia frequentava casas de jogos e a levava junto “para dar sorte”. Ela escolhia o verde na roleta, cor que, depois, apareceu em toda a sua ficção, porque ( X ) é a cor da esperança, como aprendeu com seu pai. ( ) é a cor das ondas de mais de 30 metros que existem em São Paulo. ( ) é a cor das fardas do pai e do avô do poeta Leminski. Quem foi Jonathan Swift? As informações complementares ao texto principal são apresentadas como curiosidades, buscando o formato hipertextual. Antecipe a leitura da biografia do irlan- dês Jonathan Swift, autor de uma das mais intrigantes obras de sátira a opres- sores: As viagens de Gulliver. O intuito é verificar os conhecimentos prévios dos alunos sobre esse autor e essa obra. Se possível, traga para a sala alguns volu- mes desse livro e mostre à turma suas ilustrações, feitas por diferentes ilus- tradores, dos mais clássicos aos mais contemporâneos. Como os alunos já responderam ao quiz, devem estar curiosos para verifi- car as respostas. Assim, provavelmente farão uma leitura direcionada tanto da biografia quanto do trecho da história. © Sh ut te rs to ck /G eo rg io s K ol lid as 23 Produção de texto – 8o. ano – Volume 3 – Proposta 5 23 i) Graciliano Ramos nasceu em 27 de outubro de 1892, na cidade de Quebrângulo, no sertão de Alagoas, lugar tão árido como seus pais – uma gente seca, severa e violenta. A dura infância o fez acreditar que todas as relações humanas eram regidas por violência e aridez. Ao longo da vida, foi colaborador de vários jornais, usando diferentes pseudônimos. Em 1928, foi eleito prefeito de Palmeiras dos Índios. Ao final de um período, escreveu um relatório para o governador sobre as obras da prefeitura. Ainda hoje, esse relatório surpreende, porque ( ) todas as palavras são um gesto de amor. ( X ) é apresentado de maneira literária, sui generis, peculiar. ( ) constata a situação de miséria do povo. 2. Nos textos a seguir, você conhecerá um pouco sobre a vida e a obra do escritor irlandês Jonathan Swift. Fique de olho O rapaz que nunca fora bom aluno Em 1681, Swift matriculou-se no Trinity College de Dublin, onde só se distinguiu pelas punições: mais de setenta, em dois anos, em razão de má conduta e falta de aplicação nos estudos. Aborrecia-se dos conhecimentos. Ao fim do curso, para ver-se livre dele, a congregação deu-lhe o diploma. Nascimento Jonathan Swift nasceu num escuro dia dublinense, em 30 de novembro de 1667, e não conheceu o pai, morto sete meses antes. William Temple Sir William Temple (1628-1699) foi um estadista e escritor de grande prestígio. Swift amadureceu intelectualmente entre os livros de Temple. Na casa de Temple, conheceu uma menina de oito anos chamada Esther Johnson, que, segundo as más línguas, era filha de William Temple com uma ama da casa. Swift a chamava carinhosamente de Stella (Estrela) e escreveu para ela os mais belos poemas. Alguns dizem que eles se casaram, mas o mais provável é que Swift tenha permanecido no celibato, cultivando um amor puramente espiritual. Espírito observador Frases de Jonathan Swift: “A descoberta consiste em ver o que todo mundo viu e pensar o que ninguém pensou.” “Todos desejam viver muito tempo, mas ninguém quer ser velho.” “Comoé possível esperar que a humanida- de ouça conselhos, se nem sequer ouve as advertências?” Só posso escrever o que sou. E, se os personagens se com- portam de modos diferentes, é porque não sou um só. A descoberta consiste em ver o que todo mundo viu e pen- sar o que ninguém pensou. Graciliano Ramos Jonathan Swift TEXTO 1 Quem foi Jonathan Swift? Quando Sir Willian Temple recebeu seu novo secretário, sentiu-se um pouco decepcionado. Aquele homem refinado, diplomata e con- selheiro do rei, logo percebeu que Jonathan era um jovem inculto. De fato o rapaz, que nunca fora bom aluno, abandonara os estudos e seu país – a Irlanda –, partindo para a Inglaterra em busca de melhor sorte. Desde seu nascimento, em 1667, na cidade de Dublin, Jonathan Swift não conhecera dias melhores. Seu pai tinha morrido pouco antes de ele nascer, deixando a família em péssima situação financeira. Por essa razão, o pequeno Swift viveu da caridade de um tio, que o considerava um estorvo. Orgulhoso, o menino jamais se esqueceria dessa triste dependência. Completados os 21 anos, foi para a Inglaterra encontrar-se com sua mãe, que lá vivia miseravelmente. A pobre mulher lembrou-se então de William Temple, na época um grande homem de Estado, de quem seu avô fora confessor. Mais uma vez Swift foi recebido por caridade. Seu espírito observador, aliado à humilhação por que passava naque- le ambiente requintado, transformou o rapaz. Estudando oito horas por dia, em pouco tempo tornou-se o orgulho do embaixador, que passou a levá-lo consigo sempre que ia entrevistar-se com o rei. © Sh ut te rs to ck /G ab or R us zk ai Livro de atividades24 Em 1692, Swift doutorou-se em Teologia pela Universidade de Oxford e foi ordenado bispo da Igreja Anglicana, na Irlanda. De volta a seu país, constatou com tristeza a situação de miséria a que estava reduzido seu povo. O domínio inglês na Irlanda já existia há algum tempo, mas, durante o reinado de Guilherme III (de 1689 a 1702), o Parlamento britânico se arrogou o poder de ditar as leis para a Irlanda, submetendo o comércio daquele país à Inglaterra e mantendo-o em total dependência. Um dos estatutos, por exemplo, privava os irlandeses de exportar alguns de seus produtos básicos. Consequentemente, o desemprego e a fome fizeram tantas vítimas quanto uma guerra poderia fazer. Humanista e de caráter oposto à tirania e à injustiça, Swift se colocou então como um intrépido defensor do povo oprimido. Através da sátira cruel dos seus escritos, pretendeu despertar a consciência das pessoas omissas e indiferentes. Sua obra-prima de ironia é o ensaio Modesta proposição, para impedir que os filhos dos pobres da Irlanda sejam um fardo para seus pais ou seu país, e torná-las benéficas ao público, onde propunha, em linguagem de economista, o consumo da carne de crianças irlandesas, abastecendo assim o mercado inglês. Desiludido com o mau uso que os homens fazem da razão e da ciência, em 1726 Swift publicou sua realização máxima, Viagens através de várias e longínquas nações do mundo por Lemuel Gulliver, título original de As viagens de Gulliver. Relato das viagens de um médico através de países imaginários, nesta obra Swift satiriza a sociedade inglesa – a presunção do rei, a incompetência dos ministros, a idiotice dos intelectuais, a leviandade das mulheres da elite – e a condição indigna a que foi reduzido o ser humano. A salvo encontram-se apenas os animais, que, ao contrário dos homens, não perderam a bondade e a delicadeza. A popularidade de Swift cresceu tanto quanto o ódio que os poderosos nutriam por ele. Um ministro inglês, não satisfeito em proibir sua entrada naquele país, pensou em mandar prendê-lo na Irlanda. Um amigo aconselhou-o então a enviar um exército com dez mil soldados para executar a ordem, porque todos os irlandeses tomariam sua defesa. Pastor protestante de um rebanho católico que o amava, escritor de gênio que preferia o anonimato à fama, Swift morreu em Dublin, no ano de 1745. SWIFT, Jonathan. Viagens de Gulliver. Adaptação em português de Claudia Lopes. São Paulo: Scipione, 2001. p. 5-6. (Reencontro literatura). O TEXTO VIAGEM A LILLIPUT, APRESENTADO NA SEQUÊNCIA, INICIA O PRIMEIRO CAPÍTULO DE AS VIAGENS DE GULLIVER, OBRA QUE MISTURA LITERATURA DE VIAGEM, AVENTURA E FICÇÃO CIENTÍFICA. PUBLICADA EM 1726, É UMA SÁTIRA À SOCIEDADE INGLESA. NÃO FOI ESCRITA PARA CRIANÇAS E JOVENS, MAS SE TORNOU UM CLÁSSICO DA LITERATURA PARA ESSE PÚBLICO LEITOR. FOI ADAPTADA PARA O CINEMA, E O FILME, LANÇADO EM 2011, AGRADOU AOS FÃS DO ATOR E CANTOR JACK BLACK. DIAS, Tullio. As viagens de Gulliver. Disponível em: <https://www.cinemadebuteco.com.br/ filmes/criticas-de-filmes/as-viagens-de-gulliver/>. Acesso em: 19 dez. 2018. © Sh ut te rs to ck /V as ya K ob el ev © Al am y/ Fo to ar en a Produção de texto – 8o. ano – Volume 3 – Proposta 5 2525 Extremamente nerd e com diversas citações a Star Wars, As Via- gens de Gulliver cumpre o papel de toda comédia que se preze. Ainda que seja uma produção da Disney, é possível dar boas risadas durante o filme, dirigido por Rob Letterman (Monstros vs Aliení- genas). Além de Jack Black, o elenco [...] conta com Amanda Peet, Emily Blunt e Jason Segel. O gordinho mais amado do cinema inter- preta Gulliver, um sujeito tímido que trabalha há 10 anos no mes- mo setor de uma empresa de viagens. Decidido a mudar de vida e provar que pode convidar sua chefe (Peet) para sair, ele aceita um serviço diferente e parte em busca de uma pista da localização do triângulo das bermudas. Mas acontece que ele vai parar num mundo diferente, onde todas as pessoas são minúsculas. [...] O texto Quem foi Jonathan Swift? é uma biografia e, portanto, apresenta algumas marcas características desse gênero textual, como • identificação da pessoa cuja história de vida está sendo contada; • marcadores de lugar; • palavras ou expressões com valor temporal; • relato de fatos marcantes da vida do biografado; • referência à trajetória de vida do biografado; • emprego de uma estrutura básica: apresentação inicial do biografado (introdução), des- crição dos principais fatos que compõem sua história (desenvolvimento) e parte final em tom mais subjetivo (conclusão); • predomínio de verbos no passado, especialmente no pretérito perfeito; • emprego de pronomes pessoais e possessivos na terceira pessoa do singular. 3. Com base na explicação anterior, identifique, nos textos 1 e 2, o que se pede. a) A pessoa cuja história de vida está sendo contada. Jonathan Swift. b) Marcadores de lugar. “A estibordo”, “na gávea”, “ao mar”, “na cidade de Dublin”, etc. TEXTO 2 SWIFT, Jonathan. Viagens de Gulliver. Adaptação em português de Claudia Lopes. São Paulo: Scipione, 2001. p. 9-10. (Reencontro literatura). Livro de atividades26 Viagem a Lilliput Após a tempestade, um reino em miniatura. A tempestade começou de repente. Ondas de mais de 30 metros envolviam o navio e o jogavam de um lado para outro, como se fosse de brinquedo. Rajadas de vento logo destruíram as velas. Eu era o médico de bordo e fiquei esperando o pior. – Recifes a estibordo! O grito desesperado do marinheiro que estava na gávea soou quase ao mesmo tempo que o barulho do choque do majestoso veleiro Antílope, no qual viajávamos, com as pedras. Foi uma confusão dos diabos. Tripulantes correndo em todas as direções, gente gritando, outros jogando-se ao mar, cada um tentando salvar a própria pele. Estava quase paralisado pelo medo, as mãos grudadas na amurada do convés, quando fui cuspido para fora do navio, que já se inclinava perigosamente. Senti meu corpo en- volto na água gelada do mar e no momento em que dei por mim – confesso que não me lembro como consegui – estava num pequeno bote com outros cinco marinheiros, todos remando com fúria para nos afastarmos o máximo possível do Antílope, que começava a afundar. [...] 27 Produção de texto – 8o. ano – Volume 3 – Proposta 5 27 c) Palavras ou expressõescom valor temporal. “Em 1692”, “Desde seu nascimento, em 1667”, etc. d) Fatos marcantes da vida do biografado. “O grito desesperado do marinheiro que estava na gávea soou quase ao mesmo tempo que o barulho do choque do majestoso veleiro Antílope, no qual viajávamos, com as pedras. Foi uma confusão dos diabos.” e) Verbos no pretérito perfeito. “Recebeu”, “sentiu-se”, etc. 4. Quem foi Jonathan Swift? é um texto biográfico sobre o irlandês Jona- than Swift, autor da obra clássica As viagens de Gulliver. Coloque-se no lugar desse autor e escreva uma breve autobiografia, contando aspec- tos interessantes de “sua” vida. Depois de concluído, seu texto poderá ser apresentado aos colegas de duas maneiras: • compondo um painel coletivo sobre Jonathan Swift; • na forma de monólogo. Para dar realismo ao momento, que tal improvisar peruca e figurino semelhantes aos usados, na época, por Jonathan Swift? Produção de texto 5 Fique por dentro Conheça os objetivos dessa proposta de produção de texto: a) Compreender as características e a funcionalidade da autobiografia escrita como fonte para a história da humanidade. b) Criar um texto em primeira pessoa – uma breve autobiografia – no papel do escritor Jonathan Swift, usando informações disponíveis na biografia desse autor e também nos hipertextos. c) Produzir material de leitura interessante para os colegas da escola. Dica: autobiografia 1. Releia atentamente a biografia de Jonathan Swift. 2. Selecione as informações essenciais da biografia. 3. Escreva o texto em primeira pessoa. 4. Observe a sequência dos fatos da vida de Jonathan Swift. 5. Revise seu texto. Escrever de maneira sucinta pode ser mais complexo do que escre- ver muito. O texto na primeira pessoa do singular apresenta alguns desafios: é preciso ima- ginar-se desempenhando uma espécie de papel, no caso, o de Jonathan Swift, e compor uma história com base nas informa- ções apresentadas na biografia e nos hipertextos. Sugestão de uma breve autobiografia sobre uma etapa (infância) da vida de Swift: Sou Jonathan Swift, pastor, escritor e ensaísta. Nasci no dia 30 de novem- bro de 1667, em Dublin, Irlanda. Fazia muito frio e estava escuro, apesar da neve. Não conheci meu pai porque ele morreu sete meses antes de eu nascer, deixando-nos em péssima situação financeira. Fui uma criança humilhada e vivi da caridade alheia. Como sempre fui orgulhoso, jamais me acostumei a isso. Guerra dentro da gente A LEITURA DO TEXTO A SEGUIR VAI AJUDÁ-LO A CONHECER CERTEZAS E TEMORES DE PAULO LEMINSKI, NARRADOS POR ELE MESMO. REPARE BEM NO QUE ELE “NÃO DIZ”. MENOS GUERRA, MAIS AMOR É O TÍTULO DADO PELO ESCRITOR À APRESENTAÇÃO QUE FEZ DO ROMANCE GUERRA DENTRO DA GENTE. TEXTO 3 Repara bem no que não digo. Paulo Leminski LEMINSKI, Paulo. Guerra dentro da gente. São Paulo: Scipione, 1988. AGORA, LEIA UM TRECHO DE UMA OBRA FICCIONAL DE PAULO LEMINSKI EM QUE SE EVIDENCIA O TEMA DA GUERRA. TEXTO 4 LEMINSKI, Paulo. A partida. In: ______. Guerra dentro da gente. São Paulo: Scipione, 1988. p. 7. 28 Livro de atividades28 Livro de atividades Pr op os ta 6 Menos guerra, mais amor Neto e filho de militares (meu avô materno e meu pai fizeram carreira no Exército), cresci com a ideia de que a guerra era a mais nobre atividade a que podia se dedicar o ser humano. Aos dezesseis anos, vivi, pela primeira vez, o medo de uma confrontação nuclear: a guerra total, sem vencidos nem vencedores. “Faça amor, não faça a guerra”, disse a geração que acompanhou pela televisão as batalhas do Vietnã e pôde ver o seu horror. Mas a guerra não desaparece. O homem é, por excelência, um guerreiro. Seus maiores progressos estão na arte de matar e destruir. O amor-antídoto é um milagre cada vez mais raro. Este livro é uma fábula onde os milagres são frequentes, onde existem armas para acabar com todas as armas. Afinal, toda palavra é, aqui, um pequeno gesto de amor. Paulo Leminski A partida O garoto vinha caminhando pela estrada quando viu o velho na ponte que separava a floresta, onde ia buscar lenha, da aldeia onde moravam seus pais. A ponte ficava em cima de um rio, desses que são enormes no verão e quase desaparecem no inverno. Era um velho absolutamente comum. A única coisa de especial é que ele estava ali, naquele momento. Feixe de lenha nas costas, quando o menino ia passando pela ponte, o velho tirou a sandália do pé direito e a atirou lá embaixo, nas pedras à beira do rio. – Vá apanhar minha sandália. O garoto parou. Arriou o feixe e, em dois pulos, desceu e apanhou a sandália. – Você sabe das coisas – o velho falou. – Quer aprender a arte da guerra? O menino ficou tonto. Era apenas o filho de um lenhador, a arte da guerra era uma arte superior, a arte dos que moravam nos castelos no alto das montanhas. Sem esperar resposta, o velho disse: – Então, esteja aqui amanhã, quando a água do rio passar da cor da asa do estorninho para a cor do nenúfar. O garoto foi para casa, pensando: amanhã. [...] Mostre aos alunos que os escritores recorrem a recursos de linguagem para criar efeitos de sentido que particula- rizam a informação, o que dá literarie- dade à narração: figuras de linguagem, expressões regionais ou inusitadas, inversões sintáticas, etc. © Fo lh ap re ss 29 Produção de texto – 8o. ano – Volume 3 – Proposta 6 29 1. Com base nas informações sobre o gênero autobiografia e no texto Menos guerra, mais amor, complete o quadro a seguir. Fato Como o autor narrou o fato Leminski descobriu que a guerra nuclear destrói tudo e todos. “Aos dezesseis anos, vivi, pela primeira vez, o medo de uma confrontação nuclear: a guerra total, sem vencidos nem vencedores.” A Guerra do Vietnã foi transmitida pela televisão, e muitas pessoas passaram a lutar por mais paz e amor no mundo. “'Faça amor, não faça a guerra', disse a geração que acompanhou pela televisão as batalhas do Vietnã e pôde ver o seu horror.” O ser humano está sempre evoluindo em sua capacidade de matar e destruir. “O homem é, por excelência, um guerreiro. Seus maiores progressos estão na arte de matar e destruir.” É cada vez mais difícil encontrar atitudes que expressem o amor. “O amor-antídoto é um milagre cada vez mais raro.” 2. Biografias e autobiografias contêm o registro de importantes fatos da história da humanidade, pois trazem tanto o contexto histórico quanto o contexto social do biografado. Nesse texto autobiográfico, Leminski faz referência a duas situações especiais: à bomba nuclear e à Guerra do Vietnã. Faça uma pesquisa sobre esses fatos e indique em que década Leminski tinha 16 anos. 3. Leminski aborda o tema da guerra em seu texto autobiográfico e de apresentação da obra Guerra dentro da gente. a) Influenciado por seu pai e por seu avô, Leminski cresceu considerando a guerra “a mais nobre atividade a que podia se dedicar o ser humano”. Qual fato explica essa influência? b) Encontre no texto palavras e trechos que revelem a opinião de Leminski sobre a guerra. “Medo”, “sem vencidos nem vencedores”, “horror”, “arte de matar e destruir”, etc. Auxilie os alunos a pesquisar a Segunda Guerra Mundial, a bomba atômica (nuclear) e também a Guerra do Vietnã. Leminski nasceu em Curitiba, em 24 de agosto de 1944, e morreu nessa mesma cidade, em 7 de junho de 1989. A Guerra do Vietnã aconteceu entre 1955 e 1975; portanto, quando a guerra começou, ele tinha apenas 11 anos e, no início da década de 1960, 16 anos. Esse violento conflito armado foi promovido pelos Estados Unidos no Sudeste Asiático. É chocante a fotografia, tirada em 1972, de uma menina vietnamita de 9 anos correndo nua, em desespero, e gritando “Muito quente! Muito quente!” pela rua do vilarejo onde vivia. Talvez seja a ela que Leminski se refere quando fala em “horror”. Os meios de comunicação da época fizeram uma grande cobertura diária. Caso seja possível e se considerar pertinente, mostre aos alunos a imagem da menina. Leminski tinhatambém um medo muito grande de uma confrontação nuclear. O mundo já tinha experi- mentado seus efeitos quando, em 6 de agosto de 1945, um avião de bom- bardeio americano lançou a primeira bomba atômica (Little Boy) sobre a cidade de Hiroshima, sede do comando militar do Japão Imperial. A explosão provocou a morte de cerca de 100 mil pessoas, como resultado direto da deto- nação, e outras 35 mil ficariam feridas. Mais de 60 mil pessoas morreram até o final daquele ano como resultado dos efeitos catastróficos da chuva radioativa. A autobiografia é um gênero textual em que são narrados fatos verídicos, ou seja, eventos que realmente aconteceram, mas do ponto de vista particular do escritor. No texto autobiográfico, o relato dos fatos aparece, frequentemente, pon- tuado de lembranças e de um colorido emocional. O fato de o pai e o avô de Leminski serem militares. Ajude os alunos a perceber a mudança de ponto de vista sobre a guerra do primeiro para o segundo parágrafo, respectivamente, o valor positivo que pai e avô davam a ela e a opinião contrária de Leminski, já aos 16 anos. ©S hu tte rst oc k/Y ok o D es ign 30 Livro de atividades30 5. Para narrar o encontro dos dois personagens do romance Guerra dentro da gente, Paulo Leminski fez uma rigorosa seleção vocabular, às vezes, passando tranquilidade ao leitor e, outras vezes, trazendo certo desassossego. Para conseguir esse efeito colorido, o autor intensificou semanticamente algumas palavras e atenuou outras ao longo do texto. Observe, no trecho a seguir, a atenuação realizada. 5. Sugestões de palavras intensificadas. A partida O garoto vinha caminhando (avan- çando) pela estrada quando viu (perce- beu) o velho na ponte que separava a floresta, onde ia buscar lenha, da aldeia onde moravam seus pais. A ponte ficava em cima de um rio, desses que são enormes (gigantes- cos) no verão e quase desaparecem no inverno. Era um velho absolutamente comum (insignificante). A única coisa de especial é que ele estava ali, naquele momento. Feixe de lenha nas costas, quando o menino ia passando pela ponte, o velho tirou (arrancou) a sandália do pé direito e a atirou lá embaixo, nas pedras à beira do rio. – Vá apanhar minha sandália. O garoto parou. Arriou (livrou-se do) o feixe e, em dois pulos, desceu (sal- tou) e apanhou (agarrou) a sandália. – Você sabe das coisas – o velho falou (declarou). – Quer aprender a arte da guerra? O menino ficou tonto. Era ape- nas o filho de um lenhador, a arte da guerra era uma arte superior, a arte dos que moravam nos castelos no alto das montanhas. Sem esperar resposta, o velho disse (ordenou): – Então, esteja aqui amanhã, quando a água do rio passar da cor da asa do estorninho para a cor do nenúfar. O garoto foi (correu) para casa, pensando (refletindo): amanhã. [...] Práticas de reflexão sobre a língua O ritmo tranquilo da história poderia ser intensificado semantica- mente assim: • Releia o texto A partida e selecione algumas palavras que, em sua opinião, podem ser intensificadas ou atenuadas. Depois, compare sua seleção com a de um colega. Paulo Leminski teve um caso de amor irremediável com a palavra. Sua obra Vida “mostra quatro modos de como a vida pode se manifes- tar: a vida de um grande poeta negro de Santa Catarina, simbolista, que se chamou Cruz e Sousa; Bashô, um japonês que era samurai, abando- nou a classe samurai para se dedicar apenas à poesia e é considerado o pai do haicai; Jesus, profeta judeu que propôs uma mensagem que está viva 2 mil anos depois; Trotsky, o político, o militar, o ideológico [...]”. Escreveu o poeta: “a vida varia / o que valia menos / passa a valer mais / quando desvaria”. BARBOSA, Frederico. Leminski: Vida. Folha de S.Paulo, 24 nov. 1990. Letras, p. H1. Refletir sobre a intensificação das palavras é bastante signifi- cativo, uma vez que o colorido do texto depende da escolha que se faz delas. 4. Assinale as alternativas que traduzem a seguinte frase: “O amor-antí- doto é um milagre cada vez mais raro”. ( X ) Apenas o amor pode evitar guerras e destruição. ( ) O amor ao próximo está cada vez mais presente em nossa vida. ( X ) Atitudes de amor ao próximo são exceção no dia a dia. ( ) O amor alimenta a guerra. O garoto vinha caminhando pela estrada quando viu o velho na ponte que separava a floresta, onde ia buscar lenha, da aldeia onde moravam seus pais. O garoto vinha avançando pela estrada quando viu o velho na pon- te que separava a floresta, onde ia procurar lenha, da aldeia onde mo- ravam seus pais. 31 Produção de texto – 8o. ano – Volume 3 – Proposta 6 31 6. O texto a seguir, Cruz e Sousa’s blues, é a primeira das 15 partes que compõem o capítulo do ensaio biográfico desse poeta catarinense, o “negro branco”, como descrito por seu biógrafo Paulo Leminski. Faça uma pesquisa sobre a vida dos autores citados por Leminski em Cruz e Sousa’s blues. Conheça também as obras originais, singulares e surpreendentes que eles produziram.Cruz e Sousa’s blues “kilima muzuri mbali karibu kinamayuto” – “bela de longe é a montanha, Por que tão dura a escalada?” (provérbio bantu) Tem poetas onde interessa mais a obra, artistas cuja peripécia pessoal se reduz a um trivial variado, sem maiores sismos dignos de nota, heróis de guerra e batalha interiores, invisíveis a olho nu. Tem outros, cuja vida é, por si só, um signo. O desenho de sua vida constitui, de certa forma, um poema. Por sua singularidade. Originalidade. Surpresa. Um Camões. Um Rimbaud. Um Ezra Pound. Um Maiakovski. Um Oswald de Andrade. Cada vida é regida pelo astro de uma figura de retórica. Certas vidas são hiperbólicas. Há vidas-pleonasmo. Elipses. Sarcasmos. Anacolutos. Paráfrases. A figura de retórica mais adequada para a vida de Cruz e Sousa é o oxímoro, a figura da ironia, que diz uma coisa dizendo o contrário. Que outra figura calharia a este negro retinto, filho de escravos do Brasil imperial, mas nutrido de toda a mais aguda cultura internacional de sua época, lida no original? Quais formas exprimiriam a radicalidade com que Cruz e Sousa assumiu a vida poética, como destino de sofri- mento e carência a transformar em beleza e significado? Na poesia, na realização enquanto texto, Cruz e Sousa superou o dilaceramento entre os antagonismos de ser negro no Brasil (mão de obra) e dispor do mais sofisticado repertório branco de sua época (o “Espírito”). Não deixa de haver muito mistério de serem negros, oriundos da raça mão de obra, o maior prosador da literatura brasileira, Machado de Assis, e, sob certos aspectos, nosso mais fundo e intenso poeta. Mas, “na arte não há segredos, só mistérios”, disse Gilberto Gil, esse outro grande negro do país que deu Pelé. Iorubá? Malê? Mandinga? Ewê? De qual nação africana descendia o poeta que retroviu uma “Eternidade Retrospectiva”? Fosse um negro norte-americano, Cruz e Sousa tinha inventado o blues. Brasileiro, só lhe restou o verso, o soneto e a literatura para cons- truir a expressão da sua pena. LEMINSKI, Paulo. Vida: Cruz e Sousa, Bashô, Jesus, Trótski. Porto Alegre: Sulina, 1990. p. 19-20. 32 Livro de atividades32 7. Construa um relato autobiográfico escrito. Narre fatos engraçados, tris- tes, surpreendentes, inacreditáveis, banais ou fantásticos de sua vida para compor o Livro de relatos autobiográficos da turma. Use o espaço a seguir para planejar seu texto, fazendo uma linha do tempo para organizá-lo cronologicamente. Produção de texto 6 Fique por dentro Conheça os objetivos dessa proposta de produção de texto: a) Rememorar fatos marcantes da própria vida. b) Elaborar um relato autobiográfico. Dica: relato autobiográfico 1. Entreviste seus familiares e reveja álbuns de fotografia. 2. Relate uma situação marcante em sua vida, com indicação de data e local. 3. Use expressões com valor temporal para dar sequência à narrativa e verbos no passado. 4. Revise seu texto. Lembre-se de que você tem li- berdade para contar
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