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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES CÊNICAS LINHA DE PESQUISA LINGUAGENS DA CENA: MEMÓRIA, CULTURA E GÊNERO. “PODE SER QUE SEJA SÓ O LEITEIRO LÁ FORA”: A MONTAGEM DE UMA ENCENAÇÃO PERFORMATIVA A PARTIR DA OBRA DE CAIO FERNANDO ABREU. Candidato: Felipe Cabral de Araújo Fagundes Professora Orientadora: Naira Neide Ciotti NATAL/RN 2013 2 INTRODUÇÃO Este projeto tem como principal característica, a investigação prática sobre a obra dramatúrgica “Pode ser que seja só o leiteiro lá fora” (1974) do autor gaúcho Caio Fernando Abreu (Santiago, 1948 - Porto Alegre, 1996). A obra deste autor em sua maioria é composta por contos, sendo seu livro mais famoso, “Morangos Mofados” (1982) e tratam sempre da marginalidade, seja através de personagens que se situam à margem da sociedade, tais como hippies, travestis, prostitutas, mendigos, homossexuais e soropositivos (que começam a fazer parte da sua obra em 1983, coincidindo com os primeiros caso da AIDS no Brasil), seja através da influência de campos de estudos esotéricos, como a astrologia que permeia quase toda a obra deste autor, e também a forma como os personagens constroem suas relações amorosas e afetivas, muitas vezes se colocando em dúvidas sobre suas escolhas. Sua obra teatral, apesar de não ser muito extensa, é muito representativa no contexto teatral contemporâneo brasileiro, por se afastar dos padrões textuais tradicionais dos textos dramatúrgicos tradicionais, não apresentando assim relações entre personagens pautadas pelo diálogo. No caso da peça “Pode ser que seja só o leiteiro lá fora”, os diálogos entre os personagens se constituem como uma ferramenta não de construção de uma ilusão da narrativa em questão, mas, como uma ponte entre a realidade vivenciada pelo público e o discurso dito pelos personagens. Nesse texto, em específico, o autor determina, que em um certo momento, nada mais do texto faz sentido, o texto deste momento em quase nada se liga com o que aconteceu no momento anterior. Em outros exemplos, Caio Fernando Abreu, deixa rubricas que permitem que o encenador intervenha diretamente sobre a obra dele. Nesse sentido a contemporaneidade se expressa o tempo todo em sua obra, não se preocupando em reafirmar uma narrativa ilusória, mas sim, uma narrativa que se conecta de forma direta com a realidade vivenciada pelo espectador. A produção da cena teatral contemporânea se intensificou no mundo a partir da década de 60 1 , com o estabelecimento da performance arte enquanto linguagem artística. Esta última apresenta-se como um movimento de ruptura com formas e linguagens mais estabelecidas e tem como principal característica a relação entre a vida do performer e a obra que ele realiza. Renato Cohen define a performance arte como uma ‘babel’ das artes que “não se origina de uma migração de artistas que não encontram espaço nas suas linguagens, mas, pelo contrário, se origina da busca intensa, de uma arte integrativa, uma arte total, que escape das delimitações disciplinares”. (COHEN, 2011, p.50) Nesse sentido, a produção teatral começa a ser contaminada por esse pensamento performativo de ações que não mais se limitam a uma determinada linguagem, mas que se hibridizam para compor a obra de arte. 1 Apesar de os movimentos vanguardistas do início do século XX, já realizarem experiências com as mais diversas linguagens artísticas, o termo performance arte (valorizando a ação) só é utilizado pela primeira vez na década de 60. (COHEN, 2011). 3 Portanto, por acreditar nesta contaminação da linguagem teatral pela performance arte, neste hibridismo, este projeto será constituído por uma encenação performativa, que terá como ponto de partida, o texto “Pode ser que seja só o leiteiro lá fora” de Caio Fernando Abreu. Assim, será construída uma rede de relações cujas teorias serão advindas a partir da prática de montar esta encenação. Autores como os teóricos alemão Hans-Thies Lehmann (2007) e o francês Jean-Pierre Rygnaert (1998), trarão importantes contribuições com suas discussões para a construção da objeto prático deste projeto, uma vez que eles se preocupam em discutir em seus livros “O teatro pós- dramático” e “Ler o teatro contemporâneo”, respectivamente, quais seriam as bases desse outro modelo de fazer teatro e como ele acontece. Porém, é a partir do pensamento da pesquisadora canadense Josette Ferál (2008), que este trabalho será erguido. Para ela, o teatro é uma das linguagens artísticas que mais soube se aproveitar das características advindas da performance arte. Nesse sentido, Ferál, denomina esse novo fazer teatral, como teatro performativo, pois essa outra forma de fazer teatro assume com mais propriedade as características da performance arte, tais como o desenvolvimento de uma ação cênica em detrimento de uma representação e o espetáculo centrado na imagem e na ação e não mais no texto como era a prática até então. Para este projeto, será adotado este último termo, pois entende que, nesta relação, a performatividade exerce um papel crucial para a construção de outra teatralidade, que escapa do que é comumente determinado como teatro. Sílvia Fernandes (2010) emprega o conceito de vetores de leitura dos espetáculos de Patrice Pavis (2000), e estabelece duas formas de teatralidade: uma denegada ligada a estética naturalista, ou seja, uma construção verossímil e linear do texto; e a de convenções conscientes, que se baseia em atuações abstratas e na reinvenção do espaço cênico. Esta relaciona-se muito com a linguagem da performance arte e leva em consideração as contribuições de todos os envolvidos no fazer teatral, permitindo assim que o processo de construção se dê horizontalmente, sem estruturas hierárquicas de poder. Dessa forma, é perceptível a apropriação de características de outras linguagens pela obra teatral. Nessa pesquisa será trabalhado também o conceito de montagem cinematográfica que começa a ser explorado pelo diretor russo Sergei Eisenstein (1898-1948). Eisenstein não somente era diretor de cinema; foi aluno de Meyerhold, e fez suas incursões também dirigindo peças de teatro, onde o procedimento da montagem era utilizado. No teatro, ele costumava usar a técnica denominada por ele como Montagem de Atrações, que tinha como premissa: o espectador como material básico do teatro e que deveria ser orientado numa determinada direção pelo espetáculo. Este procedimento, para Eisenstein, se diferenciava da representação por ser um estímulo criativo que acontecia no “interior” do espectador, sendo não somente um registro do 4 acontecimento. O principal efeito desta ferramenta é a justaposição que, segundo o autor, era responsável pela criação de imagens, que nada mais eram do que a soma de representações. A atração seria então uma unidade de influência sobre o espectador, um elemento agressivo que expõe o espectador a uma ação sensorial ou psicológica, desde que ela tenha sido verificada experimentalmente e precisamente calculada para produzir nele choques emocionais que farão com que ele perceba o aspecto ideológico do que foi proposto e construa por si só a conclusão sobre o que ele presenciou. Nesse sentido, este projeto pretende investigar de forma prático-teórica, a relação entre o conceito de Montagem de Atrações de Eisenstein com o Teatro Performativo de Josette Ferál observando como a linguagem teatral se apropria da técnica cinematográfica para a construção das obras cênicas contemporâneas, se utilizando para isso, da construção da encenação “Pode ser que seja só o leiteiro lá fora” pautando-se no texto homônimo de Caio Fernando Abreu. A escolha deste autor, se deu pelo fato de desde o início do meu percurso, ainda no Ensino Médio, quando tive meusprimeiros contatos com a linguagem teatral no CEFET-RN, fui apresentado pelo professor de Lingua Portuguesa a Caio Fernando Abreu, pelo seu livro de peças, “Teatro completo”, em uma edição antiga ainda pertencente a Editora Sulina, antes de ser atualizado e relançado pela Editora Agir. De lá pra cá, fui aprofundando as leituras deste autor, que além das peças de teatro, escreveu contos com os livros “Inventário do irremediável” (1970); “O ovo apunhalado” (1975); “Pedras de Calcutá” (1977); “Morangos mofados” (1982); “Os dragões não conhecem o paraíso” (1988);; “Ovelhas negras” (1995); “Estranhos estrangeiros” (1996); novelas com os livros “Triângulo das Águas (1983); “As frangas” (1988), direcionada ao público infantojuvenil; “Bem longe de Marienbad” (1994); romances com os títulos “Limite Branco” (1971); “Onde andará Dulce Veiga” (1990); e por fim crônicas com os livros “Pequenas epifanias” (1996) e “Girassóis” (1997). O livro que reúne as peças de teatro escrito por ele, “Teatro completo” (2009) da editora agir, contem as seguintes peças: “Sarau das 9 às 11” (1976); “Diálogos” (1982); “A comunidade do arco-íris” (1980); “Pode ser que seja só o leiteiro lá fora” (1974); “Reunião de família” (1982); “A maldição do Vale Negro” (1988); “Zona contaminada” (1994) e “O homem e a mancha” (1994). Esse texto dramatúrgico escrito em 1974, durante seu exílio em Londres, retrata o período da ditadura ao colocar sete personagens jovens que em uma festa a fantasia, alimentam o desejo de sair daquela situação de opressão na qual se encontravam se abrigando em uma casa abandonada. Caio Fernando Abreu, mistura nessa obra, a realidade opressora da qual os personagens fogem, com o pensamento esotérico que muito influenciou o autor em toda a sua obra. Cada personagem representa uma alegoria: Leo, o personagem realista/derrotista; Mona/Carlinha Baixo-Astral, personagem esotérica que busca constantemente fugir da realidade e que depois de ser sequestrada 5 misteriosamente retorna com uma personagem que questiona o seu antigo pensamento utópico e positivo; Rosinha, personagem grávida de um menino que representa a esperança, mas que não chega a nascer; Alice Cooper, personagem andrógino que usa sua imagem para contestar e provocar a sociedade tradicional. Baby, assim como Alice, enxerga a sociedade tal como ela é, mas busca formas de contestar a realidade, é o personagem musical da peça; Angel, namorado argentino de Alice Cooper; João, possui uma visão também realista e é tido como pai do filho de Rosinha. O contexto da peça, assim como as alegorias de cada personagem permitem a criação de uma encenação que não se prenda de maneira logíco-linear ao texto. Nesse sentido, a montagem seguirá um caminho, onde se construirá performances que tenham como ponto de partida o texto de Caio Fernando Abreu, mas que sejam independentes da encenação final, que funcionem por si só, mas que quando ligadas, montadas, resultem na encenação “Pode ser que seja só o leiteiro lá fora”. 6 OBJETIVOS Geral: Demonstrar de que forma o procedimento da montagem pode ser posto em prática na construção do teatro performativo; Específicos: ● Realizar um estudo prático cujo aporte teórico será relacionado com o processo de montagem da encenação performativa “Pode ser que seja só o leiteiro lá fora”. ● Analisar de que forma esse procedimento influencia na recepção do espectador ao vivenciar uma encenação performativa. a partir dos autores citados no projeto. 7 JUSTIFICATIVA O conceito de encenação performativa, cunhado pela pesquisadora Josette Ferál em 2008, evidencia uma forte relação entre a performance arte e a linguagem da encenação teatral, uma vez que ela acredita que das linguagens artísticas, o teatro foi a que mais se apropriou das características da performance arte Pourtant s’il est un art qui a bénéficié des acquis de la performance, c’est bien le théâtre puisqu’il a adopté certains des éléments fondateurs qui ont bouleversé le genre (acteur devenu performeur, événementialité d’une action scénique au détriment de la représentation ou d’un jeu d’illusion, spectacle centré sur l’image et l’action et non plus sur le texte, appel à une réceptivité du spectateur de nature essentiellement spéculaire ou à des modes de perception propres auxtechnologies…). Tous ces éléments, qui inscrivent une performativité scénique devenue aujourd’hui fréquente sur la plupart des scènes théâtrales occidentales. (FERÁL, 2008, n.190, p.1) 2 Esse contato entre as duas linguagens, se torna mais claro se as observamos dentro do contexto da pós-modernidade, que segundo Jean-François Lyotard (2013, p.xv) “designa o estado da cultura após as transformações que afetaram as regras dos jogos da ciência, da literatura e das artes a partir do final do século XIX”. Há de se deixar claro que, com essas mudanças, o conhecimento deixou de se ser encarado da mesma forma, uma vez que se instalou uma crise nos preceitos modernos e essa situação começa a colocar em cheque a ideia de relatos e de uma narrativa totalizadora. A função narrativa perde seus atores (functeurs), os grandes heróis, os grandes perigos, os grandes périplos e o grande objetivo. Ela se dispersa em nuvens de elementos de linguagem narrativos, mas também denotativos, prescritivos, descritivos, etc., cada um veiculando consigo validades pragmáticas sui generis. (LYOTARD, 2013, p.xvi) 2 Portanto se existe uma arte que se beneficia das características da performance arte, é o teatro, pois que ele adota certos elementos fundadores da performance que rompem com a linguagem teatral (ator transformado em performer, acontecimento de uma ação cênica em detrimento da representação ou de um jogo de ilusão, espetáculo centrado sobre a imagem e a ação e não mais sobre o texto, apelo a uma receptividade do espectador de natureza essencialmente especular ou aos modos de percepção próprias das tecnologias...). Todos esses elementos, que se encaixam em uma performatividade cênica, tornam-se hoje elementos comumente utilizados na maioria das cenas teatrais ocidentais. (FERÁL, 2008, n.190, p.1,tradução nossa). 8 Essas transformações começam a ficar mais evidente no campo artístico, com o surgimento das vanguardas artísticas do início do século XX: futuristas, surrealistas, dadás, cubistas, etc., já apresentavam outras formas de fazer artístico que rompiam com os padrões estéticos vigentes. Antonin Artaud, artista e teórico do teatro, que fez parte de alguns desses movimentos, já apontava em seu livro O Teatro e Seu Duplo (2006), mais precisamente nos capítulos A Encenação e a Metafísica e Acabar com as Obras Primas, que o teatro deveria ser constituído de várias ideias, sem se apegar às palavras e que as obras-primas já não correspondiam mais aos anseios de seu tempo. Esse pensamento corrobora com a ideia de pós-modernidade de Lyotard, pois a narrativa totalizadora era vista por Artaud, como uma prisão que era responsável pelo declínio do teatro e que para que esta linguagem conseguisse resistir, ela deveria se libertar da palavra e se reconstruir com os elementos que lhes são próprios, com a sua própria teatralidade. Jorge Glusberg (2009) e Renato Cohen (2011), apontam os artistas do início do século XX, como sendo uma proto-história da performance arte, que só seria inaugurada enquanto linguagem artística a partir da década de 60. Este novo modo de fazer arte era caracterizado pela hibridização de linguagens e pelo enfoque na ação, não se preocupando mais em contar uma história, e sim, em proporcionar uma experiência estética para o espectador, que era convidado algumas vezes a interagir com a obra. A linguagem da encenação teatral acaba por absorver tais características a partir deste período. Mesmo antes do surgimento da performancearte, alguns artistas já faziam experimentos de hibridização de linguagens, como é o caso do cineasta russo Sergei Eisenstein descrito por OLIVEIRA (2008). Apesar de ser um artista muito voltado para o cinema, Eisenstein também dirigiu algumas peças de teatro, utilizando-se do procedimento de montagem, denominando este recurso quando aplicado ao teatro como “montagem de atrações” que servia como Uma abordagem autenticamente nova que altera de forma radical a possibilidade dos princípios de construção da ‘estrutura ativa’ (o espetáculo em sua totalidade); em lugar do ‘reflexo’ estático de um determinado fato que é exigido pelo tema e cuja solução é admitida unicamente por meio de ações logicamente relacionadas a este acontecimento, um novo procedimento é proposto: a montagem livre de ações (atrações) arbitrariamente selecionadas e autônomas (também exteriores à composição e à cena de exposição do enredo representado pelos atores), porém com o objetivo preciso de atingir um certo efeito temático final. Isso é a montagem de atrações. (OLIVEIRA, 2008, p.127). As atrações em Einsenstein muito se aproximam das características de algumas encenações contemporâneas, que se constituem muitas vezes de performances, movimentos, cenas, ou fragmentos que são independentes entre si. A fragmentação da narratividade observada na 9 encenação contemporânea ou como denomina FÉRAL (2008), na encenação performativa, denota essa quebra com a representação, ou seja, com o tod o. O pensamento de Jean Pierre Sarrazac, importante dramaturgo e teórico do teatro francês, traz para a linguagem teatral o que Lyotard (2013), aponta como característica da pós-modernidade, a crise dos relatos, ou seja, a crise da narratividade do saber tradicional, que na contemporaneidade, está em desequilíbrio, e fragmentado. Do mesmo modo se encontra a cena teatral contemporânea, a narratividade presente nas montagens modernas, a unidade logocêntrica e textocêntrica, começa a dar lugar, com o aparecimento dos encenadores substituindo os diretores 3 a uma encenação mais fragmentada, editada não somente pelo encenador, mas pelos outros envolvidos no processo teatral. As partes não são a metáfora ou a metonímia do todo. O mundo é partido, e é inútil pôr-se à procura de um efeito qualquer de quebra-cabeça ou de uma lei ordenadora. O mundo não é organizado, a obra tampouco, pois exprime a desordem, o caos, o fracasso, a impossibilidade de toda construção. (SARRAZAC, 2012, p.92) Em 2009, como trabalho da disciplina de Encenação III, do curso de Licenciatura Plena em Educação Artística - Habilitação em Artes Cênicas, pude estar no papel do encenador e conduzir um processo de encenação. À época, escolhi o texto “Fando e Lis” (1955), de Fernando Arrabal, escritor espanhol pertencente ao teatro do absurdo. O texto nos conta a história de Fando que durante toda o desenvolvimento da história carrega sua esposa Lis, que é paralítica, para uma cidade paradisíaca chamada Tar. Ao construir esta encenação, me deparei, com a sua totalidade sendo composta de fragmentos, que por si só possuíam sentido completo e funcionariam independentes da encenação e que em nenhum momento se preocupavam em contar a história de Arrabal, tal qual ela era. Essas performances, como denominei os fragmentos que compuseram a encenação, foram criadas a partir das relações que os performers estabeleciam com a temática da obra, uma relação baseada na submissão. Faz-se então necessário, o estudo desse caráter fragmentário da encenação contemporânea e de como o conceito de montagem concebido por Eisenstein serve como um meio para a construção de encenações cujo sentido não se encontra na unidade totalitária, mas sim na relação que a obra vai estabelecer com o público, uma vez que este público cada vez mais acessa suas informações por meio de links, ou seja, por meio de fragmentos. 3 Diferencio aqui os dois termos: os encenadores ao contrário dos diretores começam a imprimir a sua marca ao texto, editando-o e não mais se preocupando em afirmar o que foi escrito pelo autor. 10 METODOLOGIA Para a realização desta pesquisa serão adotadas duas estratégias metodológicas: a realização de uma encenação performativa (ALICE, 2010) a partir do texto “Pode ser que seja só o leiteiro lá fora” de Caio Fernando Abreu, que subsidiada pela pesquisa, colocará em prática os conceitos estudados procurando evidenciar o aspecto fragmentário da encenação contemporânea e o uso da montagem enquanto procedimento a ser utilizado no processo de construção do teatro contemporâneo. Aliada a esta prática está uma investigação teórica sobre os campos da Performance Arte e do Teatro e da Montagem cinematográfica, se utilizando do pensamento de diversos autores desses campos de conhecimento: Cohen, Glusberg e Goldberg no área da Performance Arte; Ryngaert, Fernandes, Alice, Pavis, dentre outros pensadores do Teatro contemporâneo e Oliveira e Einsenstein entre outros pensadores no que tange ao pensamento da montagem cinematográfica. Trata-se por tanto de uma pesquisa prático-teórica, onde fundamentação teórica será construida a partir do fazer artístico, o que corrobora com o pensamento da autora acima citada de que a arte contemporânea é algo a ser feito e de que as questões presentes no texto passam a ser nossas, fazendo com que o espetáculo se torne mais uma rede de indagações que são provocadas pelo autor do que necessariamente uma representação fidedigna do texto . Logo, a prática fará parte de forma integral deste projeto de pesquisa, sendo reservado a ela um capítulo da dissertação. 11 CRONOGRAMA O tempo estipulado para a conclusão desta pesquisa é de dois anos. O primeiro semestre de 2014 será dedicado ao cumprimento das disciplinas e revisão bibliográfica. No segundo semestre do mesmo ano além do já citado, começará a ser desenvolvida a prática cênica, no que diz respeito à pré-produção da encenação: convite dos atuantes, inscrição em editais etc, além de começar a escrita da dissertação. Em 2015, em seus dois semestres, finaliza-se a escrita da dissertação, apresentando-a para as bancas de Qualificação e Defesa. No segundo semestre, antes da banca de Defesa, acontecerá a apresentação da montagem “Pode Ser Que Seja Só o Leiteiro Lá Fora” de Caio Fernando Abreu. Para este projeto será apresentado dois cronogramas: o primeiro dará conta da pesquisa como um todo, incluindo aí a realização do projeto prático. O segundo delimitará a realização da montagem teatral que será realizada neste projeto de pesquisa. Cronograma Geral do Projeto ATIVIDADES 2014.1 2014.2 2015.1 2015.2 Cumprimento de disciplinas Pesquisa bibliográfica Pré-produção da prática cênica X Cumprimento de disciplinas Pesquisa bibliográfica Início da montagem da prática cênica X Revisão bibliográfica Escrita da dissertação Ensaios abertos Qualificação X Escrita final da dissertação Defesa Apresentação da encenação X 12 Cronograma da Montagem “Pode Ser Que Seja Só O Leiteiro Lá Fora” ATIVIDADES 2014.1 2014.2 2015.1 2015.2 Convite aos artistas que farão parte da montagem “Pode Ser Que Seja Só O Leiteiro Lá Fora” X Reuniões de planejamento e estudos de referências para a montagem X Processo de laboratórios e construção das performances que farão parte da montagem X X X Montagem das performances resultando na encenação X Processo de finalização da montagem. Ensaios abertos. X Apresentação da encenação performática X 13 REFERÊNCIAS ABREU, C.F. (2005). Caio 3D: O essencial da década de 1970. Rio de Janeiro: Agir. ______, C.F. (2005). Caio 3D: O essencial da década de 1980. Rio de Janeiro: Agir ______, C.F. (2006). Caio3D: O essencial da década de 1990. Rio de Janeiro: Agir. ______, C.F. (2007). Limite branco. Rio de Janeiro: Agir. ______, C.F. (2007). Pedras de calcutá. Rio de Janeiro: Agir. ______, C.F. (2008). Triângulo das águas. Rio de Janeiro: Agir. ______, C.F. (2008). O ovo apunhalado. Rio de Janeiro Agir. ABREU, C.F. (2009). “Pode ser que seja só o leiteiro lá fora”. In: Teatro Completo. Rio de Janeiro: Agir. ALICE, T. (2010). Performance.Ensaio: desmontando os clássicos. Rio de Janeiro: Confraria dos Ventos. ARTAUD, A. (2006) O teatro e seu duplo. São Paulo: Martins Fontes. COHEN, R. (2011). Performance como linguagem. São Paulo: Perspectiva. EISENSTEIN, S (2002). O sentido do filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. FÉRAL, J. (2008). Entre performance et théâtralité: le théâtre performatif. Théâtre/Public. n.190, p.28-35. GLUSBERG, J. (2009). A arte da performance. São Paulo: Perspectiva. FERNANDES, S (2010). Teatralidades contemporâneas. São Paulo: Perspectiva: FAPESP. LEHMANN, H. T (2007). Teatro pós-dramático. São Paulo: Cosac Naify. LYOTARD. J. F. (2013). A Condição Pós-Moderna. Rio de Janeiro: José Olympio. OLIVEIRA, V. T. de (2008). Eisenstein ultrateatral: movimento expressivo e montagem de atrações na teoria do espetáculo de Sergei Eisenstein. São Paulo: Perspectiva. PAVIS, P. (2010). A Encenação contemporânea: origens, tendências e perspectivas. São Paulo: Perspectiva. RYNGAERT, J.P. (1998). Ler o teatro contemporâneo. São Paulo: Martins Fontes. SARRAZAC. J.P (org.); NAUGRETTE, C. [et al.] (2012). Léxico do Drama Contemporâneo. São Paulo: Cosac Naify.
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