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Aproxime seu dispositivo móvel do código para acessar a teoria 55PROENEM Q UINHENTISMO BRASILEIRO Assim como cada autor tem suas preferências temáticas ou expressionais, as épocas também as têm. Um escritor de uma época passada não trata dos mesmos assuntos de um autor contemporâneo, nem mesmo utiliza a sua linguagem. As mudanças culturais são responsáveis por variações estéticas no tempo e no espaço. Assim, cada estilo literário é caracterizado por valores artísticos, morais, religiosos, políticos e sociais predominantes em determinada época. No entanto, por maior que seja a influência do estilo predominante em sua época, cada escritor é um indivíduo que sempre deixa impressa sua marca no texto que produz. Por isso, um texto é o cruzamento entre um estilo de época e estilo individual. Esses estilos individuais e estilos de época não fi cam restritos à literatura. Eles também se manifestam em outras formas de arte. Veja, a seguir, como foi representado o primeiro contato entre índios e europeus: (Cândido Portinari, Descobrimento - século XX) (Oscar Pereira da Silva, Desembarque de Cabral em Porto Seguro - Século XX) Vamos então conhecer melhor o período artístico- cultural brasileiro do século XVI, conhecido como Quinhentismo. CONTEXTO HISTÓRICO Desde o século XIV, a Igreja perde espaço no monopólio da cultura. A burguesia começa a frequentar a universidade e toma contato com uma cultura desligada dos conceitos da Idade Média. A decadência do feudalismo e o fortalecimento da burguesia resultam em uma visão mais liberal, antropocêntrica, identifi cada com o mercantilismo. Recuperam-se os ideais da Antiguidade greco-romana, com a valorização da arte, da fi losofi a e da mitologia. Em Portugal, as grandes navegações impelem o espírito português à sua vocação desbravadora e navegante. A chegada da imprensa possibilita a divulgação das obras de autores humanistas europeus. A Revolução de Avis alia a monarquia aos ideais mercantilistas proporcionando a expansão marítima portuguesa. A cultura e as artes florescem, desmantelando os quadros da antiga cultura medieval. O êxodo rural provoca um surto de urbanização, que gera as condições para o desenvolvimento de uma nova cultura, sendo essas cidades polos de irradiação do Renascimento. A Igreja sofre os reflexos dessa crise: as forças burguesas rompem com o medievalismo católico no movimento da Reforma Protestante, ao passo que as forças tradicionais reafi rmam seus dogmas católicos através das resoluções do Concílio de Trento, nos tribunais da Inquisição, lançando as bases para o movimento da Contrarreforma. 56 08 QUINHENTISMO BRASILEIRO De um lado, a conquista material – representada em Portugal pelas conquistas marítimas; de outro, as mudanças espirituais – representadas aqui pela Contrarreforma. São essas as premissas para as primeiras manifestações da Nova Terra: as cartas informativas – dando conta das riquezas materiais; e a literatura jesuítica, voltada ao trabalho de catequese. No Brasil, a ocupação efetiva do território pelos portugueses só começou por volta de 1530. A atividade literária não passava de alguns textos de informação sobre a nova terra – riquezas, paisagens e indígenas. Para garantir o domínio das novas terras, a metrópole portuguesa organizou capitanias hereditárias e enviou jesuítas para catequizar os índios. O conjunto de manifestações dos anos de 1500, retratando a condição colonial do Brasil, sua terra e população, bem como as atividades realizadas na nova terra, é chamado de Quinhentismo. Essa literatura, apesar de produzida em solo brasileiro, reflete o pensamento, a visão de mundo, as ambições e as intenções do conquistador português. LITERATURA INFORMATIVA A literatura desta primeira fase faz um levantamento da nova terra, sua flora, sua fauna, sua gente. A finalidade desses textos é descrever as viagens e os primeiros contatos com a terra e os nativos, por isso essa literatura também é chamada de literatura dos viajantes, literatura de expansão ou literatura dos cronistas. O objetivo principal é descrever e informar tudo o que pudesse interessar aos governantes portugueses. Não havia nessas comunicações quaisquer sentimentos de apego em relação à terra conquistada, percebida como mera extensão da metrópole. O que havia era a exaltação da terra, resultante do assombro europeu diante da exuberância natural desta terra tropical. Por serem descritivas, tais cartas são carregadas de adjetivos, com uso exagerado de superlativos como forma de louvar a terra conquistada pelos portugueses. Essa exaltação da terra exótica, dos nativos – vistos com certa simpatia e malícia, é chamada de ufanismo e dá origem ao movimento nativista, que valoriza tudo aquilo que é pertencente à terra nova. O primeiro e mais importante desses registros foi a Carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, endereçada a el-rei Rei D. Manuel. É considerada como a “certidão de nascimento” do Brasil; nela, Caminha mostra claramente as preocupações que atormentavam o povo português da época: a conquista de bens materiais e o aumento do número de fiéis adeptos ao Catolicismo. Veja um trecho da carta: “Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos até outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista¹, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte cinco léguas por costa. Tem, ao longo do mar, nalgumas partes, grandes barreiras, delas vermelhas, delas² brancas; e a terra por cima toda chã³ e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta, é tudo praia- palma4, muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados, como os de Entre-Douro e Minho5, porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. Porém o melhor fruto, que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que não houvesse mais que ter aqui esta pousada para esta navegação de Calecute6, isso bastaria. Quanto mais disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento7, da nossa santa fé. 1 houvemos vista: pudemos ver 2 delas... delas: umas... outras 3 chã: plana 4 praia-palma: segundo J. Cortesão, pode significar “toda praia, como a palma, muito chã e muito formosa” 5 Minho: nome de uma região de Portugal 6 Calecute: cidade da Índia para onde se dirigiam os portugueses 7 acrescentamento: difusão, expansão Além de Pero Vaz de Caminha, certamente a figura mais conhecida entre os cronistas da nova terra, também outros viajantes relataram suas impressões sobre a nova terra e os nativos. Entre eles podem-se destacar: • Pero Lopes e Sousa: Diário de Navegação (1530); • Pero Magalhães de Gândavo: Tratato da Terra do Brasil e a História da Província de Santa Cruz a que Vulgarmente Chamamos de Brasil (1576); • Gabriel Soares de Souza: Tratado Descritivo do Brasil (1587); • Ambrósio Fernandes Brandão: Os Diálogos das Grandezas do Brasil (1618). 57PROENEM LITERATURA LITERATURA JESUÍTICA A outra manifestação literária que se dá em terras brasileiras ocorre graças aos jesuítas, religiosos que chegaram ao Brasil junto dos primeiros colonizadores com a missão de catequizar os índios. Esses jesuítas deixaram várias cartas, tratados descritivos, crônicas históricas e poemas. Destacam-se na produção literária de catequese os padres Manuel da Nóbrega, Fernão Cardim e, principalmente José de Anchieta. Os jesuítas produzirampoesias de devoção, peças teatrais de caráter pedagógico, inspirado em passagens bíblicas e documentos que informavam o andamento de seus trabalhos a seus superiores na metrópole. Coube a Anchieta também a produção de uma gramática da língua tupi. As composições dos jesuítas representavam o pensamento da Contrarreforma, contrários às ciências e tudo aquilo que representasse a liberdade de expressão ou de ideias. A intenção é puramente “salvacionista” e a forma ignora por completo as influências da arte renascentista. O trabalho de catequese jesuítica, ao mesmo tempo em que impediu a destruição completa dos índios – através da luta incansável contra a escravidão indígena (o que rendeu o ódio dos colonos) –, destruiu os valores culturais indígenas, impondo um modo de vida e uma religiosidade completamente distintos do que estavam acostumados, transformando-os em presas fáceis de bandeirantes e capitães do mato. Vejamos um poema de José de Anchieta: À Santa Inês Na vinda de sua Imagem Cordeirinha linda, Como folga o povo, Porque vossa vinda Lhe dá lume novo. Cordeirinha santa, De Jesus querida, ossa santa vida O Diabo espanta. Por isso vos canta Com prazer o povo, Porque vossa vinda Lhe dá lume novo. Nossa culpa escura Fugirá depressa, Pois vossa cabeça Vem com luz tão pura. Vossa formosura Honra é do povo, Porque vossa vinda Lhe dá lume novo. Virginal cabeça, Pela fé cortada, Com vossa chegada Já ninguém pereça; HERANÇA DO QUINHENTISMO Muitos autores revisitaram os autores quinhentistas em busca das origens nacionais, ora com uma visão mais complacente daqueles acontecimentos, ora com um viés mais crítico. O que se pode afi rmar, com certeza, é que o período quinhentista brasileiro, ainda que não apresente grande quantidade de obras artísticas, nem mesmo grandes preocupações estéticas, é uma grande influência para artistas posteriores. Observe a visão crítica de Oswald de Andrade, poeta modernista, na denúncia da exploração que marcou a colonização brasileira. História Pátria Lá vai uma barquinha carregada de Aventureiros Lá vai uma barquinha carregada de Bacharéis Lá vai uma barquinha carregada de Cruzes de Cristo Lá vai uma barquinha carregada de Donatários Lá vai uma barquinha carregada de Espanhóis Paga prenda Prenda os espanhóis! Lá vai barquinha carregada de Flibusteiros Lá vai barquinha carregada de Governadores Lá vai barquinha carregada de Holandeses Lá vem uma barquinha cheinha de índios Outra de degradados Outra de pau de tinta Até que o mar inteiro Se coalhou de transatlânticos E as barquinhas fi caram Jogando prenda coa raça misturada No litoral azul de meu Brasil (Oswald de Andrade) 58 08 QUINHENTISMO BRASILEIRO QUESTÃO 01 ENEM TEXTO I Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e daí a pouco começaram a vir mais. E parece-me que viriam, este dia, à praia, quatrocentos ou quatrocentos e cinquenta. Alguns deles traziam arcos e flechas, que todos trocaram por carapuças ou por qualquer coisa que lhes davam. […] Andavam todos tão bem-dispostos, tão bem feitos e galantes com suas tinturas que muito agradavam. CASTRO, S. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento). TEXTO II PORTINARI, C. O descobrimento do Brasil. 1956. Óleo sobre tela, 199 x 169 cm Disponível em: www.portinari.org.br. Acesso em: 12 jun. 2013. (Foto: Reprodução) Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a carta de Pero Vaz de Caminha e a obra de Portinari retratam a chegada dos portugueses ao Brasil. Da leitura dos textos, constata-se que a) a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das primeiras manifestações artísticas dos portugueses em terras brasileiras e preocupa-se apenas com a estética literária. b) a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos pintados, cuja grande signifi cação é a afi rmação da arte acadêmica brasileira e a contestação de uma linguagem moderna. c) a carta, como testemunho histórico-político, mostra o olhar do colonizador sobre a gente da terra, e a pintura destaca, em primeiro plano, a inquietação dos nativos. d) as duas produções, embora usem linguagens diferentes – verbal e não verbal –, cumprem a mesma função social e artística. e) a pintura e a carta de Caminha são manifestações de grupos étnicos diferentes, produzidas em um mesmo momentos histórico, retratando a colonização. QUESTÃO 02 ENEM ECKHOUT, A. Índio Tapuia” (1610-1666). Disponível em: http:// www.diaadia.pr.gov.br. Acesso em: 9: jul. 2009. A feição deles é serem pardos, maneira d’avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir, nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto. CAMINHA, P. V. A carta. Disponível em: www.dominiopublico.gov. br. Acesso em: 12 ago. 2009. Ao se estabelecer uma relação entre a obra de Eckhout e o trecho do texto de Caminha, conclui-se que a) ambos se identifi cam pelas características estéticas marcantes, como tristeza e melancolia, do movimento romântico das artes plásticas. b) o artista, na pintura, foi fi el ao seu objeto, representando-o de maneira realista, ao passo que o texto é apenas fantasioso. c) a pintura e o texto têm uma característica em comum, que é representar o habitante das terras que sofreriam processo colonizador. d) o texto e a pintura são baseados no contraste entre a cultura europeia e a cultura indígena. e) há forte direcionamento religioso no texto e na pintura, uma vez que o índio representado é objeto da catequização jesuítica. QUESTÃO 03 (Univ. Est. de Londr.) É lícito dizer que a literatura brasileira nasceu marcada: a) pela cultura clássica greco-romana. b) pelas luzes do racionalismo francês. c) pelo renascimento italiano, fi ltrado através da experiência nativa. d) pela cultura barroca dos padres jesuítas. e) pelo folclore indigenista. EXERCÍCIOS PROPOSTOS Acesse os códigos de cada questão para ver o gabarito 59PROENEM LITERATURA QUESTÃO 04 (Santa Casa) Assinale a incorreta: a) A literatura de viagens constitui valioso documento do Brasil-Colônia. b) Na literatura de viagens encontramos informações sobre a natureza e o homem brasileiro. c) Os primeiros escritos sobre o Brasil pertencem à categoria de literatura, uma vez que notamos neles preocupações estéticas. d) O mito ufanista é representado pelo louvor à terra fértil e a natureza como algo exuberante. e) nenhuma das anteriores QUESTÃO 05 (POLI) “Duas relíquias históricas produzidas no Brasil, foram trazidas para exibição na Mostra do Redescobrimento, em São Paulo: o manto tupinambá e a carta de Pero Vaz de Caminha.” (Folha de São Paulo, 11 de maio de 2000.) A carta de Pero Vaz de Caminha, sobre o achamento do Brasil, enviada a El-Rei Dom Manuel é a principal manifestação literária do Quinhentismo, movimento literário brasileiro do século XVI. Tendo em vista o seu teor, podemos afi rmar que os visitantes da Mostra do Redescobrimento, ao se depararem com tal texto, conseguiriam através dele: a) resgatar valores e conceitos sociais brasileiros. b) descobrir a história brasileira pela arte. c) ter mais informações sobre a arte brasileira. d) ver a cultura indígena brasileira. e) perceber o interesse português em explorar a nova terra. QUESTÃO 06 (ENEM) Murilo Mendes, em um de seus poemas, dialoga com a Carta, de Pero Vaz de Caminha: A terra é mui graciosa Tão fértil nunca vi. A gente espeta um caniço, No dia seguinte nasce Bengala de castão de oiro. Tem goiabas, melancias, Banana que nem chuchu. Quanto aos bichos, tem-nos muito. De plumagens mui vistosas. Tem macaco até demais Diamantes tem à vontade Esmeralda é para os trouxas. Reforçai, Senhor, a arca, Cruzados não faltarão, Vossa perna encanareis Salvo o devido respeito. Ficarei muito saudoso Se for embora daqui. (MENDES, Murilo – Poesia completa e prosa. RJ: Nova Aguilar, 1994) Arcaísmos e termos coloquiais misturam-se nessepoema, criando um efeito de contraste, como ocorre em: a) a terra é mui graciosa / tem macacos até demais; b) salvo o devido respeito / fi carei muito saudoso; c) a gente vai passear / fi carei muito saudoso; d) de plumagens mui vistosas / bengala de castão de oiro; e) no chão espeta um caniço / diamantes tem à vontade. QUESTÃO 07 (ENEM) Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito. Eram pardos, todos nus. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros. Os cabelos seus são corredios. CAMINHA, P. V. Carta. RIBEIRO, D. et al. Viagem pela história do Brasil: documentos. São Paulo: Companhia das Letras, 1997 (adaptado). O texto é parte da famosa Carta de Pero Vaz de Caminha, documento fundamental para a formação da identidade brasileira. Tratando da relação que, desde esse primeiro contato, se estabeleceu entre portugueses e indígenas, esse trecho da carta revela a a) preocupação em garantir a integridade do colonizador diante da resistência dos índios à ocupação da terra. b) postura etnocêntrica do europeu diante das características físicas e práticas culturais do indígena. c) orientação da política da Coroa Portuguesa quanto à utilização dos nativos como mão de obra para colonizar a nova terra. d) oposição de interesses entre portugueses e índios, que difi cultava o trabalho catequético e exigia amplos recursos para a defesa recursos para a defesa da posse da nova terra. e) abundância da terra descoberta, o que possibilitou a sua incorporação aos interesses mercantis portugueses, por meio da exploração econômica dos índios. 60 08 QUINHENTISMO BRASILEIRO QUESTÃO 08 (PUC-SP) (...) os mitos e o imaginário fantástico medieval não foram subitamente subtraídos da mentalidade coletiva europeia durante o século XVI. (...) Conforme Laura de Mello e Sousa, “parece lícito considerar que, conhecido o Índico e desmitificado o seu universo fantástico, o Atlântico passará a ocupar papel análogo no imaginário do europeu quatrocentista”. (VILARDAGA, José Carlos. Lastros de viagem: expectativas, projeções e descobertas portuguesas no Índico (1498- 1554). São Paulo: Annablume, 2010, p. 197) Se no século XVI a presença de mitos e do imaginário fantástico se fazia notar nas artes e na literatura europeia, como em Os Lusíadas, de Camões, no Brasil isso não ocorria porque a) as tendências literárias mais sistemáticas no país privilegiavam as formas clássicas. b) predominava entre nós a inclinação para as teses do Indianismo. c) nossas manifestações literárias consistiam em descrições informativas e textos religiosos. d) os jesuítas opunham-se a qualquer divulgação de literatura calcada em mitos pagãos. e) não era do interesse do colonizador permitir a difusão da alta cultura europeia entre nós. QUESTÃO 09 (UNISA) A “literatura jesuíta”, nos primórdios de nossa história: a) tem grande valor informativo; b) marca nossa maturação clássica; c) visa à catequese do índio, à instrução do colono e sua assistência religiosa e moral; d) está a serviço do poder real; e) tem fortes doses nacionalistas. QUESTÃO 10 (UFSM-RS) Sobre a literatura produzida no primeiro século da vida colonial brasileira, é correto afirmar que: a) É formada principalmente de poemas narrativos e textos dramáticos que visavam à catequese. b) Inicia com Prosopopeia, de Bento Teixeira. c) É constituída por documentos que informam acerca da terra brasileira e pela literatura jesuítica. d) Os textos que a constituem apresentam evidente preocupação artística e pedagógica. e) Descreve com fidelidade e sem idealizações a terra e o homem, ao relatar as condições encontradas no Novo Mundo. ANOTAÇÕES 9PROENEM Aproxime seu dispositivo móvel do código para acessar a teoria BARROCO EUROPEU ARTE E CONTEXTO MOMENTO HISTÓRICO DO BARROCO O século XVI marca a ampliação dos limites geográfi cos do mundo conhecido; o homem passa a acreditar na sua capacidade de dominar a natureza e transformá-la por meio da razão. O século XVII parece ser a continuação da glória renascentista que se anunciava: os conhecimentos científi cos e as grandes descobertas tiveram espaço para fl orescer; o antropocentrismo domina o pensamento europeu, à exceção da Península Ibérica, que se fecha aos novos ares renascentistas e volta-se a uma religiosidade extremada, levando Portugal e Espanha a fi car de fora dos avanços produzidos na época. O fi nal do século XVII guarda alterações no quadro econômico, social, político e religioso, abalando a euforia antropocêntrica estabelecida. O século XVII é marcado pelo mercantilismo, baseado no metalismo, na balança comercial favorável e no acúmulo de capitais; a burguesia surgia com imenso poder econômico nesse contexto. Contudo, se por um lado a conjuntura econômica favorecia a ascensão de setores populares, tais quais os burgueses; por outro, a sociedade não se mostrava aberta em relação às estruturas política e social. Apesar de deter um forte poder econômico, a burguesia estava alijada do poder político, constituía o Terceiro Estado, a mais baixa das três classes impermeáveis pelas quais a sociedade se organizava. As outras duas, o clero e a nobreza, gozavam de inúmeros privilégios e controle absoluto sobre as decisões políticas e os comportamentos sociais. Os camponeses e artesãos sofriam com pesados impostos e a falta de direitos. A burguesia fortalecia-se com seu poder econômico e pressionava politicamente a nobreza e o rei, a fi m de conseguir maior participação política no Estado. O absolutismo monárquico centralizava todo poder nas mãos do rei, considerado o representante de deus na Terra. Por mais estranho que possa parecer, durante algum tempo, esse sistema, ainda que excludente, benefi ciou a própria burguesia, já que lhe convinha um governo centralizado que unifi casse e ampliasse as condições do mercado nacional. CONTEXTO HISTÓRICO PORTUGUÊS Se Portugal viveu seus dias de glória nos primeiro quarto do século XVI, é bem verdade que o último quarto do mesmo século representa o pior período de sua história. A expansão ultramarina levou Portugal a conhecer uma aparente grandiosidade: Lisboa era a capital mundial das especiarias, mas a agricultura nacional era abandonada. As colônias na África e na América, que renderam à Espanha um enorme acúmulo de metais preciosos, não deram a Portugal o mesmo benefício: suas colônias nada forneceram de riquezas em imediato, especialmente o Brasil. Ouro e prata, principais objetivos do metalismo mercantilista não foram achados rapidamente no Brasil, levando Portugal a uma condição de dependência de seu comércio de especiarias. Com a decadência desse comércio, observa-se o franco declínio da economia portuguesa. Um vasto domínio territorial, de gastos monumentais com uma metrópole em crise econômica e política. Impelido pelo sonho megalomaníaco de transformar Portugal em um grande império, o jovem rei D. Sebastião parte para a conquista de terras africanas e desaparece em meio ao insucesso na batalha de Alcácer-Quibir, em Marrocos, em 1578, sem deixar descendentes. Dom Sebastião I, pintura de Cristóvão de Morais Dois anos mais tarde, Felipe II da Espanha anexa Portugal a seu reino e consolida a unifi cação da Península Ibérica. O desaparecimento do jovem rei e a perda da autonomia levam o povo português a uma imensa amargura para olhar o futuro e uma melancolia ao relembrar o passado. Cria-se um ambiente de desilusão e esperança na volta do monarca desaparecido, que conduziria Portugal à glória, transformando-o no Quinto Império. Essa crença messiânica ganha o 09 BARROCO EUROPEU - ARTE E CONTEXTO 10 nome de Sebastianismo e teve como um dos maiores representantes o próprio padre Antônio Vieira. Com a unificação da península,a Contrarreforma se fortalece e o ensino torna-se praticamente um monopólio nas mãos dos jesuítas, além de estabelecer-se uma forte censura eclesiástica, um obstáculo praticamente intransponível a qualquer avanço na área do saber. Enquanto a Europa experimenta um rico tempo de descobertas científicas e inovações tecnológicas, a Península Ibérica permanece como mantenedora da cultura medieval. ESTÉTICA BARROCA Barroco é a denominação dada às manifestações artísticas do século XVII, daí também ser conhecido como seiscentismo. A palavra barroco tem origem controversa, mas a hipótese mais conhecida versa que o nome designa um tipo de pérola de forma irregular, imperfeita, desigual, assimétrica. A estética barroca guarda as qualidades da pérola que lhe nomeia, já que representa o intenso conflito interno do homem dos 1600: por um lado o racionalismo e o renascimento, por outro a Contrarreforma. Essa antítese vai se retratar no estilo, gerando assimetria, confusão, rebuscamento e paradoxos. Pérola barroca A contradição social e cultural produz a matiz dos conflitos retratados pelo barroco: teocentrismo x antropocentrismo, fé x razão, alma x corpo, bem x mal, perdão x pecado, espírito x matéria, deus x homem, virtude x prazer. O racionalismo oferece o prazer e a vida material; a Igreja, a volta aos valores medievais, com a renúncia aos prazeres mundanos e à mortificação da carne. Caravaggio, São Francisco em êxtase Essa preocupação insana a qual era submetido o homem seiscentista o levava apenas a crer na brevidade da vida, na efemeridade da existência, restando a ele aproveitar o tempo que lhe restava (carpe diem). Longe de ser positiva, essa era uma atitude pessimista: devia-se aproveitar a vida, pois a morte já chegava. É claro que, após gozar dos prazeres da carne, restava o sofrimento, o pecado e o arrependimento. Era o momento de pedir perdão de se redimir frente a deus. Assim, o homem barroco estava sempre enfrentando o dilema de aproveitar o tempo que lhe restava na terra e pedir perdão pelos pecados que cometeu ao desfrutá-lo. As lutas religiosas e as dificuldades econômicas decorrentes da decadência do comércio de especiarias estabelecem as condições da crise por que passam os portugueses, gerando tensão e desequilíbrio, características tão marcantes do Barroco. Desta forma, culto exagerado da forma, a busca pelo detalhe, o rebuscamento, o uso sobrecarregado de figuras de linguagem e, até mesmo, uma tendência sensualista são expressões do espírito seiscentista. Na literatura, pode-se perceber claramente duas tendências barrocas: o Cultismo e o Conceptismo. Cultismo Remete-se ao rebuscamento no plano formal. Caracteriza-se pelo uso de linguagem culta, rebuscada e extravagante; um vocabulário sofisticado, com grande número de figuras de linguagem (principalmente a metáfora, a antítese e a hipérbole) e jogos de palavras. A valorização dos pormenores e a exploração de efeitos sensoriais como cor, som, forma e volume, além de construir imagens violentas e fantasiosas. É um estilo presente sobretudo na poesia. A maior influência cultista pertence ao poeta espanhol Luís de Gôngora, pelo qual também ficou conhecido o estilo como Gongorismo. Rebuscamento ornamental em igreja da Bahia Conceptismo A palavra remete à origem espanhola concepto (conceito, ideia) e, por isso, refere-se ao estilo que valoriza o jogo de ideias, construído a partir das sutilezas do raciocínio lógico, com valorização do pensamento através de analogias e alegorias. É um estilo racionalista, que utiliza uma retórica aprimorada, bem elaborada; LITERATURA 11PROENEM normalmente manifestado na prosa. O maior representante conceptista foi, sem dúvida, o espanhol Francisco de Quevedo, que também empresta seu nome para apelidar o gênero: Quevedismo. Francisco de Quevedo Apesar de estilos diferentes, é importante ressaltar que ambos retratam a mesma escola barroca. Portanto, não é difícil imaginar que a produção de um autor pode apresentar traços cultistas e conceptistas; por vezes, um mesmo texto enquadra-se nas características dos dois estilos, sem que haja prejuízo na estética da obra. EXERCÍCIOS PROPOSTOS Acesse os códigos de cada questão para ver o gabarito QUESTÃO 01 (ENEM) BARDI, P. M. Em torno da escultura no Brasil. São Paulo: Banco Sudameris Brasil, 1989. Com contornos assimétricos, riqueza de detalhes nas vestes e nas feições, a escultura barroca no Brasil tem forte infl uência do rococó europeu e está representada aqui por um dos profetas do pátio do Santuário do Bom Jesus de Matosinho, em Congonhas (MG), esculpido em pedra-sabão por Aleijadinho. Profundamente religiosa, sua obra revela a) liberdade, representando a vida de mineiros à procura da salvação. b) credibilidade, atendendo a encomendas dos nobres de Minas Gerais. c) simplicidade, demonstrando compromisso com a contemplação do divino. d) personalidade, modelando uma imagem sacra com feições populares. e) singularidade, esculpindo personalidades do reinado nas obras divinas. QUESTÃO 02 (ENEM) Quando Deus redimiu da tirania Da mão do Faraó endurecido O Povo Hebreu amado, e esclarecido, Páscoa fi cou da redenção o dia. Páscoa de fl ores, dia de alegria Àquele povo foi tão afl igido O dia, em que por Deus foi redimido; Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia. Pois mandado pela Alta Majestade Nos remiu de tão triste cativeiro, Nos livrou de tão vil calamidade. Quem pode ser senão um verdadeiro Deus, que veio estirpar desta cidade o Faraó do povo brasileiro. (DAMASCENO, D. Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: 2006) 09 BARROCO EUROPEU - ARTE E CONTEXTO 12 Com uma elaboração de linguagem e uma visão de mundo que apresentam princípios barrocos, o soneto de Gregório de Matos apresenta temática expressa por a) visão cética sobre as relações sociais. b) preocupação com a identidade brasileira. c) crítica velada à forma de governo vigente. d) reflexão sobre dogmas do Cristianismo. e) questionamento das práticas pagãs na Bahia. QUESTÃO 03 (ENEM) Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado porque padeceis em um modo muito semelhante o que o mesmo Senhor padeceu na sua cruz e em toda a sua paixão. A sua cruz foi composta de dois madeiros, e a vossa em um engenho é de três. Também ali não faltaram as canas, porque duas vezes entraram na Paixão: uma vez servindo para o cetro de escárnio, e outra vez para a esponja em que lhe deram o fel. A Paixão de Cristo parte foi de noite sem dormir, parte foi de dia sem descansar, e tais são as vossas noites e os vossos dias. Cristo despido, e vós despidos; Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo. Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe a vossa imitação, que, se for acompanhada de paciência, também terá merecimento de martírio. VIEIRA, A. Sermões. Tomo XI. Porto: Lello & Irmão, 1951 (adaptado). O trecho do sermão do Padre Antônio Vieira estabelece uma relação entre a Paixão de Cristo e a) a atividade dos comerciantes de açúcar nos portos brasileiros. b) a função dos mestres de açúcar durante a safra de cana. c) o sofrimento dos jesuítas na conversão dos ameríndios. d) o papel dos senhores na administração dos engenhos. e) o trabalho dos escravos na produção de açúcar. QUESTÃO 04 (Fuvest-SP) “Nasce o Sol, e não dura mais que um dia. Depois da luz, se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria.” Na estrofe acima, de um soneto de Gregório de Matos Guerra, a principal característica do Barroco é: a) culto da Natureza. b) a utilização de rimas alternadas. c) a forte presença de antíteses. d) culto do amor cortês. e) uso de aliterações. QUESTÃO 05 (PUC-SP) “Que falta nesta cidade? Verdade. Que mais por sua desonra? Honra. Falta mais que se lhe ponha? Vergonha. O demo a viver se exponha, Por mais que a fama a exalta, Numa cidadeonde falta Verdade, honra, vergonha.” Pode-se reconhecer nos versos acima, de Gregório de Matos: a) caráter de jogo verbal próprio do estilo barroco, a serviço de uma crítica, em tom de sátira, do perfil moral da cidade da Bahia. b) caráter de jogo verbal próprio da poesia religiosa do século XVI, sustentando piedosa lamentação pela falta de fé do gentio. c) estilo pedagógico da poesia neoclássica, por meio da qual o poeta se investe das funções de um autêntico moralizador. d) caráter de jogo verbal próprio do estilo barroco, a serviço da expressão lírica do arrependimento do poeta pecador. e) estilo pedagógico da poesia neoclássica, sustentando em tom lírico as reflexões do poeta sobre o perfil moral da cidade da Bahia. QUESTÃO 06 (UEA) Leia o poema de Gregório de Matos para responder à questão. Discreta, e formosíssima Maria, Enquanto estamos vendo a qualquer hora Em tuas faces a rosada Aurora, Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia: Enquanto com gentil descortesia O ar, que fresco Adônis te namora, Te espalha a rica trança voadora, Quando vem passear-te pela fria: Goza, goza da flor da mocidade, LITERATURA 13PROENEM Que o tempo trota a toda ligeireza, E imprime em toda a fl or sua pisada Oh não aguardes, que a madura idade Te converta em fl or, essa beleza Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada. (www.itaucultural.org.br) Esse poema exemplifi ca uma característica marcante da estética barroca: a) a fugacidade da vida e a recomendação para aproveitá- la. b) a necessidade de controlar emoções e desejos para melhor comportar-se. c) o reconhecimento social do idoso como fonte de sabedoria. d) a prática da corte amorosa como acesso ao reino do céu. e) a crença na continuidade da existência humana após a morte. QUESTÃO 07 (F. Objetivo-SP) Sobre Cultismo e Conceptismo, os dois aspectos construtivos do Barroco, assinale a única alternativa incorreta. a) O Cultismo opera através de analogias sensoriais, valorizando a identifi cação dos seres por metáforas. O Conceptismo valoriza a atitude intelectual, a argumentação. b) Cultismo e Conceptismo são partes construtivas do Barroco que não se excluem. É possível localizar no mesmo autor e até no mesmo texto os dois elementos. c) Cultismo é perceptível no rebuscamento da linguagem, pelo abuso no emprego de fi guras semânticas, sintáticas e sonoras. O Conceptismo valoriza a atitude intelectual, o que se concretiza no discurso pelo emprego de sofi smas, silogismos, paradoxos. d) Cultismo na Espanha, Portugal e Brasil é também conhecido como Gongorismo e seu mais ardente defensor, entre nós, foi o Pe. Antônio Vieira, que, no Sermão da sexagésima, propõe a primazia da palavra sobre a ideia. QUESTÃO 08 (PUC) “Anjo no nome, Angélica na cara! Isso é ser fl or, e Anjo juntamente: Ser Angélica fl or e Anjo fl orente, Em quem, senão em vós, se uniformara?” Na estrofe acima, o jogo de palavras: a) retrata o confl ito vivido pelo homem barroco, dividido entre o senso do pecado e o desejo de perdão. b) expressa a consciência de que o poeta tem do efêmero da existência e o horror pela morte. c) revela a busca da unidade, por um espírito dividido entre o idealismo e o apelo dos sentidos. d) permite a manifestação do erotismo do homem, provocado pela crença na efemeridade dos predicados físicos da natureza humana. QUESTÃO 09 (UFV) “Goza, goza da fl or da mocidade, que o tempo trota a toda ligeireza, e imprime em toda fl or sua pisada. Ó, não aguardes que a madura idade te converta essa fl or, essa beleza, em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.” (Gregório de Matos) Os tercetos acima ilustram: a) caráter de jogo verbal próprio da poesia lírica do séc. XVI, sustentando uma crítica à preocupação feminina com a beleza. b) jogo metafórico do Barroco, a respeito da fugacidade da vida, exaltando gozo do momento. c) estilo pedagógico da poesia neoclássica, ratifi cando as refl exões do poeta sobre as mulheres maduras. d) as características de um romântico, porque fala de fl ores, terra, sombras. 09 BARROCO EUROPEU - ARTE E CONTEXTO 14 QUESTÃO 10 (UEL-PR) O Barroco manifesta-se entre os séculos XVI e XVII, momento em que os ideais da Reforma entram em confronto com a Contrarreforma católica, ocasionando no plano das artes uma difícil conciliação entre o teocentrismo e o antropocentrismo. A alternativa que contém os versos que melhor expressam esse conflito é: a) “Um paiá de Monal, bonzo bramá, Primaz da Cafraria do Pegu, Que sem ser do Pequim, por ser do Açu, Quer ser filho do sol, nascendo cá.” Gregório de Matos Guerra b) ”Pequei Senhor; mas não porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido; Porque quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. “ Gregório de Matos Guerra c) “Fábio, que pouco entendes de finezas! Quem faz só o que pode a pouco obriga: Quem contra os impossíveis se afadiga, A esse cede amor em mil ternezas.” Gregório de Matos Guerra d) “Luzes qual sol entre astros brilhadores, Se bem rei mais propício, e mais amado; Que ele estrelas desterra em régio estado, Em régio estado não desterras flores.” Botelho de Oliveira ANOTAÇÕES 15PROENEM Aproxime seu dispositivo móvel do código para acessar a teoria BARROCO BRASILEIRO ARTE E CONTEXTO CONTEXTO HISTÓRICO BRASILEIRO No século XVII o Brasil era um importante empreendimento comercial de Portugal, o grande celeiro de cana-de-açúcar. Com o declínio do comércio de especiarias, a colônia na América torna-se a maior fonte de riquezas de Portugal. Tudo aqui era organizado em torno dos engenhos de cana, concentrados na Zona da Mata nordestina. Os colonos portugueses que vinham ao Brasil, quando não eram degredados – desajustados na sociedade europeia – estavam apenas interessados na exploração da cana e no enriquecimento rápido, que os permitisse um breve retorno a Portugal. Em momento algum se observa um movimento de enraizamento na Colônia, de construção de uma vida social na América portuguesa. A realidade brasileira era de violência, de escravização do negro e de perseguição aos índios. Aqui não havia a opulência da aristocracia europeia – o mercado consumidor do açúcar –, mas os incultos e, na maioria das vezes, analfabetos comerciantes interessados no lucro. Apesar disso, surgia na colônia um grupo de pessoas letradas: advogados, religiosos, homens de letras, cuja formação dava-se em Portugal por serem filhos desses ricos comerciantes ou fidalgos que se instalaram no Brasil. A cidade de Salvador, capital da Colônia, era, além de um centro político e econômico, um verdadeiro – e único – polo de produção cultural, reunindo as manifestações artísticas da época, ainda que não houvesse sentimento de conjunto, representando meramente esforços individuais. O estilo e as características eram simplesmente transplantadas da Europa para cá, através dos poucos que se aventuravam nessa área. Contudo, a política brasileira vivia um momento delicado: com a unificação da Península Ibérica e a passagem do trono português à coroa espanhola, o conflito já deflagrado entre os Países Baixos e a Espanha passa a ter reflexos em Portugal e em suas posses. Os holandeses perderiam sua participação nos lucros da produção e comércio do açúcar, assim partiram para a invasão da colônia portuguesa na América: o Brasil. Essas invasões começaram por Salvador, ocupada por mais de um ano. Apesar de terem demorado pouco mais de 24h para ocuparem a cidade, não conseguiram passar de seus limites, encontrando resistência nos colonos que, refugiados em fazendas próximas à capital, impediram a expansão dos invasores. Com a chegada de reforços, duras batalhas foram travadas até a expulsão dos holandeses. Contudo, as invasões continuaram:em 1635 a faixa litorânea que vai de Sergipe ao Maranhão estava sob domínio holandês, com destaque para a invasão de Pernambuco em 1630 e o governo de Maurício de Nassau que promoveu intensa urbanização, com inúmeras benfeitorias em Recife e Olinda. Somente com a Insurreição Pernambucana, que durou dez anos, houve a expulsão definitiva dos holandeses no ano de 1654. (Detalhe de O cristo do Carregamento da Cruz, madeira policromada, por Aleijadinho, no Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas, MG) A arte barroca brasileira segue os mesmos preceitos estéticos do barroco europeu nas artes plásticas, com destaque para o escultor mineiro Antônio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho. Apesar de que suas obras tenham sido produzidas no século XVIII, elas retratam as características do barroco. Na figura em destaque, por exemplo, Aleijadinho mostra o imaginário da dor e do sofrimento relacionado ao imaginário religioso. Não há um Cristo glorioso e alegre, ou mesmo reflexivo, mas um Cristo de paixão e morte na cruz. GREGÓRIO DE MATOS GUERRA O maior poeta barroco brasileiro nasceu em Salvador, Bahia, provavelmente a 23 de dezembro de 1636 (apesar de que alguns historiadores datem seu nascimento em 1633 e outros em março de 1623). Filho de uma família abastada, teve acesso ao melhor da educação na época, iniciando seus estudos no Colégio dos Jesuítas e terminando-os em Coimbra, Portugal, onde formou-se em Direito. Tornou-se juiz, foi Procurador da Bahia em Lisboa, clérigo e ainda encontrou tempo para ensaiar alguns poemas satíricos. Por causa deles, que se viu obrigado a retornar ao Brasil onde é convidado a trabalhar com os Jesuítas. 10 BARROCO BRASILEIRO - ARTE E CONTEXTO 16 Gregório foi tesoureiro-mor e vigário-geral (ainda que sempre tenha se recusado a vestir-se como clérigo), mas continuou exercendo sua veia satírica. Por seu comportamento, foi destituído de seus cargos eclesiásticos e parte para uma vida mais boêmia, transformando-se em um verdadeiro cronista da época, castigando com suas críticas e sátiras a sociedade baiana, ridicularizando impiedosamente as autoridades civis e religiosas. Por isso, foi duramente perseguido pelo governador baiano Antônio de Souza Menezes, o Braço de Prata e denunciado à Inquisição por apresentar hábitos de “homem solto sem modo de cristão”. Casou-se com Maria dos Povos, com quem teve um filho, mas não parou nem de advogar nem de escrever suas poesias satíricas e pornográficas. Seus poemas contra o Governador Antônio Luiz Gonçalves da Câmara Coutinho fez com que seus filhos o jurassem de morte. Os amigos de Gregório – sim, ele tinha amigos! – armam uma forma de prendê-lo e enviá-lo à força para Angola, de modo a preservar-lhe a vida. Profundamente desgostoso com a vida, envolve- se em uma conspiração de militares portugueses que planejavam a independência de Angola. Gregório colabora com a prisão dos líderes do movimento, mostrando sua fidelidade à corte portuguesa. Como prêmio, pôde voltar ao Brasil. A notícia de sua volta causou enorme repercussão em Salvador, onde foi proibido de entrar. Já doente, sua volta se dá em Recife, longe de seus desafetos. Morre em 26 de novembro de 1695 (alguns autores apontam janeiro de 1696 como a data de sua morte) vítima de uma febre que contraíra ainda em Angola. Gregório desenvolveu sua obra em poesias sacras, lírica amorosa, poesias satíricas e escritos erótico-irônicos. Araripe Júnior, importante crítico literário, em 1894, definiu assim o poeta baiano: “um notabilíssimo canalha, eis o que ele era”. Essa fama sempre acompanhou Gregório de Matos devido a ter primado pela irreverência. Afrontou os valores e a falsa moral da sociedade baiana de seu tempo. Comportou-se de maneira a escandalizar todo o povo da colônia e da metrópole. Com ele, o sisudo barroco “se tropicaliza, come banana, grita palavrões e põe os pés no chão brasileiro”, segundo afirma José de Nicola. Rompe com os modelos europeus do barroco, faz a denúncia das contradições da sociedade baiana e critica implacavelmente todos os grupos sociais, fossem governantes, fidalgos, comerciantes, escravos, clérigos, prostitutas, mulatos etc. Gregório é o primeiro poeta popular, conseguiu passear por todas as camadas sociais, incorporou em sua linguagem vocábulos indígenas e africanos, sem contar a linguagem baixa e chula, carregada de palavrões e obscenidades. Por sua produção e comportamento, ganhou o apelido de Boca do Inferno. Nenhum de seus poemas foi publicado em vida, todos foram transmitidos oralmente até meados do século XIX quando foram reunidos em um livro. Houve várias compilações que deixaram a desejar, criando controvérsia sobre a autoria de alguns poemas atribuídos a Gregório de Matos. Sua obra basicamente pode ser dividida em sacra, amorosa, satírica e erótica. Sua poesia sacra é bastante abrangente, desde poemas comemorativos por festas de santos até aqueles de contrição e reflexão moral. Nessa vertente, obedece aos preceitos do barroco europeu, com inúmeras referência bíblicas, apresentando temas como o amor a deus, a culpa, o arrependimento, o pecado e o perdão. Outras vezes aponta o desconcerto do mundo, lembrando a transitoriedade da vida e do tempo, fazendo uso do carpe diem. Em sua linguagem encontram-se inúmeras inversões e figuras de linguagem, além da construção de imagens fortes e de um espírito extremamente contraditório, abusando de antíteses e paradoxos, bem ao estilo barroco. A Jesus Cristo Nosso Senhor Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido; Porque quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto pecado, A abrandar-vos sobeja um só gemido: Que a mesma culpa que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado. Se uma ovelha perdida e já cobrada Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na sacra história, Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, Cobrai-a; e não queirais, pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória A lírica amorosa de Gregório é marcada pelo contraste entre corpo/alma, levando ao inevitável sentimento de culpa no plano espiritual, por se deixar levar pelo pecado da carne. A própria figura feminina revela-se como a personificação do pecado, levando o poeta à perdição. Sonetos a D. Ângela de Sousa Paredes Anjo no nome, Angélica na cara Isso é ser flor, e Anjo juntamente Ser Angélica flor, e Anjo florente Em quem, se não em vós se uniformara? Quem veria uma flor, que a não cortara De verde pé, de rama florescente? E quem um Anjo vira tão luzente Que por seu Deus, o não idolatrara? Se como Anjo sois dos meus altares Fôreis o meu custódio, e minha guarda Livrara eu de diabólicos azares Mas vejo, que tão bela, e tão galharda Posto que os Anjos nunca dão pesares Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda Sua obra satírica é extensa, assim como seus desafetos: ricos, pobres, negros, brancos, mulatos, padres, freiras, autoridades, amigos, inimigos, toda a sociedade baiana foi vítima de sua “lira maldizente”. Esses poemas não se resumem à zombaria, mas revelam uma crítica aos vícios da sociedade. Sua produção satírica revela nosso poeta mais original, fugindo dos padrões europeus, LITERATURA 17PROENEM estando completamente voltados à realidade baiana. Fica evidente um sentimento nativista, o início do processo de uma consciência crítica nacional, separando o que é brasileiro do que é exploração lusitana. O que falta nessa cidade? Verdade. Que mais por sua desonra? Honra. Falta mais que se lhe ponha. Vergonha. O demo a viver se exponha, Por mais que a fama a exalta, Numa cidade, onde falta, Verdade, Honra, Vergonha. (...) E nos frades há manqueiras? Freiras Em que ocupam os serões? Sermões Não se ocupam em disputas? Putas. Com palavras dissolutas me concluís na verdade, que as lidas todas de um Frade são Freiras, Sermões, e Putas. O açúcar já se acabou? Baixou E o dinheirose extinguiu? Subiu Logo já convalesceu? Morreu. À Bahia aconteceu o que a um doente acontece, cai na cama, o mal lhe cresce, Baixou, Subiu, e Morreu. A Câmara não acode? Não pode Pois não tem todo o poder? Não quer É que o governo a convence? Não vence. Que haverá que tal pense, que uma Câmara tão nobre por ver-se mísera, e pobre Não pode, não quer, não vence. Sua poesia erótico-pornográfica exalta a sensualidade da mulher, normalmente as amantes que conquistou no Recôncavo Baiano. Expressava sua volúpia, seus desejos e seus desencontros. Cantava também os escândalos sexuais que ocorriam nos conventos, lugares que, segundo nosso “cronista” imperavam o pecado, a sodomia e a homossexualidade. A outra freira, que satirizando a delgada fisionomia do poeta lhe chamou “pica-flor” Se Pica-flor me chamais, Pica-flor aceito ser, mas resta agora saber, se no nome, que me dais, meteis a flor, que guardais no passarinho melhor! se me dais este favor, sendo só de mim o Pica, e o mais vosso, claro fica, que fico então Pica-flor. PADRE ANTÔNIO VIEIRA “Devemos dar muitas graças a deus por fazer este homem católico, porque se o não fosse poderia dar muito cuidado à Igreja de deus”. O homem a quem se referia o papa Clemente X era Antônio Vieira, o “monstro dos ingênuos e príncipe dos oradores”. Vieira nasceu em Lisboa, em 6 de fevereiro 1608 e aos sete anos veio para a Bahia, onde, aos 15 anos entra para a Companhia de Jesus. Seu retorno a Portugal dá-se somente em 1640, após a Restauração – movimento pelo qual Portugal libertou-se da Espanha – quando saúda o rei D. João IV, de quem se tornaria conselheiro e confessor e que o nomearia representante e mediador de Portugal nas relações econômicas e políticas internacionais. Sua atuação nunca foi meramente religiosa. Seus sermões defendiam suas posições políticas, voltando contra si a pequena burguesia cristã, por defender o capitalismo judaico e os cristãos novos; os pequenos comerciantes, por defender um monopólio comercial; os administradores e colonos, por defender os índios. Teve problemas inclusive com a própria Inquisição que o condenou e o prendeu por dois anos, sob a acusação da defesa de cristãos-novos. Vieira pregou a todos, brancos, negros, índios, brasileiros e portugueses. Fez de seus sermões sua principal arma para veicular suas ideias, postas em prática na catequese, na defesa dos índios e da colônia, quando da invasão holandesa. Quando no púlpito, o padre tratava de todos os assuntos que envolviam e preocupavam o auditório; tais encontros eram praticamente o único espaço onde era possível informar-se e refletir sobre a conjuntura e os acontecimentos da vida e do mundo. Em 1697, no colégio da Bahia, Antônio Vieira falece, deixando mais de 500 cartas, 200 sermões e três obras proféticas. História do futuro, Esperanças de Portugal e Clavis Prophetarum constituem as profecias de Vieira. Nelas, notam-se o sentimento sebastianista e as esperanças de Portugal em tornar-se o Quinto Império do Mundo, uma “interpretação” alegórica de uma profecia bíblica. Esses textos demonstram o caráter nacionalista exagerado e a servidão incondicional, típica dos jesuítas. As cartas de Vieira dizem respeito ao relacionamento entre Portugal e Holanda, à Inquisição e os cristãos- novos e, finalmente, aos acontecimentos da colônia. Esses documentos possuem mais valor histórico que propriamente literário. A principal vertente da obra de Antônio Vieira, sem dúvida, encontra-se em seus sermões. Produzidos no estilo conceptista, são textos de brilhante retórica em que o pregador utiliza-se da lógica e de uma expressão clara e singela para convencer, apresentar e provar ideias e conceitos. Vieira pregou no Brasil, em Portugal e na Itália, sempre com grande repercussão. Foi, seguramente, um gênio da língua, obtendo efeitos extraordinários, sem utilizar-se de exageros ou metáforas: um discurso inventivo e original, de grande engenhosidade, com clara construção discursiva, seguindo uma estrutura clássica: • Introito, exórdio ou introdução – apresenta um tema (normalmente um texto bíblico) em que se 10 BARROCO BRASILEIRO - ARTE E CONTEXTO 18 fundamenta toda a argumentação, ligando-o à introdução do assunto principal do sermão. • Demonstração ou argumento – é o desenvolvimento do tema, respondendo à questão levantada procurando con- vencer o ouvinte. Apresenta aí argumentos e exemplos, muitas vezes tirados da história ou da Antiguidade, buscando ampliar os limites do texto. • Peroração ou conclusão – procura despertar no ouvinte sentimentos que decorram da argumentação. Entre seus principais sermões, destacam-se: • Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda (Bahia, 1640) – coloca-se contrário à inva- são holandesa. • Sermão do mandato (Capela Real de Lisboa, 1645) – desenvolve o tema do amor místico. • Sermão de Santo Antônio (aos peixes) (Maranhão, 1654) – posiciona-se contrariamente à escravização dos índios. EXERCÍCIOS PROPOSTOS Acesse os códigos de cada questão para ver o gabarito • Sermão da Sexagésima (Capela Real de Lisboa, 1655) – apresenta como tema a própria arte de pre- gar. QUESTÃO 01 (FUVEST-SP) “Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair são os que se contentam com pregar na pátria. Todos terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semeadura; aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura, e hão-lhes de contar os passos. Ah! dia do juízo! Ah! pregadores! Os de cá, achar-vos-ei com mais paço; os de lá, com mais passos...” Essa passagem é representativa de uma das tendências estéticas típicas da prosa seiscentista, a saber: a) Sebastianismo, isto é, a celebração do mito da volta de D.Sebastião, rei de Portugal, morto na batalha de Alcácer-Quibir. b) a busca do exotismo e da aventura ultramarina, presentes nas crônicas e narrativas de viagem. c) a exaltação do heroico e do épico, por meio das metáforas grandiloquentes da epopeia. d) lirismo trovadoresco, caracterizado por figuras de estilo passionais e místicas. e) Conceptismo, caracterizado pela utilização constante dos recursos da dialética. QUESTÃO 02 (FEBASP-SP) “Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres... O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas que levam, de que eu trato, são os outros - ladrões de maior calibre e de mais alta esfera... Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo de seu risco, estes, sem temor nem perigo; os outros se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam.” (Sermão do bom ladrão, Vieira) Em relação ao estilo empregado por Vieira neste trecho pode-se afirmar: a) autor recorre ao Cultismo da linguagem com o intuito de convencer o ouvinte e por isto cria um jogo de imagens. b) Vieira recorre ao preciosismo da linguagem, isto é, através de fatos corriqueiros, cotidianos, procura converter o ouvinte. c) Padre vieira emprega, principalmente, o Conceptismo, ou seja, o predomínio das ideias, da lógica, do raciocínio. d) pregador procura ensinar preceitos religiosos ao ouvinte, o que era prática comum entre os escritores gongóricos. QUESTÃO 03 (IFB – Professor: Português/Inglês) Segundo Bosi (2013), “na esteira do Camões épico e das epopeias menores dos fins do século XVI, o poemeto em oitavas heroicas publicado em 1601 pode ser considerado um primeiro e canhestro exemplo de maneirismo nas letras da colônia”. Considerando a literatura barroca no Brasil, tal excerto se refere a: a) Prosopopeia, de Bento Teixeira. b) “Triste Bahia”,de Gregório de Matos. c) Sermão da Sexagésima, de Antônio Vieira. LITERATURA 19PROENEM d) Música do Parnaso, de Botelho de Oliveira. e) Sermão XIV do Rosário, de Antônio Vieira. QUESTÃO 04 (UFRS) Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações abaixo sobre os dois grandes nomes do barroco brasileiro. ( ) A obra poética de Gregório de Matos oscila entre os valores transcendentais e os valores mundanos, exemplificando as tensões do seu tempo. ( ) Os sermões do Padre Vieira caracterizam-se por uma construção de imagens desdobradas em numerosos exemplos que visam a enfatizar o conteúdo da pregação. ( ) Gregório de Matos e o Padre Vieira, em seus poemas e sermões, mostram exacerbados sentimentos patrióticos expressos em linguagem barroca. ( ) A produção satírica de Gregório de Matos e o tom dos sermões do Padre Vieira representam duas faces da alma barroca no Brasil. ( ) O poeta e o pregador alertam os contemporâneos para o desvio operado pela retórica retumbante e vazia. a) V – V – F – V – F b) V – V – V – V – F c) V – V – F – F – F d) V – V – F – V – V e) V – F – V – V – F QUESTÃO 05 (UFRS) Assinale a alternativa que preenche adequadamente as lacunas do texto abaixo, na ordem em que aparecem. Padre Antônio Vieira é um dos principais autores do ........., movimento em que o homem é conduzido pela ........ e que tem, entre suas características, o ........., com seus jogos de palavras, de imagens e de construção, e o ........., o uso de silogismo, processo racional de demonstrar uma asserção. a) Gongorismo - exaltação vital - Cultismo - preciosismo b) Conceptismo - fé - preciosismo - Gongorismo c) Barroco - depressão vital - Conceptismo - Cultismo d) Conceptismo - depressão vital - Gongorismo - preciosismo e) Barroco - fé - Cultismo – Conceptismo QUESTÃO 06 (PUC-SP) AOS AFETOS, E LÁGRIMAS DERRAMADAS NA AUSÊNCIA DA DAMA A QUEM QUERIA BEM SONETO Ardor em firme coração nascido; Pranto por belos olhos derramado; Incêndio em mares de águas disfarçado; Rio de neve em fogo convertido: Tu, que em um peito abrasas escondido; Tu, que em um rosto corres desatado; Quando fogo, em cristais aprisionado; Quando cristal em chamas derretido. Se és fogo como passas bradamente, Se és neve, como queimas com porfia? Mas ai, que andou Amor em ti prudente! Pois para temperar a tirania, Como quis que aqui fosse a neve ardente, Permitiu parecesse a chama fria. Considere atentamente as seguintes afirmações sobre o poema de Gregório de Matos: I. O par fogo e água, que figura amor e contentação, passa por variações contrastantes até evoluir para o oxímoro. II. O poema evidencia a “fórmula da ordem barroca” ditada por Gérard Genette: diferença transforma-se em oposição, oposição em simetria e simetria em identidade. III. O poema inscreve, no âmbito da linguagem, o conflito vivido pelo homem do século XVII. De acordo com o poema, pode-se concluir que: a) são corretas todas as afirmações. b) são corretas apenas as afirmações I e II. c) são corretas apenas as afirmações I e III. d) é correta apenas a afirmação II. e) é correta apenas a afirmação III. QUESTÃO 07 (UEL) Identifique a afirmação que se refere a GREGÓRIO DE MATOS. a) No seu esforço de criação da comédia brasileira, realiza um trabalho de crítica que encontra seguidores no Romantismo e mesmo no restante do século XIX. b) Sua obra é uma síntese singular entre o passado 10 BARROCO BRASILEIRO - ARTE E CONTEXTO 20 e o presente: ainda tem os torneios verbais do quinhentismo português, mas combina-os com a paixão das imagens pré-românticas. c) Dos poetas arcádicos eminentes, foi sem dúvida o mais liberal, o que mais claramente manifestou as ideias da ilustração francesa. d) Teve grande capacidade em fixar num lampejo os vícios, os ridículos, os desmandos do poder local, valendo-se para isso do engenho artificioso que caracterizava o estilo da época. e) Sua famosa sátira à autoridade portuguesa na Minas do chamado ciclo do ouro é prova de que seu talento não se restringia ao lirismo amoroso. QUESTÃO 08 (UFSCAR) “O pregar há-de ser como quem semeia, e não como quem ladrilha ou azuleja. Ordenado, mas como as estrelas. (...) Todas as estrelas estão por sua ordem; mas é ordem que faz influência, não é ordem que faça lavor. Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se de uma parte há-de estar branco, da outra há-de estar negro; se de uma parte está dia, da outra há-de estar noite; se de uma parte dizem luz, da outra hão-de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da outra hão-de dizer subiu. Basta que não havemos de ver num sermão duas palavras em paz? Todas hão-de estar sempre em fronteira com o seu contrário? Aprendamos do céu o estilo da disposição, e também o das palavras.” (Vieira, “Sermão da Sexagésima”.) No texto, Vieira critica um certo estilo de fazer sermão, que era comum na arte de pregar dos padres dominicanos da época. O uso da palavra xadrez tem o objetivo de a) defender a ordenação das ideias em um sermão. b) fazer alusão metafórica a um certo tipo de tecido. c) comparar o sermão de certos pregadores a uma verdadeira prisão. d) mostrar que o xadrez se assemelha ao semear. e) criticar a preocupação com a simetria do sermão. QUESTÃO 09 (FATEC) AS COUSAS DO MUNDO Neste mundo é mais rico o que mais rapa: Quem mais limpo se faz, tem mais carepa; Com sua língua, ao nobre o vil decepa: O velhaco maior sempre tem capa. Mostra o patife da nobreza o mapa: Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; Quem menos falar pode, mais increpa; Quem dinheiro tiver, pode ser Papa. A flor baixa se inculca por tulipa; Bengala hoje na mão, ontem garlopa. Mais isento se mostra o que mais chupa. Para a tropa do trapo vazo a tripa E mais não digo, porque a Musa topa Em apa, epa, ipa, opa, upa. (Gregório de Matos Guerra, “Seleção de Obras Poéticas”) A alternativa que melhor exprime as características da poesia de Gregório de Matos, encontradas no poema transcrito, é a que destaca a presença de a) inversões da sintaxe corrente, como em “Com sua língua, ao nobre o vil decepa” e “Quem menos falar pode”. b) conflito entre os universos do profano e do sagrado, como se vê na oposição “Quem dinheiro tiver” e “pode ser Papa”. c) metáforas raras e desusadas, como no verso experimental “a Musa topa/Em apa, epa, ipa, opa, upa”. d) contraste entre os pólos de antíteses violentas, como “língua” X “decepa” e “menos falar” X “mais increpa”. e) imagens que exploram os elementos mais efêmeros e diáfanos da natureza, como “flor e “tulipa”. QUESTÃO 10 (FATEC) Os ouvintes ou são maus ou são bons; se são bons, faz neles grande fruto a palavra de Deus; se são maus, ainda que não faça neles fruto, faz efeito. A palavra de Deus é tão fecunda, que nos bons faz muito fruto e é tão eficaz, que nos maus, ainda que não faça fruto, faz efeito; lançada nos espinhos não frutificou, mas nasceu até nos espinhos; lançada nas pedras não frutificou, mas nasceu até nas pedras. Os piores ouvintes que há na Igreja de Deus são as pedras e os espinhos. E por quê? - Os espinhos por agudos, as pedras por duras. Ouvintes de entendimentos agudos e ouvintes de vontades endurecidas são os piores que há. Os ouvintes de entendimentos agudos são maus ouvintes, porque vêm só a ouvir sutilezas, a esperar alantarias, a avaliar pensamentos, e às vezes também a picar quem os não pica. Mas os de vontades endurecidas ainda são piores, porque um entendimento agudo pode-se ferir pelos mesmos fios, e vencer-se uma agudeza com outra maior; mas contra vontades endurecidas nenhuma coisa LITERATURA 21PROENEM aproveita a agudeza, antes dana mais, porque quanto as setas são mais agudas, tanto mais facilmente se despontam na pedra. E com os ouvintes de entendimentos agudos e os ouvintes de vontades endurecidas serem os mais rebeldes, é tanta a força da divina palavra, que, apesar da agudeza, nasce nos espinhos, e apesarda dureza, nasce nas pedras. (Padre Antônio Vieira, “Sermão da Sexagésima”. Texto editado.) Considere as afirmações seguintes sobre o texto de Vieira. I. Trata-se de texto predominantemente argumentativo, no qual Vieira emprega as metáforas do espinho e da pedra para referir-se àqueles em que a palavra de Deus não prospera. II. Nota-se no texto a metalinguagem, pois o sermão trata da própria arte da pregação religiosa. III. À vista da construção essencialmente fundada no jogo de ideias, fazendo progredir o tema pelo raciocínio, pela lógica, o texto caracteriza-se como conceptista. IV. Efeito da Revolução Industrial, que reforçou a perspectiva capitalista e o individualismo, esse texto traduz a busca da natureza (pedras, espinhos, .....) como refúgio para o eu lírico religioso. V. Vincula-se ao Barroco, movimento estético entre cujos traços destaca-se a oscilação entre o clássico (de matriz pagã) e o medieval (de matriz cristã), a qual se traduz em estados de conflito religioso. Estão corretas apenas as afirmações a) I, II e III. b) I, III e V. c) II, III e IV. d) II, III, IV e V. e) I, II, III e V. ANOTAÇÕES 10 BARROCO BRASILEIRO - ARTE E CONTEXTO 22 ANOTAÇÕES
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