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CONCEITO E OBEJTO DE ESTUDO O Direito Constitucional é um dos ramosi do Direito Público que delimita o estudo sistematizado das normas da Constituição. Em resumo, é ele que trata diretamente da organização e funcionamento do Estado, bem como das normas estruturais e fundamentais da nossa Constituição. No mundo jurídico, costuma-se dizer, ainda, que o Direito Constitucional “é o tronco ao qual se prendem, mas do qual também derivam, os vários ramos da mesma ordenação” (ROMANO, 1990, p. 9 apud MORAES, 2020, p. 2). Isso porque a Constituição é hierarquicamente superior a todas as outras normas, devendo estas, pois, estarem de acordo com a CF, e pelo o Direito Constitucional estudá-la, ele seria o tronco de onde derivam os demais ramos. Assim, percebe-se que o objeto de estudo do Direito Constitucional é, justamente, a constituição (lei maior). Alguns doutrinadores dividem o estudo desse ramo em 3 (três), a saber: RELAÇÃO COM DEMAIS RAMOS DO DIREITO Dada a sua magnificência, o Direito Constitucional nutre as demais disciplinas jurídicas, estabelecendo-se assim uma relação simbiótica entre os diversos ramos e a matéria ora estudada. Eis algumas das disciplinas que se vinculam à matéria constitucional e suas respectivas relações: DIREITO CONSTITUCIONAL I – Direito Constitucional particular, positivo ou especial: tem por objeto de pesquisa as normas constitucionais em vigor no Estado de estudo; v.g., analisar Direito Constitucional brasileiro no Brasil. II – Direito Constitucional comparado: é o estudo comparativo de diversas Constituições e sistemas jurídicos. III – Direito Constitucional geral: compreende a análise dos princípios, conceitos e institutos de diversos ordenamentos constitucionais, dos mais variados Estados, com o fim de encontrar pontos em comum para extrair uma teoria geral do Direito Constitucional. (GARCIA-PELAYO, 3ª ed., p. 20-22 apud PADILHA, 2020, p. 6). (TEIXEIRA, 1991, p. 8 apud PADILHA, 2020, p. 6). lararlimab8@gmail.com DIREITO ADMINISTRATIVO: Em síntese, o Direito Constitucional estabelece os princípios gerais e fundamentos da Administração Pública; DIREITO PENAL: Fixa os fundamentos e os limites da pretensão punitiva do Estado, além de assegurar os direitos fundamentais do investigado ou acusado, como o direito à ampla defesa e contraditório; DIREITO PROCESSUAL: Garante o acesso à justiça, resguarda o direito ao devido processo legal, às garantias fundamentais de defesa, além de prever remédios constitucionais; DIREITO TRIBUTÁRIO: Determina as competências tributárias de cada ente federado e impõe limites ao poder de tributar; DIREITO PRIVADO (civil, empresarial, trabalho): Constitucionalização do direito privado através da inserção do princípio da dignidade da pessoa humana, boa-fé, função social da propriedade, entre outros. FONTES DO DIREITO CONSTITUCIONAL Diz-se fonte o modo pelo qual se exteriorizam as normas jurídicas. Aqui, nesse aspecto, a doutrina apresenta mais de uma organização/divisão das fontes do Direito Constitucional, não havendo consenso nessa classificação. Segundo André Ramos Tavares e Rafael Padilha, as fontes do Direito Constitucional se classificam em: a) Diretas (imediatas): seriam a Constituição, por óbvio, as leis, os decretos e regulamentos de conteúdo constitucional.; b) Indiretas (mediatas): costumes, a jurisprudência, a doutrina, os princípios gerais do Direito, as convicções sociais vigentes, a ideia de justiça e outras manifestações. Já para Paulo Bonavides e Sylvio Motta, a classificação assim se daria: a) Fontes escritas: a própria Constituição, leis complementares e ordinárias que regulem dispositivos constitucionais, regimentos das Casas Legislativas e o dos Tribunais integrantes do Poder Judiciário, os tratados de acordos e convenções internacionais, jurisprudências e doutrinas; b) Fontes não escritas: costumes e usos constitucionaisii. CONSTITUCIONALISMO O tema “’constitucionalismo” possui mais de uma acepção para os doutrinadores constitucionalistas, contudo, pode-se defini-lo como um movimento histórico, político e filosófico que defende a limitação do poder estatal, sobretudo arbitrário, através de um instrumento, geralmente escrito, denominado de carta constitucional. O início desse movimento, apesar de também não haver consenso na doutrina, é antigo. Para alguns autores, como é o caso de André Ramos Tavares, desde o povo hebreu, a chamada “Lei do Senhor” já impunha limites ao poder político. Nas suas palavras, “Embora se trate de um movimento bastante tímido se comparado a seu atual estágio de desenvolvimento, é preciso aceitar que aos hebreus se deve a primeira aparição do constitucionalismo” (TAVARES, 2020, p. 75). Num outro aspecto, seria a Magna Carta, de 1215, do Rei João Sem Terra, o antecedente de uma constituição jurídica no sentido moderno. Foi esse documento que instrumentalizou o reconhecimento de alguns direitos e garantias fundamentais (hoje positivados). Segundo BARCELLOS (2018, p. 24), a cláusula mais conhecida da Magna Carta provavelmente seja a que dispõe que “Nenhum homem livre será preso, aprisionado ou privado de uma propriedade, ou tornado fora da lei, ou exilado, ou de maneira alguma destruído, nem agiremos contra ele ou mandaremos alguém contra ele, a não ser por julgamento legal dos seus pares, ou pela lei da terra”. Assim, apesar de ser contestada por ter mantido alguns privilégios, a Magna Carta se caracterizou como ponto de partida para a concepção de um constitucionalismo moderno, simbolizando a luta por direitos e garantias fundamentais. Numa cronologia geral ( ), a Petition of Rights, do ano de 1628, também impactou fortemente o processo de reconhecimento desses direitos, mesmo se caracterizando como um documento “engajado com as liberdades públicas” (TAVARES, 2020, p. 77). Foi, pois, na Inglaterra onde se desenvolveu o longo e progressivo processo de construção das instituições constitucionais, através da luta contra as Monarquias absolutistas outrora vigentes. BREVE CONTEXTO CRONOLÓGICO Assim, nos anos de 1642 a 1648, a chamada “Revolução Puritana” consagrou a ideia de pôr fim aos abusos de poder do monarca a partir da decaptação do Rei Carlos I. Porém, apesar desse fato, a história de choque entre Rei e Parlamento se repetiu, dando início a chamada “Revolução Gloriosa”, que se caracterizou como uma manobra política visando a retirada do monarca déspota, colocando, em seu lugar, Guilherme Orange. Especificamente, o mais importante dessa revolução foi a Bill of Rights (1689), documento que limitou a atuação dos reis, impedindo qualquer retorno à Monarquia Absolutista, consolidando assim uma Monarquia Parlamentarista no país e assegurando garantias e proteção aos direitos individuais. A importância disso se dá ao fato de que, na tradição inglesa, o parlamento é o principal agente de controle contra abusos de poder da monarquia e de defesa aos direitos individuais. Outra revolução que fomentou diretamente esse processo de constitucionalismo foi a Revolução Norte- Americana, de 1787, quando as 13 (treze) colônias americanas tornaram-se independentes do poderio Inglês, estabelecendo em sua constituição própria a forma Republicana de governo, representado o início do sistema de constituições escritas. Apesar da precedência das revoluções inglesas e americana, a Revolução Francesa acabou se tornando no símbolo máximo das revoluções liberais e do esforço de extinguir o absolutismo e, finalmente, garantir a primazia da legalidade, igualdade, liberdadee fraternidade. Desse contexto, os documentos fundamentais são a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) e, mais tarde, a Constituição Francesa (1791), inspirada naquela. Num breve desfecho, os movimentos sociais do fim do século XIX e início do século XX, apesar das cargas ideológicas, também contribuíram para essa construção constitucional, sendo, inclusive, pontos-chaves no reconhecimento dos direitos sociais e trabalhistas, como é o caso das Constituições Mexicana (1917) e de Weimar (1919). NEOCONSTITUCIONALISMO A partir do século XXI, têm-se uma nova perspectiva em relação ao constitucionalismo. É o chamado “neoconstitucionalismo” ou constitucionalismo pós-positivista.. Nele, busca-se “não mais apenas atrelar o constitucionalismo à ideia de limitação do poder político, mas, acima de tudo, assegurar a eficácia da Constituição, deixando o texto de ter um caráter meramente retórico e passando a ser mais efetivo, especialmente diante da expectativa de concretização dos direitos fundamentais” (LENZA, 2018, p. 28). Então, a hierarquia entre normas não seria apenas do ponto de vista formal, mas, especialmente, de uma forma valorativa/axiológica. Para entendermos, exemplifiquemos com a emblemática Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Nesse momento histórico, prevalecia a ideia de que uma lei editada pelo legislativo (formalmente constitucional) seria a fonte do direito. O juiz, então, era “a boca lei” e “as Constituições eram vistas como programa político que serviam para inspirar a atuação legiferante, mas não podiam ser invocadas perante o Poder Judiciário para defesa de direitos” (PADILHA, 2020, p. 8). Assim, as atrocidades cometidas por Adolf Hitler, apesar de desumanas, estavam dentro da legalidade, porque havia legitimação em normas jurídicas que excluíam os direitos dos judeus. Bastava, então, aplicar a lei em seu sentido formal e positivista – como estava propriamente escrita – e não se estaria cometendo, em tese, nenhum ato inconstitucional. E essa percepção de que a norma pela norma poderia resultar numa barbárie (como resultou) levou as novas constituições a fortalecem a jurisdição constitucional. Vejamos a comparação: Hierarquia entre normas; Hierarquia entre normas não apenas formal, mas axiológica (valorativa); Limitação do poder estatal. Concretização dos direitos fundamentais. Assim, “o caráter ideológico do constitucionalismo moderno era apenas o de limitar o poder, o caráter ideológico do neoconstitucionalismo é o de concretizar os direitos fundamentais” (AGRA, 2008, p. 31 apud PADILHA, 2020, p. 8). Segundo LENZA (2018, p. 28), os pontos marcantes do neoconstitucionalismo são: a) Estado constitucional de Direito: a Constituição passa a ser o centro do sistema, marcada por uma intensa carga valorativa; b) Conteúdo axiológico da Constituição: a Constituição passa a consagrar valores e opções políticas, destacando-se a dignidade da pessoa humana e os direitos fundamentais; c) Concretização dos valores constitucionais e garantia de condições dignas mínimas. i Modernamente, vem sendo dito que o Direito é uno e indivisível, e a divisão entre esses dois grandes ramos remeteria a um pensamento abstracionista. Assim, o Direito Constitucional se aloca na posição de setor comum a todos os demais direitos, sendo sua base de sustentação. ii Segundo Sylvio Motta, o costume é a regra jurídica surgida informalmente em função da repetição reiterada de condutas que originam a convicção de que tais ações são indispensáveis à vida em coletividade. Já os usos constitucionais seriam fontes não escritas que adquirem maior importância em países que não possuem Constituição escrita ou sintética, como nos casos da Inglaterra, como exemplo o ato de convocação do Parlamento, ou Estados Unidos (sintética), pelas convenções partidárias.
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