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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE FACULDADE DE MEDICINA REBECCA CRUZ DE MORAES RÊGO ENDOMETRIOSE E DEPRESSÃO: uma revisão de literatura São Luís – MA 2020 REBECCA CRUZ DE MORAES RÊGO ENDOMETRIOSE E DEPRESSÃO: uma revisão de literatura Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Medicina da Universidade Federal do Maranhão como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Medicina. Orientador: Prof. Dr. João Nogueira Neto. São Luís – MA 2020 REBECCA CRUZ DE MORAES RÊGO ENDOMETRIOSE E DEPRESSÃO: uma revisão de literatura Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Medicina da Universidade Federal do Maranhão como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Medicina. Aprovado em:_____/_______/______ BANCA EXAMINADORA ____________________________________________ Profº. Dr. João Nogueira Neto (Orientador) Universidade Federal do Maranhão ____________________________________________ 1º Examinador Universidade Federal do Maranhão ____________________________________________ 2º Examinador Universidade Federal do Maranhão ____________________________________________ 3º Examinador Universidade Federal do Maranhão AGRADECIMENTOS Agradeço, em primeiro lugar, a Deus, pela minha vida, por me capacitar a vencer todos os obstáculos e poder dizer como o Profeta Samuel “Ebenezer, até aqui o Senhor nos ajudou” 1Sm 7:12. Aos meus pais, Nelson Melo de Moraes Rêgo e Rosinete Cruz de Moraes Rêgo, por me apoiarem nos meus sonhos, por me fornecerem todo suporte necessário para adentrar, continuar e concluir o tão sonhado curso de medicina. Por sempre me apoiarem espiritual, financeiro e emocionalmente não importando o que custasse. Por sempre estarem comigo nos momentos mais difíceis quando eu pensava que não iria conseguir e me ajudarem a vencer quando eu me sentia fraca ou desanimada. Eu ofereço a eles por tudo o que fizeram na minha vida. Aos meus irmãos, Thiago Cruz de Moraes Rêgo e Isabella Cruz de Moraes Rêgo que me inspiram por sua garra, bondade e coragem. O Thiago por ter me auxiliado nos seus conhecimentos de Medicina da UNIFESP e nas traduções do inglês científico. A Isabella por me auxiliar na revisão dos textos, por me incentivar na produção deste TCC e por todo apoio emocional de seu “abraço da vida”. À minha UFMA que me abrigou e foi como uma casa para mim. Pelos seus aprendizados que carregarei para toda vida. Por ter me aberto tantas portas e oportunidades de crescimento profissional. Sou mui grata. Ao meu orientador, Professor Doutor João Nogueira, pela sua paciência e compreensão. À minha igreja, Assembleia de Deus, na figura do meu pastor José Augusto Gabina de Oliveira que carinhosamente sempre me chamou de Dra. Rebecca, sempre orou por mim e pelos meus desafios acadêmicos, me abençoando e provendo em grande parte meu apoio espiritual com seus conselhos e palavras. Ao Eduardo Pinto Araujo por me incentivar na produção deste TCC e por seus “puxões de orelha”. Pela sua ajuda na informática quando o meu computador insistia em não cooperar!! Por seu carinho e cuidado para comigo, no qual pude crescer muito. Ao meu amigo Arthur Silva Soares que se esforçou e me cobrou bastante, dando motivação na reta final. Ao meu amigo Ciro Bezerra Vieira que desde o Ensino Médio tira as minhas dúvidas e estuda comigo para as provas e trabalhos. Por sua prontidão e ser sempre solícito em tudo que preciso. Aos demais que direta ou indiretamente contribuíram para a realização de tudo isto: o meu “muito obrigada”! RESUMO INTRODUÇÃO: A endometriose é uma doença ginecológica inflamatória, crônica e progressiva, caracterizada pela presença ectópica de tecido endometrial funcional. Sua prevalência é elevada, atingindo entre 10 a 15% das mulheres em idade reprodutiva. Diversos estudos já observaram um aumento significativo na prevalência da depressão e de sintomas depressivos no caso de mulheres com endometriose, apontada como fator de risco elevado para a depressão. OBJETIVO: Esta revisão de literatura possui como objetivo central elencar os possíveis fatores desencadeadores da depressão na endometriose. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão de literatura de natureza integrativa e método dedutivo, composta por pesquisa bibliográfica explicativa, básica pura e análise qualitativa. São analisados 25 artigos, selecionados em conformidade aos critérios de inclusão adequados ao estudo: artigo publicado em inglês, em revista com fator de impacto ≥ 1,5, entre Janeiro de 2017 e Agosto de 2019, encontrados na busca com os descritores “endometriosis” e “depression” nas bases de dados MEDLINE, BIRENE, CAPES e Google Acadêmico. RESULTADOS: Como sintoma mais frequente da endometriose, a Dor Pélvica Crônica (DPC) foi apontada como independente do grau do tecido endometriótico ou do estágio da doença em si, levando a conclusões de possíveis correlações entre DPC e fatores psicológicos. As pacientes com endometriose queixando-se de DPC apresentaram níveis acentuados de depressão, sendo identificado, em parte dos estudos analisados, a DPC como principal causa da doença psiquiátrica. Além disso, foi detectada a possibilidade de amplificação da dor por fatores cognitivos e emocionais. Em modelos experimentais com animais induzidos à endometriose, observou-se o desenvolvimento de sintomas depressivos e alterações significativas em importantes mecanismos neurofisiológicos, típicas de exames em pacientes com depressão, assim como constatou-se o estabelecimento de uma sensibilização central da dor. Outro resultado importante é o impacto psicológico considerável analisado nessas pacientes desde o início do seu diagnóstico devido ao elevado risco de infertilidade associado, além de possíveis complicações na gestação, ao constituir a endometriose fator de risco para abortos espontâneos e para depressão pós-parto. A depressão em pacientes com endometriose deve-se, ainda, aos prejuízos em sua vida sexual e em sua autoimagem provenientes da dispareunia. Por último, foi observado amplo ônus financeiro e profissional dessas mulheres, contribuindo ainda mais para o seu quadro depressivo potencial. CONCLUSÃO: O impacto da endometriose na saúde mental é o resultado da combinação de múltiplos aspectos não lineares. É, pois, fundamental que a mulher com endometriose seja acompanhada em um tratamento multidisciplinar, auxiliando-a segundo suas necessidades individuais. Seu parceiro também se beneficia se incluído na terapia conjunta, melhorando a qualidade de vida do casal. Concretiza-se, assim, o conceito atual e holístico de saúde da OMS: bem-estar biopsicossocial e espiritual. Palavras-chaves: Endometriose. Depressão. Dor. ABSTRACT BACKGROUND: Endometriosis is an inflammatory, chronic and progressive gynecological disease, characterized by the ectopic presence of functional endometrial tissue. Its prevalence is high, estimated to occur in 10-15% of women of reproductive age. Several studies have already reported a significant increase in the prevalence of depression and depressive symptoms in the case of women with endometriosis, identified as a high risk factor for depression. OBJECTIVE: The main objective of this literature review is to list the factors that can trigger depression in endometriosis. METHODS: This is a integrative literature review with deductive method, consisting of a basic explanatory literature research and a qualitative analyses. 25 articles are analyzed, selected in accordance with the inclusion criteria selected for the study: article published in English, in a journal with an impact factor ≥ 1.5, betweenJanuary 2017 and August 2019, found after the search with the Medical Subject Headings "Endometriosis" and "depression" in MEDLINE, BIRENE, CAPES and Google Scholar databases. RESULTS: As the most frequent symptom of endometriosis, Chronic Pelvic Pain (CPP) was reported as independent of the extent of endometriotic tissue and the stage of the disease itself, leading to studies of possible correlation between CPP and psychological factors. The patients with endometriosis with CPP complaint had high levels of depression and, in some of the studies analyzed, CPP has been identified as the main cause of this psychiatric illness. Also, it was detected the possibility of pain catastrophizing, caused by cognitive and emotional factors. In experimental models with induced endometriotic animals, it was observed the development of depressive symptoms and changes in important neurophysiological mechanisms, typical of exams in patients with depression, as well as central pain sensitization was reported. Another important result is the psychological impact analyzed in these patients since the beginning of the their diagnosis due to the high risk associated with infertility, in addition to possible complications in pregnancy, as the endometriosis links to higher risk for spontaneous abortions and for postpartum depression. The depression in patients with endometriosis is also attributable to the damage to their sex life and self-image. Finally, financial and professional losses were observed, further contributing to the potential depressive condition of these women. CONCLUSION: The impact of endometriosis on mental health is the result of the combination of multiple non-linear aspects. It is, therefore, essential that women with endometriosis be followed up in a multidisciplinary treatment, helping them according to their individual needs. Their partners are also benefited if included in therapy, improving the couple's quality of life. Thus, the current and holistic concept of health of WHO is accomplished: biopsychosocial and spiritual well-being. Keywords: Endometriosis. Depression. Pain. LISTA DE ABREVITURAS E SIGLAS BIRENE - Latin American and Caribbean Center on Health Sciences Information BNDF - Fator Neutrófico Derivado do Cérebro CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior DPC - Dor Pélvica Crônica DPP - Depressão Pós-Parto DSM - Diagnostic and Statistical Manual Glra3 - Subunidade Alfa-3 do Receptor da Glicina GnRH - Hormônio Liberador de Gonadotrofina GSH - Substância Redutora Glutationa HPA - Hipotalâmico-Hipofisário-Adrenal MEDLINE - U.S. National Library of Medicine MPO - Mieloperoxidase rsfMRI - Ressonância Magnética Funcional de Repouso SerpinA3N - Gene Humano alfa1-antichymotripsin SNC - Sistema Nervoso Central SOD - Superóxido Dismutase QE - Quociente Emocional SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 8 2 OBJETIVOS ......................................................................................................... 12 2.1 Geral .................................................................................................................... 12 2.2 Específicos .......................................................................................................... 12 3 METODOLOGIA ................................................................................................... 13 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 14 4.1 Endometriose e Dor Pélvica Crônica ................................................................ 14 4.1.1 Neuromodulação da Dor Crônica ......................................................................... 17 4.2 Infertilidade e Gestação na Endometriose ....................................................... 21 4.3 Sexualidade e dificuldade de relacionamento conjugal na Endometriose ...................................................................................................... 23 4.4 Aspectos profissionais e econômicos da Endometriose................................ 26 5 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 30 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 31 ANEXOS............................................................................................................... 34 8 1 INTRODUÇÃO Endometriose é uma doença ginecológica inflamatória, crônica e progressiva (RAMIN-WRIGHT et al., 2018). É caracterizada pela presença ectópica de tecido endometrial funcional (glândula e estroma), isto é, fora da cavidade uterina, gerando uma resposta inflamatória e envolvendo, geralmente, estruturas pélvicas e abdominais. Em termos epidemiológicos, a endometriose afeta aproximadamente de 10 a 15 por cento das mulheres (MÁRKI et al., 2017), o que corresponde a cerca de 176 milhões de indivíduos (GONZÁLEZ-ECHEVARRÍA et al., 2019). Por ser estrogênio-dependente (MUCHANGA et al., 2017) acomete principalmente mulheres e adolescentes no menacme, ou seja, em idade reprodutiva. A clínica predominante é formada por sintomas de irregularidades menstruais, disquezia, dispareunia profunda, dismenorreia secundária, infertilidade e dor pélvica crônica (LIMA FILHO et al., 2019; GAO et al., 2019), sendo este último o mais frequente sinal clínico (GAMBADAURO et al., 2019). O quinto sinal vital é responsável por 80% das queixas de mulheres diagnosticadas com endometriose (FACCHIN et al., 2018). O diagnóstico baseia-se na história clínica, exame físico e exames de imagem. O padrão ouro e confirmatório é a videolaparoscopia (LAGANÀ et al., 2017a) com estudo anatomopatológico do tecido, pois permite o estadiamento e pode ser usada como medida terapêutica. Existe uma dificuldade grande em se obtê-lo, que segundo Gabriella Márki et al. (2017), é feito com 3,9 a 10,4 anos após o início dos sintomas. Atraso este que tem um impacto negativo sobre a saúde e qualidade de vida. Segundo a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (1986), a endometriose é classificada em estágios de acordo com os achados intraoperatórios, que levam em consideração profundidade, tamanho, gravidade das aderências e localização dos implantes endometrióticos. Os estágios vão do I ao IV, onde o primeiro significa doença mínima (estágio inicial) e o quarto, doença grave, mais extensa e avançada. Observar tabela do Anexo A. Não existe, no entanto, correlação com a gravidade dos sintomas, infertilidade, prognóstico e nível de dor. A dor é influenciada pela localização em áreas de maior inervação e com a profundidade do tecido endometriótico (LAGANÀ et al., 2017b). 9 O tratamento da endometriose se divide em clínico e cirúrgico. O primeiro consiste em medição analgésica e tratamento hormonal principalmente com contraceptivos orais combinados, progestogênios e análogos do GnRH (GHAI et al., 2020). O segundo, a videolaparoscopia, é indicado com a gravidade da endometriose (profunda > 5mm, endometrioma ovariano e múltiplas aderências), desejo de fertilidade e tratamento clínico não responsivo. Em casos de difícil manejo, de prole constituída e idade avançada, pode-se optar por ovariectomia bilateral com ou sem histerectomia. Este tem relatos de taxas de sucesso de até 75% (GHAI et al., 2020). Trabalhos recentes têm demonstrado que a depressão e a ansiedade são os distúrbios mais comuns associados à endometriose (LAGANÀ et al., 2017b; VAN BARNEVELD et al., 2019; AERTS et al., 2018). Um estudo longitudinal realizado em Taiwan apontou também que a endometriose é um fator de risco elevado para se desenvolverdepressão (LAGANÀ et al., 2017b). Em uma revisão sistemática feita com 27 artigos de 12 países diferentes, nos últimos 30 anos, mostrou em 24 deles que os níveis desta doença foram significativamente maiores entre mulheres com endometriose em comparação com grupo controle saudável (GAMBADAURO et al., 2019). Na população geral, estima-se que 11 a 15 % dos indivíduos sofram de depressão maior em algum momento da vida, sendo pessoas do sexo feminino 1,5 a 3 vezes mais propensas do que o sexo masculino (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). Em mulheres com endometriose, as taxas de sintomas depressivos estão presentes em até 86,5% das enfermas (LAGANÀ et al., 2017b). Em um estudo do Departamento de Psicologia da Universidade de Surrey na Inglaterra, com 81 mulheres, 40 com endometriose e 41 com outras doenças ginecológicas, apontou que as primeiras tiveram maior grau de introversão (LAGANÀ et al., 2017b). Logo, mulheres com endometriose têm maior sintomas depressivos em comparação com mulheres sem endometriose. O DSM (Diagnostic and Statistical Manual) é um manual de diagnóstico e estatística de transtornos mentais criado pela Associação Americana de Psiquiatria em 1952. Este, por ser mais detalhado, é o mais utilizado em ambientes de pesquisa, sendo referência para profissionais de todo o mundo. A sua quinta edição traz que depressão é um transtorno psiquiátrico caracterizado pela “[...] presença de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas 10 que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo” (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. 155). Diferenciando-se entre aspectos de duração, momento e etiologia, a depressão se divide em transtorno disruptivo da desregulação do humor, transtorno depressivo maior, transtorno depressivo persistente, transtorno disfórico pré- menstrual, transtorno depressivo induzido por substância/medicamento, transtorno depressivo devido a outra condição médica, outro transtorno depressivo especificado e transtorno depressivo não especificado. No contexto da endometriose, utiliza-se prioritariamente o conceito de Transtorno Depressivo Maior, que “[...] maior representa a condição clássica desse grupo de transtornos” (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. 155). O transtorno depressivo maior é caracterizado por episódios de pelo menos duas semanas de duração com alterações claras no afeto, funções neurovegetativas e na cognição. Apresenta ainda períodos de remissão entre os episódios e é, na maioria dos casos, recorrente (apesar de poder ser diagnosticado com um episódio único). Para se diagnosticar precisa preencher os cinco critérios diagnósticos. Critério A: Cinco ou mais dos seguintes sintomas presentes durante o mesmo período de duas semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior, onde pelo menos um dos sintomas seja humor deprimido (1) ou perda de interesse ou prazer (2): 1 - humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por relato subjetivo ou por observação de outras pessoas; 2 - perda de interesse ou prazer pelas atividades antes habitualmente desejadas; 3 - alterações no apetite ou peso, sem estar de dieta; 4 - insônia ou hipersonia quase todos os dias; 5 - agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observado por outras pessoas); 6 - fadiga ou perda de energia quase todos os dias; 7 - sentimentos de desvalia ou culpa excessiva ou inapropriada que pode ser delirante; 8 – capacidade diminuída para pensar, concentrar-se ou tomar decisões; 9 - pensamentos recorrentes de morte, ideação suicida recorrente sem um plano específico, planos e tentativas de suicídio (AMERICAN 11 PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). Critério B: os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo funcional global. Critério C: Sintomas não se devem a efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou condição médica geral. Critério D: A ocorrência do episódio depressivo não é mais bem explicada por outro transtorno mental. Critério E: Nunca houve um episódio de mania ou hipomania. 12 2 OBJETIVOS 2.1 Geral Elencar os possíveis fatores desencadeadores da depressão na endometriose. 2.2 Específicos a) Conceituar e definir endometriose e depressão; b) Identificar de que forma a endometriose influencia o processo de adoecimento da depressão; c) Oferecer informações importantes para beneficiar pacientes, médicos e responsáveis pelas políticas de saúde locais; d) Enviar o trabalho para uma revista acadêmica de distribuição nacional. 13 3 METODOLOGIA Este trabalho é uma revisão de literatura de natureza integrativa e método dedutivo. Uma pesquisa bibliográfica, explicativa, básica pura, do tipo qualitativo. As fontes primárias foram artigos publicados em revistas científicas consultadas pelas bases de dados MEDLINE (U.S. National Library of Medicine), BIRENE (Latin American and Caribbean Center on Health Sciences Information), CAPES Periódicos (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e Google Acadêmico. Os seguintes termos descritores foram utilizados: “endometriosis” e “depression”. Para seleção dos artigos, foram passados pelos seguintes critérios de inclusão: artigo publicado em inglês, em revista com fator de impacto maior ou igual a 1,5 no ano de publicação e dentro do período correspondente de Janeiro de 2017 à Agosto de 2019. As buscas iniciaram-se no dia 31 de Julho de 2019. Procedeu-se, a partir de então, à análise dos resultados, selecionando-se 25 artigos na literatura. 14 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Endometriose e Dor Pélvica Crônica A endometriose é uma das principais causas de Dor Pélvica Crônica (DPC), seu mais frequente sintoma. Definida como uma dor não maligna sentida na região pélvica com frequência constante ou recorrente em um período de seis meses (LAGANÀ et al., 2017b), a DPC constitui-se como o principal fator desencadeante de estresse em pacientes que possuem a doença (ZARBO et al., 2018). Vale ressaltar que a dor aparenta ser algo independente do estágio da doença. Portanto, mulheres com endometriose de grau leve podem apresentar dor pélvica intensa, enquanto mulheres com endometriose mais grave podem queixar-se de menos dor. Esse achado sugere que fatores psicológicos podem estar envolvidos, o que influencia a manifestação da dor em mulheres com endometriose (LAGANÀ et al., 2017b). Pacientes que sofrem de dor pélvica, com frequência, relatam altos níveis de ansiedade e depressão, limitações nas atividades sociais, perda de produtividade laboral e má qualidade de vida. Um estudo divulgado pela Revista Internacional de Saúde da Mulher em 2017 comparou a prevalência de depressão entre um grupo de mulheres diagnosticadas com endometriose e DPC e um outro grupo de mulheres com endometriose, mas sem DPC. Os resultados mostraram que a depressão estava presente em 86% das mulheres com DPC e em 38% das que não apresentavam dor, apontando para o quadro de DPC como fator central desencadeador de depressão nas pacientes com endometriose (LAGANÀ et al., 2017b). Diante desse contexto, Low e Cols investigaram a possibilidade de um perfil psicológico específico associado a endometriose. 81 mulheres com dor pélvica foram estudadas, das quais 40 possuíam endometriose e 41 apresentaram outros problemas ginecológicos. De acordo com os resultados, as pacientes com endometriose apresentaram escore mais altos de psicoticismo, introversão e ansiedade do que as com outras condições ginecológicas (LAGANÀ et al., 2017b). Assim, mulheres com endometriose e DPC relatammais sofrimento do que aquelas que apresentam somente DPC. A DPC deve ser entendida como um importante componente na endometriose e pode afetar significativamente a qualidade de vida da mulher e o seu bem estar psicológico. Ainda não está claro se é a dor que causa o sofrimento psicológico 15 associados a sintomas psicopatológicos, ou se simplesmente a depressão, a ansiedade e o sofrimento emocional determinam o aumento da percepção da dor. Sabe-se que ansiedade e a depressão possuem o potencial de aumentar a percepção da dor tanto emocional quanto cognitivamente, o que contribui para o grau de tolerância ao incômodo, além do fato da dor, em muitos casos, estar associada a emoções negativas que a pessoa tenha sofrido (LAGANÀ et al., 2017b). É fato que mulheres que apresentam maior nível de dor possuem uma qualidade de vida menor em relação àquelas que não a apresentam. No estudo citado comparando um grupo de mulheres com endometriose e com DPC a outro com endometriose e sem DPC, é constatado que a depressão estava presente em aproximadamente 90% das mulheres com DPC e que os sintomas que estão associados a depressão foram significativamente maiores nas que referiam dor, diminuindo assim a qualidade de vida dessas pessoas (LAGANÀ et al., 2017b). Outro fator que deve ser levado em consideração é a maneira como a mulher lida com a manifestação da dor. Em muitos casos ocorre o fenômeno “Pain catastrophizing”, do inglês, que significa uma reação exacerbada à dor por causas cognitivas negativas diversas, como uma lembrança traumática, uma emoção somatizada ou simplesmente por um medo compulsivo da dor (AERTS et al., 2018). Nesse contexto, o paciente além de possuir uma amplificação da sua dor, encontra- se em um estado no qual seus pensamentos negativos adquirem maiores proporções e se tornam repetitivos, minando a crença de que a dor poderá diminuir. Além disso, algumas características da endometriose, como os fatos de ser uma doença crônica, ter um tratamento a longo prazo, gerar muito incomodo a quem a possui, possibilidade em gerar infertilidade, entre outros, podem intensificar a colaboração emocional, cognitiva, sexual e interpessoal da dor. Acrescenta-se a isso, também, a capacidade que altos níveis de ansiedade e depressão possuem de ampliar a gravidade da DPC, impactando substancialmente a saúde mental da mulher. Isso gera um ciclo vicioso ilustrado na figura do Anexo B. A dor promove, portanto, uma inter-relação entre fatores fisiológicos, psicológicos e sociais, com danos à paciente acometida de endometriose no seu estado emocional, assim como atinge a sua vida social, resultando em inevitável perda na sua produtividade laboral. Como tentativa de tratar esses múltiplos aspectos, vem sido proposto um atendimento multiprofissional, na busca de fazer com que a mulher com endometriose tente melhor lidar com seus sintomas. 16 Ademais, a dor na endometriose pode apresentar um caráter nociceptivo, neuropático ou uma combinação de ambos (AERTS et al., 2018), compartilhando, também, de outras síndromes de dor crônica, como hiperalgesia, alodinia e sensibilização central, o que implica diferentes abordagens terapêuticas à dor. Desta forma, a estreita colaboração entre os profissionais de saúde como médicos, ginecologistas, sexólogos, psicólogos, psiquiatras, psicoterapeutas e fisioterapeutas é crucial para o controle da dor, melhoria da qualidade de vida, prevenção da recorrência da doença, redução de danos anatômicos e preservação da saúde mental e da fertilidade (MÁRKI et al., 2017; AERTS et al., 2018; LAGANÀ et al., 2017b). Vale destacar que a avaliação psiquiátrica e psicológica deve ser feita no momento do diagnóstico como uma medida preventiva. Identificar mulheres que já possuam um maior risco de desenvolver sintomas depressivos e fornecer-lhes o apoio necessário é fundamental neste distúrbio crônico (LAGANÀ et al., 2017b). O objetivo deve ser reduzir o máximo possível o impacto da endometriose no bem- estar psicológico e na qualidade de vida destas mulheres (LAGANÀ, et al., 2017b). Outros profissionais também são válidos e podem auxiliar grandemente como capelões hospitalares e nutricionistas. A espiritualidade com suas práticas de meditação, leitura, oração e gratidão é um recurso de enfrentamento positivo e que cada vez mais vem mostrando seus benefícios (ZARBO et al., 2018). A alimentação pode ser outro aliado também. Evitar a cafeína, alimentos pró-inflamatórios ou ricos em estrogênio (por ex.: soja) e conciliar uma dieta equilibrada com várias fontes de frutas e vegetais são estratégias para redução de sintomas endometrióticos (ZARBO et al., 2018). Essa abordagem holística e biopsicossocial-espiritual é essencial na redução da dor e no tratamento desta doença ginecológica. Uma prática interessante que tem mostrado resultados reduzindo o estresse e a dor é a milenar yoga. Sabe-se que o cortisol alto leva a um desequilibro neuroendócriono, contribuindo para a progressão da endometriose, aumentando a dor e, consequentemente, doenças psicológicas (EVANS et al., 2019). Controlar isso é, sem dúvida, positivo. Por gerar uma conscientização e integração da mente, corpo e respiração, algumas mulheres relataram que conseguiram controlar melhor a sua dor. Pelo formato de aulas em grupos, as pacientes do estudo também apresentaram uma melhora do bem-estar psicossocial. Isso é importante tendo em vista a tendência natural de isolamento que a doença traz (EVANS et al., 2019). A 17 yoga melhora ainda a qualidade do sono e sabe-se que a insônia contribui para maior sensibilidade à dor (EVANS et al., 2019). Portanto, essa abordagem da mente-corpo é uma estratégia interessante para as mulheres com endometriose. A endometriose é uma condição complexa na qual os fatores psicológicos possuem fundamental importância no manejo clínico e na eficácia do tratamento, principalmente no quesito da dor (LAGANÀ et al., 2017b). Portanto, esse, a fim de ser mais bem-sucedido e efetivo, necessita envolver uma equipe multidisciplinar para individualizar e auxiliar a paciente segundo às necessidades de seu caso particular. A saúde, para ser completa, carece de efetivar plenamente o seu conceito de bem-estar biopsicossocial e espiritual. 4.1.1 Neuromodulação da Dor Crônica Os modelos animais possuem ímpar valor nas conclusões da fisiopatologia da endometriose (LIMA FILHO, et al., 2019; INVESTIGATORS AT FEDERAL…, 2019). A hipótese é que o modelo induzido de endometriose em ratos fêmeas gere efeitos neurológicos que se assemelhem aos sintomas neuropsiquiátricos humanos, atendo-se à dependência da variável do avanço do tempo. Em um estudo com ratos utilizando um modelo de endometriose induzida por transplante autólogo de tecido endometriótico, observou-se um aumento progressivo de comportamento ansioso entre 2 a 3 semanas; acompanhados de desânimo, a partir de 2 semanas. Os sintomas depressivos adquiriram solidez após 3 semanas de estudo, com a diminuição da capacidade de sentir prazer e sinais de apatia (LIMA FILHO et al., 2019). Ratas com endometriose experimental apresentaram também uma resposta gradual ao estresse com aumento da liberação de glicocorticoides (corticoesterona), especialmente quando submetidos a situações altamente desgastantes, o que acentuava respostas inflamatórias e a sensibilização à dor. Sabe-se, ainda, que indivíduos com depressão ou em alto risco de desenvolverem essa doença possuem maiores níveis de cortisol durante o período de recuperação de um estímulo estressante. Em determinado momento, até a terceira semana do experimento, supõe-se que o eixo Hipotalâmico-Hipofisário-Adrenal (HPA) também tenha sido afetado, o que é uma característica comum de pacientes acometidos de experiências traumáticas, ansiedade e com depressão (LIMA FILHO et al., 2019; 18 BEISSNER et al.,2018). Outros fatores que desempenham um papel crucial nessa relação da endometriose e depressão são as alterações neurofisiológicas hipocampais. Sabe- se que o hipocampo representa uma área central, não somente em relação à formação de novas memórias como também no trauma, regulação do humor e no processo de transição entre dor aguda e crônica. Nesse âmbito, foi demonstrado em ratos com endometriose, alterações anormais na região anterior hipocampal e nas vias aferentes somatossensoriais ligadas ao hipocampo e as que o comunicam ao lóbulo da ínsula. Mudanças desse tipo também são observadas em pacientes com transtornos de depressão, indicando forte correlação (LIMA FILHO et al., 2019). Essa região anterior hipocampal, assim como a sua modulação do eixo HPA e suas conexões somatossensoriais, viscerosensoriais e interoceptivas com outras regiões cerebrais foram alvos de um ensaio clínico randomizado em mulheres com endometriose queixando-se de dor pélvica elevada (BEISSNER et al., 2018). Propôs-se psicoterapia e estimulação somatossensorial através da acupuntura para metade das pacientes e um grupo controle de lista de espera com as demais. Foi observado por meio de imagem de Ressonância Magnética Funcional de Repouso (rsfMRI) que as mulheres submetidas a esse tratamento possuíram modificações significativas nas vias neurológicas ligadas à parte anterior hipocampal, em especial as sub-regiões anterolateral esquerda e direita; e anteromedial direita; o que veio acompanhado da redução dos sintomas de depressão, ansiedade e de dor pélvica crônica. A razão dos níveis avaliados de dor terem abaixado não foi muito bem esclarecida, mas acredita-se que deva estar correlacionada com a redução da ansiedade durante a intervenção, responsável por direcionar a atenção a estímulos ou memórias de dor (BEISSNER et al., 2018). A estimulação sensorial potencializada com psicoterapia foi responsável pelo remodelamento das respostas corporais frente às emoções e memórias traumáticas, reduzindo sintomas de depressão e ansiedade. Outro trabalho apontou, ainda, que essa associação de tratamentos possibilita uma estabilidade de até 2 anos dos seus benefícios (AERTS et al., 2018). Como mostrou o estudo citado com ratos endometrióticos, essas perturbações neurofisiológicas devem estar, também, fortemente ligadas a um aumento do estresse oxidativo no hipocampo, uma vez que se observou maior atividade da enzima Superóxido Dismutase (SOD), marcador útil na detecção da 19 formação de espécies reativas ao oxigênio, e também níveis reduzidos de Substância Redutora Glutationa (GSH) nessa região encefálica – um desbalanço também comum em pacientes com depressão. Embasando ainda mais esse mecanismo, a enzima Mieloperoxidase (MPO), relacionada à depressão em humanos, foi medida em maior concentração após 3 semanas nos ratos com endometriose, momento em que os sintomas de diminuição da capacidade de sentir prazer e de apatia se consolidaram. Logo, observa-se a resposta oxidativa como outro potencial mecanismo desencadeador de depressão (LIMA FILHO et al., 2019). Por último, também deve ser ressaltada uma diminuição neurotrófica com o decréscimo da expressão do BDNF, principalmente notados a partir do 21º dia do experimento com tais ratos. Entre os prejuízos decorrentes da redução dessa neurotrofina inclui-se perdas na plasticidade cerebral, e no aprendizado e memória, uma vez que o BNDF desempenha um papel crítico na neurogênese e plasticidade das sinapses. Conclui-se que essa consequência da doença ocupa um espaço central na mudança comportamental, aliada ao estresse oxidativo, uma vez que menores níveis de BDNF no hipocampo contribuem para a persistência do próprio estresse oxidativo (LIMA FILHO et al., 2019). Dessa forma, nesse modelo experimental utilizando ratos com endometriose induzida por transplante autólogo observou-se sintomas similares aos de pacientes depressivos, tais como baixa ou falta da capacidade de sentir prazer, apatia, além de desânimo; frutos de uma hiper-reatividade da resposta a glicocorticoides, aumento progressivo dos marcadores do estresse oxidativo e da redução do BDNF no hipocampo (LIMA FILHO et al., 2019). Isolar cada um dos mecanismos, contudo, não se mostrou uma realidade ainda. O sintoma da dor pélvica crônica, por sua vez, é fundamental, se não um aspecto central, a ser focado na questão endometriose-depressão, frequentemente ocorrendo um agravamento de sua patogenia por traumas psicológicos (BEISSNER et al., 2018). Há estudos epidemiológicos que levantam a hipótese da dor pélvica crônica em si ser mais crucial no desenvolvimento de alterações neuropsiquiátricas do que a endometriose, por ser comum queixas de sintomas depressivos, em média, em metade dos pacientes com dores crônicas (LI et al., 2018). Contudo, essa segregação é de difícil mensuração pois ambos possuem efeitos em comum, ao afetar mecanismos oxidativos do sistema imunitário e mecanismos neurais similares (LIMA FILHO et al., 2019). 20 Sabe-se que a lesão tecidual derivada da endometriose, assim como inflamações típicas da doença resultam em uma sensibilização periférica da dor e em hiperalgesia após um período inicial mínimo, o que pode ser explicado mediante a redução do limiar da dor e pela amplificação do estímulo levado ao SNC (LIMA FILHO, et al., 2019; MAMILLAPALLI; GAO; TAYLOR, 2017). Por meio da sinalização repetida e duradoura desse estímulo periférico pode ocorrer uma adaptação ao nível medular com aumento da resposta aos impulsos sensoriais, descargas persistentes e maiores áreas sensíveis por neurônios do corno dorsal da medula, caracterizando uma atividade de sensibilização central. Observou-se, ainda, que respostas centrais do sistema nervoso podem ser desencadeadas independentemente de estímulos periféricos (LI et al., 2018). Isso deixa claro porque procedimentos de retirada de lesões ectópicas não resolveu o problema da dor em mulheres com endometriose, afinal “[...] a dor não é simplesmente reflexo das aferências vindas da periferia, mas um reflexo dinâmico de plasticidade neuronal central” (ASHMAWI; FREIRE, 2016, p. 33). Nesse contexto, em outro estudo também utilizando o modelo de fêmeas de ratos com endometriose, foram correlacionadas sensibilização central com mudanças significativas na expressão de genes em regiões do SNC, algo que ainda pouco se sabe. Genes responsáveis por limitar eventos neuropáticos de sensibilização central em ratos, a exemplo do SerpinA3N, foram detectados com expressão reduzida na ínsula. Além disso, foi percebida uma maior atividade do gene Glra3, correlacionado com o processo de inflamação neurogênica e de sensibilização central nesses animais (LI et al., 2018). A ativação de mecanismos periféricos e centrais da dor, assim como as alterações relacionadas à expressão gênica de regiões do SNC que afetam a sua percepção, são, pois, fatores relevantes a serem levados em questão na intervenção terapêutica em prol da qualidade de vida de mulheres com endometriose, por serem responsáveis por uma experiência negativa ainda mais intensa de dor - um fator indissociável dos prejuízos emocionais e comportamentais das pacientes. Assim, sabendo que o sintoma da dor pélvica crônica é um aspecto fundamental na questão endometriose-depressão e que, frequentemente, ocorre um agravamento de sua patogenia por traumas psicológicos (BEISSNER et al., 2018), propor, portanto, métodos de tratamento similares a esse que lançou mão de técnicas de estimulação somatossensorial e de psicoterapia associada, deve 21 contribuir para esse fim de reduzir a dor pélvica crônica e sintomas associados, ao afetar tanto mecanismos neurais como psicológicos envolvidos. Somar isso às observações de uma resposta hiper-reativa ao estresse, ao aumento progressivo do quadro de estresse oxidativo e à redução do BDNFno hipocampo, pode elucidar novas estratégias de intervenção no combate à depressão em mulheres com endometriose. 4.2 Infertilidade e Gestação na Endometriose A endometriose causa impacto psicológico já no início de seu diagnóstico. Quase todas as mulheres passam por uma reestruturação de seus projetos individuais e conjugais para o futuro, principalmente no que se refere ao planejamento de filhos. Essas se conscientizam de que conceber, se não impossível, torna-se algo muito árduo para quem possui isso como meta de vida9. Afetando cerca de 50 por cento das pacientes diagnosticadas3, a infertilidade é definida como a incapacidade de conceber após 12 meses de relações sexuais desprotegidas (FACCHIN et al., 2019). Não somente a infertilidade de fato, mas também estar ciente da possibilidade e risco de se tornar infértil no futuro é um grande fator associado a resultados psicológicos negativos. Essas mulheres se tornam tão preocupadas sobre não ser mãe que chegam até a afetar na sua identidade feminina, ao ponto se se verem como “meia-mulher” (FACCHIN et al., 2019; FACCHIN et al., 2018). Evidenciado pelo relato acerca da baixa percepção de valor próprio de uma paciente de 28 anos, com autoestima já afetada: “Eu sou apenas meia mulher” (FACCHIN et al., 2018). No contexto da infertilidade, a depressão está associada a processos psicológicos negativos como autojulgamento e vergonha, especialmente pelas pacientes que acreditam ser incompletas, problemáticas e que não estão suprindo as expectativas da sociedade. Além disso, tendem a achar que estão, socialmente, sendo vistas como pessoas defeituosas e inferiores. Este aspecto foi analisado em um estudo feito com 127 mulheres com endometriose entre idades de 19 a 51 anos, apontando que as pacientes que acreditavam no fato de não ter filhos poderia influenciar a maneira como são vistas pelos outros, relataram pior desempenho de saúde psíquica (especialmente mais tendenciosas à depressão) e apresentavam pior autoestima. As mulheres clinicamente mais angustiadas tinham maior 22 probabilidade em acreditar no fato de que quem não tem filhos é menos apreciada socialmente em comparação com quem tem prole constituída, bem como que a infertilidade pode influenciar negativamente a maneira como são vistas. As mesmas eram particularmente preocupadas com o fato de serem percebidas como inferiores ou problemáticas. Este mesmo trabalho demonstrou ainda que as participantes que tinham sido diagnosticadas como inférteis foram mais propensas a considerar o fato de gerar filhos muito importante para a sua realização pessoal e para se sentirem verdadeiramente completas (sentimento de completude). Experimentar esses sentimentos de fracasso e derrota na capacidade de conceber pode estar associado a sintomas depressivos. Além disso, um estudo prospectivo japonês mostrou que endometriose e problemas menstruais são fatores de risco para Depressão Pós-Parto (DPP) para as mulheres que conseguem desenvolver uma gestação. A hipótese do trabalho foi baseada na flutuação e queda de hormônios esteroides durante o parto ser fator causador de DPP, além da exposição à um estado hipogonadal até o retorno da ovulação. Essa flutuação pós-natal está relacionada com depressão, pois o estrogênio e a progesterona têm seus receptores cerebrais na região implicada na regulação emocional e cognitiva, e ambos possuem um papel mediador nas perturbações do humor. Essa diferença hormonal de estrogênio pode alterar a neurotransmissão de serotonina, levando a distúrbios de humor. Outro motivo de depressão no primeiro mês pós-parto estudado foi o histórico de abortos espontâneos que muitas vezes estão presentes nas pacientes com endometriose (MUCHANGA et al., 2017). Destarte, um diagnóstico de infertilidade dado a uma mulher em idade fértil pode deixá-la sentindo-se defeituosa, fora de sintonia com os demais, estigmatizada, bem como, zangada, frustrada, envergonhada, angustiada e triste. Ademais, a endometriose é um fator de risco para abortos espontâneos (RAMIN-WRIGHT et al., 2018) e DPP (MUCHANGA et al., 2017). Todas estas experiências trazem um forte impacto negativo para a mulher que socialmente recebe um papel tradicional de gênero e que tem uma pressão externa muito forte para conceber (AERTS et al., 2018). 23 4.3 Sexualidade e dificuldade de relacionamento conjugal na Endometriose Dispareunia é a dor mediante a penetração durante a atividade sexual. Ela ocorre em metade das pacientes com endometriose. Pode ser classificada em superficial (vulvodínea) e profunda, sendo esta quando a penetração leva a um estímulo doloroso profundamente percebido no canal vaginal ou pélvico. Esta experiência crônica reduz a qualidade da vida sexual e pode perturbar todos os aspectos da função sexual incluindo libido, excitação, orgasmo e satisfação (AERTS et al., 2018). Diversos estudos 7, 9, 18 apontam que as mulheres com endometriose e dispareunia sofrem com diminuição em número e qualidade de cópulas, autoestima, atividade e volúpia, fatores que se associam à depressão (SHUM et al., 2018; FACCHIN et al., 2018; AERTS et al., 2018). Muitas desenvolvem pensamentos negativos sobre o coito, perdendo inteiramente o interesse sexual, chegando até a negá-lo por completo. Elas sentem-se tão angustiadas e sem valor, que apresentam uma autoimagem corporal negativa, não sendo capazes de experimentar o prazer de sua sexualidade. O relato de uma paciente de 43 anos exemplifica bem: “Eu sinto que não quero ter nenhum tipo de sexo, não apenas a relação sexual, como toda a ‘questão do sexo’” (FACCHIN et al., 2018). Um prejuízo inegável. Outro aspecto é que mais da metade das pacientes (66%) possuem medo de terem dor antes/ durante a relação sexual. Isso favorece ainda mais a esquiva (AERTS et al., 2018). Toda esta situação abala sensivelmente a vida conjugal, o que impacta, dessa maneira, negativamente o psicológico das pacientes (SHUM et al., 2018; AERTS et al., 2018). Portanto, uma pior qualidade de vida em mulheres com endometriose em termos de desejo sexual, cognição sexual e funções orgásmicas está associada à depressão. Pode-se afirmar, ainda, que as pacientes com dispareunia decorrente da endometriose apresentam escores mais altos de depressão comparadas com mulheres saudáveis (AERTS et al., 2018). Impactantes números de uma publicação do Hospital Universitário de Genebra, Suíça, mostram a importância deste assunto. Segundo ele, a prevalência cumulativa de disfunção e sofrimento sexual em pacientes com endometriose atinge 32% e 78% respectivamente. Essa disfunção correlaciona-se com o estágio de doença e o grau de dispareunia. As pacientes com dor pélvica moderada a grave 24 tiveram um risco 3,4 vezes maior de ter disfunção sexual em relação a quem sofre com uma dor leve a moderada. Mulheres no estágio III ou IV de endometriose tem 4,4 vezes maior risco do que aquelas que estão nos estágios iniciais. Outro ponto evidenciado foi que a partir do diagnóstico da disfunção sexual, as pacientes tiveram, significativamente, menos relações por mês e maior medo de separação pela dispareunia em comparação com as mulheres do grupo controle (AERTS et al., 2018). Um artigo de Facchin et al. (2018), mostra que quase a totalidade das mulheres entrevistadas responderam que a endometriose afetou seu atual relacionamento íntimo ou um potencial. Este relato deixa claro: A endometriose faz você perder seu valor como mulher. Você pode encontrar alguém que te ame e entenda, mas se em algum momento ele quer ter filhos, de repente você se torna um empecilho e será descartado como um objeto -- mulher de 45 anos de idade (FACCHIN et al., 2018, p. 543). O estudo também apontou que a sexualidade foi a segunda maior preocupação (precedida somente pela infertilidade) não apenas pela dispareunia, mastambém pela falta geral de libido causada pelos tratamentos medicamentosos. Como descrito acima, a vulvodínea e dispareunia profunda afetam negativamente o bem-estar psicológico geral das mulheres e, também, de seus parceiros. Muitas lidam diariamente com a preocupação com a imagem corporal e sentimentos de vergonha, culpa e de baixa autoestima. A revista supracitada traz também esse relato que merece um espaço para exemplificar melhor: “Há muito tempo que estive me perguntando, talvez ele se encaixasse melhor com outra pessoa, alguém que não tenha os mesmos problemas que eu. Sinto-me culpada (mulher de 38 anos)” (FACCHIN et al., 2018, p. 543). Um estudo de coorte mostrou que o apoio emocional fornecido pelo parceiro íntimo representa um importante fator de proteção para a depressão (FACCHIN et al., 2017). Outro expressou que o relacionamento conjugal, familiar e de outros tipos sociais podem contribuir para melhorar a saúde mental da mulher assim diagnosticada e que o apoio, incluindo o financeiro, é fundamental (FACCHIN et al., 2018; ZARBO et al., 2018). O impacto da dor crônica genital no bem-estar psicológico e sexual pode se estender também ao parceiro (AERTS et al., 2018). Isso pode ser evidenciado por 25 uma recente pesquisa qualitativa: os cônjuges de mulheres com endometriose acabam sofrendo e presenciando sentimentos de desamparo, frustação e raiva com as consequências da dor de suas parceiras. Portanto, esta doença traz consequências para ambos e, segundo esse estudo retrospectivo feito em 15 anos na cidade de Trondheim (Noruega), é o motivo para problemas sérios em relacionamentos para 15% das pacientes e de divórcio para 7,7% delas (AERTS et al., 2018). Outro ponto abordado é que de acordo com a resposta masculina a este momento de dor pode-se modular esta experiência sensitiva. Respostas solícitas com demonstrações de simpatia, compreensão e incentivo no enfrentamento deste problema conjugal podem não só diminuir a sintomatologia como também, estarem associadas a uma maior satisfação sexual feminina. O contrário também é real. Hostilidade e demonstrações de raiva no ambiente familiar estão associadas a níveis mais altos de dispareunia. Percebe-se, então, que o contexto no qual a dor é experimentada, importa. Como as pacientes e seus parceiros pensam, sentem, se comunicam e se adaptam sobre a influência dessa dor, contribui, diretamente, para reduzir a intensidade e manter um relacionamento e uma vida sexual saudáveis (AERTS et al., 2018). Pode-se abstrair, a partir de então, uma intervenção no campo psicossexual. Os principais pontos trazidos pelo artigo são: 1) ajudar as pacientes e seus parceiros a verem a dor genital crônica como um problema multidimensional influenciado por diversos fatores incluindo seus próprios pensamentos, comportamentos, emoções e interações; 2) modificar esses fatores com enfrentamento adaptativo e diminuindo a intensidade da dor; 3) melhorar a qualidade do funcionamento sexual – incluindo desejo sexual que muitas vezes é diminuído nesta população – e desenvolver uma atitude mais positiva para outras atividades sexuais prazerosas; 4) trabalhar o medo da dor para reduzir a esquiva da intimidade física entre o casal (AERTS et al., 2018). Incluir o parceiro na terapia é, portanto, bastante recomendado devido aos fatores interpessoais envolvidos na dor genital (AERTS et al., 2018). A abordagem centrada no casal é mais focada e individualizada na problemática vivida no 26 relacionamento. É a forma que melhor lida com os sintomas vividos a dois, fazendo com que o casal aprenda a lidar com a dor (sintoma mais prejudicial no relacionamento), objetivando suas preferências e prioridades e trazendo sua resolução. O processo de tratamento dessa forma é mais acelerado, com menor resistência e mais persistente (AERTS et al., 2018). É válido destacar também que o tratamento adequado e efetivo da endometriose em si (seja clínico ou cirúrgico) pode melhorar a saúde mental (SHUM et al., 2018). Pesquisas apontam que a cirurgia radical diminui os níveis de depressão e melhora a atividade sexual das pacientes (LAGANÀ et al., 2017b). A cirurgia laparoscópica, por sua vez, está associada a uma melhor qualidade de vida e bem-estar emocional. Portanto, o manejo adequado no tratamento é imprescindível para maximizar a intervenção em cada caso de endometriose. Percebe-se, a partir de então, que a saúde física, mental, social e sexual está fortemente inter-relacionada. A endometriose é uma doença incapacitante (LAGANÀ et al., 2017b). e que pode afetar todos os aspectos do bem-estar sexual (AERTS et al., 2018). Portanto, é importante desenvolver a qualidade de inteligência emocional para se obter um relacionamento mais saudável e estável dentro do contexto da endometriose. Conceitua-se aqui inteligência emocional como: “[...] habilidade de estar consciente das próprias emoções e das de outrem; capaz de descriminar cada tipo e de as regular; e usar a informação para guiar o seu pensamento e suas ações” (ZARBO et al., 2018, p. 2). Dessa forma, a habilidade, também chamada de Quociente Emocional (QE), evidencia um benefício para várias esferas da vida. 4.4 Aspectos profissionais e econômicos da Endometriose Um ponto também visto na literatura foi de que a endometriose causa prejuízos econômicos e profissionais. Estes corroboram com o aumento do dano psicológico e consequentemente, a depressão. Os sintomas da doença estudada, mas principalmente a dor pélvica crônica (GAMBADAURO et al., 2019; SPERSCHNEIDER et al., 2019) trazem um impacto negativo na qualidade de vida e produtividade no trabalho (RAMIN-WRIGHT et al., 2018; FACCHIN et al., 2017; GONZÁLEZ-ECHEVARRÍA et al., 2019; AERTS et al., 2018; LAGANÀ et al., 2017b). Estes limitam a capacidade de trabalhar da paciente (GREENBAUM et al., 2019), o que pode resultar em um aumento da carga socio- 27 econômica (GHAI et al., 2020). Um estudo feito na Suíça, Alemanha e Áustria (SPERSCHNEIDER et al., 2019), observou que 89,8% das pacientes com endometriose sofreram com a perda de produtividade no trabalho devido a doença. Foi evidenciado que 65,1% das mulheres relataram forte/ muito forte limitação quando os sintomas eram graves e 75,3% com mínimos sintomas. O tempo médio de perda no trabalho relatado por 505 mulheres do artigo foi de 4,4 a 7,4 horas semanais. Estes números mostram o impacto causado e as limitações impostas a esta área de vida, contribuindo para maiores índices depressivos no meio elucidado. Outrossim, algumas mulheres (16,2%) chegam até a pedir demissão ou mudar de emprego, devido a sua incapacidade física ou ao excesso de despesas com licenças médicas (SPERSCHNEIDER et al., 2019; AERTS et al., 2018). Sobre as licenças, a sua frequência e a produtividade reduzida no local de trabalho podem trazer maior pressão para continuar o desempenho produtivo total e colocar essas mulheres sob forte observação, o que aumenta sua cobrança, tensão psicológica e sentimentos de culpa (SPERSCHNEIDER et al., 2019). A pesquisa também apontou que mulheres com endometriose foram menos capazes de trabalhar na profissão desejada e tiveram que tomar medidas que limitaram suas decisões de carreia por conta da saúde em grau significativamente mais alto, em comparação com as mulheres saudáveis do grupo controle (SPERSCHNEIDER et al., 2019). O artigo mostrou o seguinte: cerca de 40% das mulheres com endometriose relataram um comprometimento no crescimento profissional, e aproximadamente 50% experimentaram uma menor capacidade de trabalho devido à esta doença crônica (SPERSCHNEIDER et al., 2019). Também foi apontado uma associação entre essas problemáticas supracitadas e a fadiga e humor deprimido. Portanto, as questões de saúde são relevantes e importantes na escolha da carreira pelas mulheres com esse diagnóstico,sendo um prejuízo na satisfação profissional e acarretando problemas psicológicos com esse impedimento. Mulheres com endometriose também possuem maior dificuldade de encontrar uma maneira eficaz de explicar sua doença para colegas de trabalho. Elas se sentem mal interpretadas, como se seus amigos pensassem que elas estivessem constantemente de mau humor. Quando o que, verdadeiramente, ocorre são crises de dor e limitações notáveis devido aos sintomas, incluindo fadiga crônica e 28 sangramento intenso durante o período. Viver com endometriose significa, muitas vezes, não se sentir compreendido por outros (sem falar na falta de apoio) (FACCHIN et al., 2018; FACCHIN et al., 2017; GONZÁLEZ-ECHEVARRÍA et al., 2019). Porém, quando se trata de superiores é diferente. Geralmente estas pacientes não comunicam aos seus chefes sobre seu diagnóstico ou sintomas por diversos fatores, incluindo medo de implicações potenciais disto e, por acharem complicado discutir uma questão particular e uma condição de gênero (AERTS et al., 2018). Sabe-se que, sintomas endometrióticos possuem um impacto prejudicial na vida diária e no funcionamento físico. Entre 16 a 61% das mulheres acometidas experimentam dificuldades com mobilidade, atividade diárias e/ou cuidados pessoais. Isso se adequa também ao campo profissional, pois diminui a capacidade e produtividade no trabalho (AERTS et al., 2018). Outro dado é que entre 19 a 48% das mulheres com endometriose possuem a vida social prejudicada, com sentimentos de solidão e isolamento (AERTS et al., 2018). Isso nos leva a pensar sobre os impactos quando se trata de trabalho em grupo, uma qualidade extremamente exigida no contexto hodierno (GREENBAUM et al., 2019). Sobre educação, os estudos conflitam. Enquanto alguns relatam que essa doença afetou as notas, atividade do estudo e, até mesmo, levando à evasão escolar. Outros apontam como uma consequência de uma minoria (AERTS et al., 2018). Além disso, a capacidade reduzida de trabalhar dessas mulheres, marcada por baixa produtividade, traz um custo indireto cerca de duas vezes maior (66-75%) do que o seu custo direto de recursos na saúde e tratamento (GAMBADAURO et al., 2019; SPERSCHNEIDER et al., 2019). Esse valor total é da ordem de US $ 27.855 dólares anualmente por pessoa (LIMA FILHO et al., 2019). Outro estudo fala que o total de mulheres com endometriose geraria um gasto anual, apenas nos EUA, de cerca de US $ 78 bilhões de dólares (EVANS et al., 2019). Este impacto econômico não só afeta a vida da paciente como seu psíquico. Alguns recursos são úteis para um desempenho profissional bem-sucedido em mulheres com endometriose. Pode-se citar horários de trabalho mais flexíveis, pausas eficientes, ajustes na existência física (alternando com o home-office), a possibilidade de se deitar em intervalos e horários de descanso, banheiros próximos e uma empática e generosa política de licença médica (SPERSCHNEIDER et al., 29 2019). Exemplos assim podem tornar o trabalho um local menos estressante e até mesmo uma fonte de distração. A mulher, vencendo esse empecilho em sua vida, se sente mais valorizada, reduz sua carga econômica e melhora o seu bem-estar e autoestima. 30 5 CONCLUSÃO Os fatores desencadeadores da depressão na endometriose foram a dor, infertilidade, problemas gestacionais, dificuldades na sexualidade e em relacionamentos conjugais, questões profissionais e econômicas. A endometriose é uma doença ginecológica inflamatória, crônica e progressiva. É caracterizada pela presença ectópica semelhante ao tecido endometrial fora da cavidade uterina. A depressão é de um transtorno psiquiátrico caracterizado pela presença de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo. A endometriose influencia o processo de adoecimento da depressão devido a uma interrupção de vários domínios da vida, tais como relacionamentos íntimos, trabalho e educação. Essa combinação de múltiplos fatores não lineraes da endometriose impacta a saúde mental contribuindo sensivelmente para os altos índices depressivos nete grupo de pacientes. Este trabalho será, ainda, enviado para uma revista acadêmica de distribuição nacional na área de ginecologia para divulgar mais sobre o risco que a endometriose traz para o desenvolvimento da depressão. Essas informações oferecidas beneficiarão os médicos e outros profissionais de saúde despertando para um olhar mais holístico da paciente. As mulheres acometidas possuirão recursos informativos sobre a prevenção e poderão compreender melhor sobre sua doença. Almeja-se, também, que os responsáveis públicos se sensibilizem por esta causa disponibilizando recursos para políticas de saúde efetivas. 31 REFERÊNCIAS AERTS, Leen et al. Psychosocial impact of endometriosis: From co-morbidity to intervention. Best Practice & Research Clinical Obstetrics and Gynaecology, v. 50, p. 1-9, 2018. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento; et al., Revisão Técnica: Aristides Volpato Cordioli. et al. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. AMERICAN SOCIETY FOR REPRODUCTIVE MEDICINE. Revised classification of endometriosis: 1985. American Fertility Society: Revised American Fertility Society classification for endometriosis. Fertil Steril, v. 43, p. 351, 1986. ASHMAWI, Hazem Adel; FREIRE, George Miguel Góes. Sensibilização periférica e central. 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Arch Womens Ment Health, v. 21, p. 1–13, 2018. 34 ANEXOS 35 ANEXO A – ESTÁGIOS DA ENDOMETRIOSE Fonte: American Society For Reproductive Medicine (1986). 36 ANEXO B - CÍRCULO VICIOSO DE DOR PÉLVICA CRÔNICA E DOENÇAS MENTAIS. Fonte: Laganà et al. (2017b).
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