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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO 
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE 
FACULDADE DE MEDICINA 
 
 
 
 
 
 
REBECCA CRUZ DE MORAES RÊGO 
 
 
 
 
 
 
ENDOMETRIOSE E DEPRESSÃO: uma revisão de literatura 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Luís – MA 
2020 
REBECCA CRUZ DE MORAES RÊGO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ENDOMETRIOSE E DEPRESSÃO: uma revisão de literatura 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao 
Curso de Medicina da Universidade Federal do 
Maranhão como requisito para obtenção do grau 
de Bacharel em Medicina. 
 
Orientador: Prof. Dr. João Nogueira Neto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Luís – MA 
2020 
REBECCA CRUZ DE MORAES RÊGO 
 
 
ENDOMETRIOSE E DEPRESSÃO: uma revisão de literatura 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao 
Curso de Medicina da Universidade Federal do 
Maranhão como requisito para obtenção do grau 
de Bacharel em Medicina. 
 
 
Aprovado em:_____/_______/______ 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
____________________________________________ 
Profº. Dr. João Nogueira Neto (Orientador) 
Universidade Federal do Maranhão 
 
 
____________________________________________ 
1º Examinador 
Universidade Federal do Maranhão 
 
 
____________________________________________ 
2º Examinador 
Universidade Federal do Maranhão 
 
 
____________________________________________ 
3º Examinador 
Universidade Federal do Maranhão 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço, em primeiro lugar, a Deus, pela minha vida, por me capacitar a 
vencer todos os obstáculos e poder dizer como o Profeta Samuel “Ebenezer, até 
aqui o Senhor nos ajudou” 1Sm 7:12. 
Aos meus pais, Nelson Melo de Moraes Rêgo e Rosinete Cruz de Moraes 
Rêgo, por me apoiarem nos meus sonhos, por me fornecerem todo suporte 
necessário para adentrar, continuar e concluir o tão sonhado curso de medicina. Por 
sempre me apoiarem espiritual, financeiro e emocionalmente não importando o que 
custasse. Por sempre estarem comigo nos momentos mais difíceis quando eu 
pensava que não iria conseguir e me ajudarem a vencer quando eu me sentia fraca 
ou desanimada. Eu ofereço a eles por tudo o que fizeram na minha vida. 
Aos meus irmãos, Thiago Cruz de Moraes Rêgo e Isabella Cruz de Moraes 
Rêgo que me inspiram por sua garra, bondade e coragem. O Thiago por ter me 
auxiliado nos seus conhecimentos de Medicina da UNIFESP e nas traduções do 
inglês científico. A Isabella por me auxiliar na revisão dos textos, por me incentivar 
na produção deste TCC e por todo apoio emocional de seu “abraço da vida”. 
À minha UFMA que me abrigou e foi como uma casa para mim. Pelos seus 
aprendizados que carregarei para toda vida. Por ter me aberto tantas portas e 
oportunidades de crescimento profissional. Sou mui grata. Ao meu orientador, 
Professor Doutor João Nogueira, pela sua paciência e compreensão. 
À minha igreja, Assembleia de Deus, na figura do meu pastor José Augusto 
Gabina de Oliveira que carinhosamente sempre me chamou de Dra. Rebecca, 
sempre orou por mim e pelos meus desafios acadêmicos, me abençoando e 
provendo em grande parte meu apoio espiritual com seus conselhos e palavras. 
Ao Eduardo Pinto Araujo por me incentivar na produção deste TCC e por 
seus “puxões de orelha”. Pela sua ajuda na informática quando o meu computador 
insistia em não cooperar!! Por seu carinho e cuidado para comigo, no qual pude 
crescer muito. 
Ao meu amigo Arthur Silva Soares que se esforçou e me cobrou bastante, 
dando motivação na reta final. Ao meu amigo Ciro Bezerra Vieira que desde o 
Ensino Médio tira as minhas dúvidas e estuda comigo para as provas e trabalhos. 
Por sua prontidão e ser sempre solícito em tudo que preciso. 
Aos demais que direta ou indiretamente contribuíram para a realização de 
tudo isto: o meu “muito obrigada”! 
RESUMO 
 
INTRODUÇÃO: A endometriose é uma doença ginecológica inflamatória, crônica e 
progressiva, caracterizada pela presença ectópica de tecido endometrial funcional. 
Sua prevalência é elevada, atingindo entre 10 a 15% das mulheres em idade 
reprodutiva. Diversos estudos já observaram um aumento significativo na 
prevalência da depressão e de sintomas depressivos no caso de mulheres com 
endometriose, apontada como fator de risco elevado para a depressão. OBJETIVO: 
Esta revisão de literatura possui como objetivo central elencar os possíveis fatores 
desencadeadores da depressão na endometriose. METODOLOGIA: Trata-se de 
uma revisão de literatura de natureza integrativa e método dedutivo, composta por 
pesquisa bibliográfica explicativa, básica pura e análise qualitativa. São analisados 
25 artigos, selecionados em conformidade aos critérios de inclusão adequados ao 
estudo: artigo publicado em inglês, em revista com fator de impacto ≥ 1,5, entre 
Janeiro de 2017 e Agosto de 2019, encontrados na busca com os descritores 
“endometriosis” e “depression” nas bases de dados MEDLINE, BIRENE, CAPES e 
Google Acadêmico. RESULTADOS: Como sintoma mais frequente da 
endometriose, a Dor Pélvica Crônica (DPC) foi apontada como independente do 
grau do tecido endometriótico ou do estágio da doença em si, levando a conclusões 
de possíveis correlações entre DPC e fatores psicológicos. As pacientes com 
endometriose queixando-se de DPC apresentaram níveis acentuados de depressão, 
sendo identificado, em parte dos estudos analisados, a DPC como principal causa 
da doença psiquiátrica. Além disso, foi detectada a possibilidade de amplificação da 
dor por fatores cognitivos e emocionais. Em modelos experimentais com animais 
induzidos à endometriose, observou-se o desenvolvimento de sintomas depressivos 
e alterações significativas em importantes mecanismos neurofisiológicos, típicas de 
exames em pacientes com depressão, assim como constatou-se o estabelecimento 
de uma sensibilização central da dor. Outro resultado importante é o impacto 
psicológico considerável analisado nessas pacientes desde o início do seu 
diagnóstico devido ao elevado risco de infertilidade associado, além de possíveis 
complicações na gestação, ao constituir a endometriose fator de risco para abortos 
espontâneos e para depressão pós-parto. A depressão em pacientes com 
endometriose deve-se, ainda, aos prejuízos em sua vida sexual e em sua 
autoimagem provenientes da dispareunia. Por último, foi observado amplo ônus 
financeiro e profissional dessas mulheres, contribuindo ainda mais para o seu 
quadro depressivo potencial. CONCLUSÃO: O impacto da endometriose na saúde 
mental é o resultado da combinação de múltiplos aspectos não lineares. É, pois, 
fundamental que a mulher com endometriose seja acompanhada em um tratamento 
multidisciplinar, auxiliando-a segundo suas necessidades individuais. Seu parceiro 
também se beneficia se incluído na terapia conjunta, melhorando a qualidade de 
vida do casal. Concretiza-se, assim, o conceito atual e holístico de saúde da OMS: 
bem-estar biopsicossocial e espiritual. 
 
Palavras-chaves: Endometriose. Depressão. Dor. 
ABSTRACT 
 
BACKGROUND: Endometriosis is an inflammatory, chronic and progressive 
gynecological disease, characterized by the ectopic presence of functional 
endometrial tissue. Its prevalence is high, estimated to occur in 10-15% of women of 
reproductive age. Several studies have already reported a significant increase in the 
prevalence of depression and depressive symptoms in the case of women with 
endometriosis, identified as a high risk factor for depression. OBJECTIVE: The main 
objective of this literature review is to list the factors that can trigger depression in 
endometriosis. METHODS: This is a integrative literature review with deductive 
method, consisting of a basic explanatory literature research and a qualitative 
analyses. 25 articles are analyzed, selected in accordance with the inclusion criteria 
selected for the study: article published in English, in a journal with an impact factor ≥ 
1.5, betweenJanuary 2017 and August 2019, found after the search with the Medical 
Subject Headings "Endometriosis" and "depression" in MEDLINE, BIRENE, CAPES 
and Google Scholar databases. RESULTS: As the most frequent symptom of 
endometriosis, Chronic Pelvic Pain (CPP) was reported as independent of the extent 
of endometriotic tissue and the stage of the disease itself, leading to studies of 
possible correlation between CPP and psychological factors. The patients with 
endometriosis with CPP complaint had high levels of depression and, in some of the 
studies analyzed, CPP has been identified as the main cause of this psychiatric 
illness. Also, it was detected the possibility of pain catastrophizing, caused by 
cognitive and emotional factors. In experimental models with induced endometriotic 
animals, it was observed the development of depressive symptoms and changes in 
important neurophysiological mechanisms, typical of exams in patients with 
depression, as well as central pain sensitization was reported. Another important 
result is the psychological impact analyzed in these patients since the beginning of 
the their diagnosis due to the high risk associated with infertility, in addition to 
possible complications in pregnancy, as the endometriosis links to higher risk for 
spontaneous abortions and for postpartum depression. The depression in patients 
with endometriosis is also attributable to the damage to their sex life and self-image. 
Finally, financial and professional losses were observed, further contributing to the 
potential depressive condition of these women. CONCLUSION: The impact of 
endometriosis on mental health is the result of the combination of multiple non-linear 
aspects. It is, therefore, essential that women with endometriosis be followed up in a 
multidisciplinary treatment, helping them according to their individual needs. Their 
partners are also benefited if included in therapy, improving the couple's quality of 
life. Thus, the current and holistic concept of health of WHO is accomplished: 
biopsychosocial and spiritual well-being. 
 
Keywords: Endometriosis. Depression. Pain. 
 
 
LISTA DE ABREVITURAS E SIGLAS 
 
BIRENE - Latin American and Caribbean Center on Health Sciences 
Information 
BNDF - Fator Neutrófico Derivado do Cérebro 
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 
DPC - Dor Pélvica Crônica 
DPP - Depressão Pós-Parto 
DSM - Diagnostic and Statistical Manual 
Glra3 - Subunidade Alfa-3 do Receptor da Glicina 
GnRH - Hormônio Liberador de Gonadotrofina 
GSH - Substância Redutora Glutationa 
HPA - Hipotalâmico-Hipofisário-Adrenal 
MEDLINE - U.S. National Library of Medicine 
MPO - Mieloperoxidase 
rsfMRI - Ressonância Magnética Funcional de Repouso 
SerpinA3N - Gene Humano alfa1-antichymotripsin 
SNC - Sistema Nervoso Central 
SOD - Superóxido Dismutase 
QE - Quociente Emocional 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 8 
2 OBJETIVOS ......................................................................................................... 12 
2.1 Geral .................................................................................................................... 12 
2.2 Específicos .......................................................................................................... 12 
3 METODOLOGIA ................................................................................................... 13 
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 14 
4.1 Endometriose e Dor Pélvica Crônica ................................................................ 14 
4.1.1 Neuromodulação da Dor Crônica ......................................................................... 17 
4.2 Infertilidade e Gestação na Endometriose ....................................................... 21 
4.3 Sexualidade e dificuldade de relacionamento conjugal na 
Endometriose ...................................................................................................... 
 
23 
4.4 Aspectos profissionais e econômicos da Endometriose................................ 26 
5 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 30 
 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 31 
 ANEXOS............................................................................................................... 34 
 
8 
1 INTRODUÇÃO 
 
Endometriose é uma doença ginecológica inflamatória, crônica e progressiva 
(RAMIN-WRIGHT et al., 2018). É caracterizada pela presença ectópica de tecido 
endometrial funcional (glândula e estroma), isto é, fora da cavidade uterina, gerando 
uma resposta inflamatória e envolvendo, geralmente, estruturas pélvicas e 
abdominais. Em termos epidemiológicos, a endometriose afeta aproximadamente de 
10 a 15 por cento das mulheres (MÁRKI et al., 2017), o que corresponde a cerca de 
176 milhões de indivíduos (GONZÁLEZ-ECHEVARRÍA et al., 2019). Por ser 
estrogênio-dependente (MUCHANGA et al., 2017) acomete principalmente mulheres 
e adolescentes no menacme, ou seja, em idade reprodutiva. 
A clínica predominante é formada por sintomas de irregularidades menstruais, 
disquezia, dispareunia profunda, dismenorreia secundária, infertilidade e dor pélvica 
crônica (LIMA FILHO et al., 2019; GAO et al., 2019), sendo este último o mais 
frequente sinal clínico (GAMBADAURO et al., 2019). O quinto sinal vital é 
responsável por 80% das queixas de mulheres diagnosticadas com endometriose 
(FACCHIN et al., 2018). 
O diagnóstico baseia-se na história clínica, exame físico e exames de 
imagem. O padrão ouro e confirmatório é a videolaparoscopia (LAGANÀ et al., 
2017a) com estudo anatomopatológico do tecido, pois permite o estadiamento e 
pode ser usada como medida terapêutica. Existe uma dificuldade grande em se 
obtê-lo, que segundo Gabriella Márki et al. (2017), é feito com 3,9 a 10,4 anos após 
o início dos sintomas. Atraso este que tem um impacto negativo sobre a saúde e 
qualidade de vida. 
Segundo a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (1986), a 
endometriose é classificada em estágios de acordo com os achados 
intraoperatórios, que levam em consideração profundidade, tamanho, gravidade das 
aderências e localização dos implantes endometrióticos. Os estágios vão do I ao IV, 
onde o primeiro significa doença mínima (estágio inicial) e o quarto, doença grave, 
mais extensa e avançada. Observar tabela do Anexo A. Não existe, no entanto, 
correlação com a gravidade dos sintomas, infertilidade, prognóstico e nível de dor. A 
dor é influenciada pela localização em áreas de maior inervação e com a 
profundidade do tecido endometriótico (LAGANÀ et al., 2017b). 
 
9 
O tratamento da endometriose se divide em clínico e cirúrgico. O primeiro 
consiste em medição analgésica e tratamento hormonal principalmente com 
contraceptivos orais combinados, progestogênios e análogos do GnRH (GHAI et al., 
2020). O segundo, a videolaparoscopia, é indicado com a gravidade da 
endometriose (profunda > 5mm, endometrioma ovariano e múltiplas aderências), 
desejo de fertilidade e tratamento clínico não responsivo. Em casos de difícil manejo, 
de prole constituída e idade avançada, pode-se optar por ovariectomia bilateral com 
ou sem histerectomia. Este tem relatos de taxas de sucesso de até 75% (GHAI et 
al., 2020). 
Trabalhos recentes têm demonstrado que a depressão e a ansiedade são os 
distúrbios mais comuns associados à endometriose (LAGANÀ et al., 2017b; VAN 
BARNEVELD et al., 2019; AERTS et al., 2018). Um estudo longitudinal realizado em 
Taiwan apontou também que a endometriose é um fator de risco elevado para se 
desenvolverdepressão (LAGANÀ et al., 2017b). Em uma revisão sistemática feita 
com 27 artigos de 12 países diferentes, nos últimos 30 anos, mostrou em 24 deles 
que os níveis desta doença foram significativamente maiores entre mulheres com 
endometriose em comparação com grupo controle saudável (GAMBADAURO et al., 
2019). 
Na população geral, estima-se que 11 a 15 % dos indivíduos sofram de 
depressão maior em algum momento da vida, sendo pessoas do sexo feminino 1,5 a 
3 vezes mais propensas do que o sexo masculino (AMERICAN PSYCHIATRIC 
ASSOCIATION, 2014). Em mulheres com endometriose, as taxas de sintomas 
depressivos estão presentes em até 86,5% das enfermas (LAGANÀ et al., 2017b). 
Em um estudo do Departamento de Psicologia da Universidade de Surrey na 
Inglaterra, com 81 mulheres, 40 com endometriose e 41 com outras doenças 
ginecológicas, apontou que as primeiras tiveram maior grau de introversão 
(LAGANÀ et al., 2017b). Logo, mulheres com endometriose têm maior sintomas 
depressivos em comparação com mulheres sem endometriose. 
O DSM (Diagnostic and Statistical Manual) é um manual de diagnóstico e 
estatística de transtornos mentais criado pela Associação Americana de Psiquiatria 
em 1952. Este, por ser mais detalhado, é o mais utilizado em ambientes de 
pesquisa, sendo referência para profissionais de todo o mundo. A sua quinta edição 
traz que depressão é um transtorno psiquiátrico caracterizado pela “[...] presença de 
humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas 
10 
que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo” 
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. 155). 
Diferenciando-se entre aspectos de duração, momento e etiologia, a 
depressão se divide em transtorno disruptivo da desregulação do humor, transtorno 
depressivo maior, transtorno depressivo persistente, transtorno disfórico pré-
menstrual, transtorno depressivo induzido por substância/medicamento, transtorno 
depressivo devido a outra condição médica, outro transtorno depressivo 
especificado e transtorno depressivo não especificado. No contexto da 
endometriose, utiliza-se prioritariamente o conceito de Transtorno Depressivo Maior, 
que “[...] maior representa a condição clássica desse grupo de transtornos” 
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. 155). 
O transtorno depressivo maior é caracterizado por episódios de pelo menos 
duas semanas de duração com alterações claras no afeto, funções neurovegetativas 
e na cognição. Apresenta ainda períodos de remissão entre os episódios e é, na 
maioria dos casos, recorrente (apesar de poder ser diagnosticado com um episódio 
único). Para se diagnosticar precisa preencher os cinco critérios diagnósticos. 
Critério A: Cinco ou mais dos seguintes sintomas presentes durante o mesmo 
período de duas semanas e representam uma mudança em relação ao 
funcionamento anterior, onde pelo menos um dos sintomas seja humor deprimido (1) 
ou perda de interesse ou prazer (2): 
1 - humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por 
relato subjetivo ou por observação de outras pessoas; 
2 - perda de interesse ou prazer pelas atividades antes habitualmente 
desejadas; 
3 - alterações no apetite ou peso, sem estar de dieta; 
4 - insônia ou hipersonia quase todos os dias; 
5 - agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observado por outras 
pessoas); 
6 - fadiga ou perda de energia quase todos os dias; 
7 - sentimentos de desvalia ou culpa excessiva ou inapropriada que pode ser 
delirante; 
8 – capacidade diminuída para pensar, concentrar-se ou tomar decisões; 
9 - pensamentos recorrentes de morte, ideação suicida recorrente sem um 
plano específico, planos e tentativas de suicídio (AMERICAN 
11 
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). 
Critério B: os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou 
prejuízo funcional global. Critério C: Sintomas não se devem a efeitos fisiológicos 
diretos de uma substância ou condição médica geral. Critério D: A ocorrência do 
episódio depressivo não é mais bem explicada por outro transtorno mental. Critério 
E: Nunca houve um episódio de mania ou hipomania. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
2 OBJETIVOS 
 
2.1 Geral 
 
Elencar os possíveis fatores desencadeadores da depressão na 
endometriose. 
 
2.2 Específicos 
 
a) Conceituar e definir endometriose e depressão; 
b) Identificar de que forma a endometriose influencia o processo de 
adoecimento da depressão; 
c) Oferecer informações importantes para beneficiar pacientes, médicos e 
responsáveis pelas políticas de saúde locais; 
d) Enviar o trabalho para uma revista acadêmica de distribuição nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
3 METODOLOGIA 
 
Este trabalho é uma revisão de literatura de natureza integrativa e método 
dedutivo. Uma pesquisa bibliográfica, explicativa, básica pura, do tipo qualitativo. As 
fontes primárias foram artigos publicados em revistas científicas consultadas pelas 
bases de dados MEDLINE (U.S. National Library of Medicine), BIRENE (Latin 
American and Caribbean Center on Health Sciences Information), CAPES Periódicos 
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e Google 
Acadêmico. Os seguintes termos descritores foram utilizados: “endometriosis” e 
“depression”. 
Para seleção dos artigos, foram passados pelos seguintes critérios de 
inclusão: artigo publicado em inglês, em revista com fator de impacto maior ou igual 
a 1,5 no ano de publicação e dentro do período correspondente de Janeiro de 2017 
à Agosto de 2019. As buscas iniciaram-se no dia 31 de Julho de 2019. Procedeu-se, 
a partir de então, à análise dos resultados, selecionando-se 25 artigos na literatura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
4.1 Endometriose e Dor Pélvica Crônica 
 
A endometriose é uma das principais causas de Dor Pélvica Crônica (DPC), 
seu mais frequente sintoma. Definida como uma dor não maligna sentida na região 
pélvica com frequência constante ou recorrente em um período de seis meses 
(LAGANÀ et al., 2017b), a DPC constitui-se como o principal fator desencadeante de 
estresse em pacientes que possuem a doença (ZARBO et al., 2018). Vale ressaltar 
que a dor aparenta ser algo independente do estágio da doença. Portanto, mulheres 
com endometriose de grau leve podem apresentar dor pélvica intensa, enquanto 
mulheres com endometriose mais grave podem queixar-se de menos dor. Esse 
achado sugere que fatores psicológicos podem estar envolvidos, o que influencia a 
manifestação da dor em mulheres com endometriose (LAGANÀ et al., 2017b). 
Pacientes que sofrem de dor pélvica, com frequência, relatam altos níveis de 
ansiedade e depressão, limitações nas atividades sociais, perda de produtividade 
laboral e má qualidade de vida. 
Um estudo divulgado pela Revista Internacional de Saúde da Mulher em 2017 
comparou a prevalência de depressão entre um grupo de mulheres diagnosticadas 
com endometriose e DPC e um outro grupo de mulheres com endometriose, mas 
sem DPC. Os resultados mostraram que a depressão estava presente em 86% das 
mulheres com DPC e em 38% das que não apresentavam dor, apontando para o 
quadro de DPC como fator central desencadeador de depressão nas pacientes com 
endometriose (LAGANÀ et al., 2017b). Diante desse contexto, Low e Cols 
investigaram a possibilidade de um perfil psicológico específico associado a 
endometriose. 81 mulheres com dor pélvica foram estudadas, das quais 40 
possuíam endometriose e 41 apresentaram outros problemas ginecológicos. De 
acordo com os resultados, as pacientes com endometriose apresentaram escore 
mais altos de psicoticismo, introversão e ansiedade do que as com outras condições 
ginecológicas (LAGANÀ et al., 2017b). Assim, mulheres com endometriose e DPC 
relatammais sofrimento do que aquelas que apresentam somente DPC. 
A DPC deve ser entendida como um importante componente na endometriose 
e pode afetar significativamente a qualidade de vida da mulher e o seu bem estar 
psicológico. Ainda não está claro se é a dor que causa o sofrimento psicológico 
15 
associados a sintomas psicopatológicos, ou se simplesmente a depressão, a 
ansiedade e o sofrimento emocional determinam o aumento da percepção da dor. 
Sabe-se que ansiedade e a depressão possuem o potencial de aumentar a 
percepção da dor tanto emocional quanto cognitivamente, o que contribui para o 
grau de tolerância ao incômodo, além do fato da dor, em muitos casos, estar 
associada a emoções negativas que a pessoa tenha sofrido (LAGANÀ et al., 2017b). 
É fato que mulheres que apresentam maior nível de dor possuem uma 
qualidade de vida menor em relação àquelas que não a apresentam. No estudo 
citado comparando um grupo de mulheres com endometriose e com DPC a outro 
com endometriose e sem DPC, é constatado que a depressão estava presente em 
aproximadamente 90% das mulheres com DPC e que os sintomas que estão 
associados a depressão foram significativamente maiores nas que referiam dor, 
diminuindo assim a qualidade de vida dessas pessoas (LAGANÀ et al., 2017b). 
Outro fator que deve ser levado em consideração é a maneira como a mulher 
lida com a manifestação da dor. Em muitos casos ocorre o fenômeno “Pain 
catastrophizing”, do inglês, que significa uma reação exacerbada à dor por causas 
cognitivas negativas diversas, como uma lembrança traumática, uma emoção 
somatizada ou simplesmente por um medo compulsivo da dor (AERTS et al., 2018). 
Nesse contexto, o paciente além de possuir uma amplificação da sua dor, encontra-
se em um estado no qual seus pensamentos negativos adquirem maiores 
proporções e se tornam repetitivos, minando a crença de que a dor poderá diminuir. 
Além disso, algumas características da endometriose, como os fatos de ser uma 
doença crônica, ter um tratamento a longo prazo, gerar muito incomodo a quem a 
possui, possibilidade em gerar infertilidade, entre outros, podem intensificar a 
colaboração emocional, cognitiva, sexual e interpessoal da dor. Acrescenta-se a 
isso, também, a capacidade que altos níveis de ansiedade e depressão possuem de 
ampliar a gravidade da DPC, impactando substancialmente a saúde mental da 
mulher. Isso gera um ciclo vicioso ilustrado na figura do Anexo B. 
A dor promove, portanto, uma inter-relação entre fatores fisiológicos, 
psicológicos e sociais, com danos à paciente acometida de endometriose no seu 
estado emocional, assim como atinge a sua vida social, resultando em inevitável 
perda na sua produtividade laboral. Como tentativa de tratar esses múltiplos 
aspectos, vem sido proposto um atendimento multiprofissional, na busca de fazer 
com que a mulher com endometriose tente melhor lidar com seus sintomas. 
16 
Ademais, a dor na endometriose pode apresentar um caráter nociceptivo, 
neuropático ou uma combinação de ambos (AERTS et al., 2018), compartilhando, 
também, de outras síndromes de dor crônica, como hiperalgesia, alodinia e 
sensibilização central, o que implica diferentes abordagens terapêuticas à dor. 
Desta forma, a estreita colaboração entre os profissionais de saúde como 
médicos, ginecologistas, sexólogos, psicólogos, psiquiatras, psicoterapeutas e 
fisioterapeutas é crucial para o controle da dor, melhoria da qualidade de vida, 
prevenção da recorrência da doença, redução de danos anatômicos e preservação 
da saúde mental e da fertilidade (MÁRKI et al., 2017; AERTS et al., 2018; LAGANÀ 
et al., 2017b). 
Vale destacar que a avaliação psiquiátrica e psicológica deve ser feita no 
momento do diagnóstico como uma medida preventiva. Identificar mulheres que já 
possuam um maior risco de desenvolver sintomas depressivos e fornecer-lhes o 
apoio necessário é fundamental neste distúrbio crônico (LAGANÀ et al., 2017b). O 
objetivo deve ser reduzir o máximo possível o impacto da endometriose no bem-
estar psicológico e na qualidade de vida destas mulheres (LAGANÀ, et al., 2017b). 
Outros profissionais também são válidos e podem auxiliar grandemente como 
capelões hospitalares e nutricionistas. A espiritualidade com suas práticas de 
meditação, leitura, oração e gratidão é um recurso de enfrentamento positivo e que 
cada vez mais vem mostrando seus benefícios (ZARBO et al., 2018). A alimentação 
pode ser outro aliado também. Evitar a cafeína, alimentos pró-inflamatórios ou ricos 
em estrogênio (por ex.: soja) e conciliar uma dieta equilibrada com várias fontes de 
frutas e vegetais são estratégias para redução de sintomas endometrióticos (ZARBO 
et al., 2018). Essa abordagem holística e biopsicossocial-espiritual é essencial na 
redução da dor e no tratamento desta doença ginecológica. 
Uma prática interessante que tem mostrado resultados reduzindo o estresse e 
a dor é a milenar yoga. Sabe-se que o cortisol alto leva a um desequilibro 
neuroendócriono, contribuindo para a progressão da endometriose, aumentando a 
dor e, consequentemente, doenças psicológicas (EVANS et al., 2019). Controlar isso 
é, sem dúvida, positivo. Por gerar uma conscientização e integração da mente, 
corpo e respiração, algumas mulheres relataram que conseguiram controlar melhor 
a sua dor. Pelo formato de aulas em grupos, as pacientes do estudo também 
apresentaram uma melhora do bem-estar psicossocial. Isso é importante tendo em 
vista a tendência natural de isolamento que a doença traz (EVANS et al., 2019). A 
17 
yoga melhora ainda a qualidade do sono e sabe-se que a insônia contribui para 
maior sensibilidade à dor (EVANS et al., 2019). Portanto, essa abordagem da 
mente-corpo é uma estratégia interessante para as mulheres com endometriose. 
A endometriose é uma condição complexa na qual os fatores psicológicos 
possuem fundamental importância no manejo clínico e na eficácia do tratamento, 
principalmente no quesito da dor (LAGANÀ et al., 2017b). Portanto, esse, a fim de 
ser mais bem-sucedido e efetivo, necessita envolver uma equipe multidisciplinar 
para individualizar e auxiliar a paciente segundo às necessidades de seu caso 
particular. A saúde, para ser completa, carece de efetivar plenamente o seu conceito 
de bem-estar biopsicossocial e espiritual. 
 
4.1.1 Neuromodulação da Dor Crônica 
 
Os modelos animais possuem ímpar valor nas conclusões da fisiopatologia da 
endometriose (LIMA FILHO, et al., 2019; INVESTIGATORS AT FEDERAL…, 2019). 
A hipótese é que o modelo induzido de endometriose em ratos fêmeas gere efeitos 
neurológicos que se assemelhem aos sintomas neuropsiquiátricos humanos, 
atendo-se à dependência da variável do avanço do tempo. 
Em um estudo com ratos utilizando um modelo de endometriose induzida por 
transplante autólogo de tecido endometriótico, observou-se um aumento progressivo 
de comportamento ansioso entre 2 a 3 semanas; acompanhados de desânimo, a 
partir de 2 semanas. Os sintomas depressivos adquiriram solidez após 3 semanas 
de estudo, com a diminuição da capacidade de sentir prazer e sinais de apatia (LIMA 
FILHO et al., 2019). 
Ratas com endometriose experimental apresentaram também uma resposta 
gradual ao estresse com aumento da liberação de glicocorticoides (corticoesterona), 
especialmente quando submetidos a situações altamente desgastantes, o que 
acentuava respostas inflamatórias e a sensibilização à dor. Sabe-se, ainda, que 
indivíduos com depressão ou em alto risco de desenvolverem essa doença possuem 
maiores níveis de cortisol durante o período de recuperação de um estímulo 
estressante. Em determinado momento, até a terceira semana do experimento, 
supõe-se que o eixo Hipotalâmico-Hipofisário-Adrenal (HPA) também tenha sido 
afetado, o que é uma característica comum de pacientes acometidos de 
experiências traumáticas, ansiedade e com depressão (LIMA FILHO et al., 2019; 
18 
BEISSNER et al.,2018). 
Outros fatores que desempenham um papel crucial nessa relação da 
endometriose e depressão são as alterações neurofisiológicas hipocampais. Sabe-
se que o hipocampo representa uma área central, não somente em relação à 
formação de novas memórias como também no trauma, regulação do humor e no 
processo de transição entre dor aguda e crônica. Nesse âmbito, foi demonstrado em 
ratos com endometriose, alterações anormais na região anterior hipocampal e nas 
vias aferentes somatossensoriais ligadas ao hipocampo e as que o comunicam ao 
lóbulo da ínsula. Mudanças desse tipo também são observadas em pacientes com 
transtornos de depressão, indicando forte correlação (LIMA FILHO et al., 2019). 
Essa região anterior hipocampal, assim como a sua modulação do eixo HPA e 
suas conexões somatossensoriais, viscerosensoriais e interoceptivas com outras 
regiões cerebrais foram alvos de um ensaio clínico randomizado em mulheres com 
endometriose queixando-se de dor pélvica elevada (BEISSNER et al., 2018). 
Propôs-se psicoterapia e estimulação somatossensorial através da acupuntura para 
metade das pacientes e um grupo controle de lista de espera com as demais. Foi 
observado por meio de imagem de Ressonância Magnética Funcional de Repouso 
(rsfMRI) que as mulheres submetidas a esse tratamento possuíram modificações 
significativas nas vias neurológicas ligadas à parte anterior hipocampal, em especial 
as sub-regiões anterolateral esquerda e direita; e anteromedial direita; o que veio 
acompanhado da redução dos sintomas de depressão, ansiedade e de dor pélvica 
crônica. A razão dos níveis avaliados de dor terem abaixado não foi muito bem 
esclarecida, mas acredita-se que deva estar correlacionada com a redução da 
ansiedade durante a intervenção, responsável por direcionar a atenção a estímulos 
ou memórias de dor (BEISSNER et al., 2018). 
A estimulação sensorial potencializada com psicoterapia foi responsável pelo 
remodelamento das respostas corporais frente às emoções e memórias traumáticas, 
reduzindo sintomas de depressão e ansiedade. Outro trabalho apontou, ainda, que 
essa associação de tratamentos possibilita uma estabilidade de até 2 anos dos seus 
benefícios (AERTS et al., 2018). 
Como mostrou o estudo citado com ratos endometrióticos, essas 
perturbações neurofisiológicas devem estar, também, fortemente ligadas a um 
aumento do estresse oxidativo no hipocampo, uma vez que se observou maior 
atividade da enzima Superóxido Dismutase (SOD), marcador útil na detecção da 
19 
formação de espécies reativas ao oxigênio, e também níveis reduzidos de 
Substância Redutora Glutationa (GSH) nessa região encefálica – um desbalanço 
também comum em pacientes com depressão. Embasando ainda mais esse 
mecanismo, a enzima Mieloperoxidase (MPO), relacionada à depressão em 
humanos, foi medida em maior concentração após 3 semanas nos ratos com 
endometriose, momento em que os sintomas de diminuição da capacidade de sentir 
prazer e de apatia se consolidaram. Logo, observa-se a resposta oxidativa como 
outro potencial mecanismo desencadeador de depressão (LIMA FILHO et al., 2019). 
Por último, também deve ser ressaltada uma diminuição neurotrófica com o 
decréscimo da expressão do BDNF, principalmente notados a partir do 21º dia do 
experimento com tais ratos. Entre os prejuízos decorrentes da redução dessa 
neurotrofina inclui-se perdas na plasticidade cerebral, e no aprendizado e memória, 
uma vez que o BNDF desempenha um papel crítico na neurogênese e plasticidade 
das sinapses. Conclui-se que essa consequência da doença ocupa um espaço 
central na mudança comportamental, aliada ao estresse oxidativo, uma vez que 
menores níveis de BDNF no hipocampo contribuem para a persistência do próprio 
estresse oxidativo (LIMA FILHO et al., 2019). 
Dessa forma, nesse modelo experimental utilizando ratos com endometriose 
induzida por transplante autólogo observou-se sintomas similares aos de pacientes 
depressivos, tais como baixa ou falta da capacidade de sentir prazer, apatia, além 
de desânimo; frutos de uma hiper-reatividade da resposta a glicocorticoides, 
aumento progressivo dos marcadores do estresse oxidativo e da redução do BDNF 
no hipocampo (LIMA FILHO et al., 2019). Isolar cada um dos mecanismos, contudo, 
não se mostrou uma realidade ainda. 
O sintoma da dor pélvica crônica, por sua vez, é fundamental, se não um 
aspecto central, a ser focado na questão endometriose-depressão, frequentemente 
ocorrendo um agravamento de sua patogenia por traumas psicológicos (BEISSNER 
et al., 2018). Há estudos epidemiológicos que levantam a hipótese da dor pélvica 
crônica em si ser mais crucial no desenvolvimento de alterações neuropsiquiátricas 
do que a endometriose, por ser comum queixas de sintomas depressivos, em média, 
em metade dos pacientes com dores crônicas (LI et al., 2018). Contudo, essa 
segregação é de difícil mensuração pois ambos possuem efeitos em comum, ao 
afetar mecanismos oxidativos do sistema imunitário e mecanismos neurais similares 
(LIMA FILHO et al., 2019). 
20 
Sabe-se que a lesão tecidual derivada da endometriose, assim como 
inflamações típicas da doença resultam em uma sensibilização periférica da dor e 
em hiperalgesia após um período inicial mínimo, o que pode ser explicado mediante 
a redução do limiar da dor e pela amplificação do estímulo levado ao SNC (LIMA 
FILHO, et al., 2019; MAMILLAPALLI; GAO; TAYLOR, 2017). Por meio da sinalização 
repetida e duradoura desse estímulo periférico pode ocorrer uma adaptação ao nível 
medular com aumento da resposta aos impulsos sensoriais, descargas persistentes 
e maiores áreas sensíveis por neurônios do corno dorsal da medula, caracterizando 
uma atividade de sensibilização central. Observou-se, ainda, que respostas centrais 
do sistema nervoso podem ser desencadeadas independentemente de estímulos 
periféricos (LI et al., 2018). Isso deixa claro porque procedimentos de retirada de 
lesões ectópicas não resolveu o problema da dor em mulheres com endometriose, 
afinal “[...] a dor não é simplesmente reflexo das aferências vindas da periferia, mas 
um reflexo dinâmico de plasticidade neuronal central” (ASHMAWI; FREIRE, 2016, p. 
33). 
Nesse contexto, em outro estudo também utilizando o modelo de fêmeas de 
ratos com endometriose, foram correlacionadas sensibilização central com 
mudanças significativas na expressão de genes em regiões do SNC, algo que ainda 
pouco se sabe. Genes responsáveis por limitar eventos neuropáticos de 
sensibilização central em ratos, a exemplo do SerpinA3N, foram detectados com 
expressão reduzida na ínsula. Além disso, foi percebida uma maior atividade do 
gene Glra3, correlacionado com o processo de inflamação neurogênica e de 
sensibilização central nesses animais (LI et al., 2018). 
A ativação de mecanismos periféricos e centrais da dor, assim como as 
alterações relacionadas à expressão gênica de regiões do SNC que afetam a sua 
percepção, são, pois, fatores relevantes a serem levados em questão na intervenção 
terapêutica em prol da qualidade de vida de mulheres com endometriose, por serem 
responsáveis por uma experiência negativa ainda mais intensa de dor - um fator 
indissociável dos prejuízos emocionais e comportamentais das pacientes. 
Assim, sabendo que o sintoma da dor pélvica crônica é um aspecto 
fundamental na questão endometriose-depressão e que, frequentemente, ocorre um 
agravamento de sua patogenia por traumas psicológicos (BEISSNER et al., 2018), 
propor, portanto, métodos de tratamento similares a esse que lançou mão de 
técnicas de estimulação somatossensorial e de psicoterapia associada, deve 
21 
contribuir para esse fim de reduzir a dor pélvica crônica e sintomas associados, ao 
afetar tanto mecanismos neurais como psicológicos envolvidos. Somar isso às 
observações de uma resposta hiper-reativa ao estresse, ao aumento progressivo do 
quadro de estresse oxidativo e à redução do BDNFno hipocampo, pode elucidar 
novas estratégias de intervenção no combate à depressão em mulheres com 
endometriose. 
 
4.2 Infertilidade e Gestação na Endometriose 
 
A endometriose causa impacto psicológico já no início de seu diagnóstico. 
Quase todas as mulheres passam por uma reestruturação de seus projetos 
individuais e conjugais para o futuro, principalmente no que se refere ao 
planejamento de filhos. Essas se conscientizam de que conceber, se não 
impossível, torna-se algo muito árduo para quem possui isso como meta de vida9. 
Afetando cerca de 50 por cento das pacientes diagnosticadas3, a infertilidade é 
definida como a incapacidade de conceber após 12 meses de relações sexuais 
desprotegidas (FACCHIN et al., 2019). 
Não somente a infertilidade de fato, mas também estar ciente da possibilidade 
e risco de se tornar infértil no futuro é um grande fator associado a resultados 
psicológicos negativos. Essas mulheres se tornam tão preocupadas sobre não ser 
mãe que chegam até a afetar na sua identidade feminina, ao ponto se se verem 
como “meia-mulher” (FACCHIN et al., 2019; FACCHIN et al., 2018). Evidenciado 
pelo relato acerca da baixa percepção de valor próprio de uma paciente de 28 anos, 
com autoestima já afetada: “Eu sou apenas meia mulher” (FACCHIN et al., 2018). 
No contexto da infertilidade, a depressão está associada a processos 
psicológicos negativos como autojulgamento e vergonha, especialmente pelas 
pacientes que acreditam ser incompletas, problemáticas e que não estão suprindo 
as expectativas da sociedade. Além disso, tendem a achar que estão, socialmente, 
sendo vistas como pessoas defeituosas e inferiores. Este aspecto foi analisado em 
um estudo feito com 127 mulheres com endometriose entre idades de 19 a 51 anos, 
apontando que as pacientes que acreditavam no fato de não ter filhos poderia 
influenciar a maneira como são vistas pelos outros, relataram pior desempenho de 
saúde psíquica (especialmente mais tendenciosas à depressão) e apresentavam 
pior autoestima. As mulheres clinicamente mais angustiadas tinham maior 
22 
probabilidade em acreditar no fato de que quem não tem filhos é menos apreciada 
socialmente em comparação com quem tem prole constituída, bem como que a 
infertilidade pode influenciar negativamente a maneira como são vistas. As mesmas 
eram particularmente preocupadas com o fato de serem percebidas como inferiores 
ou problemáticas. 
Este mesmo trabalho demonstrou ainda que as participantes que tinham sido 
diagnosticadas como inférteis foram mais propensas a considerar o fato de gerar 
filhos muito importante para a sua realização pessoal e para se sentirem 
verdadeiramente completas (sentimento de completude). Experimentar esses 
sentimentos de fracasso e derrota na capacidade de conceber pode estar associado 
a sintomas depressivos. 
Além disso, um estudo prospectivo japonês mostrou que endometriose e 
problemas menstruais são fatores de risco para Depressão Pós-Parto (DPP) para as 
mulheres que conseguem desenvolver uma gestação. A hipótese do trabalho foi 
baseada na flutuação e queda de hormônios esteroides durante o parto ser fator 
causador de DPP, além da exposição à um estado hipogonadal até o retorno da 
ovulação. Essa flutuação pós-natal está relacionada com depressão, pois o 
estrogênio e a progesterona têm seus receptores cerebrais na região implicada na 
regulação emocional e cognitiva, e ambos possuem um papel mediador nas 
perturbações do humor. Essa diferença hormonal de estrogênio pode alterar a 
neurotransmissão de serotonina, levando a distúrbios de humor. Outro motivo de 
depressão no primeiro mês pós-parto estudado foi o histórico de abortos 
espontâneos que muitas vezes estão presentes nas pacientes com endometriose 
(MUCHANGA et al., 2017). 
Destarte, um diagnóstico de infertilidade dado a uma mulher em idade fértil 
pode deixá-la sentindo-se defeituosa, fora de sintonia com os demais, estigmatizada, 
bem como, zangada, frustrada, envergonhada, angustiada e triste. Ademais, a 
endometriose é um fator de risco para abortos espontâneos (RAMIN-WRIGHT et al., 
2018) e DPP (MUCHANGA et al., 2017). Todas estas experiências trazem um forte 
impacto negativo para a mulher que socialmente recebe um papel tradicional de 
gênero e que tem uma pressão externa muito forte para conceber (AERTS et al., 
2018). 
 
 
23 
4.3 Sexualidade e dificuldade de relacionamento conjugal na Endometriose 
 
Dispareunia é a dor mediante a penetração durante a atividade sexual. Ela 
ocorre em metade das pacientes com endometriose. Pode ser classificada em 
superficial (vulvodínea) e profunda, sendo esta quando a penetração leva a um 
estímulo doloroso profundamente percebido no canal vaginal ou pélvico. Esta 
experiência crônica reduz a qualidade da vida sexual e pode perturbar todos os 
aspectos da função sexual incluindo libido, excitação, orgasmo e satisfação (AERTS 
et al., 2018). 
Diversos estudos 7, 9, 18 apontam que as mulheres com endometriose e 
dispareunia sofrem com diminuição em número e qualidade de cópulas, autoestima, 
atividade e volúpia, fatores que se associam à depressão (SHUM et al., 2018; 
FACCHIN et al., 2018; AERTS et al., 2018). Muitas desenvolvem pensamentos 
negativos sobre o coito, perdendo inteiramente o interesse sexual, chegando até a 
negá-lo por completo. Elas sentem-se tão angustiadas e sem valor, que apresentam 
uma autoimagem corporal negativa, não sendo capazes de experimentar o prazer de 
sua sexualidade. O relato de uma paciente de 43 anos exemplifica bem: “Eu sinto 
que não quero ter nenhum tipo de sexo, não apenas a relação sexual, como toda a 
‘questão do sexo’” (FACCHIN et al., 2018). Um prejuízo inegável. 
Outro aspecto é que mais da metade das pacientes (66%) possuem medo de 
terem dor antes/ durante a relação sexual. Isso favorece ainda mais a esquiva 
(AERTS et al., 2018). Toda esta situação abala sensivelmente a vida conjugal, o que 
impacta, dessa maneira, negativamente o psicológico das pacientes (SHUM et al., 
2018; AERTS et al., 2018). 
Portanto, uma pior qualidade de vida em mulheres com endometriose em 
termos de desejo sexual, cognição sexual e funções orgásmicas está associada à 
depressão. Pode-se afirmar, ainda, que as pacientes com dispareunia decorrente da 
endometriose apresentam escores mais altos de depressão comparadas com 
mulheres saudáveis (AERTS et al., 2018). 
Impactantes números de uma publicação do Hospital Universitário de 
Genebra, Suíça, mostram a importância deste assunto. Segundo ele, a prevalência 
cumulativa de disfunção e sofrimento sexual em pacientes com endometriose atinge 
32% e 78% respectivamente. Essa disfunção correlaciona-se com o estágio de 
doença e o grau de dispareunia. As pacientes com dor pélvica moderada a grave 
24 
tiveram um risco 3,4 vezes maior de ter disfunção sexual em relação a quem sofre 
com uma dor leve a moderada. Mulheres no estágio III ou IV de endometriose tem 
4,4 vezes maior risco do que aquelas que estão nos estágios iniciais. Outro ponto 
evidenciado foi que a partir do diagnóstico da disfunção sexual, as pacientes 
tiveram, significativamente, menos relações por mês e maior medo de separação 
pela dispareunia em comparação com as mulheres do grupo controle (AERTS et al., 
2018). 
Um artigo de Facchin et al. (2018), mostra que quase a totalidade das 
mulheres entrevistadas responderam que a endometriose afetou seu atual 
relacionamento íntimo ou um potencial. Este relato deixa claro: 
 
A endometriose faz você perder seu valor como mulher. Você pode 
encontrar alguém que te ame e entenda, mas se em algum momento ele 
quer ter filhos, de repente você se torna um empecilho e será descartado 
como um objeto -- mulher de 45 anos de idade (FACCHIN et al., 2018, p. 
543). 
 
O estudo também apontou que a sexualidade foi a segunda maior 
preocupação (precedida somente pela infertilidade) não apenas pela dispareunia, 
mastambém pela falta geral de libido causada pelos tratamentos medicamentosos. 
Como descrito acima, a vulvodínea e dispareunia profunda afetam 
negativamente o bem-estar psicológico geral das mulheres e, também, de seus 
parceiros. Muitas lidam diariamente com a preocupação com a imagem corporal e 
sentimentos de vergonha, culpa e de baixa autoestima. A revista supracitada traz 
também esse relato que merece um espaço para exemplificar melhor: “Há muito 
tempo que estive me perguntando, talvez ele se encaixasse melhor com outra 
pessoa, alguém que não tenha os mesmos problemas que eu. Sinto-me culpada 
(mulher de 38 anos)” (FACCHIN et al., 2018, p. 543). 
Um estudo de coorte mostrou que o apoio emocional fornecido pelo parceiro 
íntimo representa um importante fator de proteção para a depressão (FACCHIN et 
al., 2017). Outro expressou que o relacionamento conjugal, familiar e de outros tipos 
sociais podem contribuir para melhorar a saúde mental da mulher assim 
diagnosticada e que o apoio, incluindo o financeiro, é fundamental (FACCHIN et al., 
2018; ZARBO et al., 2018). 
O impacto da dor crônica genital no bem-estar psicológico e sexual pode se 
estender também ao parceiro (AERTS et al., 2018). Isso pode ser evidenciado por 
25 
uma recente pesquisa qualitativa: os cônjuges de mulheres com endometriose 
acabam sofrendo e presenciando sentimentos de desamparo, frustação e raiva com 
as consequências da dor de suas parceiras. Portanto, esta doença traz 
consequências para ambos e, segundo esse estudo retrospectivo feito em 15 anos 
na cidade de Trondheim (Noruega), é o motivo para problemas sérios em 
relacionamentos para 15% das pacientes e de divórcio para 7,7% delas (AERTS et 
al., 2018). 
Outro ponto abordado é que de acordo com a resposta masculina a este 
momento de dor pode-se modular esta experiência sensitiva. Respostas solícitas 
com demonstrações de simpatia, compreensão e incentivo no enfrentamento deste 
problema conjugal podem não só diminuir a sintomatologia como também, estarem 
associadas a uma maior satisfação sexual feminina. O contrário também é real. 
Hostilidade e demonstrações de raiva no ambiente familiar estão associadas a níveis 
mais altos de dispareunia. Percebe-se, então, que o contexto no qual a dor é 
experimentada, importa. Como as pacientes e seus parceiros pensam, sentem, se 
comunicam e se adaptam sobre a influência dessa dor, contribui, diretamente, para 
reduzir a intensidade e manter um relacionamento e uma vida sexual saudáveis 
(AERTS et al., 2018). 
Pode-se abstrair, a partir de então, uma intervenção no campo psicossexual. 
Os principais pontos trazidos pelo artigo são: 
1) ajudar as pacientes e seus parceiros a verem a dor genital crônica como 
um problema multidimensional influenciado por diversos fatores incluindo 
seus próprios pensamentos, comportamentos, emoções e interações; 
2) modificar esses fatores com enfrentamento adaptativo e diminuindo a 
intensidade da dor; 
3) melhorar a qualidade do funcionamento sexual – incluindo desejo sexual 
que muitas vezes é diminuído nesta população – e desenvolver uma 
atitude mais positiva para outras atividades sexuais prazerosas; 
4) trabalhar o medo da dor para reduzir a esquiva da intimidade física entre o 
casal (AERTS et al., 2018). 
 
Incluir o parceiro na terapia é, portanto, bastante recomendado devido aos 
fatores interpessoais envolvidos na dor genital (AERTS et al., 2018). A abordagem 
centrada no casal é mais focada e individualizada na problemática vivida no 
26 
relacionamento. É a forma que melhor lida com os sintomas vividos a dois, fazendo 
com que o casal aprenda a lidar com a dor (sintoma mais prejudicial no 
relacionamento), objetivando suas preferências e prioridades e trazendo sua 
resolução. O processo de tratamento dessa forma é mais acelerado, com menor 
resistência e mais persistente (AERTS et al., 2018). 
É válido destacar também que o tratamento adequado e efetivo da 
endometriose em si (seja clínico ou cirúrgico) pode melhorar a saúde mental (SHUM 
et al., 2018). Pesquisas apontam que a cirurgia radical diminui os níveis de 
depressão e melhora a atividade sexual das pacientes (LAGANÀ et al., 2017b). A 
cirurgia laparoscópica, por sua vez, está associada a uma melhor qualidade de vida 
e bem-estar emocional. Portanto, o manejo adequado no tratamento é 
imprescindível para maximizar a intervenção em cada caso de endometriose. 
Percebe-se, a partir de então, que a saúde física, mental, social e sexual está 
fortemente inter-relacionada. A endometriose é uma doença incapacitante (LAGANÀ 
et al., 2017b). e que pode afetar todos os aspectos do bem-estar sexual (AERTS et 
al., 2018). Portanto, é importante desenvolver a qualidade de inteligência emocional 
para se obter um relacionamento mais saudável e estável dentro do contexto da 
endometriose. Conceitua-se aqui inteligência emocional como: “[...] habilidade de 
estar consciente das próprias emoções e das de outrem; capaz de descriminar cada 
tipo e de as regular; e usar a informação para guiar o seu pensamento e suas ações” 
(ZARBO et al., 2018, p. 2). Dessa forma, a habilidade, também chamada de 
Quociente Emocional (QE), evidencia um benefício para várias esferas da vida. 
 
4.4 Aspectos profissionais e econômicos da Endometriose 
 
Um ponto também visto na literatura foi de que a endometriose causa 
prejuízos econômicos e profissionais. Estes corroboram com o aumento do dano 
psicológico e consequentemente, a depressão. 
Os sintomas da doença estudada, mas principalmente a dor pélvica crônica 
(GAMBADAURO et al., 2019; SPERSCHNEIDER et al., 2019) trazem um impacto 
negativo na qualidade de vida e produtividade no trabalho (RAMIN-WRIGHT et al., 
2018; FACCHIN et al., 2017; GONZÁLEZ-ECHEVARRÍA et al., 2019; AERTS et al., 
2018; LAGANÀ et al., 2017b). Estes limitam a capacidade de trabalhar da paciente 
(GREENBAUM et al., 2019), o que pode resultar em um aumento da carga socio-
27 
econômica (GHAI et al., 2020). 
Um estudo feito na Suíça, Alemanha e Áustria (SPERSCHNEIDER et al., 
2019), observou que 89,8% das pacientes com endometriose sofreram com a perda 
de produtividade no trabalho devido a doença. Foi evidenciado que 65,1% das 
mulheres relataram forte/ muito forte limitação quando os sintomas eram graves e 
75,3% com mínimos sintomas. O tempo médio de perda no trabalho relatado por 
505 mulheres do artigo foi de 4,4 a 7,4 horas semanais. Estes números mostram o 
impacto causado e as limitações impostas a esta área de vida, contribuindo para 
maiores índices depressivos no meio elucidado. Outrossim, algumas mulheres 
(16,2%) chegam até a pedir demissão ou mudar de emprego, devido a sua 
incapacidade física ou ao excesso de despesas com licenças médicas 
(SPERSCHNEIDER et al., 2019; AERTS et al., 2018). 
Sobre as licenças, a sua frequência e a produtividade reduzida no local de 
trabalho podem trazer maior pressão para continuar o desempenho produtivo total e 
colocar essas mulheres sob forte observação, o que aumenta sua cobrança, tensão 
psicológica e sentimentos de culpa (SPERSCHNEIDER et al., 2019). 
A pesquisa também apontou que mulheres com endometriose foram menos 
capazes de trabalhar na profissão desejada e tiveram que tomar medidas que 
limitaram suas decisões de carreia por conta da saúde em grau significativamente 
mais alto, em comparação com as mulheres saudáveis do grupo controle 
(SPERSCHNEIDER et al., 2019). O artigo mostrou o seguinte: cerca de 40% das 
mulheres com endometriose relataram um comprometimento no crescimento 
profissional, e aproximadamente 50% experimentaram uma menor capacidade de 
trabalho devido à esta doença crônica (SPERSCHNEIDER et al., 2019). Também foi 
apontado uma associação entre essas problemáticas supracitadas e a fadiga e 
humor deprimido. Portanto, as questões de saúde são relevantes e importantes na 
escolha da carreira pelas mulheres com esse diagnóstico,sendo um prejuízo na 
satisfação profissional e acarretando problemas psicológicos com esse 
impedimento. 
Mulheres com endometriose também possuem maior dificuldade de encontrar 
uma maneira eficaz de explicar sua doença para colegas de trabalho. Elas se 
sentem mal interpretadas, como se seus amigos pensassem que elas estivessem 
constantemente de mau humor. Quando o que, verdadeiramente, ocorre são crises 
de dor e limitações notáveis devido aos sintomas, incluindo fadiga crônica e 
28 
sangramento intenso durante o período. Viver com endometriose significa, muitas 
vezes, não se sentir compreendido por outros (sem falar na falta de apoio) 
(FACCHIN et al., 2018; FACCHIN et al., 2017; GONZÁLEZ-ECHEVARRÍA et al., 
2019). 
Porém, quando se trata de superiores é diferente. Geralmente estas pacientes 
não comunicam aos seus chefes sobre seu diagnóstico ou sintomas por diversos 
fatores, incluindo medo de implicações potenciais disto e, por acharem complicado 
discutir uma questão particular e uma condição de gênero (AERTS et al., 2018). 
Sabe-se que, sintomas endometrióticos possuem um impacto prejudicial na 
vida diária e no funcionamento físico. Entre 16 a 61% das mulheres acometidas 
experimentam dificuldades com mobilidade, atividade diárias e/ou cuidados 
pessoais. Isso se adequa também ao campo profissional, pois diminui a capacidade 
e produtividade no trabalho (AERTS et al., 2018). Outro dado é que entre 19 a 48% 
das mulheres com endometriose possuem a vida social prejudicada, com 
sentimentos de solidão e isolamento (AERTS et al., 2018). Isso nos leva a pensar 
sobre os impactos quando se trata de trabalho em grupo, uma qualidade 
extremamente exigida no contexto hodierno (GREENBAUM et al., 2019). 
Sobre educação, os estudos conflitam. Enquanto alguns relatam que essa 
doença afetou as notas, atividade do estudo e, até mesmo, levando à evasão 
escolar. Outros apontam como uma consequência de uma minoria (AERTS et al., 
2018). 
Além disso, a capacidade reduzida de trabalhar dessas mulheres, marcada 
por baixa produtividade, traz um custo indireto cerca de duas vezes maior (66-75%) 
do que o seu custo direto de recursos na saúde e tratamento (GAMBADAURO et al., 
2019; SPERSCHNEIDER et al., 2019). Esse valor total é da ordem de US $ 27.855 
dólares anualmente por pessoa (LIMA FILHO et al., 2019). Outro estudo fala que o 
total de mulheres com endometriose geraria um gasto anual, apenas nos EUA, de 
cerca de US $ 78 bilhões de dólares (EVANS et al., 2019). Este impacto econômico 
não só afeta a vida da paciente como seu psíquico. 
Alguns recursos são úteis para um desempenho profissional bem-sucedido 
em mulheres com endometriose. Pode-se citar horários de trabalho mais flexíveis, 
pausas eficientes, ajustes na existência física (alternando com o home-office), a 
possibilidade de se deitar em intervalos e horários de descanso, banheiros próximos 
e uma empática e generosa política de licença médica (SPERSCHNEIDER et al., 
29 
2019). Exemplos assim podem tornar o trabalho um local menos estressante e até 
mesmo uma fonte de distração. A mulher, vencendo esse empecilho em sua vida, se 
sente mais valorizada, reduz sua carga econômica e melhora o seu bem-estar e 
autoestima. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
5 CONCLUSÃO 
 
Os fatores desencadeadores da depressão na endometriose foram a dor, 
infertilidade, problemas gestacionais, dificuldades na sexualidade e em 
relacionamentos conjugais, questões profissionais e econômicas. 
A endometriose é uma doença ginecológica inflamatória, crônica e 
progressiva. É caracterizada pela presença ectópica semelhante ao tecido 
endometrial fora da cavidade uterina. 
A depressão é de um transtorno psiquiátrico caracterizado pela presença de 
humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas 
que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo. 
A endometriose influencia o processo de adoecimento da depressão devido a 
uma interrupção de vários domínios da vida, tais como relacionamentos íntimos, 
trabalho e educação. Essa combinação de múltiplos fatores não lineraes da 
endometriose impacta a saúde mental contribuindo sensivelmente para os altos 
índices depressivos nete grupo de pacientes. 
Este trabalho será, ainda, enviado para uma revista acadêmica de distribuição 
nacional na área de ginecologia para divulgar mais sobre o risco que a endometriose 
traz para o desenvolvimento da depressão. Essas informações oferecidas 
beneficiarão os médicos e outros profissionais de saúde despertando para um olhar 
mais holístico da paciente. As mulheres acometidas possuirão recursos informativos 
sobre a prevenção e poderão compreender melhor sobre sua doença. Almeja-se, 
também, que os responsáveis públicos se sensibilizem por esta causa 
disponibilizando recursos para políticas de saúde efetivas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
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34 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANEXOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
ANEXO A – ESTÁGIOS DA ENDOMETRIOSE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: American Society For Reproductive Medicine (1986). 
 
 
36 
ANEXO B - CÍRCULO VICIOSO DE DOR PÉLVICA CRÔNICA E DOENÇAS 
MENTAIS. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Laganà et al. (2017b).

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