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• Imaginem que viajavam para uma Ilha deserta. Se só pudessem levar 5 coisas convosco, para representar quem são, o que levariam? • O que simboliza cada objeto? • Porquê? Exercício A importância do Self As Identidades Sociais Questões 1. Como é que o conceito de pessoalidade varia de sociedade para sociedade? 2. Como é que as sociedades distinguem os indivíduos uns dos outros? 3. Como é que os indivíduos aprendem quem são? 4. Como é que os indivíduos comunicam as suas identidades uns aos outros? 5. Como é que os indivíduos defendem as suas identidades quando são ameaçadas? 4. Como é que os indivíduos comunicam as suas identidades uns aos outros? 4. Como é que os indivíduos comunicam as suas identidades... • No livro “As viagens de Gulliver” de Jonathan Swift há um episódio no qual falam a Gulliver sobre um experiência que está a ser conduzida na Academia de Lagado... • O objetivo era abolir as palavras. • De muitas formas as nossas interações com os outros são muito semelhantes às das pessoas de Lagado. • Também nós comunicamos usando coisas para fazer afirmações acerca da nossa identidade – quem pensamos ser ou quem gostaríamos de ser. 4. Como é que os indivíduos comunicam as suas identidades... • As roupas que usamos, as coisas que temos e as pessoas com as quais nos associamos são usadas de modo a demonstrar uma identidade que pensamos ter, ou que desejamos. • Por exemplo, se o género for usado como critério de distinção entre indivíduos tem de haver uma forma dessa distinção ser evidenciada para ser “lida” pelos outros. 4. Como é que os indivíduos comunicam as suas identidades... • Exemplo: – Homens na Nova Guiné (peças ornamentais); – Europa do século XVII (coquilha); – África (penteados); – América (casacos). • As pessoas sinalizam a sua ligação a outros dando as mãos, usando anéis ou comendo e bebendo juntas. 4. Como é que os indivíduos comunicam as suas identidades... • Um dos trabalhos de maior influência na história da antropologia é um livro de Marcel Mauss, intitulado “Ensaio sobre a dádiva” (The Gift); • Mauss identifica aquilo a que chama o princípio da reciprocidade. • O dar e o receber de presentes. 4. Como é que os indivíduos comunicam as suas identidades... • O seu ponto fulcral é que os presentes, que em teoria são voluntários, desinteressados e espontâneos são de facto obrigatórios. • A dádiva de um presente cria um laço com a pessoa que o recebe e que, numa futura ocasião, é obrigada à reciprocidade. • Para Mauss o importante não é o presente mas sim a relação que é criada ou mantida pela oferta. 4. Como é que os indivíduos comunicam as suas identidades... • Os tipos de coisas dadas e recebidas sinalizam as identidades dos participantes na troca e o tipo de relação que existe entre eles. • Se os presentes forem, em geral, de valor semelhante a relação é uma de igualdade. • Mas se os presentes forem de diferentes valores a pessoa que oferece o presente de maior valor é normalmente de estatuto superior ao recetor. 4. Como é que os indivíduos comunicam as suas identidades... • Um exemplo muito conhecido na literatura antropológica da oferta de presentes é o dos habitantes das Ilhas Trobiand - o anel kula. • Os presentes circulam entre parceiros de trocas comerciais de diferentes ilhas. • Os habitantes deixam as suas casas nas ilhas ao largo da costa oriental da Nova Guiné e viajam de ilha em ilha, para fazer visitas e trocas comerciais. 4. Como é que os indivíduos comunicam as suas identidades... • Os presentes são colares de conchas vermelhas e braçadeiras de conchas brancas. – Os presentes não são guardados; – Há um padrão na transmissão dos presentes; – Os colares viajam no sentido do relógio; – As braçadeiras nos sentido oposto; – Podem levar 2 a 10 anos a completar o ciclo. 4. Como é que os indivíduos comunicam as suas identidades... • O anel kula serve como uma representação concreta dos laços entre indivíduos. • Uma alteração no padrão reflete uma alteração na natureza dos laços sociais. • Presentes individuais também circulam. • Mas não são transmitidos logo nem guardados demasiado tempo. 4. Como é que os indivíduos comunicam as suas identidades... • Outro exemplo famoso é a cerimónia potlatch das pessoas do noroeste da América do Norte. • Entre os Gitksan a potlatch é um banquete num funeral. – Um nome fica livre. – Os Gitksan estão organizados em clãs ou casas patrilineares. 4. Como é que os indivíduos comunicam as suas identidades... – Na competição por um nome importante ganha quem com mais riqueza contribuir para o potlatch ou banquete funerário. – Esta cerimónia é também usada para limpar um nome. – O banquete potlatch faz mais do que permitir que um Gitksan obtenha um novo nome ou identidade. – Simbolicamente reorganiza e revalida os nomes, logo, as posições sociais. – Os membros da casa da pessoa que faleceu normalmente são os anfitriões da cerimónia. 4. Como é que os indivíduos comunicam as suas identidades... – Comparecem todos os membros da casa do pai da pessoa que faleceu. – É-lhes oferecido o banquete pelos serviços prestados (preparação do corpo, da cova, etc.). – São sentados de acordo com a sua hierarquia. – Por vezes erros são cometidos e têm de ser compensados. – Depois os presentes são oferecidos. – Ou seja, a ordem e o valor dos presentes anunciam publicamente a posição social ou identidade de cada convidado. 4. Como é que os indivíduos comunicam as suas identidades... • As trocas que simbolizam reconhecimento ou identidades não estão limitadas aos bens materiais. • Podem consistir em emoções ou sentimentos. • Os havaianos, por exemplo, definem a identidade desejada em parte pela expressão da sua hospitalidade e gregarismo (socialização). 4. Como é que os indivíduos comunicam as suas identidades... • As qualidades emocionais das relações de uma pessoa são um critério pelo qual os outros a julgam, interagem com ela e respondem a essa pessoa. • Aceitar ou negar a hospitalidade é importante na manutenção das relações. • Os havaianos tentam manter os caminhos sociais desimpedidos pelas trocas altruístas de amor (aloba), sinceridade, sentimentos (com o coração: na`au) e calor humano (pumebana). 4. Como é que os indivíduos comunicam as suas identidades... 4.1 Presentes e mercadorias • Uma das características mais importantes do anel kula e do potlatch é que estas trocas têm uma história. • Um habitante das Ilhas Trobiand que recebeu um colar ou uma braçadeira sabe a história do objeto desde a sua criação até quem o possuiu. • Estes bens são relíquias na nossa sociedade. • O vestido ou o anel de noiva que passa de geração em geração, o relógio do tetra-avô, etc. • A oferta destes presentes vem com uma história que faz parte não só da nossa identidade mas também da identidade de quem oferece. • Esta oferta diz algo sobre a relação entre as duas pessoas. 4.1 Presentes e mercadorias • O mesmo se aplica a presentes feitos pela pessoa que oferece. • Têm um significado que se extende para além do objeto. • Algo feito é melhor que algo que simplesmente compramos. • No entanto, na maior parte das vezes, temos de escolher um presente entre milhares de peças produzidas massivamente, e altamente impessoais. 4.1 Presentes e mercadorias • Estamos perante um dilema. • James Carrier escreveu um livro intitulado “Gifts And Commodities: Exchange And Western Capitalism Since 1700”. • Neste livro o autor afirma que desde os séculos XVI e XVII que a produção e distribuição de bens se tornou impessoal. 4.1 Presentes e mercadorias • A difusão do capitalismo industrial e comercial significou a alienação dos objetos e das relações. • Anteriormente as mercadorias eram personalizadas de diversas formas. • A relação entre produtor e/ou vendedor dos bens era pessoal, entre familiares ou amigos. 4.1 Presentes e mercadorias •O comprador conhecia a pessoa que fez e a pessoa que lhe vendeu o objeto. • Mesmo quando as lojas começaram a surgir e a substituir os mercados e as trocas domésticas: – O comprador conhecia o vendedor. – A embalagem era personalizada. – O crédito era importante. – Os olhares cruzavam-se. 4.1 Presentes e mercadorias • Carrier chama aos bens que não têm nenhum significado especial mercadorias. • Distingue-as assim daquilo que ele chama posses. • Os presentes, de acordo com ele, devem ser posses antes de adquirirem um significado na troca. 4.1 Presentes e mercadorias • As mercadorias envolvem a tranferência de valor e uma contra-transferência. • Mas numa oferta de presentes uma ligação mais ou menos permanente é estabelecida entre a pessoa que dá e a pessoa que recebe. • Os presentes são inalienáveis – ligados à pessoa após a sua oferta; as mercadorias são independentes do seu vendedor (ou produtor). 4.1 Presentes e mercadorias • É fácil destruir, devolver ou voltar a dar uma mercadoria. • Fazer algo com um presente é um dilema. • O contraste entre mercadoria e presente coloca um problema único. • A maior parte dos presentes que ofertamos são mercadorias produzidas em massa, compradas em lojas. 4.1 Presentes e mercadorias • A sua história é breve e indistinguível. – São coisas, normalmente, produzidas noutro país por alguém que recebe um dólar por hora. – São coisas produzidas num país, enviadas para um armazém, vendidas por catálogo, etc. – São mercadorias e não presentes. – O seu significado prende-se com o valor ou a utilidade, na sua materialidade. – Um presente não tem preço, a sua materialidade é imaterial. 4.1 Presentes e mercadorias • Para Carrier o problema é como, num mundo cheio de mercadorias impessoais e alienadas – bens sem história -, podemos tornar estas coisas em algo pessoal, com significado e história, em posses que carregam algo da identidade do comprador. • Como atribuir-lhes uma relação, uma ligação? 4.1 Presentes e mercadorias • Segundo Carrier transformamos mercadorias em posses através de um processo de apropriação. – Um quarto numa residência. – Comida que cozinhamos. – Um carro igual aos outros... • O comprador sábio escolhe o que é apropriado para ele ou para a pessoa a quem vai oferecer. 4.1 Presentes e mercadorias • Os produtores e os vendedores tentam fazer isto atribuindo uma identidade distinta aos seus produtos. – Algo artesanal. – O apoio ou aprovação de uma celebridade. – Uma etiqueta com a história do produto ou do produtor. – A ligação de um produto a uma personagem histórica. – Etc. 4.1 Presentes e mercadorias • O dilema de transformar mercadorias em posses toma uma maior dimensão no Natal. • O Natal, como o conhecemos, não emergiu até ao auge da revolução industrial. – Anteriormente festejava-se o Ano Novo com um banquete que os superiores ofertavam àqueles que de si dependiam. – Nos anos de 1770, em Nova Iorque, começou a festejar-se o 6 de dezembro, dia de São Nicolau. 4.2 A oferta de presentes e o Natal na América – Esta celebração era algo até anti-natal. – São Nicolau era Holandês e os americanos celebravam o seu dia em protesto contra o governo britãnico daquela que anteriormente era a Nova Amsterdão. – Em 1809 São Nicolau transforma-se no Pai Natal e começa a dar presentes a crianças. – Em 1823 um poema de Clement Moore (Twas the night before Christmas) torna-se popular e move a festa para o fim do ano. 4.2 A oferta de presentes e o Natal na América – As crianças começam então a receber presentes em vez de comida. – Mas o Natal ainda era largamente festejado no dia de Ano Novo. – Um conto de Charles Dickens (Um conto de Natal) em 1843 foi uma sensação imediata. – Em 1865 o Natal torna-se feriado. – Em 1862 surge a imagem do Pai Natal na sua contrução moderna na Harper’s Weekly. – Nos anos de 1880 os escritores já se queixavam da comercialização do Natal. 4.2 A oferta de presentes e o Natal na América • A maior parte dos cientistas sociais concorda que o Natal é maioritariamente uma celebração da família. – Serve em especial para distinguir o mundo da família do mundo exterior do trabalho. – Afirma a identidade dos americanos como membros de um grupo familiar específico. – O círculo de parentes com quem os presentes são trocados define as fronteiras da família. 4.2 A oferta de presentes e o Natal na América – Um estudo mostrou que 90% dos presentes são trocados entre membros da família. – Mais, muitos dos bens trocados fora da família não se qualificam ao nome de presentes. – Nestas situações não há preocupação com a reciprocidade. – No Natal o importante é a família pois o mundo “lá fora” é cruel. – Assim, o “amigo invisível” ou a oferta de brindes típicas do Natal das empresas não são ofertas de presentes pois não há apresentação da prenda. 4.2 A oferta de presentes e o Natal na América • Assim, é dentro da família que o Natal se revela importante. • Logo, o presente deve conter algo da biografia da pessoa, ou da história da relação. • O presente deve ser uma posse e não uma mercadoria. • Mas este, aparentemente, não é um dilema novo. 4.2 A oferta de presentes e o Natal na América • Já em meados do século XIX as lojas tentavam convencer os compradores a levar os seus bens anunciando-os como sendo de um stock especial de Natal. • Hoje as decorações natalícias, a música, as atrações especiais(como o Pai Natal), etc., transformam os bens de todo o ano em presentes de Natal imbuíndos no espírito da época. 4.2 A oferta de presentes e o Natal na América • Mas há outras formas pelas quais os consumidores tentar apropriar-se das mercadorias transformando-as em presentes: – Primeiro, afirmamos a natureza imaterial do presente dizendo: é a intenção que conta; – Segundo, compramos coisas que não são utéis, superficiais e luxuosas ou coisas específicas do Natal; – Terceiro, a regra do embrulho. Os presentes de Natal devem ser embrulhados. 4.2 A oferta de presentes e o Natal na América • Finalmente, de acordo com Carrier, há um outro pormenor: o tempo que dedicamos a encontrar o presente certo para a pessoa. • Porque fazemos isto? • As pessoas queixam-se do materialismo do Natal mas um número enorme de compras é feito em novembro e dezembro. 4.2 A oferta de presentes e o Natal na América • Carrier sugere que isto acontece porque o processo de compra transforma-se num processo de apropriação. • Transformamos a mercadoria num presente escolhendo por entre milhares de bens disponíveis. • Também demonstra que as pessoas podem criar um mundo familiar de amor fora das mercadorias impessoais que inundam o mundo. 4.2 A oferta de presentes e o Natal na América • No Natal os americanos transformam um mundo de dinheiro num mundo de família e amor. • É um tempo de contraste entre o mundo impessoal das mercadorias e o mundo pessoal das posses e dos presentes. 4.2 A oferta de presentes e o Natal na América 5. Como é que os indivíduos defendem as suas identidades quando são ameaçadas? 5. Como é que os indivíduos defendem as suas identidades... • Ao definirem-se a si mesmas e aos outros as pessoas podem por vezes dicordar acerca das suas posições relativas no mapa social. • Discordam das suas respetivas identidades. • Anthony Wallace e Raymond Fogelson intitulam estas situações de lutas de identidade. • Estas lutas são interações nas quais há uma discrepância entre a identidade que uma pessoa diz possuir e a identidade que lhe é atribuída por outros. 5. Como é que os indivíduos defendem as suas identidades...
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