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1ª edição Ecopedagogia Francisco Carlos Franco EQUIPE DE PRODUÇÃO CORPORATIVA Av. Francisco Rodrigues Filho, 1233 - Mogilar CEP 08773-380 - Mogi das Cruzes - SP Gerência: Adriane Aparecida Carvalho Coordenação de Produção: Diego de Castro Alvim Coordenação Pedagógica: Karen de Campos Shinoda Equipe Pedagógica: Graziela Franco, Rúbia Nogueira Coordenação Material Didático: Michelle Carrete Revisão de Textos: Adrielly Rodrigues, Aline Gonçalves Diagramação: Amanda Holanda, Douglas Lira, Nilton Alves Ilustração: Everton Arcanjo Impressão: Grupo VLS / Gráfica Cintra Imagens: Fotolia / Freepik / Acervo próprio Os autores dos textos presentes neste material didático assumem total responsabilidade sobre os conteúdos e originalidade. Proibida a reprodução total e/ou parcial. © Copyright Braz Cubas 2017 1ª edição 2020 Sumário Apresentação 5 O Professor 7 Introdução 9 1Unidade I 1O mundo atual e a sustentabilidade 11 1.1 O mundo contemporâneo 11 1.2 Sustentabilidade e desenvolvimento 18 Referências da unidade I 24 2Unidade II 2Educação Ambiental 25 2.1 As reações aos dilemas socioambientais e a educação 25 2.1.1 Evolução do debate ambiental 26 2.2 A Carta da Terra 30 Referências da unidade II 34 3unidade III 3A Ecopedagogia 35 3.1 Conceito de Ecopedagogia 36 3.2 A Cidadania Planetária 39 3.3 A educação cidadã 41 Referências da unidade III 48 4unidade IV 4Princípios para uma ação pedagógica em Ecopedagogia 49 4.1 A interdisciplinaridade e a transversalidade 53 4.2 Os Parâmetros Curriculares e os Temas Transversais 56 4.3 Possibilidades pedagógicas 63 Referências da unidade IV 66 5unidade V 5O homem e a natureza 67 5.1 A Terra é uma unidade única 67 5.2 O ser humano é parte da natureza 69 Sumário 5.3 Reciclagem 76 5.4 Coleta seletiva 78 5.5 Outras formas de poluição 82 Referências da unidade V 83 6unidade VI 6Novos caminhos - desafios do homem 85 6.1 Aprender a viver juntos 86 6.2 Aprender a cuidar de todos 89 Referências da unidade VI 95 5 Apresentação Olá! Seja bem-vindo(a) à disciplina de Ecopedagogia. Estaremos juntos nessa jornada pensando sobre nosso papel no mundo como seres viventes e como futuros professores que ensinarão nossas crianças a ver o planeta Terra de uma nova forma. É muito importante que você se dedique às leituras e às vídeoaulas com afinco, utilizando ao máximo seu material de estudo. A temática que discutiremos é muito importante para a compreensão e a reflexão sobre os caminhos que a humanidade vem trilhando e de como podemos cuidar do nosso planeta de uma forma mais sustentável e que faça com que todos os seres viventes sejam importantes e possam continuar a partilhar da vida na Terra. Nosso trabalho estará pautado no objetivo da disciplina de Ecopedagogia,que é: 9 Contribuir para o desenvolvimento de valores, habilidades, atitudes e competências pautadas nos princípios da sustentabilidade e para a com- preensão das relações estabelecidas entre os indivíduos, a sociedade e a natureza, entendendo o ambiente em suas dimensões – social, política, cultural, ética e ecológica. Para isso, as discussões irão girar em torno de assuntos que tratem do conheci- mento sobre a finitude do Planeta Terra, da utilização de metodologias diferenciadas pautadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais e nos temas transversais da susten- tabilidade e da globalização. Durante o percurso,indicarei leituras complementares e vídeos disponíveis na internet muito interessantes e que serão importantes para a compreensão dos assuntos tratados, não deixe de lê-los ou assistí-los, pois eles terão um papel de escla- recimento sobre os assuntos tratados e de aprofundamento para a sua formação, além de fazer parte do conteúdo das avaliações. Vamos juntos! 6 Apresentação Objetivos da disciplina: • Contribuir para o desenvolvimento de valores, habilidades, atitudes; • Desenvolver competências pautadas nos princípios da sustentabilidade; • Incentivar a compreensão das relações estabelecidas entre os indi- víduos, a sociedade e a natureza; • Apresentar o ambiente em suas dimensões – social, política, cultural, ética e ecológica. Competências e habilidades da disciplina: • Reconhecimento da globalização como elemento dificultador para um mundo sustentável; • Compreensão do sentido da Cidadania Planetária e sua relação com a saúde do planeta; • Reconhecimento do potencial transformador e inovação pedagó- gica pautada na Ecopedagogia ou na Pedagogia da terra; • Planejamento e o desenvolvimento de situação de aprendizagem que possam atender aos princípios da cidadania planetária, da sustentabilidade e da Ecopedagogia. 7 O Professor Prof. Francisco Carlos Franco Doutor e mestre em Educação: Psicologia da Educa- ção pela Pontifícia Universidade Católica – PUC de São Paulo. Atualmente, é professor do Programa de Mestrado em Políticas e no curso de Pedagogia. É au- tor e coautor de livros e artigos sobre educação e cul- tura em instituições de educação formal e não formal e sobre formação de professores. Introdução O desenvolvimento sustentável tem um componente educativo formidável: a preservação do meio ambiente depende de uma consciência ecológica e a formação da consciência depende da educação. É aqui que entra em cena a ecopedagogia. Ela é uma pedagogia para a promoção da aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida cotidiana (GADOTTI, 2000, p. 79). Começamos aqui nossa jornada em busca de compreender a importância de uma educação para todos e que tenha como objetivo a sustentabilidade, no sentido de garantir a sobrevivência do planeta e de todos os seres nele viventes de uma forma ética e justa. Não se trata apenas de pensar em sustentabilidade dentro de uma perspectiva isolada, mas de pensar sobre ela atrelada a um mundo justo, ético, que promova condições de igualdade e como já disse Leonardo Boff, não é possível ter um mundo ecologicamente equilibrado sem justiça social. A Ecopedagogia é um conceito ainda em construção e pode ser melhor defi- nido como um movimento educacional do que uma teoria da educação. No Brasil, podemos considerar o Instituto Paulo Freire como o maior centro de estudos sobre Ecopedagogia. Foi a partir do Fórum Global 92, evento que ocorreu no Rio de Janeiro, paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, que o conceito e fundamentos da Ecopedagogia come- çaram a ter destaque. Discutiremos aqui seus conceitos e buscaremos assim trazer novas formas de concretizar ações educativas para um mundo melhor. Estaremos juntos nesse estudo! 11 1Unidade I 1O mundo atual e a sustentabilidade 1.1 O mundo contemporâneo Começaremos traçando uma breve descrição de como se configura o mundo em que vivemos na contemporaneidade: O momento atual é permeado por mudanças culturais, sociais, econômicas e políticas significativas, que se intensificaram a partir da crise do socialismo e com as novas configurações que o capitalismo assumiu, com um processo de globalização que se expandiu e se consolidou a partir das últimas décadas do século XX, sendo que: A globalização do mundo expressa um novo ciclo de expansão do capitalismo, como modo de produção e processo civilizatório de alcance mundial. Um processo de amplas proporções envolvendo nações e nacionalidades, regimes políticos e projetos nacionais, grupos e classes sociais e culturas e civilizações (IANNI, 1996, p.11). 1Comando Tabela 12 O mundo atual e a sustentabilidade Unidade I Para Ianni (1996): O modelo atual de globalização Apoia-se em um discurso unificado política e economicamente, tendo como objetivo impor uma dominação de mercados e de culturas por meio de um sistema mundial conectado, com vistas a se constituir em um espaço único. Para tanto, utiliza os meios de comunicação de massa e as novas mídias com o intuito de incre-mentar o consumo e expandir o mercado como forma de manutençãodo status quo, processo em que impõe às pessoas representações, crenças e valores comuns, associados ao consumo, aos bens materiais, que transcende as necessidades básicas, como alimentação, vestuário etc., pois se orientam no acúmulo de bens como forma de reconhecimento social. A palavra “globalização” foi forjada na década de 80 nos Estados Unidos, e seu signi- ficado busca interpretar o processo inicial de formação de uma economia global. Obtendo êxito na designação dessa nova realidade, a qual mostrava o aumento da interação das diversas partes do mundo, a facilidade de deslocamentos e de comunicação, a palavra foi incorporada com bastante facilidade pelos meios de comunicação de massa e, ao mesmo tempo, passou a ser utilizada também pelos meios acadêmicos e intelectuais, que procuraram dotá-la de significado mais preciso. Por outro lado, o termo é hoje aplicado em outras dimensões que não só a econômica, como a globalização cultural. Vários autores veem a globalização como mola propulsora de progresso pela influência de um país sobre o outro. Outros apontam que ela gera uma homogenei- zação – torna todos iguais. Outros ainda defendem a ideia de que a globalização enfraquece ou interfere de forma opressora nas comunicações. O mundo atual e a sustentabilidade Unidade I 13 Para Ianni (1996): O modelo atual de globalização Apoia-se em um discurso unificado política e economicamente, tendo como objetivo impor uma dominação de mercados e de culturas por meio de um sistema mundial conectado, com vistas a se constituir em um espaço único. Para tanto, utiliza os meios de comunicação de massa e as novas mídias com o intuito de incre-mentar o consumo e expandir o mercado como forma de manutenção do status quo, processo em que impõe às pessoas representações, crenças e valores comuns, associados ao consumo, aos bens materiais, que transcende as necessidades básicas, como alimentação, vestuário etc., pois se orientam no acúmulo de bens como forma de reconhecimento social. A palavra “globalização” foi forjada na década de 80 nos Estados Unidos, e seu signi- ficado busca interpretar o processo inicial de formação de uma economia global. Obtendo êxito na designação dessa nova realidade, a qual mostrava o aumento da interação das diversas partes do mundo, a facilidade de deslocamentos e de comunicação, a palavra foi incorporada com bastante facilidade pelos meios de comunicação de massa e, ao mesmo tempo, passou a ser utilizada também pelos meios acadêmicos e intelectuais, que procuraram dotá-la de significado mais preciso. Por outro lado, o termo é hoje aplicado em outras dimensões que não só a econômica, como a globalização cultural. Vários autores veem a globalização como mola propulsora de progresso pela influência de um país sobre o outro. Outros apontam que ela gera uma homogenei- zação – torna todos iguais. Outros ainda defendem a ideia de que a globalização enfraquece ou interfere de forma opressora nas comunicações. A busca pela constituição de uma “a ideia global”, que visa à integração econô- mica, social e cultural desencadeada pela globalização, propiciou uma nova organiza- ção e centralização do capital, o que agra- vou ainda mais as injustiças sociais e as desigualdades, que intensificou a pobreza, a exclusão social e a marginalização em vá- rios países, atingindo de forma mais inten- sa os países mais pobres. Por conta do mercado mundial ser controlado por grandes corporações, as diferenças entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos se ampliam cada vez mais. Por esse motivo, muitos movimentos contra a globalização surgiram em todo o mundo, alegando que as conquistas desse fenômeno não estão à disposição de todos, e que as multinacionais, com seus poderes econômicos sem precedentes, moldam o mundo segundo seus interesses econômicos. Embora a negociação do comércio mundial tenha de seguir as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC), que regulam a comercialização de merca- dorias e serviços, não raras vezes, o que prevalece são os interesses das grandes corporações. Para os países subdesenvolvidos, resta disputar o mercado oferecendo as estruturas necessárias para que essas empresas abram suas filiais em seus territórios. Para refletir: Vamos analisar um poema de Drummond e verificar, segundo ele, a nossa condição atual de cidadão globalizado: EU, ETIQUETA Em minha calça está grudado um nome que não é meu de batismo ou de cartório, um nome... estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida que jamais pus na boca, nesta vida. Em minha camiseta, a marca de cigarro que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produto que nunca experimentei 14 O mundo atual e a sustentabilidade Unidade I mas são comunicados a meus pés. Meu tênis é proclama colorido de alguma coisa não provada por este provador de longa idade. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, minha gravata e cinto e escova e pente, meu copo, minha xícara, minha toalha de banho e sabonete, meu isso, meu aquilo, desde a cabeça ao bico dos sapatos, são mensagens, letras falantes, gritos visuais, ordens de uso, abuso, reincidência, costume, hábito, premência, indispensabilidade, e fazem de mim homem-anúncio itinerante, escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda. É duro andar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade, trocá-la por mil, açambarcando todas as marcas registradas, todos os logotipos do mercado. Com que inocência demito-me de ser eu que antes era e me sabia tão diverso de outros, tão mim mesmo, ser pensante, sentinte e solidário com outros seres diversos e conscientes de sua humana, invencível condição. Agora sou anúncio, ora vulgar ora bizarro, em língua nacional ou em qualquer língua (qualquer, principalmente). E nisto me comparo, tiro glória de minha anulação. Não sou - vê lá - anúncio contratado. Eu é que mimosamente pago O mundo atual e a sustentabilidade Unidade I 15 para anunciar, para vender em bares festas praias pérgulas piscinas, e bem à vista exibo esta etiqueta global no corpo que desiste de ser veste e sandália de uma essência tão viva, independente, que moda ou suborno algum a compromete. Onde terei jogado fora meu gosto e capacidade de escolher, minhas idiossincrasias tão pessoais, tão minhas que no rosto se espelhavam e cada gesto, cada olhar cada vinco da roupa sou gravado de forma universal, saio da estamparia, não de casa, da vitrine me tiram, recolocam, objeto pulsante mas objeto que se oferece como signo de outros objetos estáticos, tarifados. Por me ostentar assim, tão orgulhoso de ser não eu, mas artigo industrial, peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente. ANDRADE, C. D. Obra poética, Volumes 4-6. Lisboa: Publicações Europa- América, 1989. Como é possível perceber após a leitura do poema, é que a globalização trouxe, além das questões políticas, sociais e econômicas, a mudança de comportamento em relação ao consumismo exacerbado da economia capi- talista. O que se sente é como se fosse uma obrigação ser um consumidor de marcas famosas para ser aceito pela sociedade. Segundo Drummond, é nesse momento que perdemos nossa identidade e passamos a ser mera coisa, igual, ou seja, somos a etiqueta do produto que usamos. 16 O mundo atual e a sustentabilidade Unidade I O que há de se pensar a humanidade poderia ter sido beneficiada com as opor- tunidades do avanço tecnológico, que desencadeou a globalização dos mercados. Mas, o que vemos, é que apesar de conseguirmos produzir muito, continuamos ainda hoje a ter gente faminta, desempregada e sem lugar para morar. A globalização que atinge o mundo contemporâneo desqualifica os povos e as culturas periféricas visando suprimir as expressões culturais locais, para que sejam substituídas por novos modelos, novos valores e crenças que estejam em consonânciacom a constituição de um mundo que se torne unificado. Desta forma, desvaloriza os saberes e conhecimentos locais, ao mesmo tempo em que não democratiza os novos conhecimentos e dificulta o acesso aos bens e serviços para boa parte das pessoas, principalmente para os mais empobre- cidos, pois: Os conhecimentos priorizados pelas novas formas de vida são dis- tribuídos de maneira muito desigual entre os diferentes setores da população segundo critérios como o de grupo social, gênero, etnia e idade. Ao mesmo tempo são desqualificados os conhecimentos dos setores marginalizados, ainda que sejam mais ricos e comple- xos que os priorizados. Desta maneira, dá-se mais aos que mais tem e menos a quem menos tem, configurando um círculo fechado de desigualdade cultural (FLECHA, 1996, p. 36). É nesse contexto que se instaurou uma crise moral e ética, visto que a globa- lização nos moldes atuais interfere nas formas de ser, estar e atuar no mundo no O mundo atual e a sustentabilidade Unidade I 17 âmbito pessoal e coletivo. Tal realidade incentiva o isolamento, a competição, a solidão, o que compromete o desenvolvimento do sentimento de pertencimento e de corresponsabilidade das pessoas para com os outros seres humanos e para com o meio em que vive. Boff (2013) defende que o tipo de sociedade que temos desenvolvido nas últimas décadas coloca em risco a essência humana, pois enfrentamos uma crise, que é fruto de um projeto de conhecimento material ilimitado, que vem degradando o planeta e as formas de viver e conviver entre as pessoas, questões que ficam evidentes ante o descuido, o descaso e o abandono que são perceptíveis nas relações que estabelecemos com o mundo e com as pessoas, o que evidencia que: Enfrentamos uma crise civilizacional generalizada. Precisamos de um novo paradigma de convivência que funde uma relação mais benfazeja para com a Terra e inaugure um novo pacto so- cial entre os povos no sentido de respeito e de preservação de tudo o que existe e vive (BOFF, 2013, p.18). Para o autor, o fenômeno do descuido, a falta de cuidado, é o sintoma do impasse civilizatório que passamos hoje, o que se constata no descuido pelo destino dos pobres e marginalizados, com os sonhos, a generosidade e a solida- riedade entre os seres humanos, com os processos de sociabilidade nas cidades, relacionados com as questões de moradia, saúde, educação etc., com os empo- brecidos, que geralmente não são contemplados nas políticas públicas, entre outros aspectos. 18 O mundo atual e a sustentabilidade Unidade I Apesar das consequências negativas, não podemos deixar de citar que a globa- lização proporcionou a evolução dos meios tecnológicos, bem como a propagação de conhecimento. Em relação aos aspectos científicos, a globalização difunde de forma mais rápida e eficiente os conhecimentos e experiências, como a cura de uma doença, por exemplo. Portanto, faz com que ocorram avanços nas áreas de medicina, genética, física etc. Quanto aos aspectos culturais, houve um aumento na interação entre pessoas de diversos países, ampliando a visão de mundo, em que as pessoas passam a conhecer e respeitar mais outras realidades culturais e sociais. Por fim, é possível encontrarmos defensores da globalização e críticos à globa- lização, e nesse sentido, podemos afirmar, então, que não se trata de uma situação na qual há unanimidade em seu conceito. Conheça mais: Saiba mais sobre a globalização assistindo ao vídeo “A história das coisas”, disponível na midiateca. Interessante vídeo que aborda questões sobre globalização e seus efeitos, capitalismo e sustentabilidade. 1.2 Sustentabilidade e desenvolvimento Historicamente, a expressão “desenvolvimento sustentável“ foi usada em 1987 pela ex-primeira ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, que, em um livro escrito por ela, Our Common Future, afirmou que o “Desenvolvimento sustentável significa suprir as necessidades do presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprirem as próprias necessidades” (FOGAÇA, 2018, s/p). Em síntese, sustentabilidade é definida como um conjunto de ações e ativi- dades realizadas pelo ser humano e que visam à satisfação de suas necessidades, mas que não comprometam as gerações futuras, estando ligada ao desenvolvimento econômico e material de maneira que não agrida ao meio ambiente, com o uso otimi- zado de recursos. Se as pessoas partem desse princípio, elas contribuem para a sustentabilidade, pois a preservação do meio ambiente e o uso consciente de seus recursos são as práticas mais comuns. O mundo atual e a sustentabilidade Unidade I 19 As empresas, por sua vez, que praticam a sustentabilidade, buscam a harmonia entre a sociedade e a natureza, e seguem as seguintes bases: ser ecologicamente correta, economicamente viável, socialmente justa e ser culturalmente diversa, tal como aponta Fogaça (2018). Essas bases são assim compreendidas: Ser ecologicamente correta: refere-se às práticas que não esgotem os recursos naturais, tratando o meio ambiente com respeito, em uma relação de troca, buscando o equi- líbrio entre o que se retira da natureza e o que oferecemos em contrapartida. Ser economicamente viável: usar o viés da sustentabili- dade como uma nova forma de pensar, buscando meios que propiciem o crescimento econômico da organização sem agredir o meio ambiente. Ser socialmente justo: utilizar práticas que evidenciem os princípios éticos, a justiça social, a igualdade de direitos, uma educação de qualidade e trabalho decente para todos, com respeito e solidariedade, em prol da manutenção do planeta, conscientes de que uma ação isolada afeta todos. Ser culturalmente diverso: valorizar a diversidade com oportunidades iguais para todos, respeitando as opções de gênero, raça, cor, religião, opinião, com foco no bene- fício coletivo. Para as empresas, políticas de diversidade são inovações que, na visão do mercado, as tornam competitivas e diferenciadas (FOGAÇA, 2018). Conheça mais: Para saber mais sobre os diferentes tipos de sustentabilidade, acesse na midiateca o artigo “A sustentabilidade e a responsabilidade social das empresas: lucratividade para as organizações e geração de benefícios sociais”, de Oliveira et al. (2014). 20 O mundo atual e a sustentabilidade Unidade I Foram necessários bilhões de anos com uma complexidade e uma evolução irrepetíveis para construir o patrimônio biológico de uma única espécie; nos próximos decênios, a intervenção do homem será responsável pelo desapa- recimento de uma espécie viva a cada quarto de hora. Mas a cultura ecológica permanece à margem da política e da cultura oficial. No máximo, toma-se posição, no discurso, a favor do meio ambiente, mas quando os problemas ambientais opõem-se às vantagens econômicas e à manutenção do emprego dentro da estrutura social existente, a tendência sempre é de minimizar a gravidade das consequências que recairão sobre as vidas futuras. O principal ponto a discutir hoje é o crescimento material sem limites nem objetivos. Para isso, é preciso rediscutir as relações de produção e trabalho, mas também o quê, como, onde, quando produzir etc. (Adaptado de: TIEZZI, Enzo. Tempos históricos, tempos biológicos. São Paulo: Nobel, 1998). As crescentes descobertas científicas e tecnológicas agravaram ainda mais este cenário, visto que o consumo de bens materiais vem crescendo drasticamente. Todavia, as matérias-primas, das quais são feitas, não estão acompanhando o mesmo ritmo, desta maneira, há a necessidade de pensarmos essa realidade, pois os recursos naturais que dispomos não durarão para sempre. Alguns estudos nos trazem dados importantes quanto à utilização dos recursos do planeta e as consequências deste avanço inconsequente do homem no meio ambiente e na qualidade de vida, entre os quais destacamos: Apresenta que a pegada ecológica da humanidade, desde 1996, maisque duplicou, considerando-se que em 1961 o ser humano necessitava de 63% da Terra para atender as demandas humanas, passando em 1975 para 97%, chegando em 2011 a 170%, com uma previsão de que em 2030 precisaríamos de pelo menos três planetas Terra para manter a vida humana. Relatório Living Planet (Planeta Vivo) – de 2010 O mundo atual e a sustentabilidade Unidade I 21 Realizada pela ONU no período entre 2001 e 2005, com a partici- pação de 1300 cientistas de 95 países, 850 personalidades ligadas à ciência e à política, em que aponta que dos 24 serviços ambientais fundamentais para a manutenção da vida (água, controle do clima, energia, alimentos, entre outros), estão em crescente processo de degradação. O estudo também destaca que 60% dos ecossistemas do planeta estão em processo de destruição e, em alguns casos, já se perderam, o que evidencia um acelerado processo de esgotamento dos bens naturais. Avaliação Ecossistêmica do Milênio Uma publicação de 2005 da ONU, com reedição de 2010, aponta que já não temos recursos necessários para suprir as necessi- dades humanas no atual padrão de consumo, sendo que o homem consome 20% a mais da capacidade de recomposição dos bens naturais, merecendo destaque os EUA, Canadá, Europa e Japão, que consomem 80% deste montante, enquanto que a África, a América Latina e a Índia usufruem 20% deste total. O estado do mundo Estudo contido no livro “O terremoto populacional”, que aponta que os 7% mais ricos da população mundial são os responsá- veis por 50% da emissão de gases que desencadeiam o efeito estufa, enquanto que a população mais pobre, cerca de 3,4 bilhões de pessoas, emitem apenas 7% dos gases responsáveis pelo aquecimento global. Fred Pierce Uma publicação do IPEA, que apresenta um estudo sobre a concentração de renda em nosso país, em que 5 mil famílias controlam 46% do Produto Interno Bruto (PIB) e que 1% da população detêm 46% das terras brasileiras. Atlas social do Brasil 22 O mundo atual e a sustentabilidade Unidade I Alerta que a extração de recursos naturais mais do que triplicou desde 1970, um ritmo mais acelerado do que o crescimento popu- lacional. Entre os principais destaques está o avanço de 45% no uso de combustíveis fósseis. O panorama mostra que estamos avançando sobre os recursos finitos do planeta como se não houvesse amanhã, causando mudanças climáticas e a perda de biodiversidade ao longo do caminho . Panorama Global sobre Recursos 2019 Temos vários outros estudos que, somando-se a esses, demonstram que o avanço do capitalismo aos moldes da globalização vigente no planeta, coloca em risco o futuro do planeta nos âmbitos cultural, econômico e ambiental, e consequen- temente, a continuidade da vida na Terra. Boff (2013), ao se reportar às dinâmicas ambientais e culturais do mundo contemporâneo, destaca que a questão ecológica não deve se restringir ao puro e simples ambientalismo, o que seria um reducionismo que dificultaria a compreensão mais ampla do entendimento de sustentabilidade em sua complexidade, que abrange várias dimensões que se inter-relacionam e se influenciam mutuamente. Para o autor, ecologia compreende vários aspectos, como: O meio social (ecologia social) A mente humana (ecologia mental) A produção industrial (ecologia industrial) A qual Boff (2013) deno- mina ecologia urbana. Löwy (2015) e Boff (2013) entendem que não basta pensar a questão ambiental de forma isolada, com reformas e ações paliativas com alcance limitado, uma vez que o momento atual exige outro modelo de civilização que reveja a expansão ilimi- tada do sistema capitalista e do acúmulo de lucros. É fato que a crise é fruto da ação predatória do sistema capitalista, que põe em risco a continuidade da vida humana no planeta. O mundo atual e a sustentabilidade Unidade I 23 É nesse contexto que se instaurou uma crise moral e ética, visto que a globalização nos moldes atuais interfere nas formas de ser, estar e atuar no mundo no âmbito pessoal e do coletivo. Tal realidade incentiva o isolamento, a competição, a solidão, o que compromete o desenvolvimento do sentimento de pertencimento e de corresponsabilidade das pessoas para com os outros seres humanos e para com o meio em que vive. Conheça mais: Acesse a midiateca da unidade e leia o artigo “Educação ambiental, cida- dania e sustentabilidade”, este material é uma reflexão sobre a diversidade e a construção das relações entre indivíduos e a natureza, dos riscos ambientais globais e das relações ambiente-desenvolvimento. Podemos concluir que é cada vez mais perceptível a complexidade desse processo de transformação de uma sociedade crescentemente não só ameaçada, mas diretamente afetada por riscos e agravos socioambientais. O tema da sustentabilidade confronta-se com o paradigma da “sociedade de risco”. Isto implica a necessidade de se multiplicarem as práticas sociais baseadas no fortalecimento do direito ao acesso à informação e à educação em uma perspectiva integradora (JACOBI, 2005). 24 O mundo atual e a sustentabilidade Unidade I Aprendemos que: Vivemos uma crise moral e ética, visto que a globalização nos moldes atuais interfere nas formas de ser, estar e atuar no mundo no âmbito pessoal e do coletivo e que esta realidade incentiva o isolamento, a compe- tição, a solidão, o que compromete o desenvolvimento do sentimento de pertencimento e de corresponsabilidade das pessoas para com os outros seres humanos e para com o meio em que vive. Como seres histórico-so- ciais, temos que aprender a pensar coletivamente, ao contrário do que a realidade capitalista que nos rodeia ensina, temos que aprender que preci- samos preservar hoje para usufruir amanhã, temos que aprender que, ao aprendermos, estaremos em uma situação de poder; poder para mudar , para agir e transformar. Referências da unidade I BOFF, Leonardo. Sustentabilidade: o que é - o que não é. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. ______. Saber cuidar. 19. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. GADOTTI, Moacir. Educar para a sustentabilidade. São Paulo: Ed. Instituto Paulo Freire, 2008. IRVING, Marta de A.; OLIVEIRA, Elizabeth. Sustentabilidade e transformação social. São Paulo: Senac, 2012. JACOBI, Pedro Roberto. Educação Ambiental: o desafio da construção de um pensamento crítico, complexo e reflexivo. Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 31, n. 2, p. 233-250, maio/ago. 2005. 25 2Unidade II 2Educação Ambiental Entender em que momento tem início o pensamento voltado à Educação Ambiental e a evolução de definições e ações pautadas em diversos documentos desde a década de 60, além dos aspectos relacionados ao despertar de uma cons- ciência crítica sobre o tema é o que vamos desenvolver nesta unidade. 2.1 As reações aos dilemas socioambientais e a educação De acordo com Silva (20141), foi em 1962, quando Rachel Carson, uma bióloga norte-americana, publica o livro The Silent Spring (A primavera silenciosa), que a Educação Ambiental começa a ser pensada. O livro discutia problemas relacionados a um pesticida usado na agricultura – o DDT. 1 SILVA, Deinne Airles da. O desenvolvimento mundial da ideia de Educação Ambiental. Revista Educação Pública. ISSN: 1984-6290 – B3 em ensino – Qualis, Capes. 2014. Disponível em: <http://bit.ly/3dj8SMf>. Acesso em: 11/03/2020. 2Comando Tabela 26 Educação Ambiental Unidade II Conheça mais: Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia o livro “A primavera silenciosa”, considerado um divisor de águas do movimento ambientalista e o prin- cipal livro do século XX sobre o assunto, sendo até hoje, uma referência nos debates entre os profissionais da área. O link está disponível na midiateca. 2.1.1 Evolução do debate ambiental D éc ad a de 6 0 O despertar de uma consciência crítica voltada às questões ambien- tais e as possíveis consequências da ação desenfreada do homem na natureza, começam a se consolidarno âmbito educacional em meados da década de 1960, com a denominação Educação Ambiental (EA), expressão apresentada pela primeira vez na Conferência de Educação, realizada em 1965, na Grã-Bretanha, em que se definiu que a Educação Ambiental deveria ser parte fundamental na formação das futuras gerações. D éc ad a de 7 0 Entretanto, só em 1972, na cidade de Estocolmo, na Suécia, em uma conferência organizada pela ONU,que a proposta da Educação Ambiental repercutiu mundialmente: Este evento teve impacto global, em função da se- riedade dos conteúdos discutidos e internalizou, nas agências internacionais, a necessidade de repensar o desenvolvimento sob uma nova perspectiva, capaz de inserir as questões ambientais e sociais aos pro- cessos em curso (IRVING & OLIVEIRA, 2012, p. 22). As reflexões sobre a questão avançaram com a realização da Primeira Conferência Intergovernamental sobre a Educação Ambiental, realizada de 14 a 26 de outubro 1977, em Tbilisi, na Rússia, encontro em que se propôs que a Educação Ambiental deveria ter um enfoque educativo multidisci- plinar e integracionista. Educação Ambiental 27 Unidade II D éc ad a de 9 0 Porém, só em 1992, com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, a Rio-92, também conhecida como Cúpula da Terra, que se ampliou o debate sobre o desenvolvimento sustentável. Nesse encontro participaram 178 chefes de Estados para debater e estabelecer metas sobre o crescimento econômico menos consumista, em consonância com uma proposta de equilíbrio ecológico. Ficou acordado, então, que os países em desenvolvi- mento deveriam receber apoio financeiro e tecnológi- co para alcançarem outro modelo de desenvolvimento que seja sustentável, inclusive com a redução dos pa- drões de consumo – especialmente de combustíveis fósseis (petróleo e carvão mineral). (SENADO FEDERAL2) É nesse evento que surge a Agenda 21, um programa de ação estru- turado em um documento de 40 capítulos, que visava a um novo padrão de desenvolvimento sustentável, assinado por 173 países que validaram as propostas e estratégias contidas no documento com vistas a alcançar um desenvolvimento ambiental sustentável. Conheça mais: Está disponível na midiateca o link do Ministério do Meio Ambiente, que apresenta o documento da Agenda 21 na íntegra. Não deixe de estudá-lo! Nesta ocasião, paralelamente ao Rio-92, Organizações não Governamentais realizaram o Fórum Global, que desencadeou na elaboração de um documento intitulado “Carta da Terra”, que estabelece princípios éticos essenciais para a conso- lidação de uma sociedade mais justa, sustentável e pacífica no século XXI. Em seu preâmbulo estabelece: 2 SENADO FEDERAL. Conferência Rio-92 sobre o meio ambiente do planeta: desenvolvimento sustentável dos países. Disponível em: <http://bit.ly/2Wq1ZT0>. Acesso em: 11/03/2020. 28 Educação Ambiental Unidade II Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo, grande perigo e gran- de esperança. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos nos juntar para gerar uma sociedade sustentável global fundada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade de vida e com as futuras [...] gerações. (Disponível em: <https://www.mma.gov.br/ informma/item/8071-carta-da-terra>. Acesso em: 11/03/2020). Após 1992, outros eventos ocorreram pelo mundo para discutir o meio ambiente e avaliar os resultados da Rio-92. Conforme o site do Senado Federal, em 1997, a ONU promoveu o Fórum Rio+5, na cidade do Rio de Janeiro, o primeiro ciclo de avaliação dos resultados da Rio-92. Ainda em 1997, na cidade de Nova York, ocorreu a 5ª. sessão da Comissão sobre Desenvolvimento Sustentável (CDS), na qual foram negociados os documentos para aprovação na Assembleia Geral da ONU, que ocorreu no mesmo ano, também em Nova York. O Fórum Rio+5 gerou a “Declaração de Compromisso”, documento no qual reiteirou-se os acordos da Rio-92 e garantiu a continuidade de suas definições. Alguns anos depois, em 2002, acontece a Rio+10, Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento Sustentável realizada pela ONU, na cidade de Joanesburgo, na África do Sul. Educação Ambiental 29 Unidade II O objetivo era a adoção de um plano de ação de 153 artigos, divi- didos em 615 pontos, sobre pobreza e miséria, consumo, gestão de recursos naturais, globalização, direitos humanos, assistência oficial ao desenvolvimento, contribuição do setor privado ao meio ambiente, entre outros. Também foi sugerida, na Rio+10, a cria- ção de instituições multilaterais mais eficientes, com mais poder para auxiliar os países a atingir o desenvolvimento sustentável. Porém, realizado pouco após a aprovação das Metas do Milê- nio, o evento Rio+10 acabou concentrando as atenções quase exclusivamente em debates sobre problemas sociais, como a erradicação da pobreza e o acesso da sociedade aos serviços de saneamento e à saúde. Concordou-se em reduzir à metade, até 2015, a proporção de pessoas cuja renda seja inferior a um dólar por dia, a de pessoas que passam fome e a de quem não tem acesso a água potável. Ainda assim, os debates de Joanesburgo foram considerados frustrantes, principalmente, pelos poucos resultados práticos por conta de novos conflitos entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. (SENADO FEDERAL3). Mais uma vez, após 10 anos, a ONU organiza, novamente no Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. De acordo com o site Rio20, “o objetivo da Conferência foi a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas novos e emergentes”4. Em 2015, a Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, adotou o documento “Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”. 3 SENADO FEDERAL. Rio+10: participação da sociedade em dabates sobre metas para meio ambiente, pobreza e desenvolvimento sustentável dos países. Disponível em: <https://bit.ly/2x8LCzV>. Acesso em: 11/03/2020). 4 SOBRE A RIO+20. Rio+20. Disponível em: <http://bit.ly/39ZZYku>. Acesso em: 26/03/2017. 30 Educação Ambiental Unidade II Conheça mais: Na midiateca você encontra o link para acessar e conhecer o documento “Transformando nosso mundo: a agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável”. 2.2 A Carta da Terra A Carta da Terra parte de uma visão integradora e holística. Con- sidera a pobreza, a degradação ambiental, a injustiça social, os conflitos étnicos, a paz, a democracia, a ética e a crise espiritual como problemas interdependentes que demandam soluções in- cludentes. Ela representa um grito de urgência face as ameaças que pesam sobre a biosfera e o projeto planetário humano. Sig- nifica também um libelo em favor da esperança de um futuro comum da Terra e da “[...] Humanidade. (Disponível em: <http:// bit.ly/2IYj2DT>. Acesso em: 12/03/2020. “ São princípios da Carta da Terra, de acordo com o site do Ministério do Meio Ambiente: I. Respeitar e cuidar da comunidade de vida; II. Integridade ecológica; III. Justiça social e econômica; IV. Democracia, não violência e paz. Educação Ambiental 31 Unidade II Na Carta da Terra alguns aspectos despontam como metas educacionaisa serem atingidas, como: Reduzir, reutiliza r e reciclar materia is utilizados na pro dução e no consumo; Oferecer aos indivíduos, em especial às crianças e jovens, tempos e espaços educativos que os formem para contribuir de forma consciente com o desenvolvimento sustentável; Reconhecer a relevância de uma formação moral e espiritual para uma subsistência sustentável; Estimular e valor izar entendimentos m útuos, a cooperação e a s olidarie- dade entre os in divíduos; Gerar uma sociedade que vise uma vida sustentável, que oriente-se pelo respeito à natureza, aos direitos humanos, na justiça e na paz, conside- rando que os povos da Terra assumam a responsabilidade uns para com os outros, com a continuidade da vida e com as gerações futuras, etc. Importante! A Carta da Terra é uma leitura essencial e está disponível na íntegra na midiateca. Fica evidente que a Educação Ambiental, entendida de forma simples e apar- tada de outras dimensões que constituem a realidade, não basta para entendermos a complexidade da questão da sustentabilidade, sendo a Carta da Terra uma das ferramentas para implantar uma proposta educativa mais consistente e alinhada aos princípios e fundamentos que proporcionem um acréscimo de conhecimento e uma mudança de hábitos, como aponta Gadotti: 32 Educação Ambiental Unidade II A Carta da Terra tem um grande potencial educativo ainda não suficientemente explorado, tanto na educação formal, quanto na educação não formal. Por meio de sua proposta de diálogo intertranscultural, pode contribuir na superação do conflito civi- lizatório que vivemos hoje (GADOTTI, 2008, p. 11). Também fica evidente que a Rio-92 avançou no debate e nas propostas e, em nosso país, acabou sendo responsável pela criação do Ministério do Meio Ambiente, também no ano de 1992, que teve como meta promover a preservação ambiental no Brasil. Isso ampliou o conhecimento sobre o tema, a fiscalização das políticas ambientais, bem como a sua execução, segundo segundo os princípios de proteção ambiental e das culturas a ela associadas. Assim sendo, ao possibilitar às crianças e jovens o acesso aos conhecimentos que constituem sua realidade em uma perspectiva crítica, o educando desenvol- verá uma postura autônoma para pensar, refletir e atuar junto ao mundo vivido, nas relações que estabelece com as pessoas e com o ambiente em prol de uma vida sustentável, na construção de um mundo saudável, pacífico, permeado pela ética e pelo bem comum, pois: Hoje tomamos conhecimento de que o sentido das nossas vi- das não está separado do sentido do próprio planeta. (...) Fa- zemos escolhas! Nem sempre temos clareza delas. A educação carrega de intencionalidade nossos atos. Precisamos ter cons- ciências das implicações de nossas escolhas. O processo educa- cional pode contribuir para humanizar o nosso modo de vida. Temos que fazer escolhas. Elas definirão o futuro que teremos (GADOTTI, 2008, p. 62). Educação Ambiental 33 Unidade II Enfim, a Educação Ambiental é vital para nos apropriarmos, de forma correta, dos recursos desta Terra em que vivemos e que tão abundantemente nos oferece. Por outro lado, temos as tendên- cias críticas, sendo a Ecopedagogia uma das mais recentes (GUTIÉRREZ & PRADO, 2013), que entende uma educação relacio- nada ao ambiente de forma mais ampla e contextualizada. Entretanto, atualmente os conceitos e concepções sobre educação e meio ambiente se apresentam em várias perspectivas, orientando-se por princípios ligados a muitas concepções sobre a questão ambiental e a educação, sendo que algumas dessas propostas amparam-se em uma educação ambiental de forma descontextualizada, ou então associada ao desenvolvimento econômico, defendendo ações paliativas que não comprometam a estrutura econômica capitalista vigente. Importante! Confira o texto “Traçando nosso caminho na direção de um planeta resi- liente”, que é parte do “Planeta Vivo – Relatório 2016 – Risco e resiliência em uma nova era”. Leia as páginas de 6 a 15, pois essas informações servirão de base para o debate em nossos fóruns e de outras questões reflexivas. Esse material está disponível na midiateca. Além disso, esse relatório traz discus- sões muito atuais e interessantes sobre as condições e o destino do mundo. Dê uma olhada nos temas oferecidos e escolha algum de seu interesse para se atualizar, acredito que ficará surpreso com os temas abordados. 34 Educação Ambiental Unidade II Aprendemos que: Há tempos o homem discute ações de preservação do meio ambiente de forma sutentável, mas que a mudança não depende apenas de eventos e docu- mentos que orientam tais ações. A mudança está em cada ser humano que compreende a responsabilidade em cuidar e preservar o meio em que vive. Referências da unidade II BOFF, Leonardo. Sustentabilidade: o que é - o que não é. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. ______. Saber cuidar. 19. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. ______. Carta da Terra: histórico. Disponível em: <http://bit.ly/2IYj2DT>. Acesso em: 12/03/2020. GADOTTI, Moacir. Educar para a sustentabilidade. São Paulo: Ed. Instituto Paulo Freire, 2008. GUTIÉRREZ, Francisco; PRADO, Cruz. Ecopedagogia e cidadania planetária. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2013. IRVING, Marta de A.; OLIVEIRA, Elizabeth. Sustentabilidade e transformação social. São Paulo: Senac, 2012. LÖWY, Michael. O que é o ecossocialismo? São Paulo: Cortez, 2014. SILVA, Deinne Airles da. O desenvolvimento mundial da ideia de Educação Ambiental. Revista Educação Pública. ISSN: 1984-6290 – B3 em ensino – Qualis, Capes. 2014. Disponível em: <https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/14/39/o-desenvolvi- mento-mundial-da-ideia-de-educao-ambiental>. Acesso em: 11/03/2020. SOBRE A RIO+20. Rio+20. Disponível em: <http://bit.ly/39ZZYku>. Acesso em: 11/03/2020. 35 3unidade III 3A Ecopedagogia Temos consciência de que o sentido de nossas vidas não está separado do sentido do planeta, portanto devemos repensar e construir novos caminhos que nos levem a uma vida mais plena e com mais qualidade e, principalmente, repensar como iremos viver daqui pra frente. Para isso precisamos mudar, romper paradigmas, começar a pensar no mundo tão grande e ao mesmo tempo tão pequeno, em um mundo de rápidas transformações que afetam a todos. Precisamos entender que se quisermos salvar nosso mundo doente enquanto pedagogos, precisamos parar e refletir sobre o nosso papel de educadores e no espaço no qual desenvolvemos o nosso importante trabalho que auxilia na cons- trução de novos saberes. 3Comando Tabela 36 A Ecopedagogia Unidade III 3.1 Conceito de Ecopedagogia O conceito de Ecopedagogia foi elaborado por Francisco Gutiérrez, pesqui- sador do pensamento de Paulo Freire, e segue os princípios da “Carta da Terra”, já citada na unidade anterior. Ecopedagogia Este conceito está pautado na id eia de que é primor- dial a formação de uma consciênc ia ecológica e de que a formação dessa consciência de pende da educação. Dentro do ideário dessa proposta está a defesa de que é preciso dar sentido às ações dos homens, que como seres vivos devem compartilhar com os demais seres viventes a experiência do planeta Terra, aprendendo sobre o sentido das coisas e do cotidiano, objetivando a promoção de uma sociedade sustentável. Assim, segue como fundamentação teórica à “cidadania planetária”, que defende a ideia de mudança nas relações humanas, sociais e ambientais, por meio de movimentos políticos e educativos. E como diz Moacir Gadotti em seu texto: “A Ecopedagogia como pedagogia apropriada ao processo da Carta da Terra”: O conceito de Ecopedagogia está relacionado com a sustenta- bilidade, para além da economia e da ecologia. A ecopedagogia inclui abordagens da Planetaridade, educação para o futuro, ci- dadania planetária, virtualidade e a Pedagogia da Terra. A meta deste enfoque é discutir os paradigmas da Terra como uma co-munidade global. Os princípios da Ecopedagogia são mais am- plos do que a educação ambiental, desde que seu debate inclui processos de ‘coeducação’, no marco da cultura de sustentabi- lidade, dentro e fora das escolas. A sustentabilidade educativa está além das nossas relações com o ambiente – ela se insere desde o cotidiano da vida, o profundo valor da nossa existência e nossos projetos de vida no Planeta Terra. Neste sentido, a Eco- pedagogia, ou Pedagogia da Terra, é algo mais apropriado para a construção coletiva da Carta da Terra (Disponível em: <https:// bit.ly/2QuutqT>. Acesso em: 11/03/2020). A Ecopedagogia 37 Unidade III Para Gadotti (2000), a ecopedagogia almeja reeducar o olhar dos seres humanos, habitantes do planeta, para a tomada de atitudes que amenizem as agressões ao meio ambiente, que ampliem a diminuição de desperdício, num novo reconheci- mento de si próprio e na promoção do respeito ao próximo. E para isso o papel da escola é essencial, pois, segundo Gadotti (2000, p. 48); [...] não se trata de reduzir a escola e a pedagogia atual a uma tábula rasa e construir por cima de suas cinzas a escola cidadã ideal e a ecopedagogia. Não se trata de uma escola e de uma pedagogia alternativas, isto é, construída separadamente da es- cola e da pedagogia atuais. Trata-se de, no interior delas, a partir da escola e da pedagogia que temos, dialeticamente, construir outras possibilidades sem aniquilar as presentes. O futuro não é o aniquilamento do passado, mas a sua superação. A educação é promotora de elementos para formação crítica, em que o desenvolvimento sustentável pode se tornar uma consciência ecológica e a Pedagogia da Terra, a Ecopedagogia, são movimentos de promoção da aprendizagem. E segundo Gadotti, citando Leonardo Boff (1999. p. 84): Precisamos de uma ecopedagogia e uma ecoformação hoje, pre- cisamos de uma Pedagogia da Terra, justamente porque sem essa pedagogia para a reeducação do homem/mulher, principal- mente do homem ocidental, prisioneiro de uma cultura cristã predatória, não poderemos mais falar da Terra como um lar, como uma toca, para o “bicho-homem”, como fala Paulo Frei- re. Sem uma educação sustentável, a Terra continuará apenas sendo considerada como espaço de nosso sustento e de domí- nio técnico-tecnológico, objeto de nossas pesquisas, ensaios, e, algumas vezes, de nossa contemplação. Mas não será o espaço de vida, o espaço do aconchego, de ‘cuidado’. 38 A Ecopedagogia Unidade III Para isso precisamos sentir a Terra, segundo o autor,“não aprendemos a amar a Terra lendo livros sobre isso, nem livros de ecologia integral.” É preciso vivenciar as experiências, conhecer o rio, saber do crescimento das plantas e da vida, é preciso enxergar a cidade, caminhar sobre suas ruas e observá-la. É preciso aprender a ver a vida, ouvir os pássaros, sentir as borboletas e os aromas, olhar o céu, observar o sol e as estrelas, observar a luz da lua sobre as plantas e também a sentir o vento, e cuidar para que não haja a destruição, a degradação e para que todos aprendam a compartilhar a vida. [...] Estou abençoando a terra pela alegria do ip ê. Mesmo roxo, o ipê me transporta ao círculo da alegria, Onde encontro, dadivoso, o ipê amarelo. Este me dá as boas-vindas e apresenta: - Aqui é o ipê-rosa. Mais adiante, seu irmão, o ipê branco. Entre eles os ipês de agosto que deveriam ser de outubro Mas tiveram pena de nós e se anteciparam Para que o Rio não sofresse de desamor, tumulto, inflação, mortes. Sou um homem dissolvido na natureza. Estou florescendo em todos os ipês. Estou bêbado de cores de ipês, estou alcançan do a mais alta copa do mais alto ipê do Corcovado . Não me façam voltar ao chão, Não me chamem, não me telefonem, não me d eem dinheiro, Quero viver em bráctea, racemo, panícula, umb ela. Este tempo de ipê. Tempo de glória. Carlos Drummond de Andrade A Ecopedagogia 39 Unidade III 3.2 A Cidadania Planetária A noção da Cidadania Planetária pauta-se na visão unificadora do planeta e de uma sociedade mundial. Esse conceito traz com ele um conjunto de princípios, valores, atitudes e comportamentos e busca alertar para uma nova percepção da Terra como uma única comunidade. Sustentada numa visão unificadora de planeta, a noção de Cidadania Planetária almeja uma sociedade pacífica, sustentável e socialmente justa, partindo de um conjunto de princípios, valores, atitudes e comportamentos a partir de uma nova compreensão do planeta. “Na base da proposta de ‘educar para a cidadania plane- tária’, está o paradigma Terra, isto é, a concepção de uma comunidade humana una e diversa. Está o desafio de realizar uma profunda revisão dos nossos currículos e dos processos educativos.” (PADILHA, 2001, p. 15). Segundo Francisco Gutiérrez e Cruz Prado (2013), essa ideia está pautada em três principais conceitos emergentes que se inter-relacionam e se complementam: A ecologia profunda A pedagogia como promoção da aprendizagem A planetaridade como dimensão política A ecologia profunda nos indica os fundamentos científicos que irão embasar as mudanças individuais e sociais que devemos buscar, se opondo à ecologia superficial, que não reconhece os vínculos do ser humano com a natu- reza, atribuindo a ela um valor de uso e consumo. Segundo Capra (1998, p. 56), “a ecologia profunda por não separar os humanos - nem qualquer outra coisa – do entorno natural, vê o mundo não como uma coleção de objetos isolados, mas como uma rede de fenômenos fundamentalmente interligados e interdependentes”. Nesse sentido, Gutiérrez e Prado (2013, p. 14) utilizam o pensamento de Capra (2006) para esclarecer que: 40 A Ecopedagogia Unidade III Estar ecologicamente educado (alfabetiza do) significa precisa- mente compreender esses princípios ecoló gicos e utilizá-los para criar comunidades humanas sustentáveis. É necessário reinstalar nossas comunidades – incluindo as educa tivas, as de negócios e as políticas -, de modo que os princípios de ecologia se mani- festem nesses princípios de educação, emp resa e política. A pedagogia visa o aprofundamento da aprendizagem a partir de todos os recursos possíveis para a promoção da aprendizagem, entendendo que aprender é “uma propriedade inerente a todos os seres vivos, o que se torna possível graças ao princípio da auto-organização da vida” (GUTIÉRREZ e PRADO, 2013, p.14). Para esse conceito, Gutiérrez e Prado se utilizam dos pensamentos de Perez e Castilho (1996, p. 05) para esclarecer que: [...] aprender é a propriedade emergente que todos os seres vivos têm em seu processo de auto-organizar a vida. A autopoesis dá lugar a estados imprevisíveis como resultado da busca do equilíbrio dinâmico ineren- te às inter-relações com o meio. Aprender será, em con- sequência, a capacidade de recriar novas realidades das múltiplas possíveis que a busca pelo equilíbrio dinâmico dos seres leva consigo e, consequentemente, significam o desenvolvimento das próprias capacidades como po- tencial para a plena sustentabilidade do eu ao nível pes- soal e social. Capacidades como a de sentir e imaginar, a de localizar, processar e auto-organizar a informação; a de relacionar-se e pensar a totalidade; a de se expressar e se comunicar; a se avaliar, criticar e tomar decisões; a de buscar causas e prever consequências; a de passar de um horizonte de compreensão a outro. A Ecopedagogia 41 Unidade III E por fim, a planetariedade que se distancia do conceito de globali- zação, na medida em que segundo Gutiérrez e Prado (2013, p.16), um de seus aspectos básicos “é sentir e viver o fato de que somos parte constitutiva da Terra: esse ser vivo e inteligente que nos pede relações planetárias, dinâmicas e sinergéticas”. Assim, o conceito de planetariedade implica em tratar o planeta como um ser vivo inteligente, buscando a harmonia cotidiana com os outros seres que o habitam. Essa condição nos obriga a vislumbrarnovas formas de se ver no mundo e a criar novas formas de proteção para todas as vidas que habitam o planeta, e para isso é necessário compreender que: A dimensão planetária reflete e requer uma profunda consciência ecológica, que é, em definitivo, a formação da consciência espiritual como único requisito no qual podemos e devemos fundamentar o caminho que nos conduz ao novo paradigma (GUTIÈRREZ e PRADO, 2013, p. 40). Dentro da perspectiva da cidadania planetária, não podemos conceber um mundo dividido em territórios, pois as questões referentes à cidadania, direitos humanos e meio ambiente são transnacionais e os problemas que afetam a humanidade e o planeta não estão divididos por fronteiras. 3.3 A educação cidadã A proposta de uma educação para a Cidadania Planetária parte da preocupação em pensar nos conflitos globais. Nesse sentido, educar significa discutir questões que envolvam o meio ambiente, as desigualdades sociais e as dificuldades relacio- nadas ao cumprimento dos direitos humanos e da saúde do planeta, buscando uma compreensão global dos conflitos e de tudo que a eles estiver relacionado, enten- dendo assim os atos e os fatos como interdependentes, e a partir daí, deste olhar, criar formas de agir, numa atitude de pensar global e agir local. 42 A Ecopedagogia Unidade III Para Gadotti (2000, p.142), a educação para a Cidadania Planetária: Educar para a cidadania planetária implica muito mais do que uma filosofia educacional, do que o enunciado de seus princí- pios. A educação planetária implica em uma revisão de nossos currículos, uma reorientação de nossa visão de mundo da edu- cação como espaço de inserção do indivíduo não numa comuni- dade local, mas numa comunidade que é local e global ao mes- mo tempo. Na intenção de orientar o trabalho com a Educação para a Cidadania Planetária, Moacir Gadotti elaborou uma relação de itens que podem servir como referência para pensar este novo modo de ver o papel do mundo, ele revela que ainda são referências imprecisas e derivadas de muitas fontes, entre elas os pensamentos de Paulo Freire, considerado como um dos inspiradores desse ideário e da aprendi- zagem a partir do cotidiano. Assim, para Gadotti, são princípios da Ecopedagogia ou da Pedagogia da Terra: O planeta como uma única comunidade; A Terra como mãe, organismo vivo e em evolução; A ternura para com essa casa. Nosso endereço é a Terra; Uma nova consciência que sabe o que é sustentável, apropriado, e faz sentido para a nossa existência; A justiça sócio-cósmica: a Terra é um grande pobre, o maior de todos os pobres; Uma pedagogia biófila (que promove a vida): envolver-se, comunicar-se, compartilhar, problematizar, relacionar-se, entusiasmar-se; A Ecopedagogia 43 Unidade III Uma concepção do conhecimento que admite só ser integral quando compartilhado; Cultura da sustentabilidade: ecoformação. Ampliar nosso ponto de vista. O caminhar com sentido (vida cotidiana); Uma racionalidade intuitiva e comunicativa: afetiva, não instrumental; Novas atitudes: reeducar o olhar, o coração; Outras mídias: Para conhecer uma experiência de aplicação desse conceito, você pode acessar o material “Educação para a Cidadania Planetária” e compreender como isso se deu na prática em uma experiência realizada na cidade de Osasco, no estado de São Paulo. Além dos principais conceitos de Educação Planetária, traz a descrição de todos os passos dados para a implantação, o retrato do processo e o resultado obtido em algumas escolas. Leia, prin- cipalmente, a apresentação feita por Gadotti e Emídio, e você entenderá muitos dos conceitos tratados. Assim, podemos dizer que o ser humano está sempre em relação com a natu- reza, e ainda que ele não tenha consciência dessa condição, é assim que todas as coisas acontecem . A pessoa planetária deve se perceber em comunhão com a natu- reza e com a sua diversidade. “Na sociedade planetária deve-se viver a vida como processo, como fluxo permanente de energias, situações, de um transcorrer relati- vamente imprevisível” (GUTIERREZ e PRADO, 2002, p. 41). 44 A Ecopedagogia Unidade III Tomando de Francisco Vío Grossi, Gutierrez e Prado citam as dez caracterís- ticas que indicam o perfil das pessoas da sociedade planetária: 1 - Em primeiro lugar, as pessoas se caracterizam por buscar e sentirem-se em contato com a natureza, sentem-se parte dela, mas não seus donos. Nesse sentido, em sua vida prática, não estão em acordo com o mandamento bíblico de “controlá-la e colocá-la a seu serviço”, mas sim de respeitá-la e desenvolver sua diversidade. 2 - Vivem a vida como processo, como fluxos permanentes de energias, de situações, de um transcorrer relativamente imprevisível. São capazes de viver a incerteza e se afastam de concepções rígidas e estáticas de vida. 3 - Preocupam-se e suspeitam do poder, da hierarquia e de sua utilização para dominar os demais. Propõem para si um tipo de educação que permita construir o poder, a partir de si mesmo, de modo que todos sejam capazes de “controlar sua própria vida”. Por isso, em geral se preocupam com a construção de comunidades humanas que sejam veículos adequados de “distribuição social do poder”, antes que concentradores dele. 4 - São pessoas que procuram a integração de elementos que andam, em geral, dispersos e que se consideram de forma isolada: ciência e senso comum, ação e reflexão, homem e mulher, mente e corpo, razão e sentimento, objetividade e subjetividade, seriedade e frivolidade, sensatez e loucura. A Ecopedagogia 45 Unidade III 5 - Interessam-se muito mais em fazer perguntas que em dar por aceitas as respostas. Pesquisam de forma permanente, buscando o lado oculto da vida, o não dito, o não proposto, as histórias não contadas. Sua crítica permanente, em geral, conduz a uma busca espiritual. 6 - Comumente os bens materiais, como símbolos de status social, são menos absorventes e dominantes. 7 - São pessoas abertas ao novo, isto é, não são dogmáticas nem rígidas; permitem-se avançar por novos territórios ignotos do conhecimento e da vida. 8 - São solidárias, com vontade de colaborar com os outros, tentam ser menos egoístas e paternalistas. 9 - Desconfiam da burocracia como forma institucional que privilegia o benefício dos burocratas sobre os outros. 10 - Têm autoconfiança no valor de sua própria experiência e desconfiam da autoridade que erige como superior. Disponível em: <https://bit.ly/2WuYM4B>. 46 A Ecopedagogia Unidade III Em seu artigo “Pedagogia da Terra: Ideias centrais”, disponível no site do Instituto Paulo Freire, Moacir Gadotti nos diz que “A Carta da Terra, concebida como um código de ética global por um desenvolvimento sustentável e apontando para uma mudança em nossas atitudes, valores e estilos de vida, envolve três princípios interdependentes”, sendo eles: I. Os valores que regem a vida dos indivíduos; II. A comunidade de interesses entre Estados; III. E a definição dos princípios de um desenvolvimento sustentável. Caminharemos assim, mais conhecedores do assunto, para dar início a nossa Unidade IV, que fará uma ponte entre a Ecopedagogia e as práticas pedagógicas. Conheça mais: Para compreender a relação entre ética e ecologia, assista ao vídeo disponível na midiateca de Leonardo Boff, “Ética e Ecologia: desafios do século XXI”. Ele lhe fará pensar em nosso papel diante da Terra, do outro e de si mesmo. A Ecopedagogia 47 Unidade III Dica de leitura: Sobre esse assunto, você pode encontrar disponível para download o livro interessantíssimo de Fritjof Capra – “Alfabetização Ecológica: a educação das crianças para um mundo sustentável”, da editora Cultrix. Busque por ele, escolha histórias para ler, tenho certeza de que vai gostar muito. Busque também pelo texto “A Ecopedagogia como pedagogia apropriada ao processo da Carta da Terra”, disponível na midiateca. Aprendemos que: A Ecopedagogiadefende que é preciso dar sentido às ações dos homens, que como seres vivos devem compartilhar com os demais seres viventes a experiência do planeta Terra, aprendendo sobre o sentido das coisas e do cotidiano, objetivando a promoção de uma sociedade sustentável. A proposta de uma Educação para a Cidadania Planetária parte da preo- cupação em pensar nos conflitos globais, nesse sentido, educar significa discutir questões que envolvam o meio ambiente, as desigualdades sociais e as dificuldades relacionadas ao cumprimento dos direitos humanos e da saúde do planeta, buscando uma compreensão global dos conflitos e de tudo que a eles estiver relacionado, compreendendo assim os atos e os fatos como interdependentes, e a partir daí, deste olhar, criar formas de agir, numa atitude de pensar global e agir local. 48 A Ecopedagogia Unidade III Referências da unidade III CAPRA, Fritjof. La trama de la vida. Uma Nueva Perspectiva de los sistemas vivos. Barcelona: Ed. Anagrama, 1998. ______ et al. Alfabetização ecológica: a educação das crianças para um mundo sustentável. São Paulo: Cultrix, 2006. GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra. São Paulo: Editora Peirópolis, 2000. PADILHA, Paulo Roberto et al. Educação para a Cidadania Planetária: currículo intertransdisciplinar em Osasco. São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2011. 49 4unidade IV 4Princípios para uma ação pedagógica em Ecopedagogia Há muito tempo que o mundo vem sofrendo os efeitos da devastação causada pelos processos civilizatórios, mas desde o advento da industrialização a situação tem se agravado. A Ecopedagogia tem uma preocupação com o planeta como um todo, englo- bando todos os seres viventes sobre a Terra. E o que podemos ver é que muito se tem discutido sobre Ecologia e sustentabilidade, os problemas ambientais são reco- nhecidos, comentados... 4Comando Tabela 50 Unidade IV Princípios para uma ação pedagógica em Ecopedagogia ... Mas e o desenvolvimento de posturas e ações críticas que se mostrem realmente capazes de transformar essa realidade socioambiental, quando será instituído? Dentro de um quadro como esse, o papel da educação se torna primordial para contribuir com a formação de cidadãos que possam colaborar para a solução dessa crise ambiental que nos atinge. Assim, é nosso papel, como educadores, procurar um novo sentido para educar para a preservação e para a sobrevivência do planeta, uma educação que vá além da sensibilização sobre o problema, ou que se satisfaça em discutir o que é certo e o que é errado em relação ao meio ambiente; é preciso incluir as pessoas nesse meio ambiente e desenvolver em nossos alunos o sentido do cuidar, de integração e de pertencimento à natureza. Em nosso dia a dia, podemos observar que as coisas não acontecem separada- mente, elas se intercalam, são interdependentes, ou, por vezes, poderiam não existir sem um complemento de suas partes. Por exemplo, para que seja possível que você tome uma simples xícara de chá, já pensou quantos processos e pessoas estão envolvidas nessa ação? Desde a produção do chá, da produção da caneca, do tratamento da água, das diferentes possibilidades de aquecimento e dos estudos realizados para que tudo isso esteja à disposição? E na área de prestação de serviços, então? 51 Unidade IV Princípios para uma ação pedagógica em Ecopedagogia E isso não acontece apenas com as “coisas”, nossas decisões e ações também são frutos de um sistema que se inter-relaciona alimentado por nossas crenças, convicções e experiências, que são formadas ao longo de nossa vida e de nossas aprendizagens tanto teóricas quanto práticas. Existe um movimento que nos envolve e que faz com que busquemos todos os recursos para solucionar desde nossos pequenos problemas cotidianos até a defesa das grandes causas da humanidade, e o que torna possível toda essa mobilização é o exercício de uma aprendizagem integrada. Depende do pressuposto de que existe todo um organismo em trabalho de cooperação global para que essa aprendizagem aconteça. No campo cognitivo isso dependerá de evolução conjunta do pensamento, da consciência, da inteligência e da sensibilidade. Aprendizagem Integrada, Integral ou Integradora Assim, para Moraes e La Torre (2004), as situações de aprendizagem estão interligadas a diferentes processos, pois: A aprendizagem humana não é um processo mecânico median- te o qual nos tornamos donos simbolicamente da realidade, não é um processo que possa ser reduzido a componentes intelec- tuais. A aprendizagem humana, quando é integrada, comporta elementos emocionais, intuitivos, atitudinais e, inclusive, sociais. Compromete a totalidade do ser em sua relação com o mundo. Não é um mero ato individual, embora também o seja desde a identidade biológica, mas é fruto das interações com a cultura socialmente enriquecida. A educação varia com os contextos e respectivos valores. As aprendizagens variam com as pessoas que vivem no entorno, com a motivação intrínseca, com o clima de interação criado e com o próprio conteúdo, objeto da apren- dizagem. Assim, pois, a aprendizagem integrada tem sua razão de ser nos componentes cognitivos, socioafetivos e culturais. (MORAES e LA TORRE, 2004, p. 85) 52 Unidade IV Princípios para uma ação pedagógica em Ecopedagogia Para que isso ocorra, é fundamental que na escola o conhecimento não seja tratado apenas de forma compartimentada, é preciso criar situações de vida, cenários, hipóteses, diálogos, relações com o real e com a imaginação que possibilitem o encan- tamento e a inter-relação das aprendizagens. Na verdade, sabemos que o mundo é uma totalidade, mas sendo ele tão grande e complexo, acabamos por adotar a ideia de que fragmentar seus conhecimentos facilita a compreensão das coisas, e foi essa ideia que orientou a elaboração dos currículos escolares, porém essa fragmentação acabou por dificultar a compreensão de fenômenos mais complexos e, assim, a única maneira que temos para solucionar esse impasse é reconhecer a necessidade de implantar em nossa forma de ensinar e aprender maneiras de inter-relacionar os conteúdos, o que pode ser realizado de diferentes maneiras; aqui abordaremos apenas três níveis de relação entre as disci- plinas, os mais comuns em nossas escolas: Multidisciplinaridade Interdisciplinaridade Transdisciplinaridade No primeiro caso, o nível mais simples, a multidisciplinaridade, acabamos por recorrer a conteúdos de várias disciplinas para estudar determinado problema sem que com isso haja uma preocupação em interligar esses conhecimentos ou disci- plinas entre si, existindo assim uma temática em comum, mas não necessariamente uma relação ou cooperação entre as disciplinas. Segundo Piaget, acontece quando a solução de um problema exige a utilização de informações de uma ou mais ciências ou áreas do conhecimento sem que as disciplinas em questão ou seus conteúdos sejam alterados, sendo assim, cada disciplina contribui com as informações da sua área sem que haja uma integração entre os conhecimentos. Trataremos os outros dois casos no item a seguir. 53 Unidade IV Princípios para uma ação pedagógica em Ecopedagogia 4.1 A interdisciplinaridade e a transversalidade Segundo Ivani Fazenda: Teve origem na França e na Itália na metade da década de 1960, como resposta a movi- mentos estudantis que reivindicavam um ensino mais ligado às questões de ordens social, política e econômica da época. No Brasil, o conceito chegou ao final da década de 1960 e contribuiu na elaboração da Lei de Diretrizes e Bases 5.692/71, tendo se fortalecido com a nova LDB 9.394/96 e com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Interdisciplinaridade Segundo os PCNs: A interdisciplinaridade questiona a segmentação entre os dife- rentes campos de conhecimento produzidos por uma aborda- gem que não leva em conta a inter-relação ea influência entre eles — questiona a visão compartimentada (disciplinar) da reali- dade sobre a qual a escola, tal como é conhecida, historicamente se constituiu. A transversalidade diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real e de sua transformação (aprender na realidade e da realidade). E a uma forma de siste- matizar esse trabalho e incluí-lo explícita e estruturalmente na organização curricular, garantindo sua continuidade e aprofun- damento ao longo da escolaridade. (BRASIL, 1997, p. 30) 54 Unidade IV Princípios para uma ação pedagógica em Ecopedagogia Uma mudança de atitude para a compreensão do conhe- cimento e em busca de aprendizagem integral. Tem como características a integração dos saberes e a absorção de uma nova postura diante do conhecimento. Visa garantir a construção de um conhecimento global, rompendo com os limites das disciplinas. Interdisciplinaridade Fazenda (1994) fortalece essa ideia quando fala das atitudes de um “professor interdisciplinar”: Entendemos por atitude interdisciplinar, uma atitude diante de alternativas para conhecer mais e melhor; atitude de espera ante os atos consumados, atitude de reciprocidade que impele à troca, que impele ao diálogo – ao diálogo com pares idênticos, com pares anônimos ou consigo mesmo – atitude de humildade diante da limitação do próprio saber, atitude de perplexidade ante a possibilidade de desvendar novos saberes, atitude de desafio – desafio perante o novo, desafio em redimensionar o velho – atitude de envolvimento e comprometimento com os projetos e com as pessoas neles envolvidas, atitude, pois, de compromisso em construir sempre da melhor forma possível, atitude de responsabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de re- velação, de encontro, de vida (FAZENDA, 1994, p. 82). Já o conceito de... 55 Unidade IV Princípios para uma ação pedagógica em Ecopedagogia Para assim trabalharmos de uma maneira transdisciplinar, em que sejam abordados conteúdos que se coloquem para além das disciplinas e para o espaço, para além da sala de aula, em que o estudo não destaque uma ou outra área como sendo a mais importante, mas o resultado global como foco do interesse. Engloba não só os conteúdos disciplinares, mas também ações e conhecimentos que se colocam entre, através e além das disciplinas. Refere-se à aplicação daquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina. Está envolvida com a compreensão do mundo presente a partir de vários olhares, que se alimentam dos conhecimentos de várias áreas. Transdisciplinaridade Importante! Interdisciplinaridade e transversalidade como dimensão da ação pedagógica de Marcos Clair Bovo, disponível na midiateca. Além de ser uma leitura essencial, ela irá complementar seus conheci- mentos e fará parte de nossas discussões nos fóruns. Os conceitos de interdisciplinaridade e transdisciplinaridade ainda são muito discutidos e muitas vezes uma mesma prática pedagógica pode ser analisada ou clas- sificada por alguns como sendo interdisciplinar e por outros como transdisciplinar, pois ainda não se tem um consenso sobre quais seriam os critérios para classificar, em educação, uma prática como sendo transdisciplinar. Porém os temas transversais podem ser trabalhados de forma inter ou trans- disciplinar. O que podemos considerar como diferença básica é a forma como os professores trabalham, pois a transversalidade abre espaço para a inclusão de saberes extraescolares, possibilitando a referência a sistemas de significado cons- truídos na realidade dos alunos. 56 Unidade IV Princípios para uma ação pedagógica em Ecopedagogia Veremos agora o que nos sugere essa transversalidade. 4.2 Os Parâmetros Curriculares e os Temas Transversais Em 1997, o Ministério da Educação elaborou os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), em que o Meio Ambiente foi considerado um Tema Transversal e assim passa a ser compreendido como um assunto a ser integrado em todos os níveis do ensino formal. Desta forma, os Parâmetros Curriculares Nacionais, quando propõem uma educação comprometida com a cidadania, elegeram, com base no texto da Constituição, princípios que deverão orientar a educação escolar, sendo eles: • Dignidade da pessoa humana - Implica respeito aos direitos humanos, repúdio à discriminação de qualquer tipo, acesso a condições de vida digna, respeito mútuo nas relações interpessoais, públicas e privadas. • Igualdade de direitos - Refere-se à necessidade de garantir a todos a mesma dignidade e possibilidade de exercício de cidadania. Para tanto há que se considerar o princípio da equidade, isto é, que existem diferenças (étnicas, culturais, regionais, de gênero, etárias, religiosas etc.) e desigual- dades (socioeconômicas) que necessitam ser levadas em conta para que a igualdade seja efetivamente alcançada. • Participação - Como princípio democrático, traz a noção de cidadania ativa, isto é, da complementaridade entre a representação política tradi- cional e a participação popular no espaço público, compreendendo que não se trata de uma sociedade homogênea, e sim marcada por diferenças de classe, étnicas, religiosas etc. É, nesse sentido, responsabilidade de todos, a construção e a ampliação da democracia no Brasil. • Corresponsabilidade pela vida social - Implica partilhar com os poderes públicos e diferentes grupos sociais, organizados ou não, a responsabili- dade pelos destinos da vida coletiva. (BRASIL, 1997, p. 16) 57 Unidade IV Princípios para uma ação pedagógica em Ecopedagogia Essa intenção pedagógica passa pela necessidade de que exista uma relação de transversalidade, de forma que os assuntos abordados se inter-relacionem com a prática pedagógica e sejam desenvolvidos de tal maneira que atendam a visão global e complexa das questões que envolvem o meio ambiente. Incorporando, assim, os aspectos físicos, históricos e sociais, envol- vendo os temas em estudos que abranjam tanto uma escala local quanto uma escala planetária dos problemas abordados. Em seu texto sobre a transversalidade, o PCN se refere aos Temas Transversais esclarecendo que: Por serem questões sociais, os Temas Transversais têm nature- za diferente das áreas convencionais. Tratam de processos que estão sendo intensamente vividos pela sociedade, pelas comu- nidades, pelas famílias, pelos alunos e educadores em seu coti- diano. São debatidos em diferentes espaços sociais, em busca de soluções e de alternativas, confrontando posicionamentos diversos tanto em relação à intervenção no âmbito social mais amplo quanto à atuação pessoal. São questões urgentes que interrogam sobre a vida humana, sobre a realidade que está sendo construída e que demandam transformações macrosso- ciais e também de atitudes pessoais, exigindo, portanto, ensino e aprendizagem de conteúdos relativos a essas duas dimensões. Nas várias áreas do currículo escolar existem, implícita ou ex- plicitamente, ensinamentos a respeito dos temas transversais, isto é, todas educam em relação a questões sociais por meio de suas concepções e dos valores que veiculam nos conteúdos, no que elegem como critério de avaliação, na metodologia de trabalho que adotam, nas situações didáticas que propõem aos alunos. Por outro lado, sua complexidade faz com que nenhu- ma das áreas, isoladamente, seja suficiente para explicá-los; ao contrário, a problemática dos temas transversais atravessa os diferentes campos do conhecimento (BRASIL, 1997, p. 26). 58 Unidade IV Princípios para uma ação pedagógica em Ecopedagogia Assim, podemos inferir que essas questões são sociais e que, portanto, são processos relacionados à diferentes áreas do conhecimento e que devem ser discu- tidos intensamente pela sociedade,
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