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RESUMO DO LIVRO: BECKER, Howard S. Outsiders. Estudos de sociologia do desvio. 1ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008 [1963]. Thalia Santiago O COMPORTAMENTO DESVIANTE NA SOCIEDADE Em sua obra, Howard Becker discorre sobre o comportamento despadronizado e como ele é visto na sociedade por aqueles que seguem a cartilha social do que é considerado apropriado. O autor analisa o comportamento desviante sem uma única forma de o interpretar, fugindo do determinismo e trazendo constantes questionamentos não somente acerca do que é o desvio, mas também a razão de sua existência, quem é o outsider e quem determina o que faz parte do comportamento padronizado ou não. De acordo com o autor, o outsider é geralmente aquele que é visto como alguém que não se espera que viva de acordo com as normas sociais, sendo o grau de desvio da linha reta variante de caso a caso: os desviantes não são iguais. Este, por sua vez, pode considerar quem o julga como outsider. Sendo as regras sociais impostas determinantes para a aceitação do indivíduo, o desviante é, naturalmente, possuidor de um status mais ou menos agradável que a média, a depender do desvio que o caracteriza. Becker pontua que as regras vigentes impostas na sociedade também formam “fiscais da moral”, que estão igualmente vivendo sob o regime de normas, ajudando na manutenção destas, também tendo poder de decidir o quanto de tolerância será concedida ao desviante. Entretanto, nem sempre o outsider necessariamente infringiu uma norma para ser então considerado despadronizado. A exemplo disso, uma pessoa que nasceu ruiva. A esmagadora maioria das pessoas não é naturalmente ruiva, então ser ruivo é estar fora da média geral, o que o torna um desvio na linha reta, mas não quer dizer que é um infrator de regras por conta disso. Becker deixa bem claro ao longo do livro que o comportamento outsider é determinado por outras pessoas e não pelo considerado desviante. Assim como qual característica é desviante, outro ponto a ser levado em consideração é o contexto em que ocorre o desvio. Como cita o autor, uma pessoa pega fumando maconha enquanto acontece uma campanha massiva contra a droga seria mais moralmente condenada que se o fizesse em outro momento. Também depende de quem o comete e quem se sente prejudicado por ele. “Meninos de áreas de classe média, quando detidos, não chegam tão longe no processo legal como os meninos de bairros miseráveis.” (BECKER, 1963, p. 25) Assim como a norma é fruto de um processo histórico e sociológico, a rejeição a um desvio também é, além de ser construída pode ser modificada e gradualmente deixar de existir. Ainda, as regras sociais são determinadas por grupos sociais, que não constituem homogeneidade, o que faz com que cada grupo tenha suas próprias regras, a despeito das de outrem. O comportamento definido como apropriado é o comportamento que obedece à regra e é percebido socialmente dessa forma, ou seja, o desvio não é produto somente da pessoa julgada, mas, antes de tudo, produto de uma sociedade que definiu diretrizes a serem seguidas, caracterizando como um desvio o que não corresponde às expectativas. Apesar de usualmente encarado assim, o comportamento desviante nem sempre é intencional: por vezes o ator social não tem conhecimento de que N comportamento é inapropriado, principalmente quando se está imerso em uma cultura - ou subcultura - diferente. Becker afirma que o desviante se sente acolhido junto a outros desviantes, se tornando um grupo que, aos poucos, cria uma ideologia própria para justificar seus atos e comportamentos, fazendo com que seja mais difícil para o desviante sair disso, já que aprende formas de neutralizar situações e encontra um propósito para ser do jeito que é, rejeitando as regras morais, atraindo inclusive pessoas que não entendem a razão das normas existirem como são (não as aceitam) ou apenas não querem se importar com as tais, buscando, mesmo que inconscientemente, maneiras de incomodar os padronizados. Antes de discutir quem cria a regra, o autor escreve sobre como a imposição dela acontece. A imposição de uma regra ocorre quando alguém expõe publicamente o “delito”, baseado em algum valor supostamente violado. É importante pontuar aqui que valores são ideais subjetivos, então naturalmente existem discordâncias sobre quais seguir. Porém, as pessoas, ao se depararem com a exposição de algum delito, normalmente cobram uma punição para ele. Por mais que alguns grupos sociais entrem em acordo sobre se algo deve ser feito e, principalmente, o que deve ser feito, muitos outros tomam posições contrárias, dificultando o diálogo e fazendo com que a situação chegue a se tornar insolúvel por vezes. Quem cria a regra geralmente está insatisfeito com as regras atuais e decide por gerar novas ordens, obviamente que o convier melhor a si mesmo. Seja por uma questão de moral pessoal, do que acredita ser o certo para si, seja por uma questão humanitária, tentando criar meios de fazer um mundo melhor. Essa questão humanitária muitas vezes está ligada a uma sensação de dever de ajudar quem está abaixo de si e, portanto, mais vulnerável. O impositor de regras, ao contrário do criador, não tem o papel de as questionar, mas de as fazer cumprir. Se elas mudam, não importa. O que importa é que antes não era regra e agora é, ou o que antes era e agora deixou de ser. Ser quem faz as regras serem cumpridas traz um certo status e superioridade que muito convém socialmente pela natural autoridade que vem acompanhada. O impositor de regras tem uma ideia pessimista da humanidade, mas esta é uma ideia necessária para seu trabalho, já que a harmonia isenta a imposição de algo. São os outsiders que sustentam seu serviço, que a essa altura já deixou de ser um trabalho e se tornou um modo de vida. O autor também cita que ações sociais são coletivas e que os desvios não fogem disso. Segundo Becker, quando o desvio é encarado como ação coletiva, se torna possível perceber que as pessoas agem atentas às reações dos indivíduos que as cercam, levando em conta como sua ação será avaliada e como isso afetará seu prestígio social.
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