Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE VIRTUAL DO ESTADO DE SÃO PAULO (UNIVESP) LICENCIATURA EM PEDAGOGIA RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM HISTÓRIA E GEOGRAFIA ARIANA FERREIRA CARMONA SÃO PAULO 2019 UNIVERSIDADE VIRTUAL DO ESTADO DE SÃO PAULO (UNIVESP) LICENCIATURA EM PEDAGOGIA RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM HISTÓRIA E GEOGRAFIA ARIANA FERREIRA CARMONA Relatório das atividades desenvolvidas como requisito para aprovação na disciplina Estágio Supervisionado em História e Geografia, do curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Virtual do Estado de São Paulo. SÃO PAULO 2019 SUMÁRIO 1. Introdução .............................................................................................................. 9 2. Caracterização da Escola-Campo de Estágio .................................................. 11 3. Atividades desenvolvidas .................................................................................. 15 3.1. Participação noplanejamento...........................................................................15 3.2. Observações na disciplina de História.............................................................15 3.3. Regência em História.......................................................................................18 3.4. Observações na disciplina de Geografia.........................................................22 3.5. Regência em Geografia...................................................................................23 4. Comentários e Conclusão...................................................................................27 5. Referências..........................................................................................................32 1. INTRODUÇÃO Este relatório faz parte da disciplina Estágio Supervisionado em Ciências e matemática, do curso de Licenciatura em Pedagogia pela Univesp – Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Seu objetivo é apresentar as observações de aulas e as experiências vivenciadas em regência de aula no quinto ano do ensino fundamental, realizadas na EMEF Imperatriz Leopoldina, localizada no bairro Jardim Cidade Pirituba, na cidade de São Paulo, e também as reflexões, críticas, sugestões que surgiram nesses momentos de observação. A realização de estágios supervisionados, que articulam a teoria à prática, durante a formação de professores pedagogos é de indiscutível importância, pois contribuem para a formação do professor para além de sua aprendizagem teórica, sendo essencial em sua formação para o ensino e aprendizagem do aluno. É articulando aquilo que aprendeu em sala de aula através de livros e artigos acadêmicos com a realidade escolar, que o educador perceberá os desafios que a carreira lhe oferecerá, refletindo sobre a sua futura profissão, sendo capaz de integrar os saberes e as práticas por meio das trocas de experiências as quais estará submetido na sala de aula. É muito comum o professor desenvolver suas aulas tendo como base as memórias de sua trajetória escolar, aplicando atividades que para ele fez sentido durante sua formação e repetindo posturas de professores que lhe eram agradáveis e que despertavam sua curiosidade por aprender, assim como evitando posturas de professores que lhe eram desagradáveis, lhe despertavam o medo. No entanto, muito tempo já se passou desde a sua formação até o momento atual que exercerá sua profissão, logo as relações entre professor-aluno, aluno-aluno mudaram e as formas como se acredita que a criança aprenda, também. Por isso é também tão importante a realização do estágio, ele precisa experienciar a escola contemporânea a fim de que possa fazer uso de suas memórias de uma maneira crítica e reflexiva. O principal objetivo da realização desse estágio é a observação das práticas escolares nas disciplinas de Ciências e Matemática, refletir sobre elas e relacioná- las á teoria que aprendemos nas disciplinas cursadas, tornando-se capaz de ampliar seus conceitos, criticá-los e ressignificá-los. As disciplinas de História e Geografia tem uma grande importância no desenvolvimento de um sujeito pertencente ao tempo e espaço estudado para além de um simples espectador, que se sente à parte de seu contexto; mas como alguém que pertence ao que está sendo estudado e discutido. Não existe somente uma História e uma Geografia, mas sim diferentes Histórias e Geografias que precisam ser apresentadas aos professores e discutidas, tanto em sua formação inicial quanto na continuada. Ambas vertentes do conhecimento não são lineares e passaram e passam por transformações ao longe de suas trajetórias. A escola é um desses espaços onde ocorrem diversas interações e trocas de experiências e conhecimentos, onde tanto docentes quanto discentes contribuem para o processo de ensino aprendizagem. A escola tem, portanto, a função de garantir, por meio da aquisição do conhecimento sistematizado, a aprendizagem de conceitos, habilidades e valores que tornem os alunos cidadãos críticos e conscientes do meio em que vivem, capazes de transformá-lo. 2. CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA-CAMPO DE ESTÁGIO A escola onde o estágio foi realizado chama-se EMEF Imperatriz Leopoldina, portanto é uma escola municipal da cidade de São Paulo, localizada na Rua Comendador Feiz Zarzur, s/n, no Jardim Cidade Pirituba. A atual diretora da escola é a Consuelo, que faz parte da equipe há aproximadamente 3 anos. A escola funciona nos três períodos, sendo que o noturno é destinado à modalidade EJA – Educação de Jovens e Adultos. No período matutino há 15 salas de aula em funcionamento, dirigidas tanto ao Ensino Fundamental I quanto ao Ensino Fundamental II, atendendo os seguintes anos: quartos, quintos, oitavos e nonos. Há quatro salas de quartos anos, quatro salas de quintos anos, quatro salas de oitavos anos e três salas de nonos anos. No período vespertino há 15 salas de aula em funcionamento, sendo atendidos os primeiros, segundos e terceiros anos do Ensino Fundamental I e os sextos e sétimos anos do Ensino Fundamental II. Há três salas de primeiros anos, uma sala de segundo ano, três salas de terceiros anos, quatro salas de sextos e sétimos anos. O número de alunos matriculados nessa unidade escolar é de 1155 de acordo com o número de matrículas efetivadas até Julho de 2019 e o número de funcionários é 98, de acordo com o Censo de 2018. O bairro Jardim Cidade Pirituba é predominantemente residencial, mas contém também um número razoável de comércio local; tem suas ruas asfaltadas e saneamento básico. È neste bairro que está localizado o Terminal Pirituba e próximo dele a estação CPTM Pirituba, portanto é um bairro bem provido de transporte público, que liga a região a outras diversas, localizadas no Centro de São Paulo, zona norte e zona Oeste. A população desse bairro geralmente usa o transporte público para trabalhar. Esse bairro possui moradias de alto padrão, residências de classe média e algumas mais carentes. Ligeiramente próximo da escola se encontram alguns bairros mais carentes de Pirituba, por exemplo, o Jardim Paquetá, Vila Zatt e Vila Mirante. A maior parte dos alunos atendidos pela escola é proveniente dos bairros vizinhos mais carentes anteriormente citados. As crianças que moram no próprio bairro estudam nessa escola, já que a matrícula é realizada pelo sistema tendo em consideração matricular a criança na escola mais próxima de sua residência. Como há uma boa oferta de escolas municipaisna região, há alunos do bairro que escolhem em qual escola querem estudar, já que algumas escolas desse bairro são consideradas as escolas públicas com o ensino de melhor qualidade da região – percebi isso na fala de alguns alunos da escola. Os alunos que moram próximo da escola geralmente vêm a pé, acompanhados de alguém da família quando ainda pequenos. A escola recebe o sistema de transporte escolar da prefeitura e este é o meio de transporte mais utilizado para aqueles que vêm dos bairros dos arredores. A EMEF Imperatriz Leopoldina tem áreas livres, uma sala de leitura, uma sala de informática com acesso à internet banda larga – recentemente foi enviada à escola uma impressora 3D - duas quadras – uma coberta e a outra descoberta - sala de diretoria, sala dos professores com sanitários localizados ao lado para uso exclusivo dos professores e demais funcionários, sanitários para alunos com mobilidade reduzida ou deficiência. Tem também sala de secretaria, uma pequena sala de depósito para armazenamento de materiais escolares e projetos realizados na escola. Há um pátio coberto, onde ficam a cozinha e o refeitório da escola, sendo nele servidos o café-da-manhã, lanche nos intervalos, almoço, lanche da tarde e almoço no intervalo da tarde e jantar. Próximo das quadras há um parquinho com alguns brinquedos, no entanto verifiquei que alguns brinquedos estão muito velhos, quebrados e vários professores disseram que há necessidade de ser realizada manutenção já faz algum tempo. Há também um estacionamento para os carros dos professores. A escola não tem laboratório de ciências. Na área livre há algumas árvores plantadas, sendo essa área geralmente utilizada pelos alunos no recreio. No chão dessas áreas há algumas brincadeiras que estão pintadas a tinta, tais quais: amarelinha, twister, dentre outras. Também há um muro pintado de quadro negro em que as crianças brincam de escrever com giz durante seus recreios. As salas de leitura, de informática e três salas de aula localizam-se no andar térreo; as demais salas de aula localizam-se no primeiro andar, sendo o acesso realizado por dois lances de escadas. Não há acessibilidade na escola para alunos deficientes ou com mobilidade reduzida para além dos banheiros, logo quando há alunos com deficiências na escola, a turma em que eles serão alocados obrigatoriamente é alguma das três salas do piso térreo. Neste ano o Grêmio escolar foi reativado - após dois anos de inatividade – e um professor de história é o responsável por ele. De uma a duas vezes por semana os alunos se reúnem das 12:00h às 13:30 e também visitam as salas de aula no período contra turno em que estudam para dar recados a todos da escola. Há também APM na escola com reuniões regulares e outras de caráter emergencial. Os Conselhos de classe são realizados ao fim de cada bimestre com a coordenação a fim de compreender as falhas e os sucessos encontrados durante o bimestre e algumas metas são estabelecidas para a melhora do desempenho escolar dos alunos, comportamento, etc. A reunião de pais ocorre bimestralmente e geralmente aos sábados de manhã para facilitar a participação dos pais na vida escolar do filho, já que boa parte deles trabalha durante a semana. Anualmente há a organização de uma festa junina, geralmente realizada em um sábado em junho com o apoio de todos os funcionários e alunos da escola. Durante as aulas de artes os alunos realizam a decoração da festa, confeccionando e pintando bandeirinhas, cartazes e decorando o pátio, onde a festa é realizada. Geralmente a escola também organiza uma Mostra Cultural com um tema específico que varia a cada ano em que é realizada, em que são expostos os trabalhos realizados por algumas turmas ao longo do ano letivo e outros diretamente confeccionados para a Mostra, no mês de Outubro. Não são todos os professores que participam e nem todos os alunos, pois muitas vezes a organização ocorre às pressas e muitos desistem da participação. Algumas outras atividades pontuais são realizadas fora da sala de aula, tais quais: cinema na escola, geralmente professores do Ensino Fundamental I se organizam para passar um filme no pátio, por projeção em data show, geralmente na semana da criança, onde ocorrem também diversas brincadeiras na área livre da escola, às vezes com contratação de “brinquedões” alugados: pula-pula, piscina de bolinha, futebol de sabão, etc. Essas atividades realizadas fora da sala de aula geralmente têm um caráter extracurricular, ou seja, não tem a ver com os conteúdos que estão sendo desenvolvidos na sala de aula, tendo um caráter de entretenimento sem um fundo pedagógico. Nas aulas que acompanhei, nunca presenciei a extensão das atividades ali desenvolvidas para fora das dependências da sala de aula. A professora regente me contou que às vezes alguns professores dão jogos matemáticos no pátio, porém é uma atividade que poderia ser realizada dentro da sala, apenas muda-se o espaço sem haver qualquer interação diferenciada com ele. Na EMEF Imperatriz Leopoldina há a realização de diversos projetos pedagógicos financiados pelo Programa Mais Educação da Rede Municipal de São Paulo. Eles ocorrem de segunda à sexta-feira das 12:00h à 13:30h e abrangem diversos temas de interesse dos alunos. Este ano alguns dos projetos são: xadrez, mancala, horta escolar, stop motion para a realização de animações, grafite, teatro, robótica, tênis de mesa, reforço escolar em português e matemática, dentre outros. Percebi que os alunos do ensino fundamental I exibem maios interesse em participar dos projetos do que os alunos dos anos finais do Ensino Fundamental II. No ano de 2019, os quatro professores polivalentes do quinto ano organizaram seus horários para realizar as horas atividades juntamente da coordenadora e planejar atividades, discutir e avaliar resultados, reavaliar suas metodologias, afinar interesses comuns, articulando seus trabalhos e compartilhando propostas e resultados. 3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS Os relatos de experiência que serão descritos são frutos da realização de meu estágio nas disciplinas de história e geografia em uma turma do 5 ano do professor Arildo , com 29 alunos, da EMEF Imperatriz Leopoldina. 3.1. PARTICIPAÇÃO NO PLANEJAMENTO Eu tive a oportunidade de participar de algumas reuniões de planejamento dos quatro professores polivalentes dos quintos anos com a coordenadora, sempre pelas manhãs. Eles compartilhavam ideias sobre o desenvolvimento de atividades em várias disciplinas, já que tentavam realizar um trabalho semelhante em suas salas para que não houvesse discrepância no ensino, pois cada turma tinha um professor diferente e eles enxergavam a necessidade de alinhar seus trabalhos. O professor que acompanhei no estágio, o Arildo, era também coordenador em outra escola municipal e devido a esse fato ele sempre tinha consigo dados exclusivos da gestão que ele aproveitava para discutir com sua coordenadora na EMEF em que realizei o estágio. As discussões nas reuniões eram muito enriquecedoras, divergiam em muitos aspectos – o professor Arildo sempre trazia temas polêmicos – tornando claro para mim os quão comprometidos com a educação esses professores eram e o grande envolvimento que tinham com os alunos, buscando sempre levantar alternativas para que o desempenho das turmas fosse a cada dia melhores, criando iniciativas para recuperar aqueles alunos que tinham algum grau de comprometimento na aprendizagem. 3.2. OBSERVAÇÕES NA DISCIPLINA DE HISTÓRIA O professor me apresentou à turma no primeiro dia do estágio, explicando minha função para a turma. Os alunos me fizeram várias perguntas e ficaram muito empolgadas com minha presença na sala. Assisti a algumas aulas de História sentada no fundo da sala, conforme me instruiu o professor.Ele fez com que eu me sentisse muito confortável durante as aulas e geralmente interagia comigo fazendo perguntas, piadas, solicitando que eu explicasse algum conceito com alunos ou tecesse comentários a cerca de algum assunto. Esta turma era muito curiosa, eles adoravam História e faziam muitas perguntas ao professor. Ele mantinha uma ótima relação com seus alunos, era muito adorado e sempre os estimulava a realizarem pesquisas sobre as dúvidas que tinham. Às vezes o excesso de empolgação dos alunos fazia com que o professor desviasse com frequência do tema da aula e alguns conceitos ficassem inconclusos As anotações do professor na lousa eram um pouco confusas para os alunos de quinto ano, assemelhavam-se às anotações presentes nas séries finais do ensino fundamental II. Os alunos que tinham maior facilidade em aprender não tinham maiores problemas com a organização da lousa, porém percebi que os alunos que apresentavam dificuldades na aprendizagem geralmente se perdiam em meio a tantas informações faladas e escritas na lousa sem organização. Alguns deles já nem se preocupavam em não copiar as informações. O conteúdo trabalhado pelo professor ao longo do terceiro bimestre, em história, estava relacionado às grandes navegações, Brasil Colônia, com ênfase na história dos indígenas e dos escravos e suas resistências. Em geografia estavam sendo trabalhadas as regiões do Brasil. As aulas do professor têm como característica a interdisciplinaridade e a dinamicidade. Os alunos interagem muito com o professor, gostam de indagar e discutir os assuntos que estão sendo abordados em aula. Desde que o acompanhamento das aulas foi iniciado, o professor já havia exibido para eles um filme: Uma Onda no Ar, filme brasileiro de 2002 baseado em uma história real, que retrata a história de quatro jovens negros residentes em uma favela em Belo Horizonte e o sonho de criar uma rádio que desse voz à comunidade. Trata-se de uma história de resistência, que aborda a dificuldade do negro em conquistar seu espaço, os preconceitos que sofre pelo caminho e toda a luta necessária para desmistificar que o negro é “traficante”, “sem cultura”. Segundo o professor, após terem assistido ao filme, os alunos tiveram que fazer um relatório sobre a relação entre o filme e o que eles haviam estudado nas aulas sobre escravidão. Alguns leram seus relatos em sala e debateram sobre o assunto. Assim que o estágio foi iniciado, outro filme foi exibido: O Ódio que Você Semeia, filme estadusinense de 2018, que também retrata o racismo estrutural, a realidade vivida pelos negros, que vivem tentando escapar da morte – são muitas vezes considerados bandidos, criminosos, simplesmente pela cor de sua pele. O filme aborda também a desumanização do assassinato de pessoas negras que, na tentativa de querer justificar o assassinato, tiveram suas histórias de vida manchadas. Todas essas questões foram refletidas em sala de aula com os alunos sentados em círculo. Eles se envolveram muito com os debates e relacionaram a temática discutida com casos de racismo existentes hoje na sociedade brasileira. Uma aluna citou o assassinato de Marielle Franco, outro aluno citou o caso da família cujo carro foi alvo de oitenta tiros, no Rio de Janeiro, por militares. Após as reflexões realizadas em sala de aula, os alunos tiveram que escrever uma redação contando alguma história pessoal de preconceito sofrido por eles próprios ou por algum familiar, colega. É importante ressaltar que boa parte dos alunos dessa sala é de classe média baixa e ou são negros ou têm familiares negros. O professor realiza também a leitura semanal do livro: Quarto de despejo, cuja autora é a escritora negra Carolina Maria de Jesus, em que ela narra sua vida numa favela paulistana. Um capítulo do livro era lido por semana, sendo a leitura realizada em voz alta pelos estudantes. Os interessados também podiam pegar emprestado esse livro na sala de leitura da escola. Segundo o professor, o interesse por retirar o livro emprestado foi grande. Percebi que os alunos aguardavam ansiosamente pela leitura do capítulo. Após a leitura, sempre eram realizadas discussão e reflexão, com participação ativa dos alunos. Nas aulas em que o professor explicava sobre o Brasil colônia, a tentativa da escravidão dos indígenas e seu fracasso, o tráfico dos escravos africanos para o Brasil, a ênfase foi na especialização dos negros para o trabalho realizado no Brasil Colônia – negros que entendiam da agricultura, mineração, etecetera e sua destinação a regiões brasileiras específicas onde esses trabalhos eram realizados. Neste momento percebi que alguns alunos ficaram confusos e tiveram dificuldade em compreender a organização geográfica brasileira e africana daquela época e também a atual, apesar de estarem estudando em geografia as regiões brasileiras. O professor explorou bastante também a origem de expressões brasileiras oriundas da época da escravidão, tais quais, “tem caroço nesse angu”, “quinto dos infernos”, “pé rapado” e também da música “escravos de jó”. Os alunos tiveram algumas aulas voltadas para a aprendizagem do jogo mancala awelé, de origem africana. Muitos nunca tinham ouvido falar a respeito desse jogo e alguns se interessaram bastante por aprender a jogar. As aulas com o jogo foram trabalhadas juntamente da disciplina matemática. A partir das observações das aulas de história e geografia no 5 ano da EMEF Imperatriz Leopoldina, percebi que algumas crianças apresentavam dificuldades na compreensão do espaço e do tempo associados aos conteúdos que estavam sendo trabalhados na série. Por exemplo, alguns alunos ainda confundiam o continente africano com um país chamado África. Quando o professor comentava sobre o tráfico de escravos, eles não percebiam muito bem que eles tinham nacionalidades diferentes, portanto idiomas, costumes, hábitos, religiões também diferentes. 3.3. REGÊNCIA EM HISTÓRIA Durante a realização do estágio, eu desenvolvi, com o meu grupo do Projeto Integrador, um jogo no estilo timeline em que trabalhamos aspectos históricos e noções de lugar e tempo de forma lúdica no contexto de escravidão no Brasil e formas contemporâneas de escravidão. Como percebi que os alunos tinham dúvidas a respeito dos conceitos de espaço e tempo, apliquei este jogo na minha regência. Para a confecção do jogo com meu grupo de PI, fizemos pesquisas na internet sobre diversos momentos históricos ligados ao tema escravidão e suas datas de ocorrência e também pesquisamos sobre diversos outros assuntos ligados à história, por exemplo, a descoberta da primeira célula animal, a invenção do telefone, da imprensa, etc. Cada um dos eventos por nós selecionados transformou- se em uma carta de uma carta de batalho, com duas faces: em uma delas há o nome do evento histórico e sua ilustração e no verso encontra-se a data da ocorrência de tal evento. Confeccionamos um total de 20 cartas para a nossa vídeo- aula, no entanto o número de cartas confeccionadas pode ser variável dependendo do assunto que está sendo trabalhado em sala, do tamanho da turma, tempo disponível para jogar, entre outros fatores. Realizamos também pesquisa sobre notícias a respeito da escravidão nos tempos de Brasil Colônia e na contemporaneidade. Selecionamos duas notícias intituladas: “Revisitando anúncios de escravos do século 19” e “Trabalho escravo: fiscalização resgata 59 em cafezais em MG”. Essas notícias foram trabalhadas na minha regência. A seguir, a descrição do jogo que criamos e as regras para jogar. Timeline – Tema Escravidão Componentes Até 100 cartas. Preparação As cartas serão distribuídas de acordo com o número de participantes. Nº de jogadores 2 a 3 4 a 5 6 a 8 Nº de cartas 5 4 3 Distribuídas as cartas, o que restou será a pilha de compras, que ficará no centro da mesa com o lado das datasviradas para baixo. Então vire a primeira carta da pilha de compras, deixando-a com a data virada para cima, esta será a carta base, o ponto de partida da linha do tempo. Como jogar O jogador mais novo é quem começa. Em seu turno (assim como os jogadores subsequentes) ele deverá olhar suas cartas (sem saber a data) e através da descrição da carta, que pode ser um evento ou uma invenção relacionada ao tema, ele deverá deduzir se a carta escolhida por ele é de uma data anterior a da carta base, ou de uma data posterior. Se o jogador achar que é de uma data anterior, ele deve dizer antes de virar sua carta, se a data estiver correta, coloca-se a carta à esquerda da carta base. Se o jogador acha que a carta escolhida por ele é de uma data posterior, ele deverá colocar a carta do lado direito da carta base. Se o seu chute for errado, descarta a carta escolhida e o jogador deverá comprar uma nova carta. Se o jogador acertar seu palpite, ele não precisa comprar outra carta, o que significa que este jogador deu o primeiro passo para a vitória. Sequência de jogada O próximo jogador terá agora mais possibilidades, pois agora há 2 cartas em jogo (ou seja, 2 datas) e agora ele poderá alocar sua carta no “meio” de qualquer uma delas. Os jogadores continuam jogando desse modo, cada um em sua vez, até que um ou mais jogadores tenham conseguido adicionar todas as suas cartas à linha do tempo, dando fim à partida. Fim do jogo O jogo termina quando um dos jogadores fica sem cartas para jogar, que quer dizer que ele fez suas jogadas corretamente, o que faz dele o vencedor. Utilizei quatro aulas de 45 minutos para minha regência. As duas primeiras aulas foram centradas na discussão das seguintes notícias: “Revisitando anúncios de escravos do século 19” e “Trabalho escravo: fiscalização resgata 59 em cafezais em MG”. Inicialmente, questionei os alunos com a pergunta: ainda existe trabalho escravo no Brasil? Os alunos prontamente quiseram responder e falavam ao mesmo tempo. Percebi que não era possível conduzir a aula de forma tão espontânea e então pedi para que primeiro respondessem à pergunta no caderno que posteriormente eu selecionaria os estudantes para responder conforme eles levantassem suas mãos. A dinâmica funcionou melhor assim. A maioria dos alunos respondeu que sim, que ainda hoje era possível encontrar pessoas que trabalhavam no regime de escravidão, porém eles não sabiam detalhar a nacionalidade dessas pessoas, quais principais trabalhos elas exerciam e em quais regiões estavam concentradas. Depois dessa discussão, entreguei uma cópia da notícia “Revisitando anúncios de escravos do século 19” para cada aluno ler silenciosamente. Conforme liam, seus rostos mudavam para expressões de choque, medo, indignação, revolta. Eles diziam que nunca imaginaram que pudessem ter existido anúncios para vendas de escravos em jornais, diziam que aquilo era um absurdo, reagiam com raiva. Então, indaguei em que essa forma de escravidão era diferente da forma atual. Após alguns minutos de silêncio, um aluno respondeu: “antigamente somente os negros e índios eram escravos e que podia fazer propaganda deles. Já hoje, existiam escravos que não eram negros e que não se pode fazer propaganda pública a respeito disso, tem q ser escondido”. Após essa resposta, com a qual fiquei admirada, passei então para a leitura e a discussão da notícia: “Trabalho escravo: fiscalização resgata 59 em cafezais em MG”. Novamente as expressões de horror e indignação tomou conta das faces dos alunos. Aproveitei o ensejo e discutimos sobre a presença de escravos hoje nos trabalhos agrícola no interior de São Paulo, em Minas Gerais, Bahia, Mato Grosso do Sul e então uma aluna indagou: “nossa, professora, então o trabalho escravo está longe da gente que mora aqui na cidade”. Fiquei surpresa com essa indagação e perguntei à turma se havia trabalho escravo aqui na cidade de São Paulo, onde residimos. A maioria dos estudantes disse que não, pois aqui não havia plantações. Entretanto, um aluno – o que era fascinado por história, o professor já havia comentado sobre ele comigo – disse que havia sim escravos trabalhando inclusive em bairros próximos do nosso, que eles eram os bolivianos que trabalhavam em situações indignas com costura. A partir desta resposta, citei inúmeros outros casos presentes em São Paulo e chegamos à conclusão de que as pessoas que trabalham em situação de escravidão hoje são aquelas oriundas de países pobres, que vivem em condições socioeconômicas degradantes. Nossa discussão foi muito rica, os alunos participaram muito tanto fazendo perguntas quanto respondendo. O professor da sala também participou da discussão trazendo exemplos muito interessantes que eu desconhecia. Nas próximas duas aulas, os alunos sentaram-se em grupos de 4 a 5 alunos para jogar. Expliquei as regras do jogo e caminhei pela sala acompanhando os grupos e sanando as dúvidas que surgiam. De um modo geral, eles se divertiram muito e eu pude perceber o quanto eles se confundiram para encaixar os fenômenos históricos – vários deles já estudados na escola – na linha do tempo, comparando-os com outros. Conforme eles “erravam” o encaixe das cartas, alguns manifestavam interesse de pesquisar o evento histórico, sua data e relacionar com os demais eventos presentes no jogo. Outros alunos ficavam bravos porque estavam errando muito e neste momento o professor interviu salientando que aquele era um jogo que também tinha o objetivo de aguçar a curiosidade deles a fim de que realizassem mais pesquisas para compreender o assunto e também para que se esforçassem para estabelecer relações entre os eventos trabalhados em história em vez de somente memoriza-los. 3.4. OBSERVAÇÕES NA DISCIPLINA DE GEOGRAFIA O professor, durante as aulas de história, fazia bastante uso do globo terrestre e de mapas para mostrar aos alunos a localização de regiões que eram mencionadas durante as aulas. Os estudantes adoravam procuras regiões no globo terrestre, mas geralmente, quando era necessário fazer buscas em mapas disponíveis em Atlas, eles apresentavam dificuldades. As aulas de geografia que antecederam o bimestre da realização do meu estágio foram, praticamente, relacionadas ao estudo do mapa do Brasil. Os alunos faziam cópias de mapas do jeito clássico: colocando uma folha de papel vegetal em cima do mapa a ser estudado e realizando seu contorno. Também eram entregues aos alunos mapas já impressos, de atividades encontradas na internet ou copiadas de livros, nos quais os alunos pintavam determinadas regiões brasileiras de acordo com as cores indicadas nas legendas. Através da cópia e pintura de mapas, os alunos memorizavam as divisões regionais do Brasil, os estados que as compõem, as capitais. Segundo o professor, essa turma tinha muitas dificuldades básicas em cartografia, portanto, era preciso iniciar os estudos com atividades básicas a fim de que eles pudessem, aos poucos, inserir-se, localizar-se e se reconhecer no mapa. Durante a realização do meu estágio, os alunos estavam trabalhando no projeto de construção da trajetória de seus lares até chegar à escola, através do desenho, demarcando os pontos, pelos quais passavam, que mais chamavam a atenção. Para auxiliar neste processo de construção, o professor levou seus alunos até o Parque da Área Verde – nome popular na região para o Parque Rodrigo de Gáspari, que se localiza próximo à escola. Eu acompanhei este passeio e cada um dos alunos recebeu uma folha de sulfite e lápis para esboçar o que mais chamava sua atenção durante o trajeto Conforme caminhávamos, o professor chamava a atenção para alguns pontos que tinham importância na região e contava sua história de maneira precisa e divertida ao mesmo tempo. Alguns alunos faziam o registro com muita atenção, já esboçando desenhos no papelenquanto alguns pareciam perdidos pelo passeio. Juntei-me a esses alunos que estavam mais dispersos e os reagrupei em duplas ou trios com os outros que estavam compreendendo melhor a atividade. Esse passeio foi muito interessante para mim, pois eu tenho grandes dificuldades para me situar no espaço geográfico, logo prestei muita atenção nas explicações do professor. De volta à sala de aula, o professor solicitou aos alunos que estes relatassem por escrito o que mais chamou a atenção durante o passeio e os alunos prontamente passaram a escrever para então relatar oralmente para os demais. Os alunos eram bastante participativos e sempre o questionavam a fim de sanar suas dúvidas. Nas aulas em que o professor explicava os conceitos de espaço geográfico, inicialmente ele levantava os conhecimentos prévios dos alunos através de diversas perguntas. Eles respondiam com bastante interesse, a aula se tornava bastante dinâmica. Raramente o professor passava textos na lousa, geralmente ele já trazia cópias para os alunos colarem no caderno e assim, segundo ele, as aulas podiam 2ser mais bem aproveitadas para explicações e discussões, realização de atividades práticas e teóricas e para sanar as dúvidas de seus alunos. 3.5. REGÊNCIA NA DISCIPLINA DE GEOGRAFIA Segundo a solicitação do professor, elaborei um plano de aula para tratar o assunto migrações. Este seria o próximo tópico que o professor iniciaria e ele gostaria que eu introduzisse o assunto com eles para que então ele pudesse dar continuidade ao tema. A parceria que o professor gostava de estabelecer fez com que eu me sentisse parte daquela turma e também responsável pelo meu trabalho. O plano de aula que elaborei - Emigração e Imigração, uma Introdução – tem como objetivo distinguir a emigração da imigração, conceitos que os estudantes costumam confundir e, consequentemente, interpretar erroneamente notícias. Além disso, é um assunto que está constantemente na mídia devido às grandes migrações em massa que estão ocorrendo mundialmente, inclusive no Brasil. Esse plano de aula foi previsto para ser aplicado em quatro aulas de 45 minutos cada e requer o uso dos seguintes materiais: data show para exibição de imagens, caso não seja acessível o data show, as imagens podem ser impressas coloridas e distribuídas aos alunos; lousa, giz, cadernos, lápis, canetas, livros, revistas e jornais. Iniciei a aula exibindo à turma a seguinte imagem pelo datashow: https://br.images.search.yahoo.com/search/images;_ylt=AwrJ7JkKTCdeOSIAUAHz6Qt.;_ylu=X3oDM TB0N2Noc21lBGNvbG8DYmYxBHBvcwMxBHZ0aWQDBHNlYwNwaXZz?p=imigra%C3%A7%C3%A3 o+emiga%C3%A7%C3%A3o&fr2=pivweb&fr=sfp#id=2&iurl=http%3A%2F%2F2.bp.blogspot.com%2F _aJT3I8ICB-8%2FTE_rvyZ5KzI%2FAAAAAAAAA9Q%2F4uYI3dIBAD4%2Fs1600%2Fcharge- imigrantes.jpg&action=click A partir desta imagem e do que escrevi na lousa, pedi que escrevessem no caderno o que eles pensavam quando viam esta imagem e selecionei alguns para falar suas ideias para toda a turma. Eles ficaram empolgados para participar e as respostas variaram de: “é um homem pulando no mapa”, “um homem trabalhando no globo terrestre”, até: “é uma pessoa saindo de um lugar rumo ao outro”, “uma pessoa viajando de um país para outro para trabalhar, porque ele tem uma enxada na mão e uma mala”. Nenhum aluno usou o termo migração em sua resposta. Então questionei se havia algum aluno que já tivesse morado em outra cidade. Dois alunos responderam que sim, um deles tinha vindo da Bahia, mas não se lembrava do nome da cidade de que viera e o outro viera de Pernambuco. Pedi então para que relatassem como foi esse processo de saída de uma cidade para outra e então, um colega atravessou a conversa e falou como quem tivera acabado de ter um insight: “professora, professora, eles são imigrantes que nem meu vô!”. Neste momento outro colega da sala prontificou-se a falar: “eles não são imigrantes, imigrantes é que vem de outro país!”. Fiquei bastante contente com as respostas e propus que se sentassem em grupos de quatro alunos para a próxima atividade. Depois de organizados em grupos, coloquei uma questão na lousa para ser copiada no caderno e respondida por eles. A questão era: “o que é migração?”. Vários alunos responderam que migração é sair de um lugar para ir para outro e alguns até citaram a vinda dos venezuelanos para o Brasil e também a chegada dos nordestinos em São Paulo. Alguns alunos não responderam a questão, pois diziam que não sabiam e outros deram respostas que não tinham a ver com o deslocamento de pessoas. Teve um aluno que citou o caso das aves migratórias devido às estações do ano, achei bastante interessante esta resposta e guardei para utilizá-la na próxima aula com eles. Então, depois do compartilhamento de respostas para minha pergunta, expliquei o conceito de migração para eles e os que deram respostas próximas à explicação que dei, ficaram muito contentes que “acertaram”. Eu deixei bem claro que os erros fazem parte da construção do conhecimento e que, portanto, são indispensáveis para nossa aprendizagem em sala de aula. Escrevi mais uma pergunta na lousa após a discussão anterior: “vocês conhecem alguém que tenha migrado para/ou de um país?”. Dois alunos relataram que tinham um colega boliviano que era da outra turma, uma aluna disse que tem uma amiga que é peruana e outro tinha um tio que havia deixado o Brasil para ir para os Estados Unidos trabalhar. Então, perguntei à turma se os casos citados pelos colegas eram exemplos de imigração ou emigração. Neste momento houve silêncio total na sala e somente uma menina arriscou dizer que eram casos de imigração, mas não soube justificar sua resposta. Solicitei então que lessem novamente, com atenção, as palavras que estavam sublinhadas na pergunta que eu colocara na lousa. Nas duas últimas aulas que me restaram para trabalhar o assunto, retomei o que havia sido discutido na aula anterior, retomando o conceito de migração e expliquei mais dois conceitos: imigração e emigração. Para tal fim, utilizei os exemplos dados pelos alunos na aula anterior. Terminada a explicação, entreguei o texto impresso: “O Brasil pelo olhar dos imigrantes”, disponível em http://dapp.fgv.br/o-brasil-pelo-olhar-dos-imigrantes/. Pedi que lessem nos mesmos grupos da aula anterior, em silêncio, e então eu fiz a leitura em voz alta, chamando atenção para os pontos principais do texto e sanando as dúvidas que surgiram ao longo da leitura. Em seguida, fomos para a sala de informática e solicitei que em grupo eles articulassem as ideias do texto com o que foi aprendido nas aulas anteriores e também com pesquisas sobre o assunto realizadas na internet, livros, jornais, para redigir um pequeno texto sobre o que pode ser feito pelo nosso governo e também por nós brasileiros para acolher os imigrantes. O professor achou melhor que fosse dado um prazo maior para eles redigirem e entregarem a redação, pois a semana de provas externas estava chegando e de acordo com o planejamento escolar, eles teriam o foco em aulas de revisão de matemática e língua portuguesa. Infelizmente não consegui ler as redações dos alunos, porém o envolvimento deles nas aulas foi muito satisfatório, a participação foi ampla e o interesse notável. COMENTÁRIOS E CONCLUSÃO A realização desse estágio deixou clara para mim a importância da integração da teoria aprendida nas disciplinas da graduação de Pedagogia com a prática proporcionada pelo estágio. É de grande importância que os professores da educação básica tenham acesso à formação continuada por meio de políticas públicas, pois nas reuniões de professores de que participei, a queixa da maioria dos docentes era a falta de cursos públicos que os atualizassem a respeito de novas tecnologias, metodologias, assuntos que fossem vinculados à práticaescolar, às suas necessidades dentro da sala de aula. Muitos diziam que os cursos que faziam eram muito teóricos e fora da realidade por eles vivenciadas na escola pública, portanto, pouco acrescentava às suas práticas diárias. Durante a observação das aulas pude entender o quão importante é a realização de estágio para nosso preparo para exercer nossa profissão com qualidade e primazia, pois são diversos os desafios enfrentados por um docente em uma classe com trinta alunos tão heterogêneos, com interesses e desejos conflitantes, pertencentes ao século XXI, com acesso às informações nas palmas de suas mãos a uma velocidade instantânea e que ainda têm que frequentar uma escola que pouco mudou sua estrutura desde o século XIX. Fiquei contente ao perceber que as disciplinas oferecidas pelo curso da Univesp foram muito úteis para a elaboração de meu plano de aula para a regência no estágio. O desenvolvimento do Projeto Integrador foi crucial para minha regência em história, pois ele estava, para minha surpresa, alinhado às minhas constatações oriundas da observação das aulas de história. Ter aplicado o jogo que foi desenvolvido no Projeto Integrador me deu uma grande satisfação pessoal e profissional e foi de grande utilidade para a aprendizagem dos alunos. Durante as observações na disciplina de História, ficou bastante claro como o professor gostava de utilizar filmes, leituras de livros paradidáticos e jogos em suas aulas, tornando-as muito mais interessantes e contextualizadas. No entanto, é sabido que para o uso de diferentes linguagens no ensino de história é preciso ter cautela. As obras de ficção não têm preocupação de explicar o real, porém elas podem oferecer referências do modo de vida de uma época através dos cenários, figurinos, valores e costumes. Portanto, é necessário ter um olhar crítico para saber discernir história de ficção (ZAMBONI, 1998). Muitos pesquisadores se contrapõem a ideia de utilizar filmes na aula de história, por não serem considerados tão sérios, quanto à história registrada de forma escrita. (COMPAGNARO, SOLAGNO, PEREIRA, 2013). No entanto, de acordo com Campagnaro, Solagno& Pereira: “O filme é um objeto que pode auxiliar, pela linguagem conhecida e pela fascinação provocada nos adolescentes. Trata-se de outra forma de produzir, entender, refletir e criticar historicamente, pois é um documento diferentes dos conteúdos dos livros e ao mesmo tempo comum aos estudantes, levando ao entendimento da provisioriedade da “verdade” histórica”. (COMPAGNARO, SOLAGNO, PEREIRA, 2013, p.132) O público-alvo hoje dos educadores é uma geração que tem acesso a meios rápidos e dinâmicos de comunicação. O uso da internet já está disseminado pelos espaços educacionais e vários alunos recorrem a plataformas digitais a fim de complementar seus estudos com vídeos. De acordo com Almeida, a vídeo aula pode ser muito útil para complementar aquilo que é visto em sala de aula, além de deixar documentado determinado conhecimento. É possível através da vídeo aula fazer a integração de múltiplas mídias e linguagens (ALMEIDA, 2003). Segundo Silva, o vídeo tem uma grande importância no enriquecimento da aprendizagem e do ensino (SILVA, 2010). “Ele tem a capacidade de aproximar o ambiente educacional das relações cotidianas das linguagens e dos códigos do conhecimento” (MORAN, 1994 ). Importante ressaltar também que, durante as aulas de história assistidas, ficou clara a preocupação do professor de ir para além da somente memorização de fatos históricos, detalhamento dos eventos e circunstâncias sob os quais ocorreram. Também percebi que ao utilizarem o livro didático de história, pouco foi explorado em relação à noção do tempo com as imagens e ilustrações presentes no livro. Seria possível fazer uma análise dessas imagens que retratam o Brasil Colônia e os tempos de escravidão com imagens de outras épocas mais recentes vividas pelo Brasil, destacando algumas características que podem ser bons marcadores da passagem do tempo – antigo versus recente – associando-as a épocas importantes na história. As aulas do professor eram muito interessantes e dinâmicas e ele sempre oportunizava aos alunos a busca pela valorização da sua própria história, identidade, regionalismo; a compreensão, a partir de suas próprias representações, que fazem parte de um grupo, de uma época e a prática de uma análise crítica de uma memória que é transmitida. É nessa fase que os alunos começam a desenvolver procedimentos de investigação em Ciências humanas, como as pesquisas sobre diferentes fontes documentais, a observação e o registro – de paisagens, fatos, acontecimentos e depoimentos – e o estabelecimento de comparações. Esses procedimentos são fundamentais para que compreendam a si mesmos e àqueles que estão em seu entorno, suas histórias de vida e as diferenças dos grupos sociais com as quais se relacionam (MEC, 2017, p.355). O acompanhamento das aulas de geografia deixou claro para mim que o professor tentava trabalhar com a Geografia Crítica, embora também lecionasse dentro das concepções da Geografia Tradicional, como ele descreveu em seu trabalho com os alunos com a realização de cópias de mapas geográficos, pintura das regiões brasileiras de acordo com as legendas, enfim, uma “geografia descritiva que apresenta segmentado os aspectos físicos do espaço (como a hidrografia, o relevo, a vegetação, o clima, etc) dos aspectos humanos (população, composição, migração, etc)” (LASTÓRIA, p.3, 2010). A atividade proposta pelo professor em que os alunos tinham que desenhar sua trajetória de casa até a escola e também o passeio que realizamos com o intuito de auxiliar na concretização da atividade alinha-se à concepção de geografia crítica. Os alunos aprenderam alguns conceitos de espaço geográfico em seu próprio bairro primeiramente para, futuramente, expandir esse conceito. Segundo Callai, O espaço não é neutro, e a noção de espaço que a criança desenvolve não é um processo natural e aleatório. A noção de espaço é construída socialmente e a criança vai ampliando e complexificando o seu espaço vivido concretamente. A capacidade de percepção e a possibilidade de sua representação é um desafio que motiva a criança a desencadear a procura, a aprender a ser curiosa, para entender o que acontece ao seu redor, e não ser simplesmente espectadora da vida (CALLAI, p.233, 2005). Foi um desafio para mim a observação das aulas como observadora participante, pois essa disciplina sempre foi a qual menos gostei em toda minha trajetória escolar e que sempre tive mais dificuldade para a compreensão dos assuntos. Até hoje essas memórias me assombram e tenho dificuldade para me localizar no espaço geográfico, para ler mapas. A realização deste estágio me proporcionou a compreensão de que as concepções de geografia que o docente tem podem influenciar muito na aprendizagem dos alunos. Na época em que eu era estudante, a professora ensinava geografia de maneira bastante tradicional, através da memorização de conteúdos, cópia de textos da lousa, cópia de mapas dos livros. Aquilo que eu memorizava pouco fazia sentido para mim e logo era esquecido. Não me recordo de atividades realizadas fora da sala de aula e do contexto: giz, lousa, caderno, lápis e livro. A regência em geografia, que eu imaginava que seria de grande dificuldade para mim, na verdade resultou em quatro aulas muito agradáveis, com grande participação da turma e que me instigou a realizar diversas pesquisas a fim de elaborar e planejar as aulas ministradas. Talvez ter abordado o assunto migração não tenha sido tão complicado porque é um tema que tem sido bastante explorado ultimamente na mídia, portanto vários alunos já tinham ouvido falar do assunto e conheciam alguns exemplos muito próximos, dentro da própria escola. No Ensino Fundamental – anos iniciais, a organizaçãodo uso de diversos ambientes educativos como o pátio, a quadra, a biblioteca, parque, museus e praças são muito importantes, pois esses espaços se relacionam com as vivências e experiências. O professor explorava bastante os espaços para além da sala de aula, levando seus alunos para a sala de leitura e informática para realizarem pesquisas e assistir aos filmes. Eles também saíam da escola, em excursão, para visitar museus, monumentos históricos, parques. A forma como o educador planeja o uso dos espaços e do tempo diz muito sobre suas concepções de concepções pedagógicas. Mas isto também pode ser influenciado pelas condições de trabalho que ele encontra na instituição, que vão desde a arquitetura ao número de alunos por turma, da presença a ausência de profissionais auxiliares, entre outras questões relacionadas à gestão escolar. As atividades lúdicas podem propiciar novas aquisições culturais, sociais e linguísticas e favorecem o processo de constituição do conhecimento e da formação humana. As escolas precisam estar dispostas a cederem esses espaços e inserir a ludicidade no processo metodológico e didático. No brincar também se constrói o processo da aprendizagem da criança, pois faz com que ela se transporte para um mundo imaginativo todo dela. O professor explorava a ludicidade em suas aulas e enriquecia o processo de ensino aprendizagem por meio dos jogos que utilizava em sala de aula. Era notável o quanto essas práticas auxiliavam a compreensão e a capacidade dos alunos inter-relacionarem os tópicos que eram ensinados ao longo de seus estudos. REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. Educação à distância na Internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem. Educação e Pesquisa, 29 (2), 327-340, 2003 BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Educação Infantil e Ensino Fundamental. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica, 2017. CALLAI, Helena Copetti. Aprendendo a ler o mundo: a geografia nos anos iniciais do ensino fundamental. Cadernos Cedes, v. 25, n. 66, p. 227-247, 2005. CAMPAGNARO, André; SOLAGNA, Thiciano Arthur; PEREIRA, Denise. Os filmes como subsídios pedagógicos na aula de história. Ateliê de História UEPG, v. 1, n. 1, p. 129-135, 2013. LASTÓRIA, Andrea Coelho. A didática da geografia e da história e a formação de professores. Formação continuada de professores: processos formativos e investigativos, 2010. MORAN, J. M. Interferências dos meios de comunicação no nosso conhecimento. Revista Brasileira de Comunicação. São Paulo, 7, 36- 49, 1994 SILVA, A. F. O uso do vídeo no processo de ensino-aprendizagem: análise de vídeos em manuais escolares e percepções dos professores e alunos sobre as potencialidades pedagógicas do vídeo. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós- Graduação em Ciências da Educação, Universidade do Minho, Portugal. 2010. Retirado em 10/09/2019, theWorld Wide Web: http://repositorium.sdum. uminho.pt/handle/1822/13687 ZAMBONI, Ernesta. Representações e linguagens no ensino de história. Revista Brasileira de História, v. 18, n. 36, p. 89-102, 1998.
Compartilhar