Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
147 Melhoramento de Populações de Plantas Alógamas por Seleção As populações de plantas alógamas são constituídas por indivíduos genotipicamente diferentes entre si e que em geral apresentam alto nível de heterozigose. Uma planta diplóide heterozigota para n genes pode produzir 2n tipos de gametas, com diferentes combinações de alelos parentais. Assim, nessas populações ocorrem os mais variados tipos de genótipos. Uma população alógama é caracterizada pelo somatório dos seus genes em formas alélicas alternativas, ou conjunto gênico. Conforme Mettler e Gregg (1973), o conjunto gênico constitui toda a informação genética dos indivíduos que compõem a população. A combinação dos alelos dos diferentes genes é responsável pelo elevadíssimo número de genótipos que podem ocorrer na população. Porém, o comportamento médio da população em que ocorrem intercruzamentos ao acaso é mais ou menos estável ou constante ao longo das gerações, desde que não atuem forças modificadoras, como seleção, migração, mutação, etc. As proporções dos diferentes alelos de um loco que ocorrem no conjunto gênico constituem as freqüências alélicas. O melhorista sempre vai procurar elevar a freqüência de alelos favoráveis numa população com o objetivo de conseguir genótipos de melhor desempenho agronômico. 13.1. EQUILÍBRIO DE HARDY-WEINBERG A atual Genética de Populações baseia-se numa proposição deduzida em 1908, independentemente, por G. H. Hardy, na Inglaterra, e W. Weinberg, na Alemanha. A base dessa proposição demonstra que em uma população grande, sob panmixia, ou seja, com intercruzamentos ao acaso, e na ausência de forças modificadoras, as freqüências de alelos e de genótipos se mantêm constantes, de geração para geração, sendo as freqüências de genótipos determinadas pelas freqüências alélicas. Nessas condições a população encontra-se em equilíbrio. 148 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos Para observar melhor como isso acontece pode-se imaginar uma população de intercruzamento ao acaso, em que o alelo dominante A tem um a freqüência p e o alelo recessivo a tenha a freqüência q. Nesse caso, as freqüências dos genótipos AA, Aa e aa poderiam ser representadas por P, H e Q, respectivamente. Tem-se ainda que p + q = 1 e P + H + Q = 1. Se os indivíduos AA possuem dois alelos A e os indivíduos Aa um alelo A, o total de A na população é, portanto, 2P + H, ou P + 1/2H. Identicamente, o total de a será Q + 1/2H. Assim, as relações entre as freqüências dos alelos e dos genótipos serão: p = P + 1/2 H q = Q + 1/2 H Imaginando, por exemplo, que a amostra de uma população tem 300 indivíduos AA, 600 Aa e 100 aa, ou freqüência genotípica de 0,3 AA : 0,6 Aa : 0,1 aa, as freqüências dos alelos serão: p = 0,3 + 1/2 (0,6) = 0,6 q = 0,1 + 1/2 (0,6) = 0,4 Pode verificar-se se a população está em equilíbrio observando as freqüências alélicas p e q e as genotípicas P, H e Q em relação aos vários cruzamentos possíveis, quando esses ocorrem ao acaso, como apresentadas no Quadro 13.1. QUADRO 13.1. Cruzamentos ao acaso entre progenitores que apresentam a freqüên- cia de P genótipos AA, H genótipos Aa e Q genótipos aa. Progênies e freqüências são apresentadas no Quadro 13.2. Genótipos e freqüências do progenitor masculino AA Aa aa P H Q Genótipos e fre- AA P P 2 PH PQ qüências do pro- Aa H PH H 2 HQ genitor feminino aa Q PQ HQ Q 2 149 Melhoramento de Populações de Plantas Alógamas por Seleção QUADRO 13.2. Freqüências de progênies de cruzamentos em uma população de intercruzamentos ao acaso, na qual as proporções zigóticas são P AA : H Aa : Q aa. Somando-se as freqüências totais dos três diferentes genótipos da progênie, como apresentadas no Quadro 13.1, tem-se: (P + 21 H) 2 AA + 2 (P + 21 H) (Q + 21 H) Aa + (Q + 21 H)2 aa = 1 Sendo P + 21 H = p e Q + 21 H = q, a expressão acima pode ser transformada em: p2 AA + 2pq Aa + q2 aa = 1 Esta última expressão representa a Lei do Equilíbrio de Hardy-Weinberg. O mesmo resultado poderia ser obtido pela expansão do binômio (p + q)2 = p2 + 2pq + q2. Considera-se que a freqüência total de ambos os alelos (p + q) é igual a 1. Portanto, (p + q)2 = p2 + 2pq + q2 = soma das freqüências genotípicas = 1. Constata-se assim que para quaisquer freqüências alélicas, considerando um único loco gênico, com intercruzamentos ao acaso entre os genótipos e na ausência de seleção, migração ou mutação, em apenas uma geração as freqüências genotípicas estabilizam-se. Estabelecido o equilíbrio, este se mantém até que as freqüências alélicas sejam alteradas por uma das forças modificadoras, como seleção, ausência de panmixia, migração, mutação e efeito de amostragem. A mutação é importante apenas sob o ponto de vista evolutivo, pois só altera as freqüências alélicas significativamente quando ocorre de forma recorrente, durante centenas ou milhares de gerações. Cruzamento Genótipos e suas freqüências na progênie Tipo Freq. AA Aa aa AA x AA P2 P2 AA x Aa 2PH PH PH AA x aa 2PQ 2PQ Aa x Aa H2 4 1 H2 41 H 2 4 1 H2 Aa x aa 2HQ HQ HQ aa x aa Q2 Q2 1,00 (P+ 21 H) 2 2 (P+ 21 H) (Q 21 H) (Q+ 21 H) 2 150 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos Numa população grande com intercruzamento ao acaso, em que todos os genótipos são igualmente viáveis, as freqüências de alelos dependem das freqüências alélicas da geração anterior e não das freqüências genotípicas. Estas, por sua vez, dependem unicamente da freqüência alélica. Voltando ao exemplo dado em que p(A) = 0,60 e q(a) = 0,40, verifica-se que a composição da geração seguinte será 0,36 AA + 0,48 Aa + 0,16 aa. A geração anterior apresentava 0,30 AA + 0,60 Aa + 0,10 aa. Portanto, não estava em equilíbrio. 13.2. MELHORAMENTO DE POPULAÇÕES O melhoramento de populações de plantas alógamas consiste no aumento da freqüência de alelos favoráveis. É conseguido através de diferentes métodos de seleção, constituindo um processo contínuo e progressivo. Na prática procuram obter-se populações com proporção de alelos favoráveis cada vez maiores, enquanto se sucedem os ciclos seletivos. À medida em que as freqüências dos alelos favoráveis tornam-se maiores os ganhos genéticos tendem a reduzir-se. Nessas condições podem ocorrer, embora raramente, fixações alélicas, motivadas por oscilações de freqüências sob condições de pequeno tamanho populacional. Vários fatores influenciam a taxa de elevação das freqüências alélicas, como a variabilidade genética da população original, a precisão e a técnica com que os genótipos são avaliados, a influência do ambiente, efeito da interação com o ambiente, ligações gênicas, efeitos pleiotrópicos, correlações fenotípicas e genotípicas. O melhoramento normalmente provoca um estreitamento da base genética da população. Porém, isso não chega a ser um fator limitante ao processo, pois a não fixação de alelos preserva alguma variabilidade, enquanto quebras de blocos gênicos e recombinações a ampliam. Assim, uma população melhorada será constituída por vários genótipos e apresentará maior estabilidade fenotípica. Alguns dos objetivos gerais que devem ser considerados no melhoramento de populações são os seguintes: a) Comparar os diferentes métodos e técnicas de seleção; b) Conhecer a estrutura e composição do material básico, em termos de seus parâmetros genéticos e fenotípicos, visando maximizar os ganhos que possam advir pela utilização de qualquer método de melhoramento; 151 Melhoramento de Populações de Plantas Alógamas por Seleção c) Obter populações superiores em relação a um ou mais caracteres de interesse agronômico. Tais populações podem ser destinadas ao uso per se ou como fonte de linhagens para obtenção de híbridos superiores. 13.3. MÉTODOS DE SELEÇÃO São utilizadas diversas modalidades de seleção, caracterizadas pelo grau de controle parental dos progenitores selecionados, existência ou não de avaliações de progênies, e controle ambiental. Utilizou-se o milho para exemplificar os métodosdescritos a seguir, porém estes podem ser aplicados a todas as espécies alógamas: 13.3.1. Seleção massal A seleção massal ou seleção massal simples constitui-se no método em que o controle de ambiente é quase insignificante e o controle parental ocorre apenas do lado materno. Consiste na seleção das melhores plantas em relação ao caráter desejado, no momento da colheita, e, a utilização de suas sementes para a realização do plantio seguinte. Assim, tem-se o controle apenas do progenitor feminino. Como não é feito o controle de ambiente a variação fenotípica entre as plantas pode estar relacionada a variações na fertilidade do solo. A seleção massal foi praticada durante centenas ou milhares de anos pelos povos nativos da América, talvez de forma inconsciente, tendo contribuído para originar a grande variabilidade entre as raças e tipos de milho. Foi importante para que a espécie Zea mays L. atingisse o elevado grau de domesticação e produtividade apresentados hoje em dia, com um aumento de até 15 vezes no número de grãos produzidos em cada espiga. A utilização racional da seleção massal começou nos Estados Unidos, no final do Século XIX, mas em geral os resultados não foram muito expressivos. Certamente vários fatores contribuíram para o relativo insucesso da seleção massal, destacando-se os seguintes: a) Dificuldade de identificar bons genótipos pelo aspecto fenotípico de plantas individuais; b) Seleção muito rigorosa em populações pequenas e amostragem deficiente, provocando perda de alelos importantes e endogamia muito rápida, com a conseqüente perda de vigor; 152 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos c) Contaminação com pólen de plantas estranhas de populações adjacentes; d) Interação da cultivar obtida com o local onde a seleção foi realizada, determinando baixa estabilidade fenotípica. Além disso, o grande número de gerações com seleção massal contribuiu para que as atuais cultivares de milho apresentassem pequena variabilidade genética aditiva, como sugere Hull (1945, 1952). Todavia, Sprague e Tatum (1942) já haviam ressaltado a importância dessa variabilidade e vários trabalhos mais recentes demonstram que a maior proporção da variação hereditária das cultivares modernas de milho é constituída pela variância aditiva, conforme Gardner (1963). Assim, a seleção massal pode ser eficaz em determinadas situações. Seleção massal estratificada Um esquema baseado no controle parcial da heterogeneidade do solo, proposto por Gardner em 1961, pode tornar a seleção massal mais eficiente. Consiste em dividir a área em estratos, sendo a seleção efetuada dentro de cada um destes, independentemente dos demais. Para o milho, usando-se sementes da variedade que se quer melhorar semeia-se um lote isolado, no espaçamento convencional, em linhas distanciadas de 1m, com 5 sementes por metro linear, por exemplo. Para garantir um estande suficiente podem ser colocadas 10 sementes/metro e depois realizar-se o desbaste. Na colheita, o campo é dividido em estratos semelhantes a parcelas, constituídos por uma fileira de 10 metros ou duas fileiras de 5 metros, perfazendo 10 metros quadrados de área, nos quais a colheita se faz separadamente. A intensidade de seleção fica a critério do melhorista, podendo situar-se entre 5 a 20%. Para uma intensidade de seleção de 10% selecionam-se três ou quatro plantas superiores e que estejam em competição com as demais, em cada estrato. Sementes obtidas de espigas colhidas dessas plantas serão utilizadas para o plantio seguinte. Para garantir uma amostragem representativa toma-se o mesmo número de sementes de cada espiga. O ciclo seguinte é conduzido de modo idêntico. A seleção massal estratificada apresenta vantagens e também limitações. Algumas das vantagens, são: a) Execução relativamente fácil; b) Tamanho efetivo populacional grande, isto é, o número de plantas que contribui para formar a população na geração seguinte normalmente representa bem a variabilidade genética existente; 153 Melhoramento de Populações de Plantas Alógamas por Seleção c) Pode ser aplicada intensidade de seleção forte, de até 1%, possibilitando maiores ganhos genéticos; d) O material sob seleção é avaliado todos os anos, o que reduz problemas de interação com anos; e) Um ciclo seletivo é completado a cada ano. As limitações relacionam-se às seguintes questões: a) Não se fazem testes de progênies. Assim não se sabe se as plantas selecionadas vão realmente produzir descendentes superiores; b) Como o material é avaliado em um único local há tendência de adaptação a áreas específicas; c) Plantas altas, mais produtivas, tendem a inibir a manifestação do potencial de plantas baixas, quando em condições de competitividade entre si. Visando minimizar esses problemas, algumas modificações foram sugeridas. A mais eficiente delas é a seleção massal estratificada geneticamente. Seleção massal estratificada geneticamente O processo visa controlar o efeito da heterogeneidade do solo através do plantio intercalado de plantas de um genótipo constante, como um híbrido simples, ou até mesmo um triplo ou duplo. Esse é plantado intercaladamente ao material a ser selecionado, de modo que após duas plantas da população tenha-se uma do material de genótipo constante, apresentando a seguinte disposição no campo: Nesse esquema, P representa a planta da população e C representa a planta de genótipo constante. Um estrato é constituído por duas plantas da população e uma de genótipo constante. A seleção é feita com base nas produções das plantas da população ajustadas em relação a esta. Por exemplo, se num estrato a planta do híbrido produziu 200g de grãos e as adjacentes 220g e 190g, então essas plantas produziram 110% e 95%, respectivamente, em relação ao híbrido. Em outro estrato a planta híbrida pode ter produzido 150g e, as adjacentes, 170g e 160g. Assim, a produção relativa de cada uma será 133% e 106%, respectivamente. A seleção é feita em função desses valores relativos. P C P P C P P C P P C P P C P 154 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos Para evitar a contaminação das plantas da população com pólen produzido pelos híbridos pode-se tomar uma das seguintes medidas: a) Usar uma população em homozigose recessiva para um loco gênico que controle uma característica do endosperma da semente, isto é, que apresente efeito de xenia; b) Empregar plantas de genótipo constante que sejam macho-estéreis; c) Despendoar as plantas de genótipo constante no início do florescimento. 13.3.2. Seleção com testes de progênies Conforme Allard (1971) o teste de progênie consiste na avaliação do genótipo dos progenitores com base no fenótipo de seus descendentes. Tem sido adotado tradicionalmente para avaliar o genótipo de animais e de plantas perenes ou de propagação vegetativa. A seleção com teste de progênie é mais eficiente que a seleção massal porque possibilita uma avaliação mais precisa das plantas selecionadas, pois as progênies são avaliadas em ensaios com repetições, resultando maior precisão das médias. Além disso, a possibilidade de avaliações em vários locais reduz o efeito da interação genótipo x ambiente no resultado da seleção, o que permite a utilização mais ampla do material selecionado. No milho, que é uma espécie anual, as plantas não sobrevivem em relação às suas progênies e assim torna-se necessário usar os descendentes para a manutenção da base genética. Em razão dessa particularidade tornou-se comum usar o termo família como designativo da progênie que constitui a própria base genética de uma planta parental. Seleção espiga-por-fileira Este método foi empregado nos Estados Unidos a partir de 1897, na Estação Experimental de Illinois, com o objetivo de alterar o teor de óleo e proteína na semente do milho. Seleções foram conduzidas separadamente no sentido de aumentar e também reduzir a manifestação do caráter. Após a publicação dos primeiros resultados o método passou a ter grande aceitação.Vieira (1976a) descreve os passos para a sua execução: a) Numa população de polinização livre, selecionam-se de 50 a 100 espigas. Parte das sementes de cada espiga é utilizada para semeadura, em fileira, e parte é identificada e guardada, vindo a constituir sementes remanescentes; 155 Melhoramento de Populações de Plantas Alógamas por Seleção b) Cada fileira é avaliada com base em todas as suas plantas. Aquelas que se mostrarem superiores são colhidas separadamente e a produção de sementes é determinada; c) Sementes remanescentes das plantas que deram origem às 20 melhores fileiras são misturadas e semeadas em campo isolado no ano seguinte. Nesse ano selecionam-se novamente as espigas, repetindo-se o processo. São necessários dois anos para se completar cada ciclo, podendo o processo ser repetido enquanto ocorrer resposta à seleção. O método foi eficaz para modificar a composição química dos grãos de milho durante um grande número de gerações. Todavia mostrou-se pouco eficiente para aumento de produtividade de grãos. Isso pode ser explicado, pois a produtividade é um caráter de baixa herdabilidade, não sendo possível sua avaliação precisa em fileiras, sem repetições, em um único ambiente. Admite- se assim que o insucesso do método em alguns casos não foi devido a limitações genéticas, mas sim a técnicas experimentais de campo inadequadas, o que não possibilitou a avaliação correta dos genótipos. É possível também que a endogamia advinda do uso de populações de tamanho restrito e a falta de isolamento tenham atuado como fatores limitantes ao aumento da produtividade em alguns dos casos. Teor de óleo e proteína são caracteres pouco afetados pelo ambiente, com herdabilidade alta. Para esses caracteres o método é eficiente. O mesmo pode dizer-se em relação à precocidade. Seleção entre e dentro de famílias de meios-irmãos Uma alteração no método espiga-por-fileira foi proposta por Lonnquist (1964) com o objetivo de torná-lo mais eficiente. O método espiga-por-fileira- modificado, como ficou conhecido, consiste essencialmente na avaliação e seleção de progênies de meios-irmãos, juntamente com a seleção das melhores plantas dentro de cada progênie. Por isso é também denominado seleção entre e dentro de família de meios-irmãos, por sugestão de Paterniani, 1967. O termo meios-irmãos vem sendo usado regularmente; a rigor, etimologicamente, seria mais adequada a expressão meios-irmãos. O processo inicia-se com a obtenção de espigas de polinização livre, colhidas nas melhores plantas da população que se quer melhorar. As espigas de cada planta constituem uma única progênie de meios-irmãos. Sementes de cada progênie são guardadas separadamente. 156 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos Avalia-se o desempenho das progênies de meios-irmãos, em relação aos caracteres de interesse, em experimentos com repetições. Normalmente são avaliadas de 200 a 500 progênies. Aplica-se uma intensidade de seleção de 10% a 20%. Essa etapa constitui a seleção entre famílias de meios-irmãos. As famílias selecionadas são recombinadas entre si na geração seguinte, utilizando-se sementes remanescentes. Em um campo isolado são plantadas as progênies selecionadas, constituindo o progenitor feminino, em linhas paralelas. Intercaladamente a estas planta-se o progenitor masculino, o qual é constituído por uma mistura das sementes de todas as progênies selecionadas na etapa anterior, na proporção de uma fileira masculina para duas ou três femininas. Na época do florescimento as fileiras femininas são despendoadas. Por ocasião da colheita são escolhidas as melhores plantas dentro de cada fileira feminina, o que constitui a seleção dentro de famílias de meios- irmãos. As espigas colhidas dessas plantas constituirão novas progênies de meios-irmãos que poderão ser usadas para começar outro ciclo de seleção. Conforme Paterniani e Miranda Filho (1987) esse método tem proporcionado aumento de 2,0% a 13,8% na produtividade de grãos em milho, por ciclo. Seleção entre e dentro de famílias de irmãos-completos Famílias de irmãos completos constituem a descendência do cruzamento entre pares de plantas. São também denominadas famílias de irmãos germanos. O método é bastante antigo e tem sido eficiente no melhoramento de populações de milho. A partir de uma população-base podem ser obtidas inúmeras famílias de irmãos-completos pelo cruzamento de plantas duas a duas. Assim, a partir de 400 plantas da população podem ser obtidas 200 famílias de irmãos-completos. Essas progênies podem então ser avaliadas para seleção. O processo de execução das etapas para seleção entre e dentro é o mesmo descrito para famílias de meios-irmãos. Seleção entre e dentro de famílias endogâmicas S1 ou S2 Progênies endogâmicas são obtidas pela autofecundação de plantas da população. Normalmente são autofecundadas aproximadamente 500 das melhores plantas da população. No momento da colheita são selecionadas e colhidas as espigas mais sadias e portadoras de características desejáveis. Sementes de cada espiga são mantidas separadamente. 157 Melhoramento de Populações de Plantas Alógamas por Seleção A etapa seguinte consiste na colocação das progênies selecionadas em ensaios para avaliação, como se faz em outros métodos de seleção de progênies. Aplicando-se uma intensidade de seleção de 10% a 20% escolhem-se as melhores famílias. Estas são então recombinadas do modo usual já descrito para outros métodos, utilizando-se para isso as sementes remanescentes. As sementes obtidas da recombinação constituem o produto do primeiro ciclo seletivo. A recombinação pode ser repetida por mais uma geração, após a qual inicia-se o ciclo seguinte com a autofecundação das melhores plantas da população gerada no ciclo anterior. O método de progênies endogâmicas é recomendado especialmente para caracteres de baixa herdabilidade, pois a endogamia proporciona a liberação da variabilidade genética entre as progênies, possibilitando assim o aumento do ganho genético com a seleção. A realização de polinizações controladas e o pequeno tamanho efetivo populacional, que é o menor de todos, constituem as limitações do método. Seleção recorrente O processo em que a seleção é repetida em gerações sucessivas, após intercruzamentos de materiais selecionados, com a finalidade de se obter recombinações gênicas, foi denominado seleção recorrente por Hull (1945). É um processo contínuo de melhoramento, no qual vários ciclos se sucedem. Atualmente esse método vem sendo empregado também no melhoramento de autógamas, como arroz, feijão e soja, Borém (1997). A técnica básica consiste na seleção de plantas superiores em uma população base, com posterior intercruzamento, para se obter a população de primeiro ciclo. Nesta, o processo é repetido, originando a população de segundo ciclo. Vários métodos, como a seleção massal e técnicas de melhoramento populacional baseadas em testes de progênies, enquadram-se nessa modalidade de seleção, como lembram Paterniani e Miranda Filho (1987). A seleção recorrente com testes de progênies inicia-se com a obtenção destas por uma dos métodos já descritos. Sementes de cada progênie são guardadas separadamente. Na geração seguinte as progênies são avaliadas em ensaios de produção, anotando-se também os dados referentes a outros caracteres de interesse agronômico, selecionando-se então as superiores, sob intensidade de seleção de 10% a 20%. Na geração seguinte faz-se a recombinação das progênies selecionadas, usando sementes remanescentes, em lotes de despendoamento. Ao final, o material obtido é usado para iniciar um novo ciclo de seleção. 158 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos O processo pode ser mais rápido obtendo-se, por exemplo, progênies de irmãos completos já na primeira geração. Para isso são escolhidas as melhores plantas dentro de cada progênie, e estas são então cruzadas uma a uma com as melhores plantas de outras progênies. Conforme literatura sobre o assunto, esse método tem proporcionadoganhos de 2,5% a 9,3% por ciclo, em populações de milho, sempre com o mínimo de quatro ciclos. A aplicação da seleção recorrente visa aumentar continuamente a freqüência de alelos favoráveis, o que se consegue nos diversos ciclos. Alguns métodos têm sido mencionados na literatura como esquemas bem definidos que os enquadram no conceito que hoje se adota para definir a seleção recorrente, caracterizada em quatro modalidades: a) Seleção recorrente fenotípica. b) Seleção recorrente para capacidade geral de combinação. c) Seleção recorrente para capacidade específica de combinação. d) Seleção recorrente recíproca. Seleção recorrente fenotípica A seleção recorrente fenotípica, ou simples, é apropriada para os casos em que a seleção na população inicial é feita com base no fenótipo da planta; portanto, tem sido indicada para caracteres de alta herdabilidade, ou seja, pouco influenciados pelo ambiente, em grande parte devidos a efeitos gênicos aditivos. É relativamente simples, pois os caracteres são avaliados no próprio indivíduo, na geração S0. Também não se faz necessária a autofecundação, podendo-se completar um ciclo em cada geração. Paterniani e Miranda Filho (1987) ressaltam que o método tem sido eficiente para caracteres como resistência a doenças e pragas, composição química do grão, altura da planta e capacidade de expansão em milho pipoca. Segundo Brauer (1973) esse método é usado quando a capacidade combinatória não é de importância principal. A descendência obtida pelo intercruzamento das plantas selecionadas em um ciclo é utilizada para identificar a capacidade de combinação das linhas e simultaneamente é usada como fonte para um novo ciclo de seleção. Desse modo, reduz-se consideravelmente o tempo requerido para cada ciclo. Sprague e Brimhall (1950) compararam dois métodos de seleção fenotípica para teor de óleo em grãos de milho e verificaram que a seleção recorrente foi nitidamente superior. 159 Melhoramento de Populações de Plantas Alógamas por Seleção Em 1954 Jenkins e colaboradores apresentaram dados que mostravam a eficiência da seleção recorrente para concentrar alelos de resistência a Helminthosporium turcicum em milho a partir de uma população na qual 50% das plantas apresentavam resistência satisfatória. No primeiro, segundo e terceiro ciclo de seleção recorrente foram obtidas 52,2%, 72,5% e 79,5% de plantas resistentes, respectivamente. Seleção recorrente para capacidade geral de combinação Trata-se de um método mais indicado para caracteres controlados predominantemente por genes de efeito aditivo, muito afetados pelo ambiente, portanto de herdabilidade baixa. O esquema foi proposto por Jenkins (1940), como uma maneira de obtenção de variedades sintéticas superiores, apesar de que nessa época ainda não se usasse o termo seleção recorrente. O método é aplicável a plantas prolíficas. Inicia-se com autofecundação de um número suficiente de plantas de uma população heterogênea e simultaneamente com cruzamento das plantas autofecundadas com um testador de base genética ampla, que pode ser uma variedade de polinização aberta ou um híbrido duplo, com o fim de se avaliar a capacidade geral de combinação. A seguir são conduzidos ensaios de produção onde são identificados os genótipos com melhor desempenho, os quais são cruzados entre si. O processo consiste nas seguintes etapas, cada uma efetuada em um ano: a) Autofecundação de centenas de plantas de uma população heterogênea. b) Cruzamento das progênies S0, com um testador de base genética ampla, usando-se geralmente a variedade parental como testador. Isto constitui a obtenção de top-crosses ; eliminam-se as progênies inferiores. c) As progênies, ou top-crosses , selecionadas na etapa anterior, são avaliadas em ensaios de produção. d) Intercruzamentos de um grupo de progênies escolhidas com base nos resultados dos ensaios. Utilizam-se para isso sementes remanescentes. Assim é obtida a população sintético-1. e) Plantio de sementes de sintético-1 em campo isolado, obtendo-se o sintético-2 por cruzamento livre. 160 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos A eficiência da capacidade geral de combinação tem sido demonstrada pelo comportamento das populações per se , pelo comportamento em cruzamento e pela capacidade geral de combinação das linhagens delas extraídas. Seleção recorrente para capacidade específica de combinação Sugerido por Hull (1945) este esquema difere do anterior apenas pela utilização de um testador de base genética estreita, como uma linhagem endogâmica ou mesmo um híbrido simples. A pressuposição básica do método é que as interações alélicas de sobredominância são altamente responsáveis pelo vigor híbrido ou heterose. Assim o método oferece a possibilidade de se concentrar numa população heterogênea os alelos que podem proporcionar máxima heterose em relação a um determinado testador. Muitos pesquisadores, no entanto, vêm o método com reservas, argumentando que: a) Pode não ser tão vantajoso dirigir esforços no sentido de se obter uma linhagem com alta capacidade específica de combinação, pois esta, por melhor que seja, pode vir a apresentar algum problema, tornando- se necessária sua substituição. Assim, aqueles esforços seriam perdidos; b) Há evidências de que grande parte do vigor híbrido seja devida à interação alélica de dominância completa e não à sobredominância; c) O uso de um testador homozigoto tende a contribuir para que a interação entre o material testado e ambientes, como locais e anos, torne-se mais expressiva, como destaca Sprague (1955). Parece que o estudo da capacidade específica de combinação, ao nível de populações, é de interesse mais acadêmico. A proporção de linhagens superiores possíveis de serem extraídas de uma população, capazes de produzir híbridos também superiores, depende teoricamente de dois fatores, conforme Allard (1971): a) Proporção de genótipos superiores na população base; b) Eficiência da seleção em elevar a freqüência de alelos favoráveis, ou combinações destes, durante o processo de autofecundações sucessivas. A freqüência de alelos favoráveis no conjunto gênico de uma população determina a proporção de genótipos superiores. 161 Melhoramento de Populações de Plantas Alógamas por Seleção Seleção recorrente recíproca O método foi proposto por Comstock, Robinson e Harvey (1949) com o objetivo de aumentar a resposta heterótica entre duas populações. Considerando-se duas populações básicas A e B o processo consiste em se tomar em cada ciclo os melhores genótipos de A, que produzem descendentes mais vigorosos em cruzamentos com B, assim como os melhores de B que produzem maior vigor quando cruzados com A, e recombiná-los entre si, gerando novas populações A e B. Essas duas populações assim melhoradas apresentarão maiores probabilidades de dar origem a linhagens que venham a apresentar boa capacidade específica de combinação. Além disso podem ser obtidas progressivamente melhores linhagens ao longo dos ciclos sucessivos de seleção. Comparações teóricas têm demonstrado que a seleção recorrente recíproca é tão eficiente quanto os demais métodos de seleção recorrente, ou mesmo superior, dependendo dos tipos de ação gênica em questão. A seleção recorrente recíproca explora os vários tipos de ação gênica conjuntamente, como os efeitos aditivos dos genes e as interações alélicas de dominância parcial, completa e sobredominância. Segundo Paterniani e Miranda Filho (1987) esse método não tem sido adotado em larga escala pelos melhoristas de milho. A execução do método se dá através das seguintes etapas: a) Autofecundação de plantas da população A e cruzamento simultâneo com plantas de B. De igual modo, plantas de B são autofecundadas e também cruzadas com outras de A. Os cruzamentos são realizados colocando-se pólen de uma planta autofecundada em estigmas de quatro ou cinco plantas da outra população, tomadas ao acaso. b) Avaliação das progênies obtidas dos cruzamentos em ensaios. c) Recombinação das melhoreslinhagens S1 de A, identificadas na etapa anterior. O mesmo é feito em relação às melhores linhagens S1 de B. Se necessário, um novo ciclo de seleção pode ser iniciado. Aceita-se, comumente, que a seleção recorrente recíproca seja um método geneticamente correto, devendo ser mais eficiente, teoricamente, que os outros esquemas de seleção recorrente quando estejam envolvidos locos com diferentes graus de dominância. Porém, Schnell (1961) fez objeções a essa hipótese por entender que o método não aproveita a capacidade específica de 162 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos combinação, pelo menos nos primeiros ciclos de seleção. Posteriormente, Cress (1966) encontrou evidências de que a eficiência da seleção recorrente recíproca em relação à seleção intrapopulacional depende das freqüências alélicas e do tipo de ação gênica. Algumas limitações de ordem prática, destacadas por Paterniani e Miranda Filho (1987), parecem dificultar o uso generalizado do método: a) Autofecundações e cruzamentos simultâneos são operações que exigem muita mão de obra. b) Falta de representatividade do testador, pois são tomadas apenas quatro ou cinco plantas de uma população para serem cruzadas com uma planta autofecundada da outra população. c) Inadequada recombinação entre progênies S1 selecionadas. Deveria ser conduzida pelo menos mais uma geração de intercruzamentos. d) O grande intervalo de tempo entre os ciclos acarretaria alguns inconvenientes, como menor ganho por ano e menor oportunidade para se selecionar com base em condições climáticas mais representativas. O processo possibilita uma atuação muito intensa da interação genótipo x ano, pois em quatro ou cinco anos é feita apenas uma avaliação dos ensaios. Para evitar esses inconvenientes foram sugeridas as seguintes modificações para a seleção recorrente recíproca, descritas detalhadamente por Paterniani e Miranda Filho (1987): a) Seleção recorrente recíproca com famílias de meios-irmãos. b) Seleção recorrente recíproca com famílias de meios-irmãos obtidas de plantas prolíficas. c) Seleção recorrente recíproca com famílias de irmãos completos. d) Métodos combinados. Considerações: Brauer (1973) faz as seguintes considerações sobre a seleção recorrente: a) Reduzindo-se o tamanho da amostra que dará origem às populações pode obter-se maior ganho em um determinado ciclo de seleção, mas isso provocará redução também na possibilidade de ganhos em futuros ciclos, pelo estreitamento da base genética. 163 Melhoramento de Populações de Plantas Alógamas por Seleção b) Os resultados finais dependerão do tipo de ação gênica e da forma em que se vai aproveitar a seleção recorrente. Se o objetivo é a formação de uma variedade sintética, os resultados da seleção serão mais eficientes sobre caracteres de ação gênica aditiva. Se o produto final for linhagens para a obtenção de híbridos, poderão ser aproveitadas interações alélicas de dominância e sobredominância. c) A seleção recorrente recíproca é muito eficiente para melhorar caracteres agronômicos, em geral qualitativos. A eficiência dependerá da herdabilidade, do tamanho da amostra, das freqüências alélicas e do grau de homozigose dos indivíduos da população que está sendo selecionada. d) A seleção recorrente para capacidade geral de combinação está baseada na ação gênica aditiva; e) Os limites teóricos da seleção recorrente são determinados pelo tamanho da amostra e pelas freqüências alélicas. Uma amostra pequena tomada na população original limita os resultados finais, por reduzir consideravelmente a variabilidade genética, enquanto amostras muito grandes são de difícil manuseio. Além disso o grau de homozigose pode ser alto, pois uma amostra pequena conduz a cruzamentos entre plantas intimamente relacionadas entre si, condicionando endogamia em níveis que podem afetar todo o processo de seleção. A freqüência de alelos favoráveis na população original determina o resultado final da seleção em relação ao caráter ou caracteres desejados. 164 Melhoramento Genético de Plantas: Princípios e Procedimentos
Compartilhar