Buscar

Politicas Publicas em Saude_Unidades 3 e 4

Prévia do material em texto

P
o
lítica
s P
ú
b
lica
s e
m
 Sa
ú
d
e
Gestão em 
Saúde da Família
G
es
tã
o 
em
 S
aú
d
e 
d
a 
F
am
íl
ia
G
estã
o
 em
 S
a
ú
d
e d
a
 F
a
m
ília
Allan Saffiotti
A
llan Saffiotti
olíticas
em aúde
úblicas
S
P
P
UNIDADE 3 
e 1930 a 1960:D
E
E N
Vra 
stado ovo
argas e o
39
 A quebra da bolsa de Nova York, em 
1929, gerou uma grave crise sem precedentes 
nos Estados Unidos e consequentemente um 
abalo em vários países no mundo, já que, naquela 
época, eles detinham quase a metade da produ-
ção industrial mundial.
	 Desde	o	fim	da	primeira	guerra	mundial,	
com a Europa empobrecida e endividada, o Brasil 
se tornara mais dependente economicamente da 
exportação do café para os Estados Unidos, e a 
crise trouxe sérias consequências políticas, econô-
micas e sociais. Como o café não é um produto de 
primeira necessidade, os americanos deixaram de 
importar, e seu preço caiu severamente, afetando 
gravemente nossa economia e as oligarquias no 
poder, o que levou a Revolução de 30. 
 Aproveitando o descontentamento po-
pular e da burguesia, em 1930, Getúlio Vargas 
toma o poder e rompe com a política do café 
com leite, assumindo o governo. Ele governou 
o país durante 15 anos seguidos, sendo que de 
1930 a 1934 como chefe do Governo Provisório, 
depois eleito pelo Congresso Nacional (1934), e 
de 1937 a 1945, período conhecido como Estado 
Novo, implantado após um golpe de estado.
 Como consequência positiva da crise, 
40
na	 economia	 o	 Brasil	 diversifica	 os	 produtos	
de exportação e passa a desenvolver seu parque 
industrial, principalmente através das interven-
ções estadistas de Getúlio Vargas. Como parte 
destas intervenções, a estrutura do Estado toma 
nova forma: são criados o “Ministério do Tra-
balho”, o da “Indústria e Comércio”, o “Minis-
tério da Educação e Saúde” e juntas de arbitra-
mento trabalhista.
 Getúlio Vargas estabeleceu o salário mí-
nimo, que melhorou os ganhos da população, e 
promulgou a Lei da Sindicalização, vinculando 
os sindicatos brasileiros ao presidente, pois que-
ria apoio popular em suas decisões. Ele também 
cria a Consolidação das Leis Trabalhista (CLT), 
em 1943, assegurando direitos básicos aos tra-
balhadores: salário mínimo, férias remuneradas, 
jornada diária de no máximo 8 horas, proteção 
ao trabalho da mulher e do menor e estabilida-
de no emprego. Governista hábil e carismáti-
co, suas medidas garantiam apoio popular ao 
mesmo tempo em que cuidava dos interesses 
dos grandes empresários e grandes agriculto-
res. É o chamado governo populista: todo o 
governo	é	 centrado	na	figura	do	presidente,	 e	
o recém-criado Departamento de Propaganda 
41
trabalha a imagem de um líder próximo, crian-
do a impressão de uma relação direta do povo, 
emocional e paternalista. Ficou conhecido, por 
isso, como: “Pai dos pobres e mãe dos ricos”. 
A intenção era fazer essas ações surgirem como 
dádivas do governo e do Estado, não como di-
reitos ou como fruto de lutas populares, enfra-
quecendo o movimento trabalhista e manten-
do-o no controle do Estado. 
 No plano da saúde, uma importante mo-
dificação,	 ocorrida	 em	 1933,	 foi	 a	 unificação	 e	
uniformização das estruturas de assistência em 
saúde no Brasil, instituindo os IAP’s (Instituto 
de Aposentadoria e Pensões). Com isso conse-
guiu	diminuir	os	conflitos	entre	operários	e	 in-
dustriais, já que a organização agora passa a ser 
por	 categorias	 profissionais,	 não	mais	 por	 em-
presas. O Estado passa a ter controle de todos os 
recursos	financeiros	das	CAPs.	No	artigo	46	do	
seu decreto de constituição, ele assegurava:
a) aposentadoria;
b) pensão em caso de morte para os membros de 
suas	famílias	ou	para	os	beneficiários,	na	forma	
do art. 55:
c) assistência médica e hospitalar, com interna-
42
ção até trinta dias;
d) socorros farmacêuticos, mediante indenização 
pelo preço do custo acrescido das despesas de 
administração.
§ 2o - O custeio dos socorros mencionados na 
alínea c não deverá exceder à importância cor-
respondente ao total de 8% , da receita anual do 
Instituto, apurada no exercício anterior, sujeita a 
respectiva verba à aprovação do Conselho Na-
cional do Trabalho.
 Segundo Polignano (2007), a partir da 
capacidade de organização, mobilização e im-
portância	das	categorias	profissionais,	os	IAP’s	
foram sendo criados: em 1933 foi criado o pri-
meiro instituto, o de Aposentadoria e Pensões 
dos Marítimos (IAPM), em 1934 o dos Co-
merciários (IAPC) e dos Bancários (IAPB), em 
1936	 o	 dos	 Industriários	 (IAPI),e	 em	 1938	 o	
dos Estivadores e Transportadores de Cargas 
(IAPETEL). Ou seja, todos vinculados aos pó-
los dinâmicos de acumulação capitalista.
 Diferente do que ocorria com as CAPs, 
o	Estado	passa	a	financiar	diretamente	os	IAPs,	
junto com empregados (os recursos eram capta-
43
dos pela contribuição compulsória sobre a folha 
de salário) e empregadores. A assistência médica 
individualizada era garantida aos trabalhadores 
urbanos com carteira assinada (trabalho formal), 
e era oferecida através da rede privada, que ven-
diam serviços aos IAPs. Trabalhadores rurais, 
desempregados e trabalhadores informais conti-
nuam sem acesso à assistência médica e hospita-
lar. É preciso também salientar que a maioria da 
população, nessa época, vivia no campo.
 Getúlio Vargas irá aplicar parte dos re-
cursos do IAPs, controlados pelo governo, no 
financiamento	 da	 industrialização	 do	 Brasil.	
Como exemplo, temos a Siderúrgica de Volta 
Redonda, no Rio de Janeiro.
 Com a aceleração do desenvolvimento 
industrial, principalmente a partir da metade da 
década de 50, e o consequente aumento do tra-
balho formal, é que ocorre maior mobilização 
dos sindicatos pela assistência médica via ins-
titutos. Alguns IAPS tinham muito dinheiro e 
construíam seus próprios hospitais, como o Ins-
tituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários 
(IAPB), enquanto muitos outros, como Instituto 
de Aposentadoria e Pensões dos Industriários 
(IAPI) compravam serviços de terceiros. 
44
 Nesse momento, surge a medicina de 
grupo: são empresas que oferecem serviços 
médicos privados às empresas que os contra-
tam, se comprometem a atender os associados a 
esse plano. Dessa forma, o sistema previdenci-
ário brasileiro, através dos enormes aportes de 
recursos da poupança previdenciária, vai servir 
de base para a mercantilização da saúde. Ou 
seja:	 o	 dinheiro	 dos	 IAPs	 irá	 financiar	 a	 rede	
particular de hospitais e assistência médica será 
compreendida como uma oferta de serviço. 
 Com a Segunda Guerra Mundial, os 
EUA adotam como estratégia se aproximar do 
Brasil, investindo capital, conhecimento em pro-
paganda ideológica, por exemplo, temos o per-
sonagem	Zé	Carioca,	dos	filmes	de	Walt	Disney.	
Como	 consequência	 dessa	 influencia,	 o	 Brasil	
começa a se distanciar ainda mais do modelo de 
atenção à saúde baseado nos centros de saúde, 
para investir no modelo que tem como centro 
grandes hospitais, com a atenção compartimen-
talizada entre as diversas especialidades médicas.
 Dentro desta corrente de pensamento, 
a ideia é verticalizar o atendimento e dividir 
por doenças, criando leprosários para leprosos, 
hospitais para varíola, gerando segregação e 
45
distanciamento da realidade do povo.
 No plano da Saúde Pública, não há in-
tegração entre as ações preventivas e as ações 
curativas, nem planejamento em conjunto. En-
quanto as ações preventivas eram coordenadas 
e pelo Ministério da Educação e Saúde, os IAPs, 
responsáveis pela assistência médica, estavam 
vinculados ao Ministério do Trabalho. Apesar 
de alguns avanços na área da prevenção, a assis-
tência médica-hospitalar (as ações curativas) será 
hegemônica neste período, sendo que essa situa-
ção só se acentuara nas próximas décadas. 
 Polignano (2007) aponta que na era do 
Estado Novo poucas foram as investidas no setor 
da saúde pública, destacando-se, como ação im-
portante do período, a reforma Barros Barreto, de 
1941, tendo como pontos principais as ações:•	instituição	de	órgãos	normativos	e	supletivos	des-
tinados a orientar a assistência sanitária e hospitalar;
•	 criação	 de	 órgãos	 executivos	 de	 ação	 direta	
contra as endemias mais importantes (malária, 
febre amarela, peste);
•	 fortalecimento	 do	 Instituto	 Oswaldo	 Cruz,	
como referência nacional;
•	descentralização	das	 atividades	normativas	 e	
executivas por 8 regiões sanitárias;
46
•	destaque	aos	programas	de	abastecimento	de	
água e construção de esgotos, no âmbito da saú-
de pública;
•	 atenção	 aos	problemas	das	doenças	degene-
rativas e mentais com a criação de serviços es-
pecializados de âmbito nacional (Instituto Na-
cional do Câncer, hospitais para tuberculosos e 
hospitais psiquiátricos).
 Outras ações importantes foram as 
campanhas sanitárias e os programas especiais 
voltados para mães e crianças, tuberculose e 
endemias rurais, mantendo também centros de 
saúde e maternidades, utilizados pela população 
que não tinha direito ou acesso aos Institutos 
de Previdência.
 Em 1950 Getúlio é eleito pelo voto po-
pular,	depois	de	ser	deposto	em	1945,	ao	final	
da Segunda Guerra Mundial. Ele cria o Minis-
tério da Saúde em 1953, com a intenção de for-
talecer as ações em saúde pública, diferentes 
da assistência individual. Entretanto, isto não 
promoveu uma nova postura do governo, e os 
problemas mais sérios de saúde pública, como 
altas taxas de mortalidade infantil, aumento da 
tuberculose, malária e acidentes de trabalho 
continuaram sem atenção. 
47
Exercícios de Fixação
1) O que são IAPs e que mudanças trazem para 
a previdência social?
2) Compare o investimento em Saúde Pública 
nos governos de Getúlio Vargas e o investimen-
to em assistência individual.
3) Explique o surgimento da medicina de grupo 
e suas relações com os IAPs.
Sugestão de Pesquisa:
No período de governo de Getúlio Vargas, o 
Brasil acelerou o processo de industrialização e 
urbanização. Pesquise sobre as condições de vida 
da população brasileira em 1930 e compare com 
1954 (por exemplo, porcentagem de pessoas 
morando em cidades, escolarização, os indicado-
res de saúde – mortalidade infantil, expectativa 
de vida, entre outros). 
UNIDADE 4 
e 1960 a 1984:D
D
R
S
Mitadura
eforma
anitária
ilitar
e
51
	 No	plano	político,	a	década	de	60	inicia	
com uma profunda agitação política. Após a rá-
pida passagem pela presidência, Jânio Quadros 
renuncia	em	1961.	João	Goulart,	vice-presidente,	
assume. O fato provocou uma série de manifes-
tações contrárias das elites, que temiam uma mo-
dificação	da	situação	política	brasileira.	Goulart	
pretendia introduzir reformas de base (agrária, 
bancária, eleitoral, universitária), que levariam a 
diminuição das desigualdades sociais, por isso 
era considerado “comunista”.
 O medo da ascensão de um regime co-
munista	 leva	 ao	 golpe	 militar	 em	 1964,	 com	
apoio norte-americano, que depõe o João Gou-
lart. Ele e Jânio haviam sido eleitos democrati-
camente. Não se tratava mais de uma operação 
de combate a manifestações de massa, ou a po-
lítica social, mas de uma intervenção que levou 
a	uma	modificação	do	regime:	as	forças	arma-
das assumem o controle do país. O General 
Castelo Branco assume a presidência e inicia-se 
um período de censura à imprensa e repressão, 
com torturas e desaparecimento de pessoas. 
Os atos institucionais, notadamente o AI-5 de 
1968,	limitaram	as	liberdades	institucionais	e	o	
poder legislativo.
52
 Com apoio de capital externo, no plano 
econômico acontece o chamado milagre brasi-
leiro, o que dava apoio popular ao governo. O 
PIB aumenta consideravelmente, mas a diferen-
ça entre ricos e pobres é uma das maiores do 
mundo. Por conta do arrocho salarial e da falta 
de oportunidades, a classe média empobrece e 
o êxodo rural faz as cidades crescerem sem pla-
nejamento urbano, aumentando o número de 
doenças decorrentes das habitações precárias e 
falta de cuidados básicos. 
 O período de ditadura foi desastroso 
para quase todas as áreas sociais, e com a saúde 
não foi diferente, com um recrudescimento dos 
avanços obtidos anteriormente, sucateamento 
dos equipamentos, censura de dados que com-
prometiam a saúde pública, e diminuição do in-
vestimento em saúde pública.
4.1 Previdência Social: 
Lei Orgânica e INPS
 A lei 3.807, chamada Lei Orgânica da 
Previdência	Social	(LOPS)	é	aprovada	em	1960,	
depois de muitas resistências e debates por conta 
53
da perda de direitos conquistados por certas ca-
tegorias	profissionais.
 Os IAP’s eram restritos a determinadas 
categorias	profissionais	mais	organizadas	e	com	
poder político e econômico, e a importância des-
ta nova lei reside na uniformização das contri-
buições e prestações de benefícios dos diferen-
tes institutos, cobrindo todos os trabalhadores 
formais, exceto os trabalhadores rurais e do-
mésticos. Também não entravam os servidores 
públicos e de autarquias, regidos por regimes de 
previdência	 específicos.	Após	 seis	 anos,	 é	 cria-
do o Instituto Nacional de Previdência Social 
(INPS),	que	promove	a	unificação	 institucional	
de todos os IAPS (POLIGNANO, 2007).
 Podemos apontar como mudanças signi-
ficativas:
•	Aposentadoria	por	idade,	que	passou	a	ser	após	
os	60	anos	de	idade	para	as	mulheres	e	65	para	
os homens;
•Aposentadoria	 compulsória	 para	 os	 segurados		
que	alcançassem	65	anos,	para	as	mulheres,	e	70	
anos, para os homens; 
•	Aposentadoria	por	tempo	de	serviço	para	to-
dos os segurados, sem distinção de gênero, desde 
que contassem com mais de 30 (parcial – 80% 
54
do salário de benefício) ou 35 anos de serviço 
(integral), desde que alcançasse a idade mínima 
de 55 anos.
 A lei previa uma contribuição tríplice 
com a participação do empregado, empregador e 
a União. O governo federal nunca cumpriu a sua 
parte, o que evidentemente comprometeu seria-
mente a estabilidade do sistema (POSSAS,1981).
	 Para	os	trabalhadores	rurais,	finalmente,	
é	promulgada	a	lei	4.214	de	2/3/63	que	instituiu	
o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural 
(FUNRURAL). Entretanto, a situação dos traba-
lhadores	do	campo	não	se	modifica.	Em	1971,	é	
criado o Prorural, responsável pela extensão dos 
benefícios previdenciários aos trabalhadores ru-
rais. Ficou, então, determinada a constituição de 
fundos para a manutenção do Funrural. As apo-
sentadorias	—	por	idade	aos	65	anos	para	ambos	
os sexos e por invalidez — concedidas pelo Pro-
rural	 beneficiaram	 a	 unidade	 familiar	 e	 não	 os	
indivíduos. Os benefícios eram devidos apenas 
ao chefe ou arrimo da família. Apenas as mu-
lheres trabalhadoras rurais que eram chefes de 
domicílio tinham direito a um benefício próprio. 
Os valores dos benefícios eram bastante baixos, 
correspondendo a 50% do salário mínimo (CA-
55
MARANO & PASINATO, 2002).
 As reformas na previdência levam a um 
aumento da base de arrecadação (maior núme-
ro de contribuintes), mas, consequentemente, 
ao	aumento	do	número	de	beneficiários	e	a	ne-
cessidade do aumento da rede de atendimento, 
já que o sistema instalado não daria conta da 
nova demanda.
	 Ao	 unificar	 os	 IAPs	 com	 a	 criação	 do	
INPS, o governo militar passa a controlar todos 
os recursos que aportavam nos Institutos. O vo-
lume	 de	 recursos	 financeiros	 que	 aporta	 nesse	
instituto é tão grande que chega quase ao tama-
nho da arrecadação dos impostos do país. 
 Os técnicos do INPS, com ideologia pri-
vatista,	 promovem	 o	 financiamento	 da	 produ-
ção de serviços de saúde no setor privado, para 
ampliar a capacidade de atendimento. Ou seja, 
com	o	dinheiro	do	INPS,	o	governo	financia	a	
construção e os equipamentos hospitalares para 
a iniciativa privada, que em troca atenderiam os 
segurados do INPS, com a garantia do pagamen-
to dos atendimentos da população. 
 Como consequência importante dessa 
política,	a	assistência	em	saúde	no	Brasil	fica	es-
truturada em moldes privados e lucrativos, com 
56
grande capitalização e crescimento do setor pri-
vado de saúde. Muitos empresários, quando se 
sentiram capitalizados, se descredenciaram e dei-
xaramde atender pelo INPS.
 Polignano (2007), aponta que 
A existência de recursos para investimento e a 
criação de um mercado cativo de atenção mé-
dica para os prestadores privados levou a um 
crescimento próximo de 500% no número de 
leitos	 hospitalares	 privados	 no	 período	 69/84,	
de	tal	forma	que	subiram	de	74.543	em	69	para	
348.255 em 84.
 A partir deste momento, o modelo de as-
sistência médico privatista torna-se hegemônico 
no Brasil. Ele é voltado para as ações curativas 
individuais e pelo setor privado e, dentro des-
ta lógica, favorece a indústria de equipamento 
médico hospitalar e farmacêutica, que, em sua 
maioria, eram importados. Como principais ca-
racterísticas, podemos apontar:
•	O	enfoque	é	privilegiado	na	doença	e	na	cura:	
as ações são curativas individuais, e por episódio, 
por isso, mais caras; 
57
•	A	saúde	pública,	com	enfoque	na	promoção	da	
saúde, prevenção e cura, passa por um processo 
de abandono e sucateamento;
•	A	organização	da	assistência	no	modelo	Hos-
pitalocêntrico,	 de	 influência	 norte-americana:	 o	
Hospital	é	o	centro	de	todas	as	ações	de	saúde,	
e se dividiram por especialidades e seriam cons-
truídos nas grandes cidades. A atenção em saúde 
é pensada como serviço prestado e organizado de 
forma a gerar lucro para os empresários do setor. 
•	O	único	saber	legitimado	é	o	saber	médico: os 
demais	profissionais	de	saúde	trabalhariam	como	
auxiliares médicos; 
•	O	paciente	é	não	é	chamado	a	se	responsabi-
lizar pelo próprio cuidado, dele espera-se uma 
recepção passiva do tratamento estipulado pelo 
especialista, detentor do saber; 
•	É	um	sistema	excludente:	apenas	poderiam	ser	
atendidos os contribuintes do INPS, ou seja, tra-
balhadores com carteira assinada (trabalho for-
mal) e familiares. 
•	Não	há	fiscalização	nem	possibilidade	de	con-
trole da sociedade nos serviços prestados a co-
munidade, o que favoreceu o desvio de verbas e 
a corrupção. 
•	São	formados	vários	institutos:	IAPAS	(previ-
58
dência); INPS (benefícios) e INAMPS (Assistên-
cia médica individual). Todos estes formavam o 
SIMPAS. Com três institutos, diminui a transpa-
rência do uso dos recursos, também facilitando 
a corrupção.
4.2 Saúde Pública na 
Ditadura Militar
 No plano da saúde pública brasileira, go-
verno militar instituiu vários órgãos, como por 
exemplo, a SUCAM (Superintendência de Cam-
panhas da Saúde Pública), em 1970. Entretanto, 
esses órgãos não tiveram capacidade de efetivar 
ações,	pois	o	aporte	financeiro	era	pequeno.
 A maior parte dos recursos era empre-
gada nas ações de serviços médico curativos, 
mesmo	sendo	mais	caros,	e	era	financiada	pelas	
contribuições dos trabalhadores ao INPS. Dessa 
forma,	fica	evidente	que	o	Ministério	da	Saúde	
era mais um órgão normativo e burocrático que 
executor de políticas públicas de saúde (POLIG-
NANO, 2007).
 Com o AI-5, as ações integradas de saú-
de não funcionaram, pois não traziam planos 
59
4.3 Movimento 
da Reforma Sanitária 
e Transição Democrática
efetivos: programas de saneamento básico são 
abandonados e a saúde pública é sucateada. Ou-
tra consequência da opção pelo modelo médico 
curativo é o agravamento dos principais proble-
mas de saúde coletiva, com sensível piora dos in-
dicadores de saúde (mortalidade infantil, propor-
ção de pobre, expectativa de vida, morbidade), 
falta de controle das endemias e epidemias, e a 
volta de doenças transmissíveis, como a menin-
gite. Como agravante, o governo militar exerce 
controle rígido sobre o que é mostrado na mídia, 
censurando as informações sobre as epidemias 
de meningite e poliomielite.
 Em decorrência do excesso de gastos 
(aumentos constantes dos custos, pois muitos 
insumos e equipamentos eram importados), das 
fraudes	 e	 da	 corrupção	 (Hospitais	 e	 INAMPS	
superfaturavam o atendimento), a previdência 
começa a entrar em crise no início da década 
de 70. O país, dependente de recursos externo, 
60
começa a ver a diminuição do crescimento (re-
trocesso do “milagre econômico”), o que pro-
voca a diminuição da arrecadação e dos recur-
sos do INPS. De acordo com a Lei Orgânica da 
Previdência, união deveria repassar recursos do 
tesouro nacional para o sistema previdenciário 
(sistema tripartite - empregador, empregado e 
união), entretanto, a união nunca cumpriu com 
esse acordo, o que, aliado a outros fatores, tor-
nou esse sistema insustentável.
 O governo inicia uma série de obras gi-
gantescas, como a Ponte Rio-Niterói, a Transa-
mazônica, e a Usina de Itapu, para o desenvolvi-
mento do país, e, para cobrir as despesas, muitos 
dos recursos usados vinham de desvios de verba 
do sistema previdenciário.
 Os últimos anos do regime militar são 
de crise: desemprego, êxodo rural, maioria da 
população sem acesso a atendimento em saú-
de,	aumento	da	pobreza	e	inflação.	Mesmo	com	
a	 repressão,	no	final	dos	 anos	70,	movimentos	
populares, de trabalhadores em saúde, usuários, 
intelectuais, sindicalistas e militantes dos mais 
diversos movimentos sociais, que também se 
constituíram no mesmo período, passaram a lu-
tar	pela	cidadania,	pela	democracia	e	pelo	fim	da	
61
ditadura. Na saúde, tiveram grande repercussão 
o movimento feminista, a luta antimanicomial e 
o novo sindicalismo, além de inúmeras organi-
zações não-governamentais, e outras entidades 
da sociedade civil que, insatisfeitos com o aban-
dono da saúde pública, começa a reivindicar um 
plano de atenção à saúde e investimentos na área 
(GOLVEIA & PALMA, 1999).
 Inicia-se, em 1978, o Movimento Popu-
lar de Saúde, que lutava por melhores condições 
de saúde e saneamento básico, conquistando a 
abertura de novos postos de saúde. Nesses ser-
viços, a comunidade passou a exercer controle 
sobre as políticas públicas em saúde, elegendo 
representantes populares para os conselhos que 
gerenciavam as verbas e escolhiam que tipo de 
atendimento e promoção à saúde que cada co-
munidade receberia. Experiências alternativas 
ocorrem por vários municípios do país, buscan-
do alternativas ao sistema hospitalar.
	 Em	1976	é	criado	o	Centro	Brasileiro	de	
Estudos da Saúde (CEBES) e em 1978 a Asso-
ciação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde 
Coletiva (ABRASCO). A partir dessas associa-
ções e dos movimentos populares, desenvolve-
-se o chamado Movimento da Reforma Sani-
62
tária, que publicam o “Pelo Direito Universal 
à Saúde”, defendendo a saúde como direito do 
indivíduo e dever do Estado, ou seja, o Estado 
é compreendido como responsável por ofertar 
assistência à saúde da população, independente 
da contribuição previdenciária.
 No intuito organizar o sistema e sanar a 
crise, o governo cria o Ministério da Previdên-
cia e Assistência Social (MPAS). Os órgãos mais 
importantes vinculados a esse ministério são: 
o INPS, o INAMPS e o IAPAS. Em 1980 foi 
formulado o PREV-SAÚDE, por técnicos de 
saúde, que previa a reorganização do sistema da 
saúde, priorizando assistência básica e, para tal, 
integrando os Ministérios da Saúde e da Previ-
dência e as Secretarias Estaduais e Municipais da 
Saúde. Este plano nunca chegou a ser efetivado, 
tendo sido vetado por setores do governo liga-
dos ao setor privado.
 Em 1980, o governo começa a dar de-
clarações que o INAMPS não tem mais recursos 
para manter a assistência à saúde e as aposenta-
dorias e pensões, dando a entender que o sistema 
estava tecnicamente falido. É criado o Conselho 
Consultivo de Administração da Saúde Pre-
videnciária (CONASP), para reorientar o Prev-
63
Saúde e como tentativa de racionalizar os custos 
e combater as fraudes. Vinculado ao INAMPS, o 
CONASP	começa	uma	fiscalização	mais	rigoro-
sa dos prestadores de serviço médico, cobrando 
mais transparência.
	 Outra	 importante	 modificação,	 na	 re-
organização do sistema de saúde, foi a reto-
mada	das	modificações	propostas	pelo	PREV-
-SAÚDE, que foi feito através da criação da 
AIS (Ações Integradas de Saúde) em 1983, que 
tinham por objetivo integrar as ações médico-
-curativas e as preventiva-educativas. As prefei-
turas,	 governo	 estadual,	 hospitaispúblicos,	 fi-
lantrópicos e universitários passariam a receber 
recursos federais (verbas da previdência), para 
atuarem na atenção básica. Este repasse de ver-
bas a estados e prefeitura permitiu o fortaleci-
mento da rede básica de saúde.
 No seu quadro, o CONASP contava 
com técnicos ligados ao Movimento Sanitário, 
que iniciam um movimento de ruptura, porém, 
encontram grande resistência da Federação Bra-
sileira	 de	Hospitais	 e	 de	medicina	 de	 grupo,	 e	
também dos burocratas do INAMPS, porque 
percebiam nesta iniciativa que perderiam sua he-
gemonia e poder. A descentralização promovida 
64
pelo AIS (que depois se transformaria no Siste-
ma	Unificado	e	Descentralizado)	foi	um	impor-
tante passo estratégico na implantação do SUS, 
que ocorreria somente depois da constituição de 
1988 e das leis regulamentadoras, em 1990. 
 No plano político, este é momento da 
transição democrática, com a volta da eleição di-
reta para governador e a vitória esmagadora dos 
opositores do regime nas eleições desse período.
65
Exercícios de Fixação
1) Fale sobre a Lei Orgânica de Previdência e 
sobre a formação do INPS.
2) Quais foram as principais ações do governo 
militar na saúde pública?
3) Qual o modelo de assistência em saúde hege-
mônico durante o período?
Sugestão de Pesquisa:
No	 final	 da	 década	 de	 70	 aconteceram	 even-
tos importantes para a organização do sistema 
de saúde atual, como a reunião de Alma-Atá, o 
Movimento da Reforma Sanitária, a criação da 
ABRASCO foram fundamentais nos eventos 
que iriam culminar com o SUS e o movimento 
pela vida. Pesquise sobre:
- O que defendiam esses movimentos;
- A participação de Sérgio Arouca e dos princi-
pais desses movimentos.

Continue navegando