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METÁFRASE – REVISTA DA ABRATES Nesta edição CaRta do PResideNte desmitifiCaNdo a PRosPeCção de ClieNtes a tRadução téCNiCa iNvade a tRadução liteRáRia a tRadução audiovisual Como o NetwoRkiNg RealmeNte fuNCioNa a tRadução PoR máquiNa é uma Realidade 03 07 12 16 25 27 NúMERo 11 • JULHo/2018 3 olá e bem-vindos ao número 11 da Metáfrase, a revista Abrates! A associação está com nova diretoria, mas a disposição de trabalhar em benefício dos associados é a mesma e teremos muitas novidades boas pela frente. Aguardem! Este número da nossa revista traz contribuições importantes para o dia a dia e o aprimoramento de tradutores e intérpretes. Nossa matéria da capa traz Carolina Selvatici explicando um pouco sobre um setor de atuação que só faz crescer, o da tradução audiovisual, cada vez mais atraente tanto para profissionais experientes quanto iniciantes. A propósito, em Papo de iniciante, Gisley Rabello desmistifica a prospecção de novos serviços, com dicas sobre como encontrar clientes, preparar currículos, manter portfólios e outras tarefas importantes para a divulgação e administração do profissional. É uma excelente leitura para combinar com o texto da Rafa Lombardino em Biz, sobre a necessidade do networking e dos eventos profissionais para o tradutor. Em EntreLivros, Débora Landsberg fala sobre como a tradução técnica pode exigir do tradutor literário habilidades de pesquisa que vão além de seu trabalho cotidiano. Saber encontrar as fontes certas é crucial para uma tradução bem embasada, que transmita qualidade e segurança ao leitor. Aliás, facilitar a pesquisa é um dos pontos fortes das ferramentas de auxílio à tradução. Sobre essas ferramentas e tecnologias, Sidney Barros nos lembra, em Bits, como elas vieram para ficar, dando dicas de como acompanhar a velocidade dessa evolução. Mas para aproveitar tudo o que a revista tem a oferecer, é preciso ter saúde, não é mesmo? Por isso, a Cristiane Tribst nos mostra como é importante equilibrar vida profissional e vida pessoal em um mundo tão competitivo. Não podemos terminar este papo sem lembrar que a Drops Abrates, nossa coluna de abertura, está à disposição de vocês para dicas de eventos e acontecimentos do mundo da tradução. Aliás, quer colaborar com a Metáfrase? Mande sua proposta de artigo para revista@abrates.com.br. Teremos um enorme prazer em avaliar e, futuramente, publicar artigos de interessados em colaborar. Um fortíssimo abraço para todos! CARTA DO PRESIDENTE Diretoria Ricardo Souza – Presidente Val Ivonica – Vice-presidente Gio Lester – Secretária geral Cristiane Tribst – Segunda Secretária Manuela Sampaio – Primeira Tesoureira Lídio Rodrigues – Segundo Tesoureiro Equipe Metáfrase Petê Rissatti – Editor-chefe Carolina Caires Coelho e Flávia Souto Maior – Editoras adjuntas Camila Fernandes – Revisora Dener Costa – Designer e diagramador A revista digital Metáfrase é publicada seis vezes ao ano em formato digital (PDF) e disponibilizada no site da Associação Brasileira de Tradutores e Intépretes (Abrates). Somos a Abrates – Associação Brasileira de Tradutores e Intérpretes –, associação sem fins lucrativos e administrada por tradutores/intérpretes voluntários, fundada no Rio de Janeiro, nos anos de 1970. Promovemos cursos, eventos e fomentamos a troca de conhecimento e contatos entre colegas e/ou instituições e agências. Através da ponte que estabelecemos flui o conhecimento e é feito o networking, mudando carreiras e vidas. Cada vez mais presente e atuante, a Abrates oferece vários benefícios para os associados. Saiba mais no site e associe-se! As informações dos artigos presentes nas edições da Metáfrase são de inteira responsabilidade de seus autores, salvo disposto em contrário. Em caso de dúvidas, sugestões, críticas ou reclamações, envie um e-mail para revista@abrates.com.br Entre em contato com a Abrates pelo e-mail secretaria@abrates.com.br Para números anteriores da Metáfrase, acesse: www.abrates.com.br/revista-metafrase Esta publicação está licenciada sob a Licença Internacional Creative Commons de Atribuição – Não Comercial – Sem Derivações 4.0. Para visualizar uma cópia dessa licença, acesse: https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR CaRTa Do PRESiDEnTE http://www.diagramativo.com.br http://abrates.com.br/%3Fpage_id%3D1334 METÁFRASE – REVISTA DA ABRATES 4 Colaboradores desta edição Carolina Selvatici é bacharel em Comunicação Social — Jornalismo pela UFRJ e mestre em Letras — Estudos da Linguagem pela PUC-Rio. Completou o curso de formação de tradutores Português/inglês em 2007. Desde então, traduz para diversas editoras e produtoras do país e do exterior. Participou da Fabrique des Traducteurs Português/Francês, realizada em arles, França, pelo Colégio internacional de Tradutores Literários (CiTL). Participou da elaboração e executou o primeiro edital do Programa de Residência de Tradutores Estrangeiros no Brasil, da Fundação Biblioteca nacional. Cristiane Tribst é engenheira que virou tradutora técnica há mais de 20 anos. Casada, mãe das gêmeas Estela e Geórgia, tenta conciliar a vida de tradutora em home office, a constante falta de tempo, com a luta para vencer a preguiça e o sedentarismo. Meio nerd, extremamente curiosa, adora pesquisar, ler e mexer com tecnologia, além de não recusar uma boa série de televisão. E-mail: cristiane.tribst@gmail.com Débora Landsberg é mestre em Estudos da Linguagem pela PUC-Rio. Em sua dissertação, investigou como tornar diálogos traduzidos mais verossímeis. De janeiro a maio de 2017, foi tradutora literária residente da Literature ireland, ministrando um seminário para alunos de mestrado do Trinity College Dublin. Tradutora desde 2005, já traduziu obras de autores como Charles Dickens, Margaret atwood, Joyce Carol oates, Elizabeth Gilbert e Shirley Jackson, entre outros. Gisley Ferreira é tradutora, revisora, transcriadora e especialista em controle de qualidade nos pares inglês/espanhol > português brasileiro, principalmente nas áreas de Ti, técnica, comercial, e-learning, localização, saúde e beleza, marketing. É bacharel e licenciada em inglês e literaturas americana e inglesa (UERJ), com pós-graduação em tradução inglês e português (PUC-RJ), e bacharel em espanhol e português e respectivas literaturas (UERJ). atuou de 1990 a 2000 como tradutora interna em multinacionais americanas do setor de Ti e como freelancer em várias agências nacionais e internacionais. Em 2001, fundou a Wordlink Traduções e hoje também gerencia projetos e administra a empresa.. RAFA LOMBARDINO é tradutora e jornalista brasileira. Vive na Califórnia desde 2002. É a autora de Tools and Technology in Translation - The Profile of Beginning Language Professionals in the Digital age, baseado na aula que ministra no curso de extensão da Universidade da Califórnia em San Diego. atua como curadora de conteúdo no blog eWordnews, dirige a rede de tradutores Word awareness e coordena o projeto Contemporary Brazilian Short Stories, que promove a literatura brasileira no mundo. Sidney Barros Junior é tradutor técnico (desde 1999) e intérprete de acompanhamento (desde 2012) especializado em ferrovias, engenharias (mecânica e elétrica), Ti, internet, entre outras áreas. atua como mentor no Projeto de Mentoria da aBRaTES, além de manter o grupo Tecnologia e Tradução no Facebook e o site sbj.trd.br. mudança na diretoria da abrates Em nosso último Congresso, realizado em junho, houve a “entrega do boné” pelo ex-presidente da Abrates, William Cassemiro, ao atual presidente, Ricardo Souza. A composição da nova diretoria para o biênio 2018-2020 é a seguinte: Ricardo Souza, presidente; Val Ivonica, vice-presidente; Manuela Sampaio, primeira tesoureira; Lídio Rodrigues, segundo tesoureiro; Gio Lester, secretária geral; Cristiane Tribst, segunda secretária. Conselho Fiscal: Peterso Rissatti, Liane Lazoski, Iara Brazil; Suplentes: William Cassemiro, Renato Beninatto,Cláudia Belhassof. A Metáfrase deseja à nova diretoria um mandato cheio de realizações e alegrias. Seguimos juntos! Primeiro seminário do instituto Nacional de educação de surdos O Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) vai promover, nos dias 18 e 19 de julho de 2018, o primeiro Seminário de Tradutores, Intérpretes e Guia-Intérpretes do INES: Diálogos e Encontros Interdisciplinares — I SETILSP. O evento, de caráter formativo, é gratuito e direcionado a profissionais da área, pesquisadores, docentes e estudantes fluentes em Língua Brasileira de Sinais — LIBRAS. Será um evento de grande importância para os Tradutores e Interpretes de Língua de Sinais. Mais informações aqui. (Notícia enviada por Lenildo Lima de Souza.) drops abrates Drops Abrates é a seção da Metáfrase que traz notícias sobre a Abrates e seus associados. É também uma seção aberta, ou seja, se você que nos lê tiver alguma notícia de sua cidade, estado ou região relacionada à tradução e quiser contribuir com a gente, mande um e-mail para revista@abrates.com.br. Revista Periferias O Instituto Maria e João Aleixo, localizado no Complexo da Maré, criou a revista Periferias para levar ao público brasileiro e internacional textos de autores que lidam com o tema periferias em âmbito nacional e também nas periferias globais. O intuito da revista é “aproximar pesquisadores, ativistas sociais e artistas das Periferias do mundo interessados(as) em compartilhar experiências múltiplas dos territórios populares e construir uma representação convergente e global sobre a Potência das Periferias”. A revista é publicada duas vezes ao ano em quatro idiomas (português, inglês, espanhol e francês) e está em busca de tradutores voluntários para aumentar seus quadros. Conheça a revista aqui. (Agradecemos a Daniel Stefani por nos apresentar o projeto.) simpósio de tradução no vii sernegra Estão abertas as inscrições para a VII Semana de Reflexões sobre Negritude, Gênero e Raça do Instituto Federal de Brasília (Sernegra), e uma das seções é dedicada à tradução. O evento acontecerá entre os dias 18 e 21 de novembro de 2018, no IFB — Campus Brasília (SGAN 610, L2 Norte — Brasília/DF). O simpósio sobre tradução terá o tema Estudos da Tradução & Feminismos Negros: descolonial ismo, i n t e r s e c i o n a l i d a d e e mulheridades negras. Para se inscrever, é só acessar o site aqui. DRoPS aBRaTES https://setilspines.wixsite.com/setilsp http://imja.org.br/ http://imja.org.br/ https://www.sernegraifb.org/ NúMERo 11 • JULHo/2018 7 e nfim, tudo pronto para começar a trabalhar! Cursos concluídos, home office preparado, ferramentas compradas… Mas será que está tudo pronto mesmo? O que estará faltando? Possivelmente, está faltando o principal para os seus negócios deslancharem: os clientes! E é nesse ponto que dá aquele frio na barriga, pois as dúvidas são muitas em relação a como encontrar clientes que possam estar interessados em seu trabalho. Guarde o frio na barriga para quando vier o primeiro trabalho: não há com o que se preocupar. Pode ser trabalhoso e demorado se preparar para essa etapa de captação de clientes, que no fim das contas é praticamente um esforço de venda, de marketing. PaPo DE iniCianTE desmitifiCando a prospeCção de Clientes Tudo pronto para começar o trabalho? O Papo de Iniciante desta edição traz dicas preciosas sobre como dar o próximo passo: a prospecção de clientes Por Gisley Rabello METÁFRASE – REVISTA DA ABRATES 8 Mas o iniciante pode perfeitamente, tomando alguns cuidados e realizando algumas ações simples, começar sua vida profissional com uma carteira de clientes bem interessante. açÕes que faZem a difeReNça Crie uma identidade visual e uma página na web Ter uma página na web que descreva seus serviços, indique suas áreas de atuação, informe um resumo da sua vida profissional e ofereça meios de contato é essencial. Mesmo que você não tenha muita experiência, vale a pena incluir na página sua formação acadêmica e as áreas nas quais você tem competência para atuar. Se deseja escrever um blog profissional, reserve um espaço para incluí- lo na página futuramente. Além do blog, a página pode conter links para seus perfis em redes sociais, como LinkedIn, Facebook e Twitter. Importante: só inclua Facebook e Twitter se usar essas redes exclusivamente para fins profissionais. É de bom tom usar sua identidade visual em todas essas redes para reforçar sua imagem. Depois de criar a página na web, não se esqueça de disponibilizá-la também nos idiomas com os quais pretende trabalhar, mesmo que faça isso em uma etapa posterior. Crie um portfólio e cartões de visita É importante criar, usando sua identidade visual, um portfólio e um cartão de visita. Isso vai ajudar você a divulgar seu trabalho quando for a eventos como congressos profissionais e feiras (de áreas específicas de atuação ou de tradução). No cartão de visita é importante ter, além do seu nome, seu status profissional (no caso, tradutor independente – meu conselho é evitar “freelancer”), os pares de idiomas com que trabalha e, por fim, os principais meios de contato, como e-mail, site, redes sociais, telefone e Skype. No portfólio, resuma seus serviços e especialidades (se houver) de forma organizada e também inclua status profissional, pares de idiomas e principais meios de contato. Se você já tem alguma experiência no mercado, não é recomendável citar nomes de empresas para as quais já trabalhou direta ou indiretamente nesse resumo, já que isso pode ferir algum contrato de confidencialidade assinado por você no passado para realizar tais projetos. Sempre atente a isso. Se quiser, também pode incluir no portfólio seus diferenciais como fornecedor. Ou seja, quais das suas qualificações serão úteis para o cliente que você está tentando atrair. Por fim, é bom ter o portfólio e o cartão de visita em formato bilíngue para alcançar tanto clientes nacionais como internacionais. quem são os ClieNtes PossÍveis Em geral, os tradutores independentes podem trabalhar para clientes diretos ou para agências, e há muitas diferenças entre uma situação e a outra. Veja abaixo algumas informações sobre esses tipos de clientes. Aqui não abordarei editoras, já que é um tipo de cliente direto totalmente específico da área editorial. Clientes diretos São pessoas físicas ou empresas cujo negócio principal não é tradução, por exemplo, uma empresa de informática ou um escritório de advocacia. Essas pessoas não têm a mínima ideia do nosso NúMERo 11 • JULHo/2018 9 negócio. Detalhes como orçamentos, formatação de arquivos, pesquisa terminológica, entre outros, são totalmente desconhecidos pelo cliente. Você precisará se preparar para receber e processar arquivos em formatos diversos, como PDF (às vezes não editável), Word (em alguns casos, com imagens e tabelas complexas), entre outros. No orçamento, cobre por todo esse trabalho extra de preparação do material para tradução e de finalização do arquivo já traduzido. Em suma, nessa situação, você pode (e deve) cobrar mais caro, mas terá que cumprir mais etapas para finalizar a tradução. agências As agências atuam como elemento intermediário entre o tradutor e o cliente final. Em geral, as agências trabalham com vários idiomas, tanto as nacionais quanto as internacionais; então, o cliente final multinacional prefere lidar com agências em vez de contratar tradutores independentes, pois, dessa forma, pode assinar um contrato com um só fornecedor e assim obter os serviços que deseja em vários idiomas, tendo um único ponto de contato. As agências negociam com esses clientes um valor fechado para fornecer os serviços. Isso significa que você, tradutor independente, terá pouco poder de barganha na hora de negociar tarifas com as agências, já que elas não terão, por sua vez, muita margem paraconceder aumentos. Aumentar a tarifa do tradutor significa reduzir seu lucro, portanto, a menos que a agência tenha uma margem de lucro grande e confie bastante em seu trabalho, será bem difícil conseguir sucesso na negociação. Por outro lado, as agências se responsabilizam por todo o fluxo de trabalho, da preparação dos arquivos até a sua finalização. Assim, você não precisará se preocupar com nada: receberá materiais de referência (guias de estilo, glossários, termbases, memórias de tradução etc.) e os arquivos já preparados na ferramenta que você usa para traduzir. Só terá então que traduzi-los seguindo as instruções enviadas pela agência e depois devolvê-los. o que os ClieNtes queRem Na HoRa de CoNtRataR Quando precisam de um serviço ou quando resolvem recrutar fornecedores, os clientes querem e precisam basicamente de duas informações: experiência e histórico do prestador de serviços no campo de atuação de sua empresa ou do assunto da tradução, bem como o preço que terão que pagar. Como já mencionado aqui, há muitas diferenças entre os clientes diretos e as agências de tradução. Para os clientes diretos, talvez essas duas informações básicas já sejam o suficiente para fechar a contratação. Mas, para as agências, você terá que detalhar um pouco mais sua experiência para que tenha sucesso no recrutamento. Detalhes como quais ferramentas de auxílio à tradução (CAT tools) você domina, suas áreas de atuação, sua experiência em determinados tipos de projeto e até mesmo o volume aproximado já traduzido em cada área ou projeto no último ano são informações que podem fazer a diferença na hora de a agência optar pelos seus serviços. Por isso, vale a pena preparar um portfólio digital bem organizado a ser apresentado aos clientes diretos e também criar currículos mais detalhados para enviar às agências. Mas, se você tiver pouca ou nenhuma experiência, METÁFRASE – REVISTA DA ABRATES 10 não se desespere. Indique as ferramentas que domina, as áreas em que julga estar preparado para atuar e, se for o caso, cite no portfólio sua formação e eventuais experiências em áreas que podem interessar ao cliente. Por exemplo, se você trabalhou em alguma empresa de propaganda, destaque seu contato contínuo com materiais de marketing; se trabalhou em alguma clínica ou laboratório médico e sua atividade lhe rendeu experiência na área, não deixe de mencionar isso. Os currículos devem ser confeccionados por área de atuação. Por exemplo, se você trabalha com tecnologia da informação mas também atua na área de saúde, é importante ter um CV para cada área separadamente, de modo que consiga, em uma só página, resumir sua experiência naquele setor específico. Os clientes não gostam de ler currículos com muitas páginas, portanto, é importante apresentar algo simples e fácil de ler, para que o contratante não perca tempo e tenha todas as informações à mão durante a seleção. Você também pode e deve ter um currículo geral, com todas as suas especialidades e experiências resumidas, mas tenha em mente que só valerá a pena enviar esse CV à agência caso esta trabalhe com áreas diversas. Se for um iniciante quase sem experiência, é melhor começar com o currículo geral, sempre destacando experiências em áreas específicas, se houver, que possam ajudar em sua colocação em projetos de tradução nessas áreas. Ter perfis em portais de tradutores, como o ProZ, pode ser útil, principalmente se você não tiver experiência alguma. Ali os clientes são basicamente agências e não pagam tão bem, mas você consegue adquirir uma experiência mínima para dar o primeiro passo na profissão. Por falar em tarifas, para os clientes diretos, você não vai precisar definir um preço por palavra fixo. Orce cada trabalho de acordo com o seu esforço. Já com as agências, precisará definir duas categorias de tarifas, por palavra (tradução) e por hora (revisões e outras tarefas, como conferência de documento formatado, validação de telas de software, entre outras). Como aBoRdaR Cada ClieNte da melHoR maNeiRa Como já mencionamos, cada cliente tem necessidades diferentes, por isso é importante ter à mão as informações que eles mais prezem na hora de escolher um fornecedor. Sabemos também que devemos ter vários tipos de materiais de divulgação disponíveis para fornecer aos diferentes tipos de clientes. Mas onde vamos encontrar essas pessoas para enviar tais materiais? Como vamos abordá-las? Veja abaixo um pequeno resumo de onde e como achar os clientes. Clientes diretos Esteja atento aos congressos e feiras de cada área na qual você atua ou quer atuar. Por exemplo, se você tem como especialidade traduzir para o setor de petróleo e gás ou se interessa pela área, vale a pena visitar as feiras periódicas que acontecem nas principais capitais. Vá munido de cartões de visita e portfólios impressos para abordar os clientes nos estandes e nas palestras. Muitas vezes um cartão deixado na mesa de um palestrante vale uma parceria duradoura. Os clientes diretos podem ser encontrados também em NúMERo 11 • JULHo/2018 11 buscas pela internet (sites e redes sociais). Busque um endereço de e-mail de contato nos sites das empresas para enviar uma mensagem de apresentação ou então veja se há nos sites algum formulário on-line que você possa preencher para candidatar-se a fornecedor. No LinkedIn é possível buscar as páginas das empresas e entrar em contato por ali, se houver essa possibilidade. agências As agências muitas vezes estão presentes nos congressos da categoria, como os congressos da ABRATES. Portanto, ao se inscrever nesses eventos, leve seus materiais impressos de divulgação. As agências também podem ser contatadas pela internet, via LinkedIn, portais como ProZ, ou nos sites específicos de cada agência. A grande maioria das agências oferece um link em sua homepage para os fornecedores se candidatarem. São formulários on-line que o tradutor deve preencher e que às vezes solicitam o envio de um arquivo de CV. Siga à risca todas as recomendações informadas no site para esse tipo de seleção. Como última dica, é muito importante desistir do contato caso perceba que o cliente precisa de algo que você não pode oferecer. Se você quer um relacionamento duradouro, não afirme para o seu cliente potencial que você pode ajudá-lo em algo que não domina. A ética profissional deve estar sempre em primeiro lugar tanto ao prospectar quanto ao manter um cliente já existente. A prospecção é uma parte muito importante do negócio de tradução; por isso, invista seu tempo em atividades que o ajudem a captar clientes. Reserve pelo menos uma hora de seu dia para esse fim. É essencial que todo material gerado com essa finalidade seja também atualizado de tempos em tempos, à medida que sua experiência vá aumentando. Ter materiais de divulgação atualizados, inclusive perfis em redes sociais e portais especializados, é a garantia de que o cliente encontrará você com mais facilidade, de acordo com a sua experiência ou qualificação. Boa sorte e boas vendas! assoCiado da aBRates tem BeNefÍCios em oPeRaçÕes de CÂmBio Com a advaNCed! Aproveite nossos descontos exclusivos para remessas e recebimentos internacionais, além de obter vantagens na compra da moeda estrangeira conosco. Para fechamentos de câmbio, o associado Abrates terá o desconto de R$100 por contrato, pagando apenas R$50 por operação. E na compra da sua moeda estrangeira, você associado Abrates, terá R$0,04 de desconto e ainda poderá contar com nosso delivery para São Paulo e região. Veja mais detalhes acessando o site da Advanced, clique aqui. www.absono.com.br%20 METÁFRASE – REVISTA DA ABRATES 12 a grande diferença entre os textos literários e técnicos está no que eles se propõem a fazer: a literatura é, acima de tudo, uma experiência estética, umaexploração do estilo do autor; já a prioridade dos textos técnicos é informar o leitor. Obras de ficção, de modo geral, contêm um termo técnico ou outro, mas nada que chame a atenção do leitor. Não é comum que romances se embrenhem em uma área específica. Mas é claro que, como tudo na vida, há exceções. Às vezes um personagem médico — ou advogado, ou historiador da arte — exige do tradutor uma imersão nesse meio a fim de manter a suspensão de descrença até dos leitores que conhecem a fundo a terminologia envolvida. EnTRELiVRoS a tRadução téCNiCa iNvade a tRadução liteRáRia Em muitos momentos, a literatura precisa lançar mão da terminologia dos textos técnicos para complementar a experiência estética à qual se propõe. E qual é o papel do tradutor literário nessas escolhas do autor? Por Débora Landsberg Suspensão de descrença: termo cunhado em 1815 por Samuel Taylor Coleridge, em seu livro Biographia Literaria, a partir da ideia de “desejo de suspender a descrença”. NúMERo 11 • JULHo/2018 13 Minha primeira percepção do quanto pode ser complicado traduzir um livro de ficção que mergulhe em um campo técnico foi como leitora, ao me deliciar com a obra Pastoral americana, de Philip Roth, pelas mãos de Rubens Figueiredo (Companhia das Letras). Um dos personagens tem uma fábrica de luvas e às vezes se detém nas minúcias de sua produção. Não sei se foi o caso, mas Rubens pode ter feito uma visita a uma fábrica de luvas ou arrumado um consultor da área. Talvez tenha se munido de livros extremamente técnicos sobre a fabricação dessas peças. De qualquer forma, esse conhecimento tão específico adquirido pelo tradutor pode ter rendido boas conversas ou caído no esquecimento, pois é claro que Rubens não poderia se especializar em tradução de ficção com luvas, senão trabalharia uma vez a cada vinte anos, se tanto. É bastante comum que tradutores técnicos comecem a carreira aceitando textos sobre qualquer assunto (ou quase) e, com o tempo, se especializem em certas áreas. Para um tradutor que tivesse entre suas áreas de conhecimento a fabricação de luvas — para me ater ao caso citado —, os termos técnicos que aparecem no livro de Roth provavelmente fariam parte de seu vocabulário básico, mas imagino que para Figueiredo eles tenham sido um pequeno suplício. Entretanto, como bom tradutor literário, ele não poderia negligenciar a relevância deles para a construção do personagem e a atmosfera do romance. Um caso à parte que me ocorre é o de Roberto Muggiati, responsável pela tradução de diversas obras ligadas à Era do Jazz e à música como um todo. Trouxe ao português, por exemplo, O grande Gatsby, No fundo de um sonho, livro sobre Chet Baker, e Saindo da sarjeta, autobiografia de Charles Mingus. Segundo a pequena ficha biográfica que consta do site da Editora Record, ele é saxofonista de jazz. Sua facilidade nessa área explica a quantidade de obras ligadas ao tema que tem em seu currículo. Uma das minhas experiências mais marcantes com jargões em obras literárias foi relacionada ao tênis. Em Dupla falta, de Lionel Shriver (Intrínseca), a personagem principal não só é tenista como faz do esporte sua vida. Na época, eu não conhecia nada de tênis. Não sabia nem o que era uma dupla falta. Comprei um livrinho que explicava as regras do esporte e contava com um glossário. Também, é claro, me postei na frente da tevê para assistir a uma partida e fazer anotações. Acontece que algumas partidas duram horas e horas. Essa foi uma delas. Dormi profundamente, achando aquilo tudo um tédio. Hoje, ironia do destino, acompanho o circuito entusiasticamente, tenho meus jogadores e torneios preferidos e provavelmente traduziria os termos técnicos de Dupla falta sem precisar recorrer nem ao Google. Petê Rissatti também já enfrentou alguns desses pepinos: no livro O pescoço da girafa, da escritora alemã Judith Schalansky (Alfaguara), “a protagonista é uma professora de ensino fundamental e bióloga de formação, então o livro é coalhado de comparações teórico-biológicas, antropológicas, técnico- científicas. Além da gigantesca pesquisa feita a cada página, também contei com a ajuda de colegas biólogos e químicos para desvendar as metáforas científicas que a autora criou. Outro livro para o qual também precisei recorrer a um colega foi Der Fall Collini (O caso Collini), de Ferdinand von Schirach, ainda não publicado. É um ‘romance de tribunal’, METÁFRASE – REVISTA DA ABRATES 14 e, mesmo sendo o direito brasileiro semelhante ao direito alemão, pois aquele foi inspirado no direito romano e neste último, há muitos dispositivos e instituições diferentes. Recorri a um amigo tradutor formado em direito para que chegássemos juntos a alguns dispositivos que fossem semelhantes, ou ao menos existissem no Brasil, que foram usados pelo autor, que é jurista também. Foram horas de conversa via Skype para que chegássemos a um bom termo quanto aos diversos pontos nebulosos para mim, que passei grande parte da vida profissional traduzindo contratos e acordos comerciais”. Tudo isso para dizer uma obviedade que, pelo que tenho escutado ultimamente, tanto de editores como de copidesques, não é tão óbvia assim: um bom tradutor tem que pesquisar. Deixar o abacaxi para o copidesque/preparador de texto descascar não é uma atitude profissional, justa ou inteligente. Em primeiro lugar porque você pode até achar seu prazo curto, mas o copidesque terá ainda menos tempo para entregar o trabalho. Imagine, então, que o tempo gasto pesquisando termos que já deveriam estar traduzidos é o tempo que ele usaria para corrigir enganos e desatenções que podem comprometer o trabalho (e a reputação) do tradutor quando a obra estiver nas livrarias. Em segundo porque o tradutor é sempre o profissional mais apto a encontrar uma boa solução para os termos técnicos, afinal, é ele que está mergulhado no livro e sabe quais termos são ou não são condizentes com o contexto. O tradutor é quem deve calibrar a tecnicidade dos termos no texto traduzido a fim de garantir que causem no leitor brasileiro a mesma sensação que provocavam no leitor do original. Em terceiro lugar porque o copidesque ficará desconfiado de tudo o que você escreveu. Pode ser, portanto, que muitas de suas sacadas sejam desconsideradas. Em suma, você não terá no copidesque um aliado para aprimorar seu texto. Para não atiçar a fúria do copidesque, Petê dá a receita: “sempre procurei gente mais afeita aos assuntos que eu, além de fazer a minha lição de casa: pesquisar à exaustão, tirar dúvidas, levantar lebres, escarafunchar a internet e outros recursos disponíveis. No entanto, a ajuda desses profissionais foi imprescindível para me manter no papel desejado de ‘tradutor ilusionista’, como preconiza o teórico Jiří Levý em The Art of Translation. Sem eles, certamente eu teria me brechtianizado e quebrado a quarta parede da tradução para muitos leitores iniciados nessas áreas distintas”. Condições especiais com o PayPal Unindo esforços com uma associada, nossa equipe conseguiu uma incrível parceria com o PAYPAL. Clique aqui para ver todos os benefícios exclusivos, conquistados para os associados da ABRATES. www.absono.com.br%20 A força da Abrates está em seus associados! Uma associação forte é aquela que tem associados ativos e satisfeitos com os serviços que ela presta. E, para oferecer cada vez mais vantagens e benefícios, a Abrates precisa de você! O processo de associação é simples e rápido, e quem se associa pode desfrutar de diversas oportunidades de crescimento pessoal e profissional. Junte-se Aos mAis de 600 AssociAdAs e AssociAdos AbrAtes e desfrute de diversos benefícios: • descontos em ferramentas de tradução diversas • possibilidade de ingresso no programa de Mentoria Abrates* • convênios com hotéis em todo o Brasil •descontos em cursos diversos • descontos no Congresso Internacional da Abrates e em outros eventos parceiros • condições especiais para uso do PayPal • descontos em seguros, tratamentos de saúde e equipamentos • facilidades em operações de câmbio Para saber mais, acesse abrates.com.br. Ou escreva para secretaria@abrates.com.br. Venha para a Abrates! * O ingresso no programa de Mentoria “Caminho das Pedras” da Abrates acontece por meio de seleção prévia dos candidatos. Saiba mais no site da Abrates. METÁFRASE – REVISTA DA ABRATES 16 U m dos tipos de tradução que vêm suscitando cada vez mais interesse, tanto do público em geral quanto dos profissionais, é a tradução audiovisual. Afinal, o contato com materiais audiovisuais é cada vez maior na sociedade de hoje, e muitos espectadores precisam das várias modalidades desse tipo de tradução para conseguir acompanhá-los. Os No entanto, nem todo esse interesse é muito positivo. Profissionais da área têm reclamado muito da falta de informação e de valorização de seu trabalho, o que acaba gerando críticas nem sempre bem fundamentadas e remuneração baixa, permitindo que traduções de pouca qualidade acabem chegando aos espectadores. Por isso, resolvemos abrir um espaço para essa área que vem crescendo exponencialmente e atraindo tanta gente. Nossa proposta é apresentar aqui um pouco dessas práticas e criar um bom a tradUção aUdiovisUal Uma área que cresce a passos largos, a tradução audiovisual é uma modalidade de tradução que vai muito além da tradução de legendas e da dublagem. Por Carolina Selvatici CaPa NúMERo 11 • JULHo/2018 17 ambiente para a discussão das questões relativas à tradução audiovisual. mas, afinal, o que é a tradução audiovisual? Inicialmente, a tradução audiovisual, ou TAV, era usada para descrever toda e qualquer prática de tradução de produtos audiovisuais — os materiais exibidos no cinema, na TV, em VHS ou em DVD. Em geral, para que uma modalidade fosse incluída na área, era apenas necessário que a língua-meta e a língua-fonte fossem diferentes, mas não que a prática fosse exclusiva do meio audiovisual. Nesse sentido, muitos consideravam, por exemplo, a interpretação simultânea de programas audiovisuais como um estilo de TAV. Hoje, ainda não existe um consenso absoluto, e é possível encontrar vários trabalhos acadêmicos recentes justificando a inclusão ou a exclusão de uma ou outra prática da área, mas, em geral, são consideradas práticas de TAV apenas as que são exclusivas do meio audiovisual, mesmo que intralinguísticas. Com isso, além das modalidades mais conhecidas do público — a legendagem e a dublagem — , hoje também são incluídas nesse campo práticas de acessibilidade, como a legenda fechada e a audiodescrição. Por outro lado, modalidades como a interpretação para a língua de sinais acabam sendo estudadas por outros campos da tradução, por não serem exclusivas do meio audiovisual. Claro, tudo isso é discutível e cada profissional tem uma percepção específica sobre seu campo de trabalho e estudo, mas, para tentar organizar um pouco as ideias dentro do espaço reduzido desta matéria, vamos nos ater às práticas que duas grandes estudiosas da área, Vera Santiago Araújo e Eliana Franco, estabeleceram em um artigo de 2011, e nos concentrar na legendagem — aberta e fechada — , na dublagem e na audiodescrição como as modalidades específicas da tradução audiovisual.1 dublagem X legendagem Sem dúvida, a dublagem e a legendagem para ouvintes são as práticas de TAV mais conhecidas do público em geral. Elas estão disponíveis em praticamente todo o conteúdo audiovisual presente no mercado hoje e foram as primeiras modalidades oferecidas para pessoas que não conseguiam ter acesso a esses produtos. No entanto, o fato de serem facilmente reconhecidas não significa que os espectadores — e mesmo os profissionais de outras áreas da tradução — conheçam suas especificidades. “Muitos se perguntam o motivo de as traduções para dublagem e para legendas serem tão divergentes. Para começar, são modalidades que envolvem pressupostos e objetivos diferentes. A 1 FRANCO, E. P. C.; ARAÚJO, V. L. S. “Questões terminológico-conceituais no campo da tradução audiovisual (TAV)”. Tradução em Revista, n. 11, 2011/12. METÁFRASE – REVISTA DA ABRATES 18 dublagem é uma modalidade oral, o que faz com que a tradução tenha como meta simular a nossa forma de comunicação; logo, as falas não podem ser tão presas à língua padrão, algo que costuma ser mais recorrente na legendagem. (...) O texto da legendagem será lido, e não ouvido pelo público, justamente por ser uma modalidade escrita”, diz Paulo Noriega, tradutor e autor do blog Traduzindo a Dublagem . Além disso, “a diferença entre a legendagem e a dublagem também ocorre porque, na maioria dos casos, são fornecedores distintos que realizam a tradução para dublagem e para legendas. Isso significa que, muitas vezes, o tradutor responsável pela dublagem não será o mesmo pela legendagem. É por isso que o telespectador vê tantas diferenças ao realizar a comparação entre essas modalidades, principalmente no que se refere às soluções tradutórias”, afirma Paulo. Na verdade, tanto a legendagem quanto a dublagem têm regras muito específicas. Por exemplo, na dublagem, segundo uma das principais tradutoras do mercado, Dilma Machado, é preciso respeitar quem fala, quando e onde, e pensar em três tipos de sincronismo: o labial, o cinético — relativo ao movimento dos personagens — e o isocronismo, relativo ao tamanho da fala. “O mercado não perdoa o tradutor não saber dessas regras e fazer uma tradução que chamamos de dura, sem adaptações de trocadilhos, piadas, expressões idiomáticas e sincronismo, enfim, todas as regras já citadas”, afirma ela. Paulo concorda: “Acredito que a principal característica do tradutor para dublagem é a capacidade de dominar a oralidade da língua portuguesa na sua totalidade, permeando todos os registros de fala: do presidente ao traficante, da rainha ao plebeu. (...) O bom tradutor está sempre atento ao que acontece em todos os planos das cenas e precisa inserir diversas sinalizações como os vozerios, as reações e os letreiros”. No caso da legendagem, uma modalidade de tradução escrita, as regras têm menos a ver com a oralidade e mais com a velocidade de leitura dos espectadores: os profissionais trabalham o tempo todo com um número máximo de caracteres por linha de legenda e por segundo de exibição. “O tradutor de legendas pena para encontrar a forma mais resumida de passar uma ideia sem esquartejar a gramática e se afastar demais da fala original”, diz Sabrina Martinez, tradutora e professora de tradução para legendas. Por isso, ele “tem que ter noções de edição de vídeo e de ritmo, para dividir bem as legendas e respeitar as pausas no discurso das personagens, e muita habilidade para o resumo”, explica ela. Outra grande diferença é que muitas empresas de legendagem exigem que o tradutor saiba “timear” os vídeos, ou seja, marcar o tempo de entrada e saída das legendas. Para isso, segundo a tradutora, professora de tradução e dubladora Isa Carvalho, é importante que o tradutor tenha uma formação especifica na área e saiba usar os softwares de marcação. Caso o profissional trabalhe com legendagem eletrônica, a exibida em festivais, teatros e óperas, o conhecimento é ainda mais especializado: o tradutor deve ser capaz de fazer a legendagem “ao vivo, com um operador no local e equipamentos e software específicos”, afirma Isa. A necessidade de formação específica é, inclusive, uma das poucas coisas que as duas áreas têm em comum. “Um bom professor/tradutor que atue nesse NúMERo 11 • JULHo/2018 19 segmento pode passar dicas preciosas para os alunos entenderem mais rapidamente como a dublagem secomporta e (quais são) as expectativas dos estúdios de dublagem, além de também passar informações atualizadas sobre as tendências do mercado”, diz Paulo. Fabiana Barúqui, tradutora para legendas com mais de dez anos de mercado, concorda: “Não é necessário ter uma formação acadêmica como, por exemplo, em Letras, mas é imprescindível saber usar um software de legendagem e saber as regras do jogo”. Fabiana também lembra outro ponto em comum: as duas áreas têm que lidar com manuais bastante rígidos dos clientes. “Muitos proíbem o uso de palavrões, contrações e até de gírias. (...) Traduzir cenas de sexo e de brigas, em que ocorrem trocas de termos chulos, é sempre muito complicado, pois a suavização das palavras pode acabar ficando cômica”. O terceiro ponto em comum é excelente: o mercado de ambas as modalidades está crescendo muito. “Está crescendo demais, principalmente graças aos serviços de video on demand. Além da Netflix, o volume de legendagem para o português da Amazon começa a aumentar e há outros concorrentes surgindo”, afirma Sabrina, antes de completar que é importante também lembrar que o mercado não se resume ao mercado de entretenimento: “Com a importância cada vez maior do conteúdo em vídeo na sociedade, vídeos corporativos e de treinamento, legendagem intralinguística, conteúdo educativo, palestras motivacionais e vários outros nichos podem ser explorados pelos tradutores de legendas”. Paulo concorda: “Para citar os principais sinais, temos os lançamentos das principais produções audiovisuais no cinema com cópias dubladas e o respectivo aumento das sessões dubladas; o aumento da programação dublada nos canais da TV fechada por assinatura; e o nascimento da Netflix e da Amazon Prime Video, as novas queridinhas do momento, que vêm apostando na dublagem de boa parte de seus catálogos. Além de tudo isso, outra prova da efervescência desse ramo é o surgimento de outras praças de dublagem pelo Brasil, como em Curitiba, Belo Horizonte e Campinas”. O crescimento, no entanto, acabou trazendo algumas questões. Os prazos, antes já curtos, têm sido ainda mais reduzidos. “É um mercado muito acelerado, que funciona sob demanda, e a dublagem envolve diversos profissionais que precisam dar tudo de si em tempo recorde”, diz Paulo. “O que é mais um motivo para ter um tradutor capacitado. Traduzir mal e rápido não é uma boa combinação”, lembra Dilma. Para Isa, mais do que tudo, o importante é saber se organizar: “Às vezes, você olha o script e diz: ‘Esse é fácil, faço em um dia’, e quando vê, esse script está cheio de citações históricas ou da Bíblia, poemas, linguagem científica, jurídica etc. Aí você precisa parar a cada 10 minutos para pesquisar uma palavra, um termo específico ou uma tradução já consagrada que não deve ser reinventada por você ali. (...) Então, o conselho que dou é o de analisar bem o material, não só o tamanho do script ou a duração do filme, mas atentar para o conteúdo”, afirma ela. O grande volume de trabalho também acabou afetando os valores pagos pelo mercado. “Isso acabou atraindo mais profissionais (e), claro, quanto mais gente disponível para realizar o serviço, mais os valores precisam ser negociados”, diz Isa. Mas, para Fabiana, ainda é um processo que pode METÁFRASE – REVISTA DA ABRATES 20 ser revertido com uma maior conscientização. “Muitos acham que se trata de algo automático e desconhecem todas as etapas que esse processo envolve, exigindo prazos impraticáveis e oferecendo preços ridículos. Cabe ao tradutor valorizar seu trabalho e não permitir que essa canibalização ocorra. Existem clientes conscientes que oferecem prazos e valores justos”, diz ela. Já a velha rixa entre as duas modalidades, para os profissionais, é assunto ultrapassado. “Quem geralmente critica a dublagem é um grupo minoritário e privilegiado de brasileiros, (pois) apenas 5% da população fala inglês fluente. (...) Na minha opinião, todos têm direito de escolher o que preferem”, afirma Dilma. Fabiana concorda e completa: “Não é justo substituir uma coisa pela outra e uma forma de tradução não é melhor do que a outra. Cabe ao espectador escolher o que é melhor para ele, por isso é essencial que o mercado tenha a opção desses dois serviços, e com qualidade”. as modalidades de acessibilidade Apesar de a legendagem e a dublagem facilitarem o acesso da maioria das pessoas à grande parte do material audiovisual disponível no mercado e trazerem diversos benefícios para a população em geral, alguns grupos, por muito tempo, ainda ficaram isolados da recepção de eventos audiovisuais e das informações provindas desses meios. Por isso, há algumas décadas, vários movimentos surgiram para buscar a criação de produtos que visavam a uma maior acessibilidade dos meios de comunicação. Entre eles, estavam a legenda fechada para surdos e ensurdecidos (LFSE) e a audiodescrição. É importante lembrar que, apesar de certas semelhanças, essas duas modalidades são muito diferentes da dublagem e da legendagem. A LFSE pode ser feita previamente ou ao vivo e ser interlingual ou intralingual, ou seja, trabalhar com duas línguas diferentes ou apenas uma. Ela é mais detalhada que as legendas para ouvintes e usa medidas como o posicionamento diferente de legendas e a transcrição de informações não literais — músicas e ruídos, por exemplo — para facilitar o entendimento do espectador surdo.2 Já a audiodescrição também pode ser gravada ou simultânea e é a descrição de elementos de um material audiovisual, como cenários, figurinos, expressões faciais e linguagem corporal, para facilitar o entendimento do público cego. Além disso, por ser inserida entre os diálogos do produto audiovisual e não os substituir, não deve ser confundida com um tipo de dublagem. No entanto, claro, há semelhanças. Assim como na dublagem e na legendagem, ambos os 2 SELVATICI, C. Closed caption: conquistas e questões. Rio de Janeiro, 2010. Dissertação (Mestrado em Letras — Estudos da Linguagem). Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. NúMERo 11 • JULHo/2018 21 profissionais da LFSE quanto da audiodescrição têm que conhecer bem a linguagem do material audiovisual e ter grande poder de síntese. Isso porque, na LFSE, o número de caracteres por segundo usado às vezes é ainda menor do que nas legendas para ouvintes, para se adaptar a grupos da comunidade surda com uma velocidade de leitura muito baixa3. E, na audiodescrição, “como as unidades descritivas são inseridas nos intervalos dos diálogos, na maior parte dos produtos, os tempos disponíveis para descrição são curtos”, explica a audiodescritora e professora Larissa Costa. Outra característica semelhante entre os profissionais dessas duas modalidades e das duas anteriores é a capacidade de trabalhar com prazos bastante curtos e, às vezes, com poucos materiais de apoio. “O ideal seria que o contratante fornecesse o roteiro do material audiovisual, pois as rubricas do texto auxiliam nas escolhas tradutórias (...), assim como também esclarecem dúvidas”, diz Larissa. A formação específica também é uma exigência para as duas modalidades. A audiodescrição, por exemplo, é uma atividade regulamentada. “Para ser audiodescritor é necessário ter certificação em curso de aperfeiçoamento ou especialização em Audiodescrição devidamente registrado e reconhecido pelo Ministério da Educação, possuir diploma revalidado e registrado no país de instituições estrangeiras de ensino superior de audiodescrição (...) ou ter comprovado exercício da profissão por período superior a três anos até a data da publicação da lei caso o profissional tenha curso superior”, diz Larissa. Já para a criação de legendas fechadas, não existe uma regulamentação, mas, assim como para produzir as legendas para ouvintes, o profissionaldeve conhecer softwares específicos e as normas de produção — nesse caso, não estabelecidas pelos clientes, mas pela ABNT. Aliás, um fato interesse é que ambas as modalidades, apesar de já estarem presentes no Brasil desde a década de 1990, se tornaram obrigatórias em 2006, com a promulgação da Lei 10.098, conhecida como Lei da Acessibilidade. Segundo ela, até 2019, toda a programação audiovisual brasileira terá que oferecer legendas fechadas, audiodescrição e janela de Libras, o que vem ampliando em muito o mercado para profissionais.4 Mas o interessante é que não são só a TV e os produtos audiovisuais financiados por instituições públicas que vêm procurando cada vez mais os recursos. “A acessibilidade nos cinemas e nos teatros também vem se ampliando. É possível que nos próximos anos estabilize, mas, por enquanto, a demanda ainda está em crescimento”, diz Larissa. Ou seja, não importa a modalidade que você escolha, a tendência do mercado de tradução audiovisual é de crescimento — especialmente para pessoas bem formadas. O importante agora é, sobretudo, que todas as práticas sejam valorizadas, afinal, cada uma traz uma contribuição 3 CHAVES, E. G. (2012). Legendagem para surdos e ensurdecidos: um estudo baseado em corpus da segmentação nas legendas de filmes brasileiros em DVD. Dissertação de Mestrado — Programa em Pós-Graduação em Linguística Aplicada, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza-CE. METÁFRASE – REVISTA DA ABRATES 22 específica para a sociedade. “Existem inúmeros estudos que comprovam que a legendagem ajuda muito na alfabetização e na aquisição de línguas estrangeiras. (...) Em Portugal, por exemplo, onde ela é a modalidade adotada há décadas, inclusive na TV aberta, nota-se uma facilidade muito grande das pessoas para línguas estrangeiras, principalmente o inglês, por motivos óbvios. E atribui-se ao menos parte dessa desenvoltura ao fato de o conteúdo audiovisual ser exibido no original com legendas”, afirma Sabrina. Paulo concorda e lembra: “Há grupos que necessitam da dublagem em nosso país, como, por exemplo, os analfabetos e analfabetos funcionais. Só através da dublagem esses grupos poderão desfrutar das produções audiovisuais estrangeiras”. Assim, investir em todas as modalidades de tradução é essencial. “As pessoas têm que poder escolher ao que querem assistir pelo interesse no material e não pela disponibilidade da acessibilidade”, afirma Larissa. Decidiu fazer um curso diferente de interpretação de conferências? A nossa parceria com a i2B oferece ótimos descontos aos nossos associados: – 10% para o percurso regular; – 5% para pacotes de dez aulas no percurso personalizado. Também há descontos especiais para os alunos i2B em minicursos, oficinas e webinars oferecidos pela i2B. Mais informações no site www.interpret2b.com. www.absono.com.br%20 NúMERo 11 • JULHo/2018 23 METÁFRASE – REVISTA DA ABRATES 24 NúMERo 11 • JULHo/2018 25 e esta coluna pode parecer não ter relação com o tema da produtividade em si, mas certamente aborda um assunto relacionado: como atrair mais projetos, manter-se ocupado e (por que não?) aumentar sua produtividade e rendimento financeiro. Uma das respostas mais certeiras para esse questionamento é participar de eventos profissionais e interagir com colegas. Comecei a participar de congressos de tradução em 2009, quando a Associação Americana de Tradutores (ATA) comemorou 50 anos. O evento foi em Nova York, o que representou uma ótima oportunidade para visitar a cidade, conhecer quem trabalha no mesmo ramo que eu e aprender com a experiência de palestrantes e colegas de profissão com quem poderia interagir pessoalmente. Desde então, tenho participado de eventos como esse regularmente, inclusive o realizado anualmente BiZ Como o NetwoRkiNg RealmeNte fuNCioNa Programe-se, prepare-se e se lance aos eventos de tradução sem medo, pois o retorno é certo Por Rafa Lombardino METÁFRASE – REVISTA DA ABRATES 26 pela ABRATES. Infelizmente, só consegui participar da edição de 2015, pois existe muita logística envolvida na viagem para o Brasil e o cronograma familiar em uma época marcada pelo fim do ano letivo nos EUA e pelos torneios de futebol do clube onde a minha filha joga. De qualquer maneira, o investimento de tempo e dinheiro de 2015 continua rendendo muitos frutos ótimos. Sempre aprendo demais nesses congressos profissionais, seja quando me preparo para fazer alguma palestra ou quando ouço o que os colegas têm para compartilhar. Acredito que, neste nosso ramo, podemos aprender muito com as experiências alheias, porque não passamos por todas as situações durante nossa carreira. Aprender uma lição sem ter que passar por dificuldades ou ver um problema existente por outro ângulo é algo realmente revigorante. Além disso, é motivo de alegria e satisfação imensas (pelo menos para mim) compartilhar um pouco do que fazemos e conquistamos para que outras pessoas também possam integrar suas experiências à vida profissional delas. A cereja do bolo também é a possibilidade de fazer grandes amigos nesses eventos, mantendo contato virtual entre um congresso e outro, apesar da distância. Esta se torna a sua rede de apoio: pessoas com quem você pode trabalhar em um projeto grande ou a quem pode recorrer se ficar encafifado numa tradução e precisar de um novo olhar para reformular a frase. Quem acredita que conhecer outros tradutores é inútil realmente não compreende esta ideia de comunidade, de pertencer a um grupo grande de pessoas que passam pelo mesmo que você. Ao se dar conta disso, você para de olhar para outros tradutores como concorrentes; você os vê como colegas. Para falar a verdade, tenho muitos amigos tradutores que pediram ajuda quando não podiam pegar um projeto sozinhos. Outros simplesmente me recomendam para clientes em potencial porque não têm familiaridade com o assunto do projeto. Em outras palavras, a visibilidade que um congresso de tradução proporciona para um profissional é algo realmente valioso, pois os colegas de profissão acabam descobrindo o que você faz bem e não hesitam em recomendar os seus serviços para outras pessoas. Em contrapartida, eu também contratei alguns desses amigos para trabalhar comigo quando não pude encaixar um projeto na agenda ou quando sabia que os conhecimentos e experiências deles me ajudariam a tocar o barco de um projeto grande, porém com um prazo um pouco apertado. Assim, conhecendo os pontos fortes dos colegas, não tenho receio algum em trabalhar com eles lado a lado, compartilhando terminologias e memórias de tradução, para fazermos um bom trabalho a quatro (seis ou até oito) mãos. A sensação final é sempre de dever cumprido! Falando de agenda cheia, eu sei bem que sempre é um desafio abrir espaço para esses eventos que envolvem viagem. A maioria de nós é tradutor em tempo integral, sempre tem um projeto atrás do outro, sempre tem um prazo ali virando a esquina. Mas faz um bem enorme para a sanidade mental e o desenvolvimento profissional tirar uma semana de folga, se distanciar e aproveitar para apertar o botão "reiniciar", mudando de marcha e, em vez de traduzir o tempo todo, sentar-se para ouvir, compartilhar e crescer. NúMERo 11 • JULHo/2018 27 e Esta é a primeira coluna após o 9º Congresso Internacional da ABRATES. Tomara que tenha sido proveitoso para todos os que lá estiveram e que tenha despertado uma incontrolável vontade de comparecer ao próximo congresso. mercado de tradução automática De acordo com a CAGR (Taxa Composta de Crescimento Anual), estima-se que a tradução automática, no período entre 2018 e 2023, atinja o valor de mercado de quase um bilhão de dólares. Isso representa incremento de 20,42% sobre 2017! O que demonstra que, mesmo em meio à crise financeira por aí, especialmenteno Brasil, o mercado está aquecido e tem demanda. Considerando o que foi dito acima, talvez seja um bom momento para pensar se é saudável tratar a tradução automática (ou tradução por máquina) como vilã ou, quem sabe, conhecer mais a esse respeito, estudar, analisar, usar (dentro de seu próprio ambiente a tRadução PoR máquiNa é uma Realidade Não adianta fugir: a tradução por máquina é uma realidade. Nesta coluna, vamos aprender algumas siglas importantes para quem quer se inteirar das novas tecnologias a serviço da tradução BiS Por Sidney Barros Jr. METÁFRASE – REVISTA DA ABRATES 28 controlado) e conquistar maior presença no mercado. Afinal, quando se fala de algumas dezenas de bilhões de dólares, todos querem seu quinhão, certo? ia — dl — ml — Nmt e a sopa de letrinhas da tecnologia O desenvolvimento da tradução automática tem trazido consigo o uso de Inteligência Artificial, Machine Learning e Deep Learning (este último trata de Redes Neurais Artificiais Profundas). São novos estudos e usos, não apenas algoritmos, que têm dado grande poder de fogo para sistemas que já foram motivo de chacota por confundir, em um exemplo muito simplista, table (mesa em inglês) com table (tabela em inglês). Inteligência Artificial, Machine Learning e Deep Learning aprendem, entendem e identificam contexto nos dias atuais. E todos sabem: se falta contexto, é caos no texto! De todo modo, os avanços tecnológicos com base na linguística estão entre nós e são um fato. É como a história do carro com carburador que evoluiu para injeção eletrônica e que depois passou a contar com diversas tecnologias usadas cada vez mais, até chegar aos carros autônomos. Verdadeiras máquinas de pensar. Ou mesmo das fitas VHS que evoluíram para transmissões de vídeo (streaming) com IA e ML que identificam cada perfil e sugerem séries e filmes, agradando assim os olhos dentro de suas preferências. Novamente, máquinas que pensam (ainda que alguns digam que seja apenas referência cruzada, mas vai além). É claro que, a despeito de toda a velocidade da tecnologia e do uso deste aprendizado, há nuanças que ainda exigem, digamos, um toque quase artístico dos profissionais de tradução (o que não cabe exatamente dentro do mercado good is good enough, onde qualquer sistema on-line de tradução, seja automática gratuita ou humana, resolve — ou quase). O mercado premium ainda exige ótimos profissionais. Mesmo com suas memórias de tradução, sistemas de correção gramatical etc. (por exemplo, um ecossistema que traduz de forma muito parecida com a sua, pois aprendeu com seus textos, com riqueza de detalhes — ou seja IA+ML+DL), as inovações tecnológicas representam grande auxílio de forma muito satisfatória. Olhando por este prisma, não seria hora de ver com outros olhos as inevitáveis inovações tecnológicas que estão por aí? Mesmo que seja para conhecer e concluir que elas não servem em nada para seu mercado ou tipo de tradução (ou não, como diria aquele famoso cantor baiano). Aliás, as gigantes Microsoft e Google, além de outras empresas de ponta, disponibilizam cursos on-line, alguns gratuitos, sobre Inteligência Artificial e mais uns outros sabores. E lembra que falamos sobre a velocidade da tecnologia? Pois bem, até mesmo o trio IA+ML+DL tende a ficar para trás com a chegada da NMT (Neural Machine Translation, ou Tradução de Máquina Neural). A NMT faz uso deste trio, mas com alguns outros temperos e condimentos. Praticamente uma tradução automática anabolizada! Essa é uma boa razão para conhecer o que está chegando no mercado onde tradutores humanos têm feito a diferença por séculos! Um dos maiores sites de pesquisa e reserva de hotéis no mundo, o Booking.com, faz uso de NMT (em conjunto com tradutores humanos para que haja ótimo controle da qualidade de seus textos). NúMERo 11 • JULHo/2018 29 Vivemos em um mundo onde o tempo aparentemente tem se tornado tão escasso quanto os recursos renováveis. Tudo acontece em uma velocidade quase brutal! Sem o hábito da leitura diária e o conhecimento do que acontece no mundo (em vários setores), nos perderíamos facilmente da noite para o dia. Pensemos que dez anos atrás uma geladeira não contava com uma tela sensível ao toque, conexão com a internet e um sistema capaz de nos avisar da falta de algum produto por lá ou que há produtos vencidos ou perto de vencer. Com IA+ML+IoT (IoT = Internet das coisas), há geladeiras que fazem pedidos de produtos, considerando o perfil de consumo e o inventário destes em seu interior. Lembra quando um telefone móvel era apenas um telefone móvel? Pois é! Dados colhidos pela internet, em grandes portais especializados, dão conta de que o mercado de aplicativos para dispositivos móveis e o de games estão em franco crescimento. Todos os dias surgem novas fábricas de aplicativos com novos materiais e muitas palavras. E, com isso, há uma grande soma que aguarda quem possa prover serviços de qualidade e receber regiamente por isso. Em resumo, entre aqueles que estão alarmados e preocupados com o fim de nossa profissão, os que estão mudando de profissão ou área, há também quem esteja aprendendo sobre estes sistemas, a despeito do pensamento de alguns de que nem tudo pode ser quantificado e transformado em matemática ou algoritmo (o que não é bem assim, pois matemática é em si uma linguagem), os profissionais de tradução têm conhecimento acadêmico e empírico sobre uma infinidade de detalhes, assuntos e meios. Esse imenso mar de conhecimento, mesmo com toda a velocidade da tecnologia, levará um tempo para ser reconhecido, desvendado, extraído, processado e aplicado em máquinas e redes neurais artificiais. A ver. E você? O que acha? Até a próxima! Objetivo do programa e pré-requisitos O programa tem por objetivo orientar profissionais com até dois anos de experiência ou estudantes do último ano dos cursos de Tradução, Interpretação ou Letras, sobre aspectos práticos do mercado, durante um período de seis meses, por um mínimo de doze horas no total. Criado a partir de programas semelhantes pelo mundo, o “Caminho das Pedras” veio para atender a antiga demanda do ofício, onde várias perguntas ficaram muito tempo sem resposta e muitos levaram um bom tempo até entender certas nuanças profissionais. Acompanhe nas redes sociais: facebook.com/mentoriaAbrates Twitter: @AbratesMentoria Como ingressar no programa A admissão se dá por processo seletivo, com ficha de inscrição, pedidos de dados dos candidatos, além de redação. Lembrando que é obrigatório que os candidatos sejam associados da ABRATES, estejam com suas obrigações em dia e não tenham experiência profissional superior a dois anos. As fichas serão analisadas pelo Comitê de Coordenação da Mentoria, e os pares são formados mediante o aceite dos mentores disponíveis. O programa é o resultado do esforço dos diversos profissionais altamente experientes nas áreas de tradução e/ou de interpretação, que estão sempre dispostos a ajudar no que for possível para o aprimoramento daqueles que desejam abraçar a profissão. Se você se encaixa nos pré-requisitos de admissão, associe-se à ABRATES e inscreva-se para a seleção do Programa de Mentoria “Caminho das Pedras”. programa de MENTORIA caminho das pedras COMO FUNCIONA O PROGRAMA DE MENTORIA DA ABRATES? NúMERo 11 • JULHo/2018 31 ANOTE NA AGENDA JULHO 19 Complex Grammar Cases in Javascript The International Multilingual User Group (IMUG) Menlo Park, Califórnia EUA agOstO 24 — 26 translation forum russia Business Bureau of the Association of Interpreters Ekaterinburg, Rússia sEtEMBRO 03 — 07 3rd international translation technology summer school KU Leuven Antuérpia, Bélgica 04 — 07 Content marketing World Content Marketing Institute Cleveland, Ohio EUA fique por dentro das datas de alguns dos eventos da áreanos próximos meses. EVEnToS 10 — 12 42nd internationalization & Unicode Conference (iUC42) Object Management Group Santa Clara, Califórnia EUA 13 — 14 nd focus – elia's focus on project management Elia (European Language Industry Association) Porto, Portugal 15 slam! Scandinavian Language Association Malmö, Suécia 17 — 18 Xtm live XTM International Boston, Massachusetts EUA 20 — 22 atC language industry summit 2018 Association of Translation Companies Cardiff, Reino Unido Fonte: https://multilingual.com/events/ https://multilingual.com/events/ Somos a ABRATES, Associação Brasileira de Tradutores e Intérpretes, associação sem fins lucrativos e administrada por tradutores/intérpretes voluntários, fundada no Rio de Janeiro, nos anos 70. Promovemos cursos, eventos e fomentamos a troca de conhecimento e contatos entre colegas e/ou instituições e agências. Através da ponte que estabelecemos flui o conhecimento e é feito o networking, mudando carreiras e vidas. Cada vez mais presente e atuante, a ABRATES oferece vários benefícios para os associados. Veja mais no site e associe-se! entre em contato de segunda a sexta, das 9h às 12h e das 13h às 17h