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FAKE NEWS SÓ MENTE A VERDADE

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“FAKE NEWS”: SÓ MENTE A VERDADE, 
UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NA EJA DO SESC 
SANTO AMARO 
 
 
"FAKE NEWS": ONLY THE TRUTH, A REPORT OF EXPERIENCE IN THE AREA OF 
SESC SANTO AMARO 
 
Laércio Queiroz 
 
Resumo 
 
Este trabalho relata uma experiência vivenciada em duas turmas: uma do Ensino Fundamental 
e outra do Ensino Médio, ambas da Educação de Jovens e Adultos, do Sesc Santo Amaro. A 
vivência aconteceu, durante o primeiro semestre do ano de 2018, e teve por objetivo estudar a 
problemática das chamadas ​“fake news”​, seus efeitos na contemporaneidade e como se 
prevenir da ação das informações falsas. Para tanto, estudamos os gêneros discursivos sob a 
luz de Bakhtin [2010], além de usarmos duas Metodologias Ativas, quais sejam, Aula Invertida 
Polya [1997] e Aprendizagem Baseada em Problemas, de Bergman [2017].Outrossim, foram 
colhidos depoimentos de pessoas usuárias da internet, e seus enunciados foram analisados a 
partir do dialogismo bakhtiniano. A investigação permitiu que observássemos como as 
pessoas se comportam na internet, seus interesses, seus valores, e colaborou para que 
estudantes refletissem sobre suas posturas diante, principalmente, do compartilhamento de 
textos nas redes sociais. 
 
Palavras-chave:​ ​“fake news”,​ ​redes sociais,​ ​dialogismo. 
 
 
 
Abstract 
 
This paper reports an experience lived in two classes: one from Elementary School and another 
from Secondary School, both from Youth and Adult Education, from Sesc Santo Amaro. The 
experiment took place during the first half of 2018, and aimed to study the problem of so-called 
"fake news", its effects in contemporaneity and how to prevent the action of false information. 
For this, we study the discursive genres in the light of Bakhtin [2010], in addition to making use 
of two Active Methodologies, namely, Inverse Class Polya [1997] and Problem-Based Learning, 
by Bergman [2017] .Otherwise, testimonies of people using the internet, and their statements 
were analyzed from the Bakhtinian dialogism. Research has allowed us to observe how people 
behave on the internet, their interests, and their values, and have allowed students to reflect on 
their attitudes toward, in particular, text sharing on social networks. 
 
Keywords: "fake news", social networks, dialogism. 
 
 
Introdução 
 
 
 Educação e Tecnologia em Tempos de Mudança | 2 
 
A ideia de globalização pressupõe a extinção das fronteiras comunicativas, sendo assim, 
com o advento da internet, inicialmente, e, posteriormente das redes sociais, as distâncias se 
encurtaram expressivamente. Por esse caminho, na babel moderna as distâncias se 1
comprimiram tão completamente que, em segundos, uma informação se espalha para um 
contingente de internautas. E os efeitos dela também irão muito além da derradeira fronteira. 
O maremoto de mensagens nas redes é tão intenso que, ao ler uma comunicação, nem 
temos tempo de processá-la, filtrá-la e já somos alcançados por outras à queima roupa. No 
labirinto das redes, às vezes, se é levado pela correnteza sem tempo de se livrar, pois a 
avalanche de mensagens, não raro, impõe que se assuma posição diante de assuntos que, 
nem sempre, temos conhecimentos prévios. O que muitas vezes nos forçará a assumir posição 
imediatamente, compartilhando ou crendo no que nos foi apresentado. 
Entende-se que “as liberdades de informação e expressão postas em questão, na 
atualidade, não dizem respeito apenas ao acesso da pessoa à informação como receptor, [...] 
mas de assegurar o direito de acesso do cidadão e de suas organizações coletivas aos meios 
de comunicação social na condição de emissores – produtores e difusores - de conteúdos. 
Trata-se pois de democratizar o poder de comunicar.” [PERUZZO,2004] 
Nas redes sociais, a rapidez dos informes somados a um descompromisso social têm 
ocasionado situações capazes de gerar danos irreparáveis a pessoas. Ora, a riqueza de 
diversidade e informações é de extrema relevância, contudo “ [...] temos de combater o que 
existe de ruim”. (KRIEGER, 2017). 
Incomodados com a crescente proliferação de informações falsas na internet, conhecidas 
como “​fake news”, decidimos trazer à baila para a discussão em sala de aula, na disciplina de 
Língua Portuguesa, o tema em questão. 
 
 
Referencial teórico 
 
​Os seres humanos, de acordo com Bakthin [2010], nos diversos espaços, fazem uso 
dos gêneros, estes existem porque a língua é um instrumento de interação social dinâmica que 
contribui para a transmissão de conhecimento, não é impossível se comunicar sem o uso de, 
no mínimo um gênero discursivo. E a internet apresenta uma infinidade deles. 
Naturalmente, o acesso à informação nos permite discernir e assumir posição diante de 
fatos relevantes à sociedade. E “[...] hoje proliferam gêneros novos dentro de novas 
tecnologias, particularmente na mídia eletrônica (digital)”. (MARSCUSCHI, 2008, p. 198). 
Assim, digamos desde logo, não se pode conceber educação que não vivencie estas 
ferramentas, e debater o problema das informações falsas é também função da escola.
Há tempos, a escola discute a importância de se formar leitores críticos a fim de 
torná-los aptos a exercerem a cidadania. No presente, lê-se mais, embora se desconfie da 
qualidade da leitura. Outrossim, leitores ingênuos são fáceis de ser ludibriados, e, nos 
ambientes virtuais, às vezes, não é simples romper as fronteiras que separam verdade e 
mentira. 
De acordo com Benevides (2000, p.20-194), “(...) cidadania ativa supõe a participação 
[...] possibilidade de criação, transformação.” Uma breve consulta aos PCN (1999) apontará 
que o cidadão é portador de direitos e deveres, e conhecê-los deve ser essencial a ele. 
Igualmente, a Proposta Pedagógica da Educação de Jovens e Adultos orienta para a 
necessidade de, durante a formação do discente, associar os estudos formais ao cotidiano do 
qual participa, tornando o ensino significativo, visto que próximo à realidade. 
E, felizmente, no presente, há um consenso de que a disciplina Língua Portuguesa deve 
ser associada à situação concreta de comunicação, comprometida com a produção da escrita e 
leitura, possibilitando aos estudantes uma relação com o código que os tornem capazes de se 
comunicar com eficácia nas diversas variantes existentes do idioma pátrio. Por esse plano, a 
1 Indica c​erta dispersão humana na contemporaneidade que, embora tenha trazido para as pessoas a 
possibilidade de aproximação sem fronteiras, ainda apresenta dificuldade de se entender nas diferentes 
linguagens. 
Anais do 16º Congresso Internacional de Tecnologia na Educação 
Brasil | Recife | Setembro de 2018 
ISSN: 1984-6355 
 
 
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internet tem sido o suporte mais apropriado para a sublimação da leitura e da escrita, pois nos 
oferece, além de situações de diálogos reais, em tempo real, vários gêneros discursivos. 
 
 
 
 
Metodologias ativas 
 
Há muito, pesquisadores de educação debatem sobre a necessidade de mudanças nas 
práticas pedagógicas. Buscam conscientizar professores de que, sendo o objetivo do ensino o 
estudante, este deve ser protagonista na aprendizagem. Ainda assim, não raro, vê-se 
professoresque continuam a assumir uma postura que dialoga com a educação bancária 
[Freire, 1997], quando o estudante é mero coadjuvante do processo de ensino-aprendizagem e 
depende, exclusivamente, do professor, para adquirir conhecimentos e solucionar 
situações-problema. 
Na contemporaneidade, as novas tecnologias exercem influência profunda na vida das 
pessoas. Segredo não é que muitos passam mais horas se comunicando pelas redes, não raro 
em tempo real, que em diálogo face a face. Na escola, por exemplo, vários estudantes ficam 
mais interessados em qualquer sinal de mensagem no celular do que nas aulas. Contudo, 
embora seja constante a comunicação em ambientes virtuais, sabe-se que, quase sempre, 
estudantes se utilizam do aparelho sem nenhuma intenção pedagógica. Alem disso, com 
relação a aspectos de coerência e coesão, por exemplo, alguns discursos nas redes carecem 
de qualidade comunicativa. 
Sabe-se que a língua apresenta variantes, e é necessário saber empregar cada uma delas 
em diferentes contextos. Por isso, é papel da escola fornecer um repertório linguístico capaz de 
possibilitar ao falante transitar em diferentes situações comunicativas com apropriação. 
De acordo com Moran [2014], “aprendemos de várias formas, em redes, sozinhos, por 
intercâmbios, em grupos etc.” Para ele, as novas tecnologias favorecem muitas maneiras de 
aprendizagem através das metodologias ativas. E, segundo Rocha (2014), “(...) mesmo quando 
o professor utiliza metodologias comuns com o suporte tecnológico de vídeos, hipertextos, 
textos, blogs etc”, há enriquecimento bastante significativo para o processo de 
ensino-aprendizagem.” 
Nesse caminho, já passa da hora de a escola romper com a desconfiança em relação à 
internet e se beneficiar do que ela tem de melhor para colaborar com a construção do 
conhecimento. Convém que profissionais de educação se mobilizem no sentido de se unirem 
às novas tecnologias a fim de se utilizar delas em demanda de mais êxito no processo de 
ensino-aprendizagem. 
A escola se encontra em uma encruzilhada onde nunca esteve: precisa repensar as 
metodologias ao mesmo tempo que buscar ressignificar o ensino, para ser mais especifico, 
com urgência, precisa seduzir os estudantes, criar ferramentas capazes de conquistá-los para 
participarem do processo de aprendizagem de maneira ativa, ou seja, engajada. 
Por essa razão, convém rever, não apenas o currículo, mas também as metodologias, 
pois as estratégias de ensinagens de séculos anteriores não são tão eficazes na 
contemporaneidade. Além disso, hoje, para muitos, o acesso a cursos é possível de qualquer 
lugar, pois com a internet, disseminam aulas, e a informação do professor não se restringe 
mais a sala de aula presencial. Nesse sentido, ainda que haja necessidade de encontros 
presencias, o professor precisa entender que existe uma necessidade de usar as novas 
tecnologias a fim de colaborar no processo de aprendizagem. 
Com as novas tecnologias, é possível intercalar textos, aulas expositivas, vídeos, 
games etc, de modo a atingir os objetivos educacionais. Ao usar as novas tecnologias, 
ferramentas que tanto interessam aos estudantes, teremos mais possibilidades de sucesso na 
aprendizagem, pois estaremos mais próximos da realidade da qual os educandos fazem parte. 
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Pensando nisso, ao trabalhar o proposição do jornal do Sesc Santo Amaro , a saber​, “O 2
Valor da cidadania na construção do Brasil que queremos”, elegemos como projeto, 
discutir a problemática das ​“Fake news​” em sala de aula. E para este particular, servimo-nos de 
duas metodologias de aprendizagem, quais sejam, Sala de Aula Invertida e Resolução por 
Problemas. 
Entende-se por Sala de Aula Invertida, a abordagem híbrida que possibilita aos 
estudantes acesso ao conteúdo da aula antes do encontro presencial com o professor. O 
recurso foi criado por Bergamu(2017) para atender a estudantes do Ensino Médio que estavam 
ausentes da aula. 
Diferente do que alguns pensam, esta metodologia não se restringe ao uso de vídeos, 
pode ser aplicada de várias maneiras: ao usar músicas, textos ou quaisquer recursos 
tecnológicos, desde que antes da aula, para que o tempo presencial seja destinado, 
principalmente, à aplicação de atividades ativas com a orientação do professor. 
Já a Resolução de Problemas é uma metodologia que pretende apresentar uma 
dificuldade ao estudante para que ele possa solucioná-la. Tem como idealizador George Polya, 
que defendia que estudantes resolvessem problemas matemáticos com autonomia. 
Polya (1997, p. 56) infere que resolver um problema [...] é encontrar um caminho onde 
nenhum outro é conhecido de antemão, [...] para alcançar um fim desejado.” Assim, ao 
trabalhar com Resolução de problemas, várias exigências são necessárias ao estudante: 
análise discursiva, investigação, argumentação, criticidade e capacidade de gerenciar 
problemas. Talvez o principal benefício do método seja a capacidade de preparar o discente 
para gerenciar problemas na vida real. 
 
 
“Fake news” 
 
 
A mentira existe desde o princípio, povoa o imaginário mesmo de pessoas sãs. “​Aquele 
que ​nunca mentiu que atire a primeira pedra​”. Dizia D. Rosa , parodiando o enunciado proferido 3
pelo Nazareno. 
Aliás, de acordo com alguns criacionistas, a primeira inverdade da humanidade é atribuída 
à serpente, que, ao iludir Eva, condenou-nos ao infortúnio e a volta às cinzas. Contudo, não 
tivesse a víbora idealizado a mentira, teríamos a inventado “antes tarde do que nunca”. 
A História também nos brindou com episódios vários cuja verdade escondia. Quando 
criança, muitas histórias que nos foram contadas nas escolas, poderiam ser atribuídas a ​La 
Fontainer ​, embora, na atualidade, nem as mais inocentes crianças acreditassem nelas. 4
Também a arte cinematográfica flerta com a mentira. Tomemos como exemplo o célebre 
“Drácula”, de Coppola: No longa em questão, um nobre romeno parte para guerra em nome da 
fé Católica, mas, embora vença a batalha, os adversários disseminam um boato de que ele 
havia morrido. Crendo nisso, sua amada comete suicídio, e esta ação será o infortúnio de 
ambos por entre a eternidade. 
Mentiras à parte, na contemporaneidade, o tema ganhou verniz sob a égide das redes 
sociais. Nelas, em tempo de pós-verdade , as inverdades adquiriram lustro que somente a 5
verdade merecia. Sob um nome de “​fake news” como passaram a ser conhecidas, trazem no 
2 Este periódico é editado duas vezes ao ano e já se encontra na 21​a edição ​ininterrupta. Nele são 
relatadas experiências exitosas ambientadas na Educação de Jovens e Adultos [EJA] 
3 
Mãe de Zaicaner [1978], poeta brasileiro, de família judia, migrante da Polônia durante a Segunda Grande 
Guerra. 
4 
​Jean de La Fontaine (1621-1695),​ ​poeta e prosador francês ​que se dedicou, principalmente, a escrever 
fábulas. 
 
5 Segundo os dicionários Oxford, pós-verdade se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos 
objetivos têm menos influência em moldar aopinião pública do que apelos à emoção e a crenças 
pessoais, contudo há teóricos que discordam do conceito. 
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nome o engodo. Pois, se é mentira, não pode ser notícia, logo, incorremos deslize etimológico. 
Mentira não é que o termo ganhou mais impulso durante campanha para as eleições 
presidenciais nos Estados Unidos da América. 
Embora não seja recente, na era digital, a capacidade de disseminação da mentira 
também se tornou expressa. Espraia-se em segundos, atinge um mar de navegantes 
imediatamente​. 
Não há dúvida de que com a internet a informação, de certo modo, democratizou-se, e 
isso possibilitou a comunicação, contudo as intituladas ​“fake news” se alojaram nas redes. De 
modo que, ao navegarmos, pode haver rajadas de vento. 
Com o advento da internet, a maneira de entender o mundo e a sociedade se modificou. 
Houve alterações em vários campos sociais, e o jornalismo não ficou intocável. ​Para Recuero 
(2009), “[...] com o aumento de usuários em redes sociais, existe necessidade de corresponder 
os interesses dos internautas, e, na contemporaneidade, as informações noticiadas não são de 
autoria apenas de órgãos oficiais, todos podem publicar os mais diversos assuntos”, mesmo 
sem responsabilidade social. 
Talvez a necessidade de ser lido, compartilhado permitiu o surgimento das ​“fake news​”. 
Some-se a isso a possibilidade financeira que tais matérias podem render. 
Preocupa-nos, pois, no maremoto de informações, para se pinçar mensagens válidas, 
convém atenção investigativa que apenas conseguiremos com criticidade. 
Crendo na responsabilidade da escola, ao trazer à baila o tema, além de incentivar a 
reflexão dos estudantes, respondendo ao programa da disciplina de Língua Portuguesa, 
estudamos alguns gêneros discursivos, como por exemplo, entrevistas, depoimentos, artigos e 
notícias. Sempre tendo em mira as ​mensagens falsas. ​Ora apresentando teoria sobre a nova 
temática, em outro momento apresentando posições de pessoas ou textos com falsas 
informações. 
 
 
Metodologia 
 
 
Instigados a fazer com que estudantes refletissem sobre as informações falsas, 
inicialmente, projetamos, durante as aulas, o filme “O Beijo no Asfalto”. Os estudantes ausentes 
no dia, receberam, por e-mail, o indicativo do ambiente onde poderiam assistir ao longa, 
baseado na obra homônima do dramaturgo Nelson Rodrigues. A narrativa, a partir de uma 
mentira, transforma um suposto gesto de compaixão em crime. E, perplexos, assistimos à 
destruição da vida da personagem central e daqueles que a cercam. 
Posteriormente, pensando em aprimorar uma Metodologia Ativa, a saber, Aula 
Invertida , solicitamos aos discentes que a partir de textos e vídeos veiculados nas redes 6
investigassem sobre ​“fake news​”, relacionassem a prática ao longa metragem assistido e 
pesquisassem situações concretas com informações falsas. O resultado apresentou situações 
que, a partir de falácias, trouxeram consequências desastrosas aos envolvidos. 
Em seguida, selecionamos textos sobre “​fake news” para que, em casa, os estudantes 
realizassem a leitura e socializassem seus conteúdos com os colegas. A leitura do artigo ​“..O 
Impacto das fake news e o fomento dos discursos de ódio na sociedade em rede: a 
contribuição da liberdade de expressão na consolidação da democracia”​, de Isadora Forgiarini 
Balem, possibilitou um debate bastante proveitoso sobre o poder que a mídia exerce sobre as 
pessoas e as possíveis consequências das informações falsas. 
Em dia determinado, realizou-se debate tendo por base as impressões causadas pelo 
texto. Por ser um documento acadêmico, alguns estudantes tiveram dificuldades durante a 
leitura. Porém, a socialização do artigo realizada em sala de aula, foi capaz de diluir as dúvidas 
que havia. 
Tendo em mira o programa da disciplina, estudamos mais dois gêneros discursivos, 
quais sejam, folheto e panfleto. Após a abordagem dos conteúdos, solicitamos aos estudantes 
6 ​Leia sobre isso em Revista TecEduc. Seção “Na frente”. Disponível em: 
positivoteceduc.com.br/na-frente/flipped-classroominvertendo-a-maneira-de-ensinar 
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a confecção de esboços de folhetos instrucional sobre como se prevenir da prática das 
chamadas ​“fake news”, e a partir das propostas apresentadas, produzimos um folheto que foi 
entregue durante a culminância do projeto do Jornal da EJA do Sesc Santo Amaro. 
O ápice do projeto foi uma pesquisa de campo qualitativa que, como se sabe, investiga 
“[...]o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das 
atitudes, sendo esse conjunto de fenômenos humanos entendido como parte da realidade 
social.” (MINAYO, 2012, p. 21). Assim, a partir de depoimentos colhidos pelos estudantes, 
investigamos a relação dos depoentes com as redes sociais, ou seja, sua posição como 
usuário do ambiente virtual. 
Nas entrevistas, trinta pessoas de faixas-etárias e gêneros díspares, de diferentes 
níveis de escolaridade, foram indagadas sobre como se posicionam nas redes​. Elencamos 
perguntas tais como o que você sabe sobre “​fake news”​? Quais os ambientes na internet que 
você frequenta? Você tem hábito de publicar informações nas redes? O que te leva a 
compartilhar uma informação na rede? As imagens foram editadas e apresentadas em sala 
para apreciação dos estudantes que analisaram o dialogismo presente nos discursos das 7
depoentes e discutiram as posições dos sujeitos. 
Com trechos dos depoimentos, estudantes produziram amostras de vídeos dos quais 
selecionamos algumas passagens que, posteriormente, foram editadas para produção de um 
vídeo que foi projetado, na solenidade do referido Jornal, para estudantes, familiares, 
comunidade do Sesc e público em geral. 
Como aponta Bakhtin [2010], nenhum discurso é neutro ou único, existem outras 
alocuções nos diferentes enunciados, cada sujeito refuta ou converge com outros, nada do que 
se diz é inédito, são reelaborações de textos já vivenciados anteriormente, e tais inferências 
ficaram evidentes nos depoimentos coletados. 
Abaixo, transcrevemos trechos dos discursos de seis pessoas entrevistadas para 
posteriores comentários. ​Optamos por usar pseudônimos para os depoentes a fim de preservar 
a identidade dos referidos colaboradores. 
No primeiro momento, transcrevemos o que eles entendem por “​fake news”. ​Eis os 
enunciados: 
 
 
​Eugênio – “​Fake news” é um conjunto de notícias falsas que a gente 
não sabe que enviou nem sabe quem escreveu e a gente 
compartilha. 
 
​Camila – Sim, eu sei o que é ​fake news. São noticias falsas, notícias 
que surgem na internet sem que se saiba o autor. 
 
​Álvares –- ​Fake news significa notícias falsas, pode ser chamado de 
anglicismo, pois é o empréstimo da Língua Inglesa. Assim, essas 
informações falsas são usadas na internet com objetivo financeiro ou 
pejorativo, pois uma informação falsapode trazer prejuízo, problemas 
para a pessoa envolvida. É preciso que se entenda que nem tudo que 
está na internet é credível. 
 
​Fernando ​– São notícias falsas 
 
Zaicaner ​–são notícias falsas que surgem na internet. 
 
Tornatore ​– ​Fake news são notícias que não são verdades e que 
prejudicam as pessoas. 
 
7 Ler sobre isso, por exemplo, BAKHTIN, M. ​Estética da criação verbal​. Os gêneros do 
discurso. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010. 
 
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O cotejo dos depoimentos acima aponta para um consenso: todos os depoentes 
conhecem o significado de “​fake news​” e entendem como se manifestam na internet. Desde 
logo, vê-se a confirmação do que nos ensina Bakhtin (2010) ao escrever que nada é inédito, os 
enunciados se intercruzam, se complementam nos diversos contextos de informações. 
Chama-nos atenção o depoimento de Álvares, que evidencia conhecimento sobre 
particularidades da linguagem, pois consegue diferenciar o significado literal que, no caso em 
questão, distancia-se do factual. 
Outro aspecto que nos afigura consensual é a ideia de que as “​fake news” apenas se 
manifestam na internet, o que configura um engano “letal”, visto que a prática pode surgir em 
diferentes suportes de comunicação como rádio e televisão, por exemplo. 
Ao serem perguntados se compartilhavam informações na internet, responderam os 
colaboradores: 
 
​Eugênio​ – Eu compartilho quando tenho certeza de quem enviou. 
 
​Camila – Não, eu não compartilho, não costumo compartilhar nada, 
internet é um ambiente muito cheio de confusão, tudo gera 
intolerância. Por isso, não compartilho. 
 
​Ophelia –- Não costumo compartilhar, mas já ouvi falar de pessoas 
que compartilharam notícias falsas que geraram problemas para as 
pessoas. 
 
​Fernando ​– Eu apenas compartilho se for de fonte segura: de 
revistas como Veja, por exemplo, eu compartilho. Outras 
desconhecidas, mas que tem certa credibilidade. Também 
compartilho petições. Petições, eu compartilho muito. Porque eu 
tenho necessidade de que as pessoas saibam do que é restrito, eu 
preciso compartilhar para todo mundo saber. 
 
Zaicaner ​– Não compartilho nunca, de seja quem for, não interessa 
que envie. 
 
Tornatore ​– Antes eu achava que tudo que estava na internet 
era verdadeiro, aí eu compartilhava tudo, nem pensava. 
Depois eu fui vendo que existem muitas mentiras na internet, que as 
pessoas fazem de tudo para serem lidas, curtidas, e eu fui entendendo 
que não é assim. Hoje eu não compartilho. 
 
 
A sequência acima apresenta um aspecto interessante que, aliás, foi percebido pela 
maioria dos estudantes: a quase ausência de compartilhamento nas redes. Na amostragem 
acima, apenas duas pessoas assumiram compartilhar informações na internet. Convém 
registrar que das trinta pessoas entrevistadas, apenas duas assumiram partilhar conteúdos 
pelas redes. 
Fato, no mínimo, curioso se considerarmos pesquisas recentes publicada pela BBC 
que afirmavam que 95% do brasileiros compartilham informações nas redes. Em verdade, as 
declarações nos inquietaram pelo distanciamento da realidade assistida por nós nos ambientes 
virtuais. As novas tecnologias, ou melhor, os novos espaços de comunicação convidam os 
usuários ao compartilhamento. E de acordo com Oliveira (2011, p.21), "[...] as mídias digitais 
são estruturas sociais compostas por pessoas ou organizações que partilham valores ou 
objetivos comuns”, afigura-nos ser o compartilhamento de mensagens verbais ou não verbais 
da natureza das redes, e, surpreende-nos, o fato de isso não ser confirmado na maioria dos 
depoimentos. 
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Arriscamo-nos a afirmar que um dos principais sentidos das redes é o 
compartilhamento, o sucesso das redes reside na possibilidade de socializar informações 
diversas, não apenas se mantendo informado, porém também disseminando o que se ler, a 
reciprocidade é a pedra de toque das redes de comunicação social. 
Primo (2009) afirma que o ser humano tem obsessão pelo reputação, pelo ​status 
adquirido ou que possa adquirir. Diante disso, ações de socialização de informações nas redes 
possibilita aos que o fazem certo reconhecimento perante a comunidade na qual está inserido. 
Possivelmente, o ​status seja a principal razão do compartilhamento. Por isso, entendemos a 
prática quase como uma condição para se usar as redes sociais. 
Parece-nos que, ainda aqueles que repartem as informações por acreditarem ser 
importante para os membros do ambiente, talvez, implicitamente, a razão resida em si mesmo, 
pois conhecimento é poder, e, dessa forma, aquele que compartilha saberes goza de prestígio 
perante os demais. 
Também nos chama atenção o critério que Fernando utilizar para compartilhar as 
mensagens. Ele pretende revelar que apresenta compromisso cidadã ao filtrar as informações 
que compartilha. Nesse sentido, deseja fazer um juízo avaliativo de si mesmo e nos convencer 
da validade e comprometimento dele somente com a verdade. 
Merece destaque ainda, quando o colaborador afirma que o compartilhamento apenas 
se faz se a informação tem por enunciador instituição ou pessoa de credibilidade. Nesse 
momento, demonstra que suas práticas de compartilhamento têm por base a confiança na 
origem da informação, e sua afirmação vai ao encontro de Eugênio que, igualmente, afirma 
precisar conhecer a fonte da informação para se manifestar de maneira ativa sobre a 
mensagem. 
Convém lembrar que, nas redes, as parcerias se fortalecem na tríade compartilhar, 
curtir e seguir, sem estas ações, a comunidade não terá sentido, e os que fazem parte do 
ambiente sabem disso. 
Ainda no depoimento de Fernando, vê-se outra natureza de compartilhamento: o 
prazer. No discurso, ele afirma que sente a necessidade de publicar a informação para auxiliar 
as pessoas, pretende que as informações propagadas sejam utilitárias, ajude-as, possam 
instruí-las em situações concretas na sociedade. 
Por fim, o ​corpus analisado revela como os depoentes transitam nas redes sociais. É 
uma pequena amostra do que foi coletado, contudo, representa os vários discursos, visto que, 
para estes apontamentos, elegemos trechos que, de certo modo, dialogavam, exatamente, no 
que se refere à postura de dois segmentos: aqueles que compartilham mensagens na internet 
e os que, segundo afirmaram, não costumam compartilhar. 
 
 
Conclusão 
 
Durante a construção do projeto para o Jornal da EJA do Sesc Santo Amaro, 
pretendíamos apenas discutir a atualidade das intitulada “​fake news”​, suas consequências para 
a sociedade e descobrir como se precaver delas. Razão pela qual, buscamos instrumentalizar 
os estudantes com textos de diferentes gêneros que trouxessem o tema em questão, além de 
promovermos discussão sobre a temática e dar voz a especialistas sobre o assunto. 
Naturalmente, a intenção primeira dos depoimentos era por os estudantes em contato 
com o referido gênero discursivo emtempo real, no diálogo face a face, para tornar a 
aprendizagem significativa. Analisar os discursos dos depoentes não fazia parte do 
planejamento inicial, mas as revelações dos colaboradores ao se portarem nas redes, 
trouxeram-nos informações que mereciam ser ponderadas. 
No início dos estudos, procuramos, a partir de um filme, problematizar as 
consequências da inverdade no cotidiano para levar os estudantes a refletirem como a arte, 
não raro, se ocupa de representar a realidade cotidiana e, no particular a temática do longa, 
como uma inverdade pode causar consequências irreparáveis à vida das pessoas. 
Ao subverter o planejamento e idealizar as entrevistas, acreditamos ter proporcionado 
aos estudantes o momento mais significativo do projeto, pois ao analisarem os enunciados das 
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entrevistas, puderam, além de refletirem sobre a veracidade da maioria dos discursos, 
relacioná-los, identificar variações de linguagem, perceber aspectos da oralidade além 
refletirem sobre o discurso competente. 8
Nos trinta depoimentos coletados, durante a pesquisa de campo, certamente, há 
matéria para reflexões várias, e talvez, posteriormente, retornemos a eles para aprofundarmos 
questões mais específicas relacionadas a posição assumida pelos usuários da internet. 
Discutindo mais cuidadosamente suas experiências e seus valores, investigando as diferentes 
concepções. 
Contudo, por ora, esperamos que as atividades tenham contribuído, principalmente, 
para a reflexão dos estudantes no sentido de entenderem como se “locomoverem” em 
ambientes digitais, tornando-se leitores críticos, cidadãos conscientes do papel social que 
devem exercer na sociedade onde vivem, além serem colaborativos e dispostos a,sempre que 
possível, ajudarem a desmistificar as informações falsas nas redes sociais.Cremos que, se 
agirem assim, nosso objetivo terá sido alcançado. 
 
 
 
Referências 
 
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8 ​Sobre isso, ler CHAUI, Marilena. Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas. 
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